O CONCEITO DE AUTORIDADE NA
FILOSOFIA POLÍTICA DE TOMÁS DE AQUINO
IDENTIFICAÇÃO DO PROJETO
Título:
Proponente:
Linha de pesquisa:
Prováveis orientadores:
1º José Nicolau Heck
2º Adriano Correia
3º Márcia Zebina
Período de execução:
1. TEMA
2. CARACTERIZAÇÃO DO PROBLEMA
Com efeito, aparentemente nunca se tratou até hoje, com o foco central que merece, não só
a questão da Autoridade em Tomás de Aquino, mas a da necessária correspondência entre a(s)
Autoridade(s) e a(s) Lei(s).
É bem verdade que já muito se tratou, também em âmbito universitário, de vários aspectos
da obra do Aquinate essencialmente relacionados com o nosso tema:
• a Lei;
• a lei Natural;
• os regimes políticos;
entre outros.
Mas uma coisa é que estejam relacionados, e outra, muito diferente, se atingem o cerne de
nosso problema, o qual se pode expor assim:
• Sabe-se que segundo o Aquinate há a Lei Eterna e a Lei Natural, por um lado, e a Lei
Divina Positiva e a Lei Humana Positiva, por outro.
• Sabe-se também que a Lei Divina Positiva decorre da Lei Eterna, e que a Lei Humana
Positiva decorre, por sua vez, da Lei Natural.
• Sabe-se também que toda e qualquer lei positiva humana será lícita desde que não fira a
Lei Natural.
• Sabe-se, ademais, que toda e qualquer forma de regime político será válida se tampouco
ferir a Lei Natural e as leis humanas positivas que não contradigam a mesma Lei Natural.
• Sabe-se que é necessária a competente autoridade para que se estabeleça tal ao qual lei,
desde a própria Lei Eterna até a menor das leis humanas positivas, passando, naturalmente,
pela Lei Natural, etc.
• E sabe-se, por fim, que também é necessária a decretação de uma lei para que esta
adquira legitimidade – uma lei não decretada, como diz o próprio Santo Tomás de Aquino na
Suma, não pode considerar-se instituída e, portanto, não pode dizer-se lei simpliciter.
Ora, sucede, porém:
1) que não basta demonstrar que
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a) a Lei Natural decorre da Lei Eterna, etc., tal como exposto acima;
b) nem que a Autoridade a quem competiu a decretação da Lei Eterna, da Lei Natural e da
lei Divina Positiva é Deus, e que a Autoridade a quem compete a decretação das leis humanas
positivas;
2) porque, se com efeito tal é assim, há que observar que, como as leis positivas humanas
decorrem da Lei Natural, que por sua vez decorre da lei Eterna, da qual, por outro lado,
decorre a Lei Divina Positiva, resta esclarecer dois pares de pontos:
• Primeiro par:
a) qual o vínculo entre a Lei Humana Positiva e a Lei Divina Positiva;
b) se a primeira deve subordinar-se à segunda, e se tal subordinação há de ser essencial ou
acidental, e direta ou indireta.
• Segundo par:
a) Se há tal vínculo, havê-lo-á também entre as respectivas jurisdições?
b) Se há aquele vínculo e se há esta subordinação, haverá igualmente vínculo e
subordinação entre a Autoridade competente da Lei Humana e a Autoridade competente da
Lei Divina Positiva?
Mas tampouco podemos contentar-nos com as respostas respectivas a estes dois últimos
pares de questões.
Com efeito, se sabemos que a Autoridade competente da Lei Divina Positiva é Deus
mesmo (ou melhor, o Espírito Santo), a Autoridade visível dela, porém é o Papado, que por
sua vez é vigário de Cristo. Logo, o Papado é a Autoridade delegada da Lei Divina Positiva.
Daí decorre outro par de questões (o último no âmbito de nossa tese):
• Se assim é, permanece o vínculo entre a Autoridade da Lei Humana Positiva e a
delegada da Lei Divina Positiva?
• E, se permanece tal vínculo, há também subordinação da primeira Autoridade à
segunda? E de que tipo? Essencial ou acidental? Direta ou indireta?
3. JUSTIFICATIVA
4. HIPÓTESES DE TRABALHO
4.1. Da hipótese
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Ver bibliografia ao final do projeto.
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obviedade de que provém de Deus, deve necessariamente, no plano social, ser exercida em
acordo com as reservas morais apresentadas pela proposta cristã; é ela fruto ou consequência
natural da Lei Natural.
A participação no poder, para o Aquinate, significa eleger os governantes e poder ser
eleito.2 Esta dupla capacidade constitui o elemento democrático da constituição ou regime que
Santo Tomás chama de “misto”. Atentemos aqui que o Aquinate utiliza o termo democracia,
na Suma Teológica, num sentido positivo, mas desde que combinado com os elementos
monárquico e aristocrático. Para Tomás, o ato de legislar pode contar com o consentimento
do povo: “se se trata duma sociedade livre capaz de fazer ela própria a sua lei, é preciso contar
mais com o consentimento unânime do povo para fazer observar uma disposição que se
tornou manifesta pelo costume, do que sobre a autoridade do chefe, que apenas tem o poder
de fazer leis a título de representante da multidão. É por isso que, ainda que os indivíduos não
possam fazer lei, o povo inteiro pode, contudo, legislar”3.
2
ST, I-II, q. 95, a 4: “Est de ratione legis humana ut instituatur a gubernante communitatem civitatis”.
3
ST, I-II, q. 97, a 3, ad 3 – “Se, porém”, completa ele na mesma passagem (ad 3), “não tem o poder livre de
fazer para si a lei, ou de remover a lei imposta pelo poder superior, o costume mesmo, prevalecendo em tal
multidão, adquire força de lei (...)”, complemente que retira qualquer possibilidade de atribuir ao Aquinate um
democratismo estrito.
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Esperamos, ao fim do trabalho, ter contribuído para a análise de um ponto até agora pouco
estudado da filosofia política de Tomás de Aquino, possibilitando uma melhor fundamentação
desse tema.
Por fim, findados os dois anos de orientação e tendo-nos debruçado sobre as leituras
propostas, esperamos a redação e defesa de uma dissertação de mestrado, a mais digna
possível de nossos esforços.
4.4. Da metodologia
Nossa pesquisa, obviamente, por seu próprio objeto e escopo, limitar-se-á a um universo
de obras escritas que envolvem direta ou indiretamente o pensamento de Tomás de Aquino no
tocante ao tema em questão ― obras que estamparemos, como devido, na bibliografia ao
final. Desse modo, o primeiro passo será a leitura dos textos principais e adjacentes aludidos,
como dito, na bibliografia, com o objetivo de elaborar pequenos resumos e ideias-chave para
nortear as etapas de elaboração da dissertação, sobretudo a montagem da estrutura de
capítulos, para a discussão com o orientador sobre a exequibilidade do trabalho proposto.
a) Plano de atividades
b) Cronograma de execução
Pesquisa bibliográfica
Primeira versão da
dissertação
5. LISTA BIBLIOGRÁFICA
COSTA, Elcias, Ferreira da, NUNES Marcos Roberto (orgs.), Temas Tomistas em Debate,
Instituto de Pesquisas Filosóficas Santo Tomás de Aquino, Recife, 2003
DE BONI, Luís Alberto, De Abelardo a Lutero: estudos sobre filosofia prática na Idade
Média, EDIPUCRS, Porto Alegre, 2003
MOURÃO, José Augusto, A Doutrina Politica de Tomás de Aquino, Revista Aquinata, ISTA,
25 de Maio de 2008