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OS DEUSES ESTRANHOS DA CIÊNCIA MODERNA 1

OS DEUSES ESTRANHOS
DA CIÊNCIA MODERNA
Adauto J. B. Lourenço
Preletor da I conferência Fiel para Jovens - Julho de 2003

“Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder,


como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem,
desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que
foram criadas. Tais homens são, por isso, indesculpáveis; porquanto,
tendo conhecimento de Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe
deram graças; antes, se tornaram nulos em seus próprios raciocínios,
obscurecendo-lhes o coração insensato. Inculcando-se por sábios, tor-
naram-se loucos e mudaram a glória do Deus incorruptível em
semelhança da imagem do homem corruptível, bem como de aves,
quadrúpedes e répteis.”
Romanos 1.20-23

C erta vez fui confrontado por nhor não tem como provar a exis-
um professor de filosofia de uma tência de Deus. Vá a um laboratório
universidade. Eu havia acabado de e prove que Deus existe!”, disse ele.
dar uma palestra sobre o criacio- “O senhor tem toda a razão”,
nismo1 e, para aquele homem brilhan- respondi ao professor. Depois de uma
te e tão cheio do conhecimento do breve pausa, continuei: “Mas o se-
presente século, era inadmissível que nhor também não tem como ir a um
alguém pudesse ser um cientista sé- laboratório e provar que Deus não
rio e honesto e crer em uma “idéia existe. Tudo é uma questão de crer.
tão desprovida de embasamento ci- Eu creio que Deus existe, e o senhor
entífico como a da existência de crê que Ele não existe”.
Deus”. Naquele momento, havia sido
Ele foi direto ao ponto. “O se- estabelecida uma base comum para
2 Fé para Hoje

um diálogo. A confrontação havia livro de Gênesis têm sido tratados


sido reduzida a um denominador co- como um conto mitológico e não
mum: nós dois éramos “crentes” – como história. O primeiro capítulo,
eu, crendo que Deus existe; e ele, principalmente, tem sido ridiculari-
crendo que Deus não existe. Nós dois zado por conter uma linguagem con-
críamos e, baseados nas nossas “cren- siderada por muitos como simplista,
ças”, havíamos construído, cada um, pela maneira como é relatada a se-
uma cosmovisão diferente. Agora não qüência de eventos sobrenaturais de
se tratava mais de uma discussão so- Deus, através dos quais o universo
bre a origem de todas as coisas, sim- veio a existir. O que se diz é que qual-
plesmente, e sim do motivo pelo qual quer proposição científica, por mais
cada um de nós havia optado por crer simples que seja, ofereceria uma ex-
ou não na existência de Deus. plicação mais racional sobre a origem
Esta e muitas outras experiênci- do mundo.
as semelhantes têm me levado a con- Portanto, gostaria que comparás-
siderar a realidade espiritual e cientí- semos não a proposição científica
fica que vivemos neste início de mais simples, e sim a mais complexa
milênio. Somos ensinados (para não já apresentada até o momento sobre
dizer doutrinados) por uma ciência e a origem do tempo, do espaço, da
por um conhecimento científico que energia, da matéria,… do universo,
nega a existência de Deus! No entan- a teoria do big bang. Começaríamos
to, na sua base, o ensino científico procurando o que seria a resposta a
atual não passa de uma crença. A esta primeira pergunta: teria Deus
inexistência de Deus não pode ser criado todas as coisas do nada (teo-
provada pela ciência: temos de crer ria da criação ex-nihilo), ou todo
que Deus não existe! o universo teria surgido de uma ex-
Muitos de nós, homens envolvi- plosão espontânea de um “ovo cós-
dos com a ciência e que crêem no mico” que não passava do tama-
Deus da Bíblia, temos visto um nú- nho de uma bola de tênis (teoria
mero cada vez maior de pessoas que do big bang)?
professam o cristianismo e que, sem Uma segunda pergunta (confor-
ao menos refletir sobre o posicio- me a idéia científica presente) servi-
namento ateu da ciência, se prostram ria para validar o questionamento da
e adoram os estranhos deuses que a existência do Criador e do relato de
ciência tem produzido. Tais pessoas Gênesis. Esta pergunta serviria para
não consideram que a proposta da cri- comparar o relato de Gênesis 1 com
ação do mundo por um Deus pessoal a evidência científica: teria Deus cri-
e transcendente é perfeitamente cien- ado primeiro a luz (dia um) para
tífica, válida e relevante. depois (dia quatro) criar os corpos
celestes como o Sol, a Lua, as es-
trelas, as galáxias…?
OS DEUSES DO ABSURDO E O DEUS
No que diz respeito à segunda
RACIONAL
pergunta, a ciência afirma categori-
Os primeiros onze capítulos do camente que a ordem está correta.
OS DEUSES ESTRANHOS DA CIÊNCIA MODERNA 3

Primeiro veio a luz (energia) depois aceitar fatos que não podem ser ex-
os corpos celestes (matéria). Caso a plicados ou demonstrados cientifica-
Bíblia não concordasse neste ponto mente? Em outras palavras, as duas
com a ciência, muitos simplesmente teorias exigem fé!
descartariam a teoria do criacio- Neste ponto, a ciência moderna
nismo, sem ao menos considerar que nos apresenta os deuses do absurdo,
a ciência já esteve errada inúmeras onde homens mortais, com conheci-
vezes (até mesmo neste caso da luz mento limitado, procuram fazer
ter aparecido antes dos corpos celes- adeptos às suas crenças. Tomando o
tes). conhecimento que possuem das ciên-
Mas, e quanto à primeira pergun- cias como validação de uma pseudo-
ta? Teria a ciência conseguido pro- autoridade, tais homens procuram
var uma seqüência de eventos “natu- remover qualquer traço da necessi-
rais” e “espontâneos” que teriam pro- dade de um Criador que tenha por
duzido o universo que hoje vemos? sua vontade e decreto criado o uni-
A resposta é negativa. As leis da físi- verso. Aceita-se o absurdo em vez do
ca que conhecemos hoje não se apli- lógico. E isto é feito apelando para
cam ao modelo do big bang quanto aquilo que eles mesmos condenam: a
ao início do universo. E se as mes- fé.
mas pudessem ser aplicadas, a ciên- Seja observado que muito se tem
cia não sabe quais seriam as condi- falado sobre a ciência ser racional,
ções iniciais para que essas leis pro- ser lógica. E é verdade. A proposi-
duzissem o universo que hoje conhe- ção da existência de um Deus criador
cemos. E, então, perguntamos: do universo é perfeitamente racional,
“Quais leis regiam esses eventos lógica, relevante e também científi-
cruciais do aparecimento do univer- ca. Por que não incluí-la, então, no
so ou quais eram as condições inici- pensamento científico atual?
ais?” A única resposta que obtemos Por outro lado, voltando ao big
é: “São leis e condições iniciais ain- bang e ao “ovo cósmico”, apenas
da desconhecidas”. Mas, se elas são como um exercício intelectual, pen-
desconhecidas, como aceitá-las? Ou- se na seguinte proposição: coloque
tra vez a única resposta que obtemos tudo o que existe na sua casa dentro
é: crer no que os cientistas estão pro- de uma bola de tênis… Coloque tudo
pondo. Mas crer não é um elemento o que existe no planeta Terra, inclu-
“religioso”? Sem dúvida. Todos con- indo o próprio planeta, dentro da
cordamos que crença e fé são elemen- mesma bola tênis… Coloque o siste-
tos religiosos. ma solar inteiro, com o sol e todos
Como podem, então, as duas teo- os planetas e luas, dentro da mesma
rias, a teoria da criação ex-nihilo e a bola de tênis… Coloque os, aproxi-
teoria do big bang, serem tratadas tão madamente, duzentos bilhões de es-
tendenciosamente, a tal ponto que a trelas da nossa galáxia dentro da mes-
primeira é considerada religião e a ma bola de tênis… Coloque os dez
segunda, ciência, quando as duas pos- bilhões de galáxias visíveis, com as
suem um mesmo elemento de base: suas trilhões de trilhões de trilhões
4 Fé para Hoje

de estrelas dentro da mesma bola de Criador. Diferente da proposta de


tênis! Perfeitamente racional e lógi- “ovo cósmico” do big bang, este ca-
co? É exatamente isto que nos é pas- pítulo trata de uma criação pla-
sado através da teoria do big bang e nejada e organizada pela mente bri-
dos bilhões de anos de existência do lhante de Deus. Dias um, dois e três
universo. Aceitamos os deuses do ab- foram dias de criação preparatória.
surdo em lugar do Criador. Dias quatro, cinco e seis foram dias
Pensemos um pouco mais nas de criação para preenchimento. Por
propostas da teoria do big bang. exemplo. No dia dois, Deus fez sepa-
O que havia antes do big bang? ração das águas, criando o fir-
Qual evento ou o que desencadeou a mamento. No dia cinco, Deus criou
explosão (chamada de “big bang”) do as aves para o firmamento que Ele
“ovo cósmico”? (Causa e efeito pre- havia criado no dia dois, bem como
cisam fazer parte deste processo. Se os enxames de seres viventes para
explodiu, algo explodiu; e, se houve povoar as águas separadas, também
uma explosão, alguma coisa a ini- no dia dois.
ciou.) Através da sucessão de eventos
Será que o universo presente não da criação, Deus também mostrou a
faz parte de uma sucessão cíclica de utilização de um “controle de quali-
eventos (teoria dos universos dade” aplicado ao seu processo de cri-
oscilatórios), big bang – início, big ação. Uma avaliação foi feita no fi-
crunch – final, big bang – início, big nal de cada passo do processo (cada
crunch – final, e assim por diante? dia foi avaliado… “e viu Deus que
Como saber se estes outros ciclos era bom”; observe que apenas o dia
existiram, sendo que os mesmos não dois não recebeu avaliação individu-
deixam nenhuma evidência da sua al). Outra avaliação foi feita no final
existência para o ciclo seguinte (se- do processo todo (Gênesis 1.31).
gundo os criadores desta teoria)? Ordem, propósito, avaliação,
Os cientistas não conhecem as capacidade e planejamento: tudo está
respostas para estas e outras pergun- dentro da teoria criacionista.
tas. Elas não se encontram no campo Quero mais uma vez deixar bem
científico, nem no campo filosófico, claro que a origem do universo, quer
e sim no campo da fé. seja explicada pela teoria da criação,
Assim, os deuses do absurdo con- quer seja pela do big bang, sempre
tinuam sendo criados pelas mentes será tratada como um evento sobre-
brilhantes… Deuses esses que não cri- natural. A própria Bíblia menciona
aram os céus e a terra, pois não pos- esta característica em Hebreus 11.3.
suem poder para fazê-lo (Jeremias A questão não é se as duas teorias são
10.1-16). científicas: elas são! Mas sim o por
Contudo, temos no primeiro ca- quê alguém aceita o big bang e rejei-
pítulo das Escrituras não somente o ta o criacionismo. Em termos cientí-
relato de como o universo chegou a ficos, por que alguém acredita na
existência, mas também da “me- cosmologia2 que abraçou? Em termos
todologia de processo” utilizada pelo teológicos, por que alguém acredita
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nos deuses do absurdo e não no Deus Criador pessoal, apenas de um pro-


