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I

feito nos
Turma XII - 2016

Orientadoras/Revisão:

Cristine Vargas Liniane Haag Brum

Projeto Gráfico:

Kelvin Oliveira

Fotografia dos autores:

Mariana Campos

Sao Paulo, 2016


Desencontrários

Mandei a palavra rimar,


ela não me obedeceu.
Falou em mar, em céu, em rosa,
em grego, em silêncio, em prosa.
Parecia fora de si,
a sílaba silenciosa.

Mandei a frase sonhar,


e ela se foi num labirinto.
Fazer poesia, eu sinto, apenas isso.
Dar ordens a um exército,
para conquistar um império extinto.

- Paulo Leminski
Apresentação....5

Carolyne P.S. Marcella Datri


Touro.........................................8 Silete.....................................34
Girassol.....................................8 A-maré..................................34
Flor Amar (Ela)......................9 Apreço do Empírico............34
Flor Amar (Ela)....................10 Sevicia..................................35

Denis Santos Maria Viviane


Ponto de vista.......................13 Senhora resiliência............38
A noite......................................13 Mofo.....................................38
Ponto de partida...................14 Penitência...........................38
Ansiedade...............................14 Toque de recolher...............39
Cena um..................................14 TDR......................................39
Retina..................................40
Kamila Bianca Morte presente...................40
Realidade................................17 Cotidiano.............................41
Taxi...........................................17
“Descobertas”........................18 Michele Brito
Surpresa!................................18 Conto não contado..............44
A mais crente do quintal....45
Karine Mayara Tudo se pira.........................46
Sobre o croché no trem........21 Esperma de Zeus.................47
Terceiro banho do dia..........21 Célio......................................47
Miúdas Miçangas..................22 Anticorpos...........................48
Bonecas regradas...............49
Kelvin Oliveira Raízes...................................50
Preliminares.........................25 Ventos Uivantes..................51
Destinado...............................25 Sohlo.....................................51
Trajeto.....................................26
Bashô.......................................26 Vinucius Linhares
Baque.......................................26 Crônica de la retina............54
Incomum................................27
Liniane Haag Brum
Lucas de Jesus Fim e começo.......................60
Ponto final.............................30
Surpiro...................................30
Silêncio...................................31
BIO-
-GRAFIA
CAROLYNE P.S. TEM 19 LONGOS ANOS
MERGULHANDO EM UM MAR DE FLORES
AMARELAS E SECRETAS.
DIZEM ATÉ QUE ELA TORNOU-SE
A GAROTA MISTÉRIO.
AINDA EXISTEM PESSOAS QUE ACREDITAM
QUE FLORES SÃO APENAS PARA OS MORTOS,
MAL SABEM ELES
QUE É AGORA QUE ELA ESTÁ VIVENDO!
Carolyne
P. S.

“Se eu fizesse poesia escreveria pássaros


Poemas são todos tentativas de voo”
- Michele Santos
TOURO

Maio
Morada
Mês Muito Marcante
Mulher
Mamilos Métricos
Macio
Mapa
Mundo
Metade Moça
Metade Mulher
Metade
Minha

GIRASSOL

Eu quero estar com você até o sol raiar


Chamar-te pra andar de mãos dadas
na beira da estrada
Deixar-te segura até não sentir medo de nada
Abraçar-te com carinho,
E fazer dos meus braços o seu ninho
Fazer-te cafuné, calada
Beijar seu pescoço até ficar arrepiada
Quero te tirar pra dançar descalça
Na varanda da nossa casa
Ei, morena danada
Será que sonhar Alto mata?
8
FLOR AMAR(ELA)

