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OS DEUSES ESTRANHOS
DA CIÊNCIA MODERNA
Adauto J. B. Lourenço
Preletor da I conferência Fiel para Jovens - Julho de 2003
C erta vez fui confrontado por nhor não tem como provar a exis-
um professor de filosofia de uma tência de Deus. Vá a um laboratório
universidade. Eu havia acabado de e prove que Deus existe!, disse ele.
dar uma palestra sobre o criacio- O senhor tem toda a razão,
nismo1 e, para aquele homem brilhan- respondi ao professor. Depois de uma
te e tão cheio do conhecimento do breve pausa, continuei: Mas o se-
presente século, era inadmissível que nhor também não tem como ir a um
alguém pudesse ser um cientista sé- laboratório e provar que Deus não
rio e honesto e crer em uma idéia existe. Tudo é uma questão de crer.
tão desprovida de embasamento ci- Eu creio que Deus existe, e o senhor
entífico como a da existência de crê que Ele não existe.
Deus. Naquele momento, havia sido
Ele foi direto ao ponto. O se- estabelecida uma base comum para
2 Fé para Hoje
Primeiro veio a luz (energia) depois aceitar fatos que não podem ser ex-
os corpos celestes (matéria). Caso a plicados ou demonstrados cientifica-
Bíblia não concordasse neste ponto mente? Em outras palavras, as duas
com a ciência, muitos simplesmente teorias exigem fé!
descartariam a teoria do criacio- Neste ponto, a ciência moderna
nismo, sem ao menos considerar que nos apresenta os deuses do absurdo,
a ciência já esteve errada inúmeras onde homens mortais, com conheci-
vezes (até mesmo neste caso da luz mento limitado, procuram fazer
ter aparecido antes dos corpos celes- adeptos às suas crenças. Tomando o
tes). conhecimento que possuem das ciên-
Mas, e quanto à primeira pergun- cias como validação de uma pseudo-
ta? Teria a ciência conseguido pro- autoridade, tais homens procuram
var uma seqüência de eventos natu- remover qualquer traço da necessi-
rais e espontâneos que teriam pro- dade de um Criador que tenha por
duzido o universo que hoje vemos? sua vontade e decreto criado o uni-
A resposta é negativa. As leis da físi- verso. Aceita-se o absurdo em vez do
ca que conhecemos hoje não se apli- lógico. E isto é feito apelando para
cam ao modelo do big bang quanto aquilo que eles mesmos condenam: a
ao início do universo. E se as mes- fé.
mas pudessem ser aplicadas, a ciên- Seja observado que muito se tem
cia não sabe quais seriam as condi- falado sobre a ciência ser racional,
ções iniciais para que essas leis pro- ser lógica. E é verdade. A proposi-
duzissem o universo que hoje conhe- ção da existência de um Deus criador
cemos. E, então, perguntamos: do universo é perfeitamente racional,
Quais leis regiam esses eventos lógica, relevante e também científi-
cruciais do aparecimento do univer- ca. Por que não incluí-la, então, no
so ou quais eram as condições inici- pensamento científico atual?
ais? A única resposta que obtemos Por outro lado, voltando ao big
é: São leis e condições iniciais ain- bang e ao ovo cósmico, apenas
da desconhecidas. Mas, se elas são como um exercício intelectual, pen-
desconhecidas, como aceitá-las? Ou- se na seguinte proposição: coloque
tra vez a única resposta que obtemos tudo o que existe na sua casa dentro
é: crer no que os cientistas estão pro- de uma bola de tênis
Coloque tudo
pondo. Mas crer não é um elemento o que existe no planeta Terra, inclu-
religioso? Sem dúvida. Todos con- indo o próprio planeta, dentro da
cordamos que crença e fé são elemen- mesma bola tênis
Coloque o siste-
tos religiosos. ma solar inteiro, com o sol e todos
Como podem, então, as duas teo- os planetas e luas, dentro da mesma
rias, a teoria da criação ex-nihilo e a bola de tênis
Coloque os, aproxi-
teoria do big bang, serem tratadas tão madamente, duzentos bilhões de es-
tendenciosamente, a tal ponto que a trelas da nossa galáxia dentro da mes-
primeira é considerada religião e a ma bola de tênis
Coloque os dez
segunda, ciência, quando as duas pos- bilhões de galáxias visíveis, com as
suem um mesmo elemento de base: suas trilhões de trilhões de trilhões
4 Fé para Hoje
cessos não foram nem naturais nem é para crer. Onde estão as evidênci-
espontâneos. A experiência que pro- as?, perguntei aos alunos.
