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No próximo dia 25 de julho, a encíclica de Paulo VI sobre a “propagação

da prole humana” completa 50 anos. Por isso, nesta aula, Padre Paulo
Ricardo convida você a um diálogo sobre este ensinamento tão
importante do magistério autêntico da Igreja.

No dia 25 de julho de 2018, a encíclica Humanae Vitae, do Papa Paulo VI, completa 50 anos
de publicação. Como qualquer outro documento magisterial, também esse, que
originalmente trata da “reta propagação da vida humana” (do original latino: de
propagatione humanae prolis recte ordinanda), precisa ser lido à luz da doutrina católica, e
deve ser aceito por todos os católicos. Em linhas gerais, a encíclica não se limita ao tema da
regulação da natalidade, como se pode entender pelas traduções do seu título em língua
vernácula, mas repete aquilo que outro documento da Igreja já havia proclamado anos
antes: que a natureza dos atos conjugais está primeiramente ordenada à geração da prole.

A limitação do número de filhos foi um tema discutido pela Igreja Anglicana na Conferência
de Lambeth, em 1930. Nesse encontro, os bispos anglicanos aprovaram, pela primeira vez na
história do cristianismo, o uso de métodos artificiais para a contracepção. Prevendo o
alcance de uma decisão como aquela, o Papa Pio XI não demorou para reagir, e logo mandou
publicar a encíclica Casti Connubii, de cujas linhas Paulo VI tomaria notas, quatro décadas
depois, para redigir a Humanae Vitae.

Ambos os textos defendem a moral católica sobre o matrimônio, advertindo os fiéis contra a
mentalidade anticristã. Todavia, a força de seus argumentos não procede só da luz
sobrenatural da fé, mas apela à razão natural, à lei natural inscrita no coração de todos os
homens.

Ninguém precisa de um documento papal para entender que a finalidade primária da


alimentação é a nutrição. É verdade que, em nossas refeições, preparamos um ambiente
celebrativo, onde podemos partilhar amigavelmente nossas experiências enquanto nos
saciamos com os alimentos, cujos sabores agradáveis nos causam prazer e satisfação. Tudo
isso faz parte desse momento que, aliás, nos distingue profundamente dos demais animais:
um cachorro não partilha sua ração com nenhum outro animal, ao passo que os homens
podem viver a fraternidade, dividindo a carne e outros alimentos sobre a mesa. Mas a
nutrição é o elã das refeições. Se se perdesse essa finalidade primária, e os homens
começassem a comer apenas por diversão, a humanidade estaria fadada à morte.   

A mesma lei está na sexualidade. O sexo possui finalidades secundárias, até espirituais,
mas o seu propósito mais radical é, sem dúvida, a procriação. Se a humanidade parar de se
reproduzir, a espécie humana desaparecerá. É o que está acontecendo com a Europa,
especialmente em países como a Alemanha, onde a taxa de natalidade é baixíssima. Em
poucos anos, os alemães terão desaparecido do mapa, a não ser que haja alguma
intervenção divina. E o mesmo pode acontecer com o Brasil se nosso país continuar
incentivando uma agenda cultural antinatalista.

A cultura moderna inventou o “direito ao orgasmo”. As pessoas querem fazer sexo apenas
por prazer, como se a união entre os órgãos sexuais masculino e feminino não estivesse
perfeitamente ordenada à procriação. Para isso, homens e mulheres não se envergonham
de recorrer à castração, comportando-se como verdadeiros animais. O falso alarmismo da
bomba populacional transformou a geração de filhos em uma ameaça e o sexo em um
parque de diversões. O resultado disso se expressa pela desmoralização total da sociedade,
que já não se sacrifica pelas crianças. Trata-se de uma sociedade perversa, que está
caminhando para a morte demográfica e espiritual.

Na encíclica Humanae Vitae, o Papa Paulo VI advertiu claramente para três consequências
da pílula anticoncepcional: 1º) a infidelidade; 2º) a desvalorização da mulher; e 3º) a
imposição estatal do controle de natalidade. Basta uma vista sobre a sociedade para admitir
que Paulo VI estava correto. O número de traições e divórcios aumentou pelo “caminho
amplo e fácil que tais métodos” abriram “à infïdelidade conjugal e à degradação da
moralidade” (Humanae Vitae, n. 17). As mulheres marcham na rua pelo direito de serem
“vadias” e, perdoem-nos a expressão, “depósito de esperma” para os homens que,
habituados à contracepção, acabam perdendo o respeito pela mulher e as consideram
“como simples instrumento de prazer egoísta e não mais como a sua companheira,
respeitada e amada” (Id.). E, no fim das contas, o Estado castra os civis pela força das leis, do
lobby e das ideologias.

A pílula anticoncepcional é, de fato, a pedra que rolou da montanha, causando a grande


avalanche de imoralidades e perversões a que assistimos atualmente. Já se fala até em
aceitação da pedofilia. Se a sociedade não aprender a virtude e voltar-se para a verdade o
quanto antes, terminará soterrada por essa avalanche que ela mesma provocou ao apartar-
se de Cristo.
Quando o Papa Paulo VI publicou, em 1968, sua corajosa encíclica
sobre a contracepção, a reação ao documento foi a mais negativa
possível, inclusive dentro da própria Igreja. Mas o que estaria por trás
de toda essa guerra contra a encíclica do Papa Paulo VI?

Depois do Concílio Vaticano II, a Igreja assistiu atônita a uma série de revoluções estudantis,
que culminaram nos chamados movimentos de Woodstock e em toda a cultura hippie
contra a guerra do Vietnã. Esses movimentos de orientação marxista, forjados na Escola de
Frankfurt, pregavam uma nova moral, cuja síntese máxima se expressava pelo jargão “faça
amor, não faça guerra”. Os jovens transformaram a sexualidade em uma ferramenta de
revolução: eles mantinham relações para contestar a guerra, a sociedade burguesa, para
libertar a mulher e a classe operária. Aos poucos, o sexo perdia as suas finalidades
procriativa e unitiva para converter-se em um “parque de diversões”.

Quando, em 1968, o Papa Paulo VI publicou a corajosa encíclica Humanae Vitae, essa nova
moral sexual já havia cerrado fileiras e dominado boa parte dos católicos, inclusive
pastores. A reação ao novo documento papal foi inaudita. Nunca se havia visto uma revolta
tão grande contra um ensinamento da Igreja como aquela. Teólogos, palestrantes,
jornalistas, padres, freiras, bispos, conferências episcopais inteiras protestaram e, do
púlpito das igrejas, incentivaram os fiéis à dissensão.

Mas o que explicaria tanta rebelião contra Paulo VI, o Papa que, há poucos anos, havia
encerrado efusivamente o Concílio? O conteúdo da encíclica Humanae Vitae, em si, não
dizia nada de espetacular, nenhum ensinamento que já não houvesse sido proclamado
antes. Na encíclica Casti Connubii, por exemplo, Pio XI condena explicitamente os atos
conjugais fechados à vida. Aliás, essa sempre fora a doutrina católica, sempre fora a
mentalidade dos cristãos, que o Concílio Vaticano II queria proclamar novamente.

Portanto, não poderia haver qualquer expectativa diferente sobre o magistério de Paulo VI,
que, ocupando a cátedra de São Pedro, tinha o dever de ensinar a mesma fé dos Apóstolos. O
que Paulo VI escreveu na Humanae Vitae apenas confrontava os contraceptivos artificiais,
que eram então uma novidade.

Para compreender a reação dos cristãos, é preciso conhecer um problema mais grave: a
perda da fé. O que mudou, na verdade, foi a disposição dos cristãos para aceitarem os
valores de Deus. Os cristãos haviam apostatado. Para eles, a existência já não servia ao
conhecimento do amor e da bondade de Deus, ao seu encontro como preparação para a
entrada no Céu, a verdadeira vida, mas para o acúmulo de riquezas temporais, para a
satisfação da carne, satisfação dos desejos mais mundanos e corruptos. Os cristãos tinham
passado a valorizar esta vida, a vida terrena, como o bem mais valioso de todos. E, para
cristãos assim, a ideia de gastar a própria existência gerando outras vidas parecia
totalmente absurda.

Essa mudança de valores ocorreu mais ou menos entre as décadas de 1940 e 1960, quando
vários setores da Igreja resolveram aceitar a crítica marxista e, em vez de pregarem sobre o
Céu, passaram a pregar sobre justiça social, direitos trabalhistas, luta de classes etc. Aos
poucos, os fiéis esqueceram-se da missão mais importante, que é a conquista do Reino dos
Céus, e começaram a procurar o Reino aqui neste mundo, nas assembleias sindicais, nos
partidos políticos, nos paraísos fiscais, no progresso da técnica.

Ora, a Igreja existe para levar as almas para o Céu. Essa é a sua lei suprema, e enquanto os
sacerdotes defenderam essa hierarquia de valores, dedicando-se à santificação dos fiéis, a
Igreja prestou um serviço inestimável também no campo temporal: orfanatos, hospitais,
abrigos, obras de caridade as mais incríveis e monumentais. De fato, os santos são os
verdadeiros reformadores sociais, porque “não procuraram de maneira obstinada a própria
felicidade, mas simplesmente quiseram doar-se, porque foram alcançados pela luz de
Cristo” (Papa Bento XVI, Vigília de oração com os jovens na esplanada e Marienfeld, 20 de
agosto de 2005). E, nessa entrega por amor a Deus, eles se opuseram às ideologias, “cujo
programa comum era não aguardar mais a intervenção de Deus, mas assumir totalmente
nas próprias mãos o destino do mundo” (Id.). Santos como Madre Teresa, Padre Pio e Teresa
Benedita da Cruz (Edith Stein) mostraram que o “mundo melhor” só pode existir com a
busca da santidade em primeiro lugar.

As obras de caridade da Igreja diminuíram vertiginosamente quando os sacerdotes, iludidos


pela propaganda marxista, abandonaram o breviário para empunhar a espada da revolução.
E agora “sucede não poucas vezes que os cristãos sintam maior preocupação com as
consequências sociais, culturais e políticas da fé do que com a própria fé, considerando esta
como um pressuposto óbvio da sua vida diária”. Mas “um tal pressuposto não só deixou de
existir, mas frequentemente acaba até negado” (Papa Bento XVI, Carta Apostólica Porta
Fidei, n. 2).  

Nesse caso, a encíclica Humanae Vitae só pode ser aberta por um cristão que já abriu antes
a porta da fé, por assim dizer, e acolheu os ensinamentos de dois mil anos de Igreja.
Somente pessoas convictas de que esta vida serve apenas para preparar a nossa morada
definitiva no Céu serão capazes de acolher o dom precioso da prole e da educação dos filhos.
Os pais que assumirem essa vocação terão a graça de, um dia, no Céu, face a face com Deus,
receberem o agradecimento de seus filhos pela vida e educação que receberam. Esses filhos
estarão alegres porque contemplam o Sumo Bem, a fonte de toda alegria, na presença de
seus pais amados.

Os portugueses, no passado, deixaram a segurança de suas nações para partirem em


missão, sabendo que tinham grandes chances de morrer pelo caminho ou, ao menos, nunca
mais voltarem para casa. Sabiam que as terras que procuravam eram inóspitas, cheias de
perigos e estranhos. Mas, por amor a Cristo e ao Império, eles decidiram vencer o próprio
egoísmo para trazer o Evangelho de Deus a estas terras que hoje habitamos. O que animava
São José de Anchieta e tantos outros missionários era o desejo de levar as almas daquele
povo recém conhecido para o Céu. Uma só alma já valeria a pena todo o sacrifício.

Hoje os casais não querem ter filhos, não têm coragem de viver o desconforto, uma vida sem
iPhone e Smart TV e, em nome do bem-estar social, substituem os filhos por animais
domésticos, consomem anticoncepcionais e aprovam o aborto para poderem viver longe
dos problemas. E, quando têm filhos, abandonam-nos aos cuidados da babá, da escola, da
gangue, do videogame, para poderem progredir profissionalmente e conquistar grandes
fortunas. Afinal, pensam eles, o bem mais importante é a felicidade nesta vida mundana.
Esses filhos, mais tarde, estarão nas universidades aprendendo ideologia de gênero,
marxismo e fumando maconha enquanto uma professora acusa seus pais, que pagaram
pelo curso, de serem opressores. Esse é o destino das famílias materialistas.

A sexualidade é um dom para a missão vocacional do homem e da mulher. Todos nós


existimos hoje porque, de um modo ou de outro, nossos pais se abriram à vida. E preferimos
a existência, por mais dura que seja, do que a tragédia do nada. Por que, então, os casais
agora preferem manter seus filhos no nada em vez de trazê-los para participar da vida da
graça em Deus? Essa mentalidade vitimista, egoísta, ressentida, que nega a vida aos
próprios filhos terá como consequência uma única coisa: a tragédia do inferno, que já não
está muito longe.

Temos de exorcizar a vasectomia e a laqueadura espirituais, que tornam os homens e as


mulheres pessoas infecundas e egoístas. Essa mentalidade está forjando uma geração
imatura, irresponsável, que considera os outros como objetos descartáveis. Com apenas 15
anos, Teresinha do Menino Jesus adotou um filho espiritual, um criminoso sentenciado à
morte, e por ele rezou e ofereceu sacrifícios até conquistar a sua conversão. No dia da
execução, esse criminoso obteve a graça da contrição perfeita e, antes de sofrer a pena
capital, beijou o crucifixo do padre que o acompanhava na hora derradeira. Que exemplo
luminoso de uma jovem que tão cedo se fez mãe! Que a sua maturidade e maternidade
espiritual despertem os católicos do egoísmo e acendam, em seus corações, a luz divina da
fé.
Teologia do Corpo

A Teologia do Corpo do Papa João Paulo


II
Jesus Cristo é a concretização perfeita do casamento de Deus com a
humanidade, prefigurada no Livro do Gênesis, com Adão e Eva antes do
pecado, e consumada no Livro do Apocalise com as núpcias do Cordeiro.
Esta é a intuição básica do Bem-Aventurado Papa João Paulo II apresentada
em sua Teologia do Corpo.