da Bíblia? cesso criador “natural” e “espontâ-
neo”.
No entanto, poucos sabem que
OS DEUSES IMPESSOAIS E O DEUS
toda esta teoria é de caráter espe-
PESSOAL
culativo, baseada na interpretação dos
A própria razão de estarmos vi- fósseis.
vos e termos a capacidade de consi- Fósseis são animais e plantas que
derar estas questões são indicações de morreram por processos não naturais
uma realidade que transcende a nos- (se fossem naturais, teriam se decom-
sa experiência do cotidiano. Como posto) e cujos vestígios foram in-
explicar que corporados
uma série de ao da rocha
eventos alea- C onde são en-
tórios e im- A proposta da criação contrados
pessoais, (isto é, quan-
movidos por do mundo por um Deus do o animal
leis científi- pessoal e transcendente é ou a planta
cas desconhe- perfeitamente científica, morreu a ro-
cidas, trou- cha ainda era
xeram a e- válida e relevante. “lama”).
xistência se- Este tipo es-
C
res pessoais e pecífico de
inteligentes fóssil aqui
que questionam a sua origem? Como mencionado é o fóssil encontrado em
o inanimado se tornou vivo? Como rochas sedimentares. Existem outros
o impessoal se tornou pessoal? tipos de fósseis que são encontrados
Aqui também uma outra série de no gelo, no âmbar, nas turfeiras e
informações chega até nós com apa- ainda alguns são vulcânicos. Pelo fato
rência de um veredito científico onde dos fósseis serem encontrados em
os deuses impessoais são apresenta- camadas que aparecem na crostra da
dos. A evolução biológica natural3 terra, deu-se o nome de “coluna geo-
(conhecida cientificamente como lógica” a estas camadas alinhadas
transformismo) aparece como a res- verticalmente. Nesta coluna geológi-
posta científica e racional para a ori- ca encontra-se o, então chamado,
gem da vida. Nela, elementos quí- registro fóssil.
micos básicos se transformaram es- A coluna geológica (com os fós-
pontaneamente em compostos orgâ- seis nela contidos) é tomada como
nicos… que espontaneamente produ- base fundamental para demonstrar a
ziram seres vivos de extrema simpli- seqüência de transformações pelas
cidade… os quais espontaneamente e quais os seres vivos passaram desde
naturalmente aumentaram em grau de um passado primevo até o presente.
complexidade… até chegar ao ho- Tomando-se os fósseis encontrados
mem. Não existe a necessidade de um nessas sucessivas camadas, das mais
6 Fé para Hoje

profundas até as mais superficiais, muito além da nossa compreensão.


pode-se reconstruir a história do de- Como matéria não orgânica poderia
senvolvimento dos seres vivos na ter- produzir algo tão complexo como o
ra, afirmam os evolucionistas. No DNA (ácido desoxirribonucléico).
entanto, isto é altamente inter- Como seria isto possível? Como par-
pretativo. tículas atômicas (irracionais) saberi-
A coluna geológica não aparece am qual seria a melhor combinação?
completa em nenhum lugar do pla- Como processos altamente aleatóri-
neta; e onde algumas das camadas os escolheriam o caminho da vida e
aparecem, os fósseis nem sempre es- para a vida?
tão na ordem proposta pela teoria da As leis que regem os princípios da
evolução. vida são tão precisas que apontam para
Não somente isto; o próprio apa- um Criador pessoal e não para uma
recimento das camadas, que se- seqüência de processos aleatórios es-
gundo a teoria da evolução está rela- pontâneos, totalmente impessoais.
cionado aos processos de erosão e de A existência de um Deus pessoal
deposição de sedimentos, pode ser que criou todas as coisas, incluindo
explicado pela hidrodinâmica de um os seres vivos, implica num padrão
dilúvio universal. Nas águas de um moral que toda criatura pessoal e in-
dilúvio global, uma grande quanti- teligente, criada por Ele, deve se sub-
dade de sedimentos de densidades meter. Ao passo que os deuses im-
diferentes nelas suspensos e sob a ação pessoais da ciência moderna (os pro-
direta do ciclo das marés formaria as cessos naturais e espontâneos) nada
mesmas camadas da coluna geológi- têm a dizer sobre moral ou qualquer
ca pelo processo conhecido por outro assunto relacionado com o ser
“liquefação”. humano, pois segundo a evolução
Neste ponto, o criacionismo e a somos apenas frutos do acaso.
evolução divergem diametralmente. Deixe-me ilustrar, através de um
Para os evolucionistas a coluna geo- fato, como a teoria da evolução nos
lógica tem um caráter cronológico. leva a crer nesses deuses impessoais.
Para os criacionistas a mesma coluna Certa vez, ao sair de uma pales-
tem um caráter classificatório. Para tra, fui cercado por um grupo de alu-
o evolucionista isto implica em mi- nos do departamento de biologia da-
lhões de anos; para o criacionista em quela universidade. Todos fizeram
centenas de dias. Os fósseis são os praticamente a mesma pergunta: “O
mesmos, as camadas são as mesmas, senhor não crê que a experiência de
mas a interpretação é diferente. Stanley Miller, o qual em 1953 pro-
Ainda que os fósseis pudessem duziu aminoácidos (matéria orgâni-
dar o respaldo necessário para a teo- ca) de elementos inorgânicos
ria da evolução com os seus deuses (amônia, metano, hidrogênio mo-
impessoais, como ainda explicar os lecular e vapor d’água), mostra que
processos que produziram a comple- processos naturais podem acontecer?”
xidade da vida? “Não”, disse a eles. E continuei:
Tal complexidade é algo que vai “Na experiência de Miller, os pro-
OS DEUSES ESTRANHOS DA CIÊNCIA MODERNA 7

cessos não foram nem naturais nem é para crer. Onde estão as evidênci-
espontâneos. A experiência que pro- as?”, perguntei aos alunos.
duziu tais aminoácidos foi projetada Aqueles alunos, bem como mi-
por uma mente inteligente e pessoal lhões de outros, têm sido levados a
que sabia exatamente o que estava pro- crer nos deuses impessoais da ciência
curando. Isto não é espontâneo. Não moderna, aceitando como evidente
somente isto. Miller já conhecia a aquilo que não é provado.
composição química dos amino- A origem da vida, quer seja ex-
ácidos. Ele propôs que o chamado plicada pela teoria da criação, quer
'caldo primordial' continha os ele- seja pela evolução, sempre será tra-
mentos inor- tada como um
gânicos que C
evento sobre-
foram utili- natural. A
zados na ex- O criacionismo traz o absoluto questão mais
periência. da pessoa de Deus para todas uma vez é:
Não havia, por que al-
como ainda as áreas, removendo o guém aceita a
não há, ne- relativismo implantado evolução e re-
nhuma prova por conceitos filosóficos. jeita o cria-
ou evidência cionismo?
de que o que C Em termos
Miller cha- científicos,
mou de 'caldo primordial' seja o que por que alguém acredita na cosmo-
havia na suposta atmosfera ou no su- gonia4 que abraçou? Em termos teo-
posto oceano primitivo. Isto não é lógicos, por que alguém aceita os deu-
prova a favor da evolução. A experi- ses impessoais e não o Deus pessoal
ência do Dr. Miller mostra que vida da Bíblia?
inteligente consegue produzir mate-
rial orgânico de matéria inorgânica.
OS DEUSES HUMANOS E O DEUS
Para a evolução esta experiência não
TRANSCENDENTE
ajuda em nada. O problema do apa-
recimento da vida, segundo a evolu- No começo da década de noven-
ção, continua sendo um mistério. ta, os meus estudos me levaram até o
Como já foi dito por Randy Wysong: Laboratório Nacional de Oak Ridge,
'…a evolução significa a formação de nos Estados Unidos. Um dos projetos
organismos desconhecidos, a partir de que participei ali foi o do mapea-
produtos químicos desconhecidos, mento tridimensional do DNA. Ha-
numa atmosfera ou oceano de com- via um grande interesse neste proje-
posição desconhecida, sob condições to, pois o mesmo fora criado para
desconhecidas, cujos organismos su- desenvolver técnicas que auxiliariam
biram então uma escada evolucionista no mapeamento genético humano
desconhecida, mediante um proces- através do DNA (hoje este mapea-
so desconhecido, deixando uma evi- mento é conhecido como Projeto
dência desconhecida.' O que se pede Genoma Humano).
8 Fé para Hoje

Ao estudar aquele pequeno fila- e tem sido a do começo do século


mento encontrado no núcleo das cé- XXI. Moldamos as nossas leis basea-
lulas dos seres vivos, comecei a ima- dos nas suas “proposições”; molda-
ginar a dimensão daquilo que estava mos a educação dos nossos filhos ba-
à minha frente. Um único filamento seados nas suas “proposições”; mol-
de DNA humano chega a ter 2,10 damos o comportamento da socieda-
metros de comprimento. Este fila- de, da família, dos indivíduos basea-
mento é invisível a olho nu, por ser dos nas suas “proposições”; molda-
ele extremamente fino. O nosso cor- mos a nossa religiosidade baseados nas
po possui cerca de 100 trilhões de suas “proposições”; …valores mile-
células (número estimado pelos cien- nares foram alterados! Nenhuma ou-
tistas). Multiplicando os 2,10 metros tra ciência teve um impacto tão pro-
(comprimento do DNA existente em fundo na humanidade e em tão pou-
cada célula) pelo número de células co tempo como a psicologia.
do nosso corpo (100 trilhões), foi pos- A psicologia, como as demais
sível obter um número que seria equi- ciências, é profundamente orientada
valente a percorrer a distância entre por um humanismo ateísta. Este hu-
a Terra e a Lua aproximadamente manismo diz que podemos em nós
550.000 vezes. Em outras palavras, mesmos encontrar a solução para to-
se alguém pudesse esticar o DNA de dos os nossos problemas e anseios. O
cada célula do corpo humano e humanismo diz que poderemos um
colocá-los todos ponta-a-ponta, tería- dia dominar tudo e todas as coisas,
mos um fio finíssimo com cerca de tornando-nos perfeitos. O humanis-
21 milhões de quilômetros! Tudo isto mo diz que um dia seremos como
só de informação genética. “deuses”.
O conhecimento genético sobre E a psicologia, através da roupa-
o ser humano nos colocou diante de gem científica, cuidadosamente nos
um mundo imenso de complexidade. tem dado razões para crer que isso é
Complexidade essa que não pode ser ou será possível. Não que existam
explicada apenas como “tendo acon- provas e evidências científicas, mas
tecido espontaneamente”! baseadas uma vez mais no crer, pes-
Esta é a parte biológica e através soas são levadas a viver crendo que
dela contemplanos a beleza da “má- obterão as promessas feitas por esta
quina humana”. pseudociência.
Mas afinal, somos apenas “rea- Tais pessoas adentraram assim a
ções químicas” ou existe algo mais? uma religião de deuses humanos, bus-
O que dizer da nossa parte volitiva, cando as grandes respostas sobre a
intelectual e emocional? Da nossa mente e o relacionamento humano,
mente? Na verdade, o que é o ser hu- como se tais respostas estivessem ape-
mano? nas dentro de cada um de nós. Fo-
O estudo da psiquê humana (psi- mos levados a crer que temos em nós
cologia) é a ciência que trata da mente mesmos a capacidade de “consertar”
e do comportamento do ser humano. e melhorar, pois afinal estamos evo-
Ela foi a grande ciência do século XX luindo e a raça humana hoje é apenas
OS DEUSES ESTRANHOS DA CIÊNCIA MODERNA 9