duziu tais aminoácidos foi projetada Aqueles alunos, bem como mi-
por uma mente inteligente e pessoal lhões de outros, têm sido levados a
que sabia exatamente o que estava pro- crer nos deuses impessoais da ciência
curando. Isto não é espontâneo. Não moderna, aceitando como evidente
somente isto. Miller já conhecia a aquilo que não é provado.
composição química dos amino- A origem da vida, quer seja ex-
ácidos. Ele propôs que o chamado plicada pela teoria da criação, quer
'caldo primordial' continha os ele- seja pela evolução, sempre será tra-
mentos inor- tada como um
gânicos que C
evento sobre-
foram utili- natural. A
zados na ex- O criacionismo traz o absoluto questão mais
periência. da pessoa de Deus para todas uma vez é:
Não havia, por que al-
como ainda as áreas, removendo o guém aceita a
não há, ne- relativismo implantado evolução e re-
nhuma prova por conceitos filosóficos. jeita o cria-
ou evidência cionismo?
de que o que C Em termos
Miller cha- científicos,
mou de 'caldo primordial' seja o que por que alguém acredita na cosmo-
havia na suposta atmosfera ou no su- gonia4 que abraçou? Em termos teo-
posto oceano primitivo. Isto não é lógicos, por que alguém aceita os deu-
prova a favor da evolução. A experi- ses impessoais e não o Deus pessoal
ência do Dr. Miller mostra que vida da Bíblia?
inteligente consegue produzir mate-
rial orgânico de matéria inorgânica.
OS DEUSES HUMANOS E O DEUS
Para a evolução esta experiência não
TRANSCENDENTE
ajuda em nada. O problema do apa-
recimento da vida, segundo a evolu- No começo da década de noven-
ção, continua sendo um mistério. ta, os meus estudos me levaram até o
Como já foi dito por Randy Wysong: Laboratório Nacional de Oak Ridge,
'
a evolução significa a formação de nos Estados Unidos. Um dos projetos
organismos desconhecidos, a partir de que participei ali foi o do mapea-
produtos químicos desconhecidos, mento tridimensional do DNA. Ha-
numa atmosfera ou oceano de com- via um grande interesse neste proje-
posição desconhecida, sob condições to, pois o mesmo fora criado para
desconhecidas, cujos organismos su- desenvolver técnicas que auxiliariam
biram então uma escada evolucionista no mapeamento genético humano
desconhecida, mediante um proces- através do DNA (hoje este mapea-
so desconhecido, deixando uma evi- mento é conhecido como Projeto
dência desconhecida.' O que se pede Genoma Humano).
8 Fé para Hoje
um estágio desta longa cadeia evo- luto da pessoa de Deus para todas as
lutiva de seres vivos. O que não será áreas, removendo o relativismo im-
a raça humana daqui a 10 milhões plantado por conceitos filosóficos.
de anos? Pense no que éramos a al- Não sou eu, nem a sociedade, nem
guns poucos milhões de anos atrás: os povos que têm a autoridade para
meros hominídeos (meio primatas, definir o que é certo ou o que é erra-
meio seres humanos), dizem os ci- do: somente o Criador pode fazê-lo.
entistas. E aqui o elemento fé uma vez
A psicologia, sem embasamento mais se faz necessário. Quando al-
científico, dita quais são as regras de guém aceita a proposta da psicologia
comportamento, de conduta, de sobre como se deve viver (seja qual
moralidade, de cidadania e de tantas for a área de relacionamento, proble-
outras áreas da vida do ser humano, ma, doença, etc.), essa pessoa estará
a qual, usando uma vestimenta cien- fazendo uso da sua fé no que lhe é
tífica, esconde a sua identidade reli- proposto. Quando alguém aceita os
giosa. princípios do Criador contidos nas
Pouco se questiona as proposi- Escrituras, ele também o faz pela fé.