O Bem-Aventurado Papa João Paulo II deu continuidade à tradição iniciada pelo Papa Pio
IX, em 1870, com as chamadas Audiências Gerais. Elas acontecem desde então, às quartas
feiras, e são um modo de o Sumo Pontífice relacionar-se mais de perto com os peregrinos.
Nelas são proferidas as chamadas "catequeses".

Enquanto ainda era cardeal, o Papa João Paulo II iniciou a escrita de um livro que acabou
não sendo nem terminado nem publico, justamente por sua eleição. Tal livro, intitulado
"Homem e Mulher Ele o Criou", teve seus capítulos apresentados durante as Audiências
Gerais do ano de 1979 até 1984.

Foram 129 catequeses a respeito da chamada Teologia do Corpo, que jogou a luz do
Evangelho sobre a confusão moderna que se instalou sobre o relacionamento entre homem
e mulher. O Papa conseguiu apresentar a sexualidade humana de maneira fiel ao
ensinamento da Igreja e, ao mesmo tempo, nova. A tradição foi apresentada de um modo
que o mesmo homem atual consegue entender.

Em 1985 foram publicadas 133 catequeses, pois algumas não haviam sido pronunciadas em
público. A edição italiana foi publicada em português pela EDUSC, em 2005. No entanto, os
textos do Papa, por serem bastante profundos, necessitam de uma espécie de "tradução", ou
seja, postos numa linguagem mais simples. Um bom subsídio para iniciantes é o livro de
Christopher West, "Teologia do Corpo para Principiantes: uma introdução básica à revolução
sexual por João Paulo II", Editora Myrian, 2008. Outra obra que será utilizada neste curso é o
comentário do próprio Christopher West às Catequeses, intitulado "Theology of the Body
Explained (Revised): A Commentary on John Paul's "Man and Woman He Created Them".
O Romano Pontífice afirma que "o corpo, de fato, e só ele, é capaz de tornar visível o que é
invisível: o espiritual e o divino. Foi criado para transferir para a realidade visível do mundo
o mistério oculto desde a eternidade em Deus e assim ser sinal d´Ele."(19,4)[01] Esta é a
intuição básica de toda sua teologia.

Segundo ele, a observação do ser humano em sua integridade permite enxergar algo de
Deus. Da mesma forma, observando como Deus Se revelou em Jesus Cristo é possível
entender - no Deus que se fez carne - algo do ser humano. Esta circularidade divina
revelada no homem e do homem que se revela no Deus que se encarnou - teologia e
antropologia que se fecundam mutuamente -está contida no Capítulo 2 do Gênesis:

E o Senhor Deus disse: "Não é bom que o homem esteja só. Vou fazer-lhe uma
auxiliar que lhe corresponda". Então o Senhor Deus formou da terra todos os
animais selvagens e todas as aves do céu, e apresentou-os ao homem para ver como
os chamaria; cada ser vivo teria o nome que o homem lhe desse. E o homem deu
nome a todos os animais domésticos, a todas as aves do céu e a todos os animais
selvagens, mas não encontrou uma auxiliar que lhe correspondesse. Então o Senhor
Deus fez vir sobre o homem um profundo sono, e ele adormeceu. Tirou-lhe uma das
costelas e fechou o lugar com carne. Depois, da costela tirada do homem, o Senhor
Deus formou a mulher a apresentou-a ao homem. E o homem exclamou: "Desta vez
sim, é osso dos meus ossos e carne da minha carne! Ela será chamada 'humana'
porque do homem foi tirada". (Gên 2, 18-23)

Esta belíssima poesia - a primeira de amor - foi proclamada antes do pecado primeiro. A
união de Adão e de Eva no Paraíso, antes de o projeto de Deus ser distorcido pela
desobediência, logo no início da Bíblia, reflete um outro enlace narrado no último Livro, as
núpcias do Cordeiro, o casamento entre Deus e o homem. É interessante notar o desejo de
Deus em unir-se à humanidade.

O ser humano foi feito para este casamento último. É por isso que nenhum homem ou
mulher encontrará em seu companheiro aqui na Terra o preenchimento do coração, porque
somente em Deus será saciado o anseio do coração humano.

O namoro ou o casamento não podem ser empecilhos para a aproximação com Deus. O
relacionamento de amor honesto, casto, de doação deve ser um trampolim para o Divino e o
desejo que se sente pelo sexo oposto deve refletir a busca pela verdadeira felicidade que,
como já foi dito, somente será saciada em Deus.

Justamente por causa disso é que o homem peca. O Diabo se apropria do instinto natural de
todo ser humano pela sexualidade e a perverte. Os homens passam, então, a procurar no
sexo um "deus alternativo".

E este casamento encontra sua plenitude na pessoa de Nosso Senhor Jesus Cristo. Ele é a
união entre Deus e a humanidade, numa só pessoa. E é por isso que o Papa João Paulo II diz:
"Pelo fato de o Verbo de Deus ter se feito carne, o corpo entrou pela porta principal na
teologia."(23,4)

Além desta preciosa intuição básica, o Papa João Paulo II apresenta, em sua Teologia do
Corpo, um método entusiasmante. O universo filosófico-teológico a que ele pertencia era
riquíssimo e é importante deixar claro, ao menos para os estudantes de Filosofia, o quanto
se pode extrair dela. É possível elencar três chaves de leitura:

1. Estudou Santo Tomás de Aquino no Angelicum em Roma, portanto, foi um


tomista que usou o Aquinate para entender São João da Cruz e a espiritualidade
carmelitana.

2. Além de tomista, João Paulo II foi adepto do "personalismo", portanto, cria no


conceito de "pessoa" e na relacionalidade presente na substância do ser humano.

3. Tomista e personalista, João Paulo II foi também adepto da "fenomenologia",


ou seja, corrente contrária ao positivismo que tem seu ponto de partida nas
experiência pessoais, extinguindo, portanto, a separação entre o sujeito e o
objeto.

Na próxima aula será apresentado o primeiro ciclo de Catequeses.

Referências

1. [01] As catequeses serão indicadas pelo seu número e parágrafos correspondentes.


P.ex.: Catequese 19, parágrafo 4

Bibliografia

João Paulo II, Teologia do Corpo: O Amor Humano no Plano Divino. Trad. port. de José
E. Câmara de B. Carneiro. São Paulo: Ecclesiae, 2014. As catequeses também estão
disponíveis aqui.

_____. Amor e Responsabilidade. (Publicado antes [1960] do início do ponti cado.)


Trad. port. de J. Jarski e L. Carrera. São Paulo: Loyola, 1982.

_____. Exortação Apostólica "Familiaris Consortio", de 22 nov. 1981 (AAS 74 [1982]


81-191).

_____. Carta Apostólica "Mulieris Dignitatem", de 15 ago. 1988 (AAS 80 [1988] 1653-
1729).

_____. Carta "Gratissimam Sane" às Famílias, de 2 fev. 1994 (AAS 86 [1994] 868-925).

_____. Encíclica "Evangelium Vitæ", de 25 mar. 1995 (AAS 87 [1995] 401-522).


Leão XIII, Encíclica "Arcanum Divinæ Sapientiæ", de 10 fev. 1880 (ASS 12 [1879] 385-
402).

Pio XI, Encíclica "Casti Conubii", de 31 dez. 1930 (AAS 22 [1930] 539-592).

Pio XII, Encíclica "Sacra Virginitas", de 25 mar. 1954 (AAS 46 [1954] 161-191).

Paulo VI, Encíclica "Humanæ Vitæ", de 25 jul. 1965 (AAS 60 [1968] 481-503).

Congregação para a Doutrina da Fé, Declaração "Persona Humana", de 29 dez. 1975


(AAS 68 [1976] 77-96).

Congregação para a Educação Católica, Orientações Educativas sobre o Amor


Humano, de 1 nov. 1983.

Conselho Pontifício para as Famílias, Sexualidade Humana: Verdade e Signi cado, de


8 dez. 1995.

Christopher West, Teologia do Corpo para Principiantes. Trad. port. de Cláudio A.


Casasola. Porto Alegre: Myrian, 2014.

_____. Theology of the Body Explained. 2.ª ed., Boston: Pauline Books & Media, 2008.

George Weigel, Testemunho de Esperança. Trad. port. de So a S. M. Mendes e Maria


H. H. Temundo. Lisboa: Bertrand, 2000.
Teologia do Corpo

No princípio não era assim


Dando início ao estudo das catequeses proferidas pelo Bem-Aventurado
Papa João Paulo II a respeito da Teologia do Corpo, Padre Paulo Ricardo fala
sobre a perfeita harmonia existente entre o homem e a mulher no início da
criação e de como ela se quebrou com o pecado.

O primeiro ciclo de catequeses proferidas por São João Paulo II a respeito da Teologia do
Corpo versou sobre a análise de uma palavra extraída do versículo 8, do capítulo 19, do
Evangelho de São Mateus, quando Jesus diz: "Mas não foi assim desde o princípio." O Papa
se põe, ao longo de 23 catequeses, a analisar qual era o projeto inicial de Deus, como Ele
pensou a criação.

Antes de mais nada é preciso entender o contexto em que Jesus pronunciou a palavra.
Vejamos a passagem completa:

Alguns fariseus aproximaram-se de Jesus e, para experimentá-lo, perguntaram: "É


permitido ao homem despedir sua mulher por qualquer motivo?" Ele respondeu:
"Nunca lestes que o Criador, desde o princípio, os fez homem e mulher e disse: 'Por
isso, o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e os dois formarão uma só
carne'? De modo que eles já não são dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus
uniu, o homem não separe". Perguntaram: "Como então Moisés mandou dar atestado
de divórcio e despedir a mulher?" Jesus respondeu: "Moisés permitiu despedir a
mulher, por causa da dureza do vosso coração. Mas não foi assim desde o princípio.
Ora, eu vos digo: quem despede sua mulher - fora o caso de união ilícita - e se casa
com outra, comete adultério." (Mt 19, 3-9)

Jesus cita frases oriundas dos dois relatos sobre a criação encontrados no Livro do Gênesis.
Do primeiro relato extraiu a frase "E ele os fez homem e mulher" e do segundo "os dois
formarão uma só carne". Ora, esta realidade de que Deus criou homem e mulher e de que
ambos se unirão foi pervertida pelo pecado original, que se reflete quando Jesus diz:
"Moisés permitiu despedir a mulher, por causa da dureza do vosso coração." Portanto, Nosso
Senhor está a dizer que existe algo de errado com a humanidade. Trata-se de uma doença
espiritual chamada esclerocardia, uma desordem no modo humano de amar.

Ao analisar com profundidade qual era o projeto inicial de Deus, o Papa João Paulo II
começa por esmiuçar o primeiro relato da Criação. Nele, Deus apresenta a criação do
homem e da mulher com uma profundidade teológica maior que no outro relato. Vejamos:
Deus disse: "Façamos o ser humano à nossa imagem e segundo nossa semelhança,
para que domine sobre os peixes do mar, as aves do céu, os animais domésticos,
todos os animais selvagens e todos os animais que se movem pelo chão". Deus criou
o ser humano à sua imagem, à imagem de Deus o criou. Homem e mulher ele os
criou. E Deus os abençoou e lhes disse: "Sede fecundos e multiplicai-vos, enchei a
terra e submetei-a! Dominai sobre os peixes do mar, as avés do céu e todos os
animais que se movem pelo chão". Deus disse: "Eis que vos dou, sobre toda a terra,
todas as plantas que dão semente e todas as árvores que produzem seu fruto com
sua semente, para vos servirem de alimento. E a todos os animais da terra, a todas
as aves do céu e a todos os animais que se movem pelo chão, eu lhes dou todos os
vegetais para alimento". E assim se fez. E Deus viu tudo quanto havia feito, e era
muito bom. Houve uma tarde e uma manhã: o sexto dia. (Gên 1, 26-31)

O Papa João Paulo II notou que não é somente verdade que o homem individualmente
falando é imagem de Deus, mas que também a diversidade de homem e mulher, de alguma
forma, é imagem de Deus. Existe nela uma bondade originária e, se hoje o relacionamento
entre homem e mulher é conflitivo, não era assim no princípio. O Catecismo da Igreja
Católica identifica com clareza a causa dessa desordem:

Segundo a fé, essa desordem que dolorosamente constatamos não vem da natureza
do homem e da mulher, nem da natureza de suas relações, mas do pecado. Tendo
sido uma ruptura com Deus, o primeiro pecado tem, como primeira consequência, a
ruptura da comunhão original do homem e da mulher. Suas relações começaram a
ser deformadas por acusações recíprocas, sua atração mútua, dom do próprio
Criador, transforma-se em relações de dominação e de cobiça; a bela vocação do
homem e da mulher para ser fecundos, multiplicar-se e sujeitar a terra é onerada
pelas dores de parto e pelo suor do ganha-pão. (1607)

Quando Deus fez a mulher, não a retirou da cabeça do homem, para que ela pudesse sentir-
se superior a ele, nem dos pés, para ele pudesse pensar o mesmo. Ele tirou da costela, do
lado, o que significa uma igual dignidade entre eles. Portanto, quando o casal, unido em
sagrado matrimônio, mantém relação sexual, esta deve ser de "iguais", não deve haver um
dominador, um dominado; um senhor, um escravo. Tais práticas levam o casal para longe do
projeto inicial de Deus. Nesse sentido, o Papa João Paulo II diz:
Por este motivo pode-se dizer com certeza que o primeiro capítulo do Gênesis se
constituiu um ponto inexpugnável de referência e a base sólida para uma metafísica
e também para uma antropologia e uma ética, segundo a qual «ens et bonum
convertuntur». Sem dúvida, tudo isto tem significado próprio, também para a
teologia e sobretudo para a teologia do corpo. (2,5)
O princípio "o ser e o bom se convertem", interpenetram-se, ou seja, se uma coisa é, então
ela é boa e se é má, ela é má enquanto não é. Deus não criou o mal, ele não tem entidade, é
uma desordem no ser, um vazio que causa desordem. Logo, se o desejo é de ter um
relacionamento bom é preciso mergulhar numa reflexão naquilo que é o ser das coisas.

