Você está na página 1de 7

Material Teórico - Aplicações das Técnicas Desenvolvidas

Exercı́cios e Tópicos Relacionados a Combinatória

Segundo Ano do Ensino Médio

Prof. Cı́cero Thiago Bernardino Magalhães


Prof. Antonio Caminha Muniz Neto
Neste material teórico, vamos usar as técnicas desenvol- Prova. Para auxiliar a prova, seja novamente A =
vidas nas aulas anteriores para resolver alguns problemas {1, 2, 3, . . . , n}. Como no argumento acima, temos que np
interessantes de Combinatória, provar algumas identida- representa o total de subconjuntos de A com p elementos.
des algébricas e, também, mostrar alguns erros que podem Vamos, agora, fazer a contagem desse número de
eventualmente aparecer em algumas contagens. subconjuntos de A de um outra maneira e, para isso, seja
B um subconjunto de A com p elementos. Como temos
Exemplo 1. Quantos subconjuntos possui um conjunto com
as possibilidades 1 ∈ B e 1 ∈ / B, vamos considerá-las
n elementos?
separadamente:
Solução. Para facilitar as ideias, seja A = {1, 2, 3, . . . n}
um de conjunto com n elementos. Se B é um subconjunto (i) Contemos o total de subconjuntos B de A, com p
de A, então, para cada elemento i de A, há duas possibili- elementos e tais que 1 ∈ B: para completar B, é necessário
dades: ou i pertence ao subconjunto B, ou i não pertence escolher p − 1 outros elementos para ele, dentre os n − 1
a B. Como há n valores possı́veis para i (i = 1, 2, . . . , n), elementos restantes de A. Como sabemos, isso pode ser
o princı́pio multiplicativo garante que o total de subcon- feito de exatamente n−1
p−1 maneiras.
juntos B que podemos formar é igual a
(ii) Contemos o total de subconjuntos B de A, com p
2| · 2 ·{z. . . · 2} = 2n . elementos e tais que 1 ∈
/ B: nesse caso, temos que escolher
n os p elementos de B dentre os n − 1 elementos distintos
de 1 do conjuntoA. Como sabemos, isso pode ser feito de
Agora, observe que, se A′ é um conjunto qualquer com
exatamente n−1 maneiras.
n elementos, então A′ também tem 2n subconjuntos. Isto p
porque , escolhendo uma correspondência biunı́voca entre
Por fim, aplicando o princı́pio aditivo aos dois casos
os elementos de A e de A′ , podemos escrever
acima, concluı́mos que o número de subconjuntos  de A
A′ = {a1 , a2 , . . . , an }, com p elementos também é igual a n−1p−1 + n−1
p . Portanto,
não há alternativa que não seja a validade da igualdade do
com a1 , a2 , . . . , an dois a dois distintos. Por sua vez, tal enunciado.
correspondência biunı́voca estabelece uma outra, dessa vez
entre os subconjuntos de A e os de A′ . Por exemplo, se Exemplo 3. Quantos são os subconjuntos A do conjunto
n ≥ 3, então, ao subconjunto {1, 2, 3} de A, corresponde o {1, 2, 3, . . . , 12}, tais que a soma de seus elementos máximo
subconjunto {a1 , a2 , a3 } de A′ , e vice-versa. Dessa forma, e mı́nimo de A seja igual a 13?
concluı́mos que A′ tem tantos subconjuntos quanto A, isto Solução. Se a é o menor elemento de A, então 13 − a
é, A′ tem, exatamente, 2n subconjuntos. deve ser seu maior elemento. Dessa forma os outros ele-
mentos de A, caso existam, só podem ser escolhidos dentre
Uma consequência interessante do exemplo anterior de-
os 12 − 2a números a + 1, . . . , 12 − a. Pelo Exemplo 1,
riva da seguinte solução alternativa para o cálculo do
existem exatamente 212−2a possı́veis subconjuntos A de
número de subconjuntos de A = {1, 2, . . . , n}: já vimos,
{1, 2, . . . , 12}, tais que o menor elemento de A é igual a a.
na aula sobre combinações, que, para 0 ≤ j ≤ n, o total  Agora, no argumento do parágrafo anterior, devemos ter
de subconjuntos de A com exatamente j elementos é nj .
a ≤ 13 − a, de forma que a ≤ 6. Portanto, a = 0, 1, 2, . . . , 5
Além disso, variando j de 0 a n, cada subconjunto de A
ou 6 e, assim, o total de subconjuntos pedido é
é contado exatamente uma vez. Portanto, pelo princı́pio
aditivo, o total de subconjuntos de A também é igual a 210 + 28 + 26 + 24 + 22 + 20 =
        = 1024 + 512 + 64 + 16 + 4 + 1 = 1365.
n n n n
+ + + ... + .
0 1 2 n
Como um mesmo problema de contagem, resolvido cor- Exemplo 4. Calcule o total de subconjuntos de 3 elemen-
retamente de duas maneiras distintas, não pode ter dois tos do conjunto {1, 2, 3, . . . , 10}, que não possuem dois
resultados diferentes, concluı́mos que números consecutivos dentre seus elementos.
     