Dia vinte de fevereiro um dia quente como qualquer


outro dessa grande São Paulo. Após uma longa volta do
centro da cidade até a minha casa, pousamos no meu
quarto, é incrível como ela pinta as paredes cinza com
seu sorriso.
Algo que não estava dentro dos nossos planos
aconteceu, aliás, muitos acontecimentos desde o dia
quatorze não estavam em nossos planos.
Um carro que fugia da polícia havia batido em um
poste na avenidá que da acesso ao Terminal Varginha,
por tratar-se de bandidos, os policiais interditaram mais
da metade da avenida para fazer a perícia, dizendo que
“tudo voltaria ao normal no dia seguinte”.
Por um momento, ela entra em desespero, pois já
havia passado da hora de regressar para casa. Como
explicaria para sua mãe que teria que dormir na minha
casa, e, ainda por cima, passaria o dia seguinte fora com
os amigos e o noivo num festival de churros?!
Ao ligar para a mãe dela, conversa vai, conversa
vem, percebeu que a única opção seria ela passar a noite
na minha casa.
Era tarde, por volta das nove da noite, já tinha até
chovido e a noite estava com mais fresca. O tempo passou
rapidamente e de repente já era hora de dormir.
Chegando ao meu quarto minha irmã estava
dormindo, esperei ela deitar na cama para, enfim, apagar
a luz. Deitamos e a cama se tornou nossa morada.
9
Ao sentir o gosto de creme dental no beijo dela, era
como se fosse tudo novo, como se jamais eu tivesse
beijado ela antes. O coração dispara tropeça quase para,
o ar já nem existem mais, estamos flutuando sobre
a nossa galáxia.
Minhas mãos passeavam sobre o corpo dela,
explorando toda aquela excitação que antes era
desconhecida para ambas. O quarto foi ficando cada vez
menor sobre a divindade do amor, do amar, e ser amada.
Foi tudo muito intenso, sem perceber eu já a tinha
despido, nesse momento descobri que o céu era todo
meu, pude ver a liberdade nos olhos dela mesmo sobre a
pouca luz que entrava pelas frestas da janela.
Senti-me um pássaro que ao invés de adormecer
sob o céu estrelado, voava, e brindava a liberdade com
direito a beleza do brilho do luar.
Não havia nada de racional até a hora da partida.
Tudo o que vivemos na noite anterior ainda estava
vivo, porém senti meus pés descalços sobre a terra,
as raízes das árvores pareciam como o destino,
puramentedesconhecido e misterioso.

10
Denis
Santos
BIO-
-GRAFIA
DENIS SANTOS, 21 ANOS, PAULISTANO.
CURTE MÚSICAS, AMIGOS, ARTE, LEITURA.
SUAS PAIXÕES SÃO FILMES E SÉRIES.
ESTÁ SEMPRE DISPOSTO A
CONHECER E APRENDER.
Ponto de vista

Passageiros sobem
Passageiros descem
Passos acelerados
Passos lentos
Espreme, espreme
Empurra, puxa
Motoristas buzinam
Bebê chora, mãe grita
Celulares tocam, catraca gira
Bilhete não passa
Um indivíduo fala, ‘pode fechar’
Olhos abatidos, corpos exaustos
Pés cansados de um dia inteiro de trabalho
E uma voz lá dentro que diz
‘Ainda é segunda-feira’!

A noite

Lua seus encantos são tão complexos como a noite que


lhe rodeia.

13
Ponto de Partida

Entre rachaduras
Lutando contra o concreto
Suas raízes se fixam ganhando espaço
Drenando a pouca água que lhe cerca
O sol lhe dá um beijo generoso
É feito uma criança nascendo
Você floresce.

Ansiedade Cena um

Tic tac tic tac Objetos sobre a mesa


O dia começou Flores em um jarro
Tic tac tic tac Quadro pregado na parede
Hora de comer Cacos no chão
Tic tac tic tac Dois pares de olhos se olham
Não posso falar E antes de mais uma palavra
Tic tac tic tac O diretor grita, corta!
Hora de trabalhar
Tic tac tic tac
O relógio parou

14
BIO-
-GRAFIA
ESTUDOU CÂMERA NO INSTITUTO CRIAR DE TV,
CINEMA E NOVAS MÍDIAS.
AMA O AUDIOVISUAL E
PROCURA USAR O MESMO COMO
FERRAMENTA REVOLUCIONÁRIA.
FORMADA EM COMUNICAÇÃO VISUAL,
GOSTA DE LER, ASSISTIR DIVERSOS FILMES,
OUVIR MUITA MÚSICA, COMER E
APRENDER COISAS NOVAS.
NÃO GOSTA DE CEBOLA, SALTO ALTO
NEM FONES DE OUVIDO
FUNCIONANDO APENAS DE UM LADO.
Kamilla
Bianca
Realidade

Saí de casa e esqueci meu celular.


Não voltei para buscá-lo.
Lembrei de outra coisa:
que eu tinha uma vida fora dele.