Quando a Igreja "proíbe" algo, ela não está arbitrariamente determinando algo, mas, ao
contrário, ela está jogando uma luz sobre o que é bom para o ser. A verdade está no ser e não
na convenção. Assim, a Bíblia fornece um conhecimento do que era o projeto originário de
Deus para o ser humano.

Portanto, Jesus está dizendo que no princípio o relacionamento entre homem e mulher não
era desordenado e que, na raiz do ser homem e do ser mulher existe uma harmonia. Se esta
se perdeu foi por causa da "dureza dos vossos corações".

Bibliografia

São João Paulo II, Teologia do Corpo - O amor humano no plano divino, Editora Ecclesiae,
2014.
Teologia do Corpo

As experiências originais do ser


humano
O Papa João Paulo II, em sua “Teologia do Corpo”, analisa as três
experiências originais do ser humano: solidão, comunhão e nudez, visando
descobrir qual era o projeto inicial de Deus para o homem e a mulher.

O grande legado do Papa João Paulo II foi a sua “Teologia do Corpo”, dividida ao todo em seis
grandes ciclos de Catequeses. O primeiro vai até a 23ª e recebeu o título de “No princípio”.

Conforme visto na aula anterior, a frase basilar do primeiro ciclo foi: “Disse Jesus: “No
princípio não era assim” (Mt 19,3 e Mc 10,2). Ora, se a realidade atual do sexo entre homem e
mulher não é do jeito que Deus pensou no início, como era então? Para responder essa
indagação, Papa João Paulo II parte da análise do relacionamento entre homem e mulher
antes do pecado original.

Iniciando as reflexões, apresenta no primeiro ciclo três pontos fundamentais: a solidão


originária, a comunhão originária e a nudez originária, que são chamadas por ele de
“experiências originais do ser humano”, ou seja, estavam no início e hoje não estão ou se
apresentam de maneira deformada. Christopher West diz:

João Paulo lança um olhar animador sobre as estórias da criação. (...) Embora não
tenhamos uma experiência direta do estado de total inocência do primeiro homem e
da primeira mulher, o Papa afirma que em cada um de nós existe um “eco” do
começo. As experiências originais - diz ele - “estão sempre na raiz de toda
experiência humana (...). Encontram-se tão efetivamente entrelaçadas com as
coisas ordinárias da vida, que geralmente nos passa despercebido o seu caráter
extraordinário”. [01]

O homem é sozinho. Mas, não se trata tão somente de um estar sem mulher. Do versículo
“Não é bom que o homem esteja só.” (Gên 2,18), o Papa “extrai um sentido mais profundo”[02],
pois, segundo ele, “Adão nos representa a todos, (...) pois é a única criatura corpórea feita à
imagem e semelhança de Deus. Como homem, está sozinho no mundo visível como uma
pessoa”[03]. E continua dizendo que Adão “procurou uma auxiliar entre os animais e não a
encontrou”, porque era diferente. A diferença entre Adão e os animais aos quais nomeara é
l í lib d d “ ã éd t i d i ti ti id d ” O
que ele possuía a liberdade, uma vez que “não é determinado por sua instintividade”. Os
animais não possuem alma, por isso não têm também liberdade e, sem ela, são incapazes de
amar. São escravos de seus instintos.

O homem, por sua vez, reconhece na mulher - ossos dos seus ossos, carne de sua carne -
que não está mais só, pois completam-se mutuamente. Embora continuem ainda “sozinhos”
no mundo, no sentido de que suas almas anseiam por Deus, reconhecem-se um no outro.
West explica que Adão foi dotado de uma capacidade para amar, advinda da liberdade com
que Deus o dotou:

Em sua solidão, o primeiro homem percebe que sua origem, sua vocação e seu
destino é o amor. Percebe que, diferentemente dos animais, é convidado a entrar em
“aliança de amor” com o próprio Deus. É esta união de amor com Deus que, mais do
que qualquer outra coisa, define sua “solidão”. Ao experimentar esse amor, com todo
o seu ser anseia por partilhá-lo com outra pessoa igual a ele. (...) É na solidão,
portanto, que Adão descobre sua dupla vocação: amar a Deus e amar ao próximo.[04]

Esta solidão que “é algo espiritual, no entanto, é experimentada corporalmente. (...) E


podemos também dizer, [que] o corpo expressa a liberdade da pessoa, ou, pelo menos, para
isso é destinado.”[05] Assim, o homem é livre para dizer sim ou não ao convite feito.

Portanto, como o homem é “pessoa”, dotado de liberdade, capaz de amar, Deus o chama para
o amor, para amar, para relacionar-se. Ele é convidado a sair de si na direção do outro, pois é
isso precisamente o que o faz “pessoa”. Diz West que “a liberdade é concedida para amar. Ela
pode levar à destruição e à divisão, mas sua finalidade é dar vida e criar unidade.”[06]

Assim, a solidão originária que está no homem é uma marca que está em seu ser.

Não passará porque não existe mulher que possa saciar o seu coração, da mesma forma que
não existe homem que possa saciar o coração dela. Isso ocorre porque a solidão originária
do homem aponta para Deus.

Essa afirmação que pode ser observada por qualquer um que olhe para dentro de si mesmo,
encontra eco nas palavras de Santo Agostinho: “Criaste-nos para vós e o nosso coração está
inquieto enquanto não repousa em vós.” É por isso que a experiência da solidão originária
deve ser um trampolim para a comunhão e para o amor.

O homem é relação de comunhão e de amor, isso o define. Por isso Adão exclamou jubiloso
quando viu a mulher: “Desta vez sim, é osso dos meus ossos e carne da minha carne!”,
porque Deus fez a mulher da mesma natureza que a sua. Sendo assim, ambos são chamados
a estarem em comunhão. Christopher West explica que:
A criação da mulher a partir de um osso de Adão é uma forma figurada de expressar
que ambos, homem e mulher, participam da mesma humanidade. Ambos são
pessoas feitas à imagem de Deus. Ambos estão “sozinhos” no mundo, pois são
diferentes dos animais (solidão original); mas ambos são chamados a viver numa
aliança de amor. [07]

“Osso dos meus ossos e carne da minha carne” (Gn 2,23) pode ser considerada a primeira
poesia de amor. É um canto de amor. Mas, de que modo a mulher completa o homem? Como
se dá a comunhão entre ambos? A resposta pode até parecer estranha, mas é certo que
entre os seres humanos só há comunhão e encontro pessoal de fato quando duas solidões
se encontram sem pretender uma saciar a solidão do outro.

Comunhão é diferente da simples união, pois quando algo é “uno”, ele não está
necessariamente em comunhão com outra coisa, pois não existe relacionalidade com nada.
É é a partir dos dois necessários para que haja comunhão - sem que um queira “fagocitar” o
outro - que pode existir a “comunhão”. No entanto, nas relações interpessoais há uma
tendência doentia de dominação, em que um se torna objeto, coisa. West explica que :

O tornar-se “uma só carne”, (...), não consiste apenas na união de dois corpos (como
no caso de animais); é “uma expressão ‘sacramental’ que corresponde à comunhão
de pessoas”. Lembre-se aqui o que dissemos sobre a “sacramentalidade” do corpo.
Ele torna visível o mistério invisível de Deus, que é em si mesmo uma eterna
comunhão de Pessoas; de Deus que em si mesmo é amor. [08]

Portanto, o Papa JPII fala sobre a unidade originária, ou seja, de como a comunhão e a
solidão se completam mutuamente. Homem e mulher se tornam uma só carne quando se
unem e tal união não implica em que os dois corpos desapareçam. Pela observação direta
do corpo de um homem já se pode notar o quanto é incompleto e o modo pelo qual é
justamente o corpo da mulher que o completa.

O terceiro ponto é a nudez originária. O Papa João Paulo II, de maneira corajosa, ensina que
essa “é precisamente a chave para compreender o plano original de Deus para a vida
humana”.[09]

Deus procura pelo homem no Jardim, chama-o e, então, o homem responde: “Ouvi teu ruído
no jardim. Fiquei com medo, porque estava nu, e escondi-me.” (Gên 3,10) Ora, uma das
consequências do pecado original é justamente a percepção aguda da própria nudez como
algo negativo. Intuitivamente, o Papa João Paulo II diz, então, que a nudez originária não era
negativa, portanto, Deus criou o homem para viver nu.
Pode parecer espantoso, mas, diante disso, a conclusão é de que as roupa são usadas por
causa do pecado original. Por outro lado, já não é mais possível ao homem viver nu, como se
estivesse no paraíso. Não se trata de uma apologia ao naturalismo. Mas, é inegável que no
projeto original de Deus havia uma nudez e ela era inocente. Por quê? Diz o Papa que,
naquela realidade originária, a mulher não sentia necessidade de esconder o próprio corpo,
pois não havia perigo do homem tratá-la como objeto.

Tome essa experiência de medo (vergonha) diante de outra pessoa e, dando-lhe meia- volta,
chegamos à experiência da nudez de Adão e Eva sem sentirem a menor vergonha. A luxúria
(desejo sexual para satisfação própria) ainda não tinha penetrado no coração humano.
Daqui porque nossos primeiros pais não sentiram necessidade de autodefesa na presença
do outro, simplesmente por que o outro não representava nenhuma ameaça à sua
dignidade. Como se expressa poeticamente o Papa, eles “se olham e se conhecem” com toda
paz do olhar interior. Esse “olhar interior” indica não apenas a presença de um corpo, e sim
de um corpo que revela um mistério pessoal e espiritual. Eles viram o plano de amor de
Deus (teologia) como que gravado em seus corpos nus, e isto era exatamente o que
desejavam: amar como Deus ama, em e através de seus corpos. E não existe medo
(vergonha) no amor. “O perfeito amor lança fora o temor.” [10]

No projeto inicial de Deus também não havia a idolatria. Ora, o corpo humano é uma
imagem e, como tal, pode ser ícone ou ídolo. Ícone é uma janela que se abre para Deus. Para
Adão, o corpo de Eva era como que um ícone que o levava para o Infinito que é Deus.
Todavia, com o pecado original, a imagem que antes era ícone torna-se ídolo.

O ídolo é a imagem que toma o lugar de Deus. É uma realidade opaca, fechada, na qual o
homem deixa de olhar para Deus e se concentra somente na mulher. Na realidade
originária, o homem podia enxergar a mulher e ver que ela o levava para Deus. Hoje, por
causa do pecado original, essa visão se tornou muito difícil, mas grandes santos chegaram
nesse estágio.

Uma famosa história contida nos ditos Padres do Deserto conta que um grupo de monges
certa vez se deparou com uma prostituta no caminho. Viraram seus rostos para não verem a
nudez da mulher. Menos o monge mais santo. Este chorou e exclamou, olhando fixamente
para a mulher: “Vejam como Deus é grande. Vejam com que amor ele fez suas criaturas.”
Este é o Adão, este é o homem originário, esta é a nudez originária.

O corpo humano possui um significado esponsal, de união, em que já é aqui na Terra um


sacramento da união que o homem precisa ter com Deus e que terá, de fato, na eternidade.
Segundo o Papa:
A nudez sem envergonhar-se mostra que o primeiro casal participou da mesma
visão de Deus. Eles conheceram a sua bondade. Conheceram o glorioso plano de
amor traçado por Deus. Viram-no escrito em seus corpos e o experimentaram na
atração mútua. Com o surgimento do pecado, porém, perdemos essa gloriosa visão.
Mas não esqueça que “Jesus veio restaurar a criação na sua pureza original”. Claro,
isso só se completará no céu; no entanto, através da graça da redenção, podemos
i t i d t id d [11]
começar a conquistar ainda nesta vida o que se perdeu. [11]

O Gênesis fala do Apocalipse. O casamento de Adão e Eva fala do casamento de Deus com a
humanidade. O primeiro casamento aponta para o segundo e esta é a realidade da Teologia
do Corpo.

Referências

1. WEST, Christopher, “Teologia do Corpo para principiantes - Uma introdução básica à


revolução sexual por João Paulo II”, Editora Myrian, 2008, pág. 36

2. idem

3. ibidem

4. ibidem

5. ibidem

6. ibidem

7. ibidem

8. ibidem

9. ibidem

10. ibidem

11. ibidem

12. São João Paulo II, Teologia do Corpo - O amor humano no plano divino, Editora
Ecclesiae, 2014
Teologia do Corpo

Cristo apela ao coração humano


Por causa do pecado original, a sexualidade humana precisa ser redimida.
Em Jesus, o domínio soberbo sobre o corpo é quebrado por Sua entrega
sacrifical: “Isto é meu corpo, que é dado por vós". A escravidão do pecado é
transformada na liberdade do amor e é instituída uma nova ética: a do
coração.

No segundo ciclo de catequeses sobre a Teologia do Corpo, São João Paulo II fala sobre o
projeto da redenção para a sexualidade humana. Enquanto o primeiro ciclo estava voltado
para a Criação, o segundo olha mais atentamente para a Redenção.

Como ponto de partida para sua reflexão, o Papa recorre às palavras de Jesus: “Ouvistes que
foi dito: 'Não cometerás adultério'. Ora, eu vos digo: todo aquele que olhar para uma mulher
com o desejo de possuí-la, já cometeu adultério com ela em seu coração" (Mt 5, 27-28). Com
isso, Jesus traz um novo conceito de adultério. Não se trata mais, como no Antigo
Testamento, de simplesmente deitar-se com a mulher do próximo. Agora, um novo ethos é
posto, é instituída a ética do coração: não basta não praticar o ato externo pecaminoso; é
preciso amar, verdadeiramente.

Antes de entender como a sexualidade humana é redimida, é preciso olhar como está o
coração do homem após o pecado original. No diálogo entre a serpente e a mulher (cf. Gn 3,
1ss), que antecede a queda, Eva, ao invés de receber gratuitamente de Deus a participação
em Sua vida, procura apropriar-se desse dom, tomá-lo para si. A Escritura diz que “a mulher
viu que seria bom comer da árvore, pois era atraente para os olhos e desejável para obter
conhecimento. Colheu o fruto, comeu dele e o deu ao marido a seu lado, que também comeu"
(Gn 3, 6). A expressão grega utilizada pelo Autor Sagrado neste trecho é a mesma que Ele
usa para dizer que Cristo, “existindo em forma divina, não se apegou ao ser igual a Deus,
mas despojou-se, assumindo a forma de escravo e tornando-se semelhante ao ser humano"
(Fl 2, 6-7). A palavra “ἁρπαγμὸν" (lê-se: arpagmón) significa isto: uma realidade que foi
tomada, arrebatada com violência, algo de que se tomou posse.

