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São Paulo
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São Paulo
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COMISSÃO JULGADORA
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RESUMO
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ABSTRACT
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Agradecimentos
Aos amigos Iole Ilíada, Silvio Aragusuku, Cloves Castro, por sua
solidariedade permanente.
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Sumário
Introdução
Conclusão
Referências bibliográficas
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Introdução
1. Objeto da pesquisa
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2. Metodologia
Revisão da literatura
A revisão da literatura compreendeu: I- a produção historiográfica sobre o
final do Estado Novo e a reconstitucionalização iniciada com as eleições gerais
de dezembro de 1945, e especialmente sobre o governo de Eurico Gaspar Dutra;
II- a extensa literatura sobre o PCB; III- as obras sobre história da imprensa no
Brasil, e de São Paulo em particular; IV- os trabalhos sobre as experiências
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1 Relatório de ocorrências do plantão de 12h de 25/7 a 12h de 26/7, assinado pelo inspetor Silva Júnior, da Delegacia de Segurança
Social do Distrito Federal. Aperj, setor “Comunismo”, pasta 5, f.4.
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“História oral”
Quanto à “história oral”, desempenha, nesta pesquisa, importante papel
como técnica auxiliar. Embora o projeto inicial já contasse com a previsão de
entrevistas gravadas com militantes e jornalistas, tal perspectiva ganhou corpo na
medida em que foram sendo identificados e localizados diversos protagonistas do
Hoje, a partir de um depoimento público inicial do ex-repórter Jacob Feldman.
Esse grupo reúne também familiares de jornalistas que atuaram no Hoje.
Foram realizadas pelo Autor entrevistas com as seguintes pessoas — todas, à
exceção da última, com idade acima de setenta anos:
Jacob Feldman. Acompanhado do amigo e também ex-militante do PCB
Waldemar Yañez Gonzales, Feldman concedeu uma longa entrevista, bastante
concatenada, que pode ser vista como um excelente roteiro para a elucidação da
história do Hoje do ponto de vista dos que produziam o jornal. Feldman foi
repórter e redator. Ingressou jovem no Hoje, oriundo da Juventude Comunista, e
ali se tornou jornalista profissional. Manteve-se na carreira depois que saiu do
jornal do PCB.
Walter dos Santos Freitas. O depoimento de Freitas é valioso, por tratar-se
de alguém que não teve maiores laços com o PCB. Repórter-fotográfico que se
tornaria nacionalmente famoso nos Diários Associados e na revista O Cruzeiro,
Freitas aprendeu o ofício quando ainda adolescente, na redação do Hoje. Até
então, trabalhava na banca de jornais do PCB. Em seu depoimento, destaca o
papel do Sindicato dos Jornalistas em defesa do Hoje. Tanto ele como Feldman
permanecem sindicalizados até os dias de hoje.
Dinorah Pinto Ribeiro. Foi arquivista e redatora do Hoje e do Notícias de
Hoje, tendo também trabalhado, anos antes, nos mutirões de venda do jornal em
Santos (“comandos”) e na arrecadação financeira. Militante do PCB desde a
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adolescência, Dinorah foi presa pelo menos duas vezes, em ambas ficando mais
de um mês encarcerada. Seu depoimento surpreende pela vivacidade com que
descreve os problemas internos do jornal e por seu distanciamento da direção.
Não permaneceu na carreira.
Pérola de Carvalho. Atuou no Notícias de Hoje como noticiarista, e,
posteriormente, como crítica de teatro, mas foi breve sua passagem pelo jornal.
Uma festa em sua homenagem resultou em incidente com a polícia, que lhe
rendeu sua prisão e a de Dinorah. Então estudante universitária, de família
economicamente bem situada, como Feldman, e igualmente oriunda da Juventude
Comunista, Pérola relata ter sido vista como “pequeno-burguesa”. Não seguiu
como jornalista, tornando-se tradutora de livros, e deixou a militância.
Armênio Guedes. Jornalista atuante em diversas das publicações do PCB na
década de 1940, como a revista Continental, membro suplente da direção
nacional (Comitê Central) eleita em 1943, Guedes forneceu ao autor informações
importantes sobre o aparato informativo montado pelo partido. Trabalhou até
2005 como editorialista da Gazeta Mercantil.
Aparecida Azedo. Viúva de Raul Azedo Neto, que foi um dos chefes de
reportagem do Hoje, Aparecida também tem sua própria trajetória de militância
no PCB. Sobreviveu ao episódio conhecido como Chacina de Tupã (1949), em
que a polícia do governador Adhemar de Barros executou três ativistas do
partido. A entrevista com Aparecida não foi realizada em condições satisfatórias.
Miguel Juliano. Este arquiteto foi simpatizante ou militante do PCB em
Uberlândia. Ao chegar a São Paulo, nos anos 1940, conheceu Jorge Amado e
Clóvis Graciano, diretores do Hoje, e passou a arrecadar finanças para o partido.
O depoimento serviu para complementar informações que constam em entrevista
que concedeu à revista eletrônica Projeto Design.
Lúcia Brito. Filha de Nabor Cayres de Brito, e portanto sobrinha de Milton
Cayres de Brito, dois dos principais responsáveis pela fase inicial do Hoje. Lúcia
forneceu dados interessantes para a composição do perfil de Nabor, um dos mais
importantes jornalistas profissionais em atividade em São Paulo nas décadas de
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1940 e 1950.
Em alguns casos, comentários adicionais foram colhidos, por telefone, em
contato pessoal ou mesmo por depoimento escrito, como fez Pérola de Carvalho.
Lamentavelmente, no caso de Nabor, em seu único depoimento gravado
conhecido, pertencente ao acervo do Museu da Imagem e do Som (MIS), não há
quaisquer referências ao trabalho que desenvolveu no Hoje.
Cabe mencionar que no seminário “A Imprensa Confiscada”, que teve lugar
em 13/5/2004 na FFLCH-USP2, o autor gravou os dois depoimentos — de Jacob
Feldman e Álvaro Moya — que terminaram por incentivar, pelas descobertas que
propiciaram, a realização de uma série de entrevistas (com o próprio Feldman,
com Dinorah Pinto Ribeiro, Pérola de Carvalho, Walter Freitas). Em outra
vertente, o autor colheu ainda depoimento, por telefone, de Áurea Rebouças,
residente em Salvador (BA), viúva do citado Milton Cayres de Brito, que foi um
dos principais dirigentes do PCB em São Paulo, além de deputado federal e
estadual.
As chamadas “fontes orais” enriquecem pesquisas históricas que lidam com
agrupamentos políticos clandestinos. Contudo, como já observado por diversos
estudiosos, o pesquisador deve utilizar esse material com bastante prudência.
Qualquer entrevistado tende, ainda que não necessariamente de modo consciente,
a ser seletivo em suas declarações. Contradições internas também são freqüentes,
podendo, em determinados casos, comprometer o material colhido. Em que pese
tudo isso, tais depoimentos fornecem dados objetivos e subjetivos de valia para o
pesquisador. Não se trata somente de constatar que este ou aquele depoimento
traz à luz informações ou “fatos” que jamais seriam localizados em qualquer
documento. Isto ocorre. Mas o fundamental talvez seja poder contar com uma
massa de testemunhos que descrevem com incomparável vivacidade ambientes,
personagens e situações da época estudada, e, tomados em conjunto, fornecem
um notável substrato empírico.
Ainda sobre a metodologia empregada no tratamento de “fontes orais”, duas
2 Por iniciativa dos professores Maria Luiza Tucci Carneiro e Boris Kossoy.
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Outras fontes
O jornalista Vladimir Sacchetta, filho de Hermínio Sacchetta, colocou à
disposição do autor da pesquisa um conjunto de negativos fotográficos de vidro
que pertenceram ao Hoje, bem como cópias em papel geradas a partir deles.
Trata-se de rico e proveitoso material iconográfico.
Foram tentadas, sem êxito, outras fontes, tais como a a empresa T. Janér e a
Agência France Presse. A primeira não dispõe em seus arquivos dos registros
comerciais da época em que fornecia papel ao Hoje. A segunda, por meio de sua
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Leitura do jornal
A leitura exploratória da coleção de Hoje foi um dos passos iniciais da
pesquisa. Na leitura exploratória o autor tomou contato com várias edições da
fase inicial do jornal (1945-46), o que permitiu, além de avançar na compreensão
de aspectos do objeto da pesquisa, apreender os elementos necessários à
preparação de uma Ficha de Leitura — na qual seriam registrados os dados
levantados, posteriormente, numa leitura sistemática do jornal, para a qual
adotou-se a metodologia da semana composta, ou semana montada.
O problema prático que se colocou, diante das dimensões da tarefa de leitura,
foi quais períodos priorizar. Fixamo-nos, assim, na seleção de alguns momentos-
chave: os primeiros meses de vida do Hoje, incluindo as semanas que se seguiram
ao golpe de 29 de outubro de 1945, as eleições gerais de 1945, a cobertura da
onda de greves no início de 1946, as eleições de janeiro de 1947.
Dada a impossibilidade de ler todas as edições, optamos por trabalhar com
duas semanas compostas compreendendo os meses de novembro e dezembro de
1945 e janeiro de 1946, para com isso obter dados sistemáticos sobre escolhas
editoriais, estilo, publicidade etc3. Foram realizadas leituras exploratórias de
alguns outros períodos. Portanto, as leituras exploratórias foram utilizadas em
dois momentos diferentes da pesquisa.
O lançamento de dados nas Fichas de Leitura e posterior tabulação permitiu
captar os aspectos editoriais mais marcantes do Hoje, bem como compará-lo a
dois jornais que lhe foram contemporâneos, Folha da Manhã e Correio
Paulistano, mediante a aplicação da mesma Ficha a edições destes.
