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INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA

DO RIO GRANDE DO NORTE

RAUL LEITE DA COSTA


DIOGO TANNILE PEREIRA CARLOS

TRATAMENTO DE ÁGUA PARA ABASTECIMENTO

NATAL/RN
2019
RAUL LEITE DA COSTA
DIOGO TANILLE

TRATAMENTO DE ÁGUA PARA ABASTECIMENTO

Trabalho acadêmico referente a parte


escrita apresentado ao Curso de Mestrado
do Programa de Pós-Graduação em Uso
Sustentável de Recursos Naturais do
Instituto federal de Educação, Ciência e
Tecnologia, em cumprimento às
exigências de caráter avaliativo da
disciplina de Tratamento de Água e
Esgoto.

Orientadores: Dr. Marco Antônio Duarte


Calazans e Dra. Dayana Melo Torres

NATAL/RN
2019
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 4
2 CARACTERÍSTICAS DA ÁGUA 5
2.1 CARACTERÍSTICAS FÍSICAS DA ÁGUA 6
2.2 CARACTERÍSTICAS QUÍMICAS DA ÁGUA 9
2.3 CARACTERÍSTICAS BIOLÓGICAS DA ÁGUA 13
2.4 CARACTERÍSTICAS HIDROBIOLÓGICAS 13
2.5 PADRÃO DE POTABILIDADE DA ÁGUA 14
3 CONSIDERAÇÕES INICIAIS PARA TRATAMENTO DE ÁGUA 20
PARA CONSUMO HUMANO
4 COAGULAÇÃO 22
5 UNIDADE DE MISTURA RÁPIDA 25
6 FLOCULAÇÃO 28
7 SEDIMENTAÇÃO 29
8 FLOTAÇÃO 30
9 FILTRAÇÃO 34
9.1 FILTRAÇÃO LENTA 35
9.2 FILTRAÇÃO DIRETA 36
9.3 DUPLA FILTRAÇÃO 38
9.4 FILTRAÇÃO POR MEMBRANA 38
10 ADSORÇÃO 41
10.1 CARACTERÍSTICAS DOS ADSORVENTES 41
10.2 TIPOS DE ADSORVENTES 42
11 OXIDAÇÃO 43
12 DESINFECÇÃO 44
13 CONTAMINANTES EMERGENTES 46
13.1 CONTAMINANTES EMERGENTES: CAUSAS, EFEITOS E ANÁLISE 46
METODOLOGIAS ATUAIS PARA IDENTIFICAÇÃO E
13.2 QUANTIFICAÇÃO DOS CONTAMINANTES EMERGENTES 47
TECNOLOGIAS DE TRATAMENTO PARA REMOÇÃO DE
13.3 CONTAMINANTES EMERGENTES 47
REFERÊNCIAS 48
1. INTRODUÇÃO

Diferentemente do que muitos acreditam, a água trata-se de uma substância com


uma enorme complexidade. Além de ser o maior condutor de energia, também, apresenta-
se como um ótimo solvente, muito embora se desconheça que já a viu em um estado de
pureza absoluta. Por mais pura que seja uma água, sabemos que sua composição química
é formada pela mistura de 33 substâncias. (RICHTER, 2013).

A avaliação da qualidade de uma água para o consumo humano ou industrial,


tratada ou bruta, é feita pela determinação de diversos parâmetros físicos, químicos,
bacteriológicos e indicativos de contaminação orgânica e biológica (RICHTER, 2009).
Dentre as diversas características químicas, físicas e biológicas existentes nas
águas naturais, as quais podem variar de acordo com fatores ambientais. Diante da
desordenada ocupação do solo que vem crescendo dia após dia, seja em relação ao
adensamento populacional, seja a crescente expansão agropecuária, ocasionando um
aumento significativo da poluição que a bacia hidrográfica vem sofrendo, trazendo
alterações nas características supracitadas. Dessa forma, o tratamento de água é de
fundamental importância para a garantia da segurança sanitária, assegurando uma água
de boa qualidade para os consumidores. Vale ressaltar que a escolha da tecnologia de
tratamento a ser implantada para o alcance de resultados satisfatórios no tratamento
dependerá do tipo de água que será tratada.
De acordo com a resolução Nº 357 de 17 de março de 2005 do Conselho Nacional
do Meio Ambiente (CONAMA), as águas naturais são classificadas como: I - Classe
Especial, II - Classe 1, III- Classe 2, IV - Classe 3 e V - Classe 4. O enquadramento dessas
águas é de fundamental importância para a preservação dos recursos hídricos das bacias
hidrográficas.
No Brasil, as tecnologias de tratamento de água mais usuais são: Convencional
ou ciclo completo, filtração direta ascendente, filtração direta descendente e dupla
filtração. Segundo REALI et. al, 2013, em menores proporções são utilizados em
pequenas comunidades sistemas de tratamento de água através da filtração lenta, não
comparando com o recorrente uso das demais tecnologias elencadas acima.
2. CARACTERÍSTICAS DA ÁGUA

Sabemos que para termos uma água pura, ou seja, de boa qualidade, faz-
se necessário que essa não apresente cor, cheiro, sabor, assim como possua uma alta
transparência. Cumpre destacar que não existe uma água que possua um estado absoluto
de pureza, isso se dá pelo fato da água ser um excelente solvente, o que por sua vez
apresenta inúmeras impurezas (RICHTER, 2013).
Grande parte dos componentes químicos conhecidos são encontrados na
água, podendo acontecer de várias formas, por exemplo, o gás carbônico presente na
atmosfera, bem como no solo, o qual é resultado da decomposição da matéria orgânica é
dissolvido na água, aumentando assim a qualidade de solvente que essa apresenta.
Dentre as impurezas encontradas nas águas, os estados em que se
encontram, as mais conhecidas são:

Tabela 1 Estado em que se encontram as impurezas na água e seus principais efeitos

ESTADO EM
QUE SE IMPUREZAS PRINCIPAIS EFEITOS
ENCONTRA
1- Algas e protozoários; 1 - Sabor e odor, cor,
2 - Areia, silte e argila; turbidez;
EM SUSPENSÃO 3- Resíduos industriais e 2 - Turbidez.
domésticos;
4 – Fungos e vírus;
5 – Vermes e lavas;
6 - Bactérias e Vírus; 6 - Muitos são patogênicos;
7 - Substância de origem algumas bactérias podem
vegetal; causar prejuízos as
COLOIDAL 8 - Sílica e argila. instalações.
8 – Cor, acidez, sabor.
8 – Turbidez.

9- Envolve uma grande 9- Alterações na qualidade


variedade de substâncias da água com seus efeitos a
de origem mineral depender da composição,
DISSOLVIDAS (principalmente sais de concentração e de reações
cálcio e magnésio), químicas com outras
compostos orgânicos e substâncias.
gases.
ALBUMINÓIDES 10 – Nitratos e nitritos;
11 – Gases (O2, CO2,
H2S, N).
Fonte: Adaptada de RITCHER (2009).

2.1 CARACTERÍSTICAS FÍSICAS DA ÁGUA


Segundo Richter e Azevedo Neto, 2013, as características físicas da água
são pouco importantes do ponto de vista sanitário, sendo relativamente de fácil
determinação. A tabela a seguir traz os principais exames físicos.
Tabela 2 - Principais exames físicos da água e suas características

Cor -Para uma água ser considerada pura deve estar


ausente de cor.
-A presença de substâncias dissolvidas ou
particuladas altera a cor da água, dependendo da
quantidade e da natureza do material presente;
-Geralmente a cor na água advém de ácidos
húmicos e tanino, oriundos da decomposição
vegetal, o que não representa risco a saúde;
-A cor é sensível ao pH, logo sua remoção é mais
fácil a pH baixo;
-Cor aparente:
-Cor verdadeira:

Turbidez -Característica da água devida à presença de


partículas suspensas na água (o tamanho das
partículas varia desde sólidos grosseiros a
colóides);
-A presença dessas partículas que ocasionam em
alta turbidez provoca dispersão e absorção da
luz, que por sua vez torna a água turva
(nobulosa), o que é esteticamente indesejável e
apresenta um enorme risco, sendo bastante
perigosa;
-O que ocasiona a turbidez: lodo, partículas de
argila, descarga de esgoto doméstico ou
industrial, ou presença de um adensamento de
microorganismos;
-Parâmetro de fundamental importância no
controle de uma estação de tratamento de água;
-Medida em U.N.T. (Unidades Nefelométricas
de Turbidez);

pH -Expressa a intensidade de uma condição ácida


ou alcalina de uma solução;
-Mede a concentração de íons de hidrogênio ou
sua atividade;
-Parâmetro bastante importante em cada fase de
tratamento, sendo utilizado com frequência na
processo de coagulação, floculação,
desinfecção, assim como no controle de
corrosão.
-No sistema de abastecimento público de água,
o pH está entre 6,5 e 9,5;
-Águas com pH baixo tem uma tendência a ser
corrosivas ou agressivas a certos metais, assim
como a paredes de concretos, etc, Já as águas
com baixo pH tendem a formar incrustações.
Sabor e Odor -São consideradas em conjunto, uma vez que
geralmente a sensação de sabor é originada d
odor;
-São características de difícil avaliação, por
apresentarem sensações subjetivas;
-Causadas por impurezas dissolvidas, de
natureza orgânica, tais como: fenóis,
clorofenóis, resíduos industriais, gases
dissolvidos, etc;
-Sólidos totais dissolvidos também apresentam
cor e sabor em concentrações elevadas;
-Em alguns casos utiliza-se carvão ativado para
adsorver os compostos causadores de odores.