n n n
 
n Solução. Associe a cada subconjunto do tipo desejado
2n = + + + ...+ . uma sequência de 10 sinais + ou −, do seguinte modo: colo-
0 1 2 n
que um sinal de + na posição correspondente aos números
Exemplo 2. Prove a validade da relação de Stifel: que pertencem ao subconjunto, e um sinal de − na posição
      correspondente aos números que não pertencem ao sub-
n−1 n−1 n conjunto. De forma que, por exemplo, temos a corres-
+ = ,
p−1 p p pondência
para todos os números naturais p e n, tais que p ≤ n − 1. {1, 3, 6} ←→ (+, −, +, −, −, +, −, −, −, −).

http://matematica.obmep.org.br/ 1 matematica@obmep.org.br
De maneira mais geral, é fácil perceber que, para formar Solução. Inicialmente, devemos escolher 8 cadeiras sem
um subconjunto de 3 elementos conforme pedido, devemos que haja duas cadeiras consecutivas. Pelo primeiro lema
formar uma sequência de três sinais + e sete sinais −, de Kaplansky, isso pode ser feito de
sem que haja dois sinais + consecutivos. Dessa forma,    
começamos distribuindo os sete sinais −, como abaixo: 20 − 8 + 1 13
= = 1287
8 8
? − ? − ? − ? − ? − ? − ? − ?.
maneiras distintas.
Os sinais + devem necessariamente aparecer nos lugares Uma vez escolhidas as cadeiras das meninas, podemos
de três dos pontos de interrogação acima. Mas, como te- permutá-las nesses oito lugares de 8! maneiras. Por ou-
mos exatamente oito pontos de interrogação, dos quais três tro lado, os meninos devem sentar-se nas doze cadeiras
devem ser escolhidos, concluı́mos que podemos escolher o restantes, mas, ao fazê-lo, podem ser permutados de 12!
lugar dos três sinais + de, exatamente, maneiras. Portanto, pelo princı́pio multiplicativo, o total
de maneiras dispor as 8 meninas e os 12 meninos conforme
 
8 8! pedido é igual a 1287 · 8! · 12!.
= = 56
3 3!5!
Exemplo 7. Em uma loteria, seis números do conjunto
maneiras distintas. {1, 2, 3, . . . , 49} são escolhidos aleatoriamente. De quantas
maneiras isto pode ser feito, de modo que, dentre os seis
Portanto, existem exatamente 56 subconjuntos do con-
junto {1, 2, 3, . . . , 10} satisfazendo as condições do enunci- números escolhidos, existam pelo menos dois deles que se-
jam consecutivos?
ado.
Solução. Sabemos que o total de subconjuntos de seis ele-
Podemos generalizar o exemplo anterior da seguinte mentos do conjunto {1, 2, 3, . . . , 49} (sem restrições adici-

