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Geologia
DOI 105965/978858302078322016245
®Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico Sustentável (voo de 2010)
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http://geobank.cprm.gov.br
Geologia CAPÍTULO II
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Geologia CAPÍTULO II
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CAPÍTULO II
Geologia
Figura 1 – Escala do Tempo Geológico, com indicação dos eventos mais importantes na evolução geológica e de Santa Catarina. Adaptado de Menegat et al. (1998).
E
ste capítulo trata de uma breve
descrição da Geologia do estado
de Santa Catarina e traz dados que
contribuem ao entendimento da evolução
desse fragmento de crosta, um dos
segmentos da placa sul-americana. O novo
mapa geológico do estado foi elaborado pelo
Serviço Geológico do Brasil (CPRM), publi-
cado em 2014, produzido a partir de compi-
lações dos mapeamentos mais recentes
CAPÍTULO II
elaborados pela CPRM e outras equipes e
instituições, entre elas as universidades
do Sul e Sudeste do Brasil. Os autores
buscaram fundamentar as descrições deste
texto, a seguir apresentadas, nos mapea-
mentos geológicos, estudos geotectônicos
e datações radiométricas mais recentes
que confirmam as teorias sobre a evolução
geológica do território catarinense e de todo
o Sul do Brasil.
Geologia
de Santa Catarina configura um mosaico
variado de fragmentos que atestam o
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Graduada em Geologia pela Universidade do Vale do Figura 2 – Ilustração contendo os principais domínios geotectônicos do Brasil, destacando-se as Províncias do
Amazonas, Parnaíba, Tocantins, São Francisco, Borborema e Mantiqueira (em tons róseos). Essa Província estende-se
Rio dos Sinos (1977), Mestra em Geoquímica e Meio
ao longo da costa brasileira desde o Sul da Bahia até o limite com o Uruguai. Nesta ilustração aparecem também
Ambiente pela Universidade Federal da Bahia (1990) as Bacias Sedimentares como do Paraná e Amazonas e a sedimentação costeira presente no Sul do Brasil. Para mais
e Doutora em Geociências pela Universidade Federal detalhes consultar: Geologia, Tectônica e Recursos Minerais do Brasil – CPRM (Bizzi et al., 2001).
(Figura 1), com a intrusão de rochas de principais rios e na base das encostas. Os vulcânicas antigas. Essa região do embasa-
composição granítica de idades entre 542 leques aluviais recobrem as regiões de base mento faz parte da Província Mantiqueira,
e 488 Ma. Nesse período predominaram das encostas, próximas às terras altas repre- que recebeu esta designação de Almeida
grandes regimes vulcânicos, associados a sentadas pela Serra do Mar, ao norte, e serras et al. (1977), e está limitada à leste pelos
extensas bacias sedimentares, como Itajaí e do Leste Catarinense, na porção central, sedimentos da Planície Costeira, corres-
Campo Alegre, onde dominaram os esforços e pela Serra Geral, mais notavelmente no pondentes à porção aflorante da margem
distensivos relacionados à sua estruturação Sul do estado. Os principais sistemas de continental atlântica, e a oeste por espessos
inicial. leques, proximais e distais, ocorrem rela- depósitos sedimentares e rochas vulcânicas
cionados à erosão hídrica, desenvolvidos da Bacia do Paraná.
Segue-se a esses episódios de construção por eventos hidrometeorológicos de alta
do embasamento cristalino e de vulcanismo intensidade. Os depósitos do Sistema Tran- As rochas que compõem o embasamento
Pré-cambriano, um período de intensa sicional ou Litorâneo (Horn Filho e Ferreti, cristalino se inserem na porção Centro-Sul
calmaria, o Paleozoico. Nesse período a 2010), com registros do Pleistoceno ao da Província Mantiqueira (Almeida et al.,
Geologia
erosão e o desgaste intenso do continente Holoceno, compreendem sedimentos de 1977), e se expõem ao longo de uma área
recém-formado levaram ao entulhamento praia, de maré, de manguezal, além de depó- com cerca de 20.000 km2 situada entre o
das áreas deprimidas, resultando na depo- sitos eólicos, lagunares e fluviolagunares e oceano Atlântico, a leste, e coberturas sedi-
sição de espessos pacotes sedimentares fluviodeltaicos. mentares fanerozoicas da Bacia do Paraná, a
hoje representados no estado pela Bacia do oeste (Figura 2).
Paraná. Esses episódios perduraram até o Esta evolução será delineada, dando ênfase
Mesozoico. a alguns fatos relevantes que marcaram Essa porção da Província Mantiqueira tem
profundamente a geologia do estado, de seu arcabouço estruturado por diversas
A Bacia do Paraná recobriu grandes modo que este capítulo apresenta um unidades geológicas, de diferentes idades,
porções do continente de Gondwana, que resumo da evolução geológica da região Sul que variam entre terrenos Arqueanos,
nesse período reunia terras que, atual- do Brasil. As idades e a distribuição espa- rochas do Paleoproterozoico e rochas do
mente, pertencem à América do Sul, África, cial das rochas cristalinas e sedimentares Neoproterozoico, que se estendem até o
Austrália, Antártica e Índia. No final do aparecem representadas no Mapa Geológico Eopaleozoico, representadas por associa-
Mesozoico grandes esforços distensivos do estado de Santa Catarina. ções vulcano-sedimentares, e por granitos
levaram à divisão desse macrocontinente intrusivos.
