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Com  m  cm 'a, sua tão

aguardada quato casscáve ova


coletânea, Bruno Toletno dá nal
mente a púbco o "lvro-arena, que,
cocebdo em i959, por mas de qua
tro décadas ra prover o o condutor
em sua
tão massngular
soltáraobra
em poétca Obra
nossas letras,
quanto à amplitude do sopro lírico
corresponde a substantva coerênca
ntelectual de um autor aparentado à
estrpe dos poetas-pensadores. No
novo volume, o vate dramátco, cra
dor do paa e da era-poeta
Kathana, é mas que nunca aquele
scha-psy cuja erudção e mestra
cedo impunham-se à atenção de
espírtos do porte de Sant-John
Perse, W  Aude, Yves Boney e
ean Starobnsk, e em cujo fôlego
Antôno Houass rejava um poeta
maor sob a verve do "daleta e polê
mco dalogal.
Ao nterrogar desta vez "a vida
das rmas à luz da stóra das
déas, o autor nda seu ps ag
numa rgoosa poétca, seguindo-a de
comovda elega a alguns dos grades
mestres a cujo convívo teve acesso. E
serão
centralmutas
de seuasnstnte
ramfcações do tema
prólogo, mas
é numa complexa tea de sgnfcados
que a sngulardade da obra va unr
suas tensões: em  ç d ús, a
reexão lírca sobre os contos da
prmera Reasceça busca denr os
termos de "uma possíve losoa da
orma. De Platão, Ploto e Sêneca, a
ccello, Dela Fracesca, Masacco, Da
Vermeer e ttos mas, uma
ugete aooa  " motra
ceebra cada vaor perene e cada bem
terminal, ciente de que "o coração her
dou a coisa efêmera, / mas seu draa
é a razão, que o aclara ou queia. 
E, de to, a haer ua chae para
a decação deste surpreendente "ara
zoado
que plástico-losóco-usical
ir uscá-la há
no tenso feixe de con
tráios e qe  pea sia seu
"drama da razão: a alteatia às di
taduras a Daa Idéia supria u
"aih e aiss e que se ad
erte a ianência do eteno no sensí
el, da luz pensada à luz cnceitua..
À inusiada colocaçã send das ais
érteis, esta editora, que ponderou o
últio ecao de Dary Riei à
nação z-lhe eco: "É  deais que
aconteça ao Brasil u poeta assi.

BRUNO ToLENINO naceu n Ri de


aneio e i940. Prêio Reelação de
Autor ig6o, c o aen d regie
iliar Giuseppe Ungaretti acolhe-o
e Roa Tradutor-intérprete junto à
Cunidade Econôica Européia,
possor nas universidades de Bristo
edadeOxrd e i973Now
Essex Poetry assue
Naa Euopa,
ireção
saudado como "um desses poucos
que ze a cultura de a época,
lança  Vrí  \ín (Actuels, Paris,
i971) e Abut the Hunt (OPN Oxrd,
i978). No Brasil desde i993, e pu-
icando extensa obra vernácul a Prê
mios Jabuti i995, Cruz e Souza gg6 e
Renault 997, da Academia Bra
sileira de Letras Vive hoje na Ermd
da Serra da Piedade, Caeté, MG
Ü M U N D C M  D É 

Oas obs do ao: A   ç  o 
  o   p  o       A     1  A B o  
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H H A H  KH    HJ   
 A    A ÇÃ  H  }
Bruno Tolentino

 MUNDO COMO IDÉA



Copyright © 2001 by Bruno Tolentino
Todos os direitos reseados. Nenhuma parte desta edição pode ser utilizada
ou repruzida  em qualquer meio o rma, seja mecânico ou eletrônico,
tópia, gravaço etc  em apropriada ou estada em sistema de bacos
de dads, sem a expressa autorição da editora
Pepação e evsão  o Estúdio Sabiá
Capa Paula Astiz
  capa A caça de Paolo Uello
Asholean M useu Oxrd© Corbis age s

Dados Iternacionais  Catalogação na Pulicação (CIP)


(Câmara Brasileira do L ivro, SP, Brasil)
Tolentino, Bruno, 1940-
 mundo como Idéia : 19591999 / Bruno Toentino.  São
Paulo  Gloo, 2002.

ISBN 8525033405
1. Psia brasileira  Título

01-1596 CDD869915

fndices para catáogo sistemático


1 Psia  Sculo 20: Literatura rasileira 869915
2. Século 20: Psia itratura rasilira 869915

ireitos de edição e língua portuguesa


adquiridos por Editora Globo S A
Av Jaguaré 1 485  05 34602  São Paulo  SP
Tel 1 1 3362 2000  E- ail atendiento@edglobo o. br
w
globolivrosobr
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II. a uz en sa a  uz conceitu a                           
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ma cet a caaa                                         
Aout the Hunt                                            
I e ite iece                                       
 e ntouctoy ymes 
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  O cego e ezzo   
I .  ne eia e  oomsbu y 
III. O fao e augane 
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 ge
ose O mgo ues
d cve     

Ni ccol d  ole o Codoe o                              
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   obe seu e o eqese em Snt Mri del oe 
Nic col d ole o, Codoie o                              
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Cie s de  ole   
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A Cel Coi o otomo  
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    Vozes d'  Descid d Cuz                             
Poom os Co C e  
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 e de's sog            
    Vo dell Deposizione 
 e deix Floe                                 
t et leves Floece                              
A lltett de uido Cvlci                               
vesss                                                
e d os 
O oe o bcão                                         
Te Mchine of the World CA 
e
A vozum qu el ces 
 

O ólogo de e Vi e Vin 
Au Colloque des Mo ses 
  L médu se mou euse                                
 ypose 
   Le L is                                           
IV. evoi    
   extit du dit Ls 
 .   voix                                           
  Leus voix                                        
  Le fi mot 
V 'osse . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .  

. Nos
e moses
s, c'es désue suclleux 

 . As  ft Vléy   
V  Au so e .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. 
V  l'Auel de 'dée  . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 
X le .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. . 
X ececeme  ....  . .  .  .  
X ével .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. 
X es deux 
Auod-fé 
As oetc  . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .   
A estofe  .  .  
A dívd  
odígos  . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .   
O te mvel 
O veme .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. . .. .. .. .  
O Vemee's Te th of Din  . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 
A Rendei de ermeer o mo gle  . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 
Ves sobe  o s 
ão de modelgem  . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 

 VR SE G U N D :  ÇÃ D E REV S


Nl Obs t .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. . 
Ao vo Asss so 

mssm .. sombs
ofíco de .. .. .. .. 
.. .. .. .. .. ...  .. ....... .. ..  ... . ... 
.. .. .. .. ...  .. 
 
Fol com mges .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. . 
us esq uvs  . . . . . . . . . . . . . . .. ......... ......... . . . . . . .  
 Cestes  . . . . . . . . . . . . .. ............ ...... . . . . . . .  
. No escuo  . . . . . . . . . . . . .. .................. . . . . . . .  
os colos  . . . . . . . . . . . . . . . .. .. ................ . . . . . . . 
 CA    .  .  .  
.          .  
Atms de  sbel  so  . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 
  m e od su 
 o mt  l ml ge .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. . 
II
I I Aeroporos
Recorda ndo
u m c lacórd io  .  272
274
anasmagorias     . .  .  275
On l izabeh Jenning s Gowg ots  .  278
Ins anâneo pósumo do po ea P aul C elan  .   .  279
O W. H. Audens l as ) birhda   .  .    . .  280
Gacismos dalma  .   282
O jogr al en can ado  . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 283
Vizinhos  . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 288
A a á sc ara mor uari a de Césa r Val lejo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 290
Ungarei à luzpensada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 294
Más cara moruária de Quasmodo  . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 296
No izi e delle C inque  erre 298
 alchi  . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 303
I G orgo e le Ci à 304
Lameno de Caim  . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 1 2
A eplic aço  . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 1 4
Dobrada à moda do moro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 323
Louor na b oa more d o menn o Joo Cabral  . . . . . . . . . . . . . . . . . 326
A um cis ne na agonia .  .  .  .  327
O C téo ao de Paul Valér  .  337
ost-scptu a um a ra duço  .  342
Velhos iges  . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34 3
The Whirlings  . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 348
Os Ouonos  . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 349
Aneisões da lima anesala . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 51
oward a Marian Hmn . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 354
Segunda residênci a  . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 5 5
phaamum . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 5 7
A end a  359
O pêssego 360
he Begonia  . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 364
A noie fria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 366
On a Duch acssus   Eco'   .  371
Ampliações de um ocaso em Súnion 372
Anigones Homecoming . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 377
Nascimeno em Raena . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 378
VR Ú   M :   M  ÇÃ D M Ú S C 
 Cano
2. Cano, ofilh
que o da
amoluze da
amozona arden
o que e . . . .. .. . . . . . . . . . .. .. .. .. .. . .. . . . . . . . .. .. .. . 387
é moral 387
3 . No conai a ninguém que no vos creia 388
4. oda consolao que a mene quer 388
5 . O drama da razo Buscar o fio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 389
6. O real, fagmen o sepa rado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 389
7. Se a herana do Ocidene é uma agonia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 390
8. Alberi, ao recusar a esse rascunho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 390
9. Havia desde o Gioo essa enso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 391
 udo se passa como se ao compor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 391
1 1. O drama da razo eige mais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 92
1 2. Conosco a hesiao da criau ra 392
1 3 . m Uc ce ll o a ens o des se dil ema . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 393
14 . Porque perence ao insino naural . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 393
15 . Na solido de cada pincelada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .  394
16.  no enano n' Hósta rofaada . . . . . . . . . . . . . . . . . . .  .   . 394
 7. Houve ambém no jovem Bo icel li 395
1 8. Porqu e a m o que pinou La Drltta 395
19 . sranho imaginarjá murcha a one . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39 7
2 0 .  n o en ano dur ava, com o Maneg na  . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 397
21. Se Uccello fi o ldico profa . . . . . . . . . . . . . . . .  . . . . . . . . . 399
22. Penso, nauralmene, no Batsmo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 399
23 . m Arezzo é o fugaz que se proclama . . . . . . . . . .  . . . . . . . . . . 400
24. Deiai me ce leb rar ud o o que morre . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .  . 400
2 5. nre o insane e a arg ila va i passando 401

26. À
27. Osun iverso
vezes , aoquase
éme volarenador
de seu des
. . .erro
. . . . . . . . . .. .. .. .. .. .. .. . .. .. . . . .. . . . . . .  .  . .4 1
402
28. No Ghir lan dai o, ec  , a bele za . .  . . .  . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .4 02
29. Os solenes pavões do Ghirlandaio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 403
30. A déia é u ma perf eia c onsruo  . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 403
3 1 . Co m efei o, há o legado de um asi o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40 4
32 . O me lh or croma is mo que há nas cen as . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40 4
3 3 . udo é smbol, o mundo é conseqüene . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 405
34. Se é uma loucura confinar a vida . . . . . . . . . . . . . . . . . . .  . . . .  405
35. A are va zia do in elec o pri vo 406
36. Masa ccio conhecia o Serafim . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40 6
37. Ah, leior que idolaras o conceio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 407
38 O conceio, o po imperial                             40

39 AMasac
40 menecioé uma
no colméia de noções
olara nunc a mais                        409
  409
4   Piero e a or do gênio floreni no                          4  
4 O Angélico brilhou sozinho, o cume                       4 
43 ra Gioanni amais desez do mundo                 4 1
44  I magino o afresco que o Gio o                4  1
4   Com Andrea de Sao o ogo fezse                        41 2
46 Porque o real se in saura pelo esc asso                      4 1 2
4  Co ns ideran do And ea de errocc hio                       4  3
48 Benozzo Gózzoli é que pina um êase                     413
49 aseme esquecendo o Perugino                          4 4
0 Na ca lm a, na poes ia , nas en anhas                        4  4
5    m odo caso há arroubos de De Chiri co                    4  5
   Pois olemos a ela essa imposura                        415
 3  Com ef eio, a ecloso enascenisa            416
54  Dáse que esa sempr e uma f ida 416
   Mas á so ho as de e ocar os mus     1
56  m odos,  indo dos ca nais s ombrios                    4 1 
  an Eyck, em quem o mundo e o absouo     418
8 E assim fez oda aqu ela muido 18
59  Dur ane o Qttrocnto a ciaua 49
60  sse ncial mene, a mene se a avoa 19
6 A pinura onada de repene                             420
6 No gênio dduivo floenino                             20
63 No há nada por trs de coi s algum 421
64
6 5  C omo em
Como o Noe
 eneo afzi
   O ne ssa olnd
baço do O ien           42
   23
66 Talez fsse a iminência do dilúio                        23
6 Abr ese  amb igid de com o C accio 2
68  Abismeime uma  ez, c omo se em pre c 42
69 P efigura-se a luz do Cana le o                  425
0  Quano  s fbuações do in oeo               42
1  doce obserar que nele dura                            46
 Já o Ticiano polongaa o dia                             426
3  O mun do é mi nu ci oso e coossal                          42
4   há erdadeiramene o  eronese               42
 Que se Venea lcança uma equço                       28
6 J o sol  lo quel lu                             28
  v sdoé quele se                            29
 8   suge, xod o el o de e                           29
 9  Ao mesmo emo, se be m m s de le v                 30
80  o comeo d vése do ce                         30
8 1  obd  esc d, o segudo d                        3 1
82 Ou melo, de um ovem  N ved de 31
83 ão dos modos de ve, eu se; ms ceo 33
8  de um es  o ode  esão 33
8   Não se m dé, ms o fudo                          3
86 Que fz e dese m udo qudo  e 3
8   m, são modo s de ve , m s o o omo 3
8 8  O meo b oco eco  3
89  fs d o el, eus covddos                           3 
90 A esce eveleceu deess                        3
9 1  O es o  doxo ld 38
92   seme um doxo o ee              38
93  s ouve o e um xão                         39
94 Ou o lâguido cesculo, boco                        39
9  s o que Clude v  em seu oee 0
96  e  um mu do em ous s , ulmee                  0
9 A vsã o be ífc  ã o c be                                
98 omeeu  ão fu o elâm go  1

99
 00Os
coão é o gde
é udo mgo
um odí go, um m ovme
    o
                   2 2
Ú lmo Celeb- comgo, ó odos vós                        3

FN E: 
 GÊ N     O V O 
UM  Ó OGO

A Mi
faro decano  Reae
ente ivre
a we learn fom eperience depends on he kind of philoso
phy we bring o e peience   is heee useless o appeal o epe
rience bere we sele, as well as we can, he philosophical ques
ion  [Sim ilarly he resul of ou his orical enquiries will depe nd on
he philosophical views we have been holding bere we even
began o look a he evidenc he philosophical quesion mus
heree com e irs 
C S WS,
T lm o an
Ó
 Ü   G O N U  U M X RDIO

A RGOR, S LRO SR ML BDO, o sentencioso osaísmo de seu


títuo sug eindo eocua es ao ogético -didt icas à l coenaue Nada
mais onge do ovem que o concebeu bem antes de comea a ve-se tans
muta  no seu es itante au to  medida que ia tendo uga uma ta mutaão,
acontecia-m e cons idea vaiantes e ucid ativa s do tio "O  undo pel Idéia,
"A Idéia em ve do M undo, etc  ; todas conseguiam ag ava o osaísmo sem
dissia o ma-entendido oncuí que só o evitaia caso aesentasse meu
tema-obema eo ado do avesso, coocando-o sob o disce de um títuo
ago mais s eduto, no cas o O Mundo como Rpto. ev e iusão ! N ão demoei
em ecb e que cedi a, senão  ao didtic o, cetam ente ao a oogético , e com
um a de agavantes a de ecoe a uma noão como meo enfeite, e a de
aisca desvia a atnão do eito do meu incia acica em esevea
na emeitada, qua fsse  um sentim eno de aa me ae s iscos 
coe o esíito seme que se o aboda o ea guiado o sua aces
ta  tendncia  absta ão amufa  com um títuo de cuno ceebatóio u
texto nasci do da obsessão de uma ameaa , ademais de um subtef gio este 
tizante, seia uma taião  incômoda eaidade das tenss que o consi
tuíam e sustinham
Poque o qu e desde o i nício f caizou o o  as si m dize ner vo ótico de s
tas e exes foam os ma efíci os da Id éi a, ovindos todos de abu sos m etodo
ógicos que , foa é convi , e m nada af etam a osião caita que se me 

de
ou cabe
não, a em
Idétodo
ia é oeso cognitivo
ine scave  iuste
note magnviã de meus
ético aaes
no maa móvequeia-se
da av ent ua
cognoscente  eu texto não dis uta essa evid nc ia incon tovesa, ao cont
io, adece sob o imacto desse so de meio-dia, aadoxmente o mais ca

15
az, senão mesmo o nico em gau de induzi  meia-noite da aucinaão a
aquico nhe cid a, vocaci ona cegueia hum ana O cego nu ao so a ino d o on
ceito, o ébio mesmeiza do ea Luz onceitua  dou-o  o descont ado 
é figua chave em nossa ineutve heana edíica, henica otanto E é
esse esecto, ebento de uma aixão di-se-ia atvica, que onda o âmago e
subeva o cento nervoso deste ivo obsessivo. Não ceio que tivesse odido
esc eve nen hum dos outos se m ecuso a este  ascun ho aa eo, a esta es
écie de "negativo, ou al ter eo de cada um dees; gadua etato ocuto no
sótã o ass ediado de uz ag ôni ca,  Muo como Iia fi- me , estes aos todos,
uma es éci e de eositóio obíquo, o ese ho convexo em qu e se movia i nqui 
sitivamente a somba conceitua de cada metfa que eu confiava ao ae
No  ivro-aena digadia va-me de enconto s minha s dvidas mais íntimas , mais
iedut íveis , com e as utava o uma fo sofia da fma que me e mit isse exe
ce sem m conscincia
omo o grave,
se v, não vivi o difíciinfenso
exatamente ofício da poiesis.
s seeias da Idéia, onge dis
so Po iss o mesm o cons tatei a que ont o eas ode m desv ia, obsc uece , obs
tui até a mai s s ofida via de acesso  intui ão do se, com que finuas o gam
ata Pégaso a Anteu e vea-hes aos dois o esendo da rosa-mndi. É em
nome da I déia que , séc uo aó s séc uo desd e os fins da Idade Média , vem-se
hiotecando a aventua cognoscitiva a um emiismo s avessas, esécie de
emanso esecuativo a substitui-se s eexidades da condião mota
on ta um ta ce ni o, a vida do esí ito tem tido que escohe , basicamente,
ente duas ostuas, só em aancia oost as ou bem "etia -se d a aena, de
sativando suas tenses com a abdicaão de um mea culpa de sonâmbuo, tau
toógica e fa tai sta , ou bem "aboe a intatve  oacidade do ea num mov i
mento de ebiez ativa, de cegueia ebede. Esta tima, agumenta meu texto,
seia a rande t enta ão, o efgio o exce ncia  e h mesmo quem o di a ines 
cave) da in quietude ocidenta É dio  ode cega-se e o cego ode va ga  uz
matin a ou ceusc ua, s em meios de di stingui-as senão ea teidez m aio ou
meno desta ou daquea caícia anônima vae dize avusa) na eideme, na
suefície aenas, do sensíve Ou ode ota o um quaque sucedâneo da
noite , tancaf ia-se n o casaão mamóeo, io, vazio  o io vazio d o conceito
 e ai oga com os Esc avos de Jó os in teminv eis caxa ngs do sistema es
te teei mais a dize; do conceito per se como da meta, de esto) bastaia
obsea que nada mais é que um instumento nobe, iuste, indisensve
que sea, o que não ode é invete a eaão ente os meios e os fins
Oa qua ndo o  oe como o substa to mesmo do conhecimento  em
vez do co ntraonto f rma que é  noi te tumut uosa do sensí ve , aquee mi-
16
enar viés da mente bem ode ser que ma se d conta de trocar o mundo
como- ta eo mundo-comoidéia. No entanto, sata aos ohos que sua re du
ão a um jogo de concei tos assa eo e ncohi mento da com exa recarieda
de do r ea , mediant e um esquarte jame nto dito anaítico q ue faz tabula rasa da
unic idade do ser ; est e v-se red uzido a ouco mais que uma hiót ese aneste 
siada na mesa de oeaão "da s transf iguaes sem nome ó rio  nos
term os em que evoco, ao ong o do Liv ro Pimeiro , este as ecto cruc ia do mo
derno da ma da razão, an tes de submet-o a um a anáise ago mais det ida no
Livro  timo da obra. Longe, ois, de uma aoogia, meu rosaico e atisso
nante tít uo anu ncia u ma diagnose conontada s tensões e aos arad oxos de
que se nutre a rosa cogno scen te, a vida do esír ito tende a cai tuar ante as
sedues do conceito, o qua, or sua vez, entorece-a com fórmulas, méto
dos e do gmas que nada mais ogra m aém de um a eitura retensament e "se
gura,
ea. ee aaorenncia
cabo aenas redutiva, dosmero
do "sonâmbuo, fundamentos do ser e dasode
recurso estetizante, categorias
ser quedo
nasa do que chamei a "investida d o amo ânico e ia- se de um aro xismo
agônico, mas ainda vita, do esírito erexo), na segunda esécie, na ativa
escoa daquee renitente moedeio fso, o esírito ébio de uz conceitua,
há um soi si smo de iberado , a criatura de um o rguho étreo e irreversí ve  é
no atar do conceito que comea "a marmorizaão mora do ser
Para mehor erceber o que entendo or esse rocesso, que se imagine
certa f igura descarnada  a ura criatura da mente  habitando o nore "sa
ão das quatro janeas, cume da cássica morada de todos os aheamentos
ante a uz moritura. É ai que a imecáe estatuária a que asira o homem
conceitua modorra e sonha o comacente eir "imorta do sistema, esse
gmeo i nconf ess o da not óia emb riaguez forma da "arte ura, da arte-ea
arte. ais abai o, no orão da mansão es ndida, o oo de sombras étre
as da edusa, o so negro do exíio, a noite ia. A ee descem, negociando a
escadaria em esira da aostasia, ado a ado, o sonho do Beo e o esadeo
do Idea . I maginese um fr anco diáog o entr e os dois, ou en tre a I nocn cia e
a xerin cia , ou ainda  or que não  entre o jove m eats e o velho B l
e, tavez ante o s ortais do É reo; e nqu anto aguarda m a tran sfigur aão ao
teótica, a ceitam osar  ara Pouss in , ou ar  áud io, o Loreno, e conversam.
Eu ou o ago ass im 

!  O pote no balcão  1 4 (ivro Prieiro)


2. Im 4.
3. . A Imitação  Música 628 (io Últio).
17
 Como i que a s estátuas d o poço da Medusa
chegara m lá?  Ainda em vivas ao descer
  por que des ceriam?  Porqe iste no ser
ma obsc ravidade a lz disa

de m sol den te qe co biça o enta rdecer.


 Mas nu m mu ndo de pedra?!   mundo é uma conusa
noção tmltuosa e há na oma um per
criatra do orulho que é quase ma recusa

e vai levao a própia luz a areecer.


 Voltariam de lá?  Quem?  odos, cada está tua
com seu sol de menti a .    Não sei porque morrer

é a nde embriaue da alma e ela anda à cata


de se evadir de ser o que deixa de ser
Há uma estnha euoria na morte que não mata.

E eis q ue , ma l encetado o etor no a ete mund o e a sus "noes tumu


tuosas , deparo-m e com outra sombra ilu ste, a do velo ê neca  foi ele quem
se referiu , plotin ian ame nte , a cet o moviment o do espí ito que, s em renuncia
à autoco nsc iê nci a, deix -se rapta em amooso abndono a um modo de pe
cepço que, fiel à etimologia, aquele agudo eírito latino apoxima da exem
plar noço de rapto cum universo rapi r, a ambiço conceitua tende ao
con trário dess e conse ntime nto, desse ato de humildade do inte lecto ante a in
teireza da pecepço, e eg uese à s antíodas de toda e xper iênc ia do mundo
enquanto rapto e assim az legitimam ente , conc ed-s e, visto que o conceit o,
equanto uten sílio de ceto modo do conhecimento, busc a um def iniço de
ddos e termos que fie uma "idéia do mundo,  igo, um sua fisionomi
fundada em tal ou tal c laridade certif ican te, inda quando li mitadoa e redu
zida Até aí tudo bem , toda intrínseca  unço s endo um d ireito a e xecer e
ta que de peda e redenço no se a nunca n esse tipo de discuso, de qu e
a treva, o abis mo, o destre, a do r  a mote, em suma  vêm-se banido s,
subtraídos à equaço e postos ente paênteses, suspensos em epochê, como
se diz nas M atemáti cas

4 . Bruno olentino Os Deuses e oje  129 (eor, io e  neiro, 995)


1
O nevo da queto, que-me paece, etá no fato de que no há liço
de teva no eino diut urno do conc eit o, todo ee opoto ao "i mpério do
eal, aquee memo que, egundo o melho ummond, no que de nó de
penda "no exite E, quando no exita, eá poque onde no há liço de
teva tam pouco ave rá "iço de coi a ba ante paa contona , po ex em 
p o, o qu e me paece a ga ve ju teza de ceta obeva ço de Pound a popói 
to da poe ia de Robet Fot, egundo eu compat iota " record o lie without
intellectul interest or ny desire or nythin not in it Convenhamo que,
num ponto ao meno , o autor d e A lume spento acet a em cheio  nec l  sine
ob .  . Vale dize em um chiscu, em a mediaçõe da teva, as "coi
a no têm "ombra, e egue-e que nee tipo de "egito em inteee
intelectual ou ane lo algum pelo que o utap a e tampouco há de hav er liç o
de mo dela gem digna do nome  nenhuma, em todo cao, que no tenda ao que
chamo
misívelaepota
mamo izaço moa dodaemente
à inquietaçõe  paa
anteoo homem
fugaz, ocon ceit uao aelui
pecáio, únic a ad
vo. E no que con tituiria ea "liç o, o que eia ea "modeag em além de
um execício fmal de cunho e natureza quando muito imbóico? Enten
doa, mai bem , po aquel a opea ço d a inte igência que tem cua, ante de
tudo, da i ntatá vel e apa enteme nte infme ug osidade do ea, e que ao bu 
car fmare uma qualque imagem dele ó e legitima ao equiibar-lhe a
tenõe e o paadoxo de modo a etiv amente toca aquele neo v ital , aquela

canatua vivapotant
ociá vei  da inguagem em que
o ignif icativ o  ignificado
É evidentee que
ignificante
o epíritoreultam indi
de conceito na da
abe e nada que abe r dee equi íbrio, dee execício obetudo moal.
Bête no ire dete  ivo e fime obtác uo a ee tipo de co neguimen to, o
conce ito no q uer ouvir f ar de mete a mo na ma a i nforme a mode lar, an
te pefere-he um modelo, contentandoe em compimi a vida do epíito
na finua do epíito de itema Ete útimo, eminente batado da huma
na febre de ilu õe cet ificante , uge como uma oco ênc ia ecente no pen 
ame nto ociden tal , ma u a onipreença dede o apogeu hegemônico do Ide
alimo Alem o c uja "omba etaia naque e eu con teâneo e coet âneo, o
Romantismo à l Novlis e uta de um poceo vindo d e longe, aquel e me -

5 O veredito pareeme apliável também ao último Drmmod, o e a partir de 1962


omeça a inventariar sua liço de oisas e, talvez porue insista em zê-lo ao vel dos ae
dotários do otidiao atomizado, iiia o gradal ato-elipse de ses últimos vite anos A em
le importe a sempre protelada dissso desse otesioso, remetoo ao me saio A espi
l reentora, o Eplogo  ediço deiit iva de minha oletânea de estré ia, Anulação  Outs
reparos, pp 26-29 (Topbooks, io de aeiro, 199)
19
mo que na Antigidade C láss ica se intit ulava Gnosis, e no por acaso iria pro
ver, seno o substrato, certamente a mola mestra indispensável à "grande vi
rada dos temp os hu man istas  como o ço izer à obscura santinha pa ro
eira da Catedral de Florença, destituída à primeira luda dos tempi nuovi
Desde ento tem-se especulado, à saciedade em tempos recentes, sobre a
chamada "crise da repr esentaço Nos esgare s de p rosa qu e aqui se inic iam,
o leitor verá que no ignoro a colocaço, mas que a tomo como o ponto de
partida a um corpoa-corpo, verso-a-verso e olho-no-olho, com o mais insis
tente dos espectros da criatura seu ascínio pela abstraço, pedra-de-toque
de todo reducionismo idealista No me creio obscurantista e suspeito que
minhas reserv as ao r acio nalis mo antiano se jam m ais táticas do que constitu 
tivas  ainal t ento pensa r há quarentan os e ainda no pude ispens ar o recur
so ao conceito! Se bem que alguma coisa sempre me z sentir que quando

no arris
Por co c on tradizer-me
eemplo es bravejo
por sugesto em v
de agner o    redijo este
Carelli, postscriptum
de mod o a zê- lo valer p or um in tróito ! Coo descu lpa por a gregar obscur i
dades a penumbras, alego o intuito, em si mesmo dubitativo, de cilitar ao
lei tor o acesso às linhas m estras do livr o acil itá- lo sobretudo a quem se av en
ture a começar sua leitura por este Prólogo, arriscando-se assim a deiar-se
enredar nos meandros de uma tortuosa dissertaço resultante, linha a linha,
das pro vocaçes de José Mário Pere ira  já há alguns anos praticamente um
co-autor deste livo Nas páginas que se seguem conto da gênese sbita e
da evoluç o vag arosa de um livo qu e, c oncebi do nos con bios da adolescên 
cia com a paranó ia , ac abaria por nascer e cresc er adado a ser vir d e arrimo
de mília a toda minha obra Compondo- o, decompon doo e reco mpondo- o
ao fio dos anos, busq uei entender como e por que tudo quanto se pr oponha
traduzir o mundo  o mundo-c omo-t al, a opacidade, os dados b rutos do real
 numa e atido de teorema termina por conc eitualizá-lo até o desigura
men to, e svaziandoo de tod o sentido para situá lo além dos cinc o sentidos, no
Xangrilá da ab straço em lugar da s aspere zas do real, uma eata, e ecutória
e ilusória equaço
Resta q ue essa ancestral tentaço acaba por con igurar uma tirania que
"suca a  ábul a do ser, reduzindo-a a uma bulaço de labora tório incapaz
de dizer do sensível, o conceito dele z mais uma noço, codiicando assim
em termos abstratos nossa vital relaço com ele No curso dessa imperiosa

6. . Santa Repara  Florea (Livro Prieiro)


7. . O verme I: 1  (Livro Prieiro)
20
opeao, a constante que a peside, o espíito de oguo, engenda o espíri
to de sistema  ceebado simu aco incapaz de fze mais do que pemutar
o Rea pea I déia , ou , com o po cá já se ionizou, de toca o fato pea veso.
No seia o meste da diaética a decaa que se os tos no concordassem
com sua teoia tanto pio seia paa ees? Mea out, tavez, mas nem po
isso menos e veadora de ceto tipo de "io de modeag em  aquea em
que a Idéia, essa M edusa-só-cabea, ass ume- se capa z de f ixar tudo à cond i
 o de no te  acess o a nad a, a na da de v ivo. eno que é o oor à mot e a
inspi a essa coisa o renda, a mum ificao do r ea, sua substi tuio pea hip
nose de um modeo , na meo das ipót eses marm oiz ante, e na pior delas
ne m is so  Conta to do autêntico r aciocínio, a camisa-de-a do sistema, supre
mo de svio do g êni o ocidenta l ad vindo à o a mesma de seu tit ânic o, napo
eô nic o autocor oament o, nega a paticuaidade do se , t oca-e os paado xos

pea promessa de os
estatuaizando-o uma ataaxia
conflitos que oaosque
cedem magnifica
concei e só tofzdivocia-
tos, o sujei estutificá-o,
se do obje
to, e a cria tua  eba tiza da "o ho mem  fica sem o mund o, pesa de uma
abitrária ordenao peremptóia, o cego nu no casaro vazio.
esse ma espêndido o Ocidente padece agudamente desde a Ata Re
nascena. ucedera m-se os séculos, e ncontra ram-se e contras taram-se os es 
tios, sem que cada Zeiteist renunciasse à mesmíss ima meta e perene pemis
sa estetiz ante e sut i, a medusifica o mamo izada de nossa ean a cá ssi
ca insi st iu e esisti u, eni tente , ten az. a vez poque de f to exist a, tatuada na
pobe ama e m susi s, seno na textua mesma do se enquant o nostag ia edê
nica , como que u ma út ima basfêmia , aquea av assaadoa euf ia ante o es
píito de abstao, nossa paix o da mote que no mata . . . Isto post o, que se
atente bem poeta n o é mtre à penser e este ivro no pretende configurar
mais uma teoi a, ante s te stemu nha de u ma esistên cia a tentaes des se tip o,
de que seu autor tampouco f i poupado. Mas no cabe adia ntar mais , afina 
um exórdio é um mero conv it e. Caso o eit o o aceite , agua dam-no ce rca de
quaenta mi paavas ainadas em mais de sete mi vesos, espao bastante
paa pemiti-e efeti sobe a petinência ou no de ceto tipo de semes
em posa ouxa. . .  condio, é cao, de pesisti na ei tua da oba como o
auto em sua f atua  quem t em pessa? Cet amente no quem ao ongo d e
quato décad as te imo u em fz e cabe nu m meo ain avo de me táfas e it
mos meio miênio de ocidentais pepe xidades.
21
Í
II  B E LO I NE LI G VEL

ENÃO EJMOS. Y Y I   . .   até parodia ndo meus maio
res mas pouco i mporta se o que tenho a dizer já fi dito melhor mai s de um a
vez vou dizê-lo de novo  "Shll I sy it in? Em tod o caso  no seria o
autor do Est Cocr  e sim um dos grandes de França a fzerme observar
certa vez que to estet a quan to filós oo entre os primei ros medi adores do am
bíguo no Ocide nte Pl ti no afirmav a ser preciso que a consc iê nci a que temos
de nós mesmo s co nsi nta em abolir-s e para que de f ato alcanc emos po ssuir o
objeto qu e an elamos ve r. Mas acres centav a que e ssa autocon sci ênc ia nece s
sita paradoxalmente manter-se em si mesma de modo a que nela e com ela
amadure ça essa viso a que aspiramos. Medi tada a liç o fui constatand o que
uma tal sucesso de in stantes contrastados in terpo ndo uma  ragilíssim a pon
te entr e o real e a perce pço do rea l no n os torna intei ramente donos nem
do objeto contem plad o nem da noç o da idéia que nos faz emos del e c onti 
nuamos entr e seus dois pólos únicos certif icantes daquilo que somos e sem
ele seguirí amos s end o. ratar-se -ia pois de uma possession du cur, semi
il usória no primeiro ca so e dada a tornar -se no outr o po uc o ma is que u ma
hipotética brevíssima renúncia tática. ma hesitaço portanto outra vez
aquele moto contínuo cuja descontinuidade  ntu comprometeria desde
o berço o dubitante pro je to cartesiano por e xemplo  c om s uas c onheci das e
intermináveis seqelas.
Ainda ass im a desaf iadora colocaço do autor de A Belea Intelivel me

seri a frutuosa
afigurava  Quatro
que naqu décadas atrás
ela operaço do e ao começ
spírito ar a penuma
adv ertia-se sar este l ivro já
afirmaço dase
t me
em
poralid ade e no m esm o ato um a fuga ao fugaz e com e fei to ain da hoje me
parece que aquilo que exp erim entamos nesse m odo de aborda gem do real é

2
o anelo de abolir o tempo entr e dois i nstantes, dois reinos, duas mar gens . e
ria, pois, na flui dez desse in tealo ins usten tável  sedutor arroio célere ca
paz de sugerir a imob ili dade d o Idea l , teria f rçosament e que ser nesse ilu
sório ponto de conve rgênc ia en tre moto e stsis que se haveriam de c ruzar as
diagonais do pensame nto e as da viso.  no creio necessário tampouco que
o grande pen sador-poeta se refe riss e à espec ificidade do ato pi ctóric o para ha
er frmulado naquela passagem a mais sutil traduço ao temporal de uma
arte tida por pertencer toda à s c atego rias do espaço  a operaç o do espírito a
que cham amos pi ntura, e sse "pensament o que se tor na olhar, par eceme ine
vitavelmente nascer e depender dessa tenso.
Por outro lado, se mu ito lenta ment e, fis e-me zendo inevit ável suspeitar
nessa imponderável operaço da mente ante o mundo um perigoso reverso à
difícil nobreza do exercício contemplativo comecei a notar que ali precisa
men
da Me te,dus
no abreve in tealo
 a mais de uma
próxima he sita
metáf ra ço, vaguepude
que ento avamachar
e divagavam as pupilas
para aquele ou
tro olhar, aquele olhar-de-volta que, tornado pensamento, vai-se inevitavel
ment e c onc eitu alizando e no ra ro passando do jogo dos c oncei tos ao jogo de
imagens, da Idéia ao sistema de idéias. ó anos mais tarde haveria de tentar
captar e descreer a natureza e as implicaçes desse processo, a um tempo
nte de toda a a rte do Ocide nte pós-medi evo e seu principal obstácu lo; mas
i bem cedo que o percebi no s termos em que o evoco neste l ivro, como con
tendo " . . . essa tenso, / ess a duplic idade inconsciente / entr e o que o ol har
percebe e diz à mente / e o pincel que reduz à traduço / do pensamento as
cois as da viso. ª Bem ante s de buscar fi xá-lo em qualquer figura de lingua
gem, eu já at ribuír a a enormidade daquele ri sco às t entaçes do olh ar medu
sado pela Id éia . No caso, aliás, bem se poderia dizer também "pela idéia f ixa
 dado que , um a vez reconheci do como ta ngível esse perig o, o tema, ou an
tes, o problema em torno ao qual, à lenta maneira de um quartzo de cristal,
se ir ia formando est e livro, no voltaria a deix ar-me em paz . Da in tuiço cada
dia menos va ga de uma ame aça, eu viri a a deduzir que o pro cess o a que cha
mo o mu ndo-c omo-i déia paralisa o prazer, o senti do mesmo do estar -no- mundo ,
na mesma medida em que seu temível poder de hipnose nos seduz com os
sortilégios de uma tela.
Mas como o fz, perguntava-se aquele adolescente, mediante que sub
terfúgios o co nsegue? Perplexo, vi -me acu dido a tempo pelo tempo, como ob
sessivamente o atesta o mais óbvio, monótono Leitmotiv de minha coletânea

8 . A Imitação  Música 9 1 (Lio Útimo)


2
de estréi a em  96 3  a oniprese nte sombr a do tempo Q uero dizer que, aç u
lado pelo natu ral aguçamento da ans iedade temporal próp rio aos anos de ju
vência, aquele quase avô deste arremedo de poeta-ensaísta começaria seu
aprendizado o dram a da razo ao perceber que, mais cl arament e que e m to
das as art es , na arte do visível o mund o-como -idéia apodera-se do real tratan
do de substi tuí-lo pela ancestr al magia do número, con seqentemente min i
miza ndo no cur so da op eraço rm al, e mediante e la, t oda incômoda aluso
aos avatares da finitude no espaço de uma tela Felizmente, quanto mais es
plêndido o resultado, mais curioso o olhar se torna quanto aos meios que o
permitiram Quanto ma is seguro o triunf  frmal , quant o mais impercept íveis
os andaimes do imponente edifício, mais intrigantes se tornam os meios, os
recurs os su tis de sse processo de substituiço do rea l pel o ideal , do ugaz pelo
intemporal e do fini to pelo ininito  ass im con siderado em sua f rmulaço
enquanto
tuir, talvez,entquee numérico, é c laro
ali estava mais uma tentadora
m todo ascese
caso , no
sobme tar ou e
o disfarce suspeit
uma r, in
peculiar busca do Ideal, tanto mais esplêndida quanto mais inquietante lhe
parecia, p or exempl o, ao Jorge Lu is Borges daquela desc oncertante obra-p rima
qu e o velho B andeira me havia empr estado à época, sua Hist d e l a eteidad.
Anal, no nos hav íamos acost umado a identi ficar com ess a busc a just amen
te aquilo que imemorialmente chamávamos o Belo? Lá estava eu outra vez
numa encru zilhad a! Que fzer?
No sei o que fiz, mas posso dizer que no me restavam dúvdas ao dar
finalmente por encetado este liv o mais de três décadas atrás  o mu ndo-c omo
idéia era a promessa de u m triun f rmal logra do ao preço de um a i mperio
sa, autoritária aboliço da "lamentável escravatura do ser às intimaçes do
sensí vel  o ser ainda servo de sua percepço d o real pelos s enti dos, coita
do, nosso pobre e indefeso ser, a ser ou no libertado pela Áurea Lei da Ra
zo    Por f rtuna , q uem vê o esque leto deduz a ar ticu laço , e de repente sal
tavame aos olhos que a I mperial R edentora chegava, por exemp lo , ao espaço
de uma tela antes de tudo dela expulsando justamente "o tempo, ou seja, a
dimen so temporal in separáv el de toda ex periê nc ia se nsíel   com a ag ravan
te de q ue o ilustre "exi lado  no era uma abstr aço, po is qu e no se trata va,
digamos, de um tempo numérico, c omo na medid a, na rl d or ou numa lei
tura pitag órica ds categor ias deste mund o Nada di sso  tratav ase pu ra e si m
plesmente daquele tempo fito de instantes a ir e vir entre duas margens, o
 à míngua da insustentável stasis. ra esse loos tornado locus, esse tem-

9  . nota número 
25
po inseparável d lugar do real o que estava subentendido na nobre hesita
ço "ploti niana  da qua l di fici lme nte pod e prescin dir a contemplaço amo
rosa  a qual deseja possuir o ob jeto s em ouar detê-lo nessa "posse  antes en
volvendo-o na fugacidade constitutiva da istória do que fixando-o na parali
sia daque la ilu so a ela aparenta da a prestigiosa " perspectiv a his tórica En
veredei por aí e acabei por fig urarme a i stória como um a espécie de "mal
diç o do tempo enf ermo se bem me lembra audácias de guri bem sei mas
sei também q ue foi como f inal mente saí do estreito subterrâ neo das certe zas
sis têm ica s 
E ei s que a o recorda r-me tudo isso passados tantos anos sorrio e me in
terpelo mas a que me vinh a àque la altura a i stória perspectiv a histórica po r
quê? Talvez p orque tudo n a aventu ra humana sendo temporal "perspectiva
no seria apenas uma leitura do espaço mas também um mergulho do olhar

no tempoporqu
enfermo humano
e vivae partir daquele
/ do que morr eaqui-e-agora em Yves
    Tudo isso que padece "o coraço
B onn ey já o evocava
num texto de que fzia acompanhar a primeira carta que me enviou em ju
nho de  9 59 se alguma coisa que ap reendemos do real é v erdade iro "cela est
vi aussi bien pour ce réel quest le temps, dizia aquel e grande de França com
a densi dade de sua voz ini mi tável   Esse tempo do real  que a ar tes da pala
vra podem evocar de mil maneiras a pintura o exprimiria antes de tudo pela
"pro un did ade dan do a en tende r que a invenço ou a r edes coberta da pers
pectiva teria facilitado seu estudo e sua expresso Mas advertia a tempo
aquele lúcido desafiador das esfinges da mente talvez no século  o poeta
pen sador mais bem armado ante as i nvestidas da ama Idéi a con tra a integ ri
dade do Real e as signific açes da F orma  el a a perspec tiva teria assi m com
ecessiva acilidade investido o que é mera aluso com a gravidade e o peso
de uma representaço histórica Ora a cada vez que nos persuadimos de que
a História é a ftalidade da perspectiva resta ainda constatar que aí também
uma vez mais alha-se perde-se a intuiço do ser e justamente porque 
sempre segundo a mes ma liço do poeta  a pers pectiva atém-se a um úni
co estado na situaço recíproca das coisas e com isso na arte da pintura ao
menos  ao s er levada a operar a um dado momento como que um "corte no

10  Cf O e XI  : 2 (Lio Primeiro).


1 1 . Recém-p ublic d no Mercre  Fnce de vereiro dquele no, trtv-se de um su
conerênci profrid nte o Colge de Philosophe: "Le tes et l'intemporel dns l pein
ture du Quttrocento " Pr  versão definitiv, vej- se Lmpbable et atres esis (Glimrd,
Col lection Foio-E ss is, Pris, 1 992 ) No presente ensaio como nos que he dão séquito, min
hs referêncis o número d págin envim  ess eição.
26
palpitante do Verbo como a fênix mítica como a luz moritua ressurgia dos
escombros de um continente autodestrudo. E o fzia no exato instante e
que pela primeira vez na História "nós as civilizaçes nos reconhecíamos
enfim como coi sa mortal . Na ost ensiva contram o da incontornáv el frase com
que Paul Valéry sobressaltara seus pares no Collge de France ("Nous a utrs
ls civilizations nous savons maintnant  nous somms mortlls, um jo
vem poeta sem iluses celebrava precisamente essa finitude no corpo fio e
frágil de um a sala man dra qu e era també m e po r isso m esm o o embl ema da
poes ia , do Verbo reencarna do entre o negrume de um fsso e a ag onia da luz
Vejamos tomados quase todos ao intróito daquele livro-poema alguns de
seus tantos momentos capitais.

La l um ire prof onde a be soin p ou r paratre


dune terrebois
Cest dun ro uée et craquante
ténébreux de nui t.sexalte.
que la flamme
I fut à la parol e mê me u ne matire 
un inerte rivage au delà de tout chant.
I te faudra f ranchir l a mort pour que tu viv es 
La plus p ure pr ésence est u n san g répandu

[. . ]
Je veux mabmer en toi vie étroite crie ouve.
Je reste prs de toi ouve je téclaire.
Quand reparut la salamandre, le soleil
était déjà trs bas sur toute terre
les alles se paraient de ce corp s rayonnant.

[.. . ]
Et déjà il avait rompu cette dernire
attache quest le coeur que lon touche dans lombre
Tourné enc or à tout es vitres son vis age
si llu min a de ce s vieu x arbr es o moui

[.. . ]
Et je tai vue te rompre et jou ir dêtre morte ô plu s bell e
que la f udre quand ell e tache les vitres blanches de ton sang.

1 3 Yves Bonney, Du mouent et  l'imbili  Doue (Mercure  Fnce, Pas, 1953)


2
 no entanto enquanto gestava-se e vina à luz toda essa inigualável
erup ço das ma is gra ves metáfr as do pensamento  da um il dade do at o de
pensar as f ragili dades co nst itu tivas do ser  sua i mpl acável v ia dolorosa  en 
quanto eclodia u m dos mais altos e pungentes momentos da pr ovada lírica eu
ropéi a eodor Adorno andara se pergun tando com o ser ia pos sível fze r po
esias depois de Ausc witz. . . u eultav a e ria a bandeir as despr egadas! Ria e
relia em voz alta toda aquela obra-prima até que outra vez sombrio de tei
moso retornav a a Berdi aff e a ieregaard  . . udo no e nt anto mu dara de
vez! Do russo de gênio ficar-me-iam belas e férteis dúvidas; do torturado di
namarquês uma só pergunta insistente e to cabal quanto instrutiva a que
coisa moritura a que aspecto por mais etreo ou mais corriqueiro do sen
sível o concei to no vo ltara as co stas? ra-me im possív el no se cund ar o la
mento de Bonnefy ante a aporia em que ardera o mestre de Copenague
porque
era mesmo apesar de mina
verdade "Il instante
  dnsdevoço
l'hommeàquele grande 
conceptuel espírito
ponddevocional
erava meu mis
sivista  "u n délissement un e postsie sns in d e ce qu i est  Ce t bndon est
ennui noisse désespoir Que l'on pense che Kierkerd  jillissements
de l joie l moins prue l plus pure . . . Instnts boulersnts dns ce tte oeu
vre couleur de cendre . . . de tel les joies sont un e percée que l'esprit  i te vers le
diicile éel. Si jmis coeu ut privé des biens terestres et sépré de l 'objet sen
sible p un détour inini c 'est bien celui trs ie de Kierkd qui vi t
qu'il n'obtenit que l'essence et restit enclos dns le énérl Il combttit le
systme. Mis le systme es t l tlité du concept  seul bie n qu 'il it con n .. 
No bastasse a perplea ecitaço que tudo isto me causava eu empa
caria lo go adiante num a das m ais be las e perturb adoras  rases do mesm o i
eregaard segundo a qual a au sênc ia do olar na estatuária el ênic a seria um
sinal de que a Grécia no  avia compr eendido o instante . . . O i nstante! O que
ele banava de lágr im as por no sabê -l o abit ar ou n unc a o bas ta nt e para fa
zer mais que suspeitar uma elicidade que le escapava entre as mos esi
tant es e os neurôn ios in cansáveis . . . ss e dom precio so e br eve i naferrável o
instante mortal morituro majestoso em sua fugacidade nossa madrasta me
elêni ca o teria desdenado! Aos de zoito anos  e e m pleno redemoin o men
tal que podia eu deduzir de to desconcertante intuiço? Que m algrado a in
sistência de Aristóteles em favor da substância a arte grega era finalmente
uma ipno se frmal um sono? Qua se três lus tros mai s tarde e u iria mai s lon
ge ainda e a um tal etremo que viria a dize dela que ea o sono de um
sono  ndymion adormec ido ao luar  à luz f ria e lunar da Id ia . Reproduzo em
seguida em precária traduço corrida dois ecertos de um teto meu dado a
29
público na Inglaterra trinta anos atrás poque em sua essência e em que
pese c erto odor de juvení lia , até certo ponto ainda me parecem pertinentes à
presente verificação das srcens e remotas razões desta obra.
"Não há por que nos opormos à noção de que a thin o beauty is a j
orer, mas a que preço essa i mob ili dade do perecí vel , do fugaz no int empo
ral? Que não se ja nunca ao alto cus to de um esqueci mento  de uma neg açã
hipostática da nobreza do que morre porque quando assim o concebemos
nos encontamos uma vez mais anestesiads pela déia pemitimonos um
ilusório alheamento daquela ansiedade cental à condição humana pomos a
morte em epochê .  . Quando W inc kelmann  asci na ninguém menos que  oe
the com e sse ponto-em-repou so cm esse teminal de toda busca e ansieda
de que seria o Belo, a Perfição, o sono da forma aboute, cabe ao M efistófe 
les do instável, ao "espírito que ri dentro do Mestre reanimar a tentação d
temporal e termi nar de acodar o lúc ido mas hesita nte via jor, pa a a imanên
cia do abismo e a iminência da noite e tenho mesmo que assim i como o
sábio de W eim ar reto nou da s Duas i cíias  cm a in tuiçã  tav ez a mais cu
cia das tantas que trari a de sua v iagem à I táia.  [ .  . ]
"E in si st o em que sei a em vão que c hi e r  fria arastase en tre sua
ancestral Waldbildun e suas recémdescobetas gec-itáicas alaises 
marbre entre o culto um tanto beato, mas tão atavicamete gemânico da
Natur, e a quase idolatria do que então aida se chamava gave e espeitosa

mente de
grande írito viaatéemquando
espKunst, tudo "opusesse o ponto
Esp írito  efinal
leia-ao
se Pimeiro Fausto aquee
 Panpolo-Orf u . . . P
que em oethe como de um certo modo em Keats e cetamente em Wic
kelmann um pagaismo de convicção os evava inevitavemente sempre de
enconto  ou outra vez de vo lta  a um panteí smo da vis ão pea e xpeiê
cia. Mas s e em Keats a viagem circuar supunha a tantalização d e uma v erti
gem portanto um risco em oethe ela tendia a um embalo tanto do s seti
dos qua nto do i ntelect o. Recorde- se a solenidade da resolução que se fi zera 
pretenso Herr Moller Eu me ocuparei só das coisas que tenham permanê
cia , como as esátuas gre gas .. . Não, oethe por muito que eu o estime ai
da, e por mais qe o t enha ven erado não se afinaia ao espír ito  menos ain
da à letra desta minha leitura da agonia luminosa do espíito em busca de
ma ranscen dêci a, de uma promessa uma vez por t odas f eita. Dessa p os
sessão pela perda suas hesitações ante a pungência de Hoelderlin en disent

14 Bruno Tolentino The 1972 Newman Memorial Lecture  lly of Redemption The
Catholic Chaplaincy University of Bristol 1972).
0
lon a morte lhe era pouco cara sua mehr Licht um imposs ível meio-di a bot
ticelliano ou pior ainda uma impassível claridade lla Uccello. Creiam-me
poi s o jovem Keat s lhou em seu Enymion porque lhe escapou entre tantos
versos peritos que essa beleza essa alegria-para-sempre é uma coisa que
morre e essa luz moritura esse esplendor que se descolora se eva pora se con 
tami na e se per de é antes e depois de tudo uma substância e não uma idéia .
31
III   A LU Z P E N SADA
À LUZ ON E I TUA L

A ESE ONO EJO- ME EM S DE EN  uma e plicação  há tempos persu


adido por mais u m dos meus grandes de lá de que "a ms   s o commo
o pla, temo ai nda ass im que não lo gre elu ciar muito  mas as va
des ena ves e passemos a esta . e continua m a par ecer-me pertine ntes aque
las re fleões de há ma is de um quarto de s écuo será porque ainda ho je su s
tenho qu e o que chamo de "luz pens ada   numa tela ou num poema  per 
tence toda a o tempo é aquela dolorida e doce emanação do temporal que se
volatiliza. "edoo a la charà le cose oscure/  svarse  duqu  veura
delle veure, ousa af irmar Montale   e aquele seu gir assol "enlou quecid o de
luz se ag o tem de neoclás sic o é sobretudo paradi gmático de um mundo in 
certo de s i por incapaz de dormi tar sob um sol que vê de clinar a cad a instan
te. Confrontad a a esse ocaso con tnuo à anun ciação da noite e às ev idên cias

da desaparição
o melhor d e Hedageldecrepitude da ante
não se apa vora tumba à vida
a mor do sesprito
te  ma é antes (aaquela
qual vida
segundo
que
a sustenta e nea se mantém resta apenas uma de duas esco has .
 primeira é aceitar como um bem a condição mortal e tratar de inseri
la numa visão do f im último e supremo da e xistência ade rindo àquela dimen
são espiritual àquela zo que a lngua grega sobrepunha à bos, à vida mera
mente biológica. "B os has o be sure a cera sha d resemblace  o Zo: bu
onl he sor o resemblece here s beee a phoograph ad ts model or a
sae a a  a m ho chnged m havg Bos o hvng Zo old

1  Cf Geoe Hil l Collected oems 1921983,  74 (ing Penguin Londes 198
1 6 Na sex ta líia de seus Oss d  sepa ( 192 1-2, em utte  oese,  3 ( Mondad oi Rom a
1977

33
have ge hrugh as bg a chage as a saue whch we om beg a caed
soe o b eg a real ma  E importaria obsear qe nesta perspectiva re
pensa r à z deste mnd o as catego rias do ea e os f ndamentos do ser si g
nifica sb traíos seja aos ps icoogismos qe ameaç am a in tegridade a pre
za do inst ant e seja à perspect iva natraista daqea desa sec arizada qe
asci na o homem moderno a H is tória Is to ito  ibert a daqe a obsessã o do
temp o enfermo qe taz em se boj o a divisão e o ma  a vida do espírito de 
paa-s e a ma i bedade fndada na aceit ação da f in it de a ma z agora su
spece mors; e sob essa nova z pensada dispensa toda hipotética possessão
de si e do m nd o e in sere-os no g rande drama cósmi co este termo g ardan
do do grego cássico o específico significado de ago ordenado o regido por
ma or dem.
 segnda via é a dúvida qe nega a mbriagez na z conceita
qe a mesést
va de empr maimo
qea V aér ogo
Píndaro vaeàdizer
en trada desonho
àqee se c emi tério
de m corscante
sono  toma
qe pôs m
negrme ma fha imóve no diamante extasiado da arte grega enqanto
pedagogia e apoogia do beo como eixir do aheamento por certo a mais
abstrsa "aternativa  às fr agiidades da condição morta . . . ª  essa z à z
desse eqí voco o rglhoso como as s entenças do conc eito nessa escolh a dis 
pensa -se aq ea nobre iberdade e pro põe-se otra em se gar ma espé
ci e de e stoi cism o epic riz ado qe à fr ça de amptar ao ser e à vida qa
qer dimensão transcendente nega toda metafísica abstratiza o mndo e
"refaz o rea segndo a I déia  separando-os i  soriament e da mor te e encer
ando-os na mad ição do tempo irredimido  persp ectiva daninha qe esse
tipo de apostasia chama de His tóia ef etiv amente  não passa de ma madi
ção é aqee sortiégio qe hipnotizando a vida do espírito ofscando a
morte e negando a nobreza do qe more encerra-se nas masmorras da
Idéia fazendo de m amontoado cada vez menos cateoso de abstrações
"m pro paácio ar itmético. 

1 7 C S Le wis, Bond peolity p. 1 1 4 (The Centenary Press, Lon res, 1 944) Este ensaio
capital o mestre-apologita acaa e ser pulicao no Brasil como Parte IV e Mero
Cristianismo traução e preácio e Henrique Ee, p. 1 59 (Quarante, S. Paulo, 1 997 )
1 8  Veja-se, neta ora (Livo Seguno), soretuo a artir a uo cima estro e, a minha ten
tativa e versão vernácua a ora-prima e Val, seguia e meu ost-scriptm a ma
tradção. Mas recomeno, para melhor compreenão ee rama, as einitivas páginas e
Bonney sore o raical equívoco o grane meriional ("Paul Valry", in Lettres Noelles,
Paris, julho, 965)
19. Bruno Tolentino, As hors  Katrina, p. 1 5 5 (Companh ia as Letras , S Paulo , 1 994).

Ou seja , e aq ui está a mai s trág ic a, tavez a úni ca verdadeira apostasi a do
espírito  a quea segunda e ativa esc oha , ao recu sar-se à f in itu de, desvia o rgu
hosamente o ohar do rea para construir-se uma armadura de noções axiomá
ticas, uma muraha de conceitos, um sistema que expica o irrelevante, "rez
o mund o e dee bane , pour un temps, de um só gope de mão a morte e . . . a vida.
a arte do Ocidente, o primeiro, talvez, a iustrar esse caabouço que nem
mes o eone berti se propôs pov oar só de som bras e núm eros ( para ele ta 
vez se tra tasse ain da de uma exacerbação das sobras medievais do idea p atô
nico fi P aoo Ucceo, o pintor por exceência de um maef ício. Esse incon
testá ve mes tre permanece para mim u m dos m ais impenetrá veis enigmas da
vida do espír ito  visto que m uito be m percebeu o v aor demo níaco do aspecto ,
compr az-se ainda as sim e m exemplificá-o mag istramente em teas de u ma in
concebí vel imobiida de, sem tempo, sem vento, sem nada. Por ele, e majes to
samente semu dúvida,
inaugur a-se m atahoo entre
grande sonho daearte
o patônico clássica,no repouso
o dantesco a mais esnocura
"Belo,
selva das
iusórias construções da mente. E, com tudo isso, o idea essenciamente he
êni co de uma ata raxia, se não de uma pthe, reto ma em peno sécu o X o
renti no sua jornada extástica a cam inho da frma pe rfeit a, através de um p e
sadeo a desembo car, e m todo caso, numa hipostática ideaizaçã o do ser num
mundo de marionetes sem sombra, tudo tão f ntasmal quanto impe cável . Por
ee constata-se, inescapavemente desde então, o que já se sabia sem saber
havê-o esquecido quase que há um mund o do asp ecto enquanto aspecto, da
imagem f ugaz, ond e o real se dis sove e o sonho deita raí zes , o parente sco , o u,
meho r dito " conn ivence de ce t spect immédit presque spect l de l chose
et de son essence mthémtique de son épure utre spectre.º
Em suma assim como na grave observação de Bonnef a propósito de
seu arqui-iustre predecessor na Cátedra de Poesia do Coge de rance ("l
seule mlédiction en ce mond est d y être réduit u jeu . . . ), assim a pior au
cinação do espírito criador é ess e pretenso repouso da f rma na uz con ceitua .
ob a qua não há ugar para aquea "morte meditt do grande canto unga
rettiano, a humana condição con rontada a uma luz que se perde, as que o
ser repen sa ao fi o e à medi da que vê esm orecer o espe ndor do ef ême ro. Era
essa claridade em ag oni a que "i lu mi nava e ime nso aquele ex emp ar uomo di
pen, o autor do Sentimento del tempo de . Ora, o que chamo de luz
20 Yves Bonneymble et autr  p173
21 Cf nota númeo 1
22. Cf Ungaretti à luz pen (Lvro Seg undo)
5
conc eitua  é seu ex ato oposto, ou , quando mui to, um seu si mulacro b elo, es
plên dido , sim, mas i nc apaz de acordar para a majes tade da noite, da pedra, da
tum ba, o esp írito medu sado ante a cav eira articulada e "imortal do conceito
Imortalidade provisória, mas suficiente enquanto dure, "elle se pred comm
u opum, ironiz ava Bonne  deixan do clar o com a escolha dessa ima
gem a naturez a sobretudo moral da crí tica que dali e m diante , e de modo in
sistente a partir de sua igualmente decisiva Ialasche Rese ao início dos
anos , ele iria opor a o conce ito . Jean  tarobins , em se u ensaiopref ácio à
primeira reunião da obra poética do maior vate racês do pósguerra, soube
ver precism ent e naque le apai xonad o par prs  este , s im , realmente em f 
vor "des c hoses  ao mesmo tempo o ponto de pa rtida do pensamento de um
mestre ímpar, e a pedradetoque da pessoalíssima visão de mais um imenso
poetapens ador na es teira baudelairiana dos maiores dentre os raro s dessa es
pécie. Vale
sensível a pena,
inerme antepois, em nome do
a maquinária da
par ps deste transcrever
cosa meale, livro em fvoraquidaaquela
coisa
mesma passagem de seu ensaio capital sobre os túmulos de Ravena, em que
toda uma geração, de Paris aos trópicos, pudera ler, assombrada como quem
acorda de um sonho mau  "O sa  depus Hegel quelle es la orce de sommel
quelle es l'sua o d 'u ssm e cosae au là de la pesée cohérete
que le modre cocep es l'arsa d'ue ute Ou l'déalsme es vaqueur
e oue pesée qu s'orgase. Me vau reare le mo  esl d obscuré

me que cr


u d'u d' vvre
d l'ébouleme d'ueYperre
das le dager al um
scocep d'u pas ve
les bussalles? das la
De l'mpress
o q ue a  ue mas o vde? Mas  o re a été gardé du réel que ce qu co
vet à otre repos
Repo uso à rça da mai s torpe neg ação, ito todo de desrespeito ao s er, de
horror à precariedade da condiçã o mortal, de repuls a vã à coisa que esia à luz
moritura, o sis tema, inteiramente composto d e concei tos como um castelo d e car
tas marcadas, se depressa achou espaço entre as decantaas angústias da "page
, não poderia tão cilmente encontrar lugar na arte eminentemente
"material da pintura, e de modo algum sem que antes o intelecto a sujeitasse a
uma amputação gradual de toda dimensão metafísica. E no entanto, muito an
tes que se cogitas se de "d esconstrui r o real para plan ta um abismo pura mente
mental entre a li nguagem com que se vive e morre e a arte milenar das palavras,
já se havia provdenciado uma trilha segura para os carros alegóricos da abstra

23. Yves Bonney Les tombea  aenne: notes dun age (in Lettres Nouelles, Paris,
aio de 1 9  3).
6
ção no espaço de uma tela ... Porque i o que fez o que acabou por zer o hu
manismo da Alt a Renascença esse neoplatonismo descar rilhado ou às avessas
em todo caso em vias de tornar-se olência intelectual contra a substância o
mundo o ser em seu casulo de carne. Risível em sua pretensão ainda quando
ocasionalmente elegante na tura de seu discurso uma arte toda de teses axi
omas ou afirmações arbitrárias desativaria as tensões os extremos os limites
mesmos do real e da cri atura  e m nome de uma u nidade sonhada como uma es 
peciosa sinestésica simetria imanente mas dependente de um aglomerado
préo de suposições muito ao gosto da pedagogia helênica. esses inóspitos e
celebrados cumes sem limite sem moldura e sem passepaut, em que se en
castela e se pav oneia desde então o pensamento dominante no O cident e o es
pírito de conceit o há tempos rmula seus ícones a partir d e seus tabus. Abolida
a autonomia da são acuado e quantificado o visível num empobrecimento
nada
da pitagórico
intuiçã o visiode seusnúmeros
nária abol ida ea logo minimizado
ntuto o papel
ntellectuals  até
dá-sentão
e a sucrucial
bstitu ição
do real pela medida ora uma arte destituída de toda dimensão transcendente
acaba por prescindir também das categorias do sensível daqueles "valores tác
teis tão caros a um Berenson quanto a u m Vasari quatro séculos ante s al arte
não esconderia apenas um natural horror à morte mas à própria natureza.
A qual de resto cedo iria sofer um gradual deslocamento que a fria
passar da condição de locus, ou espelho do mistério para a de mero reflexo
deste já então concebido como um mistério meramente numérico ou em
todo caso enu meráv el . A partir daí despida de qualquer autonom ia met afísi
ca a natur eza  nã o obstante ser cria tura antes de ser matéria  iria ser vir
cada vez mais de an cila à Dama I déi a a princ ípio na condi ção de serv a pri vi
legiada ainda mas apenas na medida em que não obstrua a execução dos de
cretos e a niti dez dos comandos em determinado jogo menta  Com o tempo 
à orça de hábitos bem menos monacais que inquisitoriais próprios à acra
Orde m do Conc eito  a nova criatura  uma naturez a furtada a toda visão em
nome do "visível logo visivelmente desnaturada  passaria sem delongas
por uma rápida redução de sua complexidade a qual dela excluídas as fun
ções simbólicas resultaria numa simples acumulação empilhatória de seus
dados mais brutos. A cr ônica desse pro cesso é conhecida  de um la do n as ar
tes da palavra ir-se-ia proceder antes de tudo à elaboração de um discurso
intelectual de máxima subjetividade uma insistente apologia do belo pelo
elíptico  o "imag ismo à la Am- Pound não i out ra coisa  tudo tanto
mais exí guo e red utivo quanto mai s sofistic ado  E ass im me smo o havia de ser
a partir dos estimados escombros do Smbolsme, certa bulação de cunho
7
ind isfar çavelment e oní rico, mas que se quer naturalista  das imediatas se
qüelas lúdicas do Finnegn W ao ludismo rigorista do nouveu rmn
Ou , mais abai xo ainda , já ao s últim os deg raus do porã o da M edus a, certo fe s
tival de obliqüidades que, em memorável ato falho, intitularia el ql mais
uma versão do que deveria ser, e ago ra sim tal qual, o mun do-como-tal segun
do a Dama Idéia . . .
Isto tudo n o territóri o cont íguo ao Conce ito, o do idioma enquanto arte d a
escrit a  ou ser ia écture o mesmo tempo, nas artes do visível a pertinência
mesma de uma qualquer noção de Natureza, maiusculizada ou não, passaria a
inrmar uma equação in finitamente m ais ele mentar. O ivro Ú ltim o desta obra
ocupa-se um tanto sucintamente dos primórios desse processo apenas, mas o
cam inho não i longo de abstração em abstração, chegar -se- ia àquelas "in stala
ções em que a arte se conndiria um tanto ingenuamente ao real, e ambos se
deduziriam
últi de umto,copassa
mo, o concei nce ito. De anotar
assi amparq ue, segundo
ar-se tal equaç
mais que nunca ão,
de umaaté mesmo este
ausência,
qual seja, a de qualquer intimação da morte enquanto guardiã da finitude e de
suas transfiguraçõe s, quando men os o sse , a secular transmutação do g az no
elegíaco , dos limit es do real no g emid o triunl da ob ra de arte .  . Em vez do quê,
a morte, abolida enquanto presença e domestic ada, banaliza da enquanto noção,
segundo essa alquimia de cegos nus verseia relegada pela mão da Idéia ao
pano-de-ndo das tragicomédias da mente já então a Velha da Foice seria ad
mit ida apena s em sua capaci dade de "pol ícia política d e uma nova e inesperad a
ditadura  a do infr me travestido, e olhe lá  , de mera inrmalidade "r ealista. Pe
culiar realismo esse, totalmente dependente de um naturalismo do dejeto, tido
por dado bruto irredutível a qualquer expressão que não a de si mesmo. Curiosa
coloc ação, quatro sécul os depois de chegar se quase a v er eclodir na a rte do Oci 
dente um primeir o natur alismo da visão, caso exemplar do achado cedo per dido.
Vale repass ar os olhos por aquele breve instante .
 meados do Quatrocentos, com a introdução, ou recuperação, da arte
da perspec tiva, c ome çavam a afrontarse , de um lado o espaço a represent a
ção planimétrica , o qual tendia natur almente ao intempor al, e, do outr o, uma
certa noção do tempo, o tempo como dejeto da História. João Cabral de Melo
Neto observ a que "o Renasc iment o associou esses dois tipos de art e, de fun
ções . . . a repr esentação u tilitária, ou util idad e da repr esentação, à utilidade da
contemplação.  Infelizmente, aquele primeiro momento pouco dei xaria de si
além de alguns vestígios de um realismo incipiente, ou pouco mais, segundo

24. Joan Miró in Ob com pta,  69 1  (ova uiar, Rio de Ja neiro, 1 99 5)

iuio Cao ga do que "os ostos e os gestos quaque coisa de uma
maca al go mai s doo osa e mais humaa  o sia de uma i tensa c oceta
ção [ . . ] acetuações um olha p eeta te ceta m ão estedida um lev íssi
mo e qu ase impe ceptí ve f êmi to da uz bac a ao cota cto dos copos    
esa-se o go em moe M atii o Cimabue em Ducio da uo isega
ete os tatos signes vntc oureurs do tto de ss is e de á dua  e é- se
atuamete l evado a deduzi qu e a pat de ceto ponto o tempo toado vi
síve ão tiha como  ão cooca  e pegosamete  a questão d e como
admiti-lo no espaço do ato pic tóico Não se e voca sem magif icá- lo aquio de
que se dissea que ea peciso um deus paa que cessasse " ... desrmis le
temps est visile e t le prlme se p ose d 'y consenti r• Clao haveia que espe
a peo M asaccio do Camo paa qu e esse ovo "dado  se toasse mais que
um meo ei quecime to visua que aceasse com o sigo toado peseça
mas a so te
fi tavez f oa puo
o mais aç ada a pati
istate que daquee mome ato
haa checdo ateete as tes ões
do Ocidete pedo que
uciase a ecosão de u m cofito ou como o pef ee o e fo de um a "he
sitação f loet a pesete  susteta o poeta em mais de uma págia me
moável  em todas as a tes de to das as é pocas. Essec iame te tat aseia
de uma duaidade iescapáve o cofoto ete o monumeta e o psicoló
gico ete de um ado o que adi o desce ve aos fis do sé cuo  como
"l ve propoione l qu le i greci ch imno simetri  ou seja  a itução
do se  peo úmeo  e douta pate "l'eetto d'nimo, o desveamento de
um ivisíve atavés de expessões psíquicas
Obviedade históica covém ecoda que sobe este útimo poto a
coto vésa te m sdo ai mada a o og o de cic o sécuo s Com eeito ata vés
de múltipos exempos fmoso s o i dubi táve faz cícu o compet o a e tua
feita po   ombich de cetos es citos de Da Vic i como es pecia met e eve
atóio s a esse espeito  em iúm eos de seus bihat es e detahados estudos
do peíodo otavemete em Te Imge nd t he Eye , o olho cí tico daq uee
agudo eito dos idiomas da ma excee a demonstação de que a medida
ideal de um asta meto da c aidade pic togáfica a di eção de um po as
sim dize  "e stio geg o de ev ocação damática oi ass uto de ampo debate
ete os gades e os me os g ades da pimeia Reasce nça  abe-se que á
desde a tecei a década do Quttrcento itaiao be ti i sistia a e cessida-

25   ra, F Angelico,  39 (etriei, ma, 955).