O projeto de Deus para a humanidade era que esta fosse Sua esposa. É por isto que o diálogo
antes da queda acontece com a mulher: porque ela é, na relação conjugal, o polo passivo.
Eva representa a humanidade passiva diante de Deus, a humanidade que recebe d'Ele a
existência, a vida, a felicidade e todos os dons. Não se fala, por certo, de uma passividade
inerte, mas de uma “receptividade de comunhão". Como em uma valsa, em que a mulher é
conduzida pelo homem, mas responde sensivelmente aos seus movimentos, a humanidade
(na figura de Eva) foi chamada por Deus não só a receber o Seu amor, mas também a
respondê-lo.
A resposta da humanidade, no entanto, é a ingratidão do pecado. O homem, enganado pela
serpente e desacreditado do amor de Deus, passa a tratar Deus como um inimigo: “Quando
ouviram o ruído do Senhor Deus, que passeava pelo jardim à brisa da tarde, o homem e a
mulher esconderam-se do Senhor Deus no meio das árvores do jardim" (Gn 3, 8). A atitude
de Adão e Eva de ocultar-se é a postura de quem vê aproximar-se seu inimigo. Além da
desordem na relação com Deus, no entanto, o primeiro homem experimenta uma disfunção
também na forma como se relaciona com sua companheira: ele quer tratá-la como objeto,
quer usá-la para obter gratificação sexual. A mulher, em compensação, quer usar o homem
para obter gratificação emocional.

Então, a sexualidade precisa ser redimida, principalmente na vida matrimonial. Não é


porque uma pessoa se casa que ela está autorizada a usar seu cônjuge para sua satisfação
pessoal. Por isso, é preciso um caminho, uma mudança: da situação de desordem causada
pelo pecado original para a pureza de coração. Esse caminho é árduo, pois há uma malícia
no homem contra a qual ele deve lutar incessantemente, até atingir a pureza de coração,
sem a qual não veremos a Deus (cf. Mt 5, 8).

Nesse caminho, homens e mulheres devem tomar precauções mútuas. Estas devem cuidar-
se com relação ao seu corpo. Por conta do pecado, as mulheres tendem a querer tornar-se
objetos, em troca de compensação afetiva. Para mudar essa realidade, é preciso que ela
cultive a virtude da modéstia, cobrindo o seu corpo com um véu, não por ele ser mau ou
impuro, mas justamente por ele ser santo. Os homens, por sua vez, devem refrear a paixão
desordenada – que não é instinto natural – de tratar sua companheira como objeto de seu
domínio. Para isso, é importante que ele tenha sempre em mente a sua alma. Também é
importante que o homem vigie o seu olhar. Pela culpa original, o homem é um voyeur, seu
prazer está em ver. Não sem razão a pornografia, que é uma “escravidão do olhar", é um
pecado eminentemente masculino.

Por fim, tanto o homem quanto a mulher devem ser testemunhas do primado de Deus em
suas vidas. A relação desordenada entre eles, baseada no modelo senhor e escravo, somente
será superada quando existir para os dois um senhor de verdade, que é Deus.

Mas, como fazer isso, se o homem sente medo de Deus? “E a Palavra se fez carne e veio
morar entre nós" (Jo 1, 14). Com a sua vida, Cristo proclama:

“Não acreditas que Deus te ama? Permite-me então mostrar-te quanto Deus te ama.
Não acreditas que Deus é dom? Isto é meu corpo, que é dado por vós (cf. Lc 22, 19).
Pensas que Deus deseja privar-te da vida? Derramarei meu sangue até a última gota,
a fim de que o sangue da minha vida te dê a vida em abundância (cf. Jo 10, 10).
Pensavas que Deus era um tirano, um senhor de escravos? Vou tomar a forma de
escravo (cf. Fil 2, 7) e me colocar 'sob teu domínio' para mostrar-te que Deus não
deseja 'dominar-te' (cf. Mt 20, 28). Pensavas que Deus te açoitaria, se lhes desses
oportunidade? Quero deixar-me açoitar por ti, para mostrar-te que Deus não tem a
i t ã d t it Nã i t d t l ( f J 3
menor intenção de te açoitar. Não vim para te condenar, mas para te salvar (cf. Jo 3,
17). Não vim para te escravizar, mas para te libertar (cf. Gl 5, 1). Deixa de lado a tua
incredulidade. Arrepende-te e crê na boa nova (cf. Mc 1, 15)." [1]

Dentro da Redenção, está a chave para a liberdade e ela se chama “amor". Enquanto o
Antigo Testamento nos deu a Lei, Jesus Cristo trouxe-nos o amor, por meio do qual os
mandamentos deixam de ser um fardo. Quem se entregou voluntariamente por amor não vê
dificuldades em cumprir leis ordenando que não se ofenda o objeto amado, já que a última
coisa que o ser amante quer é ver aquele que ama ofendido.

Se nós amarmos, se respondermos ao amor de Deus com generosidade, isso nos tornará
livres, porque não somente estaremos cumprindo o Decálogo, mas também daremos um
passo a mais, convertendo o nosso coração ao amor de Deus e tornando-nos livres. No amor,
deixamos de ser escravos. E é para esta liberdade que Cristo nos libertou (cf. Gl 5, 1).

Bibliografia

WEST, Christopher. Teologia do Corpo para principiantes - Uma introdução básica à


revolução sexual por João Paulo II. Porto Alegre: Editora Myrian, 2008. p. 58

São João Paulo II, Teologia do Corpo - O amor humano no plano divino, Editora
Ecclesiae, 2014
Teologia do Corpo

O matrimônio eterno de Deus com a


humanidade
O casamento entre o homem e a mulher constitui como que um sinal, uma
flecha a apontar para outro matrimônio, perfeito e eterno, que é a união entre
Deus e a humanidade.

No fim dos tempos, quando acontecer o banquete das núpcias do Cordeiro,


a "solidão originária" do ser humano será plenamente saciada, com a
participação de todo o seu ser, corpo e alma, na natureza divina.

Esse é o tema da aula de nosso curso sobre a "Teologia do Corpo", do Papa


São João Paulo II.

São João Paulo II, de modo inovador, compara a exposição dos três primeiros ciclos de
catequese da Teologia do Corpo a um tríptico[01]. Nesta analogia, o primeiro painel traz a
seguinte frase de Nosso Senhor Jesus Cristo: “Mas não foi assim desde o princípio" (Mt 19,3).

O segundo mostra o homem depois do cometimento do pecado original. “Todo aquele que
olhar para uma mulher com o desejo de possuí-la, já cometeu adultério com ela em seu
coração." (Mt 5, 27-28).

Finalmente o terceiro e mais importante quadro, fala sobre a finalidade do homem. Partindo
da controvérsia de Jesus com os saduceus em Marcos, capítulo 12, extrai a seguinte frase:
“Acaso não estais errados, porque não compreendeis as Escrituras e nem o Poder de Deus?".

O tríptico, portanto, apresenta o homem antes do pecado, durante o estado de pecado e,


finalmente, como se tornará depois da ressurreição.

Para se definir algo, a melhor maneira é apresentar a sua finalidade. Pois bem, diante desse
tríptico e do que ele apresenta, não resta dúvida de que a finalidade dos corpos é a
ressurreição. O homem foi criado para o Céu, para contemplar Deus face a face.

É por isso que a história da humanidade se inicia com um casamento: o de Adão e Eva no
Paraíso. Este casamento é como que um sinal, uma flecha que aponta para um outro
matrimônio, dessa vez narrado no Apocalipse: o casamento de Deus com a humanidade, as
núpcias do Cordeiro. Deixando a linguagem metafórica de lado, temos claro que a finalidade
do homem é a sua participação plena na natureza divina.
Sabemos que isso é possível porque em Nosso Senhor Jesus Cristo, na união hipostática, o
casamento entre Deus e a humanidade já aconteceu. É por isso também que só se pode
pensar em ressurreição do corpo e da alma. Ambos participarão da natureza divina. Por
Cristo, com Cristo e em Cristo o homem será introduzido na felicidade de Deus, como um
ser humano completo.

Christopher West, no livro que serve de apoio para este curso, cita um outro filósofo católico
americano chamado Peter Kreeft que, em sua obra “Tudo que você sempre quis saber a
respeito do Céu" (sem tradução em português) afirmou que “Platão estava equivocado
quando achou que o corpo aprisiona a alma". Para Kreeft é exatamente o contrário: uma
alma sem corpo é muitíssimo limitada e assim, a não ser Jesus Cristo e a Virgem Maria que
já estão ressuscitados, o santos estão num estado de anormalidade. Suas almas estão no
céu, é verdade, mas como não ressuscitaram inteiramente ainda estão num estado anormal,
incompleto.

Kreeft usa a palavra “obscenidade" para se referir a um corpo sem alma ou vice-versa. Isso
explica porque o homem tem medo de fantasmas e de cadáveres: não porque eles possam
fazer algum mal, mas porque são uma “aberração".

Assim, quando um santo “aparece" por permissão divina, é preciso considerar que houve
algo de absolutamente extraordinário, um milagre, pelo simples fato de que a alma precisa
do corpo para se expressar.

A alma sobrevive após a morte do corpo físico, isso é dado pela observação filosófica, mas
corroborado pela revelação e tradição da Igreja. E as almas dos santos estão no céu, junto de
Deus, por isso podem amar e interceder pela humanidade. Trata-se da comunhão dos
santos. Todavia, estão numa situação anormal, até mesmo aberrante. Eles esperam pela
ressurreição de seus corpos para se tornarem plenos.

Quando os corpos ressuscitarem para a glória eterna não só estarão restaurados em seus
aspectos físicos, mas também em relação à sua sexualidade: ressuscitarão virginais. Pelo
simples fato de que foi assim que Deus os criou, assim é a sua plenitude. Da mesma forma
ressuscitarão homem ou mulher.

A plenitude da ressurreição implica também que não haverá, no céu, mais sexo enquanto
relação. Não haverá mais casamento, como hoje é concebido, pois ele nada mais é do que
um sinal (um sacramento) que aponta para uma realidade futura que, obviamente, estará
consumada.

Não haverá igualmente necessidade de roupas para cobrir os corpos. Se hoje as temos é por
consequência do pecado, conforme visto nas aulas anteriores. No céu, como São João narra
em Apocalipse, os eleitos estarão “vestidos de sol"(12,1), ou seja, revestidos pela glória de
Deus. Terão sido lavados pelo sangue do Cordeiro. As vestes serão brancas, como disse o
evangelista, pois é a glória de Deus adquirida para a humanidade pelo sangue de Cristo
derramado na cruz. Ele que foi crucificado de forma vergonhosa, desnudado de modo
i f t l it A i ã d t t t á iã d d
infame agora reveste os eleitos. A ressurreição dos mortos, portanto, será a união de cada
um com Deus, com Cristo no céu.

Mas, não só isso. Será também a união entre os homens. A humanidade se unirá ao Corpo
de cristo, na comunhão dos santos, na glória da Igreja, na Jerusalém celeste. São João
descreve esta realidade quando fala da cidade que não precisa de sol nem de lua, pois a sua
luz é a glória do cordeiro. É isto que espera o homem no céu.

Quando finalmente acontecer a união com Cristo no céu, a solidão originária, apontada por
João Paulo II será plenamente saciada. Deixará de existir. Também a realidade matrimonial
iniciada aqui na terra encontrará sua completa realização nas núpcias do Cordeiro, ou seja,
da humanidade redimida e, enfim, unida ao Seu Esposo.

Eis a beleza do tríptico.

Nota

Tríptico: obra de pintura, desenho ou escultura constituída por três painéis: um central
e xo, e dois laterais dobráveis que podem se fechar cobrindo completamente o
painel central.

Bibliografia

São João Paulo II, Teologia do Corpo - O amor humano no plano divino, Editora
Ecclesiae, 2014
Teologia do Corpo

O celibato por amor ao reino dos céus


Os três primeiros ciclos de catequeses de São João Paulo visam responder
à pergunta: O que é a sexualidade humana? Neste quarto ciclo que se inicia,
surge uma outra questão: Como viver a sexualidade?

Os três primeiros ciclos de catequeses de São João Paulo visam responder à pergunta: O que
é a sexualidade humana? Neste quarto ciclo que se inicia, surge uma outra questão: Como
viver a sexualidade?

O Papa continua a leitura do capítulo 19 de Mateus, iniciada no primeiro painel do tríptico.


Ao ser questionado por fariseus, que O queriam por à prova, Jesus responde, mas sua
resposta suscita uma reação nos discípulos e enseja outra resposta do Mestre:

Seus discípulos disseram-lhe: Se tal é a condição do homem a respeito da mulher, é


melhor não se casar! Respondeu ele: Nem todos são capazes de compreender o
sentido desta palavra, mas somente aqueles a quem foi dado. Porque há eunucos
que o são desde o ventre de suas mães, há eunucos tornados tais pelas mãos dos
homens e há eunucos que a si mesmos se fizeram eunucos por amor do Reino dos
céus. Quem puder compreender, compreenda.[01]

É justamente a resposta de Jesus que o Papa usa para iniciar esse quarto ciclo, em que
abordará a questão da vocação do ser humano. Ele diz que “a revelação cristã reconhece
duas formas específicas de realização completa da vocação do amor do ser humano:
matrimônio e virgindade ou celibato”[02]. E continua dizendo que “tanto uma quanto a outra,
em sua forma própria, representa a realização da verdade mais profunda a respeito de o
homem ter sido criado à imagem de Deus”[03]. Neste primeiro momento, abordará o
celibato.

Existem homens, como bem frisou Nosso Senhor Jesus Cristo, que são fisicamente
incapazes de ter relações sexuais: os “eunucos”. E Ele diz que estão divididos em três
categorias: a primeira, daqueles acometidos por um problema genético - nasceram assim; a
segunda, daqueles que foram castrados (antigamente era comum um rei mandar castrar o
escravo escolhido para cuidar das esposas reais) e, por fim, a terceira, daqueles que assim
se fizeram por causa dos Reino dos Céus.

