SUMÁRIO
1.3 Quais os Conflitos que podem ser Resolvidos pela Mediação? ........... 9
1
7.1 Princípio da Informalidade .................................................................. 36
BIBLIOGRAFIA ............................................................................................... 44
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1 FUNDAMENTOS E RELAÇÕES INTERPESSOAIS NA MEDIAÇÃO DE
CONFLITOS
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Daí porque, muitas vezes, é necessário contar com o apoio de uma terceira
pessoa, um facilitador ou um mediador, para recuperar o diálogo e o entendimento.
Quais são os elementos do Conflito?
1 - A pessoa: o ser humano, com seus sentimentos e crenças.
2 - O problema: as necessidades e interesses contrariados.
3 - O processo: as formas e os procedimentos adotados.
Quais são os dois tipos básicos de processo?
Processos não adversariais e processos adversariais. Processos ou
procedimentos não adversariais de solução de conflitos são aqueles em que as partes
não atuam como adversárias, mas como corresponsáveis na busca de uma solução.
A facilitação, a mediação e a conciliação são três procedimentos não adversariais de
solução de conflitos. Nos processos adversariais, que podem ser administrativos,
judiciais ou arbitrais, um terceiro resolve o conflito.
Fonte: www.creasp.org.br
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O papel do mediador é o de auxiliar as partes a se comunicarem de modo
positivo e a identificarem seus interesses e necessidades comuns, para a construção
de um acordo.
As entrevistas de pré-mediação, com cada uma das partes isoladamente,
podem ser efetuadas por facilitadores de mediação devidamente capacitados. Os
facilitadores de mediação devem contar com o apoio de mediadores. Consoante o
Projeto Núcleos de Mediação Comunitária, o papel do facilitador é parecido com o do
mediador, mas o facilitador atua em sua própria comunidade, na fase de pré-
mediação, preparando as partes para uma futura mediação ou até mesmo ajudando-
as, em casos mais simples, a chegarem, diretamente, a um acordo antecipado.
Portanto, o facilitador de mediação deve ter um comportamento que sirva de
exemplo à comunidade. Ele deve ajudar a construir relações justas e pacíficas em sua
comunidade.
Fonte: www.saberonline.net
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Fonte: www.eduardogomesimoveis.com.br
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Para um relacionamento construtivo:
1º - Separe o problema pessoal do problema material. Quando o conflito for
pessoal e, ao mesmo tempo, material, aprenda a separar o problema pessoal do
problema material. Primeiro enfoque o problema pessoal (a relação propriamente
dita). Somente após restaurar a relação, as partes estarão aptas a cuidar do problema
material (os bens e os direitos envolvidos).
2º - Passe para o outro lado. Diante do conflito esteja consciente de que nós,
humanos, percebemos os fatos do mundo de modo incompleto e imperfeito. Isto
porque a mente humana tende a optar e fixar uma posição. Procure sair da sua
posição e se coloque no lugar do outro para perceber as razões pelo outro lado. Isto
ajudará a descobrir o interesse comum a ser protegido.
3º - Não reaja. Ao sofrer uma acusação injusta, não reaja. Dê um tempo e repita
o que o outro disse, pedindo para ele explicar melhor. Quem reage se escraviza ao
comportamento alheio. Quem reage cede, revida ou rompe, sempre em função do que
o outro fez ou disse. Proteja-se contra a reação reformulando. Quem reformula sai do
jogo da reação e recria a comunicação. Reformula-se parafraseando ou perguntando.
Parafrasear é repetir o que o outro disse com as suas próprias palavras. Exemplo:
entendi que você disse que eu era um mentiroso; foi isto mesmo o que você disse?
Também se reformula perguntando. Exemplo: “por que você acha que eu sou
mentiroso? ” ou “e se o problema...” ou “você não acha que...”. Ao reformular você cria
oportunidades para que a outra parte volte a praticar uma comunicação mais
adequada.