Temperatura -A temperatura é de fundamental importância


por ser um parâmetro que influencia as seguintes
propriedades: reduz a solubilidade dos gases,
acelera as reações químicas, aumenta a sensação
de sabor e odor, etc.

Condutividade Elétrica -Parâmetro no qual depende da quantidade de


sais dissolvidos na água, tendo seus resultados
aproximados proporcionalmente à sua
quantidade;
-Ao ser determinada a condutividade elétrica,
permite-se uma estimativa da quantidade de
sólidos de uma amostra.

Fonte: Adaptada de RITCHER (2009).


2.2 CARACTERÍSTICAS QUÍMICAS DA ÁGUA

Tabela 3 - Principais exames químicos da água e suas características

Alcalinidade -A alcalinidade dá-se a presença de


bicarbonatos, carbonatos ou hidróxidos;
-A alcalinidade das águas apresenta sua maior
frequência devido aos bicarbonatos, que tem
sua produção devido a ação do gás carbônico
dissolvido na água sobre as rochas calcárias;
- Não apresenta significado sanitário, a não ser
que sua presença seja ocasionada por
hidróxidos ou que haja contribuição excessiva
na quantidade de sólidos totais;
-Trata-se de uma das determinações mais
importantes no controle da água,
relacionando-se com o processo de
coagulação, redução de dureza e prevenção de
corrosão nas canalizações de ferro fundido da
rede de distribuição;

Acidez -Refere-se ao gás carbônico livre;


-Os esgotos domésticos e as águas naturais são
tamponados por um sistema que apresenta
dióxido de carbono e bicarbonatos em sua
composição;
-Apresenta pouco significado do ponto de
vista sanitário, mas em alguns casos, faz-se
necessário a adição de um alcalinizante para
que o carbonato de cálcio se mantenha estável,
evitando assim problemas de corrosão devido
a ação do gás carbônico;
-A acidez é expressa em termos de CaCO3, e
é medida neutralizando-se o CO2;
- Usa a fenolftaleína como indicador.
Dureza -Característica que se dá a água devido a
presença de alguns íons metálicos, tais quais:
° Maior proporção: Cálcio (Ca++) e Magnésio
(Mg++),
° Menor proporção: Ferro (Fe++) e Estrôncio
(S++);
-A dureza é conhecida pelo sua propriedade de
impedir a formação de espumas de sabão;
-Responsável pela produção de incrustações
nos sistemas de águas quentes;
-Expressa em termos de CaCO3;
-Classificada de duas maneiras, como:
1º. Pelos íons metálicos (Distingue a dureza do
cálcio e a do magnésio);
2º. Pelos ânions associados aos íons metálicos
(classificada como dureza de carbonatos e
dureza de não carbonatos);

Ferro e Manganês -Confia a água um sabor amargo e coloração


amarelada e turva, oriunda da decantação do
ferro oxidado;
-Sais férricos ou ferros como o cloreto são
solúveis nas águas;
-Há formação de hidróxidos férricos
insolúveis, tendendo a flocular e decantar;
-Em concentrações superiores a 0,5 mg/L
causa gosto na água;
-Traz bastante prejuízos nas águas usadas por
indústrias de bebida gaseificadas e
lavanderias;
-O manganês é semelhante ao ferro, logo é
menos comum, e apresenta-se em coloração
marrom;
-Com o tratamento apropriado é possível
remover facilmente o ferro.

Cloretos, Sulfatos e Sólidos -Trata-se do conjunto de sais que são


Totais normalmente dissolvidos na água, formado
pelos:
° Cloretos
° Sulfatos
° outros sais (em menor proporção);
-Pode dar a água sabor salino e se comportar
com propriedades laxativas;
-A poluição por esgotos domésticos é indicada
pelo teor de cloretos nas águas naturais;
-Auxilia eficientemente o estudo hidráulico de
reatores como traçador;
-Deve investigar as variações do teor de
cloretos nas águas naturais, pois é um
indicativo de poluição;
-O íon de sulfato quando associado a íons de
cálcio e magnésio, passa a promover uma
dureza permanente, podendo ainda ser um
indicador de poluição de umas das fases da
decomposição da M.O. no ciclo do enxofre;
-Maior contribuição nos cursos d´àgua se dá
pelas águas residuárias industriais (curtumes,
fábricas de papéis e tecelagem);
-Em quantidades excessivas em substâncias
dissolvidas nas águas, podem torna-las
impróprias para o consumo.

Impurezas Orgânicas e - A quantidade de nitrogênio na água pode


Nitratos indicar uma poluição remota ou recente;
-Também está relacionado a esse parâmetro o
nitrogênio (orgânico, amoniacal, nitritos e
nitratos);
-Águas que predominam nitrogênio orgânico e
amoniacal são poluídas por uma fonte de
esgotos próxima;
-Águas com concentrações elevadas de
nitratos indicam uma poluição remota;
-Os nitratos provocam em crianças a cianose
ou methemoglobinemia, que é uma condição
mórbida que se associa a descoloração da pele.

Oxigênio Dissolvido -Trata-se de um dos ensaios mais importantes


no controle da qualidade da água;
-As águas superficiais, as quais são
relativamente límpidas, apresentam-se
saturadas de O.D.;
-Rápido consumo pela demanda de oxigênio
de esgotos domésticos;
-Ao se acompanhar com o dióxido de carbono
(CO2) forma-se em um fator relevante a ser
considerado na prevenção da corrosão de
metais ferrosos.

-Presentes nos processos industriais


Fenóis e Detergentes encontrados em solução na água;
-O fenol apresenta-se como uma substância
tóxica, porém antes mesmo de apresentar
prejuízos a saúde humana, já constitui
inconveniente para as águas que precisam ser
submetidas ao tratamento pelo cloro;
-Para a minimização desses inconvenientes,
substitui-se a técnica de cloração simples pela
amonificação, cloração flexional ou até
mesmo emprego de dióxido de cloro;
-Os detergentes em mais de 75% dos casos são
constituídos de sulfonatos de alquilabenzeno
(ABS).
-Os detergentes são indestrutíveis
naturalmente, logo sua ação perdura no
abastecimento de água a jusante de
lançamentos que apresentam detergentes em
sua composição;
-Formação de espuma.

Substâncias Tóxicas -Arsênio; Cromo; Cromatos, Bicarbonato de


sódio, potássio, e de amônio; Cobre; Chumbo;
Selênio.

Fonte: Adaptada de RITCHER (2009).

2.3 CARACTERÍSTICAS BIOLÓGICAS DA ÁGUA


Os organismos fazem parte das impurezas presentes na água, que por sua vez,
conforme sua natureza apresenta-se com um enorme significado para nos sistemas de
abastecimento de água. Dentre alguns organismos existentes, tais como: vírus, bactérias
e protozoários, apresentam patogenicidade, podendo assim ser responsáveis em causar
doenças, bem como ocasionarem epidemias. Destacam-se ainda com impurezas contidas
nas águas as algas, sendo responsáveis por um dos fatores geradores de odor e sabor
desagradável, assim como comatações de filtros e complicações em outras partes do
sistema de abastecimento de água.
Para determinação das características biológicas das águas faz necessário
exames hidrobiológicos e bacteriológicos.

2.4 CARACTERÍSTICAS HIDROBIOLÓGICAS


Comumente é encontrado na água alguns grupos de microorganismos,
denominados plâncton, tais quais: protozoários, algas, rotíferos, vermes, crustáceos e
larvas de insetos.
Para a realização de análises hidrobiológicas, utiliza-se microscópio, onde
se faz a identificação dos organismos presentes, bem como, estima-se a quantidade de
organismos presentes, o número de espécies, etc.
Estas análises são realizadas periodicamente, dando a necessária
informação referente às medidas de controle que devem ser tomadas para impedir o
desenvolvimento destes organismos causadores de sabores e odores. Estes organismos
também são responsáveis pela obstrução de filtros e canalizações, e trazem ainda outras
complicações na operação das ETA’s.

2.5 PADRÃO DE POTABILIDADE DA ÁGUA

Os padrões de potabilidade da água são determinados pela portaria de


consolidação nº 5 do ministério da saúde de 03 de outubro de 2017, especialmente
em seu anexo XX. As Tabelas a seguir mostram os parâmetros de potabilidade,
bem como seus respectivos valores máximos permitidos.

Tabela 4 Padrão microbiológico da água para consumo humano


Tipo de água Parâmetro VMP(1)
Água para consumo Escheri Ausência
humano chia em 100
coli(2) mL
Na saída do Coliformes totais (3) Ausência
tratamento em 100
mL
Água Escheri Ausência
tratada chia em 100
No sistema coli mL
de Sistemas ou soluções Apenas uma amostra,
distribuição alternativas coletivas entre as amostras
(reservatórios
e rede) Coliformes totais que abastecem menos examinadas no mês,
(4) de poderá apresentar
20.000 habitantes resultado positivo
Sistemas ou soluções Ausência em 100 mL em
alternativas coletivas 95% das amostras
que abastecem a examinadas no mês.
partir de 20.000
habitantes

Fonte: Ministério da Saúde, PC Nº 05 (2017)

NOTAS: (1) Valor Máximo Permitido.

(2) Indicador de contaminação fecal.

(3) Indicador de eficiência de tratamento.


(4) Indicador de integridade do sistema de distribuição (reservatório e rede).