ções da psicologia. Diga-se de passa- Portanto, a base continua sendo a fé.
gem que, se o mesmo padrão de A pergunta que uma vez mais se des-
questionamento usado para com a taca é: Por que alguém aceita os con-
Bíblia fosse aplicado à psicologia (e selhos da psicologia e rejeita os pa-
com a mesma rigidez), esta há muito drões do Criador expostos na Bíblia?
teria desaparecido.
Na verdade, podemos entender
ATÉ QUANDO COCHEAREIS
porque o mundo, a Igreja, os seres
ENTRE DOIS PENSAMENTOS?
humanos em geral estão tão fascina-
(1 Reis 18.21)
dos pela religião da psicologia. Por
havermos nos tornado adoradores dos Cada vez menos, nós, o povo de
deuses do absurdo e dos deuses im- Deus, temos ousado levantar as nos-
pessoais, nos tornamos adoradores de sas vozes para dar a razão da espe-
nós mesmos. Nós nos tornamos o rança que há em nós (1 Pedro 3.15),
padrão de moral, de valores e de prin- por acharmos que a ciência tem pro-
cípios. Nós, seres humanos, deses- vas e evidências conclusivas sobre a
peradamente queremos nos tornar origem do homem e do universo. A
deuses. grande verdade é que a ciência, além
Aqui também o criacionismo traz de não ter essas provas, também se
a proposta do Deus pessoal, que não apóia na crença das suas pressuposi-
somente criou o universo e a terra com ções, para estabelecer as suas ver-
o homem para nela habitar, mas que dades.
os criou com um propósito. Esse pro- Precisamos rever o que nós cre-
pósito se manifesta no relacionamento mos e por que cremos no que cre-
do Criador com a criatura e não so- mos. Qual a razão da nossa fé?
mente da criatura com o meio físico Precisamos parar e começar a
e social. O criacionismo traz o abso- pensar cientificamente, como o fize-
10 Fé para Hoje
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ATEÍSMO? IMPOSSÍVEL!
John Blanchard
I I I I I I I
Paulo, diante do rei Ágripa, demons- santos sempre foram pessoas sérias,
traram ambas essas qualidades, ain- mas a melancolia é um defeito de ca-
da que noutra ocasião, quando a ráter e jamais deveria ser mesclada
ousadia de Paulo temporariamente com a piedade. A melancolia religio-
perdeu o seu amor e se tornou car- sa pode indicar a presença de incre-
nal, ele houvesse dito ao sumo dulidade ou pecado, e, se deixarmos
sarcedote: Deus há de ferir-te, pa- que tal melancolia prossiga por mui-
rede branqueada. No entanto, to tempo, pode conduzir a graves
deve-se dar um crédito ao apóstolo, perturbações mentais. A alegria é a
quando, ao perceber o que havia fei- grande terapia da mente. Alegrai-
to, desculpou-se imediatamente (At vos sempre no Senhor ( Fp 4.4).
23.1-5).
5) QUANDO TENCIONAMOS SER
2) QUANDO, EM NOSSO DESEJO DE CONSCIENCIOSOS E NOS TORNAMOS ES-
SERMOS FRANCOS, TORNAMO-NOS RU- CRUPULOSOS EM DEMASIA. Se o diabo
DES. Candura sem aspereza sempre não puder destruir a consciência, seus
se encontrou no homem Cristo Jesus. esforços se concentrarão na tentativa
O crente que se vangloria de sempre de enfermá-la. Conheço crentes que
chamar de ferro o que é de ferro, vivem em um estado de angústia per-
acabará chamando tudo pelo nome de manente, temendo que venham a
ferro. Até o fogoso Pedro aprendeu desagradar a Deus. Seu mundo de
que o amor não deixa escapar da boca atos permitidos se torna mais e mais
tudo quanto sabe (1 Pe 4.8). estreito, até que finalmente temem ati-
rar-se nas atividades comuns da vida.