4º - Nunca ameace. A ameaça é um jogo de poder. Ao ameaçar você está
obrigando a outra parte a provar que é mais poderosa do que você. Em vez de uma
solução de ganhos mútuos (ganha-ganha), passa-se a um jogo de ganha-perde ou de
perde-perde. Vai-se do conflito ao confronto e, até mesmo, à violência. Às vezes cabe
advertir a outra pessoa para os riscos que ela está correndo, com base em dados de
realidade. Mas nunca em tom de ameaça.
Quais são as vantagens da mediação sobre outras formas de solução de
conflitos?
Na mediação as partes escolhem ou aceitam, livremente, o mediador;
Nas reuniões de mediação o mediador e as partes se relacionam com respeito
e igualdade;
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O que é discutido durante a mediação é sigiloso e não pode ser utilizado para
qualquer outro objetivo;
A simplicidade torna a mediação rápida;
Na mediação as pessoas se comunicam positivamente e elas próprias chegam
à solução, com o apoio do mediador;
Através da mediação obtêm-se acordos de ganhos mútuos, permitindo refazer
amizades e parcerias.
Fonte:cristinafernandes.com
Conflitos de gênero;
Conflitos de propriedade e posse;
Conflitos de vizinhança;
Conflitos de relações de consumo;
Conflitos familiares;
Conflitos raciais.
Outras infrações em que a pena privativa de liberdade não seria superior a dois
anos, ou há quatro anos, em se tratando de idosos.
A mediação é feita em etapas?
Sim. Nós costumamos dividir a mediação em seis etapas. Antes da primeira
etapa da mediação é feita a pré-mediação.
Como se faz a pré-mediação?
Pré-mediação: Alguém procura pela mediação e é recebido por um facilitador
(ou por um mediador).
Estão sendo criados Núcleos de Mediação Comunitária nas comunidades,
onde os facilitadores atendem as pessoas que necessitam de apoio. Ao receber a
parte solicitante, o facilitador deve criar um clima de confiança. Atende gentilmente e
faz a entrevista de pré-mediação, verificando se o caso comporta mediação.
Na entrevista de pré-mediação o facilitador deve, antes de tudo, ouvir,
atentamente, o que a parte solicitante tem a narrar, formulando as perguntas
necessárias a esclarecer detalhes do conflito. Muitas vezes a narrativa abre caminho
para uma solução mais simples, sem necessidade de mediação.
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Caso caiba mediação, o facilitador explica o que é e como se faz. Em seguida
combina como será efetuado o convite à parte solicitada (contato pessoal, telefonema,
carta-convite ou etc.);
Caso a parte solicitada compareça o facilitador a recebe com a mesma
gentileza e imparcialidade, escuta ativamente, realiza a entrevista de pré-mediação e
explica o que é mediação.
Esta segunda etapa se inicia com a solicitação do mediador para que cada uma
das partes narre o problema trazido à mediação.
Geralmente a parte solicitante narra primeiro, mas elas estão livres para
combinar quem inicia.
Iniciada a narração o mediador deve relaxar e prestar atenção.
Convém estar na posse de algum caderno de anotações.
Deve anotar apenas o essencial.
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O mediador também deve estar atento aos seus sentimentos, tendo o cuidado
de não estabelecer julgamentos precipitados.
Não se recomenda interromper a parte em suas primeiras intervenções.
Quando a parte tiver dificuldades, deve o mediador estimulá-la com perguntas;
Caso a parte que está na vez de escutar interfira prejudicando a continuidade
da fala do outro, o mediador deve interrompê-la e esclarecer.
O mediador pergunta se há, ainda, alguma coisa a acrescentar. Em não
havendo mais o que expor, conclui-se esta etapa.
Fonte: blogspot.com
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O acordo é assinado pelas partes, assessores presentes e, em determinados
países, a exemplo do Brasil, também por duas testemunhas, para que tenha força de
título executivo extrajudicial.