Tabela 5 Padrão de turbidez para água pós-filtração ou pré-desinfecção

Tratamento Da Água VMP(1)


Desinfecção (para águas subterrâneas) 1,0 uT(2) em 95% das amostras
Filtração rápida (tratamento completo ou filtração 0,5(3)uT(2) em 95% das amostras
direta)
Filtração lenta 1,0(3)uT(2) em 95% das amostras

Fonte: Ministério da Saúde, PC Nº 05 (2017)

NOTAS: (1) Valor Máximo Permitido.

(2) Unidade de Turbidez.

(3) Este valor deve atender ao padrão de turbidez de acordo com o especificado no §
2º do art. 30.
Tabela 6 Padrão de potabilidade para substâncias químicas que representam risco à saúde

Parâmetro CAS(1) Unidade VMP(2)


INORGÂNICAS
Antimônio 7440-36-0 mg/L 0,005
Arsênio 7440-38-2 mg/L 0,01
Bário 7440-39-3 mg/L 0,7
Cádmio 7440-43-9 mg/L 0,005
Chumbo 7439-92-1 mg/L 0,01
Cianeto 57-12-5 mg/L 0,07
Cobre 7440-50-8 mg/L 2
Cromo 7440-47-3 mg/L 0,05
Fluoreto 7782-41-4 mg/L 1,5
Mercúrio 7439-97-6 mg/L 0,001
Níquel 7440-02-0 mg/L 0,07
Nitrato (como N) 14797-55-8 mg/L 10
Nitrito (como N) 14797-65-0 mg/L 1
Selênio 7782-49-2 mg/L 0,01
Urânio 7440-61-1 mg/L 0,03
ORGÂNICAS
Acrilamida 79-06-1 µg/L 0,5
Benzeno 71-43-2 µg/L 5
Benzo[a]pireno 50-32-8 µg/L 0,7
Cloreto de Vinila 75-01-4 µg/L 2
1,2 Dicloroetano 107-06-2 µg/L 10
1,1 Dicloroeteno 75-35-4 µg/L 30
1,2 Dicloroeteno (cis + trans) 156-59-2 (cis) 156-60-5 (trans) µg/L 50
Diclorometano 75-09-2 µg/L 20
Di(2-etilhexil) ftalato 117-81-7 µg/L 8
Estireno 100-42-5 µg/L 20
Pentaclorofenol 87-86-5 µg/L 9
Tetracloreto de Carbono 56-23-5 µg/L 4
Tetracloroeteno 127-18-4 µg/L 40
1,2,4-TCB (120-82-1)
Triclorobenzenos 1,3,5-TCB (108-70-3 1,2,3- µg/L 20
TCB
(87-61-6)
Tricloroeteno 79-01-6 µg/L 20
AGROTÓXICOS µg/L
2,4 D + 2,4,5 T 94-75-7 (2,4 D) 93-76-5 (2,4,5 µg/L 30
T)
Alaclor 15972-60-8 µg/L 20
Aldicarbe + Aldicarbesulfona 116-06-3 (aldicarbe) 1646-88-4 µg/L 10
+Aldicarbesulfóxido (aldicarbesulfon
a) 1646-87-3
(aldicarbe
sulfóxido)

Aldrin + Dieldrin 309-00-2 (aldrin) 60-57-1 µg/L 0,03


(dieldrin)
Atrazina 1912-24-9 µg/L 2
Carbendazim + benomil 10605-21-7 (carbendazim) µg/L 120
17804-35-2 (benomil)
Carbofurano 1563-66-2 µg/L 7
Clordano 5103-74-2 µg/L 0,2
Clorpirifós + clorpirifós-oxon 2921-88-2 (clorpirifós) 5598- µg/L 30
15-2 (clorpirifós-oxon)
DDT+DDD+DDE p,p'-DDT (50-29-3) p,p'-DDD µg/L 1
(72-54-8) p,p'-DDE (72-55-9)
Diuron 330-54-1 µg/L 90
Endossulfan (a b e sais) (3) 115-29-7; I (959-98-8); II µg/L 20
(33213-65-9); sulfato (1031-
07-8)
Endrin 72-20-8 µg/L 0,6
Glifosato + AMPA 1071-83-6 (glifosato) 1066-51-9 µg/L 500
(AMPA)
Lindano (gama HCH) (4) 58-89-9 µg/L 2
Mancozebe 8018-01-7 µg/L 180
Metamidofós 10265-92-6 µg/L 12
Metolacloro 51218-45-2 µg/L 10
Molinato 2212-67-1 µg/L 6
Parationa Metílica 298-00-0 µg/L 9
Pendimentalina 40487-42-1 µg/L 20
Permetrina 52645-53-1 µg/L 20
Profenofós 41198-08-7 µg/L 60
Simazina 122-34-9 µg/L 2
Tebuconazol 107534-96-3 µg/L 180
Terbufós 13071-79-9 µg/L 1,2
Trifluralina 1582-09-8 µg/L 20
DESINFETANTES E PRODUTOS SECUNDÁRIOS DA DESINFECÇÃO(5)
Ácidos haloacéticos total (6) mg/L 0,08
Bromato 15541-45-4 mg/L 0.01
Clorito 7758-19-2 mg/L 1
Cloro residual livre 7782-50-5 mg/L 5
Cloraminas Total 10599-903 mg/L 4,0
2,4,6 Triclorofenol 88-06-2 mg/L 0,2
Trihalometanos Total (7) mg/L 0,1

Fonte: Ministério da Saúde, PC Nº 05 (2017)

NOTAS:

(1) CAS é o número de referência de compostos e substâncias químicas adotado pelo


Chemical Abstract Service.
(2) Valor Máximo Permitido.
(3) Somatório dos isômeros alfa, beta e os sais de endossulfan, como exemplo o sulfato de
endossulfan,
(4) Esse parâmetro é usualmente e equivocadamente, conhecido como BHC.
(5) Análise exigida de acordo com o desinfetante utilizado.

(6) Ácidos haloacéticos: Ácido monocloroacético (MCAA) - CAS = 79-11-8, Ácido


monobromoacético (MBAA) - CAS = 79-08-3, Ácido dicloroacético (DCAA) - CAS = 79-43-
6, Ácido 2,2 - dicloropropiônico (DALAPON) - CAS = 75-99-0, Ácido tricloroacético
(TCAA) - CAS = 76-03-9, Ácido bromocloroacético (BCAA) CAS = 5589-96-3, 1,2,3,
tricloropropano (PI) - CAS = 96-18-4, Ácido dibromoacético (DBAA) - CAS = 631-64-1, e
Ácido bromodicloroacético (BDCAA) - CAS = 7113-314-7.
(7) Trihalometanos: Triclorometano ou Clorofórmio (TCM) - CAS = 67-66-3,
Bromodiclorometano (BDCM) - CAS = 75-27-4, Dibromoclorometano (DBCM) - CAS =
124-48-1, Tribromometano ou Bromofórmio (TBM) - CAS = 75-25-2.

Tabela 7 Padrão de cianotoxinas da água para consumo humano

CIANOTOXI
NAS
Parâmetro( Unidade VMP(²)
1)
Microcistin µg/L 1,0 (³)
as
Saxitoxinas µg equivalente 3,0
STX/L

Fonte: Ministério da Saúde, PC Nº 05 (2017)

NOTAS:

(1) A frequência para o controle de cianotoxinas está prevista na tabela do Anexo XII.

(2) Valor Máximo Permitido.

(3) O valor representa o somatório das concentrações de todas as variantes de microcistinas.

TABELA DE PADRÃO DE RADIOATIVIDADE DA ÁGUA PARA CONSUMO


HUMANO)
Parâmetro(¹) Unidade VMP
Rádio-226 Bq/L 1
Rádio-228 Bq/L 0,1

Fonte: Ministério da Saúde, PC Nº 05 (2017)

NOTAS: (1) Sob solicitação da Comissão Nacional de Energia Nuclear, outros radionuclídeos
devem ser investigados.
Tabela 8 PADRÃO ORGANOLÉPTICO DE POTABILIDADE

Parâmetro CAS Unidade VMP(¹)


Alumínio 7429-90-5 mg/L 0,2
Amônia (como NH3) 7664-41-7 mg/L 1,5
Cloreto 16887-00-6 mg/L 250
Cor Aparente (²) uH 15
1,2 diclorobenzeno 95-50-1 mg/L 0,01
1,4 diclorobenzeno 106-46-7 mg/L 0,03
Dureza total mg/L 500
Etilbenzeno 100-41-4 mg/L 0,2
Ferro 7439-89-6 mg/L 0,3
Gosto e odor (³) Intensidade 6
Manganês 7439-96-5 mg/L 0,1
Monoclorobenzeno 108-90-7 mg/L 0,12
Sódio 7440-23-5 mg/L 200
Sólidos dissolvidos totais mg/L 1000
Sulfato 14808-79-8 mg/L 250
Sulfeto de hidrogênio 7783-06-4 mg/L 0,1
Surfactantes (como LAS) mg/L 0,5
Tolueno 108-88-3 mg/L 0,17
Turbidez (4) uT 5
Zinco 7440-66-6 mg/L 5
Xilenos 1330-20-7 mg/L 0,3

Fonte: Ministério da Saúde, PC Nº 05 (2017)

NOTAS:

(1) Valor máximo permitido.


(2) Unidade Hazen (mgPt-Co/L).
Intensidade máxima de percepção para qualquer característica de gosto e odor com
(3)
exceção do cloro livre, nesse caso por ser uma característica desejável em água tratada.