3) QUANDO, EM NOSSOS ESFOR- E ainda acreditam que essa auto-
ÇOS PARA SERMOS VIGILANTES , tortura é uma prova de piedade.
FICAMOS A SUSPEITAR DE TODOS. Pos- Enquanto os filósofos religiosos
to que há muitos adversários, somos buscam corrigir essa assimetria (que
tentados a ver inimigos onde nenhum é comum à toda raça humana), pre-
deles existe. Por causa do conflito gando o meio-termo áureo, o
com o erro, tendemos a desenvolver cristianismo oferece um remédio
um espírito de hostilidade para com muito mais eficaz. O cristianismo,
todos quantos discordam de nós em estando de pleno acordo com todos
qualquer coisa. Satanás pouco se im- os fatos da existência, leva em consi-
porta se seguimos uma doutrina falsa deração este desequilíbrio moral da
ou se meramente nos tornamos amar- vida humana, e o medicamento que
gos. Pois em ambos os casos ele sai oferece não é uma nova filosofia, e
vencedor. sim uma nova vida. O ideal aspirado
pelo crente não consiste em andar pelo
4) QUANDO TENTAMOS SER SÉRI- caminho perfeito, mas em ser con-
OS E NOS TORNAMOS SOMBRIOS. Os formado à imagem de Cristo.
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16 Fé para Hoje
particular. Logo que voltei para casa, então, você crê que a expiação reali-
peguei o livro de Edwin Palmer e zada por Cristo, se foi realizada em
comecei o capítulo que se referia à favor de todos os homens, é limitada
obra de expiação realizada por Cris- em seus efeitos. Você crê que Cristo
to. morreu em favor de alguém e, ape-
sar disso, aquela pessoa pode ficar
Tornei-me um calvinista de cin- perdida por toda a eternidade. Você
co pontos, ao ler a seguinte seção: limita o poder e o efeito da expia-
ção. Eu limito o escopo da expiação,
A pergunta que necessita de uma enquanto afirmo que seu poder e efei-
resposta exata é esta: Cristo realmente to são ilimitados! Um escritor ex-
fez ou não fez um sacrifício vicário pressou isso muito bem, quando dis-
pelos pecados? Se Ele o fez, não foi se:
em favor de todo o mundo, pois, se Não deve haver qualquer mal-
assim fosse, todo o mundo seria sal- entendido quanto a este assunto. O
vo (Palmer, Os cinco Pontos do arminiano limita a expiação assim
Calvinismo, p. 47). como o faz o calvinista. Este limita a
extensão da expiação quando afirma
Fui confrontado com uma deci- que ela não se aplica a todas as pes-
são. Se eu continuasse afirmando soas... o arminiano, por sua vez,
uma expiação universal, ou seja, limita o poder da expiação, pois ele
se eu dissesse que Cristo morreu afirma que ela não salva ninguém. O
vicariamente no lugar de todo homem calvinista limita quantitativamente a
e toda mulher no mundo inteiro, se- expiação, mas não qualitativamente;
ria obrigado a dizer: 1) que todos o arminiano limita-a qualitativamen-
seriam salvos; 2) que a morte de Cris- te, mas não quantitativamente. Para
to não foi suficiente para salvar sem o calvinista, a expiação é como uma
obras adicionais. Eu sabia que não ponte estreita que segue em todo o
estava disposto a crer que a morte de caminho por cima do rio; para o ar-
Cristo não podia salvar sem as obras miniano, a expiação é como uma pon-
humanas. Por conseguinte, eu tive de te larga que vai somente até metade
entender que a morte de Cristo foi do caminho. Na realidade, o armi-
realizada em favor dos eleitos de Deus niano coloca mais limitações severas
e que ela realiza seu propósito: salva na obra de Cristo do que o faz o cal-
aqueles em favor dos quais ela acon- vinista (Lorraine Boettner, The
teceu. Nesse ponto, compreendi que Reformed Doctrine of Predestination
durante todo o tempo havia limita- [A Doutrina Reformada da Predes-
do a expiação. Na verdade, se você tinação]; Philipsburg, New Jersey,
não crê na doutrina reformada da Presbiterian and Reformed Publish-
expiação limitada, você crê em al- ing Company, 1932, p. 153).