3 Posteriormente constatamos que o Arquivo do Estado não possui em sua coleção as edições de dezembro de 1945, o que
prejudicou a amostra.
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4 Este autor caracteriza a Rede Globo como “aparelho privado de hegemonia” “fundamental” no país, em Mídia: Teoria e Política, p.
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1999: 125).
“Criam-se”, afirma Carlos Nelson Coutinho a respeito da luta de classes em
curso nas sociedades complexas, como é o caso do Brasil,
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camadas populares, e mais que isso, deu voz a elas. O diário materializou em suas
páginas uma visão de mundo que não era elaborada à revelia dos de baixo, mas
com eles, ainda que também esse processo de elaboração não fosse linear ou livre
de contradições. Ao revelar um mundo sonegado pelas páginas da grande
imprensa, o mundo do trabalho e da pobreza, Hoje combateu a alienação — e o
fez a partir de gestos, palavras e imagens dos próprios atores desse mundo.
Não é correto, portanto, afirmar-se que somente “os operadores ‘mais
qualificados’ podem manifestar parâmetros racionais de ordenação social”, ou
que o discurso emancipador “prega a elevação dos oprimidos a sujeitos
históricos, mas os mantém como objetos passivos no circuito do já estabelecido”
(Moraes: 82). A “fala autoritária” está presente nos diários, mas não é exclusiva,
convivendo e mesclando-se com a “fala dos reprimidos”.
Crítica de Martin-Barbero
Outra crítica à imprensa comunista, digna de nota, parte de Martin-Barbero:
citando a obra de Guillermo Sunkel acerca da imprensa popular no Chile, em que
aquele autor examina “a transformação da imprensa operária em jornais de
esquerda”, aponta que “a mudança se situa basicamente na ruptura do círculo
local onde até então permanecera inscrita”, ou seja, ocorre uma nacionalização e
uma centralização, em busca das massas:
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afirmar que ela não é aplicável, ao menos in totum, a experiências como Hoje e
Tribuna Popular. Nestes diários, a importância dada aos temas culturais foi
relevante, como o demonstram a ampla cobertura esportiva e a atenção às artes
plásticas, ao cinema, à literatura e às escolas de samba.
As questões teóricas até aqui apenas sumariadas serão retomadas no capítulo
III desta tese.
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6 A primeira cifra, que parece mais realista, é citada em Falcão, 1988. A segunda é mencionada pela maioria dos autores.
7 Aos 14 deputados constituintes comunistas eleitos em 1945 juntaram-se outros dois, em janeiro de 1947, eleitos por São Paulo nas
eleições complementares.
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comunistas. Assim, ao setor das classes populares que se identificava com o PCB
não restou nem o direito ao voto (Pomar, P. E. R., 2002: 22).
Mesmo no período em que atuou como partido legal o PCB enfrentou dura
hostilidade dos chamados poderes constituídos. Em outras palavras, o fato de
contar então com parlamentares no exercício do mandato e de existir como
partido reconhecido pela justiça eleitoral não impediu que fosse alvo permanente
de repressão policial, desde a infatigável e cotidiana espionagem até ações
violentas do Exército e das polícias, bem como prisões arbitrárias. Tornou-se
trivial a eliminação física de opositores do regime pela repressão política: ao final
do mandato de Dutra, o número de militantes comunistas assassinados chegaria a
55 (José, 1997: 170).
O baixo grau de tolerância democrática do governo Dutra para com os
movimentos populares em geral, e os comunistas em particular, já fora, de certa
forma, prenunciado pela natureza do movimento que derrubou Vargas em
outubro de 1945. Mas o fato de se haverem realizado eleições gerais
“relativamente democráticas” em dezembro desse mesmo ano (Bethell, 1996: 91),
sob a Presidência interina do udenista José Linhares, e a persistência das euforias
desencadeadas pela derrota do fascismo na guerra, bem como um processo
constituinte que se apresentava como democrático, tudo isso concorreu para
realimentar e manter acesas as expectativas de um aprofundamento das
liberdades.
O regime de Dutra recorreu corriqueiramente ao terrorismo de Estado para
dissolver manifestações e prender ou calar opositores, o que se acentuou com o
advento da “Guerra Fria”. Enquanto o Congresso preparava a nova Constituição,
Dutra governou com mão de ferro, como notou Werneck Vianna, pois as leis de
segurança do Estado Novo não foram revogadas (Vianna, 1978: 254). Já em
março de 1946 editava o decreto-lei 9.070, que proibia greves e punia grevistas
com multas e prisão. Dirigentes sindicais foram condenados e encarcerados em
decorrência desse diploma legal (Pomar, P. E. R., 2002: 164, 168). A
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10 Diários políticos de Caio Prado Júnior, 18/11/1945. Arquivo do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB-USP).
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11 Diários políticos de Caio Prado Júnior, 21/8/1945. Arquivo do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB-USP).
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Caio Prado Júnior, que apesar das divergências com a CNOP terminou por
retornar às fileiras partidárias, após comentar a difícil situação do diário do PCB
em São Paulo em fevereiro de 1946 — “O Hoje está numa situação
desesperadora, com déficit de mais de 100 contos por mês. Não sei quanto ainda
viverá, enquanto queimam os últimos cartuchos” — faz um prognóstico
desanimador: “Tenho impressão [de] que o ocaso do partido sob a sua atual forma
cnopista-prestista se aproxima. Será a segunda vez que Prestes matará o
comunismo no Brasil”12.
A previsão do intelectual não se concretizou, pelo menos não de imediato.
12 Idem, 15/2/1946. Certamente faz referência às desastradas declarações de Prestes sobre uma hipotética guerra entre Brasil e
URSS e à rebelião de 1935.
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Nas eleições de janeiro de 1947, como visto, o partido fortaleceu-se: ampliou sua
bancada federal com dois deputados excepcionalmente bem votados nas eleições
complementares de São Paulo, Arruda Câmara (62 mil votos) e Pedro Pomar (135
mil); conquistou alta votação para Cândido Portinari, candidato ao Senado (287
mil votos); elegeu deputados estaduais em nove estados, num total de 46. Além
disso, teve participação decisiva na eleição de Adhemar de Barros, o que
implicava a derrota do candidato de Dutra, para quem “a vitória de Adhemar
representou o maior revés político das eleições de janeiro de 1947”, dado tratar-se
não só de um governador “apoiado pelos comunistas, mas [que] também vencera
sem o apoio de qualquer um dos partidos da elite” (French, 1995: 205). Ao
comentar o desempenho eleitoral dos comunistas em 1945 e 1947, Aarão Reis
adverte que a política de “união nacional” que “evidentemente, tinha uma
contrapartida conciliatória do ponto de vista do incentivo às lutas sociais”, não
provocou tantas perdas quanto se poderia esperar: “Se houve desgaste, os
sismógrafos eleitorais não o registraram” (Aarão Reis Filho, 2002: 75).
Todavia, o desempenho eleitoral do PCB precipitou o fechamento do
partido, em maio de 1947, o qual surpreendeu a maior parte dos dirigentes que,
Prestes à frente, minimizaram tal possibilidade, desde o início do processo na
justiça eleitoral. Mesmo Caio Prado Júnior, que sempre fez restrições à política
do núcleo dirigente, subestimou os riscos, ao escrever, em março de 1946,
comentário sobre Barreto Pinto e Himalaia Virgulino, autores das ações contra o
PCB: “São dois tipos desmoralizados”. “Não penso que o partido seja fechado. O
governo se limitará a cortar-lhe os movimentos”13. O fechamento não encontrou
resistência de qualquer espécie: os comunistas pareciam anestesiados, eufóricos
com os resultados eleitorais alcançados no início do ano, e mesmo tímidas
medidas preventivas propugnadas pelo Comitê Estadual paulista em circular de
22 de fevereiro — logo após a divulgação de parecer do procurador Alceu
Barbedo, favorável à ação de Barreto Pinto — não chegaram a ser efetivadas
(Pomar, P.E.R., 2002: 87).
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18 Como Enfrentar os Problemas da Revolução Agrária e Antiimperialista. Problemas, n. 9, abril de 1948, p. 39.
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Contudo, de acordo com o jornal, a medida, tomada “por ordem direta do sr.
Sampaio Dória, como ele mesmo afirmou ao Diretor do Hoje que com ele se
avistou tentando sustar a prática de tal violência”, não bastaria para detê-lo:
(...) O Hoje não vai desaparecer, não vai deixar de circular. Amanhã,
estará novamente na mão de seus milhares de leitores, que nele
encontram diariamente as respostas justas aos seus anseios. Somos uma
trincheira e não serão [sic] a golpes traiçoeiros que irão nos destruir. O
Hoje é um jornal do povo e o povo continuará a ter o seu jornal”.
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22 Relatório de 25/7/1946 do investigador Geraldo Lucchetti, responsável pelo plantão de meio-dia de 24/7 a meio-dia de 25/7. Aperj.
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Ou então:
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25 Ofício de 30/11/1945, sem número, assinado pelo major Hildebrando Pelágio Rodrigues Pereira. Aperj.