Táxi

O meu táxi é lotado


tem preço unitário.
Não tem horário marcado
nem escolha de itinerário.
Mas de qualquer forma,
eu preciso ir para casa
e também para o meu trabalho.

17
“Descobertas”

Deitada, ela gira em torno de seu próprio eixo.


Encontra-se de olhos fechados e ouvidos bem abertos.
Emergência! Pensa ao ouvir o som de uma ambulância.
Suavizou-se, agora o som de um piano ecoa em sua mente.
Como aquelas cenas de cinema, onde uma tragédia está
acontecendo acompanhada de uma música de fundo suave.
De repente...
[...]
Abre seus olhos.
[...]

Surpresa! 

O dia em que
a filha da empregada
entra na faculdade.

18
Karine
Mayara

“Feita de flores e veias saltadas no pescoço.”


- Leo Fressato.
BIO-
-GRAFIA
KARINE MAYARA DA SILVA NASCEU EM OSASCO, SP.
TEM 18 ANOS, GOSTA MUITO DE MÚSICA
E COSTUMA DIZER QUE ISSO É QUE
A MOVE E FAZ COM SEUS DIAS SEJAM
CADA VEZ MAIS PREENCHIDOS DE AMOR.
SUA VIDA É COMO UMA VIAGEM DE TREM
QUANDO SE FALA EM SENTIMENTOS,
PROCURA VIVER OS MOMENTOS
DA FORMA MAIS INTENSA POSSÍVEL.
ESTÁ CONCLUINDO UM CURSO
AGORA EM JULHO DE 2016 NO
INSTITUTO CRIAR DE TV, CINEMA E NOVAS MÍDIAS
DE CABELO E MAQUIAGEM.
MORA COM SUA MÃE E SUA
IRMÃ MAIS NOVA NA CIDADE DE OSASCO.
Sobre o croché no trem Terceiro banho do dia

Entra Que meu cabelo


Sai Murche
Entra Que meus dedos enruguem
Sai Que meus olhos ardam
Ponto aqui Que minha pele avermelhe
Ponto ali Que meus ouvidos...
Vai fechando Abafados me remetam o mar
Vai doendo Que o vidro embace
Dói por dias Que todos os banhos
Deixa cicatriz Venham a me salvar
De tanto tempo doído
Sara
Dói ainda
Fica marcado
Isso foi passado
Que bom que foi passado
Ainda bem
Sobre o croché no trem

21
Miúdas Miçangas

Que justiça seja feita


Por todas as vezes
Por todas...
Que tive um breve ensaio do seu cheiro

Que meu perfume,


Seja tão popular quanto o seu.
Que todas as músicas,
Essas que ouço em meus fones

Que você as toque


Nesse violão canhoto.

Minhas observações
Feitas de suas unhas
Textura do cabelo
E até do tamanho,
De seu calçado
Da cor de suas roupas
Da cor de seus dentes
Dos poros de seu rosto
E até de qual pé...
Que você anda melhor

22
Kelvin
Oliveira

“Deixaria todas as coisas por amor.


Como não posso, deixo amor em todas as coisas.”
- Clarice Freire
BIO-
-GRAFIA KELVIN OLIVEIRA, 21 ANOS.
TAURINO COM ASCENDENTE EM ESCORPIÃO.
INTENSO, EXAGERADO, GRATO;
PROFUNDO, DESLUMBRADO COM A VIDA,
VÍRGULA, PONTO FINAL.
Preliminares

Com pinto ponho


possuo prática
pedi permissão
respeito perante o parceiro pelado
paixão é um ponto importante para operar o prazer
pronto!
Próximo passo: Paraíso.

Destinado ao processo na
Turma XII do Instituto Criar

Não sei se há alguém perdendo a vida ou tendo-a


presa. Corre-corre de neurônios. Musgo, casca grossa,
bactéria, tato. Tem um avião que imita o pássaro, o
barulho das folhas secas, a melodia calma, os carros
passando, onde?...

Cri cri
criança
quer brincar
ins
pirar
(ar)
sua cria
criação.
25
Trajeto

Faca no asfalto
Pilha
Ilha de lixo
Capim
Pedra
Papelão
Facapim
Isso não é uma brincadeira
É?

bashô

Brinco com as palavras para passar o tempo


que há de passar de qualquer maneira.