guma forma de expiação limitada! Não estamos falando sobre apre-
Como pode ser isso? A menos que sentar alguma terrível limitação na
você seja um universalista (ou seja, obra de Cristo, quando nos referimos
crê que todas as pessoas serão salvas), à expiação limitada. Na verdade,
18 Fé para Hoje
feito mais alto do que os céus que não se aproximam de Deus por
(Hebreus 7.24-26). intermédio dEle. A intercessão de
O Novo Testamento relaciona de Cristo se realiza em favor do povo
maneira íntima a obra de Cristo como de Deus. Logo veremos o quanto isso
nosso Sumo Sacerdote e Intercessor é importante.
com a sua morte sobre a cruz. Nessa Sobre que fundamento Cristo in-
passagem de Hebreus, somos ensina- tercede diante do Pai? Ele comparece
dos que o Senhor Jesus, devido ao na presença de Deus e Lhe suplica
fato de que Ele vive para sempre, que esqueça sua santidade, sua justi-
possui um sacerdócio permanente e ça e simplesmente ignore os pecados
imutável. Ele não é semelhante aos dos homens? É claro que não. O Fi-
antigos sa- lho intercede
cerdotes que C diante do Pai
morriam; o fundamenta-
Senhor Jesus Para o calvinista, a expiação é do em sua
é um perfei- como uma ponte estreita que própria mor-
to sacerdote, segue em todo o caminho por te. A inter-
porque per- cessão de
manece para cima do rio; para o arminiano, Cristo re-
sempre. Por a expiação é como uma ponte pousa sobre
causa disso, larga que vai somente o fato de que
Jesus é capaz Ele morreu
de salvar to- até metade do caminho. como substi-
talmente os C tuto do povo
que por Ele de Deus; e,
se achegam a Deus. Por quê? Porque visto que o Senhor Jesus levou sobre
Ele vive sempre para interceder por o seu corpo os pecados de seu povo,
eles. na cruz (1 Pedro 2.24), Ele pode
Ora, antes de considerarmos a apresentar sua oferta diante do Pai em
relação entre a morte de Cristo e a lugar deles e, com base na sua mor-
sua intercessão, desejo enfatizar o fato te, interceder em favor deles. O Filho
de que a Bíblia afirma a capacidade não pede que o Pai comprometa a sua
de Cristo para salvar totalmente o santidade ou simplesmente ignore o
homem. Ele não está limitado a um pecado. Cristo cuidou do pecado na
papel secundário como o grande cruz. Conforme lemos em Hebreus
Auxiliador que torna possível o ho- 9.11-12:
mem salvar a si mesmo. Aqueles que
se achegam a Deus por intermédio de Quando, porém, veio Cristo
Cristo encontrarão nEle uma salva- como sumo sacerdote dos bens já rea-
ção abundante e completa. Além lizados, mediante o maior e mais
disso, temos de recordar que Cristo perfeito tabernáculo, não feito por
intercede por aqueles que se achegam mãos, quer dizer, não desta criação,
a Deus. Sinto que é óbvio o fato de não por meio de sangue de bodes e
que Cristo não intercede por aqueles de bezerros, mas pelo seu próprio
20 Fé para Hoje
de fazer o que o Filho deseja que Ele O Senhor Jesus deixou claro que
faça. Ambas as idéias são completa- sua morte aconteceu em favor de seu
mente impossíveis. povo, quando falou sobre o Pastor e
Na oração sacerdotal de Cristo as ovelhas.