Nada impede que os advogados, em combinação com as partes, aditem ou
mesmo redijam com palavras mais técnicas o acordo obtido;
Ao final, o mediador deve agradecer e parabenizar as partes pelo resultado
alcançado.
Como deve se comportar o mediador?
O mediador deve colocar em prática os seus conhecimentos sobre
comunicação positiva e relação construtiva (relacionamento).
O mediador deve estar vestido decentemente e optar por uma mesa redonda
ou ambiente onde não fique em posição de superioridade.
Deve ter senso de humor e conhecer as suas próprias fragilidades.
Caso possível e ao gosto das partes, pode utilizar fundo musical relaxante.
O mediador não precisa ter nível superior. Precisa, sim, ser de confiança,
competente, independente e imparcial. Profissionais de psicologia, serviço social e
direito costumam ser os mais solicitados.
O facilitador e o mediador devem ter perfil cooperativo. Os quatro perfis:
Perfil competitivo: quando a preocupação com os interesses e necessidades
do outro é baixa e é alta a preocupação com os seus próprios interesses e
necessidades;
Perfil acomodado: quando a preocupação com os interesses e necessidades
do outro é alta e é baixa a preocupação com seus próprios interesses e necessidades;
Perfil evitativo: quando é baixa a preocupação com os interesses e
necessidades em geral;
Perfil cooperativo: quando tanto a preocupação com os seus interesses e
necessidades quanto a preocupação com os interesses e necessidades do outro são
altas.
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1.6 Qual é a Ética que Norteia a Mediação?
Fonte: liderancaeticaeservidora.files.wordpress.com
15
Diligência (o facilitador e o mediador devem realizar as suas tarefas com
o máximo de dedicação).
A Mediação baseia-se em duas culturas complementares. A cultura da paz e
a cultura da cidadania responsável.
A cultura da paz baseia-se no amor, no altruísmo, no sentimento de pertencer
e celebrar a comunidade dos homens e da vida. Funda-se no vigor e na ternura
generosa do cuidador.
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as devidas técnicas, habilidades e conhecimento, ajustará a decisão proferida pelas
partes.
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Portanto, percebe-se que a possibilidade do Delegado de Polícia agir como
pacificador social encontra amparo no texto próprio da norma que dispõe sobre os
Juizados Especiais Cíveis e Criminais.
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impedir eventual violação de direitos e garantias individuais, razão pela qual, o ato fica
revestido de total transparência, e posteriormente o referido acordo é encaminhado
ao magistrado que só com a ratificação do Ministério Público homologará a decisão.
Assim, efetivamente, o magistrado, antes de homologar a composição do
conflito, ouvirá o representante do Ministério Público, oportunidade em que se
manifestará quanto à legalidade do ato. Com isso, vale dizer que a decisão final sobre
a iniciativa tomada pela Autoridade Policial de pacificar a desavença será sempre do
magistrado, com a participação do membro do Ministério Público.
Os argumentos alegados pelo órgão ministerial, questionando a validade de
Termo de Conciliação Preliminar, não são procedentes, pois a presença do
representante da Ordem dos Advogados do Brasil no momento do desentendimento
protege os direitos e garantias constitucionais das partes envolvidas, não se podendo
também olvidar de mencionar que o Delegado de Polícia é o primeiro responsável
pela garantia e proteção dos Direitos Humanos.
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Ao mesmo tempo em que perseguindo essa dimensão analítica da mediação
como transdisciplina, como uma prática social autônoma, Six (2001) aponta para a
mediação como uma perspectiva de dinâmica de vida coletiva e, desse modo, com
um papel fundamental no desenvolvimento social, contribuindo até de modo mais
pragmático com a melhoria dos serviços públicos essenciais, a inserção social,
cultural, política e econômica. Para ele, a mediação é, antes de tudo, política, pois
“convida cada um à cidadania, a ser ator, isto é, a agir como cidadão responsável”
(SIX, 2001:239).