O celibato por amor a Deus ilumina de forma extraordinária o matrimônio, pois recorda aos
esposos que a finalidade de cada um é a vida eterna, o casamento eterno com Deus. Juntos,
o casal deve caminhar rumo ao seu objetivo, sem colocar um no outro a razão da felicidade,
pois isso seria destruidor para ambos. O sacerdote, por sua vez, à luz do matrimônio, deve se
recordar que está despojado de si mesmo em função do outro, como um esposo deve ser.

Por isso o celibato é uma grande riqueza da Igreja e aboli-lo seria, de certa forma, destruir o
matrimônio, pois é ele que lança luz e recorda a verdadeira finalidade do ser humano:
contemplar Deus face a face.

É bom lembrar que foi num mundo pagão que o celibato cristão surgiu. Os primeiros
celibatários eram vistos como pessoas pervertidas e foram acusados de inúmeras
depravações. Na medida, porém, que o mundo foi sendo convertido, também o celibato foi
sendo entendido como dom de Deus. Portanto, ter fé é um pré-requisito para se entender a
sua grandeza. Daí a importância do Anúncio: é preciso que as pessoas sejam convertidas
para compreenderem.

O celibato possui três características muito importantes que lhe dão o sentido e a eficácia: 1.
ele é livre; 2. ele é sobrenatural; 3. ele é místico. Todas elas demandam uma profunda vida
espiritual, sem a qual perde toda a sua razão de ser e pode se tornar até mesmo fonte de
doença psicológica, afetiva e espiritual.

A liberdade é a primeira característica do celibato. Ora, na Igreja existem dois tipos de


pessoas: aquelas que tem a vocação divina para o matrimônio e aquelas que tem a vocação
divina para o celibato. O que existe no mundo hoje é uma crise de ambas as vocações. Se
faltam vocações sacerdotais, faltam também matrimoniais. Há uma escassez visível de
homens vocacionados para o casamento, para serem pais de família, esposos fiéis.

A solução para as duas crises não é abolir o celibato dos padres, mas fazer com que todos
vivam suas próprias vocações de maneira plena. Sendo Igreja de modo coerente, pois uma
comunidade tem tantas vocações quanto a sua conversão merece. Uma comunidade não
convertida não tem vocações.

Por isso, quanto antes a mentalidade mundana for deixada de lado mais vocações
florescerão. Anunciar o Evangelho, pensar nas coisas do céu, amar Jesus, cuidar dos pobres,
viver a fé, tudo isso haverá de contribuir para novas e verdadeiras vocações, tanto
matrimoniais quanto sacerdotais.

A Igreja, por sua vez, chama ao sacerdócio os jovens que possuem vocação para o celibato. É
a primeira vocação. Quando um jovem se decide a Igreja o separa e o direciona para a

posição correta. Uns podem se tornar monges, outros religiosos, outros sacerdotes.

A vocação ao celibato, portanto, precede a vocação sacerdotal, pois na primeira a escolha é


livre e pessoal, já na segunda depende de um chamado da Igreja. Ninguém tem direito de
ser ordenado padre.
Por ser livre, o celibato é também sobrenatural. Por isso, ele é totalmente incompreensível
para aqueles que não têm fé. Esse é um dos fatores da crise atual. Não crer na ação de Deus,
em sua presença, em seu poder de transformar e capacitar o ser humano para o voo rumo ao
céu, faz com que não se creia igualmente na possibilidade da vivência do celibato.

O celibato tem a ver com a vida espiritual, por isso não é possível que um padre, uma
religiosa, um religioso viva sem oração, sem muita oração. Mesmo com uma vida apostólica
é preciso ter oração, até para ter algo a oferecer aos irmãos. Não é possível viver o celibato
sem a graça do Espírito Santo.

Os grandes santos e doutores da Igreja concordam que na vida espiritual existem ao menos
três grandes fases: a purgativa, a iluminativa e a unitiva. [04] A primeira é quando a pessoa
deixa para trás os grandes pecados, os mortais. Depois de muita penitência e oração, ela
entra na segunda fase, mais próxima de Deus e, por fim, a terceira, quando está quase que
totalmente configurada a Cristo.

Os mesmos santos atestam que na fase iluminativa a sexualidade é vivida de forma mais
serena. Os problemas das outras fases são superados, embora sempre exista a tentação e a
possibilidade real de se cometer o pecado. No entanto, para eles é claro que a pessoa passa a
viver a própria sexualidade de forma mais pacífica e que até mesmo as manifestações
físicas se arrefecem.

Os seminários foram criados justamente para fazer com que aqueles com vocação divina
para o celibato passem pela via purgativa e adentrem à iluminativa, já com a sexualidade
ordenada para a vida sacerdotal.

Diante da profundidade das três características, pode-se compreender também que o


problema da pedofilia não está no celibato, mas que reside na sexualidade desordenada, não
purificada, tanto do celibatário quanto do casado. Abolir o celibato, portanto, não é a solução
para a pedofilia, mas sim, a cura da sexualidade por meio de um aprofundamento na vida
espiritual, na via purgativa.

Assim, a luta do celibatário vivendo uma vida ascética e mística deve ser uma luz que
ilumina o esposo e o estimula a viver também de forma plena o seu próprio chamado.

Referências

1. Evangelho de São Mateus 19, 12

2. WEST, Christopher, Teologia do Corpo para principiantes: Uma introdução básica à


revolução sexual por João Paulo II, Ed. Myrian, Porto Alegre, 2008, pag. 79-89.

3. idem
4. Santa Teresa de Jesus, São João da Cruz, Santo Tomás de Aquino.

Bibliografia

São João Paulo II, Teologia do Corpo - O amor humano no plano divino, Editora
Ecclesiae, 2014
Teologia do Corpo

O sacramento primordial
A compreensão da grandeza do Matrimônio que passa pelo entendimento
do que é a controversa “submissão da esposa ao marido” ensinada por São
Paulo.

O quinto ciclo de catequeses de São João Paulo é essencial para a Teologia do Corpo porque
aborda justamente o sacramento do Matrimônio cristão.

Muitos estranharam o fato de que a questão do celibato tenha vindo primeiro. É simples: a
doação de si mesmo por amor ao reino dos Céus, sinaliza que a humanidade tem por
finalidade um outro casamento, o qual será vivido na eternidade: o casamento entre Cristo e
a Igreja, que o Livro do Apocalipse chama de “as núpcias do Cordeiro”.

Todavia, o matrimônio não é entendido como sendo um sacramento por todos. A


denominação luterana, por exemplo, alega que, como os sacramentos são sinais instituídos
por Nosso Senhor Jesus, o matrimônio não se encaixaria neles pelo simples fato de existir
antes da Encarnação, ou seja, não foi instituído por Cristo. Os católicos, porém, crêem que o
matrimônio natural (de fato, anterior ao advento do Senhor) foi elevado por Deus à condição
de sacramento. São João Paulo escolheu como fundamento bíblico para esta afirmação o
texto da Carta de São Paulo aos Efésios 5, 21 e seguintes:

Sejam submissos uns aos outros no temor a Cristo. Mulheres, sejam submissas a
seus maridos, como ao Senhor. De fato, o marido é a cabeça da sua esposa, assim
como Cristo, salvador do Corpo, é a cabeça da Igreja. E assim como a Igreja está
submissa a Cristo, assim também as mulheres sejam submissas em tudo a seus
maridos. Maridos, amem suas mulheres, como Cristo amou a Igreja e se entregou
por ela; assim, ele a purificou com o banho de água e a santificou pela Palavra,para
apresentar a si mesmo uma Igreja gloriosa, sem mancha nem ruga ou qualquer
outro defeito, mas santa e imaculada. Portanto, os maridos devem amar suas
mulheres como a seus próprios corpos. Quem ama sua mulher, está amando a si
mesmo. Ninguém odeia a sua própria carne; pelo contrário, a nutre e dela cuida,
como Cristo faz com a igreja, porque somos membros do corpo dele. Por isso, o
homem deixará seu pai e sua mãe e se unirá à sua mulher, e os dois serão uma só
carne. Esse mistério é grande: eu me refiro a Cristo e à Igreja. Portanto, cada um de
vocês ame a sua mulher como a si mesmo, e a mulher respeite o seu marido. (Ef 5,
21-33)
São Paulo descreve o relacionamento de um casal, homem e mulher, esposo e esposa,
porém, no final, afirmará que aquela descrição, na verdade, refere-se a Cristo e à Igreja.

A palavra mistério, em latim, quer dizer “sacramento” e é justamente o uso deslocado dessa
palavra que possibilita ao Papa João Paulo II afirmar que o matrimônio é um sacramento
primordial, ou seja, quando se diz que homem e mulher se tornarão uma só carne (desde o
Gênesis, há que se contar), na verdade, se está também falando do relacionamento entre
Cristo e a Igreja, quando todos serão um só corpo. Passa-se da ordem natural para a ordem
sobrenatural.

Portanto, a partir de Cristo, o matrimônio entre dois batizados passa a ter um caráter
sacramental, pois eles recebem da Cruz - de onde brotam todas as graças - a graça
santificante que faz com que possam ser doação mútua, e a fidelidade dos dois reflete a
fidelidade de Cristo e da Igreja

A compreensão deste capítulo de Efésios passa também pelo entendimento do que significa
a submissão da mulher, mencionada pelo Apóstolo. Hoje em dia, o movimento feminista
vem acusando a instituição do matrimônio como sendo a escravidão da mulher. Alega que a
esposa seria a escrava sexual do esposo e que estaria contra a sua vontade, sob o jugo do
marido. Mas, é isto que a passagem que está dizendo?

O versículo 21 afirma: “Sedes submissos uns aos outros no temor a Cristo”. O Papa João
Paulo II aponta para um aspecto fundamental na compreensão do que significa
“submissão”. No Antigo Testamento e em hebraico, quando se fala dos sete dons do Espírito
Santo, na verdade, esses dons são seis. Isso ocorre porque a palavra “temor” aparece com
dois significados diferentes. Piedade e temor, essas são as traduções usadas e, alerta o Papa,
na hebraica, existe realmente o aspecto de piedade dentro do conceito de temor.

Ora, dentro da família, a instituição familiar como tal, exige uma certa submissão mútua
das pessoas sob a virtude da piedade (que é um aspecto do temor do Senhor). O
mandamento do amor universal está em pleno vigor, ou seja, é preciso amar a todos os
homens. Em relação às pessoas da própria família é preciso mais do que o amor caritas, é
necessário a virtude da piedade, que consiste no reconhecimento do vínculo espiritual
existente na família. As pessoas, então, passam a amar não somente pelas razões naturais,
mas por uma razão sobrenatural, que é Cristo.

Quanto à submissão da mulher ao marido que aparece também em outras Cartas de São
Paulo, é preciso fazer uma distinção entre a ordem natural e a sobrenatural, como ela seria

sem o pecado original e como se tornou após o pecado. Para tanto é preciso adentrar no
campo da política.

Os grandes filósofos antigos Platão e Aristóteles, afirmam que existem três formas de se
governar: monarquia (o governo de um), aristocracia (o governo de uma classe de pessoas
nobres) e a democracia (o governo de todos). Eles se questionaram qual seria a melhor
forma. Talvez, influenciados pelo tempo presente, alguns ousariam responder que é a
democracia, no entanto, os filósofos apontaram para outro regime.

Disseram que, numa sociedade de pessoas virtuosas, o melhor governo, de fato, é a


monarquia. Nesse caso, porém, a virtude seria um requisito e, existindo, esse grupo de
pessoas virtuosas, naturalmente haveria de procurar alguém ainda mais virtuoso que as
governasse. E assim se daria o regime ideal.

Contudo, existe um problema apontado pelos filósofos e também por Santo Tomás de
Aquino em seu Comentário à Política de Aristóteles: numa sociedade pervertida (sem
pessoas virtuosas), a monarquia se transforma rapidamente em tirania.

Portanto, na atual circunstância da socidade, não virtuosa, o melhor regime é mesmo a


democracia. Como as pessoas são pecadoras, este regime faz com que um pecador limite o
outro e, assim, ninguém prevalece. De todos os regimes ruins, a democracia é o menos pior.

Pensando na realidade da família, Jesus fala sobre um exercício da autoridade


completamente diferente daquele que é o exercício dos pagãos, não convertidos. Quando
Ele fala sobre a autoridade diz: “Entre vós não será assim, o primeiro seja o servidor de
todos”. Esta é a forma de se exercer a autoridade para Cristo: servindo.

Nesse sentido, ao marido se diz: “amai vossas mulheres…” ele é chamado a derramar seu
sangue por ela e pelos filhos como Cristo derramou o Seu pela Igreja. A forma de se exercer
a autoridade dentro da família, como se apresenta na Carta aos Efésios, dentro do contexto
geral do exercício de autoridade no cristianismo é completamente diferente daquilo que
seria uma tirania dos maridos sobre as mulheres.

Não se trata, é claro, de defender que o marido é o líder, chefe, o cabeça da família a qualquer
preço e sob qualquer circunstância. Não. Assim como Santo Tomás admite que a monarquia
é o projeto de Deus, mas não em qualquer situação, assim também acontece na realidade
familiar. Deveria haver uma submissão da esposa ao marido, se este fosse realmente
virtuoso. Isso tem um fundamento teológico e também natural.

Infelizmente, a inegável superioridade física do homem que deveria ser para protegê-la, ser
um serviço, tornou-se uma tirania por causa do pecado original. Desse modo, o marido
passou a exercer um despotismo sobre a mulher e os filhos que não tem fundamento na
realidade das coisas. O esposo é, de fato, a cabeça da família, mas isso não é uma realidade
absoluta, ela só se explica de estiver dentro da virtude. Portanto, a mulher e os filhos devem

ser submissos ao marido, se este der a vida por ela e pelos filhos, como Cristo deu a vida
Dele pela Igreja. Este é o sentido da submissão.