(João 17), podemos ver claramente
que Ele não age como Sumo Sacer- Eu sou o bom pastor. O bom
dote em favor de todos os homens. pastor dá a vida pelas ovelhas... as-
O Senhor Jesus distinguiu claramen- sim como o Pai me conhece a mim, e
te entre o mundo e aqueles que, eu conheço o Pai; e dou a minha vida
em toda a oração, são mencionados pelas ovelhas (João 10.11,15).
como pertencentes a Ele mesmo. E o O Bom Pastor entregou a sua
versículo 9 ressalta fortemente esse vida em favor das ovelhas. Todos os
argumento: homens são ovelhas de Cristo? É claro
que não, pois muitos homens não
É por eles que eu rogo; não conhecem a Cristo, e Ele disse que
rogo pelo mundo, mas por aqueles as suas ovelhas O conhecem (Jo
que me deste, porque são teus. 10.14). Depois, Jesus falou especifi-
Quando Cristo ora ao Pai, Ele camente aos judeus que não creram
não ora em favor do mundo, e sim nEle: Mas vós não credes, porque
em favor daqueles que Lhe foram não sois das minhas ovelhas (João
dados do mundo, pelo Pai (João 10.26). Devemos observar que, em
6.37). contraste com a idéia de que, se cre-
mos, nos tornamos ovelhas do Senhor
Jesus, Ele disse que os judeus não
POR QUEM CRISTO MORREU?
creram porque não eram suas ove-
Existem muitas passagens bí- lhas. Se uma pessoa é uma ovelha de
blicas que nos ensinam que o escopo Cristo, esta é uma decisão do Pai
da morte de Cristo limitou-se aos elei- (João 6.37; 8.47), e não da ovelha!
tos. Em seguida, apresentamos al-
gumas delas. Andai em amor, como também
Cristo nos amou e se entregou a si
Tal como o Filho do Homem, mesmo por nós, como oferta e sacri-
que não veio para ser servido, mas fício a Deus, em aroma suave...
para servir e dar a sua vida em res- Maridos, amai vossa mulher, como
gate por muitos (Mateus 20.28). também Cristo amou a igreja e a si
mesmo se entregou por ela, para que
Os muitos em favor dos quais
a santificasse, tendo-a purificado por
Cristo morreu são os eleitos de Deus,
meio da lavagem de água pela pala-
como Isaías havia dito muito tempo
vra, para a apresentar a si mesmo
antes:
igreja gloriosa, sem mácula, nem
O meu Servo, o Justo, com o ruga, nem coisa semelhante, porém
seu conhecimento, justificará a mui- santa e sem defeito (Efésios 5.2,25-
tos, porque as iniqüidades deles 27).
levará sobre si (Isaías 53.11). Cristo entregou-se a Si mesmo em
22 Fé para Hoje
favor de sua igreja, o seu corpo, com so lugar. A quem se refere o prono-
o propósito de purificá-la e torná-la me nós nesses versículos? O texto
seu corpo. Se este era seu propósito esclarece que são os eleitos do Pai,
para com a igreja, por que Ele se ou seja, os eleitos de Deus. Nova-
entregaria por aqueles que não cons- mente, a obra intercessória de Cristo,
tituem a igreja? Ele não desejava à direita de Deus, é apresentada em
santificar esses outros também? perfeita harmonia com sua morte
Mas, se Cristo morreu por todos os aqueles em favor de quem Cristo
homens, há muitos, muitos, que per- morreu são os mesmos por quem Ele
manecerão impuros durante toda a intercede. E, como essa passagem
eternidade. A morte de Cristo foi demonstra, se Cristo intercede por
insuficiente para purificá-los? É cla- alguém, quem pode trazer acusação
ro que não. Ele tinha outro objetivo contra tal pessoa e esperar vê-la con-
em mente quando morreu por eles? denada? Portanto, reconhecemos o
[Não estou negando que a morte de que já consideramos: Cristo morreu
Cristo teve efeitos para todos os ho- em lugar de alguém, Ele intercede
mens e, na realidade, para toda a por tais pessoas, que infalivelmente
criação. Creio que a morte dEle é uma são salvas. A obra de Cristo é com-
parte da consumação de todas as pleta e perfeita. Ele é o Salvador
coisas em Cristo. Entretanto, es- poderoso, que jamais falha em reali-
tamos falando aqui apenas sobre o zar seu propósito.