(4) Unidade de turbidez.


3. CONSIDERAÇÕES INICIAIS PARA TRATAMENTO DE ÁGUA PARA
CONSUMO HUMANO

As águas podem ser encontradas nas mais diversas formas na natureza, seja subterrânea,
bem como superficiais.

Os mananciais subterrâneos são aqueles que se encontram abaixo da superfície terrestre


em sua totalidade, estando entre eles, os lençóis freáticos e profundos, tendo por sua vez a
captação realizada através de poços, pelo aproveitamento das nascentes ou pelas galerias de
infiltração. Neste tipo de manancial a água percola através das camadas do solo até chegar no
local de confinamento, passando assim por um processo de filtração natural, o que possibilita a
remoção de patógenos e turbidez. A poluição do manancial supracitado, dar-se por meio de
fossas secas, fossa absorvente, agrotóxicos, disposição de esgoto no solo etc.

Já os mananciais superficiais são aqueles que têm toda parte de sua água sobre a
superfície terrestre compreendendo os córregos, ribeirões, rios, lagos e reservatórios artificiais.
As águas superficiais comparadas com as águas subterrâneas requerem um tratamento mais
complexo, uma vez que há uma maior variação na sua qualidade. Esse tipo de manancial está
mais susceptível a poluição, pois de certa forma, encontram-se mais expostos.

Para se fazer a escolha de um manancial, alguns aspectos devem ser levados em


consideração, dentre eles: qualidade água (sazonal e anual); existência, no local, de pessoal
qualificado para construção, operação e manutenção; quantidade de água (vazão) – deve ser
previsto uso futuro; proteção de fontes poluidoras e proximidade de centro consumidor.
No tocante aos aspectos intervenientes que devem ser considerados na localização da
Estação de Tratamento de Água (ETA), destacam-se: facilidade de acesso e transporte;
disponibilidade de energia elétrica e terreno para futuras ampliações; cota topográfica favorável
à adução e distribuição; custo; condições de vizinhança e proximidade de fornecedores de
insumos.
Para que haja um tratamento adequado é necessário que se conheça principalmente a
água a ser tratada, para que a partir daí, seja definido o melhor tratamento a ser implantado,
levando sempre em consideração os critérios técnicos e econômicos, pois, sabe-se que toda
água tem possibilidade de ser tratada, e as limitações ao tratamento estão relacionadas ao custo
do mesmo.
Independentemente da tecnologia de tratamento adotada, espera-se que a água final
tenha uma efetiva segurança sanitária, seja esteticamente agradável e que não seja acrescentado
subprodutos indesejáveis. Sendo assim, esses fatores os que constituem as metas do tratamento
de água. A seguir podemos compreender na figura 01 como se dar as tecnologias mais usuais
para tratamento de águas de abastecimento destinadas ao consumo humano.

Figura 1 Fluxogramas das tecnologias mais usuais para tratamento de águas destinadas ao
consumo humano

Fonte: Di Bernardo (2003).


4. COAGULAÇÃO

A coagulação pode ser definida como a operação unitária responsável pela


desestabilização das partículas coloidais em um sistema aquoso, preparando-as para a sua
remoção nas etapas subsequentes do processo de tratamento. De modo geral, o coagulante é o
primeiro produto químico colocado na água, assim chamado devido o fato de sua função.
O coagulante ao ser adicionado à água também tem como objetivo minimizar as forças
de repulsão, dessa forma as forças de atração passam a predominar. Isso se dá pelo fato de que
as impurezas que estão na água apresentam uma carga superficial negativa, fazendo com que
haja uma aproximação uma das outras, já que as forças que estão predominando são as de
atração. Então, a formação de flocos acontece devido ao fato da hidrodinâmica do sistema
permitir o encontro das partículas.
Mecanismos de desestabilização de partículas coloidais: Compressão da dupla camada
elétrica (eletrólitos indiferentes. Ex. NaCl); Adsorção-neutralização de cargas (sais metálicos);
Varredura (sais metálicos); Adsorção e formação de pontes entre partículas (polímeros
catiônicos) (DI BERNARDO, 2002).
Os coagulantes mais empregados em tratamento de água são: sulfato de alumínio (sólido
ou líquido), cloreto de polialumínio - PAC (sólido ou líquido), cloreto férrico (líquido), sulfato
férrico (líquido) e coagulantes orgânicos catiônicos (sólido ou líquido). Usualmente, os
coagulantes mais utilizados no tratamento de água para abastecimento e suas referidas dosagens
são: sulfato de alumínio (5 mg/l a 100 mg/l), cloreto férrico (5 mg/l a 70 mg/l), sulfato férrico
(8 mg/l a 80 mg/l) e coagulantes orgânicos catiônicos (1 mg/l a 4 mg/l). A figura a seguir mostra
o diagrama de coagulação com sulfato de alumínio.
Figura 2 Diagrama de coagulação com sulfato de alumínio

Fonte: Amirtharajah & Mills (1982).

Na coagulação quanto maior a dosagem do coagulante, maior será a adsorção das


partículas pela precipitação de sais de alumínio ou ferro, iniciando assim, o mecanismo de
varredura, no qual, favorece a formação de flocos com densidades que permitam a sua
deposição nos decantadores.
Em geral, os mecanismos de coagulação são divididos em quatro tipos: compressão da
dupla camada, neutralização-adsorção de cargas, varredura e formação de pontes (DI
BERNARDO, 1992).
O primeiro mecanismo é de natureza eletrostática. Ocorrendo por causa da presença
de grande quantidade de eletrólitos indiferentes, os quais são atraídos para as proximidades da
superfície dos colóides, havendo assim a compressão da dupla camada formada na para
superficial das partículas.
Já na adsorção-neutralização de cargas, serão adsorvidos na superfície dos colóides,
os hidroxo-complexos, os cátions hidratados e os precipitados carregados positivamente. Neste
mecanismo há redução da repulsão entre as partículas, possibilitando sua coagulação e remoção
por sedimentação/flotação ou filtração. Não ocorre a ruptura das pontes formadas entre as
espécies químicas e os colóides devido à diluição.
Na varredura, há elevadas concentrações de coagulante, de forma que o produto de
solubilidade dos hidróxidos gerados é sobrepassado. A precipitação floculenta destes
hidróxidos removerá por captura os colóides presentes no meio, e os próprios colóides servirão
como sementes para a formação do precipitado.
O mecanismo de formação de pontes é próprio de sistemas que sejam adicionados
compostos orgânicos de cadeia longa (polieletrólitos). As interações entre os sítios ativos destas
macromoléculas e os colóides promove a sua aglomeração.
Segundo RIBEIRO E JUNIOR (1998) os principais mecanismos de coagulação sofrem
influência direta do gradiente de mistura especialmente pelo fato das reações de hidrólise do
sulfato de alumínio, um exemplo disso se dá no mecanismo de adsorção que são muito rápidas
que no mecanismo de varredura.
Algumas variáveis no processo de coagulação são a alcalinidade da água bruta e pH,
tamanho das partículas, a natureza das partículas coloidais, o tipo e a dosagem dos produtos
químicos utilizados.

Figura 3 Representação das camadas elétricas ao redor da partícula.

Fonte: Adaptada de Mangrich (2013).


5. UNIDADE DE MISTURA RÁPIDA

A dispersão do coagulante na água bruta se dar nas unidades de mistura rápida. O tempo
e o gradiente de velocidade são os parâmetros de projeto dessa unidade. O gradiente de
velocidade está relacionado à intensidade de agitação da massa líquida necessária para que se
garanta a adequada dispersão dos produtos químicos usados na coagulação. Os gradientes de
velocidade médios de mistura rápida variam de 500 s–1, ou menos, a valores superiores a 7.000
s–1 e o tempo de mistura rápida verificado nas ETAs é da ordem de 1 segundo a mais de 3
minutos.
A qualidade da água bruta, o tipo de tecnologia de tratamento utilizada na ETA e as
condições de coagulação, influenciam diretamente nos valores dos parâmetros de dosagem,
visando à otimização do desempenho da unidade de mistura rápida, as quais, dependem
principalmente do tipo e dosagem de coagulante e de polímero. Sendo assim, o tempo e o
gradiente de velocidade médio de mistura rápida precisam, preferencialmente, ser determinados
com base em testes experimentais em laboratório. Valores indevidos desses parâmetros podem
afetar negativamente a qualidade da água produzida, elevar os custos de construção e de
operação, sejam estes provenientes do maior consumo de produto químico, do maior volume
de lodo gerado na ETA ou da redução do volume efetivo de água produzida em decorrência das
carreiras de filtração de curta duração.
Geralmente, o gradiente de velocidade de mistura rápida pode ser aplicado, enquanto o
mecanismo da adsorção-neutralização de carga é mais restritivo, necessitando de gradientes de
velocidade mais elevados.
Entende-se que para cada tempo de mistura rápida há um gradiente de velocidade médio
que leva a melhores resultados. A otimização desses parâmetros deve ser feita tanto no caso de
tratamento de ciclo completo quanto para a coagulação da água visando à filtração direta.
Mesmo que na literatura sejam citados valores típicos de Gmr e Tmr, estes somente devem ser
adotados quando não for possível a realização de ensaios, uma vez que podem não ser os
mesmos para águas diferentes, e até para a mesma água os valores otimizados podem diferentes
em função do tipo e da dosagem de coagulante usados.
A mistura rápida nas ETAs pode ser realizada por sistemas hidráulicos, mecanizados ou
dispositivos especiais. No Brasil, muitas ETAs utilizam o vertedor Parshall para realizar a
mistura rápida, assim com para medir a vazão afluente à estação, como mostra a figura a seguir.
Figura 4 Calha Parshall

Fonte: Notas de aula da professora Regina Tiemy Kishi

De acordo a NBR 12216 - 1992, dispositivos de mistura são:


a) qualquer trecho ou seção de canal ou de canalização que produza perda de
carga compatível com as condições desejadas, em termos de gradiente de
velocidade e tempo de mistura;
b) difusores que produzam jatos da solução de coagulante, aplicados no interior
da água a ser tratada;
c) agitadores mecanizados;
d) entrada de bombas centrífugas.
Podem ser utilizados como dispositivo hidráulico de mistura:
a) qualquer singularidade em que ocorra turbulência intensa;
b) canal ou canalização com anteparos ou chicanas;
c) ressalto hidráulico;
d) qualquer outro techo ou seção de canal ou canalização que atenda às condições
da norma.