forma: dado o conjunto A = {1, 2, 3, . . . , n} e um natu- onais) é 496 . Por outro lado, já sabemos (pelo primeiro
ral p < n, o total de subconjuntos de p elementos de A, lema de Kaplansky) que, dentre esses, aqueles subconjun- 
que não possuem dois números consecutivos dentre seus tos sem números consecutivos são, ao todo, 49−6+1 =
 6
elementos, é igual a 44
. Portanto, o total de subconjuntos de seis elementos
6
  de {1, 2, 3, . . . , 49} e que contêm pelo menos dois números
n−p+1
. consecutivos é 49 6 − 6 .
44
p
Exemplo 8. De quantas maneiras podemos distribuir 8 si-
Este resultado é conhecido com o primeiro lema de Ka- nais + e 5 sinais − em uma fila, de modo que não haja
plansky1 . dois sinais − consecutivos?
Exemplo 5. As três provas de um vestibular devem ser Solução. Imitando a ideia da solução do exemplo 4, ao
realizadas na primeira semana do ano. De quantos modos distribuirmos os 8 sinais +, teremos 9 espaços para escolher
é possı́vel escolher os dias das provas, de modo que não onde serão colocados os 5 sinais −. Portanto o total de
haja provas em dias consecutivos? permutações desejadas coincide com o número de modos
deescolhermos 5 dessas 9 posições, de forma que é igual a
Solução. É fácil ver que, para escolher os dias das provas, 9
5 .
devemos formar um subconjunto de três dias do conjunto
dos sete dias da primeira semana, de modo que não haja Generalizando o exemplo anterior, podemos dizer que,
dias consecutivos no subconjunto. Portanto, pelo primeiro se k ≥ r, então o número de maneiras de distribuir k sinais
lema de Kaplansky, o total de escolhas possı́veis é + e r sinais − em fila, de modo
 que não haja dois sinais −
    consecutivos, é igual a k+1
r .
7−3+1 5 A seguir, veremos uma variação interessante da dis-
= = 10.
3 3 cussão acima.

Exemplo 9. De quantas maneiras podemos distribuir 10


sı́mbolos em fila, supondo que cada sı́mbolo seja um sinal
Exemplo 6. Uma fila tem 20 cadeiras, nas quais devem + ou um sinal −, de tal forma que não haja dois sinais −
sentar-se 8 meninas e 12 meninos. De quantos modos isso consecutivos?
pode ser feito, se quaisquer duas das 8 meninas não devem
Solução. A fim de que não haja dois sinais − consecu-
ficar em cadeiras vizinhas?
tivos, é fácil ver que podemos ter no máximo 5 sinais
1 Em homenagem a Irving Kaplansly, matemático americano do −. Dessa forma, são possı́veis as seguintes configurações e
século XX, que estabeleceu esse resultado pela primeira vez. (pela discussão acima) quantidades de possibilidades:

http://matematica.obmep.org.br/ 2 matematica@obmep.org.br
11

• 10 sinais de + e 0 sinal de −: há 0 possibilidades. Combinando os dois casos acima com o auxı́lio do princı́pio
 aditivo, concluı́mos que
10
• 9 sinais de + e 1 sinal de −: há 1 possibilidades.
F (n) = F (n − 1) + F (n − 2),
9

• 8 sinais de + e 2 sinais de −: há 2 possibilidades.
para todo n ≥ 3. Por fim, pela definição de F (n), temos
• 7 sinais de + e 3 sinais de −: há 8

possibilidades. que F (1) = 2 e F (2) = 3, de sorte que
3

7
 F (3) = F (2) + F (1) = 3 + 2 = 5
• 6 sinais de + e 4 sinais de −: há 4 possibilidades.
6
 F (4) = F (3) + F (2) = 5 + 3 = 8
• 5 sinais de + e 5 sinais de −: há 5 possibilidades.
F (5) = F (4) + F (3) = 8 + 5 = 13
Portanto, o total de possı́veis distribuições dos sı́mbolos
F (6) = F (5) + F (4) = 13 + 8 = 21

            F (7) = F (6) + F (5) = 21 + 13 = 34
11 10 9 8 7 6
+ + + + + = ..
0 1 2 3 4 5
.
= 1 + 10 + 36 + 56 + 35 + 6 = 144.