São João Paulo dá um passo além quando ousa chamar o sacramento do matrimônio de
primordial. Quando era jovem, antes mesmo de entrar no seminário, conheceu um leigo, um
místico e que considerava como sendo um verdadeiro santo e foi apresentado ao
pensamento de São João da Cruz. O jovem Karol chegou a aprender espanhol para poder
estudar o grande santo carmelita que compara a alma com a esposa e Deus com o esposo,
ou seja, fala sobre o amor esponsal.

São João da Cruz aponta para uma intuição básica e fundamental: o amor, para o
cristianismo, é um dom de si, ou seja, a doação de si mesmo é que constitui o amor. A partir
disso é que se vê o fundamento do que será o matrimônio: o casal irá se doar mutuamente.
Ora, se o amor é dom de si e se Deus é amor, o que se percebe é que na Trindade essa doação
mútua também existe. No plano natural, o matrimônio, no sobrenatural, a Trindade. Assim,
o amor trinitário se encontra refletido na realidade do casal.

O homem é imagem de Deus não somente de forma individual, mas também o casal o é.
Este é o fundamento do matrimônio como sendo um verdadeiro sacramento.

Não somente a doação dos esposos, mas a prole, a realidade familiar, tudo contribui para
São Paulo dizer: “é grande esse mistério”, que Deus realiza nos céus, desde todos os tempos
e que criou um reflexo na Terra, um vestígio da Trindade no casal que se ama. Portanto, a
doação mútua, como ensina São João Paulo, é um grande trampolim para a espiritualidade. 

Bibliografia

São João Paulo II, Teologia do Corpo - O amor humano no plano divino, Editora
Ecclesiae, 2014
Teologia do Corpo

Amar é tudo dar


“Aimer c´est tout donner”, amar é tudo dar. Esta é a chave de leitura do
matrimônio apresentada por São João Paulo. A entrega recíproca dos
esposos, tendo como modelo Cristo que deu a si mesmo pela Igreja, é a
linguagem acertada do amor e só nela pode alcançar a plenitude.

O conteúdo do quinto ciclo de catequeses de São João Paulo a respeito da Teologia do Corpo
é bastante denso e aborda a sacramentalidade do Matrimônio.

A chave de leitura utilizada pelo Papa é a do personalismo, mas isso não significa que ele
tenha rejeitado a tomista; ele apenas optou por uma que fosse mais fácil para o homem
moderno compreender.

O personalismo é uma filosofia que enfatiza sobretudo a questão da relacionalidade.


Portanto, dentro da perspectiva personalista, o corpo humano é apresentado por São João
Paulo como um dom.

Monsenhor Pascal Ide, especialista em Teologia do Corpo, escreveu a obra “Dans il


Theologie du Corp”, em que afirma que se fosse possível resumir a apresentação de João
Paulo II em uma frase, esta seria: o dom é a verdade essencial do corpo.

Tal perspectiva não é nova, ela remete ao triângulo de São João da Cruz demonstrado na
aula passada: o ser humano é dom porque dom é amor e amor é dom. De forma sintética, a
visão de São João da cruz sobre esse tema está bem definida num escrito de uma outra
discípula dele: Santa Terezinha do Menino Jesus e da Sagrada Face.

Em sua célebre poesia “Pourquoi je t´aime, ô Marie” (porque eu vos amo o Maria), ela profere
a frase lapidar: “Aimer c´est tout donner et se donner soi-même” (amar é tudo dar e dar-se a
si mesmo). Dar a si mesmo, não de forma limitada, com reservas, não! é dar tudo que se tem,
inclusive a si mesmo. Isto expressa de forma extraordinária a verdade sobre corpo humano,
é preciso haver a doação mútua. Justamente por isso o Papa fala sobre a linguagem do
corpo.

Pois bem, o corpo fala e o que ele está dizendo? Para saber é preciso observar o Rito do
Matrimônio e as palavras do consentimento matrimonial esclarecem o que é o matrimônio.
Nas palavras do matrimônio eles se recebem, ou seja, há uma doação total entre o marido e
a esposa.

O Código de Direito Canônico fala de um comunhão para toda a vida. Por isso, toda relação
sexual deveria acontecer dentro dessa linguagem matrimonial para não ser um ato
mentiroso. Ora, numa relação sexual um corpo diz ao outro: “sou todo seu”, no entanto,
numa relação fora do matrimônio isso é uma mentira, pois, ao final, cada um vai para o seu
canto. Na mesma linha, os anticoncepcionais impedem que o casal se una numa realidade
eterna chamada filho. Como é possível haver verdade nisso?

A linguagem do corpo tem sua chave de leitura no sacramento do matrimônio enquanto tal.
Dentro disso, João Paulo II parte para dois textos bíblicos fundamentais: um do livro de
Oseias e outro de Tobias.

No Antigo Testamento, a função dos profetas era combater os falsos deuses, levando o povo
a afastar-se da idolatria. Para tanto, utilizavam justamente a linguagem matrimonial. Em
Oseias, capítulo 1 e seguintes, é apresentado o casamento do profeta com uma prostituta e a
sua fidelidade a ela, mesmo ela continuando a exercer seu ofício. Pois bem, esta fidelidade
remete à fidelidade de Deus. Ele é o esposo fiel de uma esposa prostituída, Israel.

Ora, a linguagem profética do Antigo Testamento será elevada a sacramento no Novo


Testamento . A linguagem do corpo expressa no sacramento do matrimônio a fidelidade de
Cristo à Igreja. Dentro disso, o Papa João Paulo apresente o segundo texto basilar que está
no livro do Cântico dos Cânticos no capítulo 4, versículo 12: “és um jardim fechado, minha
irmã e esposa. jardim fechado e fonte lacrada”.

Pode parecer estranho que um marido chame a esposa de irmã, no entanto, isso pode ser
muito libertador para a mulher porque, de fato, ambos são iguais em dignidade. As
mulheres se sentem bem como essa afirmação, mas os homens não se sentem à vontade,
pois remete a algo incestuoso.

Contudo, segundo o santo, é justamente a ideia de irmandade que liberta, porque o homem
enquanto tal, por causa do pecado original, tem a tendência de tratar a mulher não como
irmã, mas como sendo um objeto. Por isso é compreensível que o homem sinta dificuldade
em sentir luxúria pela sua irmã, mas o segredo está aqui, pois o desejo sexual sadio do
esposo pela esposa não pode ser luxúria. Trata-se de doação mútua por isso a mulher não
pode ser objeto. No jardim secreto da esposa o homem só pode entrar com consentimento
dela. Ela deve se doar.

Isso contradiz frontalmente toda a visão feminista que olha para o matrimônio como sendo
um campo de concentração. Não é. A realização do homem e da mulher está na mútua
entrega um do outro: “Aimer c´est tout donner”, dar tudo e dar a si mesmo. A entrega é livre,

por isso não é estupro. O ato conjugal faz com que a mulher, mesmo depois de casada,
permaneça sempre um jardim fechado, hortus conclusus, pois permite o acesso na sua
doação, na sua entrega, nada lhe é tirado, não é objeto de violência, mas permanece senhora
de si para se doar.

O outro texto abordado por são João Paulo II está no livro de Tobias que mostra o quanto o
matrimônio se torna uma linguagem também de vida e de morte. Referido livro apresenta
uma realidade dramática de Sara, que já tinha tido vários maridos, os quais morriam na
noite de núpcias pelas mãos do demônio Asmodeu. A situação era tão dramática que na
noite do casamento, o sogro de Tobias, pai de Sara, abriu uma cova para enterrá-lo. 

Tobias sabia do perigo que o esperava e mesmo assim dispôs-se a entregar-se. Junto com
Sara - “sua irmã” - levantam-se e fazem uma beracá ao Senhor e em seguida uma
recordação das benesses do Senhor. E Tobias diz não é por luxúria que ele se casa, mas por
reta intenção. É isso que o livra da morte (do demônio). Ele se dispõe a morrer, como Cristo
morreu pela Igreja.

Os outros tinham saído e fechado a porta do quarto. Tobias levantou-se e disse a


Sara: "Levante-se, minha irmã! Vamos rezar e suplicar ao Senhor que nos conceda
misericórdia e salvação". Então ela se levantou, e os dois começaram a rezar,
pedindo que Deus os protegesse. Eles diziam: "Bendito sejas tu, Deus de nossos
antepassados, e bendito seja o teu Nome para todo o sempre! Que o céu e tuas
criaturas todas te bendigam para todo o sempre. Tu criaste Adão e, como ajuda e
apoio, criaste Eva, sua mulher, e dos dois nasceu a raça humana. Tu mesmo disseste:
'Não é bom que o homem fique só. Façamos para ele uma auxiliar que lhe seja
semelhante'. Se eu me caso com minha prima, não é para satisfazer minha paixão.
Eu me caso com reta intenção. Por favor, tem piedade de mim e dela e faze que
juntos cheguemos à velhice". E os dois disseram juntos: "Amém! Amém!" Depois
dormiram a noite inteira. (Tb 8, 4-10)

A linguagem do amor apresentada por João Paulo II em sua Teologia do Corpo, portanto, é a
doação inteira e irrestrita de si mesmo em favor do outro. “Aimer c´est tout donner”.

Bibliografia

São João Paulo II, Teologia do Corpo - O amor humano no plano divino, Editora
Ecclesiae, 2014
Teologia do Corpo

A linguagem da fecundidade
O amor ordenado entre o casal deve ser pautado também pela abertura à
fecundidade. A Igreja oferece os meios lícitos e eficientes para fazer a
vontade do Senhor. Saiba por que uma família numerosa estava no projeto
original de Deus, nesta última aula do curso de Teologia do Corpo.

O sexto e último ciclo de catequeses do Papa João Paulo II a respeito da Teologia do Corpo
consiste na reflexão sobre a fecundidade do matrimônio.

A Encíclica Humanae Vitae sobre a regulação da natalidade, escrita pelo Papa Paulo VI e
publicada em 1968, não foi bem acolhida, mesmo sendo um precioso dom de Deus. A
mentalidade do mundo naquela época estava voltada para a contracepção, pois havia em
andamento uma revolução sexual. A partir daquela revolução foram confrontadas duas
visões da sexualidade: uma concebida pelo Criador e pelo direito natural, e outra que surge
de uma invenção humana.

O Papa Paulo VI insistiu sobremaneira na união entre o caráter procriativo e o unitivo do ato
sexual. Para ele, a abertura para a fecundidade é o que permite que a união entre o casal
aconteça realmente, pois não há um rompimento com verdade do ato conjugal.

Na aula anterior, vimos que o corpo possui uma linguagem e a do ato é justamente a de
querer entregar-se completamente: “Aimer c´est tout donner et se donner soi-même" (amar
é tudo dar e dar-se a si mesmo), conforme ensinou Santa Terezinha do Menino Jesus. E não
existe maior união entre um homem e uma mulher que a concepção de outro ser humano.

O Papa João Paulo II quando apresenta a sexualidade humana - embora esteja


fundamentado na tradição filosófica da Igreja - lembra que a base da moral sexual católica é
o direito natural e procura apresentar ao homem moderno as leis de maneira
compreensível, ou seja, usando a abordagem personalista.

O amor ordenado tem como características a liberdade, a totalidade, a fecundidade e a


fidelidade. Essas quatro propriedades são espelho do amor trinitário. E um casal que vive

sua sexualidade movido pelo amor que é o Espírito Santo, não pensa sequer na
possibilidade da contracepção artificial, pois sabe que isso implicaria em transformar o
outro em objeto.

A lei básica do personalismo, como expresso na Gaudium et Spes, é que de todas as


criaturas o ser humano é a única que Deus quis por si mesma. Para servi-Lo, para amá-Lo,
sem dúvida, mas isso não os transformam em instrumentos, mas sim, em sujeitos de amor.

A verdadeira espiritualidade de um casal está voltada para o Amor, para uma aliança
amorosa que não permite a instrumentalização de um ou de outro. Por isso, a continência
deve fazer parte da vida sexual de um casal.

É saudável que um casal viva períodos sem sexo. No entanto, a mentalidade desagregadora
e doente da sociedade moderna ensina que ficar sem sexo é uma verdadeira tragédia. Uma
visão desordenada do ser humano, claro.

No contexto da verdadeira sexualidade, portanto, inserem-se os métodos naturais e, dentre


eles, o mais conhecido: Método de Ovulação Billings (MOB). Diversos cientistas concluíram
que o ciclo menstrual possui também uma linguagem: a da fecundidade. Por ela, é possível
saber em quais dias do mês a mulher está aberta à vida. O Método, se bem estudado e
obedecido, evita a gravidez com muito mais segurança que os métodos ilícitos.

Só existem dois métodos absolutamente seguros para que as crianças não nasçam: 1. aborto
(100% seguro, embora seja um assassinato); 2. não ter relações sexuais (100% seguro). São
extremos, pois a primeira é motivada por um egoísmo tão grande que leva a pessoa a
cometer um grave crime, que é matar o próprio filho em seu ventre, e a segunda movida por
um amor que faz com que a pessoa prefira o bem do outro à sua própria satisfação.

O Método Billings encontra-se no meio termo, pois permite relações sexuais e a vivência da
paternidade e da maternidade responsáveis ao seguir períodos de continência, o que, ao
final, promove o amor entre o casal.

A utilização do Método dentro do projeto espiritual e da antropologia cristã significa que o


casal deveria encarar a possibilidade de filhos numerosos como uma grande bênção, pois
esta é a visão de ordenada de família: numerosa.

Diante disso, a perspectiva correta, equilibrada, sadia e curada de sexualidade é quando o


casal está unido um ao outro e à prole. E um bom exercício àqueles que ainda têm
dificuldade e enxergam o outro como objeto sexual é imaginá-lo(a) como esposo(a) e
rodeado(a) de filhos.

Colocar-se na posição de mãe ou de pai, portanto, ajuda a manter a castidade. A jovem pode
imaginar-se mãe e tendo de dar exemplo para a filha; o jovem como pai sendo flagrado pelo

filho adolescente praticando atos ilícitos em frente ao computador. O que se percebe, então,
é que quando a família é inserida na sexualidade, as tentações tendem a serem superadas.

A grande intuição do Papa João Paulo II é a communio personarum, a Trindade como uma
comunhão de pessoas que, então, reflete-se na família. A mútua entrega entre os esposos e
entre os pais e os filhos é expressão de Deus. Por isso “homem e mulher os criou".
O biógrafo de São João Paulo, George Weigel, afirmou que a Teologia do Corpo é uma bomba-
relógio que a Igreja acionou e que está preparada para disparar no século XXI. É preciso,
então, educar os filhos para aproveitar esse grande dom de Deus para a Igreja, pois,
enquanto o mundo cria uma revolução sexual, ela quer a revolução do amor. A comunhão de
pessoas. A doação.

A Teologia do Corpo mostra que se há uma sexualidade, ela deve ser vivida com
espiritualidade, pois não existe a diabólica divisão entre corpo e alma. A Igreja lembra que
Deus se fez carne, por isso o corpo entrou pela porta da frente da teologia, da espiritualidade
do amor.

Bibliografia

São João Paulo II, Teologia do Corpo - O amor humano no plano divino, Editora
Ecclesiae, 2014
Se duas pessoas “se amam”, por que não podem ter relações sexuais?
Qual o problema do sexo quando feito fora do casamento, de uma
aliança por toda a vida? Neste vídeo, Pe. Paulo Ricardo explica a
natureza da sexualidade humana e as consequências terríveis da
depravação moral de nosso tempo.

O ser humano é muito diferente dos animais. Quando um animal tem uma relação sexual e
chega ao ápice do prazer, fica plenamente satisfeito e o desejo cessa, pois alcançou a
gratificação sexual. Já o ser humano, quando tem uma relação sexual ainda permanece
insatisfeito. É possível que ele, então, passe de uma relação para uma segunda, terceira,
quarta… até que ela se torna uma compulsão, uma espécie de doença. Ora, é claro que nem
todos os seres humanos fazem isso, mas podem ter esse tipo de doença, já os animais
nunca. Não existe nenhum exemplo de animal que pratique o sexo compulsivamente.
Quanto aos seres humanos….

Quando um homem e uma mulher se unem, o sexo é mais do que uma união animal. É
muito mais do que aquilo que um animal macho e um animal fêmea fazem, pois os seres
humanos possuem alma. A existência da alma demonstra o quanto o sexo deve ser vivido
espiritualmente, pois a alma busca a felicidade. Por isso que a Igreja insiste que, quando os
seres humanos unem os seus corpos, unem igualmente as suas almas. Daí a necessidade do
matrimônio.

São João Paulo II, fez uma série de catequeses intituladas “Teologia do Corpo", onde ensinou
que um ato sexual pode ser mentiroso. Isso ocorre porque quando um homem se une à uma
mulher, ele está a dizer com o seu corpo: “Sou todo teu" e da mesma forma ela. Ora, quando o
sexo é vivido fora da realidade matrimonial e um dos dois, após o ato, se levanta e vai
embora, o “sou todo teu" tornou-se uma mentira.

Assim, o sexo antes do casamento, em vez de confirmar o amor, confirma tão somente o
egoísmo, pois o contrário do amor não é necessariamente o ódio, pode ser também usar o
outro, transformando-o num objeto de gratificação sexual, sem qualquer compromisso.

Além disso, a afirmação de total doação de um para o outro antes do matrimônio não
procede, pois, se assim fosse, não haveria a necessidade do uso de qualquer contraceptivo.
O que se vê é uma recusa de um em se “misturar" com o outro e o ato sexual faz exatamente
isso: mistura as duas pessoas.

Ora, quando se é rejeitada qualquer possibilidade de um filho, que é a 'mistura' dos dois, é
porque não se está pronto para a união sexual e então, ela se torna mentirosa e destruidora.
E destrói a ambos.

A mulher, por sua natureza, quando faz sexo antes do casamento, de modo quase
inconsciente se questiona se é amada realmente ou se foi apenas usada. Isso se dá porque
ela sabe que o homem é capaz de fazer sexo com qualquer coisa. Sabe que o ato sexual para
o homem não necessariamente significa um ato de amor. Quanto ao homem, ele se
pergunta se aquela mulher que foi capaz de transgredir a lei com ele, não seria também com
outro? O relacionamento entre ambos se abala diante da falta de confiança.

A Igreja, então, porque quer bem aos seus filhos e seus relacionamentos ensina a castidade,
a continência e diz: “Esperem! Sejam castos! Abstenham-se". Assim, unidos pelo
sacramento do matrimônio, em corpo e em alma, poderão então se “misturar" nos filhos, os
quais querem ter pais para sempre.
Em reação ao vídeo "Por que o sexo antes do casamento é pecado?", um rapaz
nos direcionou a seguinte mensagem no Facebook:

"Sério, como a religião cega as pessoas. Então quer dizer que, se duas pessoas
estão namorando há pelo menos, digamos, uns três anos, mas ainda não se uniram
em sagrado matrimônio, com toda aquela hipocrisia (sic) de pompa e circunstância e
o famoso clichê de 'até que a morte os separe', não podem fazer sexo?! Se o fizerem,
então suas almas estão condenadas eternamente ao fogo do inferno? Então só se
ama alguém de verdade se essas duas pessoas colocam uma porcaria (sic) de
aliança de ouro no dedo um do outro? A maior prova de que casamento em si não
significa nenhum pouco de prova de amor de verdade, é a quantidade desses que
são destruídos por adultério ou traição.

Sexo antes do casamento não é pecado coisa nenhuma. Sabe o que é verdadeiro
pecado? Trair a quem se ama, trair a confiança de um amigo, humilhar as pessoas,
ser preconceituoso, difamar, dar falso testemunho. Na própria Bíblia mesmo está
escrito: 'Não julgueis, para não serdes julgados'! Então, sejam menos mesquinhos e
respeitem a escolha de cada um, pois por trás de muitos 'casamentos maravilhosos'
existem homens e mulheres nojentos (sic) e podres de alma. Em contrapartida,
existem aqueles que não se casaram, fizeram sexo mesmo assim e se amam de
verdade, sem pecado algum! Pronto, está dito, doa a quem doer."
O "desabafo" desse internauta é uma ocasião propícia para falarmos novamente
da castidade no namoro, esse tema que se tornou tão complicado nos últimos
tempos, até mesmo em ambientes cristãos. Assim como esse rapaz se dispôs a
dizer o que pensa, "doa a quem doer", também nós faremos o mesmo aqui, pois
acreditamos que, ao lado do dever de manifestar a verdade, os católicos têm a
missão de repelir os erros que a contrariem. Os grandes doutores da Igreja, de
fato, não "pregavam" apenas dos púlpitos das igrejas: eles debatiam e corrigiam,
com caridade, quem quer que se encontrasse em algum caminho tortuoso.
Assim, humildemente, esperamos que estas palavras ajudem as pessoas
afastadas a se encontrarem com a fé e a aceitarem a doutrina moral da Igreja.

Como ponto de partida, tomemos a tese central de nosso comentarista: a de que


"sexo antes do casamento não é pecado coisa nenhuma".

Quem o autoriza a dizê-lo com tanta certidão?

Ninguém, absolutamente. Ele simplesmente põe a frase, mas a fonte é ele


mesmo. Mais adiante, ele até cita uma passagem bíblica, mas, aparentemente,
serve-se dela apenas como um recurso retórico. Se acreditasse no todo da
revelação divina contido nas Sagradas Escrituras, nosso comentarista
certamente não diria que "sexo antes do casamento não é pecado coisa
nenhuma", porquanto os primeiros cristãos já ensinavam, em consonância com a
própria tradição judaica, que a fornicação é pecado (cf. At 21, 25; 1 Cor 6,
18; Gl 5, 19; Ef 5, 3).
Mas, a pergunta é importante, o que é verdadeiro pecado? Nosso comentarista
tem um rol de bons exemplos: "Trair a quem se ama, trair a confiança de um
amigo, humilhar as pessoas, ser preconceituoso, difamar, dar falso testemunho".
Seguramente, não há o que questionar: essas coisas são realmente
pecaminosas.

A questão que precisa ser colocada é: de que modo nosso comentarista chegou
a essa conclusão? Como descobriu que tal e qual coisa são erradas, e o que faz
com que ele as chame de pecado?

Não é necessário ser católico apostólico romano e ir à Missa todos os


domingos para ter consciência de que determinadas coisas são pecado.
"Pecado" significa, de acordo com a Primeira Epístola de São João,
"transgressão da Lei" (1 Jo 3, 4). Santo Agostinho é um pouco mais minucioso e,
em uma definição que já se tornou célebre, diz: "Peccatum est dictum vel factum
vel concupitum contra legem aeternam — O pecado é a palavra, a ação, ou o
desejo contra a lei eterna" [1]. Para sabermos o que é pecado, portanto, é
preciso que conheçamos essa "Lei" de que fala o apóstolo São João, essa "lei
eterna" de que fala Santo Agostinho.

Mas o que fazer para conhecê-la?

São duas as suas fontes: a razão humana e a revelação divina.

A razão humana, porque a lei eterna de Deus reflete nas criaturas racionais uma
outra lei, a que damos o nome de "natural": por ela, as pessoas são capazes de
dizer, usando a própria razão, se determinados atos, palavras ou desejos são
bons ou ruins; é por causa dessa lei, inscrita no próprio coração humano, que
uma pessoa sem nenhuma instrução religiosa sabe, por exemplo, que matar,
tomar a propriedade alheia, mentir ou "trair a quem se ama" são condutas más e
devem ser evitadas. Não é necessário ser católico apostólico romano e ir à
Missa todos os domingos para ter consciência de que determinadas coisas
são pecado. Um esquimó que, sem culpa própria, nunca tenha ouvido falar de
Cristo, pode muito bem "cumprir por obras a sua vontade conhecida por meio do
ditame da consciência" [2] — palavras do Catecismo da Igreja Católica.

A revelação divina da Lei, no entanto, era necessária não só para elevar o


homem ao conhecimento da fé — que supera e transcende a nossa mera
capacidade racional —, mas até mesmo para deixar sólidas aquelas verdades
que poderíamos alcançar pelo simples uso de nossa faculdade racional, já
que, com o pecado original, o ser humano ficou debilitado até mesmo para
reconhecer a lei natural. Um dos motivos da revelação, portanto, foi a fraqueza
da condição humana após a queda de Adão e Eva: com a mente turva e os
sentimentos perturbados, ficou difícil para o homem alcançar as verdades de sua
própria natureza.

O mal do sexo fora do casamento é uma dessas verdades que podem ser
apreendidas com o simples uso da razão. Santo Tomás de Aquino, por exemplo,
ao dialogar com quem não era cristão em sua famosa obra Suma contra os
gentios, reúne um monte de argumentos para mostrar que, sim, "a simples
fornicação é pecado contra a lei divina" [3].

A fornicação é errada, portanto, não simplesmente "porque a Igreja quis


assim". A razão humana testemunha a maldade do sexo fora do compromisso
conjugal e, para confirmar a inquietude da nossa consciência, vem em nosso
auxílio a revelação do próprio Deus, que condenou essa conduta ainda na Antiga
Lei (cf. Dt 17, 23; Tb 4, 13), reiterando essa proibição na Nova Aliança, seja
pelas palavras de seu Filho (cf. Mt 5, 28), seja pelas palavras dos Apóstolos (já
referidas acima) e dos seus sucessores [4].

A palavra "proibição", no entanto, provoca arrepios e traz imagens sinistras à


imaginação das pessoas. É justamente por estar associada ao advérbio "não"
que a nossa sociedade tende a enxergar a castidade como um fardo pesado e
custoso de se carregar. Anos a fio de doutrinação ideológica nas escolas somam
a esse preconceito as fogueiras da Inquisição, a rigidez da educação religiosa
e... o argumento está pronto: o que esses católicos querem, na verdade, é
"controlar as mentes" das pessoas e castrar os seus impulsos sexuais!

O sexo fora do casamento é uma forma de usar o outro, não de amar.


Nesse momento, é preciso conter um pouco a própria imaginação (ou a
memória, às vezes) e tentar enxergar as coisas como elas realmente são.

"Castidade" não é um conjunto de normas sexuais carregadas de sanções


punitivas. É verdade que existe uma pena para quem livre e conscientemente se
afasta de Deus. Das coisas que Nossa Senhora mostrou aos três pastorinhos de
Fátima, em Portugal, uma das primeiras foi o inferno, que é para onde vão "as
almas dos pobres pecadores" que não se convertem. Mais do que um temor
(sadio!) do castigo eterno, porém, o Evangelho de Cristo veio trazer ao homem a
lei do amor. É por isso que, no episódio do programa "A Resposta Católica"
sobre o sexo antes do casamento, Padre Paulo Ricardo insiste bastante no fato
de o sexo fora do casamento ser uma forma de usar o outro, não de amar!
Para perceber isso, basta tirarmos as vendas passionais que temos diante dos
olhos. Como pode ser amor o ato egoísta de duas pessoas que se
entregam totalmente no sexo, mas, ao amanhecer do dia, cada um se levanta de
volta para sua casa? Como pode ser "natural" a fornicação, se transforma uma
pessoa em objeto, tanto mais quanto se procura de todos os modos evitar a
possibilidade dos filhos? Como pode ser amor que uma menina perca a sua
virgindade sem sequer saber se o outro está disposto a perder a sua vida por
ela, colocando uma aliança em seu dedo — aliança que nosso comentarista
chama de "porcaria"?

O amor não é uma simples atração, mas um ato firme da vontade, que
quer o bem do outro.
É verdade que uma aliança, por si só, não significa nada. Nisto nosso
comentarista está certo, "por trás de muitos 'casamentos maravilhosos' existem
homens e mulheres podres de alma". O sinal da aliança é importante, todavia,
porque carrega consigo a imagem do compromisso: lembra que o amor não é
uma simples atração, mas um ato firme da vontade, que quer o bem do
outro e se dispõe a isso, sim, por toda a vida — "até que a morte os separe",
porque as pessoas não são objetos para uso de "uma noite" e descarte logo em
seguida.