efeito salvífico da expiação vicária de
Cristo. Alguém poderia argumentar Ninguém tem maior amor do
que a morte de Cristo tem efeito so- que este: de dar alguém a própria vida
bre aqueles em favor de quem ela não em favor dos seus amigos (João
tencionava ser um sacrifício expia- 15.13).
tório.] Não, o sacrifício de Cristo em Todos os homens são amigos de
favor da igreja resulta em sua purifi- Cristo? Todos possuem o nome dEle?
cação; isso era o que Cristo tencio- Todos se prostram diante dEle e O
nava para todos em favor dos quais aceitam como Senhor? Todos obede-
Ele morreu. cem os mandamentos de Cristo (João
15.14)? Isso não acontece, portanto,
Aquele que não poupou o seu todos eles não são amigos de Cristo.
próprio Filho, antes, por todos nós o
entregou, porventura, não nos dará Aguardando a bendita esperan-
graciosamente com ele todas as coi- ça e a manifestação da glória do
sas? Quem intentará acusação contra nosso grande Deus e Salvador Cristo
os eleitos de Deus? É Deus quem os Jesus, o qual a si mesmo se deu por
justifica. Quem os condenará? É nós, a fim de remir-nos de toda ini-
Cristo Jesus quem morreu ou, antes, qüidade e purificar, para si mesmo,
quem ressuscitou, o qual está à di- um povo exclusivamente seu, zeloso
reita de Deus e também intercede por de boas obras (Tito 2.13-14).
nós (Romanos 8.32-34). Tanto o elemento de substituição
O Pai ofereceu seu Filho em nos- da cruz (Cristo se entregou por nós)
ALGUÉM FOI SALVO NA CRUZ? 23
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REFÚGIO DIVINO
C. H. Spurgeon
Ora, é exatamente essa a nossa rael fez? O povo não rogou que um
condição hoje. A fé nos faz ver que forte destacamento de cavaleiros alu-
nossa posição hoje é semelhante à dos gados do Egito se tornasse o refúgio
filhos de Israel naquela época. Não deles. Ainda que realmente houves-
importa quais sejam as nossas neces- sem desejado isso, aquele que era o
sidades, o Deus eterno é nosso re- líder sábio deles, Moisés, olhou para
fúgio. Deus prometeu que seu pão e outro braço mais forte do que o do
suas águas lhe serão dadas. Aquele homem, pois clamou a Deus. Quão
que supre as necessidades espirituais maravilhoso é o quadro de Moisés,
não recusará as necessidades materi- com as mãos erguidas ao céu, sobre
ais. O poderoso Senhor nunca per- o cume do monte, proporcionando
mitirá que você pereça, enquanto Ele vitória a Josué, na planície. Aqueles
tiver o poder de socorrê-lo. Não im- braços erguidos foram mais valiosos
porta qual é o tipo de fardo que pesa do que dez mil homens, para as
sobre você, busque a Deus. Não ima- hostes de Israel. Vinte mil homens
gine que seu caso é muito complica- não conquistariam a vitória tão facil-
do, pois nada é impossível para o mente como aqueles braços erguidos,
Senhor. que fizeram descer do céu a própria
Não pense que Ele se recusará a Onipotência. Esta foi a principal arma
satisfazer necessidades materiais. Ele de guerra dos israelitas: a sua confi-
se preocupa com você em todos os ança em Deus. Josué saiu com um
aspectos de sua vida. Dê graças a Deus poderoso exército, mas o Senhor,
por tudo que você é, e através da sú- Jeová-Nissi, é a bandeira e o doador
plica e da oração você pode tornar as da vitória.