26 Ofício 9 DPS, de 17/12/1945. Aperj.
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Quanto a O Momento, após uma fase inicial quase sem repressão (os
comunistas tinham, inicialmente, boa relação com o governador Otávio
Mangabeira), é empastelado pelo Exército em 1947, após a cassação do registro
do PCB; sofre uma tentativa de invasão pela polícia em fevereiro de 1948; é
invadido em julho e agosto de 1953, havendo prisões. Sônia Serra descreve em
cores fortes a invasão do jornal em maio de 1947:
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A Folha do Povo, por sua vez, teve a redação invadida pela polícia em 8 de
janeiro de 1948; foi suspensa a 17 de abril do mesmo ano; arrombada e
empastelada no dia seguinte, com “material apreendido e 31 pessoas presas,
algumas espancadas”, deixa de circular até 5 de maio; obrigada a fechar
novamente em 19 de maio, é suspensa até novembro de 1948. Novas agressões
são registradas em 1950 e 1953 (Rubim, 1986: 45). Paulo Cavalcanti relata um
desses incidentes, provavelmente o de 18 de abril de 1948:
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Dissensões internas
Comparativamente aos jornais da burguesia, os diários do PCB não
acumulam um grande contencioso de dissensões, conflitos, denúncias de
perseguição entre camaradas. Mas elas existem, em parte genéricas, referidas ao
sectarismo dos jornais do partido no período posterior ao Manifesto de janeiro de
1948, em parte específicas, relacionadas com problemas enfrentados por
colaboradores ou por funcionários dessas publicações. (Não trataremos dos
episódios relacionados à repercussão, nos jornais comunistas, da divulgação do
Relatório Kruschev, em 1956, bastante trabalhados na literatura e que fogem ao
escopo desta tese.)
Áurea Cayres de Brito relata haver, em conversa com o esposo Milton
Cayres, feito críticas ao Hoje: “O jornal é muito ‘Partido Comunista’. Essas
coisas fora do Partido não existem no jornal”. Em resumo: “Era muito ‘PCB’. Eu
dizia isso para ele”. Para ela, seria preciso publicar “notícias mais amplas para
outras pessoas se interessarem”. Arruda Câmara, também baiano como os Cayres
de Brito, hospedava-se na casa da família. Dizia, segundo Áurea: “Professora,
pense diferente. Você está errada”27.
Armênio Guedes sustenta opinião sobre os jornais semelhante à de Áurea:
“Tinham repercussão, mas durou no máximo até o início de 1947, depois foram
declinando. Foram se sectarizando muito. Não tratavam dos assuntos da vida
democrática, ampla, das massas”. A manchete dos jornais, nesse período,
revelava estreiteza, pois era “o assunto mais importante do partido no dia”28.
Carlos Drummond de Andrade descreve, numa entrevista, como se deu seu
divórcio com Tribuna Popular, do qual chegou a ser, formalmente, um dos
diretores:
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Uma ocasião em que o diretor do jornal era Pedro Pomar, este devolveu
uma colaboração de Leôncio, que era uma análise sobre as eleições
havidas em 1945, dizendo que “somente se deveria escrever sobre o
assunto depois que o CN desse a sua opinião”. Um outro artigo, a
propósito da reorganização da Juventude Comunista, foi-lhe devolvido
sob a alegação de que se encontrava “superado pelas novas
circunstâncias”. Outro, sobre o problema das finanças, foi recusado sob
o pretexto de que era “contra a linha do Partido” (Basbaum, H., 1999:
114).
(idem: 197).
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Novo.
Comum a todos esses capitães de indústria, além do anticomunismo e da
visão de mundo burguesa, era o fato de haverem criado e desenvolvido poderosos
aparelhos privados de hegemonia, capazes de produzir sentido e de disputar a
opinião de centenas de milhares de pessoas. E, obviamente, de angariar farta
publicidade em suas páginas. Perto de tais Golias, o Hoje teria de esforçar-se para
repetir a proeza de Davi.
O Quadro 1 relaciona 17 jornais diários que estiveram em atividade na
década de 1940, editados em São Paulo, capital:
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A “imprensa sadia”
Ao nos referirmos à imprensa paulista, algumas considerações sobre a
“imprensa sadia” se fazem necessárias. Essa expressão aparece nas palavras dos
jornalistas de Hoje ora como meio de designar ironicamente a totalidade dos
jornais burgueses nas décadas de 1940 e 1950, ora como uma forma de enquadrar
aqueles diários que se valiam da calúnia para combater o PCB e pareciam, além
disso, muito próximos da polícia, como o Diário da Noite, de Chateaubriand, e A
Noite — justamente A Noite, em cujas oficinas foram compostas e impressas as
primeiras edições do Hoje. “Os outros eram imprensa sadia. Para nós era tudo
imprensa sadia”, define o repórter do Hoje Jacob Feldman38, ao passo que a
redatora do Notícias de Hoje Pérola de Carvalho assim comenta a prática de
“requentar” noticiário dos outros jornais: “a imprensa dita ‘sadia’ sempre foi mãe
generosa”39. No noticiário do Hoje, porém, encontramos a expressão delimitada
aos “dois jornais da rua 7 de Abril”, isto é, A Noite, “vespertino de duas cores”, e
o Diário da Noite, ambos “jornais da reação”40.
Seja como for, o Hoje precisou, e conseguiu, manter boas relações com
alguns dos jornais concorrentes, inclusive com O Estado de S. Paulo, que
enviaria representantes à festa de primeiro aniversário do diário comunista (ver
capítulo III). Após a vitória de Adhemar de Barros nas eleições de janeiro de
1947, o Hoje entrevistou algumas personalidades da elite, como Júlio de
Mesquita Filho e Miguel Reale, sobre a bandeira da “união nacional”, ainda
37 Freitas Nobre atribui a criação do Jornal de São Paulo a Guilherme de Almeida: “Deixou de circular em 1948,
voltando à circulação em 1950” (NOBRE, 1950: 264).
38 Entrevista ao Autor, 2004.
39 Depoimento escrito ao Autor, 2006.
40 Vide p. ex. “A Imprensa Sadia diante das primeiras vitórias eleitorais”. Hoje, 21/1/1947, p. 6. Diante da vitória de Adhemar de
Barros (apoiado pelo PCB) nas eleições de janeiro de 1947, A Noite destacou a abstenção.
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deverão ser vendidas por pessoas idôneas, devendo estas, para tal, fazer
um depósito de 300.000 cruzeiros no Banco do Brasil. Os comunistas
Caio Prado Júnior, José Rosemberg e Celestino Paraventi estão
interessados em vender as ações daquele jornal. Os mesmos vão fazer o
depósito acima, devendo cada um deles entrar com a importância de
100.000 cruzeiros46.
46 Relatório SOE de 26/12/45, “do QS”. Dossiê 30-Z-74-7, Arquivo do Estado de São Paulo.
47 Acionistas do Jornal Hoje. Dossiê 30-Z-74-50, Arquivo do Estado de São Paulo.
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A julgar pela leitura desse documento, o sistema de cotas era levado a sério
pela administração do Hoje:
49 Relação dos relatórios enviados para o interior e que até o momento não devolveram. 30-Z-74-31, Arquivo do Estado de SP.
50 Idem.
51 Ver, p. ex., termo de declarações de Henrique Valério no DOPS. 30-Z-74-379.
52 Relatórios de 26/2/1948 e 27/2/1948, registrando a apreensão de 510 e 759 exemplares respectivamente. 30-Z-74-104 e 105.
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“não existe aqui na capital jornal que dê maior lucro aos jornaleiros
uma vez que os demais jornais (...) em 100 exemplares dão um lucro de
19 cruzeiros, ao passo que o jornal Hoje em 100 exemplares dá um
lucro de 40 cruzeiros”54.
Apesar dos esforços evidentes para vender o jornal, sacrificando até mesmo
as margens de lucro como se pode depreender das declarações desse vendedor, é
pouco provável que a venda avulsa, em qualquer de suas modalidades, tenha
contribuído de modo relevante para as receitas do Hoje.
3) Venda de assinaturas
Fundada em novembro de 1945, portanto após o surgimento do jornal, a
Sociedade de Amigos do Hoje propôs-se a “dotar esta folha dos recursos
necessários ao cumprimento de suas tarefas do jornal do povo a serviço da
democracia”, lançando-se então uma “Campanha das 30.000 assinaturas”55. Essa
campanha obteve resultados expressivos, ao menos no interior.
O documento “Relação dos Destinatários do Jornal Hoje”, apreendido pelo
DOPS em novembro de 1948, contém 38 páginas com nomes de assinantes e de
distribuidores da publicação em centenas de cidades do interior paulista e de
53 RIBEIRO, Dinorah. Entrevista ao Autor.
54 Termo de Declarações de Benedito Ferreira dos Reis, 8/2/1951. 30-Z-74-357.
55 Hoje, 4/11/1945, p. 8 e 6.
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60 Hoje, 18/10/1946.
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61 Truncado no original.
62 Hoje, 2/10/1946, p. 6.
63 Hoje, 10/10/1946, p. 1.
64 Hoje, 22/10/1946, p. 1. Doze mil pessoas no comício Pró-Imprensa Popular em Sorocaba.
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objetos de valor65.
Entre os comitês estaduais do PCB, coube ao de São Paulo a maior cota de
arrecadação: 5 milhões de cruzeiros, o que se traduziu como “Campanha dos 5
milhões”. Contudo, até 6/10/1946, na soma dos valores arrecadados na capital e
no interior havia-se obtido somente 1,495 milhão de cruzeiros (30% da meta
fixada). Na véspera da data prevista para o encerramento da campanha, fora
levantado um total de 3,841 milhões de cruzeiros (77% da meta fixada)66.
Embora aquém da meta, era suficiente para que Hoje pudesse comunicar aos
leitores a compra do prédio onde funcionariam as oficinas de impressão (na rua
Conde de Sarzedas, 246), por 350 mil cruzeiros, e o pagamento da “segunda
prestação das máquinas, totalizando, com a primeira, 500 mil cruzeiros”.
Transações efetuadas pela firma Gráfica Hoje S.A., constituída à parte da
empresa editora do jornal67.
A meta nacional da campanha foi alcançada, o que teria aliviado em parte os
diários, no tocante às necessidades de aquisição de instalações e de equipamentos
de impressão. Contudo, a partir desse momento a questão do financiamento
dependia fundamentalmente do desempenho particular de cada um deles, o que
envolvia venda em bancas, venda de assinaturas e venda de publicidade. Ásperos
obstáculos interpunham-se, como visto, em cada uma dessas frentes.
Outras campanhas
Novas campanhas de arrecadação de contribuições foram realizadas, mas
nenhuma teve o mesmo êxito — político e financeiro — da campanha de 1946,
que coincidiu com o período de auge do prestígio do PCB. Entre julho de 1950 e
janeiro de 1951, fase que coincide com uma nova onda repressiva do governo
Dutra em final de mandato, o Hoje parece estar em permanente campanha de
arrecadação. Em 1950 são emitidos bônus da Campanha da Bobina de Papel,
patrocinados pela Sociedade de Ajuda à Imprensa Democrática, SAID, nos quais
informa-se: “Os nossos jornais precisam de papel para lutar pelo povo”. Além de
65 Hoje, 22/10/1946, p. 1. “Dei meu ouro para o nosso Hoje”.
66 Hoje, 31/10/1946, p. 1. Campanha dos cinco milhões.
67 Hoje, 31/10/1946, p. 1. Adquirido pela “Gráfica Hoje SA” o prédio em que serão instaladas as máquinas do jornal do povo.
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Um dia ele chegou e disse: “Olha, você sabe que o jornal, como
entidade, tem direito a importar com total isenção de impostos tudo que
quiser, tudo que for relacionado com o mister do jornal: máquinas de
escrever, máquinas fotográficas, linotipos... (...) Papel era totalmente
isento. Tanto assim que o papel que vinha da Suécia, através de uma
firma chamada T. Janér, de São Paulo, era mais barato do que o que o
Klabin fabricava. Melhor, era o linha d’água, papel da rotativa. Pois
bem, mas o Pena Malta chamou a atenção do partido e do jornal. “Nós
podemos importar o que quiser, mas precisa ter dólar para ir à Sumoc
Correio. 30-Z-74-333. A passeata foi violentamente reprimida pela polícia e vários dos participantes foram presos.
73 Informação Reservada do Serviço Secreto, 12/1/1951. 30-Z-74-330.
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E é isso que o Estadão... eles tinham razão, era verdade mesmo, eles
não se conformavam que um jornal que combatia o regime capitalista
se valesse dessa abertura para fazer grana. Para fazer caixa. E fizemos.
Fizemos: o partido fez75.
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76 Idem, idem.
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equipamentos de impressão.
A precariedade da arrecadação de recursos tinha um reflexo perverso nos
gastos com pessoal. Vários depoimentos convergem no sentido de que os
trabalhadores do Hoje, nisso incluídos os jornalistas, faziam jus a baixos salários,
os quais assim mesmo eram pagos irregularmente. Os relatos partem tanto dos
trabalhadores da redação, como Walter Freitas e Dinorah Ribeiro77, como de um
dos dirigentes do jornal (Akcelrud, 1997: 287). Tais depoimentos referem-se em
geral ao período iniciado em 1948, mas não há razão para crer que antes disso
fosse muito diferente.
77 Entrevistas ao Autor.
78 Feldman, entrevista ao Autor, 2004.
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Os assinantes e o Interior
O documento “Relação dos Destinatários do Jornal Hoje”, de 1948, permite
uma idéia aproximada da circulação do jornal fora da capital e, portanto, também
da influência do PCB na época. A palavra “destinatário” é algo ambígua: de fato,
a lista parece incluir tanto os assinantes quanto as pessoas encarregadas de
distribuir ou revender o jornal. De todo modo, não deixa de ser impressionante
que essas cerca de 1.000 pessoas espalhadas por centenas de municípios se
dispusessem a correr os riscos de ler — e pior ainda, vender ou passar adiante —
uma publicação sabidamente visada pela polícia e que se tornou, desde maio de
1947, vinculada a um partido ilegal.
Em várias das cidades paulistas, especialmente as de pequeno porte,
aparecem como destinatários do Hoje os vereadores eleitos pelo PCB, em
novembro de 1947, em outras legendas partidárias. É o caso de Amparo,
mencionada no documento com 40 destinatários, entre eles Paulo Sampaio, eleito
vereador em 1947 pelo PSB. Sampaio figura duas vezes na relação (que
doravante grafaremos simplesmente RD), numa delas como responsável por 100
exemplares.
É de supor-se que os vereadores, por sua posição destacada, tivessem
“cotas” de jornais para vender. Na pequena Getulina, cabia à vereadora comunista
Valentina Loyola79 encaminhar 25 exemplares. Os vereadores Sérgio Barguil, de
Pompéia, e Antonio Vieira, de Franca, respondiam cada um pela distribuição de
15 exemplares. Mas em Marília, onde havia 26 destinatários, entre os quais o
vereador Reinaldo Machado, não há indicação de que este respondesse por maior
número de exemplares. Na mesma cidade, segundo a RD, cabia à firma Thomaz
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Os “comandos”
O relato de Dinorah Ribeiro sobre a venda direta de jornais “de porta em
porta”, em Santos, nos primeiros meses de existência do Hoje, por meio de
“comandos” — dos quais a futura arquivista participou ativamente — sugere que
a estratégia era acertada: “Era fácil a gente fazer o comando no dia de sábado e
dia de domingo. (...) Vendia! (...) Sábado e domingo vinha o jornal e nós
vendíamos tudo, às vezes até faltava”. Registre-se que, em seguida, ela relativiza
esse sucesso: “Apesar de que muita gente comprava mais para ajudar. Não lia
não. O brasileiro não é de muita leitura”80.
Não há estatística precisa da quantidade de jornais vendidos assim, sendo
também impossível generalizar essa evidência para o conjunto do Estado ou para
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Leitores atípicos
O ecletismo das páginas de entretenimento do jornal terminou por socorrer
decisivamente suas economias, ampliando as vendas nos finais de semana, a
julgar-se pelas afirmações de Feldman:
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Feldman, um dos mais jovens da redação, sustentado pelos pais, que lhe
garantiam recursos para viver confortavelmente, costumava abrir mão dos seus
vencimentos em favor dos colegas:
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remessa, trabalhou ali entre fevereiro de 1955 e abril de 1958. A própria Dinorah
Ribeiro, já remanescente do Hoje, permaneceu entre 1954 e 1958.
Primeira diretoria
A primeira diretoria do Hoje reuniu alguns nomes de projeção social e
política: o historiador e editor Caio Prado Júnior, o pintor Clóvis Graciano,
os jornalistas Jorge Amado e Nabor Cayres de Brito, e o irmão deste, o
médico Milton Cayres de Brito. Tudo indica que este grupo efetivamente
dirigiu o jornal na sua primeira fase, não sendo, portanto, mera fachada. É
difícil aquilatar, porém, o grau de afinação interna do grupo, pois Caio
Prado, que divergira da CNOP, continuava a manter reservas em relação à
direção nacional do PCB, ao passo que Jorge Amado e Milton Cayres eram
próximos do núcleo dirigente do partido.
O historiador deu, como visto, decisivo apoio material ao diário, num
momento em que este não possuía ainda a estrutura necessária. Além de tornar-se
seu maior acionista (Iumatti, 1999: 78), ele emprestou a Livraria Brasiliense para
servir de sede provisória à Sociedade de Amigos do Hoje, criada em 3 de
novembro de 194589. Em setembro a empresa dos Prado “mudou-se para um
prédio na rua Barão de Itapetininga, de propriedade do pai de Caio Prado Júnior,
cedendo a casa da rua D. José de Barros onde funcionava ao jornal Hoje, do
PCB” (idem: 144).
89 Hoje, 8/11/1945, p. 2.
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Elias Chaves Neto, que era pessoa de confiança de Caio Prado e com ele
tinha laços de parentesco, afirmará, em seu livro de memórias, que tanto o
historiador como Nabor Cayres deixaram o Hoje por discordar da orientação
sectária (“espécie de diário oficial do partido”) que teria sido imposta por Milton
Cayres (citado por Rubim, 1986: 117).
Da equipe responsável pela administração do jornal e da empresa gráfica,
que também prestava serviços para terceiros, faziam parte Antonio Cardoso
Treme e Naim Kalil — este último respondia pela captação de anúncios
publicitários. Elias Chaves Neto teria sido um dos diretores da gráfica até 194894.
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(responsável pelo jornal Terra Livre) e de Pedro Pomar97, como contratados por
cerca de dois anos.
No livro de registros encontram-se ainda vários outros nomes de repórteres,
os quais no entanto teriam sido contratados apenas por alguns meses. Embora seu
nome apareça nesta condição, Raquel da Silva Gertel, esposa de Noé Gertel, é
citada em depoimentos como atuante no Hoje. Atuaram, ainda, no Notícias de
Hoje, embora não constem dos registros, o excelente desenhista e chargista
Álvaro Moya, sob o pseudônimo de “Ramiro”98; Pérola de Carvalho, repórter e
redatora; Dafne Pezotti99. Maria das Graças Dutra, jornalista que trabalhou na
Imprensa Popular, teria atuado também no Hoje durante algum tempo.
São citados por José Hamilton Ribeiro em livro sobre os jornalistas paulistas,
como tendo passado “pelo Hoje, e depois por seu sucessor, Notícias de Hoje”,
Narciso Kalili, João Lima Santana, Judith Patarra, Luiz Gazaneo, Georges
Bourdokan, Moacir Longo (Ribeiro, J. H., 1998: 66).
Voltando ao tema amadorismo vs. profissionalismo: vários dos nomes
elencados acima não preenchiam os atributos requeridos de jornalistas
profissionais. Raquel Gertel, por exemplo, era operária têxtil (Feijó, 2000), Fuad
Helou, estudante de Arquitetura100. Pode-se argumentar, porém, que o jornalismo,
embora viesse consolidando no Brasil desde a década de 1930 seu estatuto de
profissão (cf. Traquina, 2005: 106), não tinha normas de ingresso pré-definidas.