Baque

Beijos brutos
Boca boa
Bora beber?
Basta!
Buguei.

26
Incomum

Estava voltando de uma balada. Sentado no banco de


trás do ônibus, com um pouco de sono. Olho para um
homem que corresponde no mesmo momento o meu
olhar.
Dou um sorriso, ele sorri.
Ele não emite som, vejo sua boca se movimentar:
- “Fala”
Gesticulo com os dedos:
- “Vem aqui.”
Para minha surpresa ele senta ao meu lado.
- Oi, tudo bem?
- Tudo, e você?
- Você é lindo!
- Não sou, voce está bêbado.
- É sim, seus olhos verdes são lindos!
- Tá vendo como está bêbado, meus olhos não são
verdes, são castanhos. Sou muito mais velho que você!
- Me passa seu número?
- Claro!
- Qual seu nome?
Ele pegou meu número.

27
lucas
de Jesus
BIO-
-GRAFIA
LUCAS DE JESUS ALVES, GEMINIANO, 19 ANOS,
O “ SERUMANINHO” QUE SOBREVIVEU Á DOIS FINS
DO MUNDO, DANÇOU COM O “TCHAN”, CANTOU
REBELDE, BAIXINHO DA XUXA, CRESCEU COM A
MAISA E ATÉ A PUBLICAÇÃO DESTE LIVRO DIZ DE SI:
- NA VERDADE PREFIRO ACHAR QUE
SOU UM SERINDEFINIDO, MAS PRA
SEGUIR OS PROTOCOLOS DEIXO OS SEGUINTES
RÓTULOS - BLOGUEIRO, CRIADOR DE CONTEÚDO
EM BUSCA DO SER CRIATIVO.
DOS ANSEIOS ADOLESCENTES, ME FIZ ESCRITOR
E POETA, AS PALAVRAS SE TORNAM VÁLVULA DE
ESCAPE, TUDO QUE NUNCA FOI DITO EM LINGUAGEM
ORAL, COMUNIQUEI NA ESCRITA. MAS SE FICOU
CURIOSO E QUISER SABER MAIS É SÓ VIR COMIGO:

@lucasalves2867

fb.com/cafeadolescente

youtube.com/cafeadolescente

Lucasalves2867
Ponto Final

Um segundo,
Outro Dia,
Agora pouco.

Aqui estava você,


Presente e sorridente
Cheio de si.
O Sorriso!

Ah o maior sorriso do mundo,


A maior loucura de todas,
E assim único e sem igual…
Ponto final.

Suspiro

Apenas de uma coisa eu tenho certeza, até as certezas


são incertas.
Tudo muda o tempo todo, o que ontem era nunca, hoje é
possibilidade, e as possibilidades de ontem acabaram de
ser descartadas.
E sempre vai ser assim, até quando deixarmos de ser.

30
Silêncio

Na confusão de te amar
me calo,
Você não consente,
Nem sente.

Eu continuo aqui,
Te espero,
Até depois de amanhã,
E não mais que isso.

31
Marcella
Datri
BIO-
-GRAFIA MARCELLA DATRI, 19 ANOS.
GEMINIANA, PAULISTA.
ESTUDANTE DE PRODUÇÃO AUDIOVISUAL
COM PÉ NA COMUNICAÇÃO.
BOA COMPANHIA PARA UMA MESA DE BAR.
“PLURAL DO PRÓPRIO SINGULAR.”
Silente

Não identifico nada,


entre vozes entrepassadas,
o que pulsa é
o grito que vos cala.

A-maré

Elo descompassado
nos envolve na ironia do
bem me quer
mal me quer.

Apreço do Empírico

Em presença,
colho fragmentos do seu todo.
em ausência,
fantasio a saudade em cor.

34
Sevicia

Torture-me
com suas sentenças embaraçadas
em meio ao caos de mim.

35
Maria
Viviane
BIO-
-GRAFIA
MARIA VIVIANE MARTINS DO NASCIMENTO, “MAVI”,
TEM 19 ANOS, É MARANHENSE,
MAS CRESCEU EM SÃO PAULO,
É ATRIZ, BAILARINA, PUBLICITÁRIA E PRODUTORA.
NAS HORAS VAGAS ENTRE AS PROTUBERÂNCIAS E
DECLÍNIOS DA VIDA SE TORNOU
ASPIRANTE A POETA.
AMA TUDO QUE ACRESCENTA,
SEJA DIDÁTICO OU NÃO.
SUA LEI NÚMERO 1 É NAO TRAIR A SI MESMA
PARA NÃO TRAIR O OUTRO.
Senhora resiliência

Elegância e educação
chegam antes dela própria,
em viradas de mesa ela ganha o
jogo,
investigadora persistente.