um estágio desta longa cadeia evo- luto da pessoa de Deus para todas as
lutiva de seres vivos. “O que não será áreas, removendo o relativismo im-
a raça humana daqui a 10 milhões plantado por conceitos filosóficos.
de anos? Pense no que éramos a al- Não sou eu, nem a sociedade, nem
guns poucos milhões de anos atrás: os povos que têm a autoridade para
meros hominídeos (meio primatas, definir o que é certo ou o que é erra-
meio seres humanos)”, dizem os ci- do: somente o Criador pode fazê-lo.
entistas. E aqui o elemento fé uma vez
A psicologia, sem embasamento mais se faz necessário. Quando al-
científico, dita quais são as regras de guém aceita a proposta da psicologia
comportamento, de conduta, de sobre como se deve viver (seja qual
moralidade, de cidadania e de tantas for a área de relacionamento, proble-
outras áreas da vida do ser humano, ma, doença, etc.), essa pessoa estará
a qual, usando uma vestimenta cien- fazendo uso da sua fé no que lhe é
tífica, esconde a sua identidade reli- proposto. Quando alguém aceita os
giosa. princípios do Criador contidos nas
Pouco se questiona as proposi- Escrituras, ele também o faz pela fé.
ções da psicologia. Diga-se de passa- Portanto, a base continua sendo a fé.
gem que, se o mesmo padrão de A pergunta que uma vez mais se des-
questionamento usado para com a taca é: Por que alguém aceita os con-
Bíblia fosse aplicado à psicologia (e selhos da psicologia e rejeita os pa-
com a mesma rigidez), esta há muito drões do Criador expostos na Bíblia?
teria desaparecido.
Na verdade, podemos entender
ATÉ QUANDO COCHEAREIS
porque o mundo, a Igreja, os seres
ENTRE DOIS PENSAMENTOS?
humanos em geral estão tão fascina-
(1 Reis 18.21)
dos pela religião da psicologia. Por
havermos nos tornado adoradores dos Cada vez menos, nós, o povo de
deuses do absurdo e dos deuses im- Deus, temos ousado levantar as nos-
pessoais, nos tornamos adoradores de sas vozes para dar a razão da espe-
nós mesmos. Nós nos tornamos o rança que há em nós (1 Pedro 3.15),
padrão de moral, de valores e de prin- por acharmos que a ciência tem pro-
cípios. Nós, seres humanos, deses- vas e evidências conclusivas sobre a
peradamente queremos nos tornar origem do homem e do universo. A
“deuses”. grande verdade é que a ciência, além
Aqui também o criacionismo traz de não ter essas provas, também se
a proposta do Deus pessoal, que não apóia na crença das suas pressuposi-
somente criou o universo e a terra com ções, para estabelecer as suas “ver-
o homem para nela habitar, mas que dades”.
os criou com um propósito. Esse pro- Precisamos rever o que nós cre-
pósito se manifesta no relacionamento mos e por que cremos no que cre-
do Criador com a criatura e não so- mos. Qual a razão da nossa fé?
mente da criatura com o meio físico Precisamos parar e começar a
e social. O criacionismo traz o abso- pensar cientificamente, como o fize-
10 Fé para Hoje

ram muitos dos homens do passado. da vida é a existência (Êxodo


Em vez de aceitar, devemos questio- 3.14).
nar racionalmente até encontrarmos
as respostas verdadeiras. “Tu és digno, Senhor e
Deus nosso, de receber a gló-
A ciência exige uma causa para ria, a honra e o poder, porque
todo efeito... todas as coisas tu criastes, sim,
A causa do sem fim é a existên- por causa da tua vontade vie-
cia do infinito (2 Crônicas 6.18); ram a existir e foram criadas”
da eternidade é a existência do (Apocalipse 4.11).
eterno (Salmos 90.2);
do espaço ilimitado é a onipre- ______________
sença (Jeremias 23.24); 1
Criacionismo: teoria científica
do poder é a onipotência (Isaías baseada em evidências na biosfera, aci-
40.25-26); ma da biosfera e abaixo da biosfera, a
da sabedoria é a onisciência (Sal- qual propõe que todas as coisas criadas
mos 139.1-18); constituem o produto de um ato único e
da personalidade é o individual soberano por parte de um Criador (Deus)
(Isaías 49.13); onisciente, onipotente e pessoal, o qual
das emoções é o emocional (Isaías não depende da sua criação para a sua
63.15); existência, nem é parte dela. (Defini-
da vontade é a volição (Apo- ção generalizada pelo autor.)
calipse 4.11); 2
Cosmologia: ciência que estuda o
da ética é a moral (Deuteronômio universo físico atual e o seu apareci-
4.8); mento e origem.
da espiritualidade é o espiritual 3
Evolução Biológica: teoria cien-
(João 4.24); tífica que propõe o aparecimento da
da beleza é a estética (Salmos vida, o aumento de complexidade e di-
27.4); versidade como resultados de proces-
da retidão é a santidade (Le- sos naturais.
vítico 19.2); 4
Cosmogonia: ciência que estuda
do amar é o amor (1 João 4.8); o aparecimento da vida.

1 1 1 1 1 1 1

Quem pensa que pode haver um conflito real


entre ciência e religião deve ser muito inexperiente
em ciência ou muito ignorante em religião.
Phillip Henry
ATEÍSMO? — IMPOSSÍVEL! 11

ATEÍSMO? — IMPOSSÍVEL!
John Blanchard

E m uma pesquisa de opinião, aparentes do ateísmo, e sim pergun-


realizada na Inglaterra, em 2001, tarmos: o ateísmo é verdadeiro?
38% dos entrevistados declararam Tenho passado vários anos estu-
que não eram religiosos. Outras pes- dando esta pergunta e cheguei à con-
quisas demonstram que aproximada- clusão de que não é possível que o
mente a metade desses “não-religio- ateísmo seja verdadeiro. O ateísmo
sos” iria mais além e diria que é suscita muitos problemas. Pretendo
ateísta. descrever alguns desses problemas.
Para algumas pessoas, o ateísmo
parece algo estimulante e agradável.
REALMENTE IMENSO
Afinal de contas, se Deus não existe,
não há necessidade de nos inquietar- Citando Douglas Adams: “O es-
mos a respeito de padrões de com- paço é imenso, realmente imenso.
portamento e de moralidade. Somos Você não pode acreditar em quão ter-
totalmente livres para “fazer o que rivelmente imenso é o espaço. Que-
desejamos”. ro dizer: você pode imaginar que o
E, o melhor de tudo, quando espaço é semelhante àquele longo
morrermos, não teremos de respon- caminho que o leva ao consultório do
der perguntas desagradáveis ou nos dentista, mas isso é apenas um amen-
depararmos com a possibilidade de doim em comparação ao espaço”.
sermos punidos por aquilo que pen- O autor de “O Guia do Viajante
samos, falamos ou fizemos. Isso pa- da Galáxia” (The Hitchhiker’s Guide
rece maravilhoso! to the Galaxy) estava correto. Tente
Mas, com certeza, o mais impor- contemplar as estrelas em qualquer
tante não é calcularmos os benefícios noite de céu limpo e você perceberá
12 Fé para Hoje

o que estou dizendo. Se a terra fosse receram de alguma maneira? Isso é


do tamanho de um ponto final neste contar histórias infantis!
artigo, a lua estaria distante 1 centí-
metro e meio; o sol se localizaria a
O MILAGRE DO HOMEM
5,7 metros da terra, e a estrela mais
próxima estaria a 1618 quilômetros. Os seres humanos são verdadei-
Nós ainda estaríamos a uma dis- ramente admiráveis! Organizado em
tância de 37.619.000 quilômetros da “fila única”, o DNA, em qualquer
Via Láctea e a 752.369.000 um de nós, se estenderia até ao sol e
quilômetros da galáxia de An- retornaria mais do que 100 vezes!
drômeda. Esse universo terrivelmente Durante a sua vida média, o cérebro
imenso faz surgir perguntas inquie- humano processa informações sufi-
tantes para o ateísta. cientes para encher a capacidade de
Como tudo veio a existir? Por 7.142.857.142.860.000 de disquetes
que o universo é assim? De onde vêm de computador!
as leis da natureza? Por que existem Podemos falar, pensar, contar,
ordem e planejamento tão admiráveis apreciar a beleza e construir relacio-
no universo? namentos pessoais. Temos o senso do
Falar sobre uma “Grande Explo- que é correto e do que é errado. Fa-
são” não nos leva a lugar algum. De zemos perguntas tais como: “De onde
onde surgiu o material que suposta- eu vim? Por que estou aqui? Para
mente teria causado a “explosão”? E onde estou indo?”
como essa explosão foi capaz de pro- Acima de tudo, os seres huma-
duzir beleza, ordem e planejamento? nos têm um instinto religioso profun-
damente arraigado em seu íntimo,
um senso de que existe algo (ou al-
O MISTÉRIO DA VIDA
guém) maior do que nós mesmos.
A existência da vida é um pro- Essas coisas não podem ser ditas a
blema ainda maior para os ateístas. respeito de qualquer outra criatura —
Um famoso erudito declarou que a tente pedir a um gato ou a um ca-
idéia de a vida ter se originado por chorro que leia esse artigo! Por que
acaso é semelhante a obtermos um somos tão singulares?
dicionário completo como resultado
da explosão de uma gráfica!
CLASSE DIFERENTE
Podemos realmente crer que...
era uma vez um tempo remoto em A resposta dos ateístas para a exis-
que não havia nada; de repente, “al- tência do universo, o mistério da vida
guma coisa” (uma partícula de poei- e o milagre do ser humano é dizer
ra?) apareceu e produziu, por si mes- que tudo isso veio à existência por
ma, toda a vida? A complexa “lin- acidente. Mas isso realmente não faz
guagem dos genes” (o código gené- sentido.
tico) criou-se a si mesma? Sistemas Se nosso cérebro resulta de aci-
biológicos imensamente complexos, dente, isso também ocorre com os
tal como o olho humano, apenas apa- nossos pensamentos. Por que deve-
ATEÍSMO? — IMPOSSÍVEL! 13

mos acreditar em qualquer coisa que CRIADOS POR DEUS


eles nos dizem? Como podemos sa-
ber a verdade a respeito de alguma A resposta bíblica para essas per-
coisa? guntas é que o universo maravilho-
Se todos os aspectos da vida re- so em que vivemos foi criado por
sultam de acidente, por que devemos Deus. Ele também criou o homem
nos importar com nosso comporta- “à sua imagem”, distinto de todo o
mento? Por que devemos nos esfor- resto da criação, capaz de viver em
çar para sermos decentes, honestos ou um relacionamento pessoal com seu
gentis? Por que devemos nos preocu- Criador.
par com os doentes, ajudar os neces- Esse relacionamento foi arrui-
sitados ou consolar os que estão às nado pelo pecado, mas Deus, em sua
portas da morte? grande misericórdia, veio ao mun-
Se nós somos apenas filhos do do na pessoa do Senhor Jesus Cris-
acaso, meros acidentes da evolução, to. Ele providenciou um meio pelo
não existe motivo para reivindicar- qual o relacionamento pode ser res-
mos que temos mais dignidade do que taurado.
os porcos, os mosquitos ou os sapos. Muitas pessoas, na História, vie-
No entanto, nós realmente temos dig- ram a Jesus e creram nEle, compro-
nidade! Por quê? O que nos coloca vando assim que Deus restaurou seu
em uma classe diferente? relacionamento com elas. Peça a
Deus que faça isso por você!