A compreensão de conflito em contexto de violência e criminalidade, além de
significar de forma estrita, as conflituosidades intersubjetivas, também agrega em seu
conceito as decorrências da vulnerabilidade social. Assim, entendemos que ao conflito
entre partes antecedem os conflitos internos (individuais) e externos (desvantagens
sociais), ou, as dificuldades de acesso aos bens e serviços essenciais ou mesmo a
falta de tais bens e serviços.
Portanto, temos que superar a compreensão minimalista e reduzida de
mediação como método de resolução de conflitos intersubjetivos e também de conflito
como mera expressão de embates e agressões entre as pessoas. Ainda,
abordaremos uma experiência que aproxima tal entendimento, que julgamos mais
evoluído, que propõe concepção de conflito como apontamos e ainda desenvolve a
mediação pautada nesta nova concepção e incorporando esta concepção na
mediação como instrumento ou mecanismo no trato das conflituosidades
interpessoais e vulnerabilidade social do conflito.
Outro acerto necessário aqui diz respeito à visão ainda vigente que insere a
mediação como técnica ou método de resolução de conflitos extrajudiciais. Primeiro
que traz um paralelo com o sistema judiciário (jurisdicional) tradicional e também reduz
o entendimento de mediação como algo secundário, opcional, com certa validade,
mas não muito confiável. Depois, porque tende a marcar a mediação como alternativa,
inclusive, para resolver os problemas da administração da justiça, com o fim de
desafogar os juízes e tribunais do volume excessivo de processos que aguardam
julgamento. Mas, acreditamos, de fato, que a crise não é somente da
operacionalização para prestação jurisdicional da justiça, mas, em maior medida, a
crise é de depositar na prestação jurisdicional convencional do Estado, a onipotência
de, ao mesmo tempo, responder e dizer o direito para cada pessoa, para cada
21
demanda pontual, regular e solenemente, processada e também responder pela
pacificação social.
Grinover (1988) que atribui o nome de “deformalização das controvérsias” à
tendência de incentivo à difusão de vias alternativas de exercício de acesso à justiça.
Ou seja, não somente as vias judiciais têm a exclusividade em de resolver conflitos
pelo processo.
Defendemos, a mediação como orientação transdisciplinar não tem no conflito
um elemento surpresa ou algo inusitado e que depois de declarado precisa ser
resolvido para encerrar a demanda. Mas, um acordo não é total na segurança de que
não haverá mais conflitos ou que este não se restaurará. A mediação como orientação
não busca resultados por acordos entre as pessoas, mas estabelece processos que
envolvem técnicas para avanço e superação.
Com isso, distintas as compreensões e feitas as devidas precisões no uso e
concepção de mediação, ao fim, a despeito de ainda persistir o entendimento de meio
alternativo de resolução de conflitos, buscamos demonstrar que mediação, como ação
pedagógica, principiológica e como transdisciplina, como a empregamos e
acreditamos, trata-se, em certa medida, orientação e atuação ante a qualquer tipo de
alternativa possível de violência e das violações.
22
Ainda, STIMEC (2007) propõe algumas categorias, para fins de compreensão
da ação e orientação das intervenções possíveis, conforme a complexidade em que
se insere as conflituosidades (o que é) e não apenas a compreensão das partes
(porque) do que seja o conflito. É dizer que, não é o que são as coisas que constituem
os problemas, mas as premissas construídas sobre como deveriam ser é que constitui
o núcleo da questão.
Retomando STIMEC (2007), apresentamos, então, algumas considerações
sobre o nível do tipo de intervenção que se pode operar na mediação.
“1. Mediação “relacional” implica uma intervenção voltada à relação e ao
conhecimento do outro bem como a expressão dos sentimentos, emoções e desejos
das partes. Assim, a resolução de problemas é considerada secundária e decorre
naturalmente desse trabalho.