A travessia de suas pedras


é dissipar as fraquezas alheias,
transparecendo a singularidade
e escancarando a exótica beleza,
do ser que és.

Mofo Penitência 

Mentiras mortificam Pedro perece por paixão,


minhas memórias, Paulo por amor,
mentiras melindrosas portanto permitiram-se parecer
merecem martírio, possivelmente perigosos.

minhas marcas Porcos pavorosos perseguem-lhes


merecem morfina, por partes populosas,
merecem milagres. procurando pulos para
picotar-lhes primitivamente.

38
Toque de recolher

Esse chão me adota de segunda a sexta,


aos fins de semana
ele me manda de volta
pra casa,
onde o céu me acolhe como um
filho que a boa casa retorna.

TDR

Tendência de reclamação
me parece ser doença contagiosa,
espragueja daqui e dali
e quando notares,
você também estará contagiado.
Preenchido de maledicências
procurando culpados,
para justificar ausência
de contentamento.

39
Retina

Esses olhos estão adoecidos


e já não sabes a quem culpar,
algo fizeste de muito errado

Não os esfregues em vão,


deixe os descansar.

Não sou de fazer diagnósticos


mas aparentemente esses olhos
nunca foram seus.

Morte presente

Diante de tamanha plerplexidade


a pele adquiriu um tom pastel.
Os olhos ganharam distância,
procurando renegar o já visto,
mas as tentativas de explicação
se tornam inviaveis
quando a boca emudece.

40
Cotidiano

O tempo anda fugindo de mim O tempo continua fugindo de mim


descobri isso faz pouco tempo, mas agora eu já aceitei,
na verdade faz tempo não posso controla-lo e descobri que
mas eu preferia ignorar. ele nunca foi meu
Antigamente nós andávamos ele fugia porque andava com todos e
de igual pra igual, sem meu consentimento.
davamos as mãos e combinavamos Tá bom, ele não precisava disso
as corridas e respiros. Abri mão da briga e,
O tempo anda fugindo de mim Fiz as pazes com ele quando aprendi
e eu to vendo, não adianta acobertar a acompanha-lo pelo relógio.
ele se afasta, corre e depois
foge,
não me pergunte pra onde,
só sei que
ele não me espera mais.
Gostaria de entender o porquê,
mas toda vez que a gente se esbarra
ele me empurra pra longe.
Não esperava por essa, depois da
rasteira do tempo,
descobri que ele fugia de mim
porque me traia com o futuro,
e por isso que sempre que a gente
se via
eu acordava no passado.

41
Michele
Brito
BIO-
-GRAFIA MICHELE BRITO, TAMBÉM CONHECIDA
COMO BRITÓH,
FAZ TEATRO DESDE CRIANÇA E ESCREVE POEMAS.
A TODO MOMENTO CRIA VÁRIAS HISTÓRIAS
BIZARRAS NA CABEÇA, MORRE DE MEDO DE
ALGUÉM CONSEGUIR LER SEUS PENSAMENTOS,
TEM O HOBBY DE TER AMORES PLATÔNICOS
E AMA BRIGADEIRO.
Conto não contado

Era uma vez uma menina A garota não sabia o


De 11 anos, que estava Que fazer, e ele por
Com seus tios passeando Todos os lados a aparecer

Surgiu um homem sorri- Sem entender não sabia


dente, Pra quem podia contar...
Que dava cosquinhas Será que as pessoas
Na criança no chão Iriam acreditar?
Ela ria,ria, ria...
“Meus pais não estão
Pelo seu corpo a mão Aqui pra me defender
Dele começou a deslizar, É Melhor eu ficar quieta
a Menina tentando Pra ninguém saber “
Fugir a Estranhar
Ela era só uma menina
O tempo dessa viagem Com imaginação e ele
Passava lento, sentir Um homem de família
As mãos dele a tocando Brincalhão.
Era um tormento

