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Centro de Humanidades
A obra de Dias Gomes é dividida por fases. Em um primeiro momento de sua carreira,
o autor marcou seus textos de um espírito cômico, momento no qual, a arte nacional, em
especial o teatro e o cinema, eram fortemente influenciados pelas produções europeias e norte-
americanas. Entre o final da década de 50 e início da década de 60, período que está situada a
escrita de o O Pagador de Promessas (1959), a produção de Dias Gomes foi marcada pelo
espírito do que se convencionou chamar de realismo crítico. Durante esta segunda fase, Gomes
autorizou a adaptação de sua mais famosa peça para o cinema.
Além da “via crucis”, Zé do Burro prometeu à Santa que dividiria suas terras com os
camponeses pobres de sua localidade, caso o burro Nicolau se curasse. A notícia da divisão se
espalhou pela imprensa soteropolitana, distorcendo-se e colocando o pobre homem como
defensor e praticante da reforma agrária. Diante destas passagens, pode-se identificar a clara
alusão às questões agrárias no país, em especial no Nordeste, que naquele contexto as lutas
pela terra, à exemplo das Ligas Camponesas surgiam com toda força. Outro aspecto
explicitamente criticado no filme é a imprensa. Todo o lado obscuro da manipulação e da
espetacularização da mídia também são realçados.
Diante do exposto, podemos inferir que, vida e obra em Dias Gomes se confundem. A
sua militância encontrou na arte uma importante aliada contra as injustiças sociais e a
desigualdade. A dramaturgia engajada de Gomes foi alvo do autoritarismo e censura dos
militares. Muitas de suas obras foram barradas pelo governo ditatorial por serem consideradas
subversivas e pornográficas. Mas nem mesmo a dureza do regime foi capaz de silenciar os
protestos do autor.
O teatro de Gomes, o realismo crítico, que em 1962 chegou às telas com O Pagador de
Promessas, marca uma nova era do cinema brasileiro. A busca da conscientização do público,
levando-o da mera condição de espectador à de cidadão pensante, caracteriza esse estilo de arte
engajada. Além de crítica social, o longa metragem traz um retrato da sociedade brasileira. O
homem simples, camponês, o sincretismo religioso, a imprensa manipuladora, o autoritarismo
da igreja, além de problematizar a estruturas sociais, politicas, econômicas e culturais do
Nordeste brasileiro em um determinado período da história em que o capitalismo adentra o
campo e expulsa o camponês de seu recanto levando-o à cidade, não para pagar promessas,
mas com a falsa promessa de que lá encontrará uma vida melhor.
Referências
O PAGADOR de promessas. Direção: Anselmo Duarte. Produção: Oswaldo Massaini.
Intérpretes: Leonardo Villar; Glória Menezes; Dionísio Azevedo; Norma Bengell e outros.
Roteiro: Anselmo Duarte. Cinedistri; Lionex Films e Embrafilme, 19962.
Disponível em: https://youtu.be/vUyDvdB-0u8> acesso em 11 de março de 2018.
PINHEIRO, Roberta Vanessa Crispim. O Pagador de Promessas: dramaticidade e
tragicidade, da literatura ao cinema. 2010, Dissertação de Mestrado. UFPB, João Pessoa-PB.
SIQUEIRA, Sebastiana Silva. O Pagador de Promessas. Um drama trágico em tempos
modernos. 2009. Dissertação (Mestrado em letras) - Universidade Federal de Paraíba,
Programa de Pós Graduação em Letras, João Pessoa - PB.