2. Mediação de “apoio na resolução de problemas” ou facilitação concentra-se
nos problemas práticos, técnicos ou materiais para resolver. O mediador propõe às
partes um certo número de instrumentos para explorar a situação e procurara
soluções. As dificuldades relacionais são geridas ou esvaziadas para que não
perturbem o trabalho. Não se procura qualquer gestão das mesmas. A intervenção
centra-se sobre os problemas concretos para resolver.
3. Mediação “mista” busca enquadrar a resolução dos problemas materiais bem
como o trabalho sobre a relação. O mediador exerce uma intervenção diretiva sobre
a forma (o processo), mas não diretiva sobre o fundo (a relação ou conteúdo).
Coordena as intenções tendo como duplo objetivo o respeito mútuo no presente e a
reestruturação futura da relação, incentivando as partes à imaginação e à
concretização das soluções relativamente ao conteúdo. É a forma de mediação
teoricamente mais preconizada. Todavia, na pratica, conforme os casos e evolução
da sessão, a intervenção pode evoluir em direção as formas (1), (2) ou (4).
4. Mediação “prescritiva” pode focar mais ou menos na relação ou no conteúdo
e reveste na prática essencialmente duas formas:
1- O mediador ouve as partes separadamente e depois emite recomendações
(ou um parecer) ou negocia uma resolução amigável. As partes não se encontram no
quadro da mediação.
23
2- O mediador ouve as partes (juntas ou não) e depois utiliza a sua experiência
e o seu estatuto para favorecer uma conciliação proporcionando informações,
advertências, sugestões ou mesmo pareceres. ” (STIMEC (2007:16)
Conclui Stimec (2007) que após numerosas investigações efetuadas no âmbito
da eficácia da mediação, parece que não seja possível privilegiar uma forma de
intervenção em detrimento de outra. Pelo contrário a eficácia parece contingente, ou
seja, dependente dos casos e das expectativas das partes.
A respeito dos modelos de mediação, convém apenas mencionar que há
estudos deste enquadramento da mediação, mas que nos importa como registro
histórico de sua construção, tendo em vista que atualmente, importa mais, como
acima defendemos, compreender a dimensão e o nível de intervenção da mediação.
Mas, como temos exposto nesse estudo, a concepção que se aplica à
mediação, e como se insere no contexto que a adota, diz mais, inclusive orienta a sua
implantação e implementação como política pública. Conforme a concepção que
orienta a mediação as possibilidades diversificam.
LASCOUX (2008) identifica quatro (4) grandes concepções da mediação:
Concepção Espiritualista, Concepção Jurídica, Concepção Psicologizante e
Concepção Científico-Filosófica. A Concepção Espiritualista se ligada às correntes
religiosas em que a mediação é apenas uma vestimenta laica do perdão religioso
judaico-cristão promovendo a coesão, compreensão e respeito mútuo, solidariedade,
cooperação, uma qualidade de presença empática. Tal concepção religiosa da
mediação parte do pressuposto da bondade fundamental e gentileza do ser humano
face a fragmentação das estruturas tradicionais em termos culturais, sociais e familiar,
em que mediação aparece com um princípio de estruturação das relações humanas,
de suavização das fragmentações e da violência.
A Concepção Jurídica entende a mediação como a via real para uma
humanização e maior democratização face a um sistema judicial pela sua
complexidade, formalidade, morosidade e custos. A implementação da mediação
propõe uma humanização do sistema, chamado justiça de proximidade ou restaurativo
orientado para as necessidades concretas dos autores e que proporciona à vítima, até
agora esquecida, um lugar mais participativo. Propõe a substituição de um modelo
repressivo e neo-retributivo por modelo participativo e reabilitativo.
24
A Concepção Psicologisante compreende que o conflito é um sintoma
relacionado com a falta de reconhecimento de necessidades, da expressão dos
afetos, das emoções relacionadas com as situações conflituosas. Enfatiza que o
conflito é um sintoma, uma força destruidora em que a intervenção fica centrada sobre
o afeto com técnicas de entrevista que focam a empatia, o apelo aos sentimentos, a
um quadro facilitador que propicie a expressão verbal de tais necessidades
subjacentes.