44
A mais crente do quintal

Um dia eu achei que era Nessa exploração


A tal até conhecer a mais Embaixo das
Crente do quintal, Cobertas, fez várias
Ela tinha a chave do céu Descobertas
Era um pedaço de papel
A “descoberta” do Brasil
Oração a todo momento, De Pedro Álvares Cabral,
sexo tântrico em Não era nada perto
Pensamento Da descoberta da
Crente do quintal.
De tudo se privava,
E as vontades reprimidas
Gritavam

Um dia a crente do quintal


Resolveu ousar, o
Seu corpo começou a
Tocar

45
Tudo se pira

Inspirar a ação cogumelos Carnívoros


Para ter inspiração correndo Consciente,
Inspirar tudo que constante Consequente.
Te toca
pessoas Para ter inspiração é
Pássaros Necessário aspirar a dor,
paralelepípedos E não ser um aspirador.
Passos
pensamentos
Perdidos pipocando,
porta.
Inspirar, aspirar
Momentos
movimentos minuciosos
Motoristas
meninos Marchando
a se Movimentar
Para ter ação
É necessário percepção
Casas, caçarola
Camelos comendo
Caramelos

46
Esperma de Zeus (para pessoal da viagem de SFX)

Constelação elementos
Em ação, luzes flutuante
Javalis e elefante

As piscinas estão vazias


Tropeços em mãos frias,
Experimentação se
renovando

Luzes coloridas piscando,


Isso não é uma fogueira,
É o esperma de Zeus na
Geladeira.

Célio

Era uma vez a vez...


Que não era, um
Pobre louco
Que vivia na miséria

De tudo sabia um
Pouco, mas o que
Será que se passa
Na cabeça de um
Louco?

47
Anticorpos

Bombas, grades, pressão Corpos esforçando-se


Parcialidade ao informar, Para extrair bactéria em
Os ratos estão em todo Meio a sujeira, tirando
Lugar Vendas vendidas, dos olhos

Insetos peçonhentos no Corpos em massa


Poder a comandar, ou Torturados, para existir
Personificação de insetos Precisam resistir
Com poder popular?
Fungos, bactérias, ratos,
Bactéria unicelular a Insetos PESSOENTOS
Nos observar, a alma e Passarão, cairão com
pouco que temos vão Poder popular, quando
nos Roubar Todos os diferentes
anticorpos esgotados
Instalando-se em corpos Se juntarem.
Sem forças,
Já cansados de lutar

48
Bonecas regradas

Bons costumes As bocas outrora


Etiqueta moral Caladas agora gritam
Assim nasce Elas não se limitam
Um ser para
Um bom convívio A independência começa
Social A assustar, os crimes que
são cometidos
Aprisionamento contra elas,
Obediência vamos as culpar
Regras
Vamos criar “Se estivesse na
Mais uma boneca casinha isso não teria
Acontecido”
Privá-las da palavra
Mantê-las na casinha Mas os crimes da
Essa vai ser minha Casinhas eram todos
Menininha Omitidos para mantê-las
Em “segurança”
Vai ser uma bonequinha presas fazendo crianças.
de Porcelana, segue
Regras aceita tudo e
Não reclama

Mas os bons costumes


Não conseguiu controlar,
As bonecas puseram-se a
falar
49
Raízes

Embaixo

árvore saindo do
Asfalto natureza contida

Céu

poucas estrelas
não há pássaros,
nuvens Passageiras.

50
Ventos Uivantes

Se afogando em
Folhas, o afogamento
É uma escolha

No pico da montanha
Nada me estranha
Nem duendes muito
Menos aranha

Plantas fazendo
Síntese da foto
E a foto síntese
A registar, galhos
Em todo lugar.

Sohlo

Os olhos já viram coisas


Que não percebi, ou algo
Que nunca vi.

Através dos olhos vemos o


Mundo Eduarda, Maria,
Raimundo, óleo quente,
olho olhos olhares lugares

51
BIO-
-GRAFIA VINICIUS LINHARES - 20 SÓIS.
NEM ALTA, NEM BAIXA, ERA UMA PESSOA MÉDIA.
Vinicius
L inhares
Crônica de la retina.

04/04/2016 – Lua nova de Áries.