26 Y Bey,  ci t, 72  
27. Phad, Ldres 198 2  . 88 
9
de de conte nço nes se sent do sto como nos dz f na e te xtualmente  que
gre co lle bc a  ar a ao pesa a de dela   Pudentemente c
frada a also apenas tês décadas mas tade sea lda po laee como
neq oca ef eênc a "agl posol del Doa el lo gescola do co me de goco
ler E tem-se m gosto anda mas do do acaloado daquela polêmca
nos textos do pópo eonado qe castga os especalstas do etatsmo
qalfcando-os de meos "por d accaº Noto que o oete do duelsta
aqu almos  bl, fz-se sen t logo em seg uda a uma nada d sceta apolog a
do tema aoto desse pmeo gande pnto-flósoo ou no entende de
ombch "he eed or versal   a ars specall he  mporace o ob
seg he presso o meal saes _
Del cada q es to ess a a de u ma expessdade pc óca que pela g av
dade me sma do s je to logas se c cnoltea os perg os de  m meo ex pesso 
nsmo "pscológco;
xdade a qual
quando  aletado pos Bonne
ó me a apa ece
 aten teem
na toda sua ns
eputada esetga
de nteBaxandall
comple
sobe pnta e expementaço no séclo  talano sobetudo quando o
auto esm ç a já no se que semo f amoso sobe a seqüênc a de emoções
expessas n o epsódo da Anuncaço. Eppr   . Anda assm no há como ne
ga que a pntua floentna que se oltaa ousadamente paa o svel com
Albet e o Masacco a logo em seguda da de enconto a um novo ns
el  o das pa xões da alma o do mundo menta l "Reco à la os le lm
e de l 'rréel e le dager d' pressosme [   ] le pschologsme ore c 'es
le coseeme beô maérse à e ome spécese de coassace o
e mre qe le ore• Apesso-me em obsea que esta últma e um
tant o amb gua e xpesso  o "no-se nad a dee à noço do mesmo nome que
coloe a metaf sc a de René  uénon e  no me u ve compomet e-lhe os mas
lúcdos momentos• Bonne ceo bem efee-se apenas à nvaldez mpl
c ta em toda alego a subst tut a à quela "mvase présece que ncansavel-

28 Leone Battsta Albert D Pictu circa 1430 seção 44 Vejase a mas competa e repu
tada edção a cura de Cecl Grayson Londres 1972.
29 Frete Ttt ulla Arquitttu circa 1460 Aconselho a edção angloamercana até
hoje a de melhor etura J R Spencer New Haven & Londres 1965.
30. Leonrdo d nc Tratatt lla Pittu Codex Urbnas La tnu s 1 270 edção de A. 
Mc Mahon Londres  s/d)
3 1  EGo brch   cit  98 f
32 Y.Bonney  cit  82-83.
33 . Penso em seu desaf dor Ls état multipl  lêtr, Edtons Véga Pars  s/d
40
mete deucia fete à essêcia do mistéio humao seu istate e sua
agoia.  de úcia dessa patic ular modalida de da abstraçã o sob as e spécies
do psicolog ism o quato cetesc o sug e-os hoje com um certo tom de vati
cíio a ortiori, é ceto mas em po isso efee-se meos a algo de assusta
doamete "modeo a admiti que tal perspectiva loge ser mais que uma
suposição de natueza meramete coológica.
1
V     M B A DA ANE
&  DAMA DA RAZÃ

ÃO OR CSO, SOBR S fZS e ramificações dessa questão lembrame


um instigante petit nd ouve que tive a boa dita de receber muito cedo
das mãos de Pierr e ourt hion tão cedo na manhã da mente que se u título in
sistentemente foge-me agora nele André rabar tangenciava a influência do
pensamento
tantas de ltino
vezes busca na arte do primeiro
do reencontrado e outra cristianismo.
vez perdido Daquele
ao ritmo livrinho
das m inha s
infindáveis contradanças de cigao retive sobretudo certa diagnose a análi
se do que raba r intit ulava se bem me lembr a "érement vers l'intemporel,
ao refletir sobre o gnosticismo latente nos nebulosos primórdios do pensa
mento cristão. Cedo confrontado valentemente pela lucidez de anto rineu
de on (c . 1 30-c .200 AD) em se u Adversus Hereses  um dos mais notáveis
pilares no esf rço p atrsti co  esse problema  ao que par ece inamoví vel  viria
nesta obra a dar título ao ivro Primeiro em função do poema que lhe see
de conclusão e no qual evoco minhas frtes impressões à descoberta daquela
lição tão cor ajosa q uanto desco ncertante do emi ente Douto da Igr eja .
alvez não coube sse alongar um mero pref ácio com a eumação de um
mienar debate que  no me u ver oi de um a vez po r todas posto a nu em toda
sua cancerosa ossatura por Eric V oegel in  at es mesmo que se p uses se a re
digir sua monumental Order nd Histo Vale obsear ainda assim que
desde o iní cio do O itoce tos o já etão visí vel tumor havia sido detectado e
lancetado  na Alemanha lu terana por Johann ug ust Neander co m seu
Getische E nicklun der vohmsten nostisc Syste, de 1 8 1 8 e no além 
Reno com a magistral Histoir e c ritique du Gnosticisme et de so n inuence sur

34. Lousana State Universty Press , Baton ouge,  956  7


les sectes reliieuses et philosophiques, o clássico que Jacques Matter publica
ria em Paris de  a  Mal se fiz era notar este último sobretu do por
esboçar a primeira grande sntese capitular do Iluminismo setecentesco
quando ato contnuo a renitente patolo gia do antiqü ssimo drama mere cia
a meados da década seguinte as atenções de um terceiro mestre-cirurgião
Ferdinand C hristi an Baur E tal seria o impacto de seu Die ch ristli che Gnosis
oder Reliionphilosophie in ihrer eschichtlichen Entwicklun, publicado em
, que mu ito rapidamente surgi ria uma tradução inglesa da totalidade da
quele longo e ag udssim o estudo  n o curso do qual o autor disc ute a teoso
fia de Bhme a filosofia da natureza em chelling a doutrina da fé em
chleiermacher e last but not least, a filosofia da religião em Hegel s cres
cente s especulações do Idealismo lemão eram ass im de bonne heure, cor
reta e exaustivamente colocadas no contexto do movimento gnóstico desde a
ntigüidade
Nem é outro o lastro intelectual em que aspira basear-se este livro mas não
é tudo  àquela trade de inamov veis marcos ini ciais i riam somarse já neste sé
clo Prothus: Apoalse der deutscn Seele que Hans Urs von Balthasar
publ icaria às vésperas do cordo de M unique assim c omo uma ampla recapi
tulaço da cronologia desse interminável drama proposta duas décadas depois
por Hans Jonas em  Gnostic Reliion• os quais vriam acrescentar-se na
terra devastada de Voltaire e sob o nariz dos artres Ponts  Cia o Dra 
luis ath, de Henri de ubac e eminentemente L rolté, de l
bert Ca mus ambos sina is de que algo restara de honesto a o pensamento naque
le imediato (e ne urotizado pós-gue rra à beira-e na  análise atenta de qualquer
um desses tantos mes tres deve ria bastar e se os evoco aqui é que o subs trato e
espero o sustento deste livro pedra-de-toque em toda minha obra devem tudo
à resist ênc ia qu e essas e outras lei turas con vergentes rerçaram em meu espr i
to ente à oção de u m mu ndo renasc ido dos pa rtos espúr ios da Idé ia do sist e
ma essa invenção eminentemente gnóstica entre a mirde de auto-engods e
ilus ion ism os mess iân ico s que pontuaram o autodesl umbrado século I• Mun -
3 Aci Goicim ad Mod Philoophy of ligio (John Murray onres 1846)
36 Berim 1937
37 Boson 1958
38 As obras acima ciaas naa êm e eemenares mas são eitura inispensáve a quaquer
exame sério o ópico em quesão A um evenua eior mais exgente ço notar que isto uma
bibiograa ago mais exensa como suseno e meu ensaio No lra  limiar  culo X
io no Recife aos 22 e abri e 1 997 como Aula Mag  Smirio P d Tlogia
a Funação Joaquim Nabuco como a encontra-se isponíve nos anais aquea insiuição
44
do esse possuído senão mesmo concebido no mau gosto da blasfêmia por aque
la notória belle d  merci que sed uzira o jovem Keats e iria suca r em sono
esplêndido seu imaturo Endion• É em vista disso tudo que o psic oloismo 
como desponta na pintura quatrocentista o mesmo que Baxandall buscava cir
cunvoltear e do qual se queixa Bonnef não me parece menos o rebento bas
tardo de toda essa velha questão de há mui to suspeito ne le outra engenhosa e
scinante distor ção no espelho-Calibã da Dama I déia
Mas até aqui venho abusando da paciência do leitor o istema a Idéia
a nose a "luz conce itua'' t udo se me f i saind o de mis turad a são horas de
que me tente ex plic ar com o máximo possí vel daquela nit idez didáti ca a que
fui sempr e pouco incl ina do. upondo no lei tor agudo um ce rto mlise, ço
lhe eco à indagação provável o que significa exatamente o moderno "gnosti
cism o contr a o qual quer ins urgir-se o pr ojeto me smo de ste l ivro? O mes mo
Voegelin preocupava-se
cert ezas fáce deprecisament
is  osse esta que por estese tempos de deduções
a per gunta imediatas eaq ue
qu e se colocariam
les par a quem o termo nu nca f ra mais que o apelido de alguma se ita religio
sa de remotas eras E, c om efit o co nvém não nos ap ressarmos aqui pois que
em se tratando dessa m ilenar questão toda prud ênci a é pouca Porque não é
de uma qu estão relig iosa  ne m de uma questão de doutrina e me nos aind a de
doutrina estética que se trata antes cumpre entender o gnosticismo como
um component e insepará vel da mente hum ana em se u estado sempre virtual
de peersidade antif ilosófica um e stado de r ebelião inerente ao es pírito dis 
satisito uma enf ermid ade do espí rito  doença da in just iça ou nosem tes
dikis, segundo Platã o  da qual pr ovêm cada v ez mais a cent uadamente
todas as metástases do orgulho da destruição e do caos. Gnosis, segundo o
mestre  apesar do termo grego original s ignificar "co nhec im ent o é hoje o que
em realidade sempre fi a revolta a sanha do arcanjo caído o furto tão inú
til quanto impos sível do fgo do Céu por um Prometeu en san dec id o ob a
roupagem il ustre de algumas da s m ais sof is ticadas con struções da ment e hu
mana não em seu amor ao saber (philosophi), mas em seu ódio a esse sa
ber (phobo-sophi), que a ultrapassa de fto e de tu em certas colocações
esconde-s e hoje como antes  sempre a mesm a e antiqüí ssima modalidade do
absurdo a absurda vontade do homem e nfermo de or gulho  a sede de u m "sa
ber que desminta ou melhor ainda substitua a divina sabedoria. É o sonho
louco de ua possessão-deste-mundo que abolisse a dependência da criatura

39 Cf nota númeo 1.


0 Gogias (80b)
5
ao C riador instit uindo o reino conhecedor (gnstico . . .  de Caim de Eva da
erpente numa palavra o paraíso do fruto arrebatado.
Porque se de um lado o objetivo de uma gnose puramente humana é a
"morte de De us  co mo ins isten temen te Voegei n o recorda de monstra e su
blinha ao longo de seu combativo magistério do outro o "lem que a pro
clama como o proverbial cientista louco de tantas alegorias modernas desde
o Barão Frankenstein de Mar helle não se contenta com ser o assassino
do C riador acaba por ser também o algoz da criatura de toda "criação que
não se ja o produto de um orgulhoso e autoatribuí do imanen tismo hipotéti co.
Invariavelm ent e como se tem visto ess e tipo de f ilóso tem como uto de seu
sistema a receita do assassinato coletivo o cirúrgico "saneamento revolucio
nário que inevitavelmente vai dos contínuos expurgos à soviética até certa
notr ia "soução f inal. Mas se Hi tler táin Musso lini Mao P ol-Pot Fidel

ou ainda
exemp losontem a sinistra
do gnóstico miudez
secular de de um tempos
nossos Misevic assim
restamnaoscasta
maissacerdo
notriostal que
lhes corr esponde  os Hih Pests e Hi erontes da moderna academia  de Kant 
Hegel Nietzsche Marx Engels Bakunin Comte ramsci e Heideer até
o atual séquito de tantos maes trote s  todos  ram são e quase sempr e sabem
ser a fina for carnívora da nose da mentira do dio e da destruição final
de tudo. Os maiores dentre os filósofs de nossa era desde a confusa aurora
oitocentesca (a mais sangrenta Morenrte que houvesse jamais conhecido a
huma nidade   tiveram sempre ra zão ao menos n um pont em qu e coi nc idem
todos  a "morte de Deus não pr oduz  advet d super hmem  é uma men
tira do ratustra alemã o o que ela produz c mo se vem ver ificando ao ong
deste no sso curto e en atuado sécul o é o sistemát ico e sintomáti co massacre
do homem pelo rato.
Ou tra vez não caberia aqui evocar mais que de passagem como esse pro
cesso se d eu e se dá na H is tória sobretudo no que resp eita à crônica do s ú
timos tempo s a análi se seri a longa demais e nos af starí amos indevidamente
da inten ção primeira destas já tantas pág in as. Baste pois com a noção de que
por nosis força é entender e já de lnga data um estado mental segundo 
qual a criatura abole toda ordenação do ser cuja srcem não esteja nele mes
mo não seja como cada vez menos egitimamete se diz em iosofia ima
nente . . . A transcendên cia src inal a divind ade das src ens csmica e huma
na como su ste ntação do ser e do mundo é para o gnstico psilu min ista um
anátem a de prime ira or dem . odo esf rço intelectual será despendido no sen
tido e near quaquer categoria do real e tod fundament o ser que não
contenham em si mesmos suas "pr prias e xplicações e just ificativ as. Gnosis
6
pode ter sido o nome de um movimento eigioso em sua incepção pois que
lhe incu mbia e ntão contestar a r evelação cr istã  mas desde e ntão por "gnose
cabe entender o sinuoso poduto de uma libido dominani absoluta e ano
mais rasteira quanto totalitária e reducionista.
De to ut temps o gnóstico só se entendeu e assum iu enquanto senhor ab
solut o de si me smo  úni co don o e ábitro de uma senhorilidad e inconte ste sobre
a totalidade do real. ogo nada tem de supreendente que para seu atual
Doppelner a tese da mote de Deus sea a gande novdade de um veho
moto a prometernos hoje mais do qu e nunca um ontem m elhor para que lhe
advenha o reino élhe de f to impescindí ve o triunf  daquea tese . . . E quais
quer que se jam as su as va riantes es tético filosóf icas  o fim de toda ordem que
tenha por base ontológica um a afirmativ a me tafísica da odenação trans cen 
den te do ser é ainda ho je o que tem sido há milê nios  o principal  sen ão o ún i
co eobjet
qu ivoque
"sou dess a imutável
existo poque ef especiosa
ui ciadofo coito
rma de "saber
ero sum .talv
Eez
pen
te so
nh eu quea se
a sido prii
meira fórmula da populaidade iminente do antigo gnosticismo finalmente
em vias de tansfmação de mero sistema de magias numa sofisticada auto
hipnose coletiv a daí em cul ua-de-mass as e mais adiante (por que não? em
mass murdr Como não aliás  se a ka ntiana "coisaem-si não tem realidade
fora de minha percepção del a?  e eu a percebo af ina l tão ínf im a por que nã o
aboli-la de todo e de vez?  Caim bel de ve te -lhe parecido a cois a-em-s i. . 
Pode se que tudo is to caus e espéci e aqui  à portada de u m livr o d e ver
sos como a seu tempo o causou em Voegelin seu inqualificado despezo por
auto es tidos e manti dos po vigas-mestras da f iosofia moderna Nes se cas o
que se medi te bem no que possa ser a simples amb ição de pensa  e escrev e
a partir do que se pensa e que daí se reflita em ago de ainda mais terrivel
mente simples que talvez sea o ato mesmo de pensar ogo a noção mesma
de arte ou filosofia a soe nas mãos desse tipo de "pensador'' a mais tota
das violências. E por quê? impesmente porque enquanto em sua célebre
descrição socrática entendese por philosophia uma particular modalidade a
mais alta delas da contemp lação amor osa da cor te feita àquela sabedoria que
a mortal algum é dado "ati ngir (al go ass im como a impossve l apropriação do
hoizonte pelo caminhante sua versão póshegeliana propõena como uma
substiuição do velho amor ao conhecimento por uma "gnose tout court, um
conhecimento total à espera de sua apropriação não mais pela criatura mas
por aqu ela sua caricatua que se autodeno mina "o homem. Nas ce del a e por
ea o espírito de sistema inevitável e necessáio bauarte à proposta de uma
visão totalitária uma gaiola sua impescindível e pefeitamente alcançável
47
porque j á en tão totalmente manufatur ada pelo modelto de mas recente f 
tura do mesm ssm o ancestral mas um a versão up to date do mesmo renten
te arcano mas u m Pmeteus edivivus   .
 partr da à so mbra dessa  nu sta e n eaurvel res surreçã o já não se
trata mas de uma abordagem estétca ou flosófca do real e do ser menos
anda de uma anál se desapa onada de seus termos  se jam os ma s c laro s
ou os mas ambguos. Muto pelo contrá ro dado que por análse entende-se ou
deve-se entender nada menos que uma contnua e sempre renovada terapa
da ordem porque como outra vez o obsea o mesmo ncansável Quote a
nvestr con tra tantos anões dsfa rçados em mon ho apenas quando a or dem
do ser apareça em sua totaldade como devendo sua orgem e sustentação à
transcendênca mplcta em toda legtma especulação ontológca só então
poderá qualquer análse ser empr eendda com alguma possbld ade de s ucesso
É este um
tempos porponto
que decomo
honranspara
stetodo analsta
já então comda eza dentelectual
a sngeldbâcle um ancho de Pnossos
ança
o mas frme e sutl paladno deles todos  só desse modo po dem opn ões
correntes sobre a ordem correta (sto é  natua e logo de dreto ser ea
mnadas em concordânca com a ordenação do ser suas categoras herárqu
cas partc pantes de um a letura precsa e just a do que se jam os fundamentos
a um tempo da nat urez a humana e do real Voegeln reco rdanos  outrossm
que por mas mudadas que sejam as crcunstâncas num a dada "stuaçã o hs
tórca nada mud a ou pode jama s mudar quanto à essên ca a nature za mes
ma da nd agação flosóf c a.
E co m eft o quem arg üra contra a evdênca de que  no cam po da n
qurção concetua ao menos cabe sempre a uma episteme, e a ela apenas
dar voz às questões perenes àquelas perguntas que todos contnuam a zer
e segurão fzendo? té mesmo no mpéro da   da m era opnão  o
sujeto do questonamento reflevo não tem como "mudar seu método será
anda e se mpre a análse em busc a da afrmação de uma episteme, obseava
o autor de De autorite Staat e Die politischen Reliionen, já desde sua es
tréa com aquele par de obras-prmas pa ralelas na Mun que mãe do g rotesco
Gttedmn que sepu ltava os anos 3 0 Com respeto a um dad o essen
cal no entan to precsamente tudo st o o mudando no Ocdente  de

4 1  Vejase nesse sentid o os sonetos 9798 em A Imitação  Música (Livro Útimo)


42. Em Wissscha Politik  Gosis o quase panfeto resumindo suas ições de cátedra,
que o mes tre fez pubicar pea Unive rsidade de M unique em 1 959.
43 Em 1936 e 1938, respectivamente
4
modo alarmante desde a Renascença que este livro interroga, e a um ritmo
sempre mais vertiginoso durante os dois últimos séculos• Impossvel não
perceber que vem desde então vicejando abertamente um elemento que as
sociedades d'antanho não conheceram, qual seja a proibição de todo questi
oname nto, a in terdição cabal de qualquer per gunta que ameace subvert er um
determinado estado de coisas, ou de idéias, um "sistema, essa novidade, re
pita-se, da velha  nose recauchu tada e reto cada o bastante par a caber em sua
nova e triunfl vers ão oitocent esca .
Da a querela desta obra, evidentemente menos contra aquilo que, em
benef cio da c onc isão de lin guaem pr ópria a o dizer poético, d en omi no ora "a
Idéia, ora, pro positadament e min usc ulizado, "o concei to, do que contra algo
de muito mais gr ave, por tanto mais com plic ado quanto mais sim plório, e em
todo cas o muito mai s elu sivo, s in uos o e refratário a qualquer anális e o "esp
rito de sistema , es sa abusiva criação hegeliana desde sua Phnomenoloie des
Geistes de 1 80 7. E ssa marca r egistrada de Hegel é e m tudo e p or tudo uma
invenção de tipo "mágico, o mesmo tipo de "sistema de magia que a partir
da ntigüidade e até o limiar de nossos tempos inormava a versão gnóstica
 eminentemente anticristã  de uma "sal vação pelo conheciment o. Des
de então, e decididament e na era m oder na pós-ilum inista, daqueles obscuros
ritos de iniciação esotérica fi-se passando a uma estranha e encantatória
Gestlt, a caricatura pretensamente filosófica de uma construção frmal de
molde, ambiçãoh,e tipologia
te imaginário. matemáticos,
mas precisamente ao fim e ao cabo algo
O mundo-como-idéia tem de
emtotalmen
nossos
dias, et pour cuse, os prestgios de uma "forma fechada, uma flsa autono
mia encampada há tempos por um cert o jarg ão filosóf ico-literár io    Constru
ção essa na qual só seus próprio s termos têm v alidad e, à s emelh ança de uma
frtaleza sonhada e cercada de nada por todos os lados. E já veremos de que
espec fico nada se cerca es se fabuloso frte . . 
Mas antes subl inhe- se o óbv io que ta lvez ainda não tenha ululado o bas

tante
e isoné adêtre,
contenção central
que só deste livro,
o contnuo senão mesmoexerccio
e desassombrado sua únicadojustificativa
drama da ra
zão pode livra r a men te e frtalece r o esprito ante as tent ações desse eq uvo
co sinis tro, desse hierátic o carcinoma opos to a to da análise como a qualquer
princ pio, já não se diga de uma terapia da or dem , mas da própria p ertinên cia
de uma orde m a cuidar. Por que aque le drama, honneur à lhomm, é o con-
44. Mais aguamente a partir o preterimento a uciez e Scheing em avor as sinuosas
ucubraões e H Dokto r Hege
49
ont  con tínuo dos paadoxo s do se e do ea pea u cid ez da hum idade  en
quanto o sistema é a mea e absuda tansfomação da azão em totem ante
o qua não se assiste ma is a uma simp es esistê ncia à anáise com o coiquei
o e inevitáve até mesmo na póis socática mas a uma sua caba poibição
de cunho ind isçavemente do máti co-eiioso . N o homem concei tua pós
heeiano  esse pai-de-todo s ao qua seui -se-ia toda uma p ocissão d e
fua-boos mata-piohos e mindinhos nietzschianos comteaos maistas
heideeianos sateanos et cte  costata-se na da me os que uma e
cus a de toda e qua que cont estação possív e foa do sist ema fica ass im ba
ada e ef etivamente poibida quaque discus são visto que na semâtic a sis
têmic a os temos de sua inu aem não têm como  ou mais sinea mete
não podem  se contestados  Paa toda nova Idade Média ta vestem-se as
nquisiç ões mas o p eão e sta o mesm o il est sse que Quintilien lit dit   
Exceente i déia aiás que fem os quintii anos d e pantã o Com u m só
exempo deveia basta e os há iúmeos em Voeein que vota e meia de
ivo a io tona a ex am ina a questã o e a ec uaa os mais c eebados po 
taonis tas da f asa g nóst ica modena  Mas em ee hesi tia em escohe u m
só que o pópio Hee nos ofece já desde a páina 19 de sua Phnomeno
logie des Geistes; onde penuciando as incontáveis éoas que nos vai taze
das poundezas o indômito meste-meuhado das áuas ecém-empoçadas
em seu q uin ta  há o o uma que muito nos escaece  po ea ficamos sabe
do que "De acodo com minha visão a qua teá que se justificd pens
tvés d pre sentção do p róprio sistem     O ifo é meu mas a péoa 
dee e o que cecava assim Herr Doktor de tão ic onsút i quanto impenetá
ve baeia?  noção no mín imo esp eci osa  de que "tudo depende de e xpes
sa a vedade como su jeito não menos que como substâia     ue deícia
excamaá quaque fino amado de poa s sem jaça antes d e pode a que
obviamente se o se é ao mesmo tempo "sujeito e "substâcia a vedade
ou o qu e ass im se decida c hama  fica coocada automaicamete ao acae
do
oopimei o daquees
infeizmente outod sobessato
ois temo spoque
do "suafia
je itoquem
   Oua deícia que
estabeece tavez
su mas
jeito e substância são uma só e a mesma coisa? Oa o pópio auto do siste
ma e ee só é cao O veneado Führer da modea diaética ao cocebe
seu Reich de mi an os- uz oo em seu pime io esb oço enconta a via de uma
finíss ima soução f ina  cuida bem de estabeece  priori que a vea cidade de

45 Na ição omeite amo 95



sua visão estará devidamente provada do momento em que "ele a possa jus
tificar "atr avés da apresentação do sist ema     em dim inu ir-lhe o mérito ou a
finura, até m esm o um ssolno cole cionador de pé rolas de plástic o há de ob
sear que, doravante, quem quer que seja capaz de construir-se um sistema
 qualquer sistema  terá co mprovado ipso fcto a veracidade de suas pr e
missas . . . Quintilien y compris.
Do oco desse ovo podre nasceriam sua própria Filosofia da Religião, a
versão da Hi stória de Mar x, o conto de Comte , o super-homem de  ietzsch e,
os devaneios de Heideer e os demais Beemoths  eviatãs da truculênc ia
conceitualista, a mter snuinos que ref inou e dis tri bui u dappetutto "o ópio
dos intelect uais no mais auto-i nflado século da Hi stória das Idéias . o long o
do qual tem-se vivido o reinado de uma ameaça ininterrupta ao primado do
drama da razão, da ordenação estética como da reflexão filosófica enquanto

suportes
belo livro,intelectuais do que ris
Te Sovereinty of Murdoch chamou,
Good• em aquelejá"amor
desdeaoo título
saberdeque
seuinfr
ma a verdadeira filosofia e confre sopro aos pulmões da arte, sem ele a o
berania do Bem contrastada ao espírito de sistema não passa de uma gazela
indefesa na selva escura das mais abstrusas construções da mente humana.
Ameaç a tanto mais eftiv a qua nto sub -repticiam ente iden tificada com o pres
tígio mi lenar da art e e da f ilosofia, mas e m realidade oposta ao exer cício mes 
mo do pensamento enquanto mediador dos paradoxos do ser neste mundo.
E reitase um instante uma ameaça à nitidez e à abertura da semântica moral
como medid a do conhec imen to  ou seja , da busca e da def esa do Bem 
é uma ameaça à própria humanidade. Essa sinistra receita o nosso Bruo do
Cosme Velho há mais de um século já a apelidara de "Humnits, enquanto
ainda ho je todos os celebr ante s e corif us da gnose mode rna, lá fra com o en
tre nós , cham am- n ale gremen te de "filosofia. Esqu ecidos de que den tro de
um sistema há tudo menos ar respirá vel, e que s em esse elem ento  a pró 
pria substânci a de riel, a via do espír ito em que se ampara qualquer opera
ção do pensamento  toda arte, toda mor al e to da liberdade poluem -s e, mur
cham, apequena m-s e, e a lógica mesma da verdade, se não pere ce , a partir de
um certo ponto apenas "p arece Mas que importa, se já agora, nestes límp i
dos e lúcidos tempos que v arreram até mesmo dos olhos m ais s ingelos todas
as apaições, já não é mais nem sequer de aparências, mas de "parecenças
que vive e prospera, nã o mai s a opera ção da mente ou a vida do espírito, mas
a "magia dos conceitos na hipnose sistêmica?

46 Chatto & Windus (Londres 1973)


51
 am abs  s i i Blick? gemera, logo aos primórdios
esse ongo e cstoso episódio, m oethe profético e com eito, para qe
os ohare s pro nd os, qand o é o ceg o n  no poro da górgona qem soznho
decde o q e s eja a realidade a caber no cas arão vazio? Ma s a este ponto ecoa
me, já não o a tor dos do is Fast os, o o jovem que sobrevivera ao sonho d o
se Endimon para msicalizar até mesmo ao rouinol, lembra-me a adver
tência implícita na inolvidável rase com que Rowan Williams concluiu sua
desde então eemplar meditação sobre os ancestrais perigos do gnosticismo.
É qe, ao termo de irretocável capítulo sobre o tema em seu magnífico T
  Kl aqele agdo espíri to c ristão sent enc iava T a
ss avi a s   s Certamente, há em toda especação
de cn ho deai st sombras bem mas ominosas do qe a sombra da ca rne, em
espec ial n o teatro de somb ras em que se vai conv ertendo a vida do espí rito no
Ocidente . . . Mas, orglhoso
corda ao coração se tdo é somb ra, hác
qe não luzl
semsi , o velh o adágio
 mb tampouco
sombras, passa aqe re
fzer mito se nti do.
Há já algm tempo qe a lz conceitua trata de persuadirnos de que
ses prestigiosos flgo res de manftur a substi tuem mui to bem toda p oesia,
logo ela qu e j stame nte o solar U ngaretti def ini a como uma es pécie de ill
miai abls . . . Fazer o qê, viv e-se mai, ou bem sob um  fantas
magórico alla Uccello, o vai-se bscar refúgio, logo onde senão no poço da
veha Me dus a, onde, é bem ver dade, ao menos há sombras qe já f ram gen
te E como as há A mais lúgubre delas, leitor, é a que nos enche as pupilas
opacas e a medula óssea com a promessa do reino angélico do número, da
medida como articlação descarnada de mais uma apostasia . . . E como se cha
ma hoje e ssa vetsta sombra sib ili na, lei tor? D isc urso? Retórica? V erso? Figu
ração? Sone to? Nã o chama -se Conc eto a o início, quando ai da manso e ma
gric ela , quando ainda te m mitas coisas a dize r-nos , sobretudo que não se rima
nem se b usc a sentid o às coisas deste mu ndo, e visto que não há mais ne nhum
otr o . . . Mas o eastiv o ivicll logo se grada e, PhD em punho, passa a
cham ar-se com todas as letras Esp írito de Sist ema, e aí começa a ser tar de de
ma s embarcamo s nma av aanche qe nos va i encher as medidas e evar ale
gremente de roldão. No eato sentido oposto, é claro, ao drama da razão.

47 . Capítu lo 2 , p . 46  Darton Longman & Todd (Londes, 1979)


52

V M B I H NA B M A

É MESMO ES, fi desde sempe esta toda a peocupação deste livo tona
do a um tempo des nece ssário e inevitá vel à luz de tão sábia e contundente ad
vetênc ia deveia basta com a beleza e a ju stiç a de uma só fase a  ...
E contudo a semelhante quisto não pude da-lhe a volta que Baandall tão
elegantemente d esenhaa po volt a da mesma época e no me smo espaço em
que Row an Willi ams and ava buscando levá-la a bom temo. E as si m fi como
este livo enfim acabou po eclama minha atenção constante. pós doze
anos de cautelosa e fleão sobe meu tema  ou po blema  ou idéia fi a
como se pref ia  e u viia a toca ond es po O fd a velh a imã se ten 
tio nal de Floença . . . li no cl ima de adensamen to intelectual insepaá vel de
semelhante du o eempl a en te aquele pa de  lmis abii ciis  
mi e esultado dieto de meu hábi to de escapadas diáias ao Ashmolean
Museum (cuja conucópia enascentista me haveia de petuba ainda mais
que as opulências da National alle eu começaa litealmente a sonhar
com cetas antinomias do tipo Masaccio-ngelico-Pieo lbeti-Donatello
Brunelleschi etc. Meu subconsciente tatava de eguer seus primeios <i
gues-de-conto no à alucinação de P aolo Uc cello  cuja sobeba Caçaa, a
eina sobeana n a ala N obe do v eneá vel edif ício da Beau mont tee t não
tad aia a assediar meus sonhos c om um a eco rente série de semi pesadelo 
Foi potanto como uma espécie de teapia intelectual instintiva que eu pi
meio imaginei e enfim comecei a compo em inglês e ocasionalmente em
italiano senão
que haveia deatona-se
pimeiaesta
vesão
oba.com ceteza o pimeio eftivo esboço do

48 Sall Purcell     (OP N, Oxrd, 1 972).

5
Espalhados em vários periódicos antes que os reunisse em minha cole
tânea i nglesa , meus primeiros poemas sobre o fio condutor deste livr o como
resulta hoje confron tavam duas visões contígu as no pensament o e na arte do
Quttcento e, e ntre elas, uma somb ra evidentem ente m ais gr ave e reniten
te do que a sombra da ca rne  a si lhueta fr ia de um neoplatoni smo vieillot que,
não obstante, "vestira a fntasia pelo avesso e assim já prefigurava desde
meados do século x nosso moderno gnosticis mo à outnce Esta m inha par 
ticular preocupação intelectual inrma o espírito, senão sempre a letra, de
quase todos os textos aqui reunidos, e o leitor já verá tudo isto em detalhe.
Importaria ant es u ma oportuna cl arificação quant o à frma, que c onfio s eja a
defini tiva, dest e livr o em sua presente  e à pr imeira vista a rbitrár ia  ver
são mul tilíng üe. É que esta obra  a ampliação daquela que, mais que subs
tancialmente esboçada, há cerca de duas décadas vinha à luz em Oxord 

iriaquais,
as desdecomo
en tãoé crescer
sabido, pela
maisacumulação
se superpõem de su cessseivas
do que "camadas
anulam. g eológ
Quase toda icas,
composta entre  e , com especial empenho durante os anos ,
creio poder datar do início da décad a seg uint e, com rara s exceções , a quase
totalidade da seqüência A Imitção  Músic, que aqui constitui, sozinha e
qase sem retoques, o ivro Ú ltimo. Mas boa parte dos demais textos, retra
balhe i-os já de vo lta ao Brasi l, a par tir de , um punhado dos quais final
mente traduzidos, ou inte iramente r eescritos em portug uês . Não raro ao cust o
de vêlo s desfigr ados, e a um t al grau em alguns casos que as se is sessõe s do
atual Lição de Modelgem, por exemplo, fram gradualmente dispensando
o srcinal inglês de     , A seon on the c ly, ao ponto de tornarse uma
tilidade dálo aqui . Mas trata- se de um caso raro, sen ão único, os demais sen
do mesmo casos de paralelas div ergentes ou superposições si m bióticas.. .
Por tudo isso, no que se fi configurando como uma "nova edição da
queles textos velhos , paula tiname nte reconstruído s em nossa língua, ou acli
matad os à nos sa partic ular sen sibi lidade como melhor o pude f zer, ao cabo
pareceum e i nstrut ivo fz er se guir cada desdobramento de poema jus tamen
te de seu pri meiro esboç o, ou versão, em todo caso do que se poderia chamar
de seu "ancestral. É minha espera nça que cad a vez que um deles surja à pri
mei ra vist a "repetido num ou n outro idi oma , o seja porque a rigor não se tra
taria mais do mesmo texto, mas de duas concepções verbais do mesmo mó
dulo, modulado ao extremo, ou bem num "caso ou bem no "outro. Nesse

49  Bruno Toentino About t Hunt (OP, Or, 98).


50. Cf A imitação  música, 893 (Lio Útimo)
5
sentido, nada o ilustra melhor que as duas versões contíguas, e tão radical
mente contrastadas, da peça central do livro, Uma crta caçada  Ab 
H T il Pic Outrossim, à medida que ia sendo tentado a inserir
sem conrapartida alguns poucos exos em língua alheia a que até hoje não
me par ece haver encontrado satistória voz vernácu la, no m esm o espírito, se
no sentido inverso, vim a considerar minha versão inglesa daquele instante
dramático n a obra de Carlos Drummond de ndrade, A máqia  md,
decididamente a cas i pi ; conquanto inicialmente concebida par a fins di
dát icos, de cidime por dála aqui ss bééic divtair, cautelosamente
propondo-a co mo a prsal radi De tr aduç ões  certa mente no temp o
 compões e a quase tot alidade do liv ro, senão de minha p mia, mas
quase nunca u m tex o transposto a outr o sist ema li ngüí sic o ao long o de dé
cadas é ainda suficientemente o mesmo para que baste com uma só de suas
"ces, a que passa a um outro idioma, c omo se a o espelho, e aque la que, ao
início ao men os, su sten tava a projeç ão daquele "refl exo. Por tudo iss o, e para
além do mero aceno ao leitor cosmopolita destes nossos tempos globacrobá
ticos, faço a pelo à paciên cia do leitor naiv o, assim co mo rendo homenagem
à cortesia pr ofiss ion al de Jam es  inde sa, o editor-respon sável à época do la n
çamento pela OPN da primeir a edição de Ab   H. Obra esta decisi
va em minh a frmação, por conter a essênc ia mes ma daqu ela re flexão que ao
longo da décad a de 70 i ria marc ar o i pi de minha poética e, destar 

te, harmonizar
tória e a p rec áriaa bi 
integ ridq
ademal minha
d o meu visão pessoal
pe nsamen , milánha
to  vá  filosofia
conceituada.H. . is 
Como o v ejo ainda, duas ces da mesma medalha consentiram e m divi 
dir-se, logo aos primórdios da Renascença, entre uma apologia da perfição
moral e  posici onando- se ao seu extremo oposto, como se não ss e, afinal,
mero reflexo s eu  um real is mo geomét rico "puro alla lberti Desde a pri
meira e famosa isa ia maa de um processo que ainda não terminou (li
 l sua marcha t riunf l  o questionamen to que o teorista de D  di
icaria fz da visão beatífica em fvor de um primeiro e decisivo passo no
sentido de um realism o formal  até mesmo o mai s rápido olhar confirma ria
a que ponto esse típico scia alla scaa obviamente era e seguiria sendo
sobretudo de ordem moral e intelectual Ora, desde os primeiros arroubos

5   ivro Prim eiro


52 eonis Batistae erti, D  Adificator ia iri X Forentiae, 85 Notáve a primeira
tradução (anônima) em francês L'Architctur t art  bi bâtir du igur Lo-Baptit
Alb (ic) Paris, 553.
55
qe dediqei à lena c omposição de L Vi L  Vai (e especialmen e no úl
imo ls ro e rope daq ela dúzia de anos frmaiv os do me ver e pensar ,
era já be m ess e o erri ório p rópr io à minha li ra  a mediação  la Pasca l de
m malis ccasi , obcecado pelos paradoxos da sempre precária bsca
da liberdade, mas nem por isso menos às vo las com m sj de ordem emi
nenemene ine lec al  ao dei ar o solo pário já me preocpa va sobre do a
vida das formas, de qe em cra desde se lo a obra-prima de Henri Fo
cillon.  Acone ce qe an es mes mo qe desse incio a Ab   H as prin
cipai s im pli caç ões da qela ref lexão eram como qe "pro ficam ene sinei
zadas, se n em ano no exo daqela minha coleâne a em francês , decero na
fina leira qe nas orelhas da primeira edição dela zia a argúcia do edior
Pelo qe já enão prefigrava dese livro clminaivo, alvez não seja de odo
ocioso ranscre vê-la aqi.
Cisss
vms v cç
 l mm lq
  piq s écmps
lav  pimaé is
s aspc s   m
 iai
a c   ssibl  é  c spac sv ai ima /  lié
ép s l pla  l smbliq la pls imméia  ci é  lim
pssibi lié  és la qs i  l ié sl limc L im v
l  sc  mvm v c s  liiq m  sa 
ai isiq lU il jais la smm  l smbl  cs sis mclés
q s vs  la sac  c qi p s pés lAiqié Clas
si  pésmss  c a cmm  c qi jamais   cla 
pva pas ? L is isa  c mac  si l cllai a
q liiabl i  is c assiô vi la lmi li s
ca  c  qi csm p éclai appl ivq  c q 
émc v  p la alié pass pa la p  la sbsac mll
ava mm   m 
Claro, n a flo r de mes dezoio anos cariocas naa disso m e apa recia se
qer remoamene assim ão nio, como ampoco presei aenção a nada
do qe sege com ef ei o, i com algns anos de araso, e por ins isê ncia de
Merqior, qe em  vim a omar con hec ime no de m cero debae enr e
3 Bruno Tolentino L Vrai L Vai Pom 1959-1971 (ctuel Coection La Part du Feu
Paris 7)
4 Henri Focilon La Vi d Fo (Presses Universitaires de France Paris 47)
 Obse o que aquel e ivo fo estr uturalmente revisto na es tera da edção de  97  :  divsão
ternria cima referida prefei optar nas edições posteriores pea autonomia da seqüência Au
llq   tal como  dou aqui sua temtca justificando em certa medda ao
menos a ostensiva ntrusão na economia desta obra.
56
doi s co nes me us de então . .  Em  quando das celebrações do quarto
centenáro da morte de Fr a Govann da Fies ole, Bonne f proceera a uma
ruiosa letu ra crtica da tradução ances a do Angelc o e Arga O prme
ro e meus lustres mestres estrangeros destinado a passar da condção de
correspondente à de conf ade e amgo,  nsi stira então em que de nco a va,
sim, na pintura d o mong e uma asserção da coisa concre ta  unidade de cor ,
de luz e de f rma  tudo muit o longe do pensame nto analtico do mao r gê
nio de U rbino  de uma n oção de fr ma separa da de toda matéria , Alberti teria
fito decor rer a idéia de espaç o, fundamentando assim em bases neopl atôn
cas a s pesquisas do Brunelleschi como as d o Masaccio. Mas de uma perspec
tva que se revelava o instrumento de um conhecimento essencial, aleo a
toda frma de m it o, um pn tor como o f  o Angélco não pode ra ace ar o es
prito para ele, conclua aquele incansável abalador de certezas,  lspac s

ava Hoje,
 la li  la
quatro cs•daquele debate, há justo consenso em que um
décadas
do s ach ados no ric o ensaio de Argan é q ue teria sid o ele, il bat  Fisl, um
dos primer os em Florença a conce ber o esp aço como um a poss vel paisag em ,
e  onnef  já e ntão obseav a qu e o "luga r da s coisa s abra-se natura lment e
a uma inv est igação emprica d a proundidade e da dist ânca Certssi mo, con
quanto s ejame f rçoso aquiescer  bandeando-me par a Argan  que, por
outro lado, do conceito brunellesciano de perspectiva Masaccio tena a de
duzr um prncpo de monumentalidade , uma noção de e strutura e rene à
frma que barrava o livre acesso a um paisagismo naturalista. Isto posto, es
me a pensar nas toscas , q uase ingênuas f chadas "terr estres dadas por aque
le pro dgioso jovem pinc el a, por exemplo, sua le itura do m ilagre da so mbra em
anta Maria de Carmine ; contrasto-as em pensamento às elegantes, alberta 
nas molduras arquitetônicas apostas por Piero à sua hierática Flalaçã em
Urbno, e não te nho co mo não c oncl uir que o arguto o bjetor de A rgan tin ha ra
zão ao insis tir em qu e, no que concerne pelo menos u m pintor da estirpe do
Angélico , a perspect va, por mais in telect ual que f ss e, n unc a poderia ser mas
do que um meio para ver as coisas . E quais? Cad a uma as mesmas coisas que
o Masacci o vu? C laro, mas segue-se que quando a nature za dessa cois a é 
l dificilmente há como atingi-la pela via das aparências, anda quando trans
iguradas Impasse  Alber t  e o pr mer o Bottce lli , e o Pero e U rbno 
ou um Fra Angelic o mpa ssvel e impas sável? Bo nne f, e }ouve e F oc llon co m

56 No número 105 de Ctiq, Paris, fevereiro de 1956.


57 m ibim
57
el e ou rgan e ttti i quanti Ou ainda in short e iju stamen te curto sem dú
vida o nú mero ou o sr?  carne ou a sombra da carne?
o fim d as co ntas ap enas o f nt asm a do caroço do fruto acerbo a dúvi
da que persiste u persistia para mim porque quando por fim me pus ao
par de tud o aqui lo o dad o ma is perturb ador na peormance daqueles inimi
táveis uelanti er a que ma is uma ve z se voltar a a coloc ar o problema da "coisa
visível e já e ntão in esc apavelmente  Ora ao constatar que não há fu gir a um
tal ass édi o é -se leva do a ent ende r as idéi as de lberti à uz d a oposição que
est e fzia ao pr ojet o a mi m tão caro por emient emente cri stã o do angelico
maest i San Marco  dem ai s a coisa se comp icava Bon ef ao mais agu
do de sua a rgument açã o vale-s e de um exempo f amoso e parec em e tão ine 
rente ao espírito deste livro quanto enxertado ao de rgan pela leitura que
dele fez o maior poeta desde Baudelaire a abarcar numa só visão a totaidade
da
erovida
teriadas frmas
inserido emOsua
mestrenvenção
observa que em rezzo
e Prva um já amadurecido
a Veraei Pi
Cuz uma chada
soberbamente abertiana• Perturbadora costatação Porque havia ai sim
algo do que sou ho je i nc linado a chama r "a tetação de  rbino que mais de
uma vez acometera um Piero a mezza sta; era a m esma iequ ívoca alusão
a uma perfeição situada "para aém do que existe de natureza espiritual
como o queri a Yves. Mas um tal constat e ait diria tudo  seria tudo a dize r?
Digo antes de tudo que não sei de nada mais il umi nante sobre es te po
to capita que o capítulo sexto no livro que resultaria da série de coferên
cias de Focilon sobre o mestre de Borgo ansepocro dmiráve coletânea
póstuma reunid a por seus d iscípulos de  no nstitut d't et d'rchéo
logie de Paris refiro o eventual leitor sobretudo à subseção em que é discutida
a su til relaç ão entre o pensamen to de  lberti e a vis ão de Piero  quela atu
ra o fiíssimo historiador-flósof fz observar aos seus ouvintes que  .. com
me art e réuire les ch oses e l espace  es éléments mesul es comme art e
cier lespace [. . ] la pensée Alerti est trs ancienne efletindo em que
já no imeu de Platão encontra-se uma certa teoria ótica muito particuar
Focillon conclui que o que faz especialmente berti é dar um caráter eucli
diano a c ertas antig as (e m ui ecundas  inquietações da Ida de Média E sus
tent a-o co m a suree ndente evidên cia de que o uso da g eometria p ara defii r
o espaç o já era ilus trado por Vill ard de Hon nencourt  Quem o poderia supo r

58 as nesse caso, pergunto eu, por que não consierar tamm com intico sentio o
enquaramento  por exemplo, a Aucação naquela mesma srie e aescos?
59 enri Focion Pir  lla Fracsca, pp 99 1 1  (rman Coin aris 1 952)
5
já tudo aqui lo teria estad o presen te ou ao meno s latent e na escola de C har
tres em pleno século XI I 
Vale pois  deduz ir  e não apenas dos exe mplos d e rezzo acima cit a
dos  que a ev ent ual intrusão "albertiana do perfeito na rápida re alidade
fctual do afresco compõe-se ainda de números e relações como a própria
perspectiva conseqüentemente aprofundando a pintura sem "humilhá-la
com a soberba noção de alguma "separação radical tre vo-me a arrisc ar que
essa teria de fato sido a conclusão de Focilon caso tivesse ele mesmo com
pilado os text os magistrais daquele seu inacabado t  c    Porque ce r
tamente acabou por ser a d e Bonne em , sem que é claro o duelisa
que desaf iara rgan s e permiti sse esquece r de ponderar que em se tratando
de ob ras de ar te a "perfiç ão já não é bem  ou já não é apenas  um e stado de
esprito a atingir mas um conceito ainda erá algo mais no território próprio
ànomoral talvez
à Idéia mas osedizmexplicitamente
O poeta deixar por issodederesto
ser tae mbém
uma vezummais
a noção um ace 
ao modo
incontestável de seu apai xonado dó-de-peito La pctin st lé Ell n
paint q aaibl i ans l v m ais a mins  st-ll ac cilli  ans sa 
t pp  m t pt-ll  pat sans avi tch  s aim pa  n
act n  pa c cp  c  éa  la pint q ln pt app
l lpssinism
Inc onceb vel à lu z da escol ásti ca da metaf sic a da mesm a busca estéti 
ca de uma sac scita par a a re presentação do ser -no- mund o por tudo iss o
e muito mai s era-m e difí ci nã o ver qu e se i nstalar a ass im  com o qu e malgr a
do seu mas na ci dadel a mesm a do real e de sde os alvo res da prime ira Renas 
cença  um drama inc onci liável porque manifesto s ob os modos de um con fli
to entre esprito e in tele cto  Vvida aporia de um parado xo tipic ame nte tos ca
no (e a cada duas páginas de Abt th Hnt eu o diria flor enti no t th c,
ele iria f sc inar o espírito anglo-saxão de Pate r Ru skin  Fra ou Be rens on no
eminente passado a um Kenne th ord Cl ark ou um i r ohn Pope-H ene ss
hoje odos viriam a emoldurar de leituras cada vez mais apaionadamente
exatas o que Browning e sobretudo helle ( nht s iht ma liv / all
Eath can  a Havns iv, haviam intu ído algo nebulo sament e como u m
bem um brilho na bru ma E é a ess a mes ma tensão ain da que alu de o maior
poeta vivo de lng ua inglesa eof fre Hi ll  quando e m se u def in itivo ensaio
sobre Ben Jons on finamente evoca a autor idade de eorg e Elio t no us o que
z daquele seu genia l acha do o "drama da ra zão

0.  Bonney, op. cit p 143.


59
e na era moderna o primeiro teatro desse drama i a Florença do sé
culo  ele não f i coisa de um instan te coisa que esmoreces se com as a
gilidades e tens ões do primo Qaco; ante s atra vesso u a luz moralizante
do último gótico o belo "rafelizado da lta Renascença o maneirismo 
ess a angústi a emi nen teme nte conceptual ista  e entre tantas outr as flagran
tes voltas e co ntravoltas  so breviveu até me smo ao mund o turvo do Pontormo
para chegar quase i ntact o às audácia s e láci as do esplendor bar roco da me
lódic a lu min osi dade de C laude ao a gravante c laro-esc uro car avaggiano Con
seguido como se às antí podas da r esist ência olímpica de um Poussi n i um
triunf inevitável o daqueles dois a essência mesma do melhor barroco por
já então coincidente com um crescente ocaso classicizante e uma nascente
divisão orgulhosa dos fundamentos do ser e das categorias do real entre um
saber e um sentir entre a ova sciza , essa quan tificação do mu ndo redu

zido ao das
visível isí simbologias
vel e a recriação p ic tórica do se nsível atr avés dos arquétipos do in
da visão.
60
I    PRIIBIIA

ME NOT QE, BEM NTES DSSO TDO, a complexidade da quesão se


ra esreiando regressivamene o exemplo da Capela Brancacci viria a ser
mais re verenciado do que emu lado Boticelli teria sido um dos raros a volar
arás desse aban dono • É pono pac fico que, nessa pro ciss ão em desv io , aguns

dos
riamque busc aram
l ogrado mas nsalv
ão éarmeno
do "inempora o pensame
s verdade que nto não
o intempora, e m mesediaizado
us mod oso tra
e
dicionais de sobrevida formal, iria mudar pouco a pouco de senido, reornar
à Idéia, ao reino int eligve l dos espritos amantes de um Belo qu e por si só se
ria o Bem• Bem i nrmado e convenci do diss o, José u ilherme Merqu ior, em
seu ulgurane suol daquele insane dramáico da primeira Renascença,
adoa em ple no a obseaçã o de Volp oni segundo a qu al a Scuola l Cai
eria ransmitido aos jovens pincéis oscanos antes um ensinameno frmal
genérico do que a intençã ex pressiva peculiar ao estilo do Ma sacci o e con
clui, de modo basane perspicaz, que "e ssa dis crea p reerição do esp rito da
Capela Brancacci  . . . ] abriu caminho ao riun do realism o, da ca ça à vera
cidade do paricular, às aparências caractersticas e idiossincráicas. É o re
rao do uro maneiris mo, senão do barro co em gesação, e é c orreto, as o

6 1  Ns obr os sonos 1  1 7 do Lvro Úlo dão nh vrsão lgo ronzd dss
epsódio qu,  rigor prmance  g  
6  E qu  our v z  prc qu  Bonny cr o su grr qu  o erro s parva dqu
l pólocai
 grgo plgno
blesse"do
(opcrsnso
c p173 e sus paavras:' p s q  gso  ce
63 A nrprão slsc da pnur cássc: u desao par o éodo rlsa 
Fais e adi  (Ed Forns Unvrsár  USP R o d Jn ro 1 9

61
tits go. Menos seguro me parece que (sempre segundo aquele espírito cujo
viés ant ime tafísico o tornaria pouco i ncl inado a ver nas artes mais que um f 
nômen o de cu ltura essa i nspiração realista tivesse ef tivamente bloquea do "o
gosto ideal izante o amo r à estilização clá ssic a e à solenidade f rmal (Quem
dera aquelas páginas meteoricamente densas que não se exaurem com
abarcar o que era então a nata da historiografia estabelecida sobre o assunto
Merquior vaise am parar em Wlf fli n para ain da quando aqui e ai d iscrepa
do do autor de A rte clssic, muito cabrainamnt (e veremos mais adian
te a que ponto re jar no  sem dúvida tardo  estio quatr ocentis ta ago
ass im c omo "a volúpia da multip lic idade dispersa da expressividad e dif usa
Consciencioso verificador da ison dête por trás dos mal velados des
déns da mente (parafernália inseparável das ditaduras da déia Merquior
não falha e m perceb er que "gsso modo a dissolução da frma só seria evita
da por um rebaiamento
da verdadeira do valor
trans figuração intelectual
e xpres da pinturareduzida
siva da imagm ou com oa simpl
sacrifício
es descr i
tividade enfeitada no que outra vez tangncia o texto d João Cabra que
examinarei em seguida ublinhese en pssnt, que aqui o exemplo que faz
do  hirlan daio deixari a eco nesta obra entã apeas encetada  especi almen
te nos sonetos  do ivro Ú ltimo E resta que Merquior como o jovem
João Cabral ra ci onali sta mas não ainda conceptua lista i ntrinsec amente ab re
cam inh o ao esp írito destas mi nhas especu lações nos in úmeros momentos  m
que defnde a busca apaionada do real o qual reconhece como a meta para
além de qu alquer hist orio grafia De notar  pr exemplo suas análises  per
sonalí ssimas  seja do sfumto de eonardo seja da unicidade deste mestre
enquan to o ant iheróico ironizad or do ambí guo qu e fi  Opondoo à ideaiza 
ção plotiniana do Botticelli chega a ilumiar sensivemnt sse ponto o
çamolo ao seu mais autêntico entregue quele autoabandono em que o
amante deleitoso descarta ou descuidao o amador de noções adquiridas
"En tre a graça botticel liana e o naturalismo r enasc entis ta há distância ou con
flit o não sínt ese O ponto é fin amente iu strado pelo braço d a Vênus n adi
omena "alongado em obediência a um modelo de beleza que não hesita em
desob edece r aos c ódigo s natura listas    
a ple tora de tantos achado s no entant o o que mais importa é q ue seu
ensa io sem paralelos em nossa inte ligência da f orma decididamen te se v o
ta contra aquele bichano nosso de cada dia o zelador de um certo tipo de
Kultukitik, que ele muito ferinamente denomia "o purovisibilista inda
quando desdenhan do desv enc ilharse de um amontoamento "cultural de no
ções que pr esum ia  igueu, seu in stin to não o impede de castigar com jus 
62
tiça as pretensões da Formnlyse Peo caminho como que topeça em tu
villes mais q ue bastate s a az er daquee texto um dos ra os momen tos de in
depe ndência úci da em no sso entendimento da gr ande art e desse eterno pre
sente que é a opulênc ia de um passado incom um  ua fo rça p essoal brilha em
passagens tais como o progresso do naturalismo havia levado à crise do esti
o [    ] e oi pr ec isa mente ne sse con texto de debi lit ação da óg ica rmal que
a orientação antiplanimétrica da arte primitiva prosperou Já é algo da tese
de João Cabra que me tada em examina mas por enquanto baste a reair
mar o mehor da leitura de Merquior sua observação sobre a opção plotinia
a do Botticei como resultando em "uma poética da cultura    uma arte em
que a image m se man tém rigo osamete cons cien te da sua dier enç a ontoó
gica em reação à physis Ou ai nda e ma is propr iamente oiginal e promisso r
seu paralelo entre dois mestres nunca dates que eu saiba acoplados num
mesmoestá
ainda olhar "Os dois
banhada primeirindivdualizante
no irismo os cláss icos aqueles emdoque
e oblíquo a nov a excelênc
segundo ia
Qtto
cento; como a de iogione a lição leonardiana i sobetudo indieta o sorti
égio de sua a rte  seu elixir de subentendidos  se utou aos vário s dis cípu
os da me sma rma que o inti mism o de i ogione escapaia aos seus    
Mas insisto onde mais se personaizam as mais cintilantes páginas já
nascidas da pena de um n osso ei tor da a rte cláss ica é em sua vi gorosa rese
nha veladamente c rítica das corretas mas coriqueiras etiquetas apostas por
Chastel assaigne Friedberg (e o mesmo Win e ainda Panos almi
Weise  etc   à questão da grande za e decadência  entenda-se  ide al veus
real  na cornucópia r enascen tist a E isso ele o z estou seguro pa ra que
não nos ocorra passar distraídos pelas intuições subversões e idiossincrasias
de que se nutre todo gêni o e não acabemos por ter como cerise du gâteau pou
co mais que um quase ge ográico se sut i map eament o dos cum es e dec ínios
paralelos/conitantes na topograia moral da Renascença Conta as gulodi
ces culturais corriqueiras nas academias de ilipute em que vem reinando
oci osa e oca  aque la todopoder osa hidra que nes te mund o e para o excl usivo
gáudio dele se auto-intitula "cultura  (lei ase sócio-cultura  aquee nosso in
subs titu ível sublevador do espírito conce ntra sua v erve e produz um dos m ais
sólid os arrazoado s c ontra um personag em tão i relevante quanto ubíquo em
nosso tempo e nada ausente em nosso paí s  seu pur ovisibilista : "Para
apreender plename nte o sent ido do estil o e das suas mutaç ões é precis o que
o ouvido histoiogáfico [gri meu ] saiba escutar sob o al arido das rmas  em
contato ou em lut a o murm úrio às vez es esquivo e subterrâ neo de su as mo
tivações cul turais ó a esse ouvido crítico o pulso e a problem átic a da cultu-
63
ra fazem aquelas confidências que nos permitem decifrar a opuenta mensa
gem do tesouro das obras de arte
"Motiv ações c ulturais a não connd ir com o insos so produto dos r ecen
seamentos de c unho veadamente estatí stico de certo socioog uês unive rsitá
rio ao molho neom aista . m Ofrd ouvi in úmeras vezes essa pec uliar tou
nue da vida do espírito ironizada como "cul tul gluttony    sse cur ioso es pí
rito de ruição intelectual trata a arte u mie como um substrato deleitoso
deste mundo e às conquistas do espírito como a tantas delícias finas e suces
sivas camadas de algum especialíssimo millefeuilles    m que pesem nossas
diferenças íntimas quanto a "não sei que perturbadora atmosfera metafísica
(na se ntença de João Cabral que v eremos adiante  para José u iherme como
para mim aquela gula pensante restaria sempre o mais mundano en igma a de
cifa r em -à- com a e sfinge domestica da do saber  i ás curiosa atitude
essa que a partir dos hedonismos ne ocássicos típicos do sécuo II I apar e
ce mais e mais como o fim-de-linha de um humanismo once pud, o reduto
baof de um a ntropocentris mo dim inu tivo repetitiv o o surra do espetácu lo do
encolhimento da visão na criatura que se autoproclamara acordada e lúcida
Porque a única questão em ma téria de art e como em toda emanação do to r
tuoso espírito humano é sempre metafísica. Mesmo a mais fina sóciohistorio
logia da cultura nada tem a dizer que verdadeiramente ajude a ver entender
sofer gozar agonizar e morrer. O culto da ultu, as doutíssimas resenhas e
os róis mai s mi nuc iosos que parecem destinar tudo ao p orão do entendimento
humano como u m mobi liário precioso mas sem uso no drama skip the iss beg
the question odos rem etem o prodígio d a arte a agum es tranho departam ento
dir-se-ia que situado sabe-se lá como à margem daquele dooroso e iuminante
desafio que é o mistério da morte ante o milagre da vida; assim constroem-se
moinhos de vento e m nome justamente da ra zão acorda da e assumida . . . Ou
estir ia realmen te a ra o sono espl êndido da arte gr ega um pós-go esco sonho
da raz ão? inda recent ement e Brenna nd me zia ju stamente essa obsea ção
Mas não teria sido desde sempre monotonamente óbv io que a nlyse não
tem nunca teve como conduzirnos a uma quaquer fiosofia da frma? Co
nhece-se a áore pelos u tos especialmente para nos atermos ao óbvo em
se tratando da onipresente "áo re de um Piero por eemplo . . . Quem toma
ria ainda hoje a ciên ci a dos pesos e medidas como a tradução da natur eza? O u
quem pret enderia fzer com el a ago ass im como a radiografia da vida do espí
rito  em torno à qual tatea ssem as impress ões digitais do homem em busca de
sua altitude mas incerto de si ante o drama da razão?
64
Naquelas páginas de , que em Paris li ainda em manuscrito deci
ando-lhe mais uma v ez a letrinha incriv elmente miúda José uilherme de
novo acerta va em cheio  do que intu íram inco ntáveis poetas em bu sca de um a
filosof ia da f rma de Baudelaire de Ru skin de ou ve de Focil lon  de Pater
de Char de Bonnef voie do saturniano ensaio de Ma lrau x sobr e oa u m
purovisibili sta nun ca qu is ve r nada porque no qu e nele s lê não adv erte a an 
gústia que com ove o rosto r ágil do re al em co nstante agonia. e o sonet o de
audelaire  une pssnte r de ao (como o propunha o cridor de Douve
cedendo a u m de s eus ext remismos dalma   .  o map da poesia redescoberta
e esta recomeçada após tantos desvios  n ascer e gi rar em torno de uma me
ditação da mort e então . . . Então não há perder tempo com traçar a hi stória
dessa escarp ada aventura em term os de uma impr ovável  e inút il  acui
dade do conhecimento cumulativ o anedótico. Nada há  conhece r que não
remetaeààescolha
moi, instantânea
beira daquela entresom
"me a coisa
be etfugaz
sononosso contínuo
ci tee de Valér amemento
analgé
sica pomposidade do conceito essa fina agulha a bordar ilusões. À primeira
vista a pior delas é a corrente confusão entre arte e cultura entre ransfigu
ração e figuração histórica mas há pior há uma enação na gangorra enre
aquele lado o único em que se situa o real no qual oscilam o fugaz a dor e
a morte e do outro aquela mortee mvida qu e ape lida mos org ulho same nte de
saber. O pur ovisib ilis mo prefriu não saber disso escolheu as cantil enas c umu 
lativ as do conheci mento hi stórico empírico e ébri o de si  fechado em s i como
o conceito E fez essa escolha contra o espírito do Evangelho é claro mas
também e mais miudamente contra o Ames de aintJohn Perse que con
voca a uma asc ese mor al para além de toda hi storio grafia e de tod a est éti ca
"celà qui d e niss nce tiennent leu con nissnce uss us du svoi 
65
II Ü L U R D E U M   RX I

OMO COMLEMENO  M LER da prspctiva nquanto risco de idea


izaão do spao frente a uma sua dimnsão ago mnos qu simbica 
por tmp ora só no sntid o stritam ent histórico , uma "investigation i nte l
ctuelle du pla n (ta como a pdia a mados do sécuo mu m issi vista, devoto
de suas "matmatiques ses  inquieto ant as simpificaões do idaismo
geométrico), qualquer consistnte investigaão das significaõs histrico
intectuais do pano não podria snão mostráo como o ugar de uma ata
raxia Cond ião essa re vador a d um a vha ti rania, sgundo o magistra
nsaio da msma época a qu m vnho rfrindo, o En Joan Mió de João
Cabra d Me o et o egundo o impo  ag udo ohar do grand prnambu
cano ( ntão no vigor d a trintna como o i us tre auvegnat nascido  m ours),
a prsna intctua do obto s tri a dsenvo vido "à custa d a uti izaão
snsoria da suprfíci, a qua ss "aparnt nriqucimnto vinha na vr
dad imitar, pois qu "anuava na suprfíci a possibiidad d rcbr o
tmpo, ou uma quaqur grafia qu xigiss para sua contmpaão um ato
não stático do espec tador.
D modo a ser per cbida em sua iu são, a trcira dimnsão  m pintu ra
teria passado a xigir a fixaão do spctador "num ponto ida a partir do
qua, e somente a partir do qua, ssa iusão é rncida. Inevitavmente
quaquer ra excessivamnte poderosa sria ata à ordm do conunto.
"Mais do qu à ord m  à existnci a msm a dss con unto como ex pressão de

um mundfio,o em
rpado pro fundidade.
subversivo " É ao Eequiíbrio
, mais adiant,
qu se noss
confiao agudo decano
a missão retoma o
d defender
aquele p onto teór ico , chave dssa i usão. Os trmos são contundentes , João
Caral naqele crto e audacioso ensaio vai a cada parágra mais fndo,

67
adntrando-s na  nrntando a qustão qu à msma época procupava
Bonnf,  assim coocando os fundamntos, snão d uma primira invs
tigaão do pano, ao mnos da miríad d probmas criados pa prspctiva
à pura pan imt ria Com ara por dtctar na composião stát ica rn ascn
tista u m di brado mpobr cim nto da inha  "Por qu sua natur za é ssn
ciamnt  dinâmi ca, isto é, in imiga, a iha é imi nada ou auad a O qu,
m sua us tza histrica, imdiatamnt rmt à discrta mas dura dou ra
déconfiture da dupa brti-Masaccio fr àqus duistas do Donato,
"gst icu ando c omo ograis ao sabor das f inuras d uma inha cua inhag m,
por sua vz, se ir ia pr der também, mai, confundir-s quando muito às s 
pciosidads do Ghirandaio, d D arto, do msmo Bottici  rsutar 
como nã o  nas moumntaidads bien e da séri d Stanze povoadas po
gnio cá ssi co (va dizr , c umu ativo) do mhor Mantgna Para acompanh ar
João
no quCabra m su raciocínio
os prcptistas chamambasta
d ritmopnsar, como
"Ess  nos convida
mínimo d mo avimnto
fz-o, é s
tabcido sgundo minuciosa poícia,  autorizado apas m agumas pou
cas f rmas, simps  déb is, á montonas [     prmitido apnas nquant o
não amac o stático, ou quando mantido como mto acssrio, à mar
gm da iusão d profundidad E Bonnf o acompanhava, ou scundava,
ntão "On a étendu que la fondeur a été inventée eu à eu our l'ex
reion de l 'eace: c 'et mal oer le blme le lan n 'et en einture q ue le
Convrgncis da vha vrdad,
mod
inainád'ête
v noetmundo
aini le como
lieu de
tala  me
D a cara ctrizaã o d uma iusão  d  um ida  como comp arsa s num
msmo  mpobr cim nto, nosso compatrio ta va i qustionar "o crscnt spí 
rito ci n tífic o da época, qu m art ia mais  ma is sgotando os g raus da apa
rncia  atacar-s finamnt à bête noire dst ivro, o fscínio pa abstra
ão, qu  dtcta (m uníssono com o Bctt do nsaio sobr Proust)
nos hábit os d a m mria,  qu B onn fo à msma época chamou pa primi
ra vz d "mauvaie réence; atnão, pois, ao qu s sgu " princípio ci
ntificamnt aborada, dpois obscuramnt obdcida, uma arquittura
abstrata xist smpr por trás das obras aboradas nsss sécuos da pintu
ra ocidnta [     o stá tico prprio da cotmpaão d fig uras cohcidas 
aprndidas d mmri a E aqui tocamos o crn do pnsamnto d João Ca
bra, tão caro quanto prtur bador " it igncia mi ntm nt prática r
sov cada probma d uma vz por to das Mata cada pro bma ao r sov- o

64 O p cit,  67


6
nua o qu é psquisa, convrtndo rsutados m is, isto é, m rcitas.
O trabaho d criaão é r duzido da psquisa d  uma so uão convni nte à
apicaão do qu s sab sr a souão convnint Ou sa, toda regra ar
vora da m  ei , n a mdida m qu tor na ssa "i m anc ia av i tada da Id éia ,
dsint ctu aizaria o tr abaho d e cria ão, prcisa mnt  porqu tr ia sido f r
muada para qu ss trabaho não tivss qu sr rptido. E contundnt
mnt chgas a u ma df sa apaix onad a da ibrdad int c tua contra a ca
misadfora do sistma, a ataraxia impícita na rd strita dos concitos,
pois qu assim condicionado o pintor torna-s cada vz mais "artista,  m
contr apartid a "vai-s torn ando cada dia mn os int ctua [ . . .  ou sa, à m
did a qu ss c onu nto d rg ras s fo i azndo insti nto  habi idad , su a d
sintctuaizaão s fi acntuando.
 João o diz sns mbges, Yvs o dir á ago mais ob iquam nt , mas pr
mancem
lppche as msm as a pr mi ssa
à une pfondeur ded um  aoconc
loeuvre usão
il peut se do outr o   l"Du
dépenser temps
on v de
 sig
ne en signe de cette tâche bleue à l notion dun mnteu de ce mnteu à l
découverte quil signifie l Mdone [. .  une pofonur sémntique si je puis
dire ]eusse voulu mttcher à un utre temps celuici retenu dns limge
même comme un des spects de ce q uelle dit .  . º Ora , c hgas a um ponto  m
qu a imagm á nã o "di z mais, a rpt  apnas, porq u na "smân tica d
um tmpo domsticado, dsintctuaizado por obra da acumuaão das
"is, do ida, do si stma "mhor, da Idéi a triunf ant , ai acaba por não ha
vr outra inguag m qu a d um soiq uio prf itam nt prv is ív. E é a vz
do nosso Engnhiro fzr co ao modrno aint-Yvs de a agss nst
ponto também "Com o tmpo, não s o númro d cadávrs d probmas
 va dizr d probmas rso vidos, d is  fi aumentando, mas tam
bém a f rqnci a na anipuaão dssas souõs  . . su automatismo Com
o tmpo, a transmi ssão do con unt o d i s s oi fzndo m nos  mnos t 
rica, isto é, mais  mais inúti. É ainda d nosso grand subvrtor a grav
advrtncia, a qua stá, ou dvria star, m cada ntrinha dst ivro
" autom atizaão da composi ão não é adquirida unicam nt p a rptião
d maniras d fzr ão é s  o cost um qu  adqui r a mão ao z r  rfzr
um gsto, mas o hábito de prêncis construíds de mnei unifome [sim , o
grif é mu .  .  uma automatizaão d a snsib iid ad.  qu se sgu uma ri
traão da importância da vigíia do intcto m matéria d art, va dizr
no qu rspita não tant o sua xp rssão possív  , mas a dfsa do ra r nt

65. Op cit. p 65


69
ao to de que sua dimensão expessiva é necessaiamente cos mentle; ou
em suas paavras "ão há souões que signifiquem uma vitia mais onga
que a de um momento, cada miímeto de inha (cada fnema de um veso)
tem de se reavaiado eria essa a gande pacincia, a única opeaão da
men te capaz de eva à "descoberta daquee territio  ivre, onde a vida é inst á
ve e dif íci  ["ves le diicile éel, embamse] , onde o dieito d e pemane ce
um minuto tem de ser duramente conseguido e essa pemanncia continua
mente assegurada ão sei de meho ustificaão a duas de minhas princi
pais seqü nci as no Livro Primeiro dest a oba "duram ente conseguida, quais
seam O veme e O ote no blcão. ão tinha, é caro, tudo isto em mente ao
compô-as ao ongo de ago assim como quinze anos, pova apenas de que to
dos os mduos da verdade convergem num s feixe, cedo ou tarde
E, tocando o gn finle daqueas poucas tinta páginas, emos que a
obra é "essenciamente
iberdade uma ainda
absouta, e menos uta para
"umadevover
angéicauma ibedade
ibertaão mas não im
de quaquer uma
posião da eai dade, ou da nece ssidade de u m sistema paa abodar a reai
dade uma u ta para ibertar de um s istem a determinado, de uma arquitetur a
que imita E aproximando a voz à do assi Kandinsi de Üe ds Geistige
i de Kust   ), o ovem poeta que acabaa de nos da A sicologi d
comosição chega à mais úcida definião dos imites e peigos do conceito,
esse monarca congenitamente absoutista e, como ta, insepaáve dos vaie
gados r ein os da abs traão "O abs tato está nos dois pos do tabaho d e e
presentaão da reaidade É abstato o que apenas se babucia, aquio a que
não se chega a dar rma e é abstrato aquio que se eaboa ao infinito, aqui
o a que se che ga a eabo rar tã o absoutament e que a reaidade que podia con
ter se z transparente e desapar ec e o pri meio caso a fi gua é abstra ta po
ininteigíve no segundo por disrada o primeiro caso se permanece
aquém da reaidade  no segundo se nega a reaidade ão se poderia ter dito
com mais acidade e conciso o que este meu etábuo em cada um de seus
trs volets tenta dizer 
70
 
III UM    LIRE I NF R NI

S Q, À SOMB O NÃO D M , quaqur invstigaão das


significaõs impícitas na panimtria, assim como um qustionamnto da
prspctiva nquanto heue numa art qu é fundamntamnt hsitaão
ntr moto  stasis, tudo v a a susp itar , como o susp iti a v ida inti ra, q u
xist um dsaf iador  s f rtiíssimo  caminho d abismos  ntr o r a 
sua rprsntaão Para tudo agravar, assim prcisamnt fra-m coocada
ssa qustão n uma outra carta após aqu invr no d  qu tanto m pr
turbara quanto acordara para a naturza msma do inscapáv distanciamn
to ntr a raidad  sua traduão m art e ense encoe à ce qui écivait
Plotin de la en sée: q u'elle mocelle l 'uni té du monde i ntell igible que l a cons
cience loin d'ête l'essentiel est un accident un aaiblissement sugria um
Bonnf á quarntão Caro, o adoscnt qu tria prfrido ouvir a Br
dia f pndurou-s  outra vz m Pti no, para não s c onss ar d todo pr
dido, por xmp o, ant o qu s sgu, da pna d Bréhir "a ama, ao mais
ato grau da vida spiritua, não há mmória, visto qu a ama stá fra do
tmpo; não há sns ibi idad, dado qu a am a não tm raão com as coisas
snsí vis; nm raciocínio nm pnsamnto dis cursi vo, pois qu não há como
arrazoar no trno•
O qu in fizm nt diava m a rspondida a qustão, smpr tão  us i
va quanto promissora, d uma satistória, ftiva rprsntaão, ou itura
spiri tua do mundo  nos trmos m qu o quacio nava Bréhir nm m smo
um surdo-mudo o ogra ria a con tn to    Mu modsto ganh o à época  ra qu
66. mi Bréhir, Histoir   Philosophi tom III,  37 f Prsss Univrsitairs d
Franc, Paris, 953)

71
tdo parecia emprrar m espírito por natreza brlão e ligeiro à meditaão
(como ao pavor) do sacro mistério, daqele mbral miracloso entre as pai
ões contrastantes da vida e do canto, frente à enfrmidade da lz e à morte
a cavalo de Dürer, m an o mais tarde me prese nte de atal da par te de 
sto Meer .   m cada ponto de tensã o ent re os moviment os do espírito, no
enta nto, havi a acess o a ma imaginaão do mndo qe o não contrapsesse
ao tear do possí vel, mas a m ideal a redimi r havia m real a arr ancar às tra 
mas aracnídeas da Idéia! Mas para tanto nada de pontes entre o tempo e a
eternidade, bastaria com o tempo redimido. Qe se a mão de Piero della
Francesca hava inscrito ao pé da Flagelação de Urbino Convenent in
unum, meio mil ni o depois m jovem poe ta in the making poderia tentar re
petir com neca sed cum u niveso ai 
ó qe B onn ef havia aparentemen te con cl ído o recad o, e a se ima
tro
meeer perpleo correspondente
nm vespeiro . . . sperari lhe iria crescendo
a impacente o sentimento
por mais de terdoido
ma lette me dis
tante voyant, desta vez acompanhando o volmezinho do e por ele lon
gament e annciad o, o imbaud a lui-même• Do qe li primeiro, ainda em
marcha ladeira acima em pleno Verão carioca, trespasso-me a dedicatória
epígrafe "E t lib e soi t cett e infotune  .  De maneira a não me permitir nn
ca ma is pen sar sem ter em vista as mais ansiosas pro vocaões do espír ito, a
nova epístola ao e-ftro coríntio vaticinava logo à primeira páina "Le
tems a é té convainc u d'ête la division et le mal . Mais au-delà  l ui commen
ce une libeté frtnadamente sei hoje, com Yves e João, não menos qe
com "o  aqele João ingém companheiro me de presídio, qe essa
lib erdade é poss ível desde já, c st osa qe se ja ao dar a conhec er ses termos
para além do qe, antianamente, insistimos ainda em chamar a Beleza, o
Belo e não o B em . . . o qe respeita m certo sleen heróico  ao qal, des
de qe encete a composião de O esecto refiro m dos pólos do qe se
poderia c hama r de "teol oia negativ a na econ omia deste livro , devolvo a
palavra, como prometido, a mestre Cabral-everino "Badeaire, escrevia
ele naqele mesmo ensaio, "m dos que mais violentamente sbverteram
(nos so) conc eito de beleza a f ria chamar êve  iee sonho esse marca
do pelo des ejo de cons trir m tipo de n iver so qe, deprado d a realida de ,
habitase  ma dim ensão de erenidade e afastamento  . . . ] ma Idéia de Be
leza qe ai nda é nossa, embora já nã o seja a noss a, e por isso à palav ra be-

67 Vese-lhe os stos e Folhiha com figuras, VI (io Segundo)


68 Editions du Seul Pis 196 J 

eza pref eri mos poesia'  com s eu sen tido extra ído a não s ei qu e perturba
dora atmosf ra meta fsica (Q ED)
Bonne não o dizia de outro modo, se bem que seus exempos à épo
ca configurassem para mim uma sucessão de enigmas E assim foi até o en
contr o destes ohos que a terra há de em brev e com er com a rea idade viva de
uma imagem a essueção segundo o mesmo Piero em Borgo Sansepocro
 qua a partir daquea tarde de  jama is dexaria de m e e ncu rral ar entre
o rea a dizer e sua figuraão estética, ainda quando sadiamente metafísica
"Quel est ce Chst?, perguntava aquee meu correspondente e respondia-o
de ong e, com u ma aderncia, uma pro ximidade que do am " la fos mate
et Logos l est l'homme même tel que Peo l'a êvé D'une lbeté mmoble
otale  mas  mmobl e come celle de l 'abe ce modle de la col lone l'abe
qu meut sans savo  mot Il y a des ye gnds ouvets au sec et de ye
feés Il y a dans l 'humansme du Qu attcento un moment de quas vctoe
quand le nombe a u ête s ou une sot e de gnose Mas est- l va que la
mot l'nventon de la mot y sot v ame nt guée? La lae n 'a as dsa su
le anc de celu qu essuscte    
De to, como eu o hav eria de ver ifica r ao ong o dos an os , havia, si m, in 
dícios de que, em seguida àquee assombroso cume, a obra de Piero viria a
marc ar-se de uma espé cie de échssement no mais obscuro do caro-escuro
da enigmática Palla d Be , retornavam o tempo e o medo, segundo meu in

terocutor daquees
tristeza, assim tempos
o herosmo da primeira
ssim c Renascena
omo a arte gserega
teriasedesconcertado
teria termin ado
e pea
perdido ao otim ismo mai s resouto (e , sub screv o-o, o mais coerente que ha ja
tavez jamais conhecido a História) iria suceder a pior angústia inda hoje
aquieso aparentada desde ogo ao expressionismo nórdico, certa ansiedade
preparava sua gritaria estóica, através sobretudo do Pontormo, a meio cami
nho entr e as hesita õe s do mane iri smo e a pena ef usão barr oca  Sua erupão
mais contundente , é sabido, surge com o San G acomo della Ma a , de Cos
me Tura, mas eu só viria a constatáa, à la vo de mes yeux vue, quando de
uma dramática v isi ta a Ferrara sotto  vent e  lamp daque e para mim deci
sivo Inverno de °• Que anistia tinha o poder de atenuar mais uma t ene
brosa e xposi ão da "derro ta do ser-no-m undo? m a ta exposão de expressi
onismos aparecia-me como o smboo vivo da minha agonia pessoa daquee
instante Meu povo virava mais uma triste página da História e eu dava de

69. eja-se, nesta obra, ago do intenso roteiro daqee ério angstiado, como restaria nas
meditações de Ncimo m ava e Il Gorgo  l Città (Livro Segndo).
73
cara com o reverso da medaha da esperana, aquea mesma que no déi
ramo do Próogo de Le Vai Le Vain (por isso mesmo aqui presente em sua
versão vernácua ) e u havi a pendurado anos antes  minha precária metaf sica
da arte, esse recurso perfeitamente vi d criatura entre a uz do entendi
mento vain e as i mpass veis cariátides da noi te  Mas conf onta va-me então o
pior de toda met afsica, a dúvida quanto à eg iti midade de uma particuar v i
são ante aquee Cosme  il vecc hiacci o da Feaa  eu duvidava do Piero
de rezzo e, ato con tnuo , na ân sia de redesco rir "um a c onfigur aão primor
dia, tomava em direão a Ravena as mesmas "ruas impuras do Inverno
qe Bonnef a partir dai vaentemente trihara em direão a sua Chaelle
Brancacci "Veilleuse de la nuit de janvie su les dalles  comme nus avons dit
 ue tout  mouait as!  Ainsi avionsnous is ves des es  ues obscues  le
vain chemi n des ues imues de l hive  • ão há do que enver gonhar -m e as
sim tcomo
não inh a mi nhas
ugar no pe rpexidad
acordo das f esrmas
de então
enqu, oanto
mundo ag onian
esperan a deteuma
de Cosme T ura
aertura ao
ime nso , atravé s de uma adesã o do artista às promessas da transf iguraão con 
seqüentemente, aquea recessão do esprito me havia de parecer ainda mais
acarunhante que as dúvidas "temporais de um Piero envehecido, quem
sae já atormentado pe cegueira fsica, cedendo à tentaão do eo puro e
pintando, um pouco como o moriundo recorda um sonho entre dois sonos,
a perfeita C idade Idea segundo erti ( se de ft o é do seu pince  aquee im
pec áve mapa do ame jado inco nheci do ) Em todo caso, àquea atura era ine
vitá ve, quase natura que eu, pis de cou, or um in stnte tomasse o v ene
no peo antdoto
Hoje perc eo o que ent ão me esc pva que há sem pre um in stnte em
que a noão de metnoia significa ago mis que uma conversão, no sentido
que he dá a tradião cristã  chegase a um ponto em que seu sentido etimo
ógic o de "re viravota i terame nte i mpõe ao esprito rod opiar no turihão de
uma escoha inadiáve entre o que chamarei de "perspectiva de renncia e
aquea dimensão, em si mesma egtima, em que se dá a contempaão das
coisas deste mu ndo, por ma is desentador as É em junturas tais qe srgem
inte iras o ras-prima s, co mo, em recent e exempo, o Poema sujo a sair da pen
de um Gur reaista, mas in temis    Er, de r esto, a ago de precido, à ú
70.  . Notre confusion et notre désordre radicalent évincés  !'esace clai r  l'ige  ar a
découverte d' une configution ordiale . à atir  laquelle il n y aurait lus que déduire une
inéuisab le vérité. " Y. onney sore o eeo nor os reso ms rrnos e n
rneso d'rezzo) O cit., p   6.
7. Poes, p  08 (Gmrd, Pris,  973).

tima agonia d Piro, qu st anos ants u prstara omnagm na Oxfod
Lite evi com minha primir a sqn cia íri ca m ings, Tose stange
hunte  amparava-m ntão do qu o próprio Bonnf havia pondrado
quando, assombrado, rcordava qu um Botticli, potiniano  artista cristão
por xc nc ia, trmin ara por r cusar -s a todo iman ntis mo  pintara La De
relitta   . Q u diz r fc a uma tão i ns prada r viravot a, vrdadira metanoia
pictórica Qu ai a crudad do aie-plan signif ica , ou sugr , o soim n
to da ama abandonada ao spao avz, mas onnf prfr concuir
qu, s d  ato Bot tic  i ncrra-s no tm po nfrmo como no nigma a  u
cidar ,  cr aind a numa promssa, conf ia na via d saí da d uma graa. ão
parcrá muito, mas , como diria Brnson, o snsua ista,  na vrdad qua
quer um daqus stritos anlo-saxõs namorados d toda ssa nobiíssima
prpxidad it does   a ll th e dieence   

tudo mimpls, é caro, masa isso


m im frmntav anto iu mia
nãorodasabia aindad
maturid naqu  instant
x prssiva d Frrara
m qua
Ravna , a Roma  a Ravna outra vz, todo aqu  pnos o  insprado pis ó
dio (ao ongo do I nvrno d 1 979 até o Vrão d o ano sguint ) m  avia a rras
tado a uma duai dad prturbador a. cab ava d v ir a púbic o a prim ira diã o
d Aout the Hunt  na qual m parcra avr ogrado, snão uma sínts,
ao mnos uma cooc aão concisa dos mntos d um drama f ito todo d pa
radoxos    is q u, arquivivo, cgand o até nosso s dias, conf onta va-m mai s
um  o paradoxa movimnto convrg nt  d duas arcanas tss opos tas , nc ap
suadas, insistia Bonnf, "dans le dogmatisme et le onisme despits aussi
génée qu inconc iliales    mai s grav ra qu m i nt rrogavam n tão duas
visõs x mpars, não do r a, mas d su astamnto d nós pa art , ns
s ogo mnta , nssa cosa mentale d qu não s capa nnum a rp rsntaão
do qu é, do qu á.  não conf undi r, dsd  ogo, com a "cois a- m-s i anti a
na, a qua, s smpr m causara spéci, viria a torn ar-s aos mus oos num
dos mais rpnts mbmas do m undo-como-idéia• Porqu ainda ai o pa
radoxo instruía mais do qu prturbava, como é d sua naturza  funão in-
72 . Livro Pimeio Mais tae mina ve são o vaiação v ená a  os ess ostos aqe
as lías (Est ns caçar es Livo Pimeio) sei a aina mais iniativa qanto a es te onto
73. oto sem esita o veeito qe soe o ieaista  Knise oee João e Satimo
nosso rane exosto o ensamento e Mae Bne tão mais eno este o se have
astao a temo o ntismo "aionaista Kant não si aima o atama one a moa se
eativ eano e se eiaz  eativiae a ei moa stai-e a onição e ei es
zenose otanto o se oneito [ . ] O imeativo ateio istão é nao no ieito na
ta [ ... ] sem aala as oens a azão e a é". oão e Satimo Intu à ls 
Maurice Blol  226 . 2a eição Faae a Ciae Etoa io e Janeo 1997)
75
trínseca de vig a-m estra do dr ama da r azão Iu streio como pude nes te voume,
e mant enho o que m edit ei e escrev i vid a ara mas como esc ohe r entre "a vi
são qe se vai tor nar a cra com o M asa ccio  e Piero e Gi orgione e E Gre
co e ermeer e C aude  e por otro ado, peo av esso daquea visão r edento
ra, o número qe se vai transrmar em símboo ão menos espndido, se
infinitame nte ma is inq uietan te, que faz er daquea z d e embema, daqe e
so parado qe, reverberando em toda ma inhagem istre, vai de Ucceo a
Botticei, do ateaunisme de Micheangeo aos póos, não obstante opostos,
de Leonardo e Rae  i brihara em sua avora da orguhosa a quea u z que,
pensada sem dúvida na agonia, egaria à penumbra nas ante-saas do conceito
os ec os e refexos de m Pous sin em ngres , de um Caravaio em De La Tour,
e dai a Cézann e, D egas, Mo ndrian , ee "  et bien d 'autes ence! Como não
amá-os a todos, pobres, nobres cisnes no exíio Moduando e coorindo as
tentcstas
às aõe sdadenossa
mai s confiana
m a sedtora ap ostas eu
no efmero, ia, vai-se uma
sei, mas, ahvez
quemais con struir
espendor neso rea
sa tentaão, qe trin tão grave
go m ais tarde , e em c ircn stânc ias ago mais dramáti cas, e viria a di
zer (ma ) o qe co nstatara tant as vezes muito be m que a uz, "o ouro da s ma
nhãs sotas na brisa, fnte e irmã daquea emoão qe ordsorth queria
"ecoected in tnqui ity, tem, como o coraão de tudo, "garras anônimas e
negras Conceitua o não, tdo o que aquea uz nos diz não nos a ape
nas de ma perda, mas também de ma transposião de panos e intenões,
de ma inevitáve passage à niveau entre a emoão, a concepão e a expres
são qi, qase ao fecho do Livro Primeiro desta obra enfim encerrada, mi
nhas Vaiações sobe a Mona Lisa do trio Da inci-Pater-Yeats canta, o quer
cantar, esse eegíaco "ago mais que nos comove porque nos escapa Porque
a "z pensada não escapa incóme tampoco a sa eventua tradão em
arte, há também, por assim dizer, uma sa "conceitaizaão Desdigome,
arrisc o desm entir- me até, mas af irmo apena s o que tenho por certo qe, in
separáve da vida do espírito, o paradoxo é nosso espao existencia, nosso
tempo de aporia e redenão e acrescento uma vez mais a estes babucios a
corajosa c areza de m mest re c onfrontad o à síntese dramática de E Greco,
Bonne f escrever ia  "La synthse  l 'at n est jamais q u un paadoxe Ee n a
 éaité qu'instabe au sein d'un mouvement  'esit qu'est 'honnêteté
même en cei qu'i n'atténue as es tees en ésence et ne cheche as à es
conciie [  ] éa ité ambigüe et médiatice mi hysique et mi siituee .   i y

74 Brun o Toentino, A balada  cárcere, p 4 (pooks, Rio e Janeiro, 1996)


76
 pluseus sotes  lumes et l se peut ben que celle qu pmet meu
une élté tnscendente sot un écl éclt nt u cont ct  l ténbe à 'oc
casion d'n ob e t reten  i-mme dans  es ombres    
C aro, o gri só podia se r me , e, á que me in tromet i, não resis to a co n
cuir na  ínga qe ouvi bem antes de vir a saber o qe f ossem "divino, "a
sncia, "para doxo o  me smo "z     arte é m a s íntese, sem deixa r de ser
m paradoxo sege-s e qe só pod e existir nos i mites da ma is peric itante i ns
tabiidade , segndo aqe e mov ime nto do espírito que é a cara d a hones ti
dade, o a própria, e portanto não tenta atenar os termos confitantes nem
conciiar os inconciiáveis É exatamente aí, nesse ac úm o ins stentáv e de
escuridões esdrúx ua s, que surg e a questão da uz  qua  (ou as q uais ) é (ou
são) de natr eza ambíg a, ogo, medi adora(s ) também  e á vamos nós em
busca d e ma conci iaão que á se sabe impossí ve  ão importa, porqe, no
processo,
pressã o odescobre-se
reaidade fqe,
ísicapintada
 queounempensada, reaa torn
por isso ou conceita,
a menos mera
coisaim
do espí
rito , a uz é mútipa, há várias deas, sobretudo nesse mboglo que cha
mamos de arte E agora Bem, se há muitas, há de haver uma que exprima
mehor as rea idades transcende ntes , á que para as de outr o tipo há a crôn i
ca d e or na  
Ora, é possív e dize que a uz, como todo conce ito, imagem ou r eaida 
de passados a o cri vo do entendimento ra ciona  sempr e tão inadeqado
quando se põe a f ar de coisa s que ma percebe , é p ossí ve qe aq io a
que chamamos "a uz tenha um significado bem concreto, nada abstrato em
todo caso Certamente é pos síve perceber que em pin tura a uz é uz mesm o,
o imitaão da uz por meios químicos, o que ainda é mais impressionant e
endo assim, é possíve qe numa tea, e de um certo modo num poema, o
tipo, o representaão da uz que mehor exprime aquees vaores a que em
prestamos m s ent ido tão mi sterioso que nos at revemos a cha mar o indefiní
ve de sa grado, sea  stament e ma z ainda m ist rada às trev as  aguém
disse nec l sne omb C aro, a rep resentaão da uz que me hor e xprimi
ria o qe é por natre za octo só poder ia ser m efeito de uz em reaão a,
ou em contato dire to com, as sombra s  que sem ea, ai ás, nem sequer e xis
tiriam! O esperto do Cara vaio que o diga, tão ogo o entendeu ach ou modo de
não pass ar de todo desper cebido, apesar d e também se chamar Mic heang eo,
coita do    Desde a Renascen a, ao menos, sabem os que em art e, e a comear
pe a arte da pint ra, são os vao res mais turvos qu e def inem o qe cham amos
"o divino, coisa qe só nos é perceptíve através, ustamente, dos aspectos
mais eqívocos de sa asncia Caro ão creio, mas queira-se o não, é

as si m e s as si m que o a radoxo da ar te reroduz a , or ass im dizer  "dia éti 
ca das man ifes taões do sag rado    Que não se deve ter o toete de ten tar tro
car em mi úd os , mas que todo dia no s deixa um recado ir recus áve todo inr
túnio, incusive o das aavras, que é eminentemente o nosso, é ainda assim
uma desgraa ivr e o astant e para ensinar-nos a escapar por entre as malhas
inrnais da Dama Idéia E o artunado que tiver uízo, ao ver-se enfim do
outro ado, irá ogo encontrar-se com o mundo como ta, que é onde vivem o
rea e tudo o que, não sendo de a, da ve nerad a Dama, s po de ser d e Deu s!
(Co mo assim , "tamém o deria ser o contrá rio, Quintiiano !)
7
IX  M   I C D I D  I   
 IMI Ã  D  M   I C

RDÃO S R  S O  OS SS     FL ou ensv ou me ou


vi flndo soinho nqueles emos finl inh deoio nos como o Pelé
que cbv  de rer r  cs   o Jules im e enquno e u l i Kierke
grd   d u m sbe como se enend e o difcil é sber o que recis cbr
de enender e nisso eu ive sore ou ive livr eiros do gabario de V nn  e An
drei A rir dli a h is óri já fi cond  m s vle observ r  lgum leio r que
or indverênci enh bero o livro logo nesa ágin que minh jornd
rumo  is evidê nci s não i nem hveri de ser dquele ono em din e nem
cur nem fácil usrmei décds de conemlo reflexão e nálise
descobrir que enre osme ur e Piero dell Frncesc como enre nos
res ilusres do mesm o o de "rélistes fonciers, de fo não h vi mis que
um nf im dif ren us vme ve r que  fsse elo sentimien to trgico de
 vid  que nos chm Un muno fsse or um qulquer sbedo ri a cons
ruir s obre ele  odos os g rndes  os m is f inos hidlgos del rte , ncorrm
se no mundo da imnênci dquel necessidademãedainvenão onde há
que undr s obre o ouco qu e se em  Nem mesmo um   lio md ure
cido e converido conseguiri consiuirse num exceão convincene  ess
verdde ines cável conc lusão  que ele m esmo ch egr o escrever "Conse
quentely I rejoice  hving to construct something  upon which to rejoice    As
sim o v e dos home ns ocos  o ch egr à su Qur Feir de i ns dv voz
 um dos mis dens os rdo xos d fé crisã  in sis i em que há um legri 
75 No entanto, pasmo que tuo isso já estivesse impcito em meu útimo tiuto a Eiaeth
Jennings (Lio Seguno) a popósito e su pungente coetânea, Grng Ponts (OPN , Ox,
976).

79
construir-se das runas de todo roeto (ve-se neste meu ivro Ú ltimo o so
neto ); quando o ser, eché no se() di to già mi , confia na destina
ço final, apoteótica, de cada criatura, sem dispensa do que sofre e obra ain
da. Sei hoe que só a ssim se atinge o lug ar no mais de uma atar axia, mas de
ma aoria ilumin ante , onde ve r a mo rte, ou dissiála no unive rsl, como nos
mel hores mom ento s de toda grande arte (e e nso outra vez nos sustos de Fer
rara e nos a sso mbros de Arezzo) , talvez sem de to uma só e a mes ma coi sa
ertamente à luz da ase com que meu demônio uvegnt encerrava seu
guiamaa de toda uma oética da busca inc essante do r eal "  u moins ou
un jet en nus n'est-c e s que nus uissions ele du nom  oésie    
N'est-ce s.   ? lementar, meu caro tson!  sim, sim, consentia eu qui
voulis bien; mas, ao abrir-se do enúlti mo decênio do sécul o, como seguir desen
rolando até os últimos aos o novelo de um ro eto ao qual eu acbara de dedi
car vinte anos de reflexo e duas co letâneas e m "ling ignot e stn, ara lem
brar o verso (e o exemlo) do jovem Milton, italinizante nche lui Obscura
ment e, e m 1 959 eu havia intud o aenas que sua hioté tica rea lizaço iria deen
der tanto da integridade do olhar em su a aderência ao mundo, ao real, ao que ex is
te, quanto de uma técnica da rte de dizer que abrisse a via àquela "música que
se z com as idéias, na exata e desafiadora receita de icardo eis ar a oe
sia. Ma s,  assados aquel es vinte anos . . . Se com "as idéias se z ia a música do
ser nest e mun do todo erec vel, todo feito de brilhos lze s, a  déi, sombra la
ônica no cho
samento, das subst
da liberdade ância
f eit s aristotélic eas,muio
 ensamento, não menos
er ainda o tre ca
a músi mor vital
que se doz en
com
ele. Por outro l ado, o ogos, o Verbo, or mi s cris to que eu me quisess e à bei
ra dos quarenta , no arecia ao ex jovem es teta de ento um esteio suficiente a
garantir a cororificaço das músicas da mente. O pensamento que se encarna
e musicaliza o gaz, incrustandoo decisivamente no cous da lingugem viva
de um ovo a um dado in stant e, no rovinha  no me tin ha em todo caso ro-
76 Bonney iria a ponderar o péripo eotiano nos segntes termos Eliot ns e Waste

u a fulé ressoure
Landparox/e ai myth de  ulture
L'homme me.dns
s'est engagé Mais iluvais
en a méonnu
denirouEst-e
désirépar
montre
désespoir
qu'un vie plus haute a nqué? Mais si  'était le ntraire qui ft réel si la strili té métaphysique
n'était que la onséquene d'une mo inuiosité? N'est-il pas dit au hâteau du Roi Méhaigné
qu'une qustion suirait pour que le h se brise C'est l'honneur de  pensée oneptuelle que
de qstionnr plutôt q  répore. C'est l'honneur de tut pensée L'Oident a l om
mné ave Oedipe" (L 'ae et  lieu de  poésie" in Lettres Nouvelles Pars, março de 199)
77 nse dnn e givani amrosi / m'aostosi atto: E perh srivi / perh tu srivi
in ling ignta e stna / veeiao d'amore e oe t'osi?" (ohn Miton, e talian Pems
 Sonnts The Carendon Press, Oxford, 17)
0
vindo  mi rculosmen e do éu como o eus io cor o mor l ; nes me
hvi ssldo como o sereno à rdinh, celebrndo mis um di que se desfi
er e se er di en re ouros e ocres , ns ocid des e brum s des  err rovi
sóri Ou, ensv eu o reler el m ilésim ve  irreocável versão vernácul  que
o oe Geir mos nos deu do Eisemit de ilke o ensmeno musicli
do,  músic  não "ds idéi s ms dq uilo que o r fice do sens vel  "com
els , subi, sim, "ds ln cies erdid s n sudde, dquel es miserios os, ines
goáveis celeiros d r vil e d sensão imlável, "r cir dos céus so
bre  cidd e    os c éus, sem dúvid, ms sobre qul cidde? A idde dos Jus
os ent re cujo s muros, jusmene segundo Plão, não cbi  o oe ?  s sim
i como, risoélic oomi s or eme rmeno e r mã o, s sei  merg ulhr
nos Diálogos, em busc de um snese imrovável enre meu senimeno do
eo en rmo e o universo imecáv el d Idéi    m conseqên ci, our ve
rsguei resms e resms e, o con nuo, rous me recomor  cpo meu sem
re nsiosmene neldo us gum o já inc onáveis ve es mlogrdo A Imi
to  Amhece Hoje,  dus décds de disânci, é  mis ráid imer
são no que viri  ornrse quele livro confirmme seu roundo renesco
com ese; o cso, dois exros do Seguo mimeto dquel rilogi, o A
te spito subiniuldo As tos

Se cbenos fer do insne u esculur,


ess i lum inão de que é f eio o resene
 relâm go de nácr  há de ir s emr e à frene
dquel oerão sbendo que não dur ,
sbendose modelo ens d fig ur
que cd uão, cd enlhe consene
em reduir e conduir à frm ur,
à for m que ficr d  noie sensciente 
Que se o cinel d Hisóri e  mão do ser, doene
deoml
sã brir clreirs
indcios d feb renix
velhond,
selv urgene
 escu r,
e doloros de ssr, quem se rocur
enconr esse clrão muliráido e sene,
como eu seni, que ud o mis é um imosur

78. Cf Geir Campos, Poesias  Rai ne r Maria R ilke (Phiobi bion, Ri o de Janeiro, 1955)
1
omo o ião rodn do só como o ião
com o o delrio circulr do beduno
n rei sol como quel roção
inerminável quele único genuno
senido d ixão do ser como o connuo
sem seni do do ser gir ândol n mão
d im erfei ão rodoindo ne  noão
do cenro imginário o ono reenino
e m igrório do  recário do des ino
ndrilho do coro ess e brilho em que v ão
se reunindo e disersndo o desino
e seus nsms convergenes corção
é s sim que vis d Alexndri d emoção
à Mec do rel cor ão er egrino  . .
Cum universo rpi   . Arecime enfm clrmene que quele meu
"rimeiro e derrdeiro lvr o ns vezes r ecomeç do eri que ser mbém
e sobreudo um jusi fcç ão fnl  es e in fn dável rr zodo lásico flosó
ficom usic l . . . Nquele ex o mesmo c hegu ei  chmr de inermná vel A Imi
tação  Amanhecer  segundo  senenç de Vlé de que Auden f ri um
lem um oem só muio rrmene esá cbdo s mis ds vezes esá
e ns bnd ondo ; ms  enho ho je or "qu se ron''  úni c de minhs
coleânes desde   hver sido com os neirmene em orug uês  Ve
nh ou não  l ogrr dál  ú blc o ind em vd o resene volu me qun
do não se j m is  há de v ler como um eséce de r oscênio dquele um seu
nsido e rolongdo rólo go Porque só ss m  só endo f n lmene em vs
o resge dquel reniene obsedne "romssór ude reomr o fo d
med nquele O uono de  e rosseg ur é  úlim  s ílb cer b es
minh orurd e oruos leiur do que décds nes chmr o mundo
como idéi  Amb ides ro um vez mis  engolf do our v ez enr e dus vo zes 
denr eim e ss im c om mi or deerminção ind  no dr m d r zão  com
udo iso e udo quilo n cbeç e rmdo ens de um esfdo fio de
Aridne  enr dr senido à dul dficudde de levr  bom ermo não
ens um ms dois livros enormemene imrudenes.
Porqu e  um bu sc r doxl e il umnne n ão escr i mis   med
çã o do mundo ds r ms e  f undção de um l ngugem à luz de m séro s
imoss veis de elu cidr  ou sequer de comor num  sínes e reo usne 
já não brim m ão d e conjugr em m m su s ex igênc is   os idos de 

té quele drmático Outono oxoniense vinte nos deois eu cegr os
contr rtes de u m oétic, mrndo dos rudimen tos de um  recári f i
losof i d frm nt es mesm o de f inrme  m vo essol   ei s qe do
quilo me levr, onde seno o mosico vivo de Alexndri, às comlexs
ntinomis do esthanatos, à esqu in d mis nig e inco nci liável dels to
ds  ntino mi OrienteOcidente    Aos fins de 1 97 9 eu co nclu enf im 
trvés ds trxis d construo mtemátic em rticulr d ógic Mo
dl que então me scin v e ocu v ntermin velmente  or um met
fsic d er sectiv  ssim c omo de um nt uião d rte (e em esecl d
intur como ntese d Hi stóri) c egr  ntes à noo de "ersecv is
tórc como um mldião, um vtr do temo enfermo Psmvme que
"tudo quilo ouvesse comedo nos ntes que me usesse  eqenr
muses e  dentrrme n Hi stóri d Arte té or fim vir  entender  que
digo?  té comer  suseitr que  geometri  um temo mni fest e
ocult no visvel er congênit  mbos os modos de exresso
Gêmes num mesmo gemido  rte d intur e  d lvr, longe de
se constiturem num diviso rbitrári, recimme finlmente como s
buscs erfeitmente rlels d mesm eini do sensvel ois que m
bs se dvm tr vés de um visão  est últim  cso eu or f im logr sse
êl cber stistorimente nos lexndrinos d A Imitação  Amanhece
 bitri enfim  mdure do cnto do mesmo modo como neste livro
A Imitação  Música eri ous do entre o verso e  tel  ntu rl e geomeri 
cmente, m ve colocd em tod onestidde  grnde questo, segundo
 lio de Bonney  nd menos que  veri fico ,  ex osiã o e  interro 
go do rel cont r o fundo de "irrelid de d rm Por tudo i ss o, sem dú
vid  inquietude qunto à suost "modernidde dest últim recer
me semre como um irrelevânci  ed heing. Quisquer que fssem s
inev itáveis quest ões téc nico exress ivs  u m ddo mom ento,  frm ou er
 trduo nturl e conci s erene e tul  de vlo res ig ulme nte temoris

e  como n ão? 
m sum, esir
quele "rituis,
oetoou
emernós mud
que semort incmr
udesse orme de oesi em
nd diferi finl, d inerrogo filosóficovisul do mundo; e no do
mundo como rênci ltônic, ms como rião substntiv  it
góric oscn rens centi st às moderns Al exndris c iti s do efêmero, o
mundocomotl é tl como rece, ms no é de modo lgum mer "re
cen; e se n  rte ode vir  ser lgo de muit o róximo àquil o q ue de fto
é, é orque esse "fo, jmis um mero ddo n equo, no oderá nn

ca estar mais qe precariamente "resolvido nas tensões do sensvel com o
frmal, do real com o pensamento Assim como na genna música qe se
 com as idéias, no poema clara e organicamente ennciado, assim nas te
las e af esc os e vitrais e mosa icos e m qe a gr ande arte confronta a enf ermi
dade do olhar, adverte-se a imanência do eterno no sensvel em qalqer
desses difceis, frágeis trinfos, brilha perfrando a brma o mndo recon
ci liado para além das locas teosofias da Idé ia  não por acaso o Ateniense
e o s tagirita dão-se sbitamen te as mãos no Phaon; jstamente no Diálo
o sobe a imotalidade da alma, ficara dito a una voce qe o pensador "não
ignora o qe aparece, o qe emerge, o visvel, o qe se vê como algo mais
qe m a pra eman aão da Idéia no reino sbstan tivo e mortal das essênc ias 
i ok ano ta aonda
84

X NOI

 RNNO S D D LCRMNO MNL or um hioéic elusiv hr


moni . . . ever i ser udo ms não. Ale grme recordr que b em n es de
indveridmene vir  "imorr um l roblemáic ive cesso  um in
discilindor nivo  um brsileirssimo rofessor de dúvids omo ficou

dio orpel
escrio vol
ri do Nl
meir vede o 1c9ridor
58 sob
de insigã
Douve oMs
de Vnn e Andr
ne s mes ei  eumehvi
mo qe che
gsse um resos (no enveloe or gulhosmene gulê s é n  cl igrfi es 
rid Chez  Libiie Léonad  Vinci  a bons soins de M . Duc hiade ... )
já Ferreir Gllr em f ins d e 1 9 5 7 m e levr  ensr e ver num o só. O m is
discreo denre nosso s grndes oes  como o gud o eldor d vid  ds f r
ms que já er or direio rovdo escrevi enão no Sulemeno ominicl
do Jol  Basil, em des d concessão do Grn de Prêmio d V Bienl de
São Pulo  Giorgi o Morndi  que ele mbém o reri  M rc hg ss im
como (e li esv  o gr ão dese liv ro! ) o bildo eséico  ou seri "esái
co?  de Polo Uc cell o pref eri o mundo co ncil ido e geomérico de Piero
dell Frnc esc . See  nos de  sor mis jov em que o fuuro uor de 
obable, e exos de oio meses nes de le fi sem dúvid com ess rime i
r lusã o  um "segund simli cidde que o uor de A luta cooal come
ou  brir me os olhos r  ques ão do re l em ermos ds r es do vis vel
do simbólico e do concei u  ss im com o do cno em que  vid do es rio
une sus conrdiões viis sem cur de resolvêls num fórmul ou nou
r de um suoso  e susei o  reouso inelecul 
 ode recer esrnho que fosse recismene em vor do universo
menos geomérico que concilido do grnde recluso de Bolonh que o indo

85
mável vng urdis de en ão  izesse su escoh  m s ho e eceese qu e e
er consisene com su usc de um "or dem, ou eo menos de um hie
rrqui do es írio que ous ess e às cc onis do l irism o onírico go mis qu e
s logoni s do conc eio  deci siv conriui ão  um ovem oe em rmão,
ão erlexo quno dissisio ne s cosmogonis visionáris de Jorge de
im e s reduões crins d líric às eosois "vérysnes de um
"oeividde de cunho idelis, cuo viés mneiris, de reso, não oderi
senão revelrse cd di mis conceiu is esrnho ind me rece
hoe qu e me ss e ddo erceer enão, ou ne s, inuir nque ri mei o o
sião de comlemenres, os elemenos de um visão cuelosmene uniá
ri, à qul scender el conugão de dos modos de um s "imião d
músi c  que qu e se z com s idéis nes de r ecer enre o s nems
e os incéis  que se á em ângulos os esos de um el e  que nim
os com sso s do emo num oem  ms são ecos de um de n ingíve ,
e zemse de o "com s idéis, se semre oliqumene e  um lo re
o s não é menos cero que ms morrem igumene suocds e
déi, em   ou eim   cenr  d ese li vro   
es ri g r mscc inm ene o dev ido ruo àquele que f o sem
dúvid nosso mior inquiridor do e d rm como one enre s dus
lngugens, ou mrgens simlics, de que se ocu es coeâne ogo o
início de 1959 urilo endes reunir sus Poesis omplets,  que se se
guiri, no nvern o dquee mesmo no, empo Espnhol, cermene ouro do s
cumes em su desine or oéic uvi rumond conessr enão, 
lrice is ecor e ry de liveir, hver "síd o esmgd o (s c d eiu
r do volume d José Olymio, e isso mlgdo s reservs que semre fzer
à oéic de seu conerrâneo e coeâneo erguhei o conínuo nquees
volumes-u nive rsos  neles enconrei, mis do que food for thought, um insu
ordinne con ron o às r eocuõ es em que m e hvi reciido  eu
ão do ensmeno de Bonney em meu ind inciiene universo men
u rilo
rável doémun
en redons
dso oe in
rms comoor exr
or nur ez, su
esso ns visão
dimen sõesdodemundo é inse
u m qudro, de
um e scu ur, de um  chd r quieônc , de ququer "ocuão d o es
o emo e eso conugmse nee com um udáci e um riho que
não rro mem  unidde rorimene ierári do oem s  unic
dde de su Weltnschuung não oderi decidir or um rimz de lngu 
gens, ddo que r ele ver e dizer são modos simeses de erceer o mun
do, o rel, o ser omo o queri oleidge, em uro "to see is only  lnguge

onseqenemene, a sua é a mais amla e envolvene visão da are
como roscênio de uma onologia, e não como mero "fnômeno de culura.
Que há nele uma Kultukitik não há neg á-l o m as, ara lá dessa f órmula um
ano esreia, me arece esboar-se coninuamene em sua obra sobreudo
uma inerrogaão, a mais abrangene aé enão enre nós, das maries e varia
ões da exressão arsica no Ocidene a sua é a busca de uma dimensão
cosmológica da are que , gêmea do ro blema do ser , nã o aceias se in serir ne
nhum eseicismo doublé de sociologismo rseiro enre a erceão do real
e, como diria ele, a cosiddett erse civ a hi sóric a . . . om Murilo cre sci afir 
mando-me crisão enre o melhor de que me havia cercado enre o maeria
lismo iluminisa de abral e Gullar e o visionarismo veladamene agnósico
de Bonne fy ive des are   en ho buen  meus ex aos an odas como
qua ro onos cardeis n uma s ó verificaão do mun do, do ser-no-mu ndo e da
visão que nele se afirm e se vai refinndo.  iveos sob o lume da fé, que a
quanas direões se roonham a odas ilumina e susém Não sei de exos
mis insignes, mis insruivos ou mis desconcernes que aqueles an
os em que o gr ande ui-f orano eur oeia va  vale dier cla ssi cia va  suas
visas sem nada erder de uma fra elúrica que fe dele um dos mais no
bres e bem equiados esrios de um Brasil ar ci o, universal e único n o a
norama da ineligência ocidenal. No esao dese á excessivo rólogo seria
imoss vel dar anos ex emlos quano indi sen sáveis ao ene ndim eno exa o do
que afirmo Ma s creias e sem o desaf io, o exemlo e a liã o de Murilo M endes ,
não eria como darv os hoe es a min ha lei ur do qu e c ham o o mun do- com o
idéi sem ele não eri viso a unidde or rás d leor de mundos dese
mundo sub specie motis, e menos a inegridade do mundo ds formas como
o ra ei de dr aqui , sub specie etenittis.
Fragilssim o ins an e, o de qualquer viór ia do esrio liv re, canoro, rea
lisa, visionário e cons ruor , sobre as ira nias enadoras d o conce io ! ne n
dio aos oucos , ao longo dos see ione iros anos em que menav a esa col e
ânea,
soub e-onão menos
cedo, que durane o ero
in snaneamene que,decomo
séculoqulque
que g asei comondo-a
r inor  m as
, nenhum oea
di nada, nem mesmo aeiro, sem uma filosofi da form.  nenhuma filo
sofia afirma o que quer que se sem nes verificr, confirmr e agravar o
mundo, o mundoc omo l. s e "roeo e m mim desde os fin s dos anos 50 
esa s poetic enre duas ares, ese arraoado em defesa do real, ese meu
rebeno dileo, o ródigo, o fvorio, O Mundo como Idéi, aqui fica afinal,
surreen denemene fiel, senão mesmo obsinada mene r óximo àque les di as
7
e inensa perpleiae juvenil. Mas ainda assim, ou por isso mesmo aqui
fica anes assouv que prono e saisio, porque aina e sempre convico
e erar "o empo a iviso e o mal...  no enano, acrediasse-o ou no
o quase-m enino aqueles i as p inor- filóso maqu e pai o omem-poea
e oje  era me smo ver ae para além as sen enças o c oncei o começa va
uma liberae. De ireio e  fato 
Niteói Pásoa   / Adveto  
88
N  MN

  i ok anoí t aronda


PÃO

O mundo como idéia (ou ensamento ).


ntre a gnose e o real (talve) o acordo.
Mas no ramo (i merene) c anta o tor do
( rovisório) e i nvisvel vem o vento

e leva o canto e dea um desalento,


a queixa dos sentidos. Não recordo
se sonhei tudo isso ou não um tordo
e a noite em meus ouvidos um momento,

out ro rato no vent o. . . Mas suor


que o t riun o moral do cogni tivo
restitua-me o ser menos a dor,

é resignar-me a um erfme tão ráido


que não exis te quase, insu bstantivo
como a déia . Não  o mundo como r ato!
 V RO PRM E RO

  Ç Ã O   M O    G M

in via di adonna Vanna


in memoiam Andei uchiade
"hough  ould scon he mee insinc
of fi h, if  ded, h  de no is  se
his oy o vo id ule A veoes, old hehe n,
if only you h d been ig h, if nellec  iself
ee bsolu e l , suffici en g ce ,
ou  lives could be  myh of civiy
hic h e migh ene n uneoled e gion
of eve ne-flle n sn o,  lce bl ing
ih ee u silenc e, s ih o ches 
OFFRY LL,
Funel Music  
Ü E S E CR 

A Ivan unquei

Não há como grrre à nure


qundo  s d noie bix e f
 sombr sobre  ch,  lenh pres

à lu d lbred que  desf


morres despreprdo ou morres bem,
ms psss pel  cin, meu rp

udo lve ressurj mis lém,


ms  bure, lbro, ág ui ou condor
o vôo cb  por pesr e em

que perder liude no esplendor


dos ármos à eseir de um nve
esen dese  mplidã o, ms sem repor

fôlego  um corão é que  ve


recolh  s e rono, se cbou,
fi se o que er ão doce ! ão suve

levious e e m is nd lembr o v ôo   


Nd, nem mesmo  er r, eqidisne
do que ciu como do que v olou ,

com um
 cso equnimiddeque
 inerelssem impressionne
diri?
Nd our ve , ou me nos que o exmne

fingindose imps svel se lgum di 


ouve dier que udo cb  ssim .
Pois fi ssim que o especro d poesi
93
surg iume u m belo di e veio  mi m
s si m que eu con segui lev r  sério
os cn eiros de K n n um rdim

à beir  âmis  ne um cemiério   


  esi ver e u d e mão n o que ixo
 esnr s lombds do misério

seguindo  lógic  o seu belo f ech o


finl se  equão mis rbirri
conseguir mrrr  err  um eixo

qulquer cogião imginri


não seri nem
divgões d mis
hor nem menos
so liri  frgil

rbescos d mene semre gil


o fzer de um rézio o seu lugr
Pois fi enão que ssi m como u m ressgi o

obrig  resirr mis devgr


ms z ber mis re o corão
eu rimeiro senti quele olhr

nes de erceber  ssombrão


que enre o rio o ju nquil ho e o mlmequer
vi cminhr em minh direão

Aônio mrei-me  um mulher


semidesflecido o encodo
er  cr do hrles Budelire
do rero cusido e escrrdo!
Ni nguém v i o que es v conecendo 
em od quel  gene l i o ldo
94
ni nguém notv  quele rosto idênt ico
à coro l d ros co rrod
em que Blke encrnr o sofrimento.

 lá vinh ele nd ndo! svorid 


ms ler t, hbilssim colmé i,
 ment e me exigi um sd

e, s sim como o vestru n te  lcté i,


insist i em não ver não, não seri,
não odi ser ele, er outr idéi

 esumejr n velh legori


dos
snev
nãooeir os que
hvi er ro!comlicm
A ventni ondres   

hvi deendo tnto  s fondes


que  tirv toá ios e sfirs
contr o bueiro em brss do horionte,

ms nele hvi o r desss m entirs


que diem  ver dde conr ontou me
e n um ráido olhr deou-me em tirs

os tros d rão  er o meu homem !


Há múmis q ue m ve de sembrulhd s
têm es crito n cr o nosso nome .

rros , ôni bs, gente ns clds ,


um semáfro o longe, vglume
estáti co entre sombrs r essds,
e qilo  se g itr que nem um cu me
de lmei r no r  e ndndo, ndn do
e desferindo o olhr como um erume
95
de gng ren f l ens rilhndo
o eerno câncer d imginão
que desorbi  mene como um bndo

de morcegos grv  escuridão.


Por fim rou-me o ldo e imginei
ouvir lve  sonhsse, lv e não    )

um b lbuci o fmili r e cheio


de ecos os que ndmos elo cno
 "Andse num v io semre lheio,

enre noões ens, e no enno


nunc
n f bs ou sequer
bulão  consolre
chei de esn o,

de dor . . . Buscs o odo re  re,


queres s erfeiões d geomeri,
e o fim do sonho circulr d re

enregs udo à fnsmgori,


os jogos mlbres d ilus ão.
And s equiv ocdo e nem seri

de su rreender u equivo cão ,


orque, se lgum ve desconfise
dess imrudênci , brise o cor ão

à lu conceiu, o belo rse


que emes orque o dors e e lev,
como o refém que és do que dorse,
de li ão em li ão à mesm re v
É udo semre  rev umuluos,
não or cus d crne , que se el ev
96
qundo quer à estção mirculos,
ms por cus do ol hr que não quer ver
e bism-se em si mesmo, como  ros

md pelo verme e se m poder


de o recusr, tentndo resignrse.
Não te resignes mis  conceber

um triun de idéis, m disrce


pr s crs d morte neste mundo,
um equção qulquer que  mscrsse,

como o médi co mente o moribundo


emetime
o coitdo
com sipixão
mesmonessetmbém eu
incundo

escrnio de ilusões, ms vem do céu


 lu qu e nos sustém,  que lucin,
 lu conceitu , nsce de um breu.

Não sigs mi s  fls  pere grin


que rpt  imgem, roublhe o reflexo
e entreg os dois  um jogo que termin

por desf er de tudo  c d nexo


A terr  é pro visóri e improvident e,
tudo é relâmpgo entre  morte e o sexo,

ms  lm mint não consente


que lhe mintm! A Idéi te convid
ms não recebe nunc e, de repente,
entre  ort d entrd e  d sd
perdes s proor ções e logo  cont ,
o fio d med e o dom d vid
97
fech -se  úl ti m  ul  e  fe r tont
descobre que goni e morre res.
 no entno rer o cisne on

r  lur cnndo, e c om cere


ess cnão no extremo trnsfigur
 cois moritur e  lm surres

entre o número, o nd e  noite esc ur . . . 


98
 GRNDE M P END

Le sience éee  ces espaces


innis  eaie   
P

Se Budelire, à difren de Pscl,


odiou  mlidão
e não soube co ner  verigem do ml
no drm d rã o,

erá sido lve orque insisiu em ver


o olhr que usur e m
 Medus d déi, esse vr do ser
que vi virndo esáu.

Pscl clou-se ne os silên cios in finios


e ouviu de eus  cur
o ouro, o ceidor do m l, siu os g rios,
como u m louc o à rocur 

d comiserão que os bismos não êm


A simles diferen
enre o emor  eus e o ânico de lguém
que O não escu é imens

Um rdicl, um jnseni s, um uri no


d esire de Pscl,
eme  misericórdi de eus (se não me engno)
ms nem em Por oyl,
99
que l fortle do or gulh o hove lugr
jmis r u m bueiro
de que o éu se tornsse  tm tumul r
e o velho desesero

 bússol d vid ou um contreso  l


Vir  lm end
o oet imortl que o brir  jnel
vi do Infinito o Nd 
100
RS ÍRCS DE  UDE  R E

 Ü BSMO

Pscl levv o rório bismo dntro dele


 tudo bismo r  mim  deseo ã o
sonho lingu gem    Sinto rre irme  el
s lufd s do ânico e  e m qulquer dir eão
no lto  em bixo em torno sofro or tod e
o silêncio o sem-fundo o eso que me tri
e me t err    h Senhor  c om que requi nte e rte
eu multirme esdelo es ó Pi!
O sono pr  mi m é um bueiro mldito
levndo
e tod snão
s snei els
ondeeu esóntre horo ror
ve o e neg rume s
infinito
erc do de v ertig em  rod o de ciú mes
do nd e do insen svel  ó meu débi l esr it o
sonhs m is sir dos sere s e do s nú meros

 Ü NMGO

N mocidde ess torment r mim


se um rio clro qui e li  trvessv
os trovões engolim-no e  chuv cor de lv
i gndo os rutos todos do di m
 eism e o Outon o ds idé is    Ml d iso nho
de á e  nc in ho gor r  cvrme novs
gleris n terr  águ s trnsform em covs
h ms que m sbe quels f lore s com q ue sonho
conseguirão tirr desse solo de reis
o mstico limento que  deseito ds cheis
s f rensc er com dobrdo v igor   ?
óino s o temo  curt vid  u sei  ó do
e o obscuro inimigo que nos devor intiros
com o sngue que erdemos engord seus cnteios
101
III s FRÓS

ubens , rio de olvido e jrdim d indolênci ,


rvesseiro crnl onde é ve