O que Deus pede do homem e da mulher, no entanto, não é a "pompa e


circunstância" de uma cerimônia luxuosa, não são um vestido e um terno caros,
nem carreiras profissionais bem sucedidas ou salários suntuosos. Quando, para
conter a epidemia dos "casamentos clandestinos", a Igreja sabiamente
estabeleceu, usando o poder das chaves (cf. Mt 16, 19; 18, 18), que a
celebração do casamento deveria ser feita "na presença do pároco" ou de outro
sacerdote autorizado, ela foi bem simples em sua colocação:

"Se não se apresenta nenhum impedimento legítimo, proceda-se à celebração do


matrimônio em presença da Igreja, na qual o pároco, interrogados o varão e a mulher
e entendido seu mútuo consentimento, diga: 'Eu vos uno em matrimônio, em nome
do Pai e do Filho e do Espírito Santo', ou use de outras palavras, segundo o rito
aceito em cada província." [5]
Essa determinação foi feita pela Igreja no século XVI. É, portanto, uma lei
eclesiástica, válida somente para católicos batizados [6]. Nela, como se pode
ver, não consta nenhum luxo excessivo, nenhuma imposição de festa, nenhuma
"pompa" abusiva, porque, no fim das contas, não é isso que importa para Deus.
O importante é que o casal se ame (de verdade) e queira fazer a vontade divina
em suas vidas, o que inclui evitar o pecado — pecado que não é o que um ou
outro charlatão arbitrariamente define como tal, mas o que Deus desde a
eternidade fixou em sua Lei e transmitiu aos homens, seja através da razão que
eles possuem, seja através da revelação que a Igreja guarda como fiel
depositária.

a religião que "cega as pessoas"; são os nossos sentimentos descarrilados que cegam a
a razão e nos impedem de ver a realidade que dança, às vezes freneticamente, diante de
nossos olhos.
Para entender a fundo todas essas coisas, no entanto, nada é tão necessário
quanto a fé. Sem ela, é até possível compreender este ou aquele ponto da
doutrina moral católica — a indissolubilidade do matrimônio é outro exemplo de
verdade que pode ser alcançada pelo uso de nossa razão [7] —, mas não se é
capaz de admirar o conjunto da obra. Quem vê de fora os Dez Mandamentos até
consegue enxergar a sua razoabilidade, mas, não tendo fé, fica no superficial: os
Mandamentos não passam, então, de algumas "regrinhas de boas maneiras".
Quem olha tudo isso, todavia, a partir do Evangelho, a partir da Encarnação do
Verbo, a partir do fato de que o mesmo Deus que deu as tábuas da Lei a Moisés
enviou ao mundo o seu Filho para dar também a nós a filiação divina pela graça,
é capaz de enxergar um mundo completamente novo à sua frente. E isso — eis
o que é mais extraordinário — não está reservado a uma pequena elite, a
este ou aquele grupo especial, porque Deus o preparou para todos!

Só diante de todo esse conjunto é possível entender, por exemplo, que o pecado
humano tenha consequências tão terríveis, como diz o Apóstolo: "O salário do
pecado é a morte" (Rm 6, 23). Não se trata de coisa insignificante, de "bagatela",
como o demônio e o mundo têm tentado pintar, a fim de seduzir e enganar as
pessoas. A lama de imundície em que os homens de nosso tempo chafurdam é
a prova viva de que não é a religião que "cega as pessoas", como diz o nosso
comentarista; são os nossos sentimentos descarrilados que cegam a nossa
razão e nos impedem de ver a realidade que dança, às vezes
freneticamente, diante de nossos olhos. Como diz, aliás, o Papa Pio XII, o
homem, não raro, procura persuadir-se de que seja falso ou ao menos duvidoso
aquilo que, no fundo, não deseja admitir que seja verdadeiro [8].

Para que as escamas caiam de nossos olhos, não nos vai adiantar "tomar" o
lugar de Deus e tentar definir o que é certo e o que não é, o que é pecado e o
que não é. Tudo já está escrito, não só no papel de alguns livros religiosos,
mas na carne do nosso próprio coração. O que precisamos fazer é ouvir a
voz de Deus, ter fé no que Ele nos revelou e nos arrependermos de nossos
pecados.

Enquanto continuarmos achando que as cadeias do nosso pecado são apenas


pulseiras de adorno, a verdade do Evangelho de Cristo jamais nos libertará.

Referências

1. Santo Agostinho, Contra Faustum, XXII, 27 (PL 42, 418).

2. Catecismo da Igreja Católica, n. 847.

3. Santo Tomás de Aquino, Contra Gentiles, III, 122.

4. Cf. Papa Inocêncio IV, Carta Sub catholicae professione, de 6 de março


de 1254, n. 18 (DH 835); Inocêncio XI, Decreto do Santo Ofício, de 2 de
março de 1679, n. 48 (DH 2148).
5. Concílio de Trento, Decreto Tametsi, de 11 de novembro de 1563 (DH
1814).

6. Cf. Código de Direito Canônico, cân. 1108.

7. Cf. Santo Tomás de Aquino, Contra Gentiles, III, 123.

8. Papa Pio XII, Carta Encíclica Humani Generis (12 de agosto de 1950), n.
2.
O que vestimos importa sim, senhor!
O modo como nos apresentamos não é uma “particularidade” espiritualmente
irrelevante. Também com isso nós manifestamos ao mundo ou a vida de
Jesus ou um espírito contrário ao dEle.
Peter KwasniewskiTradução: Equipe Christo Nihil Praeponere10 de Julho
de 2019
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Todos os anos, ao entrarmos nos meses mais quentes do ano [1], volta à tona o
problema da modéstia no vestir — agora ainda mais, dado que no Ocidente as
pessoas parecem ter perdido até mesmo as mais elementares posturas morais e
costumes sociais que antes garantiam um mínimo de autorrespeito e
consideração pelos outros. Nós precisamos de nada menos que uma revolução
moral, uma reconstrução de nossos mais básicos conceitos de virtude. Nem é
necessário dizer que será um trabalho custoso, e que nós não seremos capazes
de “virar a maré” da cultura geral (a qual seria mais acertadamente descrita, a
esse ponto, como uma “anticultura”). Todavia, de modo algum é impossível
reconstruir esses conceitos dentro das comunidades cristãs, contanto que haja
uma vontade corajosa de tratar, com clareza e serenidade, dos assuntos
que estão em jogo. É o que procurarei fazer em linhas gerais.

De acordo com S. Tomás de Aquino, a noção de modéstia no vestir, no falar e


no modo de se comportar deriva da noção de moderação, de fazer algo de uma
maneira adequada, bem sopesada, e que observe um meio entre os extremos
(cf. STh II-II 168; 169). No caso em exame, os extremos são, por um lado, a
indecência (de longe muito mais comum nos dias de hoje) e, por outro, uma
afetação de virtude e uma inibição malsã.

Nós precisamos de nada menos que uma revolução moral.


Como todas as virtudes morais, o hábito da modéstia não só capacita a pessoa
para querer e escolher o que é certo a esse respeito, mas também a impele a
fazê-lo; a modéstia torna-se uma segunda natureza, uma disposição a agir.
Tomás nos recordaria, também, que essa virtude nos ajuda a apreciar os bens
corporais em seu devido lugar. Quando o exigem as pessoas, o lugar e a
ocasião, as paixões do apetite concupiscível são boas, instrumentos de ação
virtuosa queridos por Deus.

A pessoa modesta é aquela cujas ações e aspecto externo consistentemente


refletem autodomínio, bom juízo do que seja apropriado, um controle firme dos
próprios sentimentos, bem como uma habilidade serena de expressar a si
mesmo e de “ser” quem se é sem necessidade de alarde. Por isso, a verdadeira
modéstia começa na alma para só depois chamar a atenção dos olhos ou dos
ouvidos alheios. Essa modéstia interior consiste em regular toda a própria vida
de uma maneira que seja calma, gentil, reverente e pura. Vestir roupas
modestas ou evitar danças imodestas é algo que simplesmente
“transborda” dessa condição interior.

As sociedades modernas, no Ocidente, descartaram a modéstia mais importante


para a saúde básica do convívio social: a de vestir-se e comportar-se de modo
a não despertar o tipo errado de atenção do sexo oposto — uma atenção
animalesca, possessiva e reducionista. Na verdade, o que se ostenta,
obviamente, é o vício oposto.

A verdadeira modéstia começa na alma para só depois chamar a atenção


dos sentidos.
Infelizmente, muitos cristãos sinceros que querem levar uma vida casta parecem
estar inconscientes da ligação que existe entre a pureza de coração e
a modéstia exterior, entre o compromisso com a virtude e a forma de apresentar
o próprio corpo às outras pessoas — uma ignorância ainda mais
surpreendente quando se considera a obviedade dessa associação, que foi
compreendida com muita clareza por todas as épocas, com exceção da nossa.

Por exemplo, existem jovens católicos que procuram viver a pureza, mas
que continuam a se vestir como seus pares do mundo, com estilos de roupa
provocativos ou inapropriados. É possível ver isso vividamente nas Jornadas
Mundiais da Juventude, onde, além da imodéstia, também é bastante comum
uma impressionante falta de consciência a respeito do que seja apropriado para
um evento sagrado e solene.

Nesse quesito, as pessoas de hoje parecem ter adotado um critério único:


o conforto físico. Qualquer coisa que possa causar o mais remoto dos
desconfortos ou dos incômodos é imediatamente rejeitada. Como resultado,
ao se vestirem em dias de alta temperatura, os cristãos de maneira geral com
muita frequência caem nos mesmos maus hábitos de seus pares mundanos,
que não pensam nem no que é agradável a Deus, nem no que ajudará a si
próprio e aos outros a viver a castidade, mas tão-somente no que é “mais
fresco” ou “mais prático” de se usar. Como parte pequena de um ascetismo
sadio, os cristãos devem rejeitar esse tipo de complacência e bajulação do
corpo. São Paulo descreve aqueles que cremos como pessoas que “trazemos
sempre em nosso corpo os traços da morte de Jesus para que também a
vida de Jesus se manifeste em nosso corpo” (2Cor 4, 10).

Há jovens católicos que procuram viver a pureza, mas que continuam a se


vestir como seus pares do mundo.
Quem nunca se impressionou com fotografias antigas e em preto e branco de
nossos antepassados, os quais, debaixo de um calor sufocante de verão,
usavam roupas longas e amplamente cobertas? Embora eu não sugira que
voltemos ao mesmo guarda-roupas que eles tinham, digo que sim, nós
faríamos bem em imitar-lhes o vigor e a propriedade. É óbvio que se deve
levar em consideração circunstâncias de temperatura e de atividades, como
longos passeios ao ar livre, mas há soluções modestas e imodestas
para qualquer que seja a situação. Com os materiais modernos de que
dispomos, vestir-se modestamente não significa vestir-se “de modo opressivo”;
há à disposição, por exemplo, roupas que cobrem os ombros e chegam até os
tornozelos, sendo ao mesmo tempo de um material leve, opaco e agradável.

Nós não podemos fazer de conta que o modo como tratamos nosso corpo, o
modo como comemos e nos vestimos, o modo como nos apresentamos, o modo
como nos comportamos, não importando se o fazemos com disciplina ou
desleixo, educação ou irreflexão, responsabilidade ou ingenuidade, sejam
“particularidades” espiritualmente irrelevantes. Trata-se, ao contrário, de coisas
essenciais: elas também irão manifestar a vida de Jesus ao mundo, ou
promover um espírito contrário ao dEle. O modo como alguém trata, exibe e
faz uso de seu corpo revela muito dos trabalhos de sua própria alma: quem ela
(ou ele) pensa ser, o que pensa a respeito de si mesma ou dos outros, o que
espera de si e dos outros. De mais maneiras do que normalmente as pessoas
imaginam, as aparências não enganam: o meio é a mensagem.

Como acontece com qualquer tópico de importância, também para este a


Revelação divina tem as suas orientações:

Quero que as mulheres usem traje honesto, ataviando-se com modéstia e


sobriedade. Seus enfeites consistam não em primorosos penteados, ouro, pérolas,
vestidos de luxo, e sim em boas obras, como convém a mulheres que professam a
piedade (1Tm 2, 9-10).
Há uma maneira de se comportar e de se apresentar que é inseparável do
modo de vida cristão; é um dos sinais que, neste mundo, distingue aqueles que
crêem. A modéstia, assim como a paz, ainda que seja um bem da alma em
primeiro lugar, não pára na alma, mas tem um efeito sobre todos os aspectos da
vida em sociedade. O mundo moderno carece de modelos de autocontrole e de
autoapresentação digna; os cristãos podem e devem ser este exemplo. A
própria falta de excesso faz com que valha a pena fazer conhecida a sua
presença.

A virtude da religião, por meio da qual damos de volta ao Deus infinito aquilo que
somos capazes de dar, inclui a oferta a Ele daquilo que somos, nossos corpos e
almas, como expressão de um amor fiel. É por isso que a modéstia é, ao
mesmo tempo, consequência e salvaguarda da religião.

a maneira de se comportar e de se apresentar que é inseparável do modo de vida cristão.


S. Tomás diz que a santidade denota duas coisas: permanecer
puro e permanecer firme. “Bem-aventurados os puros de coração, porque verão
a Deus” (Mt 5, 8): felizes aqueles que, por amor a Deus e com todo o seu ser,
preservam firmemente a pureza de alma e de corpo. A visão face a face de
Deus, a grande meta e alegria da vida cristã, é a razão última pela qual devemos
manter não só nossos corações, mas também nosso falar, nosso agir e nosso
apresentar-se, puros, sem mácula, simples e sóbrios. Ao fazer isso, nosso modo
de vida é conformado ao de Nosso Senhor Jesus Cristo, tornando presente, em
um mundo decaído e sujo, alguma coisa da límpida inocência, da paz serena e
do frescor incorruptível do Espírito Santo.

Notas

1. O autor do texto fala, evidentemente, a partir do hemisfério norte (onde o


nosso inverno é verão). O Brasil, no entanto, particularidades regionais à
parte, é ele todo “um país tropical”, de modo que as considerações aqui a
respeito da modéstia no vestir servem-nos como uma luva o ano todo, e
não somente nos meses mais quentes do ano. Também por isso,
tomamos a liberdade de dar a esta tradução um título diferente do
original: em inglês, este era A Christian’s guide to modesty in the hot
summer months (lit.: “Um guia cristão para a modéstia nos meses
quentes de verão”).

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