de Gondwana, com a consequente aber- O Embasamento
tura do oceano Atlântico e o recobrimento Geológico Catarinense A construção geológica do arcabouço cris-
da porção Sul do Brasil, parte da África, e talino catarinense se deu em diferentes
demais porções continentais gondwânicas, A evolução geológica de Santa Catarina se momentos do tempo geológico. Em uma
por extensos derrames de rochas vulcânicas, inicia por uma porção de terreno conhecida revisão dos dados geocronológicos exis-
de composição básica à ácida, variando de geologicamente como escudo ou zona cratô- tentes sobre esta porção Sul da Província
basaltos a riolitos e riodacitos. nica de Santa Catarina, a qual constitui a Mantiqueira, realizada por Silva et al. (2005),
base ou o embasamento litológico do estado. foi proposta a divisão do arcabouço prote-
As rochas sedimentares dessa etapa evolu- As rochas que compõem este embasamento rozoico em unidades fundamentais, quais
tiva do continente de Gondwana eviden- são as que afloram ao longo de boa parte da sejam, o Cráton de Luis Alves, o Microcráton
ciam, por sua composição e suas estruturas região costeira do estado, onde predominam Camboriú-Porto Belo, o Cinturão Granítico
preservadas, distintos ambientes de sedi- rochas graníticas designadas como “Escudo Costeiro e o Cinturão Dom Feliciano. Essa
mentação em que foram formadas. Esses Catarinense”, ou Serra do Mar e Serras do divisão está de acordo com a diferenciação
Quadro 1 – Síntese das principais unidades geotectônicas e estratigráficas no estado de Santa Catarina.
geofísica evidenciada pela análise dos dados núcleos migmatíticos policíclicos, injetados lítico de Santa Catarina, onde se encontra
obtidos a partir do levantamento aeromag- por sucessivos eventos de geração de rochas uma vasta gama de gnaisses enderbíticos
netométrico, em especial aquele do Campo graníticas, além de faixas granito-gnáissicas e kinzigíticos (Complexo Luis Alves), char-
Magnético Anômalo. regionalmente desenvolvidas. nockitos, quartzitos, formações ferríferas
bandadas, gnaisses calciossilicatados,
Dentro desse contexto, a sequência estrati- No intervalo Mesoproterozoico - Neopro- metaultramafitos (Unidade Máfica-Ultra-
gráfica dos eventos retratados no estado de terozoico, esse bloco cratônico sofreu um máfica Barra Velha), gnaisses quartzo-
Santa Catarina, desde as porções cratônicas retrabalhamento com a intrusão de stocks e feldspáticos, dioríticos a granodioríticos e
paleoproterozoicas até a sedimentação batólitos graníticos de caráter anorogênico, granitóides deformados (Hartmann, Silva
costeira, está constituída pelas unidades principalmente em sua borda norte. Supe- e Orlandi, 1979). Os núcleos migmatíticos
estratigráficas contidas no Quadro 1. rimpostas a essa unidade cratônica ocorrem policíclicos foram injetados por sucessivos
as bacias vulcano-sedimentares neoprotero- eventos de geração de rochas graníticas,
O Cráton de Luis Alves zoicas não deformadas Itajaí, Campo Alegre, além de faixas granito-gnáissicas regional-
Corupá, Alto Palmeira, Campo Alegre Oeste mente desenvolvidas.
O Cráton de Luis Alves constitui o arca- e Joinville.
bouço geológico mais antigo desta região da O Complexo Granulítico se estende por
Província Mantiqueira, correspondendo a O Cráton de Luis Alves ou Microplaca Luis uma área de cerca de 8.500 km2, no
um núcleo de crosta Arqueana remobilizada, Alves, de idade neoarqueana-paleoprote- segmento setentrional do embasamento
constituído por associações metamórficas rozoica (2,76 – 2,17 Ga), está constituído de Santa Catarina e foi datado por Hart-
de médio a alto grau, incluindo associações principalmente por gnaisses granulíticos e mann et al. (2000) quando foram definidos
de rochas granulíticas orto e paraderivadas, granitóides deformados do Complexo Granu- corpos ígneos gerados a 2.716±17 Ma,
CAPÍTULO II
Complexo Morro Redondo, Granito Dona tica incompleta, onde somente a porção
Francisca, Granito Piraí, Granito Corupá, ultramáfica foi mantida. Essa unidade
Granito Bruaca e Granito Saltinho. litoestratigráfica está representada por
peridotitos (dunitos, harsburgitos) com
Entre os termos ortoderivados do Complexo níveis estreitos de olivina-ortopiroxenitos,
Granulítico predominam as litologias ortopiroxenitos, olivina-websteritos,
básicas, variando entre noritos a enderbitos, websteritos e raros enclaves de talco-
apresentando textura gnáissica bandada, de serpentina xistos e raros gabros. Xistos
trama granoblástica média a grossa, tendo magnesianos (serpentinitos, talco xisto,
como constituintes principais o plagio- magnetita xisto, tremolita xisto, carbo-
nato e clorita xistos) ocorrem nas bordas.