I I I I I I I

Naturalmente somos todos famintos, vazios, de-


samparados e estamos prontos a perecer. Perdão para
todos os pecados, paz com Deus, justificação,
santificação, graça na jornada terrena e glória na
vida além são as graciosas provisões que Deus pre-
parou para atender as necessidades de nossa alma.
Não existe nada que os corações sobrecarregados
pelo pecado desejam ou as consciências fatigadas
exijam que em Cristo não seja colocado diante dos
homens em rica provisão. Em poucas palavras, Cristo
é a síntese e a substância da “grande ceia”.
J.C. Ryle
14 Fé para Hoje

COMO EVITAR DESEQUILÍBRIOS


RELIGIOSOS
A. W. Tozer

“E a si mesmo se purifica todo o que nele tem esta


esperança, assim como ele é puro.”
1 João 3.3

O s nossos esforços para sermos to em nós, à parte de nossa própria


corretos nos podem conduzir ao erro. resposta moral favorável. Vigilância,
A operação do Espírito, no co- oração, autodisciplina e aquiescência
ração humano, não é inconsciente inteligente aos propósitos de Deus são
nem automática. A vontade e a inte- indispensáveis para qualquer progres-
ligência humana devem ceder e so real na santidade. Existem certas
cooperar com as benignas intenções áreas de nossas vidas em que os nos-
de Deus. Penso que é neste ponto que sos esforços para sermos corretos nos
muitos de nós se perdem. Ou tenta- podem conduzir ao erro, a um erro
mos nos tornar santos, e, então, tão grande que leva à própria defor-
falhamos miseravelmente; ou, então, mação espiritual. Por exemplo:
procuramos atingir um estado de pas-
sividade espiritual, esperando que 1. QUANDO, EM NOSSA DETERMI-
Deus aperfeiçoe nossa natureza, em NAÇÃO DE NOS TORNARMOS OUSADOS,
santidade, como alguém que se as- NOS TORNAMOS ATREVIDOS. Coragem
sentasse esperando que um ovo de e mansidão são qualidades compatí-
pintarroxo chocasse sozinho. Traba- veis; ambas eram encontradas em
lhamos febrilmente, para conseguir perfeitas proporções em Cristo, e
o impossível, ou não trabalhamos de ambas brilharam esplendidamente na
forma alguma. O Novo Testamento confrontação com os seus adversá-
nada conhece da operação do Espíri- rios. Pedro, diante do sinédrio, e
COMO EVITAR DESEQUILÍBRIOS RELIGIOSOS 15

Paulo, diante do rei Ágripa, demons- santos sempre foram pessoas sérias,
traram ambas essas qualidades, ain- mas a melancolia é um defeito de ca-
da que noutra ocasião, quando a ráter e jamais deveria ser mesclada
ousadia de Paulo temporariamente com a piedade. A melancolia religio-
perdeu o seu amor e se tornou car- sa pode indicar a presença de incre-
nal, ele houvesse dito ao sumo dulidade ou pecado, e, se deixarmos
sarcedote: “Deus há de ferir-te, pa- que tal melancolia prossiga por mui-
rede branqueada”. No entanto, to tempo, pode conduzir a graves
deve-se dar um crédito ao apóstolo, perturbações mentais. A alegria é a
quando, ao perceber o que havia fei- grande terapia da mente. “Alegrai-
to, desculpou-se imediatamente (At vos sempre no Senhor” ( Fp 4.4).
23.1-5).
5) QUANDO TENCIONAMOS SER
2) QUANDO, EM NOSSO DESEJO DE CONSCIENCIOSOS E NOS TORNAMOS ES-
SERMOS FRANCOS, TORNAMO-NOS RU- CRUPULOSOS EM DEMASIA. Se o diabo
DES. Candura sem aspereza sempre não puder destruir a consciência, seus
se encontrou no homem Cristo Jesus. esforços se concentrarão na tentativa
O crente que se vangloria de sempre de enfermá-la. Conheço crentes que
chamar de ferro o que é de ferro, vivem em um estado de angústia per-
acabará chamando tudo pelo nome de manente, temendo que venham a
ferro. Até o fogoso Pedro aprendeu desagradar a Deus. Seu mundo de
que o amor não deixa escapar da boca atos permitidos se torna mais e mais
tudo quanto sabe (1 Pe 4.8). estreito, até que finalmente temem ati-
rar-se nas atividades comuns da vida.
3) QUANDO, EM NOSSOS ESFOR- E ainda acreditam que essa auto-
ÇOS PARA SERMOS VIGILANTES , tortura é uma prova de piedade.
FICAMOS A SUSPEITAR DE TODOS. Pos- Enquanto os filósofos religiosos
to que há muitos adversários, somos buscam corrigir essa assimetria (que
tentados a ver inimigos onde nenhum é comum à toda raça humana), pre-
deles existe. Por causa do conflito gando o “meio-termo áureo”, o
com o erro, tendemos a desenvolver cristianismo oferece um remédio
um espírito de hostilidade para com muito mais eficaz. O cristianismo,
todos quantos discordam de nós em estando de pleno acordo com todos
qualquer coisa. Satanás pouco se im- os fatos da existência, leva em consi-
porta se seguimos uma doutrina falsa deração este desequilíbrio moral da
ou se meramente nos tornamos amar- vida humana, e o medicamento que
gos. Pois em ambos os casos ele sai oferece não é uma nova filosofia, e
vencedor. sim uma nova vida. O ideal aspirado
pelo crente não consiste em andar pelo
4) QUANDO TENTAMOS SER SÉRI- caminho perfeito, mas em ser con-
OS E NOS TORNAMOS SOMBRIOS. Os formado à imagem de Cristo.

1 1 1 1 1 1 1
16 Fé para Hoje

ALGUÉM FOI SALVO NA CRUZ?


James White
Preletor da XIX Conferência Fiel para Pastores - Outubro de 2003

“A firmamos que Cristo morreu limitada ou específica de Cristo real-


para assegurar a salvação de uma tão mente não crêem na completa so-
grande quantidade de pessoas que nin- berania de Deus, na total depravação
guém é capaz de enumerar, pessoas do homem e na eleição incondicio-
que mediante a morte de Cristo não nal da parte de Deus. Muitas das
somente podem ser salvas, mas são objeções apresentadas contra essa
salvas, têm de ser salvas; e não exis- doutrina são objeções a algum dos
te a possibilidade de, por meio de assuntos que acabamos de mencionar,
qualquer casualidade, elas serem ou- e não contra a própria expiação limi-
tra coisa, exceto pessoas salvas” tada. A “quebra” em minha maneira
(Charles Haddon Spurgeon). de pensar resultou da leitura do livro
Houve um tempo em que eu me de Edwin Palmer, Os Cinco Pontos
qualificava como um “calvinista de do Calvinismo (The Five Points of
quatro pontos”. Existem muitos que Calvinism; Grand Rapids, Baker
utilizam essa expressão e, durante Book House, 1980, pp. 41-55). Ao
quase todo aquele tempo, o único realizar uma transmissão de rádio a
ponto que eu rejeitava era o da “ex- respeito da verdade da graça eletiva
piação limitada”. Existe algo nessas de Deus, um ouvinte desafiou-me em
palavras que não soa corretamente. relação à morte de Cristo. “Por que
Como pode a expiação realizada por Cristo morreu em favor de todo o
Cristo ser limitada? Isso é exatamen- mundo, se Deus não tencionava sal-
te o que eu pensei quando comecei a var todos?” Olhei para meu com-
meditar com seriedade sobre todo o panheiro de programa, ele olhou para
assunto. A minha experiência é que mim; fiz uma decisão mental de es-
muitos dos que rejeitam a expiação tudar mais sobre aquele assunto em
ALGUÉM FOI SALVO NA CRUZ? 17

particular. Logo que voltei para casa, então, você crê que a expiação reali-
peguei o livro de Edwin Palmer e zada por Cristo, se foi realizada em
comecei o capítulo que se referia à favor de todos os homens, é limitada
obra de expiação realizada por Cris- em seus efeitos. Você crê que Cristo
to. morreu em favor de alguém e, ape-
sar disso, aquela pessoa pode ficar
Tornei-me um calvinista de “cin- perdida por toda a eternidade. Você
co pontos”, ao ler a seguinte seção: limita o poder e o efeito da expia-
ção. Eu limito o escopo da expiação,
“A pergunta que necessita de uma enquanto afirmo que seu poder e efei-
resposta exata é esta: Cristo realmente to são ilimitados! Um escritor ex-
fez ou não fez um sacrifício vicário pressou isso muito bem, quando dis-
pelos pecados? Se Ele o fez, não foi se:
em favor de todo o mundo, pois, se “Não deve haver qualquer mal-
assim fosse, todo o mundo seria sal- entendido quanto a este assunto. O
vo” (Palmer, Os cinco Pontos do arminiano limita a expiação assim
Calvinismo, p. 47). como o faz o calvinista. Este limita a
extensão da expiação quando afirma
Fui confrontado com uma deci- que ela não se aplica a todas as pes-
são. Se eu continuasse afirmando soas... o arminiano, por sua vez,
uma expiação “universal”, ou seja, limita o poder da expiação, pois ele
se eu dissesse que Cristo morreu afirma que ela não salva ninguém. O
vicariamente no lugar de todo homem calvinista limita quantitativamente a
e toda mulher no mundo inteiro, se- expiação, mas não qualitativamente;
ria obrigado a dizer: 1) que todos o arminiano limita-a qualitativamen-
seriam salvos; 2) que a morte de Cris- te, mas não quantitativamente. Para
to não foi suficiente para salvar sem o calvinista, a expiação é como uma
obras adicionais. Eu sabia que não ponte estreita que segue em todo o
estava disposto a crer que a morte de caminho por cima do rio; para o ar-
Cristo não podia salvar sem as obras miniano, a expiação é como uma pon-
humanas. Por conseguinte, eu tive de te larga que vai somente até metade
entender que a morte de Cristo foi do caminho. Na realidade, o armi-
realizada em favor dos eleitos de Deus niano coloca mais limitações severas
e que ela realiza seu propósito: salva na obra de Cristo do que o faz o cal-
aqueles em favor dos quais ela acon- vinista” (Lorraine Boettner, The
teceu. Nesse ponto, compreendi que Reformed Doctrine of Predestination
durante todo o tempo havia “limita- [A Doutrina Reformada da Predes-
do” a expiação. Na verdade, se você tinação]; Philipsburg, New Jersey,
não crê na doutrina reformada da Presbiterian and Reformed Publish-
“expiação limitada”, você crê em al- ing Company, 1932, p. 153).
guma forma de expiação limitada! Não estamos falando sobre apre-
Como pode ser isso? A menos que sentar alguma terrível limitação na
você seja um universalista (ou seja, obra de Cristo, quando nos referimos
crê que todas as pessoas serão salvas), à “expiação limitada”. Na verdade,
18 Fé para Hoje

estamos realmente apresentando um mesmo falou sobre a razão de sua


ponto de vista mais elevado sobre a vinda — buscar e salvar o perdido.
obra de Cristo no Calvário, quando Poucos vêem problema no vir de Je-
dizemos que a morte de Cristo reali- sus; muitos têm dificuldade com a
za alguma coisa na realidade e não idéia de que Ele realmente realizou
apenas na teoria. A expiação, nós toda a sua missão. No entanto, Jesus
cremos, foi autêntica, vicária e subs- deixou claro que viera para salvar o
titutiva; ela não foi uma expiação perdido. Ele fez isso por intermédio
possível e teórica que, para ser efi- de sua morte.
caz, depende da ação do homem. E,
quando alguém compartilha o evan- “Fiel é a palavra e digna de toda
gelho com pessoas envolvidas em aceitação: que Cristo Jesus veio ao
falsas religiões, eu afirmo que a dou- mundo para salvar os pecadores, dos
trina bíblica da expiação realizada por quais eu sou o principal” (1 Timó-
Cristo é uma verdade poderosa e a teo 1.15).
única mensagem capaz de causar ver- Paulo afirmou que salvar peca-
dadeiro impacto em lidar com os dores foi o propósito da vinda de
muitos ensinos heréticos sobre a pes- Cristo ao mundo. Nada nas palavras
soa de Cristo apresentados em nossos do apóstolo Paulo nos leva à conclu-
dias. Jesus Cristo morreu em favor são que é tão popular em nossos dias
daqueles que o Pai, desde a eternida- — a morte de Cristo simplesmente
de, decretou que salvaria. Existe torna a salvação em uma possibilida-
absoluta unidade entre o Pai e o Fi- de, ao invés de torná-la uma rea-
lho na salvação do povo de Deus. O lidade. Cristo veio para salvar. Foi
Pai decretou a salvação deles, o Fi- isso mesmo que Ele fez? Então, como
lho morreu no lugar deles, e o Espírito Ele o fez? Não foi por intermédio de
os santifica e os conforma à imagem sua morte? Com toda a certeza. A
de Cristo. Esse é o testemunho coe- morte expiatória de Cristo outorga
rente das Escrituras. perdão de pecados para todos aque-
les em favor dos quais ela aconteceu.
Essa é a razão por que Cristo veio ao
O INTENTO DA EXPIAÇÃO
mundo.
Por que Cristo veio ao mundo
para morrer? Ele veio simplesmente
A OBRA INTERCESSÓRIA DE CRISTO
para tornar a salvação possível? Ou
Cristo veio para obter a eterna re- “Este, no entanto, porque conti-
denção (Hebreus 9.12)? Conside- nua para sempre, tem o seu sacer-
remos algumas passagens das Escri- dócio imutável. Por isso, também
turas para responder essas perguntas. pode salvar totalmente os que por ele
se chegam a Deus, vivendo sempre
“Porque o Filho do Homem veio para interceder por eles. Com efeito,
buscar e salvar o perdido” (Lucas nos convinha um sumo sacerdote
19.10). como este, santo, inculpável, sem
Nesse versículo, o Senhor Jesus mácula, separado dos pecadores e
ALGUÉM FOI SALVO NA CRUZ? 19

feito mais alto do que os céus” que não se aproximam de Deus por
(Hebreus 7.24-26). intermédio dEle. A intercessão de
O Novo Testamento relaciona de Cristo se realiza em favor do povo
maneira íntima a obra de Cristo como de Deus. Logo veremos o quanto isso
nosso Sumo Sacerdote e Intercessor é importante.
com a sua morte sobre a cruz. Nessa Sobre que fundamento Cristo in-
passagem de Hebreus, somos ensina- tercede diante do Pai? Ele comparece
dos que o Senhor Jesus, devido ao na presença de Deus e Lhe suplica
fato de que Ele vive para sempre, que esqueça sua santidade, sua justi-
possui um sacerdócio permanente e ça e simplesmente ignore os pecados
imutável. Ele não é semelhante aos dos homens? É claro que não. O Fi-
antigos sa- lho intercede
cerdotes que C diante do Pai
morriam; o fundamenta-
Senhor Jesus Para o calvinista, a expiação é do em sua
é um perfei- como uma ponte estreita que própria mor-
to sacerdote, segue em todo o caminho por te. A inter-
porque per- cessão de
manece para cima do rio; para o arminiano, Cristo re-
sempre. Por a expiação é como uma ponte pousa sobre
causa disso, larga que vai somente o fato de que
Jesus é capaz Ele morreu
de salvar to- até metade do caminho. como substi-
talmente os C tuto do povo
que por Ele de Deus; e,
se achegam a Deus. Por quê? Porque visto que o Senhor Jesus levou sobre
Ele vive sempre para interceder por o seu corpo os pecados de seu povo,
eles. na cruz (1 Pedro 2.24), Ele pode
Ora, antes de considerarmos a apresentar sua oferta diante do Pai em
relação entre a morte de Cristo e a lugar deles e, com base na sua mor-
sua intercessão, desejo enfatizar o fato te, interceder em favor deles. O Filho
de que a Bíblia afirma a capacidade não pede que o Pai comprometa a sua
de Cristo para salvar totalmente o santidade ou simplesmente ignore o
homem. Ele não está limitado a um pecado. Cristo cuidou do pecado na
papel secundário como o grande cruz. Conforme lemos em Hebreus
Auxiliador que torna possível o ho- 9.11-12:
mem salvar a si mesmo. Aqueles que
se achegam a Deus por intermédio de “Quando, porém, veio Cristo
Cristo encontrarão nEle uma salva- como sumo sacerdote dos bens já rea-
ção abundante e completa. Além lizados, mediante o maior e mais
disso, temos de recordar que Cristo perfeito tabernáculo, não feito por
intercede por aqueles que se achegam mãos, quer dizer, não desta criação,
a Deus. Sinto que é óbvio o fato de não por meio de sangue de bodes e
que Cristo não intercede por aqueles de bezerros, mas pelo seu próprio
20 Fé para Hoje

sangue, entrou no Santo dos Santos, fosse entendida no mesmo sentido em


uma vez por todas, tendo obtido eter- que é explicado para nós em Apo-
na redenção”. calipse 5.9-11, onde a morte de
Quando Cristo entrou no Santo Cristo comprou homens de “toda tri-
dos Santos, Ele o fez “pelo seu pró- bo, língua, povo e nação”, ou seja,
prio sangue”. Ao realizar isso, somos de todo o mundo.]
informados que obteve “eterna reden- A expiação realizada pela morte
ção”. Novamente, essa não é uma de Cristo está claramente vinculada
afirmação teórica, e sim a declara- à sua advocacia diante do Pai. Por
ção de um fato. Cristo não entrou no essa razão, podemos reconhecer as
Santo dos Santos para tentar conse- seguintes verdades:
guir a redenção para seu povo! Ele 1) É impossível que o Filho não
entrou ali depois de já ter consegui- interceda por alguém em favor de
do a redenção. Então, o que Ele está quem Ele morreu. Se Cristo morreu
fazendo agora? A sua obra de inter- como Substituto deles, como não
cessão é outra obra que se realiza poderia Ele apresentar seu próprio
independentemente de sua morte sacrifício em lugar deles diante do
sacrificial? A morte de Cristo é ine- Pai? Podemos crer que Cristo real-
ficaz sem esta “outra” obra? A mente morreu por alguém que Ele
intercessão de Cristo não é uma se- não tencionava salvar?
gunda obra, independente de sua 2) É impossível que alguém em
morte. Pelo contrário, Cristo está favor de quem Cristo não morreu
apresentando diante do Pai o seu per- receba a intercessão dEle. Se Cristo
feito e completo sacrifício. Ele é o não morreu em favor de determina-
nosso Sumo Sacerdote, e o sacrifício do indivíduo, como poderia Ele in-
que Ele oferece em nosso lugar é o terceder por esse indivíduo, visto que
seu próprio sacrifício. Ele é o nosso não tem bases sobre as quais Ele pode
Advogado, como disse o apóstolo buscar a misericórdia do Pai?
João: 3) É impossível que se perca al-
guém em favor de quem Cristo
“Filhinhos meus, estas coisas vos intercede. Podemos imaginar o Fi-
escrevo para que não pequeis. Se, lho rogando ao Pai, apresentando sua
todavia, alguém pecar, temos Advo- perfeita expiação em favor de uma
gado junto ao Pai, Jesus Cristo, o pessoa que Ele deseja salvar, e o Pai
Justo; e ele é a propiciação pelos nos- rejeitando a intercessão do Filho? O
sos pecados e não somente pelos Pai sempre ouve o Filho (João
nossos próprios, mas ainda pelos do 11.42). O Pai não ouvirá as súplicas
mundo inteiro” (1 João 2.1-2). [Essa do Filho em favor de todos os que o
passagem freqüentemente é utilizada Filho deseja salvar? Além disso, se
para negar a expiação específica de cremos que Cristo pode interceder
Cristo; mas, quando consultamos a por alguém que o Pai não salvará,
passagem correspondente em João temos de crer que: a) há divisão na
11.51-52, se torna evidente que João Divindade — o Pai deseja uma coisa,
tencionava que a palavra “mundo” e o Filho, outra; b) o Pai é incapaz
ALGUÉM FOI SALVO NA CRUZ? 21