A Concepção cientifico-filosófica entende que a mediação é uma procura
constante de individuação, uma escolha consciente e responsável do sujeito encarado
numa perspectiva sistêmica (que pensa, sente e age quer em relação às suas próprias
formas de funcionamento quer em relação ao funcionamento do outro e coloca o ser
humano numa nova forma de conceber a relação consigo próprio e com o outro). Aqui
defende-se que os instrumentos de mediação devem ter uma base cientifica
relacionado com a evolução das técnicas de comunicação e conhecimento do ser
humano.
Por fim, entendemos que é preciso diferenciar a abordagem destas afirmações.
A mediação enquanto princípio sempre se aplica. Importa o que frisa LASCOUX
(2008:2) diz que o desafio da formação em mediação é talvez distanciar-se de um
modelo multidisciplinar tal como são a maioria das estruturas de ensino/formação para
promover esta necessidade de abordagem transdisciplinar quer em relação às outras
disciplinas quer em relação aos próprios modelos de intervenção. Com uma análise
fina das suas práticas, dos percursos, dos seus resultados que não se pode limitar à
análise dos resultados quantificáveis dos acordos (aliás não há acompanhamento da
execução dos mesmos a médio e a longo prazo), mas uma análise qualitativa sobre a
reconstrução da qualidade relacional que não passa necessariamente por um acordo
formal. O desafio da formação está em introduzir um processo reflexivo com
investigação sistemática, uma abordagem metacognitiva da construção dos
conhecimentos e da apropriação dos níveis de competência.
25
5 A INDISPENSABILIDADE DO ADVOGADO NA ADMINISTRAÇÃO DA
JUSTIÇA
Não somente organizar os serviços que são prestados por meio de processos
judiciais, como também aqueles que socorram os cidadãos de modo mais
abrangente, de solução por vezes de simples problemas jurídicos, como a
obtenção de documentos essenciais para o exercício da cidadania, e até
mesmo de simples palavras de orientação jurídica.2
1
STF, ADI 1127, Extraído do voto do Relator, Min. Paulo Brossard, DJ 29-06-2001
2
WATANABE, Kazuo. Política Pública do Poder Judiciário nacional para tratamento adequado dos
conflitos de interesses. In PELUSO, Antônio Cezar, RICHA, Morgana de Almeida. Conciliação e mediação:
Estruturação da Política Judiciária Nacional. Rio de Janeiro: Forense, 2011, p. 3-10, p.4.
26
conduzida pelo advogado do adversário e pelo juiz que ficou exposto a
postulações e argumentos vindos de um só.3
3
Apud, MATTOS, Leonardo Nemes de. O poder do advogado na condução do processo civil: propostas
para ampliação. Tese de Doutorado. USP, 2009, p. 89
4
Apud, ANDREWS, Neil. O moderno processo civil. São Paulo: RT, 2010, p. 247
5
ANDREWS, p. 32
27
conflitos o que, por certo, trará a diminuição das lides que são enviadas ao
Poder Judiciário. 6
6
Comissão de elaboração do Novo Código de Processo Civil busca a agilidade, a simplicidade e a
efetividade como seus princípios de ação. http:// solweb-5.tjmg.jus.br/audiencia/1_reuniao.pdf
28
eventual conquista do consenso. Nada mais virtualmente ilusório do que imaginar uma
sociedade que estivesse fundada no desaparecimento do conflito”.
Em face oposta, a cultura jurídica tradicional tende a projetar a conflitividade de
forma negativa, tomando-a como uma aberração do sistema, a ser necessariamente
expurgada. Nesse plano, os juristas promovem uma constante redefinição do conflito
como litígio, reduzindo-o a questões de direito e/ou patrimoniais, e não de satisfação.
29
propiciar o (re)estabelecimento de ligações entre uns e outros, em uma prática de
criatividade, reparação e gerenciamento (SIX, 2001).
O diálogo facilitado pelo seu método - muito mais psicológico e comunicacional
do que propriamente jurídico - permite que as partes reencontrem-se nas afinidades
e elaborem pontos de convergência, conduzindo o conflito para o campo do mútuo
engradecimento, sem a existência de vencedores em detrimento de vencidos.
O conceito jurídico tradicional, conforme anteriormente mencionado, tende a
reproduzir negativamente a situação conflituosa, flexionando a necessidade do seu
afastamento através da aplicação de normas objetivas e da aferição patrimonial de
danos.
Com gravidade, o Poder Judiciário trabalha o conflito como resultante de uma
causalidade linear: uma reação à uma determinada ação (SILVA, 2004), refutando o
entendimento multicausal dos fenômenos relacionais, o que inclusive revela a
impropriedade não apenas da matemática positivista na dicotomitização entre
culpados versus inocentes (na intenção de forjar uma única verdade), como também
da pretensa purificação do conflito através de sua limitação objetiva (conteúdo) e
subjetiva (partes envolvidas), de modo a impor aos atores da lide “a constante
preocupação de sanear o processo, expurgando do mesmo tudo aquilo que a lei
considera irrelevante para solução” (MORAIS e SILVEIRA, 1998, p. 90).
Os mecanismo jurídicos em geral apoiam-se, metodologicamente, nos
postulados da dogmática jurídica, que se identifica como a parte do Direito que lida
com juízos prescritivos, impassíveis de questionamento no plano primário porque
pressupostamente verdadeiros, conferindo segurança e estabilidade aos sistemas
normativos.
32
6.2 A mediação e os outros meios alternativos de resolução de conflitos
6.3 Negociação
6.4 Conciliação
34
Ainda sobre a conciliação, cabe sublinhar que ela poderá ser de dois tipos:
endoprocessual, quando desenvolvida a partir do processo judicial, ou extrajudicial,
quando alternativa ao processo judicial. Naquela, em grande parte dos casos, o
próprio magistrado assume o papel de conciliador. Em alguns países, a exemplo do
que ocorre no Brasil20, a legislação impõe a tentativa de conciliação prévia, sob pena
de nulidade do procedimento futuro.
Contudo, em que pese ser bastante vantajosa em termos de economia e
celeridade, a conciliação judicial não se mostra um mecanismo inteiramente eficaz na
resolução de conflitos. O fato das partes se enfrentarem dentro da estrutura do Poder
Judiciário acarreta, quase que automaticamente, o desenvolvimento de um cenário de
rivalidade, o que acaba por dificultar, desde o princípio, a realização do acordo.
Por fim, convém assinalar a utilidade da conciliação para determinadas
categorias de conflitos, especialmente no contexto extrajudicial, a exemplo de
contendas que não envolvam relacionamentos de caráter continuado (as partes não
terão que conviver uma com a outra após a solução)21. Reconhece-se, aqui, a
possibilidade de se trabalhar o conflito somente quanto à sua apresentação formal,
conferindo-lhe uma resposta objetiva, em uma solução divorciada de potencial
repercussão na vida futura das partes (VEZZULLA, 2001).
35
7.1 Princípio da Informalidade
36
7.2 Princípio da Autonomia
37
Frise-se que, para tanto, a transparência é fator fulcral, demandando a retidão
de postura do mediador e dos mediados, que deverão conduzir-se honestamente, sem
a utilização de recursos ou subterfúgios que venham a embaraçar o ambiente
colaborativo; a superação do problema pressupõe confiança recíproca, que somente
será eficazmente habilitada a partir do comprometimento de todos os envolvidos.
Por esse motivo é que a primeira conduta do mediador deve ser no sentido de
esclarecer que a mediação não se reduz a uma disputa (na definição de quem está
certo ou errado), importando antes no estabelecimento de soluções que atendam
satisfatoriamente às necessidades de ambas as partes (SOUZA, 2004).
A origem real de muitos conflitos diz respeito ao íntimo das pessoas, que
desenvolvem meios particulares e inconscientes de externá-los. O fato é que trazer à
baila esses verdadeiros motivos é uma das tarefas do mediador, que desse modo
poderá desbloquear a comunicação entre as partes e trabalhar o problema para além
de sua aparente configuração.
Todavia, a fim de que as partes se sintam à vontade para dizer o que realmente
sentem, entregando-se aos cuidados da mediação, desenha-se necessário um
ambiente de extrema confiança, sendo a confidencialidade - garantia de que “as
informações, de qualquer natureza, passadas ao mediador não serão repassadas a
terceiros alheios ao processo” (RODRIGUES JÚNIOR, 2003, p. 304) - reserva
imprescindível. Nesse enlace, o mediador deve enfatizar, desde o primeiro momento,
a importância do compromisso de todos para com o sigilo das sessões.
Na verdade, como enfatizado no princípio da informalidade, não existe
regramento inflexível em torno das sessões de mediação, inclusive sobre a
quantidade ou qualidade das pessoas que poderão nelas comparecer. O que o
mediador deve sempre considerar é o quanto a presença delas poderá contribuir, ou
não, para que as partes se reconheçam na transformação do conflito.
38
7.5 Princípio da Competência do mediador
Serrano (cit. in Cunha e Lopez 2006), considera que a mediação poderá ser
dividida em tipologias, tendo em conta o papel do mediador, a relação que existe entre
as partes e o contexto social em que o conflito se insere. Deste modo, podem ser
consideradas:
Mediação ativa, na qual o mediador assume um papel ativo, lançando
sugestões e elaborando planos de atuação estratégica;
Mediação passiva, segundo a qual os poderes do mediador estão
limitados fazendo apenas com que as partes prossigam a negociação.
Seguindo a mesma linha Pruitt (cit.in Cunha e Lopez (2006), defende
que dentro da mediação ativa pode-se fazer a distinção entre:
Mediação de processo, que se refere aos esforços do mediador para
dotar as partes de competências necessárias à resolução do conflito;
Mediação de conteúdo, centrada nos aspectos e problemas a resolver.
39
i. Esta última classificação é idêntica à ideia defendida por Touzard (cit. in Cunha e
Leitão 2011) que distingue:
42
Recolha de informação, sobre o caso recorrendo ao relato dos
envolvidos;
Identificação do tema, definindo-se o plano a seguir, plano esse que é
criado pelo mediador;
Comunicação entre as partes, em que começam a surgir ideias e opções
para o plano, auxiliada pelo mediador;
Negociação das alternativas e realização de acordos, tendo por base
uma resolução benéfica para ambas as partes;
Redação do acordo final e encerramento do processo.
Folberg e Taylor (cit. in Cunha e Lopez 2006), adicionam uma etapa ao
processo de mediação, defendendo que este deve ser composto por sete fases, todas
elas permeáveis entre si. Deste modo: a primeira etapa caracteriza-se pela criação de
uma estrutura baseada na confiança e cooperação entre as partes; a segunda etapa
representa a delimitação dos factos importantes e dos problemas existentes, que
serão apresentados aos envolvidos; numa quarta fase pretende-se obter a
colaboração das partes para o início da negociação, por forma a obter um acordo
vantajoso para ambos; a etapa seguinte representa uma etapa em que se procede à
elaboração de um plano, por parte do mediador, no qual estejam expressas as
intenções, decisões e futuras condutas das partes; uma sexta etapa representa a
revisão do processo e caso necessário efetuar o processo legal do mesmo; e por fim,
na sétima e última etapa é concretizado efetivamente o acordo.
43
BIBLIOGRAFIA
______. A mediação, suas técnicas e seus estágios: a prática mediativa como meio
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