Depois da mistura do coagulante, o tempo máximo que será percorrido pela água até o
floculador deve corresponder a 1 minuto, este tempo pode ser aumentado para até 3 minutos
quando, entre a mistura e a floculação, houver um sistema capaz de garantir à água gradiente
de velocidade idêntico ou superior ao utilizado no início do floculador.
Podem ser misturados por um sistema de agitação que confira à água gradiente de
velocidade entre 100 e 250 s–1, os produtos químicos que não se hidrolisam.
Produtos químicos dosados a seco devem ser previamente dispersos ou dissolvidos em
água, antes de sua aplicação.
Sempre que mais de um produto químico tem que ser aplicado para realizar a
coagulação, será necessário prever diferentes pontos para a aplicação desses produtos, cada um
com seu dispositivo de mistura, possibilitando assim que o operador realize sua aplicação na
ordem que for considerada conveniente.
Como unidades de mistura rápida, temos as unidades mecânicas e as unidades
hidráulicas. As unidades mecanizadas permitem a variação do gradiente de velocidade médio
em função da mudança da água bruta caso seja necessário, diferentemente das unidades
hidráulicas onde não é possível fazer essas variações. Vale destacar que as unidades
mecanizadas são mais versáteis que as hidráulicas. Já as unidades hidráulicas são em geral,
vertedores do tipo Parshall ou retangular, utilizadas também como medidor de vazão da ETA.
Logo, as unidades hidráulicas possuem menor custo de implantação e de manutenção.
Para estimativa do gradiente de velocidade médio os procedimentos de cálculo podem
ser obtidos na literatura específica sobre o projeto dessas unidades. Quando se escolhe o tipo
de unidade de mistura rápida, faz necessário que também se leve em consideração as
dificuldades locais referentes à manutenção de equipamentos mecanizados, uma vez que no
Brasil é comum que os equipamentos passem boa parte de sua vida útil parados, o que
compromete a eficiência do tratamento da água, em virtude da falta de manutenção corretiva
ou preventiva das instalações em questão.
6. FLOCULAÇÃO

Em tratamento de água a floculação é o processo realizado imediatamente após a


coagulação, que é a desestabilização das partículas, minúsculos flocos primários começam a
aparecer. Após essa desestabilização, essas partículas chocam-se umas com as outras para
formar floculos maiores, que podem ser removidos por sedimentação, flotação ou filtração
rápida. A eficiência da flotação e em seguida da sedimentação, está diretamente relacionada a
uma boa coagulação.
O mecanismo de transporte será em função das dimensões das partículas desestabilizadas e da
progressiva formação e crescimento dos flocos. Tal processo é resultado de dois mecanismos:
● Floculação pericinética: causada pelo movimento browniano (aleatório), devido a
diferenças e velocidade das linhas de correntes do fluido em escoamento;
● Floculação ortocinética: causada pela energia hidráulica ou mecânica introduzida no
meio e as distintas velocidades de sedimentação.
A escolha do tipo de sistema de floculação está atrelada a diversos fatores, como qualidade da
água bruta, mecanismos de coagulação, tamanho das unidades, existência de pessoal
qualificado para operação e manutenção e regime de funcionamento.
Há dois tipos de floculadores, os hidráulicos e mecânicos. Os hidráulicos são feitos
constituídos de barreiras, que estas adicionam energia ao fluido, assim acelerando o processo
de coagulação. Os hidráulicos são: Chicanas (Horizontais e verticais), Alabamas e Bandejas
perfuradas.
Os floculadores de chicanas verticais funcionam através do mecanismo de subida e
descida do fluído, através de orifícios que se encontram na parte superior e na câmara seguinte
na parte inferior e assim consecutivamente; a velocidade média utilizada é de 10 cm/s; os
floculadores de chicanas verticais possuem em torno de 40 câmaras, no entanto sua limpeza é
mais fácil em relação ao horizontal.
Os sistemas hidráulicos de floculação, quando comparados com os mecanizados, têm
as desvantagens de pouca flexibilidade em relação à variação de vazão, impossibilidade de
variar ou ajustar o gradiente de velocidade e perda de carga relativamente alta. As vantagens,
porém, consistem no baixo requerimento de pessoal qualificado e nos menores gastos com
implantação, operação e manutenção (DI BERNARDO; SABOGAL PAZ, 2008).
As unidades de floculação mecanizadas são classificadas de acordo com a posição do
eixo (horizontal ou vertical), no qual há movimentação das paletas, hélices ou turbinas. Existem
vários tipos de floculadores mecanizados, podendo citar: floculadores com agitador tipo
turbina, com agitador de eixo vertical, de eixo horizontal, alternativos, etc… os sistemas de
floculação mecânicos geralmente são projetados com três ou quatro compartimentos em série,
apresentando um tempo total de floculação na faixa de 30 a 45 minutos, quando se tem unidades
de sedimentação e com dois ou três compartimentos em série quando se tem unidades de
flotação a jusante, nesse caso apresentando um tempo total de floculação na faixa de 8 a 20
minutos.
Da mesma forma que para as unidades de mistura rápida, os principais parâmetros de
projeto são o tempo total de floculação e o gradiente médio de velocidade (G). para floculadores
visando a sedimentação, normalmente, promove-se o escalonamento dos valores de G de forma
decrescente do primeiro para o último compartimento, porém para floculadores antes de
unidade de flotação, é recomendável que se mantenha o valor de G constante em todas as
câmaras.
Para que se tenha as condições adequadas para a floculação de determinada água, é
realizado testes em laboratório com o uso de jar test no caso de sedimentação e o flotatest no
caso de sistema com flotação.
A floculação não realizada adequadamente pode acarretar os seguintes prejuízos ao tratamento
de água:
● Diminuição do rendimento da ETA devido a obstrução nos filtros;
● Maior frequência nas lavagens dos filtros;
● Aumento nas perdas de água na produção.

7 SEDIMENTAÇÃO

O processo de sedimentação é o fenômeno físico em que consiste na utilização da ação


da gravidade para separar partículas de densidade superior à da água, depositando-as em uma
superfície ou zona de armazenamento, resultando na clarificação do meio líquido, ou seja,
separação das fases líquida e sólida. As partículas que não são removidas na sedimentação
sejam por seu pequeno tamanho ou por serem de densidade muito próxima a da água, deverão
ser removidas nos filtros.
Os decantadores são dimensionados com base na velocidade de sedimentação dos flocos
induzida pela força gravitacional. Para obtenção da velocidade dos flocos, é usual a realização
de testes de bancada (jar teste). Os valores de velocidade obtidos nesses ensaios de laboratório
devem ser multiplicados por fatores de segurança apropriados, pois essas velocidades de
sedimentação variam significativamente com o tipo de coagulante empregado, condições de
mistura durante a floculação e com a natureza das partículas coloidais presentes na água bruta.
Segundo a NBR 12216/1992, os decantadores são unidades destinadas a remoção de
partículas presentes na água, pela ação da gravidade. Podem ser convencionais ou de baixa taxa,
de elementos tubulares ou de altas taxas. Estações com capacidade superior a 10.000 m³/dia ou
com período de funcionamento superior a 18/dia ou com unidades mecanizadas devem contar
com pelo menos duas unidades iguais.
Os decantadores são empregados até hoje em projetos de ETAs devido a sua
simplicidade, boa eficiência na remoção de partículas e baixa sensibilidade a sobrecargas. Os
decantadores de alta taxa com fluxo laminar, são utilizados para o aumento da produção de água
em estações convencionais ou quanto a área disponível inviabiliza a construção de decantadores
clássicos.
Nos decantadores de fluxo horizontal a água entra em uma extremidade, move-se na
direção longitudinal e sai pela outra extremidade. O comprimento desta unidade é grande em
relação às outras dimensões. A velocidade de escoamento deve ser baixa para impedir o arraste
de flocos. Possuem profundidade da ordem de 3 a 5 metros.
Nos decantadores de fluxo vertical a água entra pela parte inferior, seguindo em
movimento ascendente até a superfície da unidade, as quais apresentam profundidades
relativamente grandes. A velocidade ascendente deve ser limitada, de modo a evitar-se o arraste
de partículas.
A entrada de água nos decantadores deve ser feita por dispositivo hidráulico capaz de
distribuir a vazão uniformemente, através de toda a seção transversal e garantir velocidade
longitudinal uniforme e coincidente em intensidade, direção e sentido com a que, teoricamente,
lhe seria atribuída.
A coleta de água decantada deve ser feita por sistema de tubos perfurados submersos ou
de vertedores não-afogados organizados de modo a garantir vazão uniforme ao longo deles.