Parece mais significativo o fato de que um jornal comunista com poucos recursos
tenha conseguido formar e manter bons profissionais numa época em que a
imprensa comercial desenvolvia-se rapidamente e o respectivo mercado de
trabalho se ampliava.
O Hoje abriu caminho a alguns talentos jornalísticos. Wolney Rabelo, um
dos jornalistas de Hoje mais elogiados por seus antigos pares, é um desses casos.
Pérola de Carvalho o descreve como “intelectual cheio de sutilezas”,
97 Registre-se que Pomar, na década de 1950, já não pertencia ao Comitê Nacional (comitê central), pois entrara em atrito com
Prestes e fora destituído.
98Moya, que trabalhava concomitantemente em O Tempo com Hermínio Sacchetta, recebia, o que era raro na redação do diário
comunista, pagamento regular. Moya, 2004.
99 Feldman, entrevista ao Autor, 2004. O Dia, 13/9/1953. Folha da Tarde, 14/9/1953.
100 Feldman, entrevista ao Autor, 2004.
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Outro desses profissionais foi Walter Freitas, que atuou no Hoje como
repórter-fotográfico entre 1948 e 1952, tendo se iniciado adolescente ainda, após
trabalhar na banca de revistas do PCB, que funcionava na sede do partido.
“Comecei a aprender fotografia no jornal. (...) Eles tinham um fotógrafo,
precisavam de mais um, então eu aprendi fotografia”103. Convidado a ingressar
nos Diários Associados, Freitas aceitou, deixando o Hoje. “Ele fez reportagens
com o David Nasser, com vários daqueles cobras de O Cruzeiro, por quê? Porque
era excelente profissional”, resume Feldman104. Freitas, que tinha apenas 20 anos
quando passou ao novo emprego, relata que “as fotos da primeira página do
jornal Hoje” sensibilizaram o chefe de fotografia do Diário da Noite, Lauro
Freire, que o procurou pessoalmente. Logo suas fotografias estariam sendo
publicadas também na revista O Cruzeiro. Freitas terminaria por aposentar-se nos
Diários Associados105.
Vitorio Martorelli foi um dos chefes de reportagem do Hoje. Principal
101 Pérola de Carvalho, depoimento escrito, 2006.
102 Feldman, entrevista ao Autor, 2004.
103 Freitas, entrevista ao Autor, 2005.
104 Feldman, entrevista ao Autor.
105 Freitas, entrevista ao Autor, 2005.
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E eles não exerciam uma censura. Tanto que uma vez eu fiz uma crítica
teatral em cima da Helena Silveira, coitada. Olha, disso eu me
penitencio até hoje, você sabe?, porque ela escreveu uma peça chamada
“No Fundo do Poço” (...) porque há pouco tempo tinha havido um
assassínio na Faculdade de Filosofia, na seção de Química. Um rapaz
matou a mãe, as irmãs, e enterrou no poço da casa, sabe, ali no Bexiga.
Foi um caso... terrível, terrível. (...) Trabalhava na USP (...) professor
assistente, uma coisa assim... Então eu não sei se por causa disso,
quando eu vi aquilo em peça, entende, ah, e vi assim tratado à maneira
do Nelson Rodrigues (...) eu caí de ripa em cima dela. E era ela
simpatizante do partido. Pois eles não... eles só disseram: “Ô Pérola, ela
é gente nossa”. Mas eles não cortaram uma linha, e nem me censuraram
por causa disso. Então é uma coisa que eu guardo com muito respeito
daquela turma com quem eu trabalhei. (...) E eles não exigiam nada da
gente, realmente. Nunca exigiram. Eu até cheguei a recusar tarefa. Uma
vez eles quiseram que eu fosse fazer uma reportagem sobre a UNE na
Faculdade de Direito, e era tarde da noite. Eu disse: “Eu não vou,
porque é tarde da noite, estou cansada e não vou fazer”. E ele, “está
bom”. Entende, quer dizer: eles foram compreensivos112.
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trabalhando ali dentro. (...) Eu acho que até ali não tinha passado pela
cabeça deles que eles estavam dirigindo uma firma. Na cabeça deles
eles estavam fazendo um boletim, uma coisa, não sei, partidária. A
linha do partido era política, mas ali era uma empresa, nós estamos
numa sociedade capitalista. Onde... mesmo que não fosse capitalista
tem que existir um controle de renda, de comércio né. (...) Eu era muito
jovem mas pensava assim. Eles passaram a pedir carteira, registraram
todo mundo, mas só depois que eu entrei com... Eu estava trabalhando e
não ia ter nada. Quer dizer, era militante, trabalhando numa empresa,
uma empresa que exigia isso exigia aquilo, um dia mais tarde eu ia... a
minha mocidade toda se acabando. E eu ia ficar de que jeito? Na
velhice, trabalhar onde? Só me restava talvez um asilo. Ainda se
encontrasse uma vaga, né? Ou o apoio da família, que era contra eu
trabalhar na política. Bom, acabou o Hoje, desapareceu, entrou Notícias
de Hoje, fomos, eu falava para os colegas: “Agora eles têm que dar
baixa aqui, assinar Notícias de Hoje”. Carteira profissional. Aí eles
falaram... arranjaram guarda-livro, acertaram as coisas. Se pagaram?
Não sei. Mas nós tínhamos o documento assinado. (...)113
A célula do PCB
A direção do jornal realizava reuniões com os funcionários. Havia reuniões
gerais, de avaliação das edições, e reuniões da célula partidária na redação, das
quais participavam os militantes. Curiosamente, as referências sobre a célula são
esparsas e até contraditórias nas entrevistas dos antigos jornalistas. Mais uma vez,
é Feldman quem melhor explana sobre a célula do PCB:
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97
No caso nós descíamos mais cedo para mostrar o que nós fizemos
errado, o que nós acertamos, o que deve continuar, se está dentro desses
conceitos. Certo? Então era a diretoria do jornal, e inclusive alguém do
partido também, diretor do partido, para ver se “não, aqui está certo”,
enfim, porque o jornal tinha que ter uma característica bem jornalística,
para ter entrada nos bairros, o [leitor] se interessar, né? (...)115.
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O jornal Hoje é dessa época; foi uma revista de pequeno porte que não
pôde continuar, e que deu o nome ao jornal do partido. Era de dona
Silvia Mendes Cajado, irmã de dona Leonor Mendes de Barros, mãe da
artista Madalena Nicol, pessoa esclarecida, deu o jornal ao partido. Nos
primeiros tempos o Hoje saía à vontade. Depois da cassação a polícia
de vez em quando prendia as edições, ia lá na redação. Tomamos uma
assinatura da revista das mulheres francesas Femme Française, que
recebíamos aqui. Quando houve o caso Rosenberg (as mulheres
francesas trabalharam muito pelo casal Rosenberg), vinham artigos.
Traduzimos um sobre a condenação dos Rosenberg e levamos para o
Hoje. Pequenas notícias também dávamos para o jornal, não como
colaboradoras, era uma contribuição que a gente dava para ajudar a
defesa dos Rosenberg (idem: 347).
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Solidariedade da imprensa
A referência criada extrapolava o universo partidário, tendo o jornal se
firmado como uma publicação respeitável junto a ponderáveis setores da
sociedade, a começar da “imprensa”. Uma noção do reconhecimento que o diário
e sua equipe conquistaram, ao final do primeiro ano de atividade, em 5 de
outubro de 1946, é fornecida pela lista de presentes à comemoração — um
“coquetel” — oferecida à imprensa na sede do Hoje. Compareceram Fernando
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providências”:
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Festas e entretenimento
Outro índice de certo reconhecimento e legitimidade do jornal era a
significativa afluência de público às festas e atividades por ele organizadas,
mesmo na fase em que sua qualidade declinava e o PCB amargava dias difíceis,
de um lado enfrentando a duríssima repressão policial, de outro lado aplicando
uma linha ultra-esquerdista. Quem atesta os êxitos do Hoje (e do PCB) no campo
do entretenimento é o próprio DOPS, como se constata pela leitura de informe do
122 Folha da Manhã, 17/1/51. Métodos totalitários. Arquivo do Estado, acervo do DOPS, 30Z74-337.
123 Diário da Noite, 17/10/51. Apreendidas edições de jornal paulistano. Idem, 30Z74-392.
124 Walter Freitas, entrevista ao Autor, 2005.
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131 Relatório. Processo instaurado pelo Ministério da Guerra e Auditoria da 2ª RM. 30Z74 (4) 421- 560 folha 147,
cópias.
132 Of. 5-IPM, 4/8/1952, 2° Batalhão de Saúde, assinado pelo tenente Altivo Guimarães Knust.
133 Diário da Noite, 4/6/1952.
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Quarenta pessoas foram presas, inclusive dez que a polícia identificou como
estivadores: seriam seguranças do jornal. Foi apreendida vasta
documentação contábil e trabalhista. A história dessa invasão tem início com
um ofício do secretário da Segurança Pública, coronel Nelson de Aquino:
“Chegando ao meu conhecimento que o jornal Hoje prepara nova edição
contendo propaganda de processos violentos para subverter a ordem política
e social, determino a V. Sa. providências para a apreensão desta edição no
momento em que sair à luz, obedecendo-se as cautelas legais”135.
O delegado Louzada da Rocha, que presidiu o “auto de prisão em flagrante”,
produziu relatório de 31 páginas sobre o incidente. Percebe-se, pela leitura deste
documento, que o DOPS havia compreendido plenamente o caráter dos diários do
PCB e o papel que poderiam vir a desempenhar. Louzada abre o relatório citando
ninguém menos do que Lênin sobre a imprensa como “agitador coletivo” e
“organizador coletivo”. Segundo o delegado, A Classe Operária apenas “foi
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151 Idem.
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por diferentes locais de detenção, ironiza o fato de ter sido preso justamente
quando realizava para o Hoje entrevistas sobre a paz mundial, e comenta as
incongruências da sentença proferida pela justiça militar:
Fui absolvido por três votos contra dois, nestes últimos incluindo o do
auditor, sentença depois confirmada pelo Supremo Tribunal Militar. O
secretário do jornal foi condenado a três anos de prisão, o que também
era absurdo pois a prevalecer a responsabilidade legal pela publicação
da matéria o “crime” seria de imprensa, sendo neste caso incompetente
a Justiça Militar. Não se apresentando não pôde apelar, mas nunca foi
preso nem procurado. Posto em liberdade no dia 10 de dezembro (...)
nos primeiros dias de janeiro de 1953 entrei para a Editora Brasiliense
(Chaves Neto, 1977: 136-137).
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maneira convincente:
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Perseguição a jornalistas
Prisões e detenções de jornalistas do Hoje ocorriam não apenas nas invasões
155 Rivadávia Mendonça e João Batista Vilanova Artigas, conhecidos militantes comunistas.
156 Feldman, entrevista ao Autor, 2004.
157 Pérola de Carvalho, entrevista ao Autor, 2005.
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Perseguição a gráficos
O gráfico Martins Ferreira, da Gráfica Hoje, teria sido seqüestrado pela
polícia em agosto de 1950163.
162 Relatório das Atividades Administrativo-Policiais da Segurança Pública de SP, encaminhado pelo coronel Flodoardo Maia ao
governador Adhemar de Barros, 1950, p. 3: Imprensa – órgão de cooperação do Poder Público.
163 O Sol, 29/8/1950. Raptado quando se dirigia ao trabalho.
164 Relatório 173-51, assinado pelo investigador José Ferreira Porto. 30 Z 74 362.
165 Investigação 181, de 7/5/1951, relatada por Júlio Duarte e Oswaldo Molina. 30 Z 74 370.
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circulação dos jornais comunistas — não apenas Hoje, mas todos os outros
periódicos do PCB. Não havia censura prévia, ou pelo menos, essa era uma
garantia formal inscrita na Constituição. Por outro lado, nem sempre o governo
parecia disposto a pagar o ônus de novas proibições, e Hoje tinha existência legal,
como lembrou a Folha da Manhã em editorial já citado166. Assim, muitas vezes
restava ao DOPS o recurso de apreender o jornal, sob qualquer pretexto, assim
que ele ficasse pronto. Isso incluía identificar as pessoas envolvidas na
distribuição e venda do jornal, detê-las ou prendê-las, interrogá-las como forma
de intimidação, bem como — se fosse o caso — tentar interceptar as remessas de
jornais do Rio de Janeiro. Como demonstra este relatório de junho de 1950, o
primeiro passo nestas ações era entender a logística da distribuição:
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Não recebe tais jornais com finalidade política e sim no exercício de sua
profissão de jornaleiro. Não pode escolher determinados jornais para
vender, pois, ao receber jornais de distribuidores, é obrigado a receber
determinadas quantidades de cada título, conforme a praxe entre as
distribuidoras e vendedores. Se o vendedor exigir determinado jornal, o
distribuidor corta-lhe a quota usual, deixando o vendedor em
dificuldades169.
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Ou:
Ou ainda:
171 Relatório de 18/9/1948 do Serviço Secreto (SOE), assinado pelo investigador A. Paz. 30 K 111 p. 31.
172 SS/SOG 2/1/1951.
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Impostura antioperária
Havia outras modalidades de atuação dos agentes do DOPS. Em maio de
1950, um deles fez-se passar por repórter de O Sol em uma fábrica da Matarazzo,
“onde entrevistou turmas de trabalhadores, tirando fotografias e prometendo
173 Informação reservada. Serviço Secreto, SOG, 20/10/1955. 30 K 110 67-68.
174 Processos de investigação 448, de 4/12/1950, e 449.
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não está sendo visto com muitas simpatias nos meios intelectuais por
ser muito cabotino e gostar muito de exibir-se, tendo sido a causa do
afastamento de elementos de valor simpatizantes do comunismo, como
os srs. Sérgio Milliet, Oswald de Andrade e outros (...)178.
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próprios imperativos, códigos, normas etc. Por isso, também não foge à regra
quando executa “operações discursivas nas quais os acontecimentos são filtrados
e reenquadrados em sintonia com conveniências particulares”, pois isto,
afirmamos, é uma típica operação jornalística. Pode-se relacionar esta atitude
com o fato de comportar-se ou não como partido político, mas somente na
medida em que muitos jornais “comportam-se como” partidos. Para citar
exemplos da época: O Estado de S. Paulo, dos Mesquita, e os Diários
Associados, de Chateaubriand, operavam dessa forma:
Pode-se tentar uma analogia, para abordar outros aspectos dessa questão. Tanto
Iskra, de Lênin e Plekhanov, como L’Ordine Nuovo, de Gramsci, Togliatti e
outros, nasceram como partidos ou quase-partidos. Lênin revela, ao reconstituir
em artigo a história da imprensa operária na Rússia czarista, em que medida
confundiam-se o partido revolucionário e seu jornal:
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181 Refere-se à Revolução de 1905. Este texto, “Passado da Imprensa Operária na Rússia”, foi escrito em 1914.
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ali foi situada uma fotografia de Prestes, de quem se diz que “anunciou
pessoalmente aos jornalistas a escolha do candidato das forças democráticas”:
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começa a ser publicada por Hoje no dia 8 de janeiro, é uma tentativa de chegar
aos eleitores rurais, “uma história contada pelos trabalhadores do campo para os
trabalhadores do campo”, segundo a explicação do próprio jornal. “A vida, a
existência do camponês e sua família vai sendo contada, em versos caipiras,
tipicamente paulistas”195:
O final, previsível, é antecipado pelo próprio Hoje: Belarmino “sabe para onde
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vai, o que quer e em quem vai votar: em Adhemar de Barros e nos candidatos da
Chapa Popular”197. Outro uso da ilustração neste período é uma série de charges
que o jornal publica sobre Vargas, intitulada “Ele disse... Ele fez”.
Após as eleições, em 19 de janeiro, Hoje continuará a tratar delas com títulos
vigorosos, seja acompanhando a lenta apuração dos resultados, seja comentando
suas repercussões. No dia 20, comemora em letras garrafais (corpo 140): “Isto é
democracia/Derrotada a reação”; no dia 21, “Adhemar está vencendo”; no dia 22,
“Vence a democracia em todo o país”, quando comenta que “os últimos
resultados, nos diversos Estados, garantem a vitória dos candidatos democráticos,
apoiados pelo Partido Comunista do Brasil”. Na quarta capa, festeja a vitória de
Adhemar e do PCB: “Nunca se votou tão certo como desta vez”198.
197 Idem.
198 Hoje, 22/1/1947, p. 6.
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214 Hoje, 1º/11/1945, p.4. A intervenção do MUT faz gorar uma greve da Light, no Rio de Janeiro.
142
143
PCB no tocante às greves (Costa, 1995: 8). Por um lado, o jornal amplifica a
orientação de evitar greves: sem tergiversações, o MUT declara-se “contra as
greves, pela ordem e pela tranqüilidade”215. Por outro lado, Hoje abre suas
páginas a inúmeras greves, oscila no tratamento dado a elas e algumas vezes cede
mesmo à pressão dos trabalhadores que comparecem massivamente à redação
para tratar do assunto.
As greves ocorridas em três grandes empresas estrangeiras — Light,
Goodyear e Companhia City de Santos (City of Santos Improvement Co.) —, mal
se iniciara o ano de 1946, constituiram experiências privilegiadas da classe
trabalhadora em alvoroço, mas aos olhos do PCB e do MUT pareceram pura
provocação. Trabalhadores em greve foram acusados até de “integralistas”, como
neste título sobre a greve na Goodyear: “Agentes provocadores e integralistas
tentaram paralisar os trabalhos e foram impedidos pela atitude ordeira dos
operários da grande empresa”216.
Hoje chegou, mesmo, a publicar reportagem de elogio a um grupo de fura-
greves da Light, por se haverem mantido “fiéis à palavra-de-ordem: evitar greves,
a todo transe”. O jornal não hesitou em estampar o assunto na quarta capa,
incluindo uma fotografia, em quatro colunas, dos quatro operários que “evitaram
que São Paulo ficasse às escuras”:
143
144
144
145
145
146
enquadrado pela ótica vigente então no PCB, do qual, não resta dúvida, neste
momento o jornal se faz porta-voz (grifos nossos):
Noticiava-se com destaque nesta edição, na quarta capa, a greve que parou
milhares de trabalhadores da indústria de fiação e tecelagem, que buscavam
conquistar o chamado abono de fim de ano. Uma comissão de trabalhadores da
Fiação e Tecelagem Saad visitou o jornal, que concedeu tratamento simpático à
221 Idem.
146
147
greve, fazendo questão de explicar, porém, que ela não era “obra dos
comunistas”222:
147
148
224 Idem.
148
149
149
150
SÓ A BONIFICAÇÃO
150
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TRABALHADORES PRESOS
OUTRAS GREVES
226 Hoje, 5/1/1946, p. 12. Em greve milhares de trabalhadores na indústria de fiação e tecelagem.
151
152
152
153
153
154
1- Edição de 1/11/1945
Nº ed/Data/dia da semana: 1/11/1945, quinta-feira
Número de páginas: 8
Formato (cm x cm): 58,5 cm x 41,8 cm
Número de colunas: 8
Número de fotografias: 16
Número de ilustrações: 1
154
155
p.1
O partido continua sua luta pacífica pela convocação de uma
Assembléia Constituinte/Ordem e tranqüilidade- reafirma o Partido
Comunista do Brasil
p. 2
A maior contribuição à vitória das Nações Unidas foi feita pela União
Soviética
p. 3
Franquias democráticas, principal fator de ordem
p. 4
Alteração nos itinerários e preços das passagens de ônibus nos Finados*
p. 5
Angustiosa espera do povo nas filas de ônibus
p. 6
[Hoje nas Artes]
[Música/Ricardo Strauss e a Dança dos Sete Véus]
p. 7
Palmeiras e Internacional lutam esta noite no Pacaembu
p. 8
Em ambiente do mais intenso trabalho e do mais vivo entusiasmo
prepara-se a instalação do I Congresso Sindical dos Trabalhadores do
Estado
155
156
REPORTAGEM 12
NOTÍCIA 44
ARTIGOS ASSINADOS 3
COLUNA/CRÕNICA/CRÍTICA ESPECIALIZADA 8
EDITORIAL 6
TEXTO-LEGENDA 1
Número de anúncios: 16
Relação e tamanho dos anúncios:
Encanadores 4 x 2, Auto 10 x 1, Imobiliária 4 x 2, advocacia 3 x 2,
metalúrgica 10 x 2, Máquinas Singer-Casa Para Todos 5 x 2, Clínica
Santa Luzia 4 x 2, Clínica Popular 3 x 2, Esparadrapo Z 18 x 3, Hospital
São Jorge 6,5 x 2, Cines Ritz e Marabá 6,5 x 3, Dr. Araújo Lopes 3 x 2,
Alfaiataria Rival 4,5 x 1, Ótica Valentim 5,5 x 1, Indústria de Artefatos
de Borracha Triângulo (17,5 x 3), “Os Amores de Suzana” (filme) 3 x 1
Dísticos:
Unidade, democracia, progresso (p. 2), Solução pacífica dos problemas
políticos (p. 3), Pela liberdade sindical (p. 4), Trinta milhões de
brasileiros vivem no campo (p. 5), Cultura a serviço do povo (p. 6),
Esporte – fator de união e força (p. 7)
2- Edição de 9/11/1945
Nº ed/Data/dia da semana: 30, 9/11/1945, sexta-feira
Número de páginas: 8
Formato (cm x cm): 58,5 cm x 41,8 cm
Número de colunas: 8
Número de fotografias: 20
Número de ilustrações: --
Manchetes, “manchetinhas” e títulos importantes:
p.1
Sem a cooperação anglo-americana-soviética impossível haver
156
157
p. 2
O clima imprescindível
p. 3
Crise estrutural
Stalin jornalista
p. 4
Visita do Comitê Popular Progressista da Freguesia do Ó à redação do
Hoje
p. 5
A Armênia Soviética reivindica seus territórios ocupados na Turquia
p. 6
De volta de uma “tournée” pela América Latina fala ao Hoje o maestro
Camargo Guarnieri
p. 7
Em choque esta noite os líderes do cestobol bandeirante
p. 8
O povo deseja sufragar o nome de um candidato civil
157
158
REPORTAGEM 14
NOTÍCIA 30
ARTIGOS ASSINADOS 2
COLUNA/CRÕNICA/CRÍTICA ESPECIALIZADA 5
EDITORIAL 3
TEXTO-LEGENDA 2
Número de anúncios: 11
Relação e tamanho dos anúncios:
Editorial Calvino (25 x 3), Sociedade Comercial Atualidades (8 x 3),
Ótica Valentim (5,5 x 1; 5 x 1), Dr. Araújo Lopes (3 x 1), IAPC,
Indicador Profissional (espécie de classificados com mais de 30 nomes
de médicos, laboratórios, clínicas e advogados), cines Marabá e Ritz,
livro “Terra Vermelha”.
Dísticos:
Unidade, democracia, progresso (p. 2), Solução pacífica dos problemas
políticos (p. 3), Pela liberdade sindical (p. 4), Trinta milhões de
brasileiros vivem no campo (p. 5), Cultura a serviço do povo (p. 6),
Esporte – fator de união e força (p. 7)
3- Edição de 17/11/1945
Nº ed/Data/dia da semana: 36, 17/11/1945, sábado
Número de páginas: 8
Formato (cm x cm): 58,5 cm x 41,8 cm
Número de colunas: 8
Número de fotografias: 14
Número de ilustrações: --
Manchetes, “manchetinhas” e títulos importantes:
p.1
Yedo Fiuza – candidato do povo
158
159
p. 2
Liquidaremos a hipertrofia presidencialista
p. 3
Com o povo, hoje no Anhangabaú
p. 4
Movimento Sindical/Os trabalhadores da Light propugnam pela eleição
de seu companheiro Mendonça Falcão para a Constituinte
p. 5
Recebida com júbilo, no Vale do Paraíba, a presença de Jair Batalha na
chapa do PCB
p. 6
Hoje nas artes/20 artistas brasileiros
p. 7
Hoje à noite terá início o concurso de natação para adultos
p. 8
O problema da alimentação popular
REPORTAGEM 11
NOTÍCIA 31
ARTIGOS ASSINADOS 4
COLUNA/CRÕNICA/ CRÍTICA ESPECIALIZADA 4
EDITORIAL 5
TEXTO-LEGENDA --
159
160
Número de anúncios: 8
Relação e tamanho dos anúncios:
Flórida Luxo (15 x 2, 5 x 2), arquiteto (5 x 1), Agência Continental (5 x
1), cinemas (8 x 4, 10 x 3), Alfaiataria Rival (5 x 1), Dr. Araújo Lopes
(3,5 x 2)
Dísticos:
Unidade, democracia, progresso (p. 2), Solução pacífica dos problemas
políticos (p. 3), Pela liberdade sindical (p. 4), Trinta milhões de
brasileiros vivem no campo (p. 5), Cultura a serviço do povo (p. 6),
Esporte – fator de união e força (p. 7)
4- Edição de 25/11/1945
Nº ed/Data/dia da semana: 43, 25/11/1945, domingo
Número de páginas: 6
Formato (cm x cm): 58,5 cm x 41,8 cm
Número de colunas: 8
Número de fotografias: 22
Número de ilustrações: --
Manchetes, “manchetinhas” e títulos importantes:
p.1
Com Prestes, pela candidatura civil/De Jundiaí a Bauru levanta-se o
povo
p. 2
Com Prestes, pela candidatura civil
p. 3
Candidatura de todas as forças progressistas
p. 4
160
161
p. 5
Yedo Fiuza é um verdadeiro amigo dos trabalhadores
p. 6
O povo sabe atender com presteza aos apelos do seu líder
REPORTAGEM 11*
NOTÍCIA 25
ARTIGOS ASSINADOS 2
COLUNA/CRÕNICA/ CRÍTICA ESPECIALIZADA ---
EDITORIAL 3
TEXTO-LEGENDA 3
Número de anúncios: 22
Relação e tamanho dos anúncios: Agência de Seguros Oriente (4 x 2),
Esparadrapo Z (18 x 2), Guia Postal “Panamericana” (13 x 2),
Alfaiataria Rival (5 x 1), Dr. Mário Kaufman (3 x 2), Lima França
despachante (2,5 x 2), Organização Brasília (imobiliária, 4 x 2),
Perfume Malibu (3,8 x 1), Clínica Popular (3 x 2), Máquinas Singer-
Casa Para Todos (5 x 2), Indústria de Artefatos de Borracha Triângulo
(17,5 x 3), Policlínica da Fundação Guertzenstein (10,5 x 2), cinemas
Marabá e Ritz (6 x 3, 7 x 4), Farmácia Municipal (8 x 2), Farmácia
Catedral (5 x 2), Casa César (6 x 2), Agência Continental (livros, 4,5 x
2), Dr. Araújo Lopes, Água Mineral Platina (17,5 x 1), Rádio Difusora
São Paulo (programa de rádio do PCB).
161
162
Dísticos:
Unidade, democracia, progresso (p. 2), Tudo pelo candidato do povo (p.
3, substituindo Solução pacífica dos problemas políticos), Pela
liberdade sindical (p. 4), Trinta milhões de brasileiros vivem no campo
(p. 5).
5-Edição de 5/1/1946
Nº ed/Data/dia da semana: 70, 5/1/1946, sábado
Número de páginas: 12
Formato (cm x cm): 44 cm x 29,5 cm
Número de colunas: 5
Número de fotografias: 15
Número de ilustrações: 4
Manchetes, “manchetinhas” e títulos importantes:
p.1
A Light desafia os trabalhadores
O povo brasileiro não mais será governado por velhos moldes ditatoriais
e fascistas
p. 2
Aumenta a tensão grevista nos Estados Unidos
p. 3
Saudação ao povo de Santos
De Munich a Nuremberg
p. 4
Católicos, espíritas, protestantes, espiritualistas — todos unidos sob a
bandeira da Democracia
p. 5
Convenção das entidades trabalhistas de Campinas para debate das teses
que apresentarão no Congresso Sindical do Estado
162
163
p. 6
Querem pôr na rua os moradores da vila número 414 da rua Carneiro
Leão
p. 7
Arnaldo Estrela vitorioso num concurso da Escola Nacional de Música
p. 8
Bela festa de confraternização das famílias marilienses filiadas aos
Comitês Democráticos
p. 9
Santos homenageia Luis Carlos Prestes
p. 10
Jogam hoje à noite Brasileiros e Uruguaios
p. 11
Dentro de poucas horas no Pacaembu veremos em ação os maiores
nadadores brasileiros
p. 12
Em greve milhares de trabalhadores na indústria de fiação e tecelagem
REPORTAGEM 13
NOTÍCIA 44
ARTIGOS ASSINADOS 2
COLUNA/CRÕNICA/ CRÍTICA ESPECIALIZADA 2
EDITORIAL 3
TEXTO-LEGENDA 4
Número de anúncios: 11
163
164
6-Edição de 14/1/1946
Nº ed/Data/dia da semana: 77, 14/1/1946, segunda-feira
Número de páginas: 12
Formato (cm x cm): 44 cm x 29,5 cm
Número de colunas: 5 (3/4)
Número de fotografias: 16
Número de ilustrações: 2
Manchetes, “manchetinhas” e títulos importantes:
p.1
Duplicação de salários
p. 2
Selos comemorativos do Congresso Sindical do Estado
p. 3
Os problemas do campo
p. 4
Rede de água e esgotos/reclamam os moradores de Vila Nova
Conceição
p. 5
Os ferroviários da Central já têm o seu órgão de classe
164
165
p. 6
Será escolhida nas urnas a “Rainha dos Trabalhadores de S. Paulo de
1946”
p. 7
Operários e patrões confraternizados festejam o ano da Vitória
p. 8
“Todos os filhos de Deus têm asas”
p. 9
Os comunistas e os problemas de Guaratinguetá
p. 10
Iniciado o certame sul-americano de futebol os argentinos venceram os
paraguaios por 2 a 0
p. 11
Duplicação de salários
p. 12
Exigida a demissão do secretário da Guerra dos Estados Unidos
REPORTAGEM 11
NOTÍCIA 27
ARTIGOS ASSINADOS 2
COLUNA/CRÕNICA/ CRÍTICA ESPECIALIZADA 4
EDITORIAL 4
TEXTO-LEGENDA 2
Número de anúncios: 26
Relação dos anúncios:
165
166
166
167
CorreioPaulista 12 páginas
no 5/1/1946 Formato: 55,5 cm x 39 cm
nº 27.539 Mancha gráfica: 50,2 cm x 36,4 cm
7 colunas de texto (coluna = 5,2 cm); total 351,4
cmxcol
Hoje 12 páginas
5/1/1946 Formato: 44 cm x 29,5 cm
Mancha gráfica: 39,3 cm x 25,3 cm
5 colunas de texto (coluna = 5 cm)
167
168
168
169
169
170
5/1/1946).
171
172
Capa -- -- -- --
2 1 18 -- --
3 1 2 -- --
4 -- -- 1 9,6
5 -- -- 2 10
6 9 197 -- --
7 3 74 3 17
8 -- -- 2 24,5
9 4 175 1 44
10 1 351 1 31
11 11 191 1 19
12 -- -- -- --
Totais 30 1.008 11 155
172
173
173
174
CONCLUSÃO
174
175
esquerda. Assim, nos primeiros anos de vida, entre outubro de 1945 e fins de
1947, defendeu a linha de união nacional com Vargas, e depois com Dutra. Entre
1948 e 1952, no entanto — tendo já o PCB passado pela dolorosa experiência da
cassação do registro legal e dos mandatos de seus parlamentares — o jornal
inclinou-se para uma radicalização política, vista por contemporâneos como
sectária, consoante com a letra e o espírito dos manifestos de janeiro de 1948
(“Manifesto de Abril”) e de agosto de 1950 (“Manifesto de Agosto”).
Convencida de que a união nacional era indispensável à democracia mesmo
após o final da Segunda Guerra Mundial; de que era preciso apoiar a burguesia
nacional para com isso desenvolver o capitalismo; e de que só uma política de
ordem e tranqüilidade poderia assegurar tais condições e provar às elites do país
seu compromisso com soluções pacíficas dos problemas brasileiros, nos anos de
1945 e 1946 a direção do PCB enveredou pelo senda da colaboração de classes e
do nacionalismo puro e simples ao recomendar à classe operária que se abstivesse
de promover greves e de provocar “desordens”.
Essa orientação foi seguida pelo Hoje, porém de forma contraditória à
medida que o jornal, situado no epicentro da movimentação operária, recebia as
pressões dos próprios trabalhadores em greve. Aos poucos, a presença das greves
avoluma-se nas páginas do diário comunista. O jornal mostrou-se assim
permeável à influência da classe operária, em momento de ascenso desta, que
buscava recuperar os direitos e o poder aquisitivo perdidos durante a guerra.
Interessado em implantar medidas econômicas que desmontassem os
aspectos nacionalizantes da política de Vargas, e abrir a economia do país ao
capital estrangeiro, Dutra mostra-se também sensível às reivindicações dos
industriais, alarmados com a crescente mobilização dos operários. Seu decreto
antigreve, que atropela a Assembléia Nacional Constituinte, é de março de 1946.
A partir daí tomar-se-ão medidas cada vez mais duras contra trabalhadores,
sindicatos e o PCB. É nesse contexto que se situa a repressão violenta ao Hoje e
às demais publicações comunistas, como a Tribuna Popular, a Folha do Povo, O
Momento, a Tribuna Gaúcha. Esses APHs tentam sobreviver, assim, em
175
176
233 Esses números referem-se às coleções disponíveis no Arquivo Edgard Leuenroth, da Unicamp.
176
177
Aqui pode-se traçar um paralelo com um jornal que surgiria em São Paulo
na década de 1950, Última Hora. Gisela Goldenstein defende a idéia de que
Última Hora, que tinha uma finalidade política clara (e portanto uma causa),
teve de encerrar suas atividades em razão de uma contradição insanável.
Segundo ela, apesar de não ser anticapitalista, a mensagem de Última Hora
defendia um arranjo político que não encontrava suficiente adesão entre os
grupos dominantes: alguns aspectos desse arranjo sofriam mesmo cerrada
oposição de parte desses grupos (Goldenstein, 1987: 56). Para essa autora,
assim, a mensagem política de Última Hora “fazia com que seu sucesso de
público junto às classes populares, em vez de levar à obtenção de mais
anúncios, lucros, crédito, expansão etc., tivesse efeitos inversos”.
Em outras palavras, neste sentido “a mensagem política do jornal Última
Hora revelava-se incompatível com a afirmação da lógica da empresa
Última Hora” (idem: 57). A morte do jornal teria decorrido assim do fato de
que sua mensagem era “mercadoria por acréscimo, e não por definição”. “A
primazia da mensagem política populista impediu a afirmação da lógica
empresarial ao revelar-se incompatível com ela” (idem: 134).
Finalmente, deve-se frisar que a pesquisa desconstruiu alguns mitos sobre o
jornalismo do PCB. Espaço de páginas inteiras e tratamento alegre concedidos ao
esporte; a cobertura de fatos culturais; a linguagem utilizada nos títulos e textos,
que incorpora elementos do sensacionalismo e do gosto popular; o uso criativo da
fotografia como recurso editorial — tudo isso desautoriza um certo reducionismo
presente nas análises que Dênis de Moraes e Martin-Barbero (este, baseado em
estudo de Sunkel sobre a imprensa operária no Chile) fazem da imprensa
comunista, vista como bitolada. Muito ao contrário, Hoje trabalhou sempre, de
maneira hábil, as práticas de entretenimento adotadas pelos setores sociais que o
apóiam: bailes, festas, concursos de beleza feminina como a escolha da “Rainha
da Imprensa Democrática” são promovidos freqüentemente pelo jornal. O
comparecimento de artistas populares em tais eventos era garantia de público
numeroso, (re)legitimando Hoje como referência sócio-cultural para aqueles
177
178
setores.
178
179
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
179
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Memória da Imprensa, Museu da Imagem e do Som, São Paulo, 1982.
FELDMAN, Jacob. Depoimento no Seminário “A Imprensa Confiscada”,
FFLCH-USP, gravado pelo Autor. São Paulo, 2004.
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USP, gravado pelo Autor. São Paulo, 2004.
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Arquivo do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB-USP).
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1- Nº ed/Data/dia da semana:
2- Número da página/dístico, se presente:
NOTÍCIA
ARTIGO ASSINADO
COLUNA
CRÕNICA
EDITORIAL
CRÍTICA ESPECIALIZADA
TEXTO-LEGENDA
OUTROS
11-Seções, se presentes:
12-Anúncios (nº): / % sobre espaço da página:
12.1- Anunciante/tamanho (cm x col.)
12.2- Anunciante/tamanho (cm x col.)
12.3- Anunciante/tamanho (cm x col.)
12.4- Anunciante/tamanho (cm x col.)
12.5- Anunciante/tamanho (cm x col.)
12.6- Anunciante/tamanho (cm x col.)
12.7- Anunciante/tamanho (cm x col.)
12.8- Anunciante/tamanho (cm x col.)
12.9- Anunciante/tamanho (cm x col.)
12.10- Anunciante/tamanho (cm x col.)
185
186
RELEVANTE 1: CATEGORIA
RELEVANTE 2: CATEGORIA
SECUNDÁRIO 1: CATEGORIA
SECUNDÁRIO 2: CATEGORIA
TABELA DE CATEGORIAS:
A- POLÍTICA (GERAL) (MENOS PCB)
B- PCB
C- PRESTES (TÍTULO, FOTO OU ILUSTRAÇÃO)
D- STÁLIN OU PCUS (IDEM)
E- INTERNACIONAL
F- ECONOMIA
G- MOVIMENTO OPERÁRIO E SINDICAL
H- COMITÊS DEMOCRÁTICO-POPULARES
I- MOVIMENTOS SOCIAIS E LUTAS POPULARES
J- OUTROS JORNAIS DO PCB
K- JORNAL HOJE
L- OUTROS JORNAIS (EXCETO PCB)
M- CULTURA
N- ESPORTES
O- OUTROS
Observações:
186