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do seguinte ponto de
vista: o autismo é um
estado primitivo tan- PARADIGMA DO
to ontogenética
quanto filogenetica-
mente, limite entre o APARELHO
natural e o humano.
1
É um estado contem-
porâneo à constitui-
PSÍQUICO
ção do aparelho psí-
quico, pois este é au-
tístico no tempo de
sua constituição fílo-
genética. Por isso, é Manoel T o s t a B e r l i n c k
possível dizer que o
autismo é paradigma
do aparelho psíquico.
Autismo, aparelho
psíquico, narcisis- Na sala de atendimento, meus braços seguravam
mo, auto-erotismo Mateus enquanto andávamos na escuridão. Apenas a luz
de uma lanterna grudada em seu rosto era visível. Meus
olhos se abriam com força na tentativa de enxergar algo.
AUTISM PARADIGM Com algum esforço continuo segurandoo eguiando-o. Meus
OF PSYCHIC braços começam a doer, eeuo solto. Ele cai como um bloco
APPARATUS sobre o chão, como se não tivesseforças para segurar o peso
This work starts dopróprio corpo. Ao cair, seu corpopermanece duro, estático
from the following e apenas a lanterna, em seus olhos, parece existir para ele.
point of view: autism Tento olhá-lo, mas o olho que não está na lanterna, vesgo,
is a primitive state, a procura a luz que o mantém vivo. Chamo-o pelo nome, toco
limit between the na- seu braço, mas nada parece substituir esse instante congelado
tural and the hu- entre seu corpo e o breve facho luminoso. Mateus, que não
ouve e não vê, parece não se importar com nada, desde que
man. It is a state that a luz não lhe seja roubada.
comes together with Lou Muniz Atem
the constitution of the
psychic apparatus
since this is autistic
in the time of its
phylogenetic consti- 3, de certa forma, surpreendente o interesse
tution. Therefore, it is provocado pelo autismo. Afinal de contas, trata-se de
possible to say that uma doença rara, atingindo pouquíssimos humanos.
autism is a paradigm Entretanto, os textos sobre essa manifestação psíquica
of the psychic appa- multiplicam-se, e a bibliografia específica cresce nas
ratus.
mais diversas línguas.
Autism, psychic Não só os especialistas, mas o público em geral
apparatus, narcis-
sism, autoerotism parece estar interessado nessa figura sombria surgin-
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
NOTA
1
Este trabalho é dedicado a Lou Muniz Atem, Veridiana Fráguas,
Antonio Ricardo Rodrigues da Silva e Mira Wajntal, que, sendo pes-
quisadores do Laboratório de Psicopatologia Fundamental da Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), ensinaram-me a pen-
sar o autismo. Ele contou, também, com a leitura crítica atenciosa e
generosa de Maria Elisa de Abreu Pessoa Labaki, Marciela Henkel, do
dr. Daniel Delouya, da dra. Ivanise Fontes e da profa. dra. Mônica G.
T. do Amaral, colegas pesquisadores do Laboratório, a quem agrade-
ço as observações e sugestões.
Recebido em 10/99