8 FLOTAÇÃO

De acordo com RICHTER (2009), a flotação é o processo no qual a fase sólida é


separada do líquido, permitindo-a flutuar para a superfície, através da incorporação de
microbolhas de ar aos flocos. Embora seja utilizada há mais de um século na indústria de
mineração, sua aplicação no tratamento de água para abastecimento é mais recente. Os métodos
de produção de microbolhas utilizados são a flotação eletrostática, flotação por ar disperso e
flotação por ar dissolvido.
A flotação eletrostática consiste na produção de microbolhas de hidrogênio e oxigênio
em uma solução aquosa diluída devido à passagem de corrente elétrica entre dois eletrodos. A
vantagem desse método é que ele produz um lodo mais concentrado do aquele gerado em
decantadores. No entanto, os eletrodos apresentam obstrução frequentemente, sendo necessária
a sua manutenção/substituição periódica. Além disso, o uso dessa técnica é restrito a estações
com pequenas vazões, não consegue tratar águas com elevada turbidez, apresenta elevado
consumo de energia elétrica e gera microbolhas muito pequenas (DI BERNARDO; SABOGAL
PAZ, 2008).
Na técnica de flotação por ar disperso, as microbolhas são produzidas e sustentadas
através do uso de produtos químicos. Possuem as mesmas vantagens da flotação eletrostática.
Apresenta, porém, a desvantagem de as bolhas produzidas aumentarem de tamanho, causando
uma maior turbulência e reduzindo a eficiência do processo. Outro problema é o fato de os
produtos químicos utilizados na produção de microbolhas serem possivelmente inadequados no
tratamento de água para abastecimento humano (DI BERNARDO; SABOGAL PAZ, 2008).
O princípio do processo de flotação por ar dissolvido envolve a redução da massa
específica do floco, de modo que seu valor seja menor que a massa específica da água. Assim,
o floco irá ascender verticalmente e separar-se da fase líquida. Tal redução é obtida pela adesão
de partículas de ar liberadas na fase líquida sob condições controladas (FERREIRA FILHO,
2017).
10.1 Flotação por ar dissolvido
Nessa técnica, as partículas de ar (microbolhas) são geradas através da redução de
pressão da água saturada com ar. Os principais processos básicos de flotação pressurizada
ocorrem com pressurização parcial do afluente (Figura 10), pressurização total do afluente
(Figura 11) ou pressurização da recirculação (Figura 12), sendo esse último o mais
recomendado para o tratamento de água onde se deseja remover flocos frágeis (DI
BERNARDO; SABOGAL PAZ, 2008).
Figura 5 Sistema de flotação com pressurização parcial da vazão afluente

Fonte: Reali (1991)


O funcionamento desse processo depende de um cuidadoso controle dos parâmetros de
projeto – determinados em função das características do afluente que se quer tratar – como a
taxa de aplicação superficial de flotação, o tempo de detenção no tanque de flotação, o tamanho
das bolhas, a taxa de recirculação do líquido pressurizado com ar, a pressão na câmara de
saturação e a quantidade de ar fornecida em relação à massa de sólidos em suspensão no líquido
(COUTINHO, 2007). São necessários ensaios em laboratório para definir também tipo e
dosagem de coagulante, pH de coagulação, gradientes de velocidade e tempos de agitação na
mistura rápida e na floculação. (DI BERNARDO; MINILLO; DANTAS, 2010).
No tocante ao tamanho das microbolhas, recomenda-se uma faixa situada entre 10 e 100
μm, sendo preferível que a maior parte apresente um diâmetro médio menor ou igual a 50 μm.
Quanto menor o diâmetro médio das microbolhas, mais eficiente será o processo, pois a
probabilidade de colisão entre as microbolhas e os flocos em suspensão é maior, assim como a
chance de se ter uma ligação mais estável entre eles. Microbolhas com diâmetro maior
apresentam elevada velocidade ascensional (cresce diretamente com o quadrado do diâmetro)
e, consequentemente, podem se desprender dos flocos após a colisão (AISSE et al., 2001).
Para a geração das microbolhas de ar, são utilizadas válvulas e bocais com orifícios de
pequeno diâmetro que têm a finalidade de reduzir bruscamente a pressão na linha de água
saturada. Nesse ponto, ocorre o fenômeno de cavitação devido à redução brusca da pressão,
liberando o ar e vapor na forma de microbolhas. O crescimento das microbolhas ocorre em
menos de um segundo e se dá por colisão, difusão e coalescência dos núcleos iniciais na corrente
líquida (RICHTER, 2009).
Como vantagens da flotação por ar dissolvido, pode-se citar a eficiência na remoção de
protozoários, a geração de resíduos com 2 a 3% de sólidos (dispensando a etapa de
adensamento) e o fato de ser ideal para águas com baixa turbidez e sólidos suspensos de baixa
densidade. Apresenta as desvantagens de alto consumo de energia elétrica, necessidade de
pessoal qualificado para operar e impossibilidade de tratar água com turbidez elevada (DI
BERNARDO; SABOGAL PAZ, 2008).
Como exemplo de vantagem da flotação por ar dissolvido é o caso de flocos de sulfato
de alumínio e de ferro, que normalmente possuem densidade próxima a 1,003 e tamanho
aproximado de 1 mm. Durante a flotação, as microbolhas de ar se aderem a esses flocos, fazendo
com que a densidade deles seja reduzida para valores próximos de 0,98 ~ 0,99. Dessa forma, as
velocidades de flotação obtidas podem ser dez vezes superiores às velocidades de sedimentação
para os flocos formados nas mesmas condições (RICHTER, 2009).
Quanto a forma, em planta, a unidade de flotação pode ser circular ou retangular. A
forma circular tem sido, em geral, adotada para pequenas instalações, sendo que a maioria das
unidades de flotação aplicadas ao tratamento de água são construídas na forma retangular.
Apresentam as unidades denominadas zona de contato, zona de separação de sólidos, zona de
acúmulo e remoção de lodo, e zona de coleta de água clarificada. Segundo Loughurst & graham
(1987), as unidades retangulares resultam em projetos mais adequados devido aos seguintes
fatores:
● A quebra de flocos é minimizada, tendo em vista a facilidade de interligação direta com
os floculadores;
● A eficiência hidráulica é maximizada;
● A construção e as obras de engenharia são mais simples.
O critério básico para o estabelecimento das dimensões em planta da câmara de flotação
é a taxa de aplicação superficial (TAS), definida como sendo igual à relação entre a vazão total
afluente ao flotador (recirculação mais vazão de água floculada) e a área útil da zona de
separação do flotador, ou seja, deve ser descontada a área da zona de contato, onde o fluxo é
ascendente.
Nos últimos anos, têm sido desenvolvidos unidades FAD com configurações
apropriadas das zonas de contato e de separação, as quais permitem operação com valores bem
mais elevados de TAS. Essas unidades são chamadas de unidades FAD de alta taxa e
apresentam profundidades bem maiores que as unidades FAD usuais, porém, existem também
unidades FAD de alta taxa com profundidades menores, mas que apresentam módulos contendo
placas paralelas apropriadamente dispostas no interior da zona separação, os quais permitem a
obtenção de escoamento laminar ou próximo desse, mesmo quando operando com altas taxas.
É recomendável, independentemente do tipo de unidade FAD, é recomendável testes
em escala de laboratório e piloto para estabelecimento de alguns valores adequados de dosagem
de coagulante, tempo e gradiente na floculação, TAS e quantidade de ar (em mg de ar por litro
de água bruta), requerida para o processo de flotação.
A retirada do lodo que flota para a superfície pode ser removido por raspadores
mecânicos, os quais podem abranger a extensão total, parcial ou somente borda final do
flotador.

9 FILTRAÇÃO

A filtração é uma das etapas mais importantes do processo de tratamento de água e tem
como função a remoção das impurezas em forma de sólidos suspensos e coloidais, bem como
a remoção de microrganismos. Na maioria dos casos, é ela que precede o processo de
desinfecção, tornando-se a última barreira, que irá influir decisivamente na eficácia de remoção
dos patógenos (DI BERNARDO et al., 2003).
As estações convencionais de tratamento de água ou de ciclo completo, são estações
que realizam, em unidades separadas, a mistura rápida, a floculação, a decantação e por último
a filtração. Quando os filtros recebem água coagulada ou floculada, sem passar pelo decantador,
dizemos que a estação de tratamento é do tipo filtração direta.
Existem diversos tipos de unidades filtrantes empregadas na clarificação de águas de
abastecimento, considerando-se a taxa de aplicação utilizada, a filtração pode ser classificada
em lenta ou rápida, já considerando o sentido do escoamento teremos ascendente ou
descendente. Sendo necessário, ainda, distinguir os filtros de pedregulho utilizados como
unidades de pré-tratamento agregados à filtração lenta, classificados de acordo com o sentido
de escoamento - vertical ou horizontal (LIBÂNIO, 2010). Na tabela 09 podemos constatar as
tecnologias de filtração de acordo com as características da água.
Tabela 9 - Tecnologias de Filtração de acordo com as características da água

Fonte: Kawamura (2000), adaptado Libânio (2010)