suas necessidades conhecidas diante Assim, o Deus eterno é nosso
dEle (ver Filipenses 4.6). Em tem- refúgio. Quando nossos inimigos se
pos quando a vasilha de óleo está pres- enfurecem, não precisamos temer a
tes a secar e as refeições, escassas, sua fúria. Não procuremos estar sem
busque o Deus todo-suficiente. Você inimigos, mas tomemos o nosso caso
descobrirá que nada falta aos que con- e o apresentemos ao Senhor. Enquan-
fiam nEle. to permanecer a promessa: Toda
Além disso, nosso Deus é o re- arma forjada contra ti não prospera-
fúgio de seus santos quando seus ini- rá; toda língua que ousar contra ti em
migos se enfurecem. Quando as juízo, tu a condenarás (Isaías 54.17),
hostes do povo de Israel estavam pe- nunca estaremos em tal posição que
regrinando pelo deserto, foram ata- as armas de nossos inimigos nos po-
cadas repentinamente pelos ama- derão ferir. Embora a terra e o infer-
lequitas. Sem haverem sido provo- no se unam em malícia, o Deus eter-
cados, esses saqueadores do deserto no é nosso castelo e fortaleza, asse-
se lançaram contra os israelitas e der- gurando-nos um refúgio eterno.
rubaram alguns deles. Mas o que Is-
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30 Fé para Hoje
contagiante para com todos. dades, toda a igreja sofrerá. Com cer-
Os crentes que me procuram, eu teza, ela não melhorará!
os incentivo a ler 1 Coríntios 12, Mas, se fizermos tudo que pu-
onde o apóstolo Paulo fala sobre as dermos para compensar aquilo que
várias partes e funções do corpo de está faltando e andarmos a segunda
Cristo. Utilizo minha própria inca- milha, por utilizarmos os nossos dons
pacidade física como exemplo. e talentos, creio que a igreja flores-
Minhas mãos e meus pés não es- cerá. Ela refletirá a glória de nosso
tão realizando suas funções. Portan- Deus, da maneira mais prática possí-
to, meus olhos, meus ouvidos e mi- vel, conforme Deus tenciona que fa-
nha língua têm de compensar as par- çamos.
tes de meu corpo que não estão fun- É claro que temos de orar e fazer
cionando. tudo que pudermos para nos assegu-
Eu poderia lamentar por causa de rarmos de que ninguém, em nossa
minhas mãos e meus pés, permitindo igreja local, está sendo negligencia-
que eles me preservassem em impro- do ou (o que é pior) evitado. No en-
dutividade e inércia. Não, isso não! tanto, a triste realidade é que alguns
Pela graça de Deus, emprego os mem- continuarão a sentir que não são ama-
bros saudáveis de meu corpo para dos, enquanto outros se limitarão a
compensar aqueles que são improdu- viver em seu próprio conforto.
tivos. Desta maneira, posso ser uma Entretanto, se nós, que reconhe-
pessoa produtiva e causar diferença, cemos essas coisas nos tornarmos
tanto em minha vida como na vida mais e mais envolvidos com aqueles
de outros. que não se sentem amados e com
aqueles que são complacentes, o Es-
pírito de Deus transformará nossas
A SEGUNDA MILHA
igrejas. Poderemos em breve desco-
Aos crentes que me procuram brir que 100% dos membros da igre-
peço que digam essas coisas para si ja estão cumprindo 100% das respon-
mesmos e para sua igreja. Se gastar- sabilidades que Deus lhes outorgou!
mos todo o nosso tempo sendo crí- Que o Deus da esperança vos
ticos para com os membros que estão encha de todo o gozo e paz no vosso
negligenciando suas responsabili- crer (Romanos 15.13).
John Farese, 46 anos de idade, é uma das pessoas a viver por mais
tempo, depois de ser diagnosticado como portador de atrofia muscular espinal
congênita. Ele vive deitado e utiliza um programa de reconhecimento da
voz para operar seu computador; esse programa o capacita a fazer muitas
coisas, desde ler a Bíblia até criar páginas de web para seus clientes na
Internet.
John Farese vive com seu irmão, Paul, com sua cunhada, Janis, e seus
quatro sobrinhos. A família de John tem providenciado o amor e o amparo
de que ele necessita para ser capaz de desfrutar uma vida produtiva.