clásio, hiperstênio, diopsídio e biotita, com
Essas rochas ultramáficas apresentam
teores variáveis de quartzo e ortoclásio,
colorações variadas, desde cinza-escuro,
enquanto nos charnoenderbitos ocorre
cinza-claro até tons esverdeados, e granu-
Geologia
uma trama bandada marcante, com textura
lação fina a média. A Unidade Máfica-
granoblástica constituída por quartzo, orto-
Ultramáfica Barra Velha é representada
clásio, biotita, hiperstênio, diopsídio e anfi-
por rochas máficas e ultramáficas isotró-
bólio. De ocorrência subordinada, mas de
picas a foliadas, que ocorrem como lentes
importância geológica metalogenética estão
e enclaves nos gnaisses granulíticos, e
os termos classificados como ultramáficos,
também na forma de corpos máficos
que ocorrem na forma de bouldins4 de vários
representados por blocos e matacões nas
tamanhos, normalmente inclusos em noritos
encostas de morros, sem continuidade
e enderbitos, e que correspondem, no geral,
superficial entre os afloramentos. Essas
a piroxenitos, formados essencialmente por rochas são representadas por metapiro-
hiperstênio e diopsídio, e rochas a olivina xenitos, metanoritos, metagabronoritos
ocorrendo termos duníticos (serpentinitos) e metagabros e se distribuem principal-
e websteritos, como litologia dominante. mente na região costeira de Barra Velha,
São João do Itaperiú, Massaranduba, Luiz
Entre os termos paraderivados ocorrem Alves e Blumenau.
gnaisses bandados kinzigíticos, quartzitos, rochas a ocorrência de lentes de fucsita
mármores e rochas calcissilicáticas, normal- quartzitos e litotipos com corindum. Em Harara (2001) obteve idades de 631±17
mente na forma de lentes associadas aos alguns casos esses quartzitos são gradacio- Ma U-Pb (SHRIMP) em zircões de gabros,
noritos e enderbitos. Apresentam textura nais para formações ferríferas bandadas– sugerindo que as lentes de rochas ultramá-
granoblástica bandada, constituídas por BIF, compostas por quartzo, magnetita, ficas, metamorfizadas em fácies granulito
variações entre termos a sillimanita, cordie- hematita e raro piroxênio. Essas litologias e encaixadas estruturalmente de forma
rita, granada, quartzo, ortoclásio e plagio- indicam sedimentação plataformal, caracte- concordante com os gnaisses granulí-
clásio antipertítico. Associam-se a essas rizadas pela associação de rochas pelíticas ticos do Complexo Granulítico de Santa
finamente bandadas, com a concomitante Catarina, pertencem à Unidade Máfica-
Bouldin: estrutura linear secundária formada como
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precipitação de sedimentos químicos, Ultramáfica Barra Velha, do complexo
um adelgaçamento de estrato competente, quando provavelmente associadas a episódios granulítico, e não estão correlacionadas
submetido a tensão, assemelhando-se a um pacote de vulcânicos presentes quando da formação com as ultramáficas do Complexo Máfico-
salsichas (Billings, 1974). deste complexo. Ultramáfico Piên.
mento dúctil-frágil (Migmatitos Morro do rozoico que levou à formação do Cinturão Morro do Parapente, que ocorrem interca-
Boi, Complexo Camboriú, Granito Ponta Dom Feliciano durante a construção da lados na forma de lascas junto as bordas de
do Cabeço, Complexo Porto Belo, Granito porção oeste do continente do Gondwana. contato dos xistos do Complexo Metamór-
Itapema) e às injeções de magmas graníticos O Complexo Camboriú é, provavelmente, fico Brusque. Esses granitos são interpre-
tardios, relacionados a uma granitogênese um fragmento exótico que foi lançado desde tados como relacionados à fase sin-rift, que
dominantemente sintranscurrente mais leste e posicionado no oeste do Gondwana precede a deposição sedimentar da pale-
jovem, Neoproterozoica, onde se destacam durante o fechamento da bacia oceânica do obacia Brusque. Datações U-Pb (ID-TIMS)
os corpos graníticos da Suíte Nova Trento, Neoproterozoico. As mobilizações neopro- desses granitos forneceram idades de
Granito Corre-Mar, Granitóides Quatro Ilhas, terozoicas parecem ter envolvido movi- 834,7±8,7 Ma. O resultado da análise U-Pb
Complexo Granítico Estaleiro e Suíte Intru- mento lateral ao longo do trend do cinturão SHRIMP em zircão, que levou à caracteri-
siva Zimbros. Bitencourt e Nardi (2004) ao orogenético. Isto pode indicar escape lateral zação pré-tectônica da unidade, permite
pesquisar a evolução do Granito Itapema, de calor, fusão parcial da crosta seguida de inferir que este tenha sido o período da fase
de idade Paleoproterozoica, determinam colisão inicial dos terrenos continentais rift da bacia que gerou o Complexo Brusque
Geologia
origem magmática a partir de fusão crustal. (Basei et al., 2013). e, consequentemente, essa é a idade mais
velha conhecida para o início do Cinturão
Parte deste conjunto litológico, aflorante O Complexo Metamórfico Brusque Dom Feliciano em Santa Catarina.
na porção noroeste dessa região cratônica,
tem sido referida por Silva et al. (2005) O Complexo Metamórfico Brusque corres- O Cinturão Granítico Costeiro
como Complexo Camboriú, aflorando em ponde a uma faixa de rochas metamór-
duas pequenas áreas de aproximada- ficas de baixo grau, disposta em uma zona Esse cinturão ocupa parte do setor Nordeste do
mente 40 km2, constituído por gnaisses e de dominância principal com cerca de 40 estado, sendo representado, principalmente,
migmatitos tonalíticos e granodioríticos km de largura, que se estende por mais de por granitóides cálcio-alcalinos foliados,
polideformados, aos quais se associam, de 75 km com direção geral NE-SW, iniciando gerados no Neoproterozoico (615-570 Ma)
forma subordinada, anfibolitos, sillimanita junto a costa até ser recoberta a oeste pelos (Siga Jr.; Basei; Machiavelli, 1993). Ainda
gnaisses e gnaisses calcissilicáticos, com sedimentos da Bacia do Paraná. Litologica- segundo esses autores, adicionalmente, nos
estruturas típicas de metamorfismo de alto mente esse complexo é constituído por uma terrenos do Cráton Luis Alves e do Domínio
grau e forte deformação (Chemale et al., espessa sequência de sedimentos platafor- Curitiba, ocorre importante granitogênese
1995; Philipp et al., 2001). mais, depósitos de precipitação química na alcalina-peralcalina (600-550 Ma), bem como
forma de formações ferríferas bandadas intenso vulcanismo ácido-intermediário
Segundo Hartmann et al. (2003), o Complexo (BIF) e calcários (Formação Botuverá e (520-480 Ma) associado à evolução
Camboriú e remanescentes da bacia Formação Rio do Oliveira), aos quais se das bacias molássicas, consequência
Brusque correspondem às frações de emba- associam vulcânicas básicas (Philipp et al., do rearranjo crustal, decorrente do
samento Paleoproterozoico pertencentes 2004). Tanto as sequências sedimentares, espessamento litosférico produzido pelas
ao Cráton de Luis Alves, que permaneceram dominantemente pelíticas, com restritos colisões continentais que ocorreram no
estáveis no interior do continente após os níveis psamíticos e carbonáticos, quanto Neoproterozoico com continuidade até o
2.000 Ma, apesar de terem sido extensi- as plutono-vulcânicas de afinidade máfico- Cambriano. Neste trabalho considera-se
vamente afetados por processos tectono- ultramáficas apresentam-se metamorfi- como pertencentes a essa unidade o Gnaisses
termais durante o ciclo Brasiliano, ocorrido zadas regionalmente na fácies xistos verdes, Navegantes e o Complexo São Francisco.
a 630–590 Ma. As condições contrastantes atingindo o limite da fácies anfibolito infe-
de metamorfismo presentes entre estes rior na região do Rio Oliveira e nas zonas Grande parte da porção oriental é repre-
complexos Camboriú e Brusque, indicam de contato com os granitóides intrusivos do sentada por rochas graníticas porfïríticas
CAPÍTULO II
É o mais antigo dos Ciclos orogênicos definidos
com sentido de transporte para oeste, reto- intrusivos no Microcráton Camboriú-
para o Brasil e América do Sul. As rochas meta-
mados tardiamente como transcorrências. mórficas identificadas com esse Ciclo hoje per- Porto Belo; ou na forma de batólitos como
O Cinturão Granítico Costeiro é marcado tencem ao Cráton São Francisco e ao Cráton a Suíte Granítica Guabiruba-Valssungana,
Amazônico, ocorrendo, respectivamente, na intrusivos no Complexo Metamórfico
estruturalmente por orientação principal região central e norte do Brasil.
norte-nordeste e vergência voltada para Brusque. A região de maior expressão deste
oeste, na direção do Cráton Luis Alves (Igle- Ciclo Transamazônico: entre 2.200-1.800 Ma. Cinturão Dom Feliciano encontra-se nas
sias et al., 2011). Folhas Criciúma (1:250.000), Florianópolis
Este é o ciclo geodinâmico mais importante na (1:100.000) e Lagoa (1:100.000), Centro Sul
formação da crosta continental Sul-Americana,
Importante atividade plutônica, de caracte- desenvolvido no Paleoproterozoico. No final do estado. Essas rochas compõem o Batólito
rísticas tardi a pós-tectônicas, é represen- do Ciclo Transamazônico a crosta atingiu ~ de Florianópolis, que por sua vez é compar-
tada na área por inúmeros stocks e batolitos 80% da crosta atual, e no fechamento do Ciclo timentado em quatro domínios geotectô-
Brasiliano, no final do Neoproterozoico, che-
graníticos, notadamente de natureza alcalina nicos e litológicos descritos como: a Suíte
gou a ~ 98% da massa crustal atual.
a peralcalina, a Suíte Serra do Mar (Kaul, Os cinturões colisionais transamazônicos po- Intrusiva Paulo Lopes, com granitóides sin
Geologia
1984). dem indicar um período de formação de um a tarditranscorrentes; a Suíte Intrusiva
supercontinente (Atlântica?), cuja quebra pro- Maruim, representada por granitos álcali-
duziu os fragmentos cratônicos que mais tarde
O Cinturão Dom Feliciano se uniram para formar o supercontinente de cálcicos pré a sin-colisionais; a Suíte Pedras
Rodínia. Grandes constituída por granitos alcalinos
O Cinturão Dom Feliciano está constituído Os processos do Ciclo Transamazônico são tardi a pós-colisionais; e a Suíte Plutono-
identificados no Cráton do São Francisco, no
dominantemente por rochas graníticas, Cráton das Guianas, e no Cráton de Luis Alves vulcânica Cambirela.
com idades entre 650 e 550 Ma, mais jovens no NE de Santa Catarina.
do que aquelas dos crátons de Luis Alves e As rochas que constituem este cinturão graní-
Camboriú-Porto Belo. Nesse cinturão ocorre Ciclo Brasiliano: entre ~ 950-450 Ma. tico são relativamente homogêneas e normal-
uma contribuição significativa de crosta mente não estão deformadas. Em conjunto
Ciclo geodinâmico desenvolvido desde ~ 950
antiga na estruturação do Batólito Granítico Ma e 800 Ma até encerrar entre 510 Ma e 490 estes domínios litológicos constituem um
Florianópolis, onde a presença de compo- Ma com o colapso dos orógenos e transição grande batólito multi-intrusivo polifásico,
nentes antigos, retrabalhados pelas frações para um novo regime extensional. O climax constituído por uma série de plutões, estru-
orogênico, entre 670 Ma e 550 Ma, está asso-
de litosfera continental, caracteriza um turalmente alongados na direção NE, facio-
ciado a intenso tectonismo, amplo metamorfis-
ambiente ensiálico para a Orogênese Dom mo e expressiva granitogênese. logicamente distintos entre si, mostrando
Feliciano (Hartmann et al., 2003). O Brasiliano é um típico ciclo superconti- evidências intrusivas de uma fácies em outra,
nental sul-americano. Vários fragmentos li- onde predominam termos entre monzo e
tosféricos derivados da fissão de Rodinia (no
O magmatismo granítico que constitui Eo-Neoproterozoico) foram reunidos na for- sienogranitos, tendo quartzodioritos, grano-
este cinturão se estende ao longo de uma mação do Supercontinente de Gondwana (fi- dioritos e feldspato alcalino granitos como
faixa com cerca de 30 a 50 km de largura nal do Neoproterozoico-Cambriano, até Eo- termos subordinados, todos relacionados à
Ordoviciano em alguns locais), o que implicou
por 250 km de comprimento, grosseira- no fechamento de vários oceanos e braços evolução do Cinturão Dom Feliciano. Essas
mente paralela à costa, constituído por um de oceanos neoproterozoicos (por exemplo distintas intrusões de magmas graníticos
conjunto de corpos intrusivos de dimensões o Adamastor aqui na região sul), ampliando a se deram em diferentes níveis crustais e em
área de crosta continental.
variadas, conformando desde stocks até No final deste ciclo, uma enorme massa con-
diferentes estágios da deformação regional,
massas batolíticas, cujas principais carac- tinental foi formada compreendendo os pro- tardi a pós-tectônica da fase colisional ocor-
terísticas são contatos nítidos, relevo proe- tótipos dos futuros continentes da América do rida no final do Proterozoico. A sua consan-
Sul e da África, antes da abertura do Oceano
minente, metamorfismo térmico de contato guinidade deve ser considerada em face
Atlântico Sul.
impresso nas rochas encaixantes e ausência da homogeneidade petrográfica, caracte-
representam um período de transição rados em direção ao topo, representando três ambientes sedimentares contrastantes
durante o Ciclo Brasiliano, de idades entre uma evolução de ambientes marinhos para essa Bacia:
650 a 550 Ma, variando desde termos rasos para continentais, onde dominam as
tardi orogenéticos, caracterizados pelos deposições flúvio-lacustres e desérticas. O a. Sedimentos relacionados a leques flu-
corpos monzoníticos a calcioalcalinos, até vulcanismo Neoproterozoico-Cambriano viais compondo depósitos rudíticos;
os termos alcalinos finais, relacionados ao desempenha um papel importante b. Derrames basálticos e traquíticos as-
magmatismo anorogênico tipo-A. Schulz e dentro da evolução dessas bacias, onde o sociados com depósitos sedimentares
Albuquerque (1969) e Silva (1987) nome- magmatismo mostra uma evolução que se epiclásticos finamente laminados e
aram os principais corpos graníticos mais inicia com magmas toleíticos, passando camadas piroclásticas subordinadas,
jovens, Eocambrianos, como Suíte Intrusiva à cálcico-alcalinos para shoshoníticos, e
Subida. Esses corpos foram correlacionados finalizando com termos alcalino-sódicos, c. Sedimentos terrígenos e vulcanogêni-
no tempo às rochas vulcânicas e aos sedi-
representando uma contribuição crustal cos depositados em ambiente lacus-
mentos da Bacia do Itajaí e Campo Alegre
Geologia
CAPÍTULO II
(sinéclise) foi concomitante ao desenvolvi- liano foram reativadas sob o campo compres- nível do mar que deve ter acompanhado o
mento de ativos cinturões colisionais adja- sional implantado na borda do continente ápice da glaciação constituíram fatores deci-
centes e que definem uma extensa faixa pela Orogenia Oclóyica (Ramos et al., 1986), sivos à inexistência de um registro mississi-
posicionada junto à margem sudoeste do ocorrida no Neo-Ordoviciano, dando origem piano na bacia.
paleocontinente Gondwânico, ao longo ao espaço para a acomodação das primeiras
do qual, durante todo o Fanerozoico, teve unidades da bacia, a Supersequência Rio A implantação da sedimentação carbonífera
lugar uma relação de convergência entre a Ivaí, a qual não aflora em Santa Catarina. sucedeu um tempo de profundas alterações,
placa gondwânica e a litosfera oceânica do O topo desse pacote é assinalado por uma tanto tectônicas quanto climáticas. O pacote
Panthalassa. discordância pré-Devoniana, marcada por que sucede à discordância pós-Devoniano,
exposição subaérea das unidades até então denominado de Supersequência Gondwana I
A geodinâmica da borda ativa daquele acumuladas, significativa de uma etapa de (Milani, 1997; Milani et al., 2007), materializa
continente influiu decisivamente na história remoção erosiva e o estabelecimento de um um ciclo transgressivo-regressivo completo,
evolutiva Paleozoica-Mesozoica da Bacia do vasto e regular peneplano. fruto da invasão e posterior saída do Pantha-
Geologia
Paraná; onde a análise integrada da subsi- lassa sobre o interior do Gondwana. Sua porção
dência da bacia, confrontada às grandes Retomada a subsidência, acumula-se mais inferior corresponde à sedimentação
orogêneses acontecidas na borda ocidental durante o Devoniano a Supersequência ainda diretamente ligada ao degelo da calota
(Milani, 1997; Milani et al., 2007), revelou Paraná, um pacote caracterizado por uma polar, sendo caracterizada por depósitos em
uma clara relação entre ciclos de criação de notável uniformidade faciológica em toda que foram importantes os mecanismos rela-
espaços deposicionais na área intracratô- sua área de ocorrência. Em Santa Catarina, cionados a fluxos de massa e ressedimentação.
nica e os referidos episódios orogênicos. essa unidade só é identificada em subsuper-
fície. Sua espessura é variável, uma vez que A acumulação da Supersequência Gondwana
O enrugamento litosférico, por sobrecarga tectô- a porção superior foi severamente esculpida I foi acompanhada de um progressivo
nica, propagado continente adentro a partir da pela discordância pré-Pensilvaniano. fechamento da Bacia do Paraná às incur-
calha de ante-país desenvolvida na porção oeste sões marinhas provenientes de oeste. O
do Gondwana, foi interpretado como tendo Tal superfície define um notável marco
caráter de bacia intracratônica vai então
sido um importante mecanismo de subsidência na geologia do Gondwana na Bacia do
paulatinamente sendo assumido e a bacia
durante a evolução da Bacia do Paraná. Paraná. A discordância pré-Pensilvaniano
acaba sendo aprisionada no árido interior
continental do Gondwana. Está incluído
Ciclos dos Supercontinentes nessa Supersequência Gondwana I, o Super
Ur Gondwana Grupo Tubarão, constituído pelos Grupos
(3,0) Oriental
Itararé, Guatá e Passa Dois e suas formações
Pannótia
Ártica Gondwana
(2,5) Gondwana litoestratigráficas.
Nena Rodínia Ocidental Pangea
Báltica (1,0) (0,3)
Laurásia A chegada do Triássico assistiu a uma
Atlântica distensão generalizada na porção Sul do
paleocontinente Gondwana. A Superse-
Arqueano quência Gondwana II da Bacia do Paraná,
Proterozoico Fanerozoico
Superior de ocorrência restrita às porções gaúcha e
Sequência de surgimento e desaparecimento dos principais supercontinentes da história da Terra. Os
uruguaia da bacia, insere-se neste contexto
números entre parênteses indicam a idade aproximada, em bilhões de anos, da formação de alguns dos regional e parece representar uma sedimen-
supercontinentes (Teixeira et al ., 2000, p.507). tação acumulada em bacias do tipo gráben.
Figura 3 – Distribuição da Bacia do Paraná no interior do continente sul-americano (adaptado de Milani, 1997).
O conteúdo fossilífero desses estratos, na ainda hoje individualizadas, quais sejam, o preenchimento da sinéclise em Santa
forma de uma importante associação de América do Sul, África, Austrália Antártica Catarina. Corresponde a um dos maiores
vertebrados, possui grande identidade com e Índia, e à abertura do oceano Atlântico eventos vulcânicos do planeta e que marcou
a paleofauna presente em seções sedimen- (Milani et al., 1998; Scherer, 2000). a ruptura do Gondwana e a consequente
tares da Argentina e África do Sul. abertura do Atlântico Sul. Esse magma-
Em diversas regiões pode-se observar a tismo está representado dominantemente
A implantação do deserto Botucatu, ciclo morfologia das dunas bem preservadas, por um conjunto de derrames de basaltos e
sedimentar final do preenchimento da Bacia tendo sido recobertas progressivamente basalto-andesitos, com espessura máxima
do Paraná-Etendeka, iniciou-se por uma vasta por numerosas corridas de lava, assim como em torno de 1.300 m, que representam as
superfície de deflação eólica que marcou a presença de corpos eólicos lenticulares primeiras manifestações vulcânicas sobre
o clímax da aridez desértica no interior do intercalados nos derrames inferiores da os sedimentos arenosos do então deserto
continente, caracterizando um prolongado seção Serra Geral, materializando com esta Botucatu. Os primeiros eventos eruptivos,
episódio de interrupção da sedimentação interdigitação de basalto/arenito a coexis- confinados a paleovales e a espaços interdú-
que vinha se desenvolvendo, associado aos tência do evento sedimentar eólico com nicos, possuem pequena expressão lateral
fenômenos de rearranjo da sua morfologia. A aquele de vulcanismo fissural. e que, após o encerramento do aporte de
implantação das condições de abrasão eólica areias do Botucatu, levaram a um período
se insere temporalmente nos momentos Aparecendo no topo da sequência estrati- francamente vulcânico que encerra o preen-
iniciais do grande ciclo geotectônico que gráfica da Bacia do Paraná o magmatismo chimento da Bacia e onde o relevo é então
levaria à desagregação e à fragmentação do Serra Geral, o qual demarca o término do condicionado ao arranjo formado pela
Gondwana nas cinco massas continentais episódio magmático juro-cretácico e encerra coalescência entre derrames.
CAPÍTULO II
magmatismo, principalmente às mudanças Scheibe et al., 1985).
Recobrindo parcialmente o magmatismo nos campos de esforços e a reativação de
básico, e destacando-se especialmente estruturas regionais, ocorridas durante os Várias ocorrências de rochas alcalinas,
na região dos cânions e nos contrafortes diversos pulsos magmáticos desencade- descritas inicialmente como intrusivas na
da Serra Geral, áreas mais altas do estado ados entre o Permo-Triássico e o Paleogeno. forma de stocks, correspondem aos corpos
e conhecida como sendo os Aparados da Para os autores, o magma alcalino teria concordantes, com geometria tabular (sills),
Serra predominam derrames de lavas riolí- ascendido na crosta pelas diferentes zonas intrusivos na Formação Serra Alta, preferen-
ticas e riodacíticas Serra Geral. Essas litolo- de fraqueza, chegando à superfície ou se cialmente na parte superior dessa unidade.
gias apresentam características distintivas alojando em profundidade em rochas mais Esses corpos, com espessura em geral da
marcantes, compondo os derrames mais antigas. ordem de dezenas de metros (< 100 m),
espessos de todo o conjunto vulcânico encontram-se associados com depósitos de
Serra Geral, podendo alcançar espes- O Domo de Lages foi definido como sendo bauxita, denotando uma ação significativa
suras de 80 m por derrame. Apresentam um domo vulcânico, com formato circular, dos processos de natureza exógena ligados
Geologia
um contato basal com disjunção tabular onde as camadas do Super Grupo Tubarão à bauxitização, instalados após o período de
incipiente e irregular, uma porção central sofreram elevação da ordem de 1.100 a exumação do domo e exposição dos corpos
bem desenvolvida e maciça com disjunção 1.200 m (Loczy, 1968). Localiza-se ao norte alcalinos à superfície.
colunar difusa, e uma porção de topo da cidade homônima, porção Centro-Sul
espessa e com disjunção tabular extrema- do estado de Santa Catarina, intrudindo a O Complexo Alcalino de Anitápolis foi estu-
mente bem desenvolvida. As zonas vesicu- borda leste da Bacia do Paraná (Figura 4). dado em detalhe em função da sua caracte-
lares são pouco desenvolvidas, contendo rização como jazida de fosfato. O complexo
normalmente geodos centimétricos com Corresponde a uma janela estratigráfica em apresenta forma subcircular, com área da
formas elípticas, preenchidos por quartzo que as unidades mais antigas da bacia afloram ordem de 6,0 km2, correspondente a uma
leitoso e/ou ágata zonada. Esses derrames em cotas similares às das unidades mais depressão morfológica circundada por
são de composição dominantemente ácida novas. Em planta, corresponde a uma estru- granitoides do embasamento cristalino. Na
(riodacitos), compondo rochas mesocrá- tura concêntrica alongada, com eixo maior porção periférica são encontrados sienitos
ticas cinza-claro a esbranquiçado, microfa- NW-SE, que expõe, na parte central, rochas e quartzo-feldspato alcalino sienitos, onde
neríticas, com dominância de uma matriz do Subgrupo Itararé e, em direção às bordas, se observa a presença de piroxênio acicular
vítrea. Processos de devitrificação geram unidades sucessivamente mais jovens. ocupando cavidades que, por efeitos de
arranjos esferulíticos que emprestam um alteração, lembram estruturas do tipo “box
aspecto mosqueado às rochas, conhecido As rochas alcalinas distribuem-se em prati- work”. Na parte interna, a intrusão está
como textura sal-e-pimenta. camente toda a região do domo, havendo, composta por rochas máfico-ultramáficas,
porém, maior incidência de corpos na parte variando de urtitos a piroxenitos. Na zona
Complexos Alcalinos sul da estrutura, onde acompanham muitas dos piroxenitos desenvolve-se intensa
Subsaturados vezes os contatos dos Grupos Passa Dois e biotitização, resultante de transformações
Guatá, enquanto corpos alcalinos subsatu- metassomáticas, originando glimeritos.
Estudos sobre os complexos carbonatí- rados menores são também encontrados no Veios e lentes de carbonatos, de diversas
ticos do Sudeste do Brasil apontam que o Subgrupo Itararé. espessuras, atravessam todos os tipos lito-
Complexo de Lages, o maior de Santa Cata- lógicos provocando nas rochas ultramáficas
rina, esteja relacionado a um estágio mais Scheibe (1986) separou as rochas alca- transformações na forma de carbonatiti-
avançado do processo de rifteamento conti- linas do domo de Lages nos seguintes zação, zeolitização e sericitização (Furtado,
nental, quando comparado com o de Anitá- grupos principais: alcalinas leucocráticas 1989).
Figura 4 – Mapa geológico do Domo de Lages onde são assinalados os lineamentos NW, NE e NNE (Roldan et al., 2010) e seção geológica A-B.
Segundo Caruso Jr. (1995) a Planície planície costeira, próximo às terras altas, e
Depósitos Cenozoicos Costeira de Santa Catarina corresponde a que são formados por leques proximais e
uma extensa área de terras baixas e planas, distais ligados à erosão hídrica, sob condi-
A margem continental sul brasileira está situada ao longo do litoral, possuindo 620 ções de clima semi-árido, das unidades pré-
bordejada pelas bacias marginais meso- km de comprimento e podendo atingir até cambrianas e sedimentares e vulcânicas da
cenozoicas de Pelotas, ao sul, e a de Santos, cerca de 100 km de largura próximo a Join- Bacia do Paraná. Os depósitos fluviais têm
ao norte, separadas por um alto litológico- ville, onde dois sistemas deposicionais são relação direta ao trabalho dos rios e acom-
estrutural de natureza basáltico alcalina, os responsáveis pela formação do pacote panham as terras baixas que ladeiam as
denominado Plataforma de Florianópolis. sedimentar costeiro. redes fluviais do estado.
A extensão dessas bacias na área emersa
continental corresponde fisiograficamente – O Sistema Deposicional Transicional ou Os depósitos relacionados ao Sistema Depo-
à Planície Costeira, uma sedimentação Litorâneo que ocupa a parte central e leste sicional Transicional ou Litorâneo mostram
cenozoica intensamente influenciada pelas da planície, incluindo a atual linha de costa, frequentemente gênese ligada ao sistema
oscilações glacio-eustáticas do nível do constituído por um conjunto sedimentar laguna-barreira (Fotografia 1) e compreendem:
mar, ocorridas durante o Quaternário. A inconsolidado que representa os ciclos
presença desse alto litológico-estrutural transgresso-regressivos ocorridos durante – Depósitos praiais atuais e sub-atuais,
explicaria a ausência, no estado de Santa o Quaternário. homogêneos e inconsolidados, relacionados
Catarina, da deposição das sequências da à ação e deposição direta das ondas ao longo
base do Quaternário referentes às glacia- – O Sistema Deposicional Continental dos cordões litorâneos, são constituídos por
ções mais antigas. (Figura 5) que cobre boa parte da região oeste da areias finas a médias, sem estratificação ou
Figura 5 – Coluna da esquerda exibindo a variação do nível do mar na região Sul do Brasil, nos últimos 750 mil anos. Coluna da direita exibindo a variação da curva de temperatura
nos últimos 140 mil anos, período dominado pela última grande glaciação (adaptado de Menegat et al., 1998).
CAPÍTULO II
– Depósitos lagunares constituídos por de deposição. relacionados à ação direta da dinâmica
areias, siltes e argilas na borda e fundo dos rios e depositados nas calhas fluviais e
dos corpos de águas salobras. Os depó- O Sistema Deposicional Continental é o mais planícies de inundação.
sitos apresentam-se mal selecionados, diversificado, e também complexo, para
estratificação plano-paralela incipiente e sua individualização, entre as deposições Horn Filho e Ferreti (2010) propõem um
podem conter concreções carbonáticas e quaternárias. Estes constituem os depósitos terceiro sistema deposicional referente
ferromanganesíferas; coluvionares e os aluvionares. às alterações antropogênicas recentes e
incluem nessa subdivisão os sedimentos de
– Depósitos de pântanos e manguezais – Depósitos coluvionares e de sistemas de origem natural e artificial construídos pela
construídos pela deposição dominante de leques aluvionares recobrem boa parte da ação humana, destacando-se os depósitos
argilas e areias subordinadas, mal sele- região oeste da planície, próxima às terras do tipo sambaqui e os tecnogênicos.
Geologia
® Hiran Garcia
Fotografia 1 – Trecho da costa catarinense entre a praia da Gamboa, primeiro plano, e a praia da Guarda do Embaú, com a ilha de Santa Catarina ao fundo. Observa-se cordão de
dunas sobre barra arenosa (sistema Laguna-Barreira) construída na foz do rio da Madre. 2013
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