9.1 Filtração lenta

A filtração lenta em areia é uma tecnologia relativamente simples, sendo indicada para
locais que não possuem mão de obra especializada. É empregada na purificação de águas com
baixa cor verdadeira, turbidez e concentração de algas, operando com taxas de 2 a 6 m³/m².dia,
que faz necessário a disponibilidade de grandes áreas. Os filtros lentos possuem elevada
eficiência na remoção de patogênicos, devido à filtração biológica realizada pelos
microrganismos que se desenvolvem no meio filtrante (LIBÂNIO, 2010). Esse tipo de filtração
imita o processo de purificação natural, quando a água atravessa os extratos da crosta terrestre
e forma os aquíferos ou rios subterrâneos.
Basicamente um filtro lento é constituído de um tanque com uma camada superior de
água que possui um leito filtrante de areia, sistema de drenagem e dispositivos de controle e
regularização do fluxo. O filtro lento se caracteriza por ser um sistema simples, limpo e eficiente
para o tratamento de água.
Comparando com o filtro rápido, requer áreas maiores para tratar o mesmo volume de
água, portanto, tem um maior custo inicial, no entanto, sua simplicidade e baixo custo
operacional e de manutenção o torna um sistema ideal para zonas rurais e pequena
comunidades, tendo em vista que os custos por área do terreno são comparativamente menores
nestas localidades.
9.2 Filtração direta
Segundo Di Bernardo (2003), a filtração direta é uma das principais tecnologias de
tratamento de água para abastecimento público.
Diferente do tratamento convencional, na filtração direta temos apenas as etapas de
coagulação, mistura rápida e desinfecção, podendo existir ou não uma etapa de pré-oxidação.
O filtro rápido é formado de uma camada de areia e pode ainda possuir outra camada de
um meio poroso mais grosso e menos denso, como o antracito, que é colocado sobre a areia, o
que permite taxas de filtrações ainda maiores.
O funcionamento dos filtros rápidos depende das condições hidráulicas previstas no
dimensionamento, envolvendo a carga hidráulica disponível e a taxa de filtração para que
resultem carreiras de filtração com duração razoável e produção de água com pequena
quantidade de impurezas, para que a desinfecção final seja realizada de forma satisfatória.

Figura 6 Tipos de filtração direta

Fonte: Di Bernardo (2003).


● Filtração direta Ascendente (FDA)
Esses filtros foram introduzidos no Brasil com a denominação de filtros Russos e
posteriormente, alguns autores preferiram denomina-los de clarificadores de contato. Autores
modernos têm utilizado a denominação de filtros ascendentes. No interior dos filtros
ascendentes, ocorrem, simultaneamente a floculação, decantação e decantação.
A água, previamente coagulada, é introduzida sob a camada suporte e escoa no sentido
de baixo para cima através da camada suporte e do leito de areia. Acima do leito, calhas
coletoras ou tubos perfurados recolhem a água filtrada. Um dos elementos fundamentais no
projeto e operação dos filtros ascendentes é a denominada taxa de filtração.
De acordo com a norma brasileira que fixa diretrizes para o projeto de estações de
tratamento de água, o valor máximo dessa taxa deve ser determinado através de ensaios
realizados em filtros-piloto. Se não for possível realizar esses ensaios, então deverá ser
ultrapassado o valor de 120 m³/m².dia.
A lavagem é efetuada injetando-se água de baixo para cima com velocidade suficiente
para expandir o leito de areia. A água de lavagem é recolhida por calha coletora instalada acima
do leito de areia, normalmente é a mesma calha que recolhe a água filtrada, porém com jogo de
válvulas é possível redirecionar essa água de lavagem para seu destino final, que pode ser um
tanque de lodo ou uma estação de tratamento de resíduos gerados na ETA.
● Filtração direta descendente (FDD)
Neste processo a água é introduzida na parte superior do filtro e percola, em seguida,
através do leito filtrante e, logo após, através da camada suporte, atravessa o fundo falso
(quando houver) e é encaminhada ao duto ou reservatório de água filtrada.
Um dos elementos fundamentais no projeto e operação de filtros é a denominada taxa de
filtração, dada pela expressão:
𝑄
𝑇𝑓 =
𝐴
Onde:
Q = vazão filtrada, em m³/dia
A = área da superfície filtrante, em m²
De acordo com a NBR 12216-1992, o valor máximo dessa taxa deve ser determinado
através de ensaios realizados em filtro-piloto. Se não for possível realizar esses ensaios, então
deverão ser ultrapassados os seguintes valores:
● Filtros de camada simples: 180 m³/m².dia
● Filtros de camada dupla: 360 m³/m².dia
9.3 Dupla filtração (df)
A dupla filtração é uma tecnologia de tratamento de água composta pela filtração direta
ascendente seguida da filtração rápida descendente. O tratamento de água por dupla filtração
surgiu como alternativa para reduzir as limitações das tecnologias de filtração direta ascendente
e filtração direta descendente (DI BERNARDO & SABOGAL PAZ, 2008). A dupla filtração
(DF), além de dispor das vantagens relacionadas à FDA, permite o tratamento de água de pior
qualidade, possibilita o uso de taxas de filtração mais elevadas, oferece maior segurança com
relação às variações bruscas de qualidade da água bruta, apresenta maior remoção global de
microrganismos e pode dispensar o descarte de água pré-filtrada no início da carreira de
filtração (DI BERNARDO; DANTAS, 2005).
Tabela 10 Parâmetros de qualidade de água bruta para tecnologias de filtração direta

Legenda: FAP - Filtro Ascendente de Pedregulho. FRD - Filtro Rápido Descendente - FAAG
- Filtro Ascendente de Areia Grossa.
Fonte: Di Bernardo et al. 2003
9.4 Filtração por membrana
Os Processos de separação com membranas apresentam diversas aplicações na
separação e purificação de misturas gasosas e líquidas. As membranas são produzidas a partir
de diferentes materiais, que dão origem a características específicas de filtragem (por exemplo,
tamanho dos poros, carga superficial e hidrofobicidade) que determinam o tipo de contaminante
que pode ser retido. Os processos de membrana baseiam-se no uso de pressão hidrostática para
remover sólidos suspensos e solutos de alto peso molecular e permitir a passagem de água
e solutos de baixo peso molecular. A filtração por membrana pode ser classificada como:
ultrafiltração (UF), nanofiltração (NF), microfiltração (MF), osmose frontal(FO) e osmose
reversa (RO).
A filtração com membranas é uma filtração absoluta, baseada na exclusão por tamanho,
garantindo a qualidade da água e ausência microbiana. Neste sentido, atua na purificação da
água e representa uma garantia de saúde e qualidade para os produtos, podendo ser utilizada
em diversas aplicações no setor hospitalar, na fabricação de medicamentos e de alimentos.
Membranas de microfiltração e ultrafiltração possuem muitas outras aplicações tais
como:
● Concentração e purificação de proteínas e enzimas
● Pasteurização do leite e outras bebias lácteas;
● Recuperação de corantes;
● Concentração de tintas;
● Produção de água estéril para hospitais e aplicações farmacêuticas;
● Biotecnologia e farmácia;
● Purificação bacteriológica de meios de cultura;
● Purificação bacteriológica de meios injetáveis;
● Purificação de ar;
● Purificação da qualidade do ar em sistemas de ar condicionado;
● Purificação do ar em processo de biotecnologia;
● Fornecimento de ar isento de bactérias para centros cirúrgicos e UTIs;
● Pré-tratamento de processos de nanofiltração e osmose reversa – protegem as
membranas de nanofiltração e de osmose reversa, eliminando todo material em
suspensão e aumentando a vida útil das membranas.
As membranas usadas no tratamento de água, utilizam pressão como força motriz para
a separação. Dentro dessa categoria de membranas, existem diversos tipos, sendo que cada um
deles é mais adequado para um determinado propósito de tratamento de água. A microfiltração
e a ultrafiltração, que são processos a baixas pressões, removem mais eficientemente partículas
e microrganismos.
O processo de osmose reversa dessaliniza e remove compostos orgânicos e inorgânicos
sintéticos e matéria organiza natural, enquanto que a nanofiltração remove íons cálcio e
magnésio. As vantagens associadas a filtração por membranas são a produção de um menor
volume de lama, menor espaço ocupado na usina, potencial de automação do processo e uma
redução considerável das unidades utilizadas em clarificação para processos que se utilizem
dessas duas técnicas de separação sólido-líquido.
A principal desvantagem da filtração por membranas é a possibilidade de obstrução
irreversível dos poros devido a presença de sólidos em suspensão, havendo a necessidade prévia
de remoção desses sólidos por outros métodos. A tabela a seguir mostra as principais
características das membranas.