Em pé, entre os pés calçados, de cabeça baixa escrevia
na mente pensamentos de seu livro. Observando as
armaduras da rotina, lentamente subia o olhar pelo azul
das calças jeans. Como um pombo, diferentemente igual,
mas quando observado, continuava sendo da espécie:
pombo. Sem diferença alguma.
Vrum! Outro ônibus que poderia ter pegado, ultrapassava
o condutor do Parque Residencial dos Lagos, bruscamente
levantou o rosto, olhou entre os bancos do transporte
coletivo o movimento que cessava devagar, o micro-
ônibus parava no ponto e sua ansiedade esperava pelo
próximo príncipe que fosse entrar.
Ela se levanta com dificuldade, se equilibra entre as
bagagens que condicionada, tinha que carregar, devia
ter mamadeiras, fraldas, agasalhos e toalhas, e algum
leite pra preparar. O marido não estava ao seu lado, mas
o gentil rapaz a ajudou a levantar. Parecia a eternidade
em pensamento, e pensei em quantos planos a cena
poderia dar. Ela em pé acuada, toda preocupada em seu
filho segurar. Aquelas luzes refletiam, no lençol azul que
o cobria e a porta lentamente abria, e nenhum príncipe
subia, mas, uma guerreira mãe, descia, com o futuro a
carregar. Viajei completamente, e de repente o ônibus
voltava a andar.
Seguindo as artérias do asfalto, descia a Belmira num
ato de pensar nos porquês.
54
Toda essa filosofia barata não paga nem a embalagem que
cobria minha carne flácida e nem todo o contradiscurso
que eu ensaiasse pra dizer caso alguém me pergutasse o
que achava da classe, e do golpe do PT? O ônibus parou no
circo escola, e eu lembrava na memoria dos privilégios
do meu dia.
A porta do fundo fechava, e a carona tinha sido bem dada.
A bermuda azul florada, a camiseta laranja florescente,
o chinelo de dedo amarelo, de alguma marca que eu não
conhecia, no pulso, um relógio dourado, uma mochila
opaca nas costas, seu corpo com poucos pêlos a mostra,
verticalmente posicionado, com rosto lateralmente
virado, escondido por um único dread pendurado, num
boné esverdeado, encardido, em nenhum momento
parecia bandido, mas sim, um cara resolvido.
Disfarcei, virei a cara. Entusiasmei minha alma, e
curioso eu fiquei. Voltei aos poucos aos seus detalhes,
que no roteiro não cabe, daí me lembrei que estava na
periferia, e num sorriso de canto de boca agradecia por
ele não fazer parte da monotonia dos sapatos e calças
jeans azuis.
Parece coisa de novela, ou versos de adolescente, mais
aquele momento no meu livro tinha que entrar. Deus
ainda não liberou a memória de fotografia, que com o
olhar gravava e com a boca imprimia, o material da
lembrança.

55
Aquela figura incomodava e a Belmira Marim passava,
na rotatória eu já estava.
Em nenhum momento me passava maldades na cabeça,
aquela pessoa camuflada nas grifes “importadas” só me
era desejada a desvendar o que vivia, se comia mais de
três vezes por dia, o que fazia nos fins de semana, se
sua família era alegre e bacana, pois aliança nos dedos
não tinha. Seu nariz era fino, sua boca de menino, sem
barba, sem espinhas, sua sobrancelhas não fazia, uma
mexa descolorida lhe fugia na lateral esquerda do boné.
Logo eu, a felina indomada, que não havia sido castrada,
aquele homem, talvez o príncipe , eu não cobiçava ,
respeitava, por não penetrar sua retina ou sua rotina
não espelhada? Sei lá, não faço ideia. O ônibus parou
no ponto, e eu pensei no fim do conto, como encerraria
aquela sessão?
Meu livro TEM QUE SER UM BESTSELLER, afinal, sou
obrigado a ser famoso, as pessoas me aplaudirão no final
da exibição do meu filme, sou fadado ao sucesso, bebê.
Olhei-me um pouco contrariado, fechei os olhos.
Respirei profundamente, soltei o ar.
Levantei a cabeça, lembrando da ordem do dia, de terça-
feira, que insistia em acordar cedo pra trabalhar, nem
em casa tinha chegado, nem o corpo banhado, nem os
pés estirados em cima da cama. Pensava no prato de
comida, na 5° refeição de sua rotina, e se distanciava de
si.

56
Lembrou da roda de capoeira, do filme que queria ver
na sexta-feira, do show das Bahias e a cozinha mineira,
e de toda vida colorida e abundante que consumia sem
perceber. Milhares de átomos preencheram seu peito,
em um gesto insatisfeito, ergueu o braço no longo cano
amarelo, que delícia, o bofe, na mesma posição que
entrou na carona continuava de lado preparado, pra no
seu ponto saltar.
De pé, de pé, nos meus pés me apoiava nos meus pés
me sustentava, nos meus pés calçava as escolhas e
as condições de caminhar. Meu ponto nunca chegava,
parecia que a vida parava me faltava inspiração pra
escrever, meu livro parecia chato, não eram versos
EXCLUSIVOS, até pareciam copiados, inspirados em
outros contos, um desabafo!
O que é a poesia, se não um estado de nostalgia que
você insiste em organizar em versos, mesmo que não
rimados, ainda organizados e por vezes orgulhosamente
recitados em saraus onde um público descolado, gasta
grana, gasta tempo, gasta até o pensamento, tentando
ressignificar o que é a coletividade?
Lembrei-me então da menina dos olhos de Oxum, que
comigo contemplava a lua, na última festa, que todas as
Transviadas puderam celebrar.
Meus 21 anos estão chegando, e tenho medo de não poder
comemorar.

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L iniane
Haag Brum
MINI-
BIOGRAFIA SOU A LINIANE HAAG BRUM
(PELO MENOS É O QUE ESTÁ ESCRITO NA MINHA
CERTIDÃO DE NASCIMENTO).
AO PREENCHER FORMULÁRIOS, FAZER CHECK IN
EM HOTÉIS, FIRMAR CONTRATOS COM PLANOS DE
TELEFONIA MÓVEL E ENVIAR SOLICITAÇÕES DE
EMPREGO, SEMPRE FICO EM DÚVIDA SOBRE O QUE
COLOCAR NO CAMPO DESTINADO À PROFISSÃO.
SE ALGO TÃO SIMPLES É TÃO DIFICIL DEFINIR….
IMAGINE ESCREVER A MINHA BIOGRAFIA,
A MICRO-HISTÓRIA DA MINHA VIDA?
A ALTERNATIVA: DIZER QUE SIGO TENTANDO
JUNTAR DOIS AMORES, UM QUE CONHEÇO DE
LONGE, PELAS PALAVRAS, FRASES E LIVROS;
E OUTRO, MAIS RECENTE,
QUE ME CONFUNDE E ME CATIVA,
DO QUAL NÃO ESCAPO: ADIVINHA QUAL?
Fim e Começo

Há o que dizer depois da poesia? Talvez não.


Talvez por isso tenha sido tão difícil, para aquela que
exerceu o papel de educadora no Clube da Escrita, delinear
algumas frases de encerramento. Encerramento? Pois
é, ao contrário do esperado, não se trata de concluir,
fechar, selar. Este volume cheio de encantos, realizações
e promessas, tem mais o jeito de um enorme ponto e
vírgula. O sinal de pontuação intermediário entre o ponto
final, que indica que chegamos ao término, e a vírgula,
que denota uma pausa curta, vem justo nos dizer que
acabamos sem acabar. Significa uma pausa longa.
Está fazendo sentido? Sim; não; talvez... Eu explico.
Depois de sete encontros em que nos movemos entre
a escrita e a leitura voltada à escrita (oi?), deveríamos
ter chegado àquele momento no qual o círculo se fecha: o
burilamento final da linguagem dos textos selecionados
para comporem o livro, e pronto. Mas nem pronto nem
ponto combina aqui. Nossas aulas se desdobraram em
vínculos invisíveis a olho nu, em desencontros reflexivos;
nossa escuta mútua e nossa escritura coletiva convergiu
em necessidade de escrever e escrever...
Enquanto tento entender como esse Feito
nós “reflete” e “resume” a oficina de escrita literária
desenvolvida ao longo da Turma XII do Instituto Criar, me
deixo envolver por esses nós do inacabamento: pronome
pessoal e plural, substantivo masculino, enlaçamento,
enovelamento, vínculo. Tarefa coletiva nunca chega ao
fim. É sempre um re-começo;
60
I
feito nos

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