de fazer o que o Filho deseja que Ele O Senhor Jesus deixou claro que
faça. Ambas as idéias são completa- sua morte aconteceu em favor de seu
mente impossíveis. povo, quando falou sobre o Pastor e
Na oração sacerdotal de Cristo as ovelhas.
(João 17), podemos ver claramente
que Ele não age como Sumo Sacer- “Eu sou o bom pastor. O bom
dote em favor de todos os homens. pastor dá a vida pelas ovelhas... as-
O Senhor Jesus distinguiu claramen- sim como o Pai me conhece a mim, e
te entre o “mundo” e aqueles que, eu conheço o Pai; e dou a minha vida
em toda a oração, são mencionados pelas ovelhas” (João 10.11,15).
como pertencentes a Ele mesmo. E o O Bom Pastor entregou a sua
versículo 9 ressalta fortemente esse vida em favor das ovelhas. Todos os
argumento: homens são ovelhas de Cristo? É claro
que não, pois muitos homens não
“É por eles que eu rogo; não conhecem a Cristo, e Ele disse que
rogo pelo mundo, mas por aqueles as suas ovelhas O conhecem (Jo
que me deste, porque são teus.” 10.14). Depois, Jesus falou especifi-
Quando Cristo ora ao Pai, Ele camente aos judeus que não creram
não ora em favor do “mundo”, e sim nEle: “Mas vós não credes, porque
em favor daqueles que Lhe foram não sois das minhas ovelhas” (João
dados do mundo, pelo Pai (João 10.26). Devemos observar que, em
6.37). contraste com a idéia de que, se cre-
mos, nos tornamos ovelhas do Senhor
Jesus, Ele disse que os judeus não
POR QUEM CRISTO MORREU?
creram porque não eram suas ove-
Existem muitas passagens bí- lhas. Se uma pessoa é uma ovelha de
blicas que nos ensinam que o escopo Cristo, esta é uma decisão do Pai
da morte de Cristo limitou-se aos elei- (João 6.37; 8.47), e não da ovelha!
tos. Em seguida, apresentamos al-
gumas delas. “Andai em amor, como também
Cristo nos amou e se entregou a si
“Tal como o Filho do Homem, mesmo por nós, como oferta e sacri-
que não veio para ser servido, mas fício a Deus, em aroma suave...
para servir e dar a sua vida em res- Maridos, amai vossa mulher, como
gate por muitos” (Mateus 20.28). também Cristo amou a igreja e a si
mesmo se entregou por ela, para que
Os “muitos” em favor dos quais
a santificasse, tendo-a purificado por
Cristo morreu são os eleitos de Deus,
meio da lavagem de água pela pala-
como Isaías havia dito muito tempo
vra, para a apresentar a si mesmo
antes:
igreja gloriosa, sem mácula, nem
“O meu Servo, o Justo, com o ruga, nem coisa semelhante, porém
seu conhecimento, justificará a mui- santa e sem defeito” (Efésios 5.2,25-
tos, porque as iniqüidades deles 27).
levará sobre si” (Isaías 53.11). Cristo entregou-se a Si mesmo em
22 Fé para Hoje

favor de sua igreja, o seu corpo, com so lugar. A quem se refere o prono-
o propósito de purificá-la e torná-la me “nós” nesses versículos? O texto
seu corpo. Se este era seu propósito esclarece que são os eleitos do Pai,
para com a igreja, por que Ele se ou seja, “os eleitos de Deus”. Nova-
entregaria por aqueles que não cons- mente, a obra intercessória de Cristo,
tituem a igreja? Ele não desejava à direita de Deus, é apresentada em
santificar esses “outros” também? perfeita harmonia com sua morte —
Mas, se Cristo morreu por todos os aqueles em favor de quem Cristo
homens, há muitos, muitos, que per- morreu são os mesmos por quem Ele
manecerão impuros durante toda a intercede. E, como essa passagem
eternidade. A morte de Cristo foi demonstra, se Cristo intercede por
insuficiente para purificá-los? É cla- alguém, quem pode trazer acusação
ro que não. Ele tinha outro objetivo contra tal pessoa e esperar vê-la con-
em mente quando morreu por eles? denada? Portanto, reconhecemos o
[Não estou negando que a morte de que já consideramos: Cristo morreu
Cristo teve efeitos para todos os ho- em lugar de alguém, Ele intercede
mens e, na realidade, para toda a por tais pessoas, que infalivelmente
criação. Creio que a morte dEle é uma são salvas. A obra de Cristo é com-
parte da “consumação de todas as pleta e perfeita. Ele é o Salvador
coisas” em Cristo. Entretanto, es- poderoso, que jamais falha em reali-
tamos falando aqui apenas sobre o zar seu propósito.
efeito salvífico da expiação vicária de
Cristo. Alguém poderia argumentar “Ninguém tem maior amor do
que a morte de Cristo tem efeito so- que este: de dar alguém a própria vida
bre aqueles em favor de quem ela não em favor dos seus amigos” (João
tencionava ser um sacrifício expia- 15.13).
tório.] Não, o sacrifício de Cristo em Todos os homens são amigos de
favor da igreja resulta em sua purifi- Cristo? Todos possuem o nome dEle?
cação; isso era o que Cristo tencio- Todos se prostram diante dEle e O
nava para todos em favor dos quais aceitam como Senhor? Todos obede-
Ele morreu. cem os mandamentos de Cristo (João
15.14)? Isso não acontece, portanto,
“Aquele que não poupou o seu todos eles não são amigos de Cristo.
próprio Filho, antes, por todos nós o
entregou, porventura, não nos dará “Aguardando a bendita esperan-
graciosamente com ele todas as coi- ça e a manifestação da glória do
sas? Quem intentará acusação contra nosso grande Deus e Salvador Cristo
os eleitos de Deus? É Deus quem os Jesus, o qual a si mesmo se deu por
justifica. Quem os condenará? É nós, a fim de remir-nos de toda ini-
Cristo Jesus quem morreu ou, antes, qüidade e purificar, para si mesmo,
quem ressuscitou, o qual está à di- um povo exclusivamente seu, zeloso
reita de Deus e também intercede por de boas obras” (Tito 2.13-14).
nós” (Romanos 8.32-34). Tanto o elemento de substituição
O Pai ofereceu seu Filho em nos- da cruz (Cristo se entregou por nós)
ALGUÉM FOI SALVO NA CRUZ? 23

quanto o propósito (remir-nos... pu- PURIFICADOS E SANTIFICADOS


rificar) da crucificação foram vigo-
rosamente apresentados a Tito. Se o É provável que alguém poderia
propósito de Cristo era redimir e pu- escrever muitos volumes com estu-
rificar aqueles em favor dos quais Ele dos sobre a expiação realizada por
morreu, porventura, isso não acon- Cristo. Não é nosso propósito fazer
teceu? isso neste artigo. Ao invés disso, con-
cluiremos nosso breve exame das
“Ela dará à luz um filho e lhe Escrituras com as palavras de He-
porás o nome de Jesus, porque ele breus 10.10-14:
salvará o seu povo dos pecados de-
les” (Mateus 1.21). “Nessa vontade é que temos sido
Cristo salvará o seu povo dos santificados, mediante a oferta do
pecados deles. Eu pergunto o que corpo de Jesus Cristo, uma vez por
Edwin Palmer todas. Ora,
me pergun- C todo sacer-
tou antes: dote se apre-
Cristo real- Que tipo de proclamação Deus senta, dia
mente o fez? honrará com seu Espírito: após dia, a
Cristo salvou uma proclamação elaborada exercer o ser-
ou não o seu viço sagrado
povo? tendo em vista o “sucesso” e a oferecer
ou uma proclamação muitas vezes
“Logo, que está presa à os mesmos
já não sou eu sacrifícios,
quem vive, verdade da Palavra de Deus? que nunca
mas Cristo C jamais po-
vive em mim; dem remover
e esse viver que, agora, tenho na car- pecados; Jesus, porém, tendo ofere-
ne, vivo pela fé no Filho de Deus, cido, para sempre, um único sacri-
que me amou e a si mesmo se entre- fício pelos pecados, assentou-se à
gou por mim” (Gálatas 2.20). destra de Deus, aguardando, daí em
Essa é a confissão peculiar de diante, até que os seus inimigos se-
todo verdadeiro crente em Jesus. Nós jam postos por estrado dos seus pés.
morremos com Ele, nosso Substitu- Porque, com uma única oferta, aper-
to, Aquele que nos amou e se entregou feiçoou para sempre quantos estão
em nosso lugar. sendo santificados”.
Temos visto que a Palavra de Ao mesmo tempo que conside-
Deus nos ensina que Cristo morreu ramos algumas razões lógicas para
por muitos, por suas ovelhas, pela crermos na expiação limitada e vi-
igreja, pelos eleitos de Deus, por seus mos várias referências sobre a morte
amigos, por um povo zeloso de boas de Cristo em favor de seu povo, essa
obras, por seu povo, por todos os passagem de Hebreus, acima de to-
crentes. das as outras, para mim, transforma
24 Fé para Hoje

essa doutrina em um imperativo. ção é eficaz somente para aqueles que


Ouça com atenção o que essa passa- crêem. Em outra oportunidade fala-
gem nos diz. Primeiramente, qual é remos sobre o fato de que a própria
o efeito do único sacrifício do corpo fé é um dom de Deus, dada somente
de Jesus Cristo? O que nos diz o aos seus eleitos. Agora, ao respon-
versículo 10? “Temos sido santifica- der esse argumento, queremos apenas
dos.” A língua grega usa o tempo referir-nos ao grande puritano John
perfeito nesse versículo, indicando Owen:
uma ação completa realizada no pas- “Poderia acrescentar esse dilema
sado. A morte de Cristo realmente aos universalistas: Deus impôs a sua
nos tornou santos. Cremos nisso? A devida ira, e Cristo suportou as do-
morte de Cristo verdadeiramente san- res do inferno por todos os pecados
tifica aqueles em favor dos quais ela de todos os homens, ou por todos os
foi realizada? Ou simplesmente tor- pecados de alguns homens, ou por
na possível que eles se tornem santos? alguns pecados de todos os homens.
Essas perguntas não podem ser nega- Se este último for correto — alguns
das com facilidade. O autor de He- pecados de todos os homens, isso sig-
breus prossegue descrevendo como nifica que todos os homens têm
esse Sacerdote, Jesus, assentou-se à alguns pecados pelos quais têm de
direita de Deus, de maneira diferen- responder a Deus, e, portanto, ne-
te do que acontecia aos antigos sa- nhum homem será salvo; pois, se
cerdotes, que tinham de permanecer Deus entra em juízo conosco, embo-
fazendo sacrifícios continuamente. ra Ele o fizesse com toda a huma-
Ao contrário disso, a obra de Cristo nidade por apenas um pecado, nenhu-
é perfeita e completa. Ele pode des- ma carne seria justificada diante dEle.
cansar, pois seu único sacrifício se ‘Se observares, SENHOR, iniqüidades,
tornou perfeito para todos aqueles que quem, Senhor, subsistirá?’ (Salmo
em suas vidas estão experimentando 130.3). Se a segunda opção for cor-
a obra santificadora da parte do Es- reta (o que nós afirmamos), isso
pírito Santo. Cristo os tornou com- significa que Cristo sofreu por todos
pletos, perfeitos. Esse vocábulo se os pecados de todos os eleitos no
refere a um término, um fim. Cre- mundo. Se a primeira é correta, por
mos que a morte de Cristo fez isso? que, então, todos os homens não se
Se percebemos com clareza este en- encontram livres da punição de to-
sino das Escrituras, estamos dispostos dos os seus pecados? Você dirá: ‘Por
a alterar nossa crença e nossos méto- causa de sua incredulidade, eles não
dos de proclamar o evangelho, para crêem’. Mas esta incredulidade é pe-
ajustar-se à verdade? cado ou não? Se não é, por que eles
Uma crença comum precisa ser devem ser punidos por sua causa? Se
apresentada quando transmitimos a esta incredulidade é pecado, Cristo
verdade. Muitos que acreditam em sofreu a punição devida a ela, ou não?
uma expiação “universal” ou não-es- Se Ele sofreu, então, por que esse
pecífica afirmam que, enquanto pecado os impede, mais do que quais-
Cristo morreu por todos, sua expia- quer outros pecados pelos quais Cristo
ALGUÉM FOI SALVO NA CRUZ? 25

morreu, de participar dos benefícios morreu pelos pecadores e que o de-


da morte dEle? Se Cristo não sofreu ver de todo homem é arrepender-se e
por esse pecado, isto significa que Ele converter-se. Eles sabiam que somen-
não morreu por todos os pecados de- te a graça de Deus podia produzir
les. Eles devem escolher que posição arrependimento e fé no coração do
têm de assumir” (John Owen, A homem. E, ao invés de ser um obs-
Morte da Morte na Morte de Cristo; táculo à obra de evangelização dos
Londres, Banner of Truth, 1985, pp. apóstolos, essa mensagem era o po-
61-62.) der que estava por trás da evan-
gelização que eles realizavam. Eles
proclamavam um Salvador “podero-
CONCLUSÃO
so”, cuja obra é todo-suficiente e que
Alguns rejeitam a doutrina da salva total e completamente os ho-
expiação limitada utilizando funda- mens! Os apóstolos sabiam que Deus
mentos bastante pragmáticos. “Essa estava trazendo os homens para Si
doutrina destrói o evangelismo, por- mesmo, e, visto que Ele é o sobera-
que você não pode dizer às pessoas no do universo, não há poder no
que Cristo morreu por elas, visto que mundo que seja capaz de parar a sua
você não sabe disso!” Mas, pergun- mão! Ora, existe um fundamento só-
tamos, existe alguma vantagem em lido para a evangelização! E o que
apresentar uma expiação teórica, um poderia ser mais estimulante para um
Salvador cuja obra é incompleta e um coração dilacerado por culpa do que
evangelho que é apenas uma possibi- saber que Cristo morreu em favor de
lidade? Que tipo de proclamação pecadores e que a obra dEle não é
Deus honrará com seu Espírito: uma apenas teórica, e sim real?
proclamação elaborada tendo em vis-
ta o “sucesso” ou uma proclamação A igreja precisa desafiar nova-
que está presa à verdade da Palavra mente o mundo com a proclamação
de Deus? Quando os apóstolos pre- ousada de um evangelho que é ofen-
gavam o evangelho, eles não diziam: sivo — ofensivo porque fala sobre
“Cristo morreu por todos os homens Deus que salva a quem Ele quer;
de todos os lugares; agora cumpre a ofensivo porque proclama um Salva-
vocês tornarem eficaz a obra dEle”. dor soberano que redime o seu povo.
Os apóstolos ensinavam que Cristo

1 1 1 1 1 1 1

Nada menos do que a intervenção de Deus


pode trazer-nos à vida espiritual.
Joe Nesom
26 Fé para Hoje

REFÚGIO DIVINO
C. H. Spurgeon

“O Deus eterno é a tua habitação e,


por baixo de ti, estende os braços eternos.”
Deuteronômio 33.27

O s filhos de Israel, enquanto es- De maneira semelhante, freqüen-


tiveram no Egito e peregrinaram pelo temente nos surgem épocas quando
deserto, eram uma figura visível da começamos a nos sentir oprimidos
igreja de Deus na terra. Nessa passa- por Satanás. Creio que muitos cren-
gem, Moisés estava falando, prima- tes piedosos sentem a escravidão re-
riamente, sobre eles, todavia, em se- sultante da posição que ocupam.
gundo plano, se referiu a todos os Mesmo alguns daqueles que nunca se
eleitos de Deus, em todas as épocas. converteram ao Senhor têm bastante
Ora, assim como Deus era a habita- sensibilidade para reconhecer que, às
ção de seu povo de Israel, Ele tem vezes, o serviço a Satanás é muito
sido o refúgio de todos os seus santos árduo, produz pouquíssima satisfação
durante todos os séculos. Deus era a e envolve riscos terríveis. Alguns
habitação de Israel especialmente homens não podem fazer tijolos sem
quando eles estavam em escravidão e palha, por muito tempo, e não se tor-
seu jugo era pesado. Quando eles ti- narem relativamente conscientes de
veram de fazer tijolos sem receberem que estão em uma casa de servidão.
palha, e os superintendentes de Faraó Esses, que não fazem parte do povo
os oprimiram, eles clamaram ao Se- de Deus, encontrando-se sob a pres-
nhor. Deus ouviu o clamor dos filhos são mental resultante da descoberta
de Israel e enviou-lhes seu servo parcial de seu estado, voltam-se para
Moisés. algum tipo de justiça própria ou de
REFÚGIO DIVINO 27

prazer, a fim de esquecerem seu far- povo de Israel no Egito, Deus é o


do e seu jugo. refúgio de seu povo, mesmo quando
No entanto, o povo eleito de eles estão sob opressão.
Deus, movido por um poder superi- Quando termina o cativeiro,
or, foi levado a clamar ao seu Deus. Deus se torna o lugar para que seu
Este é um dos primeiros sinais de uma povo se refugie de seus pecados. Os
alma eleita: ela parece saber, por israelitas foram tirados do Egito. Eles
meio de um instinto divino, onde se ficaram livres. Os israelitas não sa-
encontra o verdadeiro refúgio. Você biam para onde estavam marchan-
recorda que, do, mas as al-
embora sou- g gemas haviam
besse pouco a sido despeda-
respeito de Este é um dos primeiros çadas. Eles fo-
Cristo, tivesse sinais de uma alma eleita: ram emancipa-
pouca com- ela parece saber, por meio dos e não pre-
preensão dos cisavam mais
assuntos dou- de um instinto divino, chamar nin-
trinários e não onde se encontra guém de “Se-
entendesse a o verdadeiro refúgio. nhor”. Porém,
sua necessida- vejam, Faraó
de, alguma coi- g ficou irado e os
sa o permitiu perseguiu. Com
ver que somente no trono de miseri- seus cavalos e seus carros, ele saiu
córdia você poderia encontrar refú- apressadamente atrás dos israelitas.
gio. O inimigo disse: “Perseguirei, alcan-
Antes de tornar-se um crente, seu çarei, repartirei os despojos; a mi-
leito testemunhou muitas lágrimas, nha alma se fartará deles” (Êxodo
quando seu coração magoado se der- 15.9).
ramava diante de Deus, em palavras De maneira semelhante, existem
assim: “Ó Deus, eu quero alguma épocas da vida espiritual em que o
coisa. Não sei o que eu desejo, mas pecado se esforça para reconquistar
sinto uma opressão de espírito. Mi- o pecador recém-libertado de suas
nha mente está sobrecarregada e per- garras. Assim como exércitos prepa-
cebo que somente o Senhor pode me rados para a batalha, todo o passado
dar alívio. Reconheço que sou um de iniqüidades do pecador corre atrás
pecador. Oh! perdoa-me! Não enten- dele e o vence em um lugar onde seu
do bem o plano de salvação, mas eu caminho está cercado. O pobre fugi-
sei que desejo ser salvo. Eu me le- tivo deseja escapar, mas não pode.
vanto e vou ter com meu Pai. Meu Então, o que ele deve fazer? Lem-
coração anela tornar-Te o meu refú- bre-se que, naquelas circunstâncias,
gio”. Digo que esta é uma das pri- Moisés clamou ao Senhor. Quando
meiras indicações de que essa pessoa nada poderia oferecer refúgio aos
é um dos eleitos de Deus. É verdade pobres fugitivos, quando o mar Ver-
que, assim como aconteceu com o melho rugia diante deles e as monta-
28 Fé para Hoje

nhas os encerravam, em ambos os rios, como o Nilo, para satisfazer a


lados, e um inimigo furioso os per- sede dos filhos de Israel. Eles teriam
seguia, havia um caminho que não morrido de fome, se tivessem sido
estava obstruído. Era o caminho do entregues à dependência do que o solo
trono do Rei celestial, o caminho do produzia. Eles chegaram a Mara,
Deus dos israelitas. Por isso, eles onde a água era bastante amarga. Em
começaram imediatamente a andar outras ocasiões, não havia nem águas
por esse caminho, erguendo seus co- amargas. O que eles deveriam fazer?
rações em humilde oração a Deus, O refúgio infalível do povo de Deus
crendo que Ele os livraria. Você co- no deserto era a oração. Moisés, o
nhece a história: como o cajado er- representante deles, sempre se diri-
guido separou as águas profundas; gia ao Altíssimo, às vezes caindo so-
como o povo passou pelo meio do bre o seu rosto, em agonia; em ou-
mar, à semelhança de um cavalo no tras vezes, subindo ao topo do mon-
deserto, e como o Senhor trouxe to- te, para rogar, em solene comunhão
das as hostes do Egito às águas pro- com Deus, que Ele trouxesse alívio
fundas, a fim de que elas as destruís- ao seu povo.
sem completamente e nenhum daque- Você já ouviu que os israelitas se
les egípcios ficasse vivo e não fos- alimentaram de pão dos anjos, já ou-
sem mais vistos por aqueles que os viu que Jeová fez chover pão do céu
viram. sobre o seu povo, naquele horrível
Neste sentido, Deus ainda é o deserto, e que Ele fendeu a rocha,
refúgio de seu povo. Nossos pecados, para que a água jorrasse. Você ainda
que nos perseguiam com tanto ardor, não esqueceu como o vento forte so-
foram mergulhados nas profundezas prou, trazendo-lhes carne, de modo
do sangue do Salvador. Atingiram o que comeram e ficaram satisfeitos.
fundo do abismo como pedras, as Nenhuma de suas necessidades dei-
profundezas os encobriram totalmen- xou de ser atendida. Suas vestes não
te. Nós, permanecendo firmes na se desgastaram. Embora houvessem
praia em segurança, podemos cantar viajado pelo deserto, os pés deles não
triunfantemente sobre os nossos pe- se esfolaram. Deus supriu todas as ne-
cados: “Cantarei ao SENHOR, porque cessidades dos israelitas. Em nosso
triunfou gloriosamente; [todas as nos- país, temos de ir à padaria, ao açou-
sas iniqüidades] lançou no mar...” gue, às lojas de roupas, para conse-
(Êxodo 15.1). guirmos as coisas necessárias, mas os
Assim, Deus é o refúgio de seu israelitas recorreram ao seu Deus para
povo, quando este se encontra sob todas as coisas. Temos de acumular
opressão; e, quando o pecado tenta nosso dinheiro e comprar isto em um
vencê-los, Deus também é o refúgio lugar e aquilo em outro lugar. No
deles em tempos de necessidade. Os entanto, o Deus eterno era o refúgio
filhos de Israel viajaram pelo deser- e o abrigo dos israelitas, para todas
to, mas ali não havia alimentos para as necessidades. Em todas as circuns-
eles. A terra árida não produzia alho, tâncias de necessidade, eles tiveram
nem pepino, nem melão. Não havia apenas de levantar sua voz a Deus.
REFÚGIO DIVINO 29

Ora, é exatamente essa a nossa rael fez? O povo não rogou que um
condição hoje. A fé nos faz ver que forte destacamento de cavaleiros alu-
nossa posição hoje é semelhante à dos gados do Egito se tornasse o refúgio
filhos de Israel naquela época. Não deles. Ainda que realmente houves-
importa quais sejam as nossas neces- sem desejado isso, aquele que era o
sidades, “o Deus eterno é” nosso re- líder sábio deles, Moisés, olhou para
fúgio. Deus prometeu que seu pão e outro braço mais forte do que o do
suas águas lhe serão dadas. Aquele homem, pois clamou a Deus. Quão
que supre as necessidades espirituais maravilhoso é o quadro de Moisés,
não recusará as necessidades materi- com as mãos erguidas ao céu, sobre
ais. O poderoso Senhor nunca per- o cume do monte, proporcionando
mitirá que você pereça, enquanto Ele vitória a Josué, na planície. Aqueles
tiver o poder de socorrê-lo. Não im- braços erguidos foram mais valiosos
porta qual é o tipo de fardo que pesa do que dez mil homens, para as
sobre você, busque a Deus. Não ima- hostes de Israel. Vinte mil homens
gine que seu caso é muito complica- não conquistariam a vitória tão facil-
do, pois nada é impossível para o mente como aqueles braços erguidos,
Senhor. que fizeram descer do céu a própria
Não pense que Ele se recusará a Onipotência. Esta foi a principal arma
satisfazer necessidades materiais. Ele de guerra dos israelitas: a sua confi-
se preocupa com você em todos os ança em Deus. Josué saiu com um
aspectos de sua vida. Dê graças a Deus poderoso exército, mas o Senhor,
por tudo que você é, e através da sú- Jeová-Nissi, é a bandeira e o doador
plica e da oração você pode tornar as da vitória.
suas necessidades conhecidas diante Assim, “o Deus eterno é” nosso
dEle (ver Filipenses 4.6). Em tem- refúgio. Quando nossos inimigos se
pos quando a vasilha de óleo está pres- enfurecem, não precisamos temer a
tes a secar e as refeições, escassas, sua fúria. Não procuremos estar sem
busque o Deus todo-suficiente. Você inimigos, mas tomemos o nosso caso
descobrirá que nada falta aos que con- e o apresentemos ao Senhor. Enquan-
fiam nEle. to permanecer a promessa: “Toda
Além disso, nosso Deus é o re- arma forjada contra ti não prospera-
fúgio de seus santos quando seus ini- rá; toda língua que ousar contra ti em
migos se enfurecem. Quando as juízo, tu a condenarás” (Isaías 54.17),
hostes do povo de Israel estavam pe- nunca estaremos em tal posição que
regrinando pelo deserto, foram ata- as armas de nossos inimigos nos po-
cadas repentinamente pelos ama- derão ferir. Embora a terra e o infer-
lequitas. Sem haverem sido provo- no se unam em malícia, o Deus eter-
cados, esses saqueadores do deserto no é nosso castelo e fortaleza, asse-
se lançaram contra os israelitas e der- gurando-nos um refúgio eterno.
rubaram alguns deles. Mas o que Is-

1 1 1 1 1 1 1
30 Fé para Hoje

ANDANDO A SEGUNDA MILHA


John Farese

C om freqüência, alguns dizem nenhum irmão da igreja”;


que, “na igreja, 10% dos membros “As pessoas parecem tão frias
assumem 90% das responsabilida- nesta igreja”;
des”. Espero que isso seja um exage- “Ninguém jamais telefona para
ro, mas receio que essas palavras pro- mim ou conversa comigo nos cultos
vavelmente são mais exatas do que da igreja”;
alguns estão dispostos a admitir. “Jesus não aprovaria essas ‘pa-
Uma conversa recente com um nelinhas’. Estou pensando em mudar
querido irmão em Cristo me cons- de igreja”.
trangeu a escrever algumas palavras
de consideração sobre este assunto.
UM LUGAR DE AFABILIDADE
Sinto constante necessidade de
conselhos e de sabedoria da parte de Talvez você já ouviu tais afirma-
pessoas que têm demonstrado, inin- ções em sua igreja. É possível até que
terruptamente, seu compromisso com você já fez algumas delas! Bem, in-
Cristo e seu amor por Ele. Apesar felizmente, essas coisas sempre refle-
disso, Deus me colocou numa posi- tem a verdadeira experiência de uma
ção em que outras pessoas se dirigem igreja local.
a mim em busca de conselho ou sim- Tal situação é dolorosamente in-
plesmente para abrirem seus corações feliz, por várias razões. Primeira,
e compartilharem seus sentimentos e isso não agrada a Cristo; não é o que
suas lutas. Ele deseja para seu povo. Ele quer
Durante os dezessete anos em que que sua igreja esteja transbordando
tenho sido crente, tenho ouvido, por de comunhão e hospitalidade para
repetidas vezes, muitos crentes faze- com todos.
rem declarações como estas: Cristo deseja que sua igreja seja
“Nunca fui convidado para des- um lugar de intimidade e amor. Cer-
frutar da hospitalidade da casa de tamente, Ele não quer facções na
ANDANDO A SEGUNDA MILHA 31

igreja e se mostra zeloso para que ne- E, embora desejemos desfrutar


nhum membro do Corpo sinta que de todas as bênçãos de participarmos
não está sendo amado. de uma igreja local, não podemos en-
Segundo, se esses elementos exis- contrar consolo e confiança nas pes-
tem em uma igreja, torna-se extre- soas, e sim em Cristo. Temos de
mamente difícil evangelizar e convi- olhar para Jesus, a fim de que Ele
dar outras pessoas para virem aos cul- seja nosso modelo e conselheiro em
tos. todas as circunstâncias.
Sempre que convido pessoas para Em seguida, eu lhes recordo as
virem à minha igreja, sinto intenso palavras do apóstolo Paulo, escritas
desejo de que elas sejam dominadas em Filipenses 2.2-4: “Nada façais por
pelo amor de Cristo, por meio dos partidarismo ou vanglória, mas por
irmãos e irmãs que têm demonstrado humildade, considerando cada um os
esse amor para comigo. outros superiores a si mesmo. Não
Desejo não somente que elas ou- tenha cada um em vista o que é pro-
çam uma mensagem clara do evan- priamente seu, senão também cada
gelho, mas também que experimen- qual o que é dos outros”.
tem e observem como o evangelho Digo-lhes que a única maneira de
age nas vidas dos membros da igre- uma igreja ser curada dessas coisas é
ja. seus membros pararem de focalizar a
Terceiro, quero ver o crescimen- si mesmos. Os crentes têm de fazer
to e o progresso da igreja, não so- para os irmãos aquilo que eles ale-
mente em números, mas especial- gam os outros não estarem fazendo
mente nas coisas do Espírito. Negli- por eles.
genciar o amor significa que o Cor-
po está ferido e tem de ser curado,
COMPENSANDO
antes que possa crescer mais.
Por último, tal situação é triste Em outras palavras, se os outros
porque, na maioria das vezes, as coi- membros da igreja não o convidam
sas que os crentes lamentam são ver- para desfrutar da hospitalidade deles,
dadeiras, pelo menos no que diz res- convide-os à sua própria casa, não es-
peito à experiência daquele que está perando receber nada em retorno
lamentando. (exceto vê-los motivados pelo amor
de Cristo demonstrado em sua hos-
pitalidade para com eles).
NOSSO MODELO
Se ninguém telefona para você,
Então, o que dizer a pessoas que a fim de saber como você está se sen-
estão feridas e se abriram para você tindo, telefone para eles e mostre sin-
dessa maneira? Bem, eis o que eu cero interesse pela vida deles. Obser-
faço. Primeiramente, esforço-me ve bem os detalhes de sua conversa,
para confortar seus corações feridos. de modo que você possa orar pelas
Procuro recordar-lhes que a igreja é necessidades e pelo crescimento es-
constituída de pecadores redimidos, piritual deles. Encoraje-os, a fim de
mas imperfeitos. que sejam infectados por um amor
32 Fé para Hoje

contagiante para com todos. dades, toda a igreja sofrerá. Com cer-
Os crentes que me procuram, eu teza, ela não melhorará!
os incentivo a ler 1 Coríntios 12, Mas, se fizermos tudo que pu-
onde o apóstolo Paulo fala sobre as dermos para compensar aquilo que
várias partes e funções do corpo de está faltando e andarmos a segunda
Cristo. Utilizo minha própria inca- milha, por utilizarmos os nossos dons
pacidade física como exemplo. e talentos, creio que a igreja flores-
Minhas mãos e meus pés não es- cerá. Ela refletirá a glória de nosso
tão realizando suas funções. Portan- Deus, da maneira mais prática possí-
to, meus olhos, meus ouvidos e mi- vel, conforme Deus tenciona que fa-
nha língua têm de compensar as par- çamos.
tes de meu corpo que não estão fun- É claro que temos de orar e fazer
cionando. tudo que pudermos para nos assegu-
Eu poderia lamentar por causa de rarmos de que ninguém, em nossa
minhas mãos e meus pés, permitindo igreja local, está sendo negligencia-
que eles me preservassem em impro- do ou (o que é pior) evitado. No en-
dutividade e inércia. Não, isso não! tanto, a triste realidade é que alguns
Pela graça de Deus, emprego os mem- continuarão a sentir que não são ama-
bros saudáveis de meu corpo para dos, enquanto outros se limitarão a
compensar aqueles que são improdu- viver em seu próprio conforto.
tivos. Desta maneira, posso ser uma Entretanto, se nós, que reconhe-
pessoa produtiva e causar diferença, cemos essas coisas nos tornarmos
tanto em minha vida como na vida mais e mais envolvidos com aqueles
de outros. que não se sentem amados e com
aqueles que são complacentes, o Es-
pírito de Deus transformará nossas
A SEGUNDA MILHA
igrejas. Poderemos em breve desco-
Aos crentes que me procuram brir que 100% dos membros da igre-
peço que digam essas coisas para si ja estão cumprindo 100% das respon-
mesmos e para sua igreja. Se gastar- sabilidades que Deus lhes outorgou!
mos todo o nosso tempo sendo crí- Que o “Deus da esperança vos
ticos para com os membros que estão encha de todo o gozo e paz no vosso
negligenciando suas responsabili- crer” (Romanos 15.13).

John Farese, 46 anos de idade, é uma das pessoas a viver por mais
tempo, depois de ser diagnosticado como portador de atrofia muscular espinal
congênita. Ele vive deitado e utiliza um programa de reconhecimento da
voz para operar seu computador; esse programa o capacita a fazer muitas
coisas, desde ler a Bíblia até criar páginas de web para seus clientes na
Internet.
John Farese vive com seu irmão, Paul, com sua cunhada, Janis, e seus
quatro sobrinhos. A família de John tem providenciado o amor e o amparo
de que ele necessita para ser capaz de desfrutar uma vida produtiva.

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