Tabela 11 Características das membranas


MICROFILTRAÇÃO
1 – Porosidade: 0,1 µm a 5 µm
2 – Pressão de operação: < 200 KPa
3 – Material retido: Protozoários, bactérias, vírus (maioria) e partículas.
4 – Configuração comum: Membrana em formato cilíndrico.
ULTRAFILTRAÇÃO
1 – Porosidade: 0,001 µm a 0,1 µm
2 – Pressão de operação: 0,1 Mpa a 1,0 Mpa
3 – Material retido: Material removido na microfiltração além de coloides, totalidade de vírus
e perturbadores endócrinos.
4 – Configuração comum: Membrana em formato cilíndrico.
NANOFILTRAÇÃO
1 – Porosidade: < 0,001 µm
2 – Pressão de operação: 0,5 Mpa a 3,5 Mpa
3 – Material retido: íons divalentes e trivalentes, molécula orgânicas com tamanho maior que
a porosidade média da membrana e perturbadores endócrinos.
4 – Configuração comum: Membranas em formato de folhas planas.
OSMOSE REVERSA
1 – Porosidade: < 0,001 µm
2 – Pressão de operação: 1,5 Mpa a 15 Mpa
3 – Material retido: Íons e praticamente a matéria orgânica
4 – Configuração comum: Membranas em formato de folhas planas.
5 – Funcionamento: Consiste na passagem da água por uma membrana semipermeável pela
ação de uma pressão hidráulica superior a pressão osmótica de equilíbrio.
ELETRODIALISE
1 – Porosidade: < 300 Daltons
2 – Material retido e funcionamento: A força motriz da separação é a corrente elétrica, assim,
são removidos contaminantes iônicos, que são transportados através de membranas com
carga elétrica em sentido contrário ao gradiente de concentração.
Fonte: Notas de aula da Professora Carla Grayce

10 ADSORÇÃO

A adsorção é um processo que decorre de ações interfaciais que permitem que moléculas
do asorvato sejam transferidas para a superfície do adsorvente e fiquem retidas no mesmo, nesse
processo o composto adsorvido é denominado adsorvato e o sólido que proporciona a superfície
onde ocorre a adsorção se designa adsorvente.
Os principais compostos de interesse da adsorção são os que conferem sabor e odor à
água, sendo eles orgânicos naturais e sintéticos (2-metilisoborneol - MIB - e geosmina,
fármacos, agrotóxicos, cianotoxinas, precursores da formação de subprodutos da desinfecção e
desreguladores endócrinos), os compostos inorgânicos capazes de provocar malefícios à saúde
humana (metais pesados, como arsênio) e ainda a adsorção pode-se prestar à remoção do
residual de cloro. O carvão ativado granular ou pulverizado é o adsorvente mais utilizado em
tratamento de água.
Para uma maior eficiência do processo de adsorção, o conhecimento de algumas
propriedades do adsorvente e do adsorvato torna-se necessário. Compostos mais hidrofóbicos
(apolares) apresentam menor solubilidade em água do que substâncias hidrofílicas (polares),
logo, devido a menor afinidade com a água e a maior com o adsorvente, as substâncias
hidrofóbicas tenderão a deixar o meio líquido e serem adsorvidos na superfície do adsorvente.

10.1 Características dos adsorventes


Os adsorventes são materiais sólidos de elevada área superficial nos quais se dará a
adsorção dos adsorvatos. Para tal, deve-se conhecer as características físico-químicas dos
mesmos, dentre as quais destacam-se a composição química, a carga superficial, os sítios ativos
e as características relacionadas à textura do adsorvente, como área superficial, diâmetro e
volume dos poros.
A composição química do adsorvente está relacionada aos grupos funcionais
distribuídos ao longo da superfície estrutural e possuem procedências de acordo com a natureza
do material utilizado como matriz, podendo ser de origem vegetal – madeira, borracha, carvão
-, mineral – alumina, zeólita, sílica, carvão - , animal (osso) ou sintética como os polímeros.
A carga superficial do adsorvente é função dos grupos funcionais que o integram, assim,
em função destes grupos químicos, a carga superficial pode ser positiva, negativa ou neutra. De
fundamental importância é o conhecimento sobre a carga superficial do adsorvente pois a partir
dela, identificaremos o potencial de adsorção frente às diferentes cargas dos compostos a serem
adsorvidos. Neste contexto, destaca-se o ponto de carga zero (PCZ), que é o valor de pH da
solução em que a carga da superfície do adsorvente é nula. O conhecimento do PCZ expressa
previamente, as possíveis interações que podem ocorrer na adsorção, uma vez que será
conhecida a carga superficial do adsorvente (positiva, negativa ou neutra) em ampla faixa de
valores de pH. Para valor de pH superior ao considerado de carga zero (PCZ) a superfície do
carvão apresentar-se-á negativa (excesso de ânions OH-), enquanto que inferior será positiva
(excesso de íons H+).
Os sítios ativos dos adsorventes são regiões localizadas em toda a superfície, onde se
manifestam os grupos funcionais responsáveis pela adsorção. As interações destes compostos
constituintes da superfície adsorvente, assim como o valor do pH da solução aquosa são
determinantes para caracterizarem a adsorção.
Quanto a área superficial do adsorvente, a capacidade de adsorção está interligada a esta
propriedade de forma que, para maiores áreas superficiais – que corresponde ao somatório da
área externa e da área interna originada pelos poros ou canalículos inerentes a qualquer sólido
– maior a capacidade de adsorver compostos. Os adsorventes modificados são altamente
porosos e possuem área superficial da ordem de 100~1.000m²/g. Os poros podem ser divididos
quanto as suas dimensões em macroporos (maiores que 50 nm), mesoporos (entre 2 e 50 nm) e
microporos (menores que 2 nm). Os carvões vegetais possuem superfície bem mais porosa do
que os carvões minerais.

10.2 Tipos de adsorventes


A depender da natureza química e física do adsorvato, diversos adsorventes podem ser
utilizados. O carvão ativado (CA) é o principal adsorvente utilizado em tratamento de água, O
CA pode adosrver uma grande variedade de compostos que geram odor e gossto à água de
consumo, tais como agrotóxicos e cianotoxinas, o mesmo possui em sua composição carbono
(88%), oxigênio, enxofre, nitrogênio, hidrogênio e cinzas; elevada área superficial (~800 m²/g)
e alto grau de porosidade. Para sua produção, o material precursor (matriz) sofre aquecimento
a temperaturas da ordem de 700 °C (fenômeno conhecido por pirólise) e logo após é ativado
através da aplicação de gases oxidantes (dióxido de carbono, oxigênio, ozônio, óxido nítrico)
ou soluções aquosas (ácido nítrico, peróxido de hidrogênio, hipoclorito de sódio), resultando
na formação de grupos químicos como carboxila, lactona, fenol, quinona na superfície do
carvão. As principais características do carvão dependem da origem do material empregado
(vegetal, animal e mineral) e o tipo de ativação (física ou térmica e química).
Além dos precursores, a principal diferença dos carvões ativados dá-se pelo tamanho
das partículas. O carvão ativado em pó (CAP) apresenta tamanho de partículas 20~50 nm, já
carvões ativados granulares (CAG) apresentam granulometria variando entre 0,5~3,0 mm de
diâmetro médio.
Os fatores determinantes para a escolha do tipo de carvão ativado a ser utilizado passam
pelos critérios econômicos e à manifestação, sazonal ou perene, da substância de interesse a ser
removida. A opção pelo CAP robustece-se pelo menor investimento inicial quando os
adsorvatos manifestam-se sazonalmente, como cianotoxinas ou agrotóxicos em algumas
regiões do Brasil, porém, quando suas doses são elevadas durante longos períodos, o emprego
do CAG se justifica. As zeólitas também são utilizadas na adsorção e seu emprego no Brasil é
limitado a estações industriais e a águas subterrâneas quanto a remoção de ferro e manganês.
Quanto ao local da aplicação em estações convencionais, geralmente o CAP é posto na unidade
de mistura rápida (isto por facilidades operacionais e fatores econômicos) e, bem mais raro, na
primeira câmara de floculação ou no efluente dos decantadores.

11 OXIDAÇÃO

A oxidação pode ser utilizada para reduzir a concentração de contaminantes orgânicos


e inorgânicos que não são facilmente removidos nas unidades que comumente compõem as
estações de tratamento (HELLER; PÁDUA, 2016). Para promover a oxidação pode-se utilizar
agentes químicos ou a aeração, a ser determinado de acordo com o componente que se pretende
remover.
Existe uma grande variedade de agentes químicos que promovem a oxidação, destacam-
se cloro, dióxido de cloro, ozônio, permanganato de potássio e peróxido de hidrogênio. Com
vistas a aumentar a eficiência dos processos de tratamento de água, principalmente quando há
presença de cianobactérias em corpos hídricos destinados ao abastecimento humano, a oxidação
é um processo importante a ser considerado no tratamento (CAPELO NETO; NEYCOMBE,
2017). O tipo de oxidante, a dosagem e o tempo de contato devem ser definidos previamente
em laboratório, levando em consideração a possível formação de subprodutos prejudiciais à
saúde, com concentração máxima prevista no Anexo XX da Portaria de Consolidação Nº 5, de
28 de setembro de 2017, do Ministério da Saúde.
A aeração é indicada para a oxidação de compostos voláteis e gases dissolvidos
presentes na água, como gás carbônico e ácido sulfídrico, assim como para oxidar compostos
de ferro e manganês presentes na água, principalmente, de fontes subterrâneas. Existe uma
variedade de aeradores, as mais comuns são de queda por gravidade (do tipo cascata e de
tabuleiro), de repuxo e de borbulhamento (RICHTER; AZEVEDO NETTO, 2013).

12 DESINFECÇÃO

A desinfecção pode ser considerada como a última etapa do tratamento para se obter
água de consumo livre de microrganismos patogênicos (bactérias, vírus, protozoários e
vermes), cuja inativação se dá através de agentes físicos e/ou químicos (LIBÂNIO, 2016). Essa
etapa é extremamente necessária, uma vez que os processos físico-químicos convencionalmente
utilizados no tratamento de água para abastecimento não garantem a remoção total desses
microrganismos (RICHTER, 2009).
A escolha de um desinfectante depende:
● Habilidade de controlar e destruir os diferentes agentes infecciosos sob condições
normais de operação;
● Características que possam ameaçar pessoas e ambiente durante a aplicação e depois;
● Segurança de manuseio, estocagem e transporte;
● Custo.
Os principais agentes físicos utilizados na desinfecção são radiