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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

FACULDADE DE ENGENHARIA CIVIL, ARQUITETURA E URBANISMO


DEPARTAMENTO DE ESTRUTURAS

EC604 – ESTÁTICA DAS ESTRUTURAS I


ASSUNTO: APLICAÇÃO DO PTV DE CORPO RÍGIDO – SOLUÇÃO DE UM PROBLEMA DE
EQUILÍBRIO ATRAVÉS DE UM PROBLEMA GEOMÉTRICO

Seja um pórtico plano tri articulado, com uma rótula em B e apoios fixos em A e D.
Determinar a força normal na seção S usando o PTV de corpo rígido.
10kN/m

D
S C

1,50m
100kN B
1,50m 3,00m

0,50m

3,00m

A
20kN/m

SOLUÇÃO:
Para resolver o problema de determinação do esforço normal N usando a s,

estratégia do PTV, deve-se liberar o vínculo que transmite a força normal na seção S
e substituí-lo pelo par de esforços força normal N suposto positivo.
S

SEMPRE QUE O VÍNCULO RETIRADO FOR EXTERNO, DEVE SER SUBSTITUÍDO POR UMA
ÚNICA AÇÃO EXTERNA, DO TIPO FORÇA OU MOMENTO CONCENTRADO. SEMPRE QUE
O VÍNCULO SUBSTITUÍDO FOR UM VÍNCULO INTERNO, DEVE SER SUBSTITUÍDO POR UM
PAR DE ESFORÇOS INTERNOS, DO TIPO FORÇA OU MOMENTO.

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Ao retirar o vínculo da força normal em S a estrutura isostática é transformada numa
cadeia cinemática com três chapas. A ligação entre as chapas 2 e 3 nessa situação
é feita por duas barras paralelas, perpendiculares à direção das chapas 2 e 3 em S.
Sejam então dois estados independentes da cadeia cinemática formada:
1. Estado de carregamento – cadeia cinemática em equilíbrio sob a
ação das forças externas aplicadas no pórtico real e mais o par de
forças normais NS, que equilibra o restante do carregamento

15kN 35kN
10kN/m

C
NS T 3 D
1,50m
NS
S
100kN K2
B 1,75m 1,75m

0,75m 0,75m
3,00m 1
30kN M

1,000m
A
20kN/m

Figura 1 – Estado de carregamento (cadeia cinemática com 1 grau de liberdade formada por 3
chapas)

Na figura 1 estão indicados os carregamentos aplicados na cadeia


cinemática. O carregamento distribuído é substituído pela resultante em cada
chapa. Assim a força horizontal de 30kN é a resultante do carregamento
triangular na chapa 1 e está aplicada no ponto M, a um terço da altura. A
resultante do carregamento distribuído na chapa 2 vale 15kN e está aplicada
no ponto K. A resultante da carga distribuída na chapa 3 vale 35kN e está
aplicada no ponto T.
2. Estado de deslocamento – cadeia cinemática submetida a um deslocamento
arbitrário imposto (pequeno deslocamento). No problema em questão foi
escolhida como deslocamento imposto a rotação anti-horária da chapa 1,
admitida com o valor ω1 = ω . Todos os demais deslocamentos (translações e

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rotações) ficarão estabelecidos em função da rotação imposta para a
chapa 1.

(II)

ω2
33m
5
= 6,
re d2
ta
r1
reta r2

d1=8,167m
0 0m
R ,8
=1
d3 α
α
C x
NS T 3 D
NS ω3
S (III)
K2
B 1,75m 1,75m

0,75m 0,75m
3,000m 1
M

ω1 1,000m
A

Figura 2 – Estado de deslocamento (desloc. arbitrário imposto: rotação anti-horária da chapa 1)

Os deslocamentos das três chapas obedecem as leis dos deslocamentos das


cadeias cinemáticas. Os giros absolutos das chapas acontecem em torno
dos pontos conhecidos com os nomes de pólos absolutos (centros
instantâneos de rotação). Nessa solução os giros absolutos das chapas 1 , 2 e
3 serão chamados respectivamente de ω1 , ω2 e ω3 . O pólo absoluto da
chapa 1 é no apoio fixo A e o pólo absoluto da chapa 3 é no apoio fixo D.
O pólo relativo entre as chapara 2 e 3 está no infinito, pois ao liberar o vínculo
da força normal na seção S, a ligação entre as chapas fica sendo feita por
duas barras paralelas, de direção perpendicular à inclinação destas chapas
na seção S.

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Para determinar o pólo absoluto da chapa 2, usa-se duas vezes a leis dos
deslocamentos das cadeias cinemáticas que diz que “os pólos absolutos de
duas chapas e o pólo relativo entre elas estão alinhados”. Assim o pólo
absoluto (II) pode ser determinado na intersecção das retas r1 e r2:
a) a reta r1 passa pelo pólo (III) e tem direção das barras vinculares que
unem as chapas 2 e 3 (que são paralelas e ditam a direção onde se
encontraria o pólo relativo (II,III).
b) A reta r2 passa pelo pólo absoluto (I) e pelo pólo relativo (I,II).

2.1 Determinação da posição do pólo absoluto da chapa 2 e das distâncias


até o ponto S

O pólo absoluto (II) fica no encontro das retas r1 e r2. Adotando-se um


sistema de referência xy, com origem no ponto D, as retas r1 e r2 podem
ser descritas pelas seguintes funções:
a) reta r1

4
y=− x
3

b) reta r2

x = −5

c) coordenadas do ponto de intersecção das retas


Igualando as duas funções determinam-se as coordenadas do ponto
de interseção entre as retas r1 e r2.

y = − 4 (−5) = 6,667m
3

O pólo (II) possui coordenadas (-5,000 ; 6,667) em relação ao sistema


de referência xy com origem no apoio fixo D.
d) distância vertical entre o pólo absoluto (II) e o ponto B
A distância d1 medida na vertical, entre o polo (II) e o ponto B pode ser
calculada simplesmente somando a ordenada do pólo (II) com o valor
1,5m.
d1 = 6,667 + 1,500 = 8,167 m

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e) distância d2 entre o pólo absoluto (II) e o ponto S
A distância entre o pólo (II) e o ponto S vale d2. A reta BSC que contém
o ponto S forma um ângulo α com a horizontal. As retas r1 e r2 formam
entre si o mesmo ângulo α .
Assim tem-se:
1,5 cos α = 0,800
tan α = = 0,75 ⇒ 
2 sen α = 0,600

No triângulo (II)-B-R o valor de d2 pode ser obtido a partir de α :

cos α =
d 2
= 0,800 ⇒d = 6,533 m
2
8,167

f) distância d3 entre o pólo absoluto (III) e o ponto S


A distância entre o pólo I(II) e o ponto S vale d3. Seja o triângulo C-D-R.
O ângulo entre as retas C-R e CD vale α .
Assim tem-se:

sen α =
d = d = 0,600 ⇒ d 3 = 1,800 m
3 3

CD 3,000
2.2 Cálculo dos deslocamentos no estado de deslocamento
a) Giro absoluto da chapa 1 (giro anti-horário imposto)

No presente problema o giro absoluto da chapa 1 está sendo imposto


com um valor ω no sentido anti-horário.
ω1 = ω (adimensional)

Numa cadeia cinemática com um grau de liberdade, uma vez imposto


um valor de deslocamento (translação ou giro), todos os demais ficarão
em função do deslocamento imposto.

b) Deslocamento horizontal do ponto B

hB = 3,000 × ω 1 = 3,000 × ω m (para a esquerda)

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c) Giro absoluto da chapa 2 (giro horário)

hB 3,000 × ω
ω2 = = = 0,3673 × ω (adimensio nal no sentido horário)
8,167 8,167

d) Giro absoluto da chapa 3 (giro horário)

As chapas 2 e 3 são ligadas entre si por duas barras paralelas. Esse fato
faz com que o pólo relativo entre elas seja no infinito, o que implica
que o giro relativo entre elas seja nulo.
Como o giro relativo entre as chapas 2 e 3 é nulo, as duas chapas têm
giros absolutos iguais.
Tem-se portanto:
ω3 =ω 2 = 0,3673 × ω (adimension al no sentido horário)

e) Deslocamento horizontal do ponto M

O ponto M pertence à chapa 1. A componente horizontal do


deslocamento do ponto M pode ser obtida simplesmente
multiplicando-se a rotação absoluta da chapa 1 pelo braço vertical
do ponto M em relação ao pólo (I).
hM = 1,00 × ω1 = 1,00 × ω = ω m(para a direita)
f) Componente vertical do deslocamento do ponto K

A resultante das cargas verticais aplicadas na chapa 2 está aplicada


no ponto K, que está situado na metade da chapa 2. A componente
vertical do deslocamento do ponto K pode ser obtida multiplicando-se
a rotação absoluta da chapa 2 pelo braço horizontal do ponto K em
relação ao pólo (II).
vK = 0,75 × ω 2 = 0,75 × 0,3673 × ω = 0,2755 × ω m (para baixo)
g) Componente vertical do deslocamento do ponto T

A resultante das cargas verticais aplicadas na chapa 3 está aplicada


no ponto T, que está situado na metade da chapa 3. A componente
vertical do deslocamento do ponto T pode ser obtida multiplicando-se
a rotação absoluta da chapa 3 pelo braço horizontal do ponto T em
relação ao pólo 3.
vT = 1,75 × ω3 = 1,75 × 0,3673 × ω = 0,6428 m(para cima)

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h) Deslocamento do ponto S na chapa 2, na direção da força N1
O ponto S, na chapa 2, tem uma distância d2 em relação ao pólo (II).
A translação desse ponto S, na direção da força N1 (direção BSC) vale
δ2 :

δ 2 = d 2 × ω2 = 6,533 × 0,3673 × ω
= 2,40 × ω m(contrário ao sentido de N1 na chapa 2)

i) Deslocamento do ponto S na chapa 3, na direção da força N1


O ponto S, na chapa 3, tem uma distância d3 em relação ao pólo (III).
A translação desse ponto S, na direção da força N1 (direção BSC) vale
δ3 :

δ 3 = d 3 × ω3 = 1,800 × 0,3673 × ω
= 0,6611× ω m(contrário ao sentido de N1 na chapa 3)

APLICAÇÃO DO PTV ENTRE OS ESTADOS (1) E (2):


Como se trata de um corpo rígido a equação do PTV a ser aplicada entre os
estados (1) e (2) é a seguinte:

τ ext
virtual
=0

O trabalho virtual de todas as forças externas é igual a zero

Utilizando-se as forças externas do estado de carregamento e os deslocamentos


correspondentes do estado de deslocamento pode-se escrever a seguinte
equação:
− N S × δ 2 − N S × δ 3 − 30,00 × hM − 100,00 × hB + 15,00 × vK − 35,00 × vT = 0

N S (δ 2 + δ 3 ) = −30,00 × hM − 100,00 × hB + 15,00 × vK − 35,00 × vT

N S (2,400 × ω + 0,6611× ω ) = −30,00 × ω − 100,00 × 3,000 × ω


+ 15,00 × 0, 2755 × ω − 35,00 × 0,6428 × ω

3,0611× ω × N S = −3348,3655 × ω

− 348,3655
NS = = −113,804 kN
3,0611
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N S = −113,804kN

O sinal negativo indica que a força normal na seção S é de compressão.

Prof. Francisco Antonio Menezes


Setembro de 2007

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