Os números F (n) do exemplo anterior são conhecidos


como os números de Fibonacci. É possı́vel provar que
Nosso próximo exemplo generaliza o anterior.
√ !n √ !n !
Exemplo 10. De quantas maneiras podemos distribuir n 1 1+ 5 1− 5
F (n) = √ − .
sı́mbolos em fila, supondo que cada sı́mbolo pode ser um 5 2 2
sinal + ou um sinal −, de tal forma que não haja dois
sinais − consecutivos? Exemplo 11. Quantos divisores positivos tem o número
72 = 23 · 32 ?
Solução. Imitando a ideia do exemplo anterior, temos que
Solução. Aritmética elementar ensina que cada divisor
o total de distribuições é
positivo do número 72 = 23 · 32 possui a forma 2a · 3b , com

n+1
   
n n−1
 
n−2
 a ∈ {0, 1, 2, 3} e b ∈ {0, 1, 2}. Por exemplo, 23 · 31 , 20 · 32 e
+ + + + ··· . 22 · 30 são divisores positivos de 72. Portanto, o número de
0 1 2 3
divisores positivos de 72 coincide com o número de pares
Outra maneira de abordar esse problema é raciocinar ordenados (a, b) de inteiros tais 0 ≤ a ≤ 3 e 0 ≤ b ≤ 2.
recursivamente. Desse modo, começamos observando que o Pelo princı́pio multiplicativo, há exatamente 4 · 3 = 12 de
total de maneiras de distribuir os n sı́mbolos é uma função tais pares ordenados.
de n, e será denotado por F (n). Separemos as possı́veis
Generalizando o exemplo anterior, seja
filas de n sı́mbolos em dois tipos diferentes: as que iniciam
com um sinal + e as que iniciam com um sinal −. n = pα α2 αk
1 · p2 · . . . · pk ,
1

• Há exatamente F (n − 1) distribuições de n sı́mbolos com p1 , p2 , . . . , pk números primos distintos e α1 , . . . , αk


que iniciam com um sinal +. De fato, cada uma dessas inteiros positivos. Aritmética elementar garante que um
distribuições pode ser obtida colocando um sinal de + inteiro positivo d divide n se, e só se, d = pβ1 1 · pβ2 2 · . . . · pβk k ,
à frente de cada uma das F (n−1) distribuições de n−1 onde 0 ≤ βi ≤ αi , para 1 ≤ i ≤ k. Portanto, n possui
sı́mbolos + ou − (e também satisfazendo a condição tantos divisores positivos quantas sejam as maneiras de
de não terem dois sinais − consecutivos). escolhermos os inteiros β1 , . . . , βk , tais que 0 ≤ βi ≤ αi
para 1 ≤ i ≤ k. Como há exatamente αi + 1 possibilidades
• Por outro lado, se uma distribuição inicia por um sinal
para βi (quais sejam, 0, 1, . . . , αi ), invocando novamente
−, então, Obrigatoriamente, o segundo sinal é +, pois
o princı́pio multiplicativo, concluı́mos que n possui exata-
não pode haver dois sinais − consecutivos. Portanto,
mente
para compor a distribuição dos n sı́mbolos, basta es-
(α1 + 1) · (α2 + 1) · . . . · (αn + 1) (1)
colhermos os n − 2 sinais restantes, novamente sob
a condição de que não haja dois sinais − consecuti- divisores positivos.
vos. Logo, existem exatamente F (n − 2) de tais dis- O próximo exemplo traz uma variação simples do ante-
tribuições. rior.

http://matematica.obmep.org.br/ 3 matematica@obmep.org.br
Exemplo 12. Quantos divisores positivos pares possui o Exemplo 14. Seja n = 231 ·319 . Quantos divisores positivos
número 72 = 23 · 32 ? de n2 são menores do que n mas não dividem n?
Solução. Cada divisor positivo par do número 72 = 23 ·32 Solução. Mais geralmente, seja n = pr · q s , em que p e q
possui a forma 2a · 3b , com a ∈ {1, 2, 3} e b ∈ {0, 1, 2}. Por- são primos distintos e r e s são inteiros positivos. Então,
tanto, o número de divisores positivos pares de 72 coincide n2 = p2r · q 2s , de forma que, por (1), n2 possui exatamente
com o número de pares ordenados de inteiros (a, b), tais
que 1 ≤ a ≤ 3 e 0 ≤ b ≤ 2. Pelo princı́pio multiplicativo, (2r + 1)(2s + 1)
tal número é igual a 3 · 3 = 9.
divisores positivos. Observe agora que, para cada divi-
Exemplo 13. Qual a soma dos divisores positivos de 72 = 2
sor positivo d de n2 , tal que d < n, o número natural nd
23 · 32 ? 2
também é um divisor positivo de n2 , tal que nd > n. Por-
Solução. Listando e somando todos os divisores positivos tanto, excluı́do o divisor n de n2 , concluı́mos que existem
de 72, encontramos exatamente
1 + 2 + 3 + 4 + 6 + 8 + 9 + 12 + 18 + 24 + 36 + 72 = 195. (2r + 1)(2s + 1) − 1
= 2rs + r + s
Entretanto, podemos fazer isso da seguinte maneira mais 2
organizada:
divisores positivos de n2 e que são menores que n.
1 + 2 + 3 + 4 + 6 + 8 + 9 + 12 + 18 + 24 + 36 + 72 = Como (novamente por (1)) n possui (r + 1)(s + 1) divi-
= 20 · 30 + 21 · 30 + 20 · 31 + 22 · 30 + 21 · 31 + 23 · 30 + sores positivos (incluı́do o próprio n), e como todo divisor
de n é também divisor de n2 , concluı́mos que existem
+ 20 · 32 + 22 · 31 + 21 · 32 + 23 · 31 + 22 · 32 + 23 · 32
= (20 + 21 + 22 + 23 ) · 30 + (20 + 21 + 22 + 23 ) · 31 (2rs + r + s) − [(r + 1)(s + 1) − 1] = rs
0 1 2 3 2
+ (2 + 2 + 2 + 2 ) · 3 divisores positivos de n2 , menores que n e que não são
0 1 2 3 0 1 2
= (2 + 2 + 2 + 2 ) · (3 + 3 + 3 ). divisores de n.
Em particular, se r = 31 e s = 19, então rs = 589.
Agora, observe que 20 +21 +22 +23 é uma PG com 3+1 = 4
termos e 30 + 31 + 32 é uma PG com 2 + 1 = 3 termos. Por Exemplo 15. A figura abaixo mostra o mapa de ruas de
fim, lembrando que uma cidade. Todas as ruas são de mão única, de modo que
rn+1 − 1 você só pode dirigir para o Leste ou para o Norte. Quan-
1 + r1 + r2 + . . . + rn = (2) tos caminhos diferentes existem que, partindo do ponto A,
r−1
cheguem ao ponto B?
para todo real r 6= 1, concluı́mos que a soma dos divisores
positivos de 72 é igual a B
b

4 3
2 −1 3 −1
· = 15 · 13 = 195.
2−1 3−1

Novamente generalizando o exemplo anterior, seja


αk
n = pα α2
1 · p2 · . . . · pk
1

com p1 , p2 , . . . , pk números primos distintos e α1 , . . . , αk


inteiros positivos. Distribuindo os produtos b

A
(1 + p1 + p21 + · · · + pα 2 α2
1 )(1 + p2 + p2 + · · · + p2 ) . . .
1

. . . (1 + pk + p2k + · · · + pα
k ),
k
Solução. Um possı́vel caminho respeitando as informa-
obtemos, pelo princı́pio multiplicativo, uma soma com exa- ções do problema seria LN LN LN LLN LN LL, em que a
tamente (α1 + 1)(α2 + 1) . . . (αk + 1) parcelas, na qual cada letra L representa a direção Leste e a letra N representa a
divisor positivo de n comparece precisamente uma vez. Fa- direção Norte. A partir daı́, é fácil ver que cada caminho
zendo r sucessivamente igual a p1 , p2 , . . . , pk em (2), con- possı́vel corresponde a uma sequência de 13 letras, 8 das
cluı́mos que a soma dos divisores positivos de n é igual quais devem ser iguais a L e 5 iguais a N . Portanto, para
a calcular o total de caminhos, temos de escolher os 5 lugares,
pα α2
1 − 1 p2 − 1
1
pαn − 1 dentre os 13 possı́veis, nos quais colocaremos as letras N
· · ...· n .
p1 − 1 p2 − 1 pn − 1 (após feita tal escolha, as posições das letras L estarão

http://matematica.obmep.org.br/ 4 matematica@obmep.org.br
completamente determinadas). Como sabemos,  o número Solução. Seja I o conjunto dos alunos que falam inglês e A
de modos de fazermos tal escolha é 13 5 = 1287. o conjunto dos alunos que falam alemão. O que queremos
Observe que escolher primeiro as 8 posições para as le- descobrir é o total de alunos que falam pelo menos uma das
tras L (após o que as posições das 5 letras N estarão com- lı́nguas, ou seja, queremos contar o número de elementos
pletamentedeterminadas)
 nos dá o mesmo resultado, uma do conjunto I ∪A. Como n(I) = 14, n(A) = 5 e n(I ∩A) =
vez que 135 = 13
8 . 3, segue de (3) que
De uma maneira geral, em um retângulo m × n, com n(I ∪ A) = 14 + 5 − 3 = 16.
m, n ∈ N, o total de caminhos satisfazendo as condições
do exemplo anterior é
   
m+n m+n Exemplo 17. Em uma faculdade, 65 alunos estudam
= .
m n francês, 45 estudam alemão, 42 estudam russo, 20 estu-
. dam francês e alemão, 25 estudam francês e russo, 15 es-
Outra técnica muito útil em Combinatória é o princı́pio tudam alemão e russo e 8 estudam os 3 idiomas. Encontre
da inclusão-exclusão uma fórmula que permite contar o o número de alunos de que estudam pelo menos um, dentre
total de elementos da união finita de conjuntos finitos. tais idiomas,
Os casos mais simples se referem aos números de elemen-
Solução. Queremos encontrar n(F ∪ A ∪ R), onde F , A
tos da união de dois ou três conjuntos finitos, nos quais o
e R denotam os conjuntos de alunos estudando francês,
princı́pio da inclusão-exclusão garante que
alemão e russo, respectivamente. Pelo princı́pio da in-
n(A ∪ B) = n(A) + n(B) − n(A ∩ B) (3) clusão-exclusão para três conjuntos, temos

e n(F ∪ A ∪ R) = n(F ) + n(A) + n(R)


− n(F ∩ A) − n(F ∩ R) − n(A ∩ R)
n(A ∪ B ∪ C) = n(A) + n(B) + n(C)
+ n(F ∩ A ∩ R)
− n(A ∩ B) − n(A ∩ C) − n(B ∩ C) (4)
= 65 + 45 + 42 − 20 − 25 − 15 + 8
+ n(A ∩ B ∩ C),
= 100.
em que n(X) representa o número de elementos do con-
junto finito X. Uma outra maneira de resolver esse problema seria mon-
Para verificar (3), basta observar que a soma n(A)+n(B) tar o diagrama de Venn abaixo.
conta todos os elementos de A ∪ B, mas os elementos de
A ∩ B são contados exatamente duas vezes e, por isso,
devemos descontar n(A ∩ B) uma vez.
Por outro lado, para verificar (4), basta aplicarmos (3) F A
três vezes, obtendo
12
n(A ∪ B ∪ C) = n((A ∪ B) ∪ C) 30 18
= n(A ∪ B) + n(C) − n((A ∪ B) ∩ C)
= n(A) + n(B) − n(A ∩ B) + n(C)
− n((A ∩ C) ∪ (B ∩ C)) 8
= n(A) + n(B) + n(C) − n(A ∩ B)
− n(A ∩ C) − n(B ∩ C)
15 7
+ n((A ∩ C) ∩ (B ∩ C))
= n(A) + n(B) + n(C)
− n(A ∩ B) − n(A ∩ C) − n(B ∩ C)
+ n(A ∩ B ∩ C). 12
Vejamos, em dois exemplos simples, como aplicar o R
princı́pio da inclusão-exclusão em Combinatória.
Exemplo 16. Numa classe de 30 alunos, 14 falam inglês,
5 falam alemão e 3 falam inglês e alemão. Quantos alunos Observando que a+ b + d+ e = n(F ) = 65, b + c+ e + f =
falam pelo menos uma lı́ngua, dentre inglês e alemão? n(A) = 45, d + e + f + g = n(R) = 42, b + e = n(F ∩ A) =

http://matematica.obmep.org.br/ 5 matematica@obmep.org.br
20, d + e = n(F ∩ R) = 25, e + f = n(A ∩ R) = 15 e Sugestões de Leitura Complementar
e = n(F ∩ A ∩ R) = 3, obtemos o sistema de equações
 1. A. C. Morgado, J. B. P. de Carvalho, P. C. P. Carva-
 a + b + d + e = 65

 lho e P. Fernandez. Análise Combinatória e Probabi-


 b + c + e + f = 45 lidade. Rio de Janeiro, IMPA, 2000.

 d + e + f + g = 42

b + e = 20 , 2. J. P. O. Santos, M. P. Mello e I. T. Murari. Introdução
 à Análise Combinatória. Rio de Janeiro, Ciência Mo-


 d + e = 25
 derna, 2007.


 e + f = 15

e=3
3. Cı́cero Thiago B. Magalhães. Sequência de Fibonacci.
o qual pode ser resolvido facilmente e fornece a = 30, b = Revista Eureka, 21. Rio de Janeiro, IMPA, 2005.
12, c = 18, d = 15, e = 8, f = 7 e g = 12. Logo,
4. Marcelo R. de Oliveira e Manoel L. Carneiro. Coleção
n(F ∪ A ∪ R) = a + b + c + d + e + f + g Elementos da Matemática, vol. 3. Belém, 2009.
= 30 + 12 + 18 + 12 + 15 + 7 + 8
= 100.

De maneira geral, dados n conjuntos finitos


A1 , A2 , . . . , An , o número de elementos de sua união

n
X X
n(A1 ∪ A2 ∪ . . . ∪ An ) = n(Ai ) − n(Ai ∩ Aj )
i=1 1≤i<j
X
+ n(Ai ∩ Aj ∩ Ak )
1≤i<j<k
X
− n(Ai ∩ Aj ∩ Ak ∩ Ap )
1≤i<j<k<p

+ ...
+ (−1)n−1 n(A1 ∩ A2 ∩ . . . ∩ An ).
Para uma demonstraçao da fórmula acima, sugerimos ao
leitor as referências [1] ou [2].

Dicas para o Professor


É importante que o professor faça uma rápida revisão
das aulas anteriores, para mostrar as diversas aplicações
que podem existir. Nesse sentido, uma estratégia útil é
apresentar os enunciados de alguns dos exemplos do ma-
terial a fim de convencer os alunos de que as técnicas de
contagem que eles conhecem são aplicáveis à resolução dos
mesmos. Ao todo, sugerimos utilizar dois ou três encon-
tros, de 50 minutos cada, para desenvolver todo o conteúdo
desse material. Dado o fato de que os argumentos apresen-
tados aqui não são uma novidade para os estudantes, su-
gerimos fortemente que o professor dê um tempo razoável
para os estudantes pensarem nos exemplos a serem discu-
tidos, possivelmente apresentando dicas aos exemplos mais
complicados.

http://matematica.obmep.org.br/ 6 matematica@obmep.org.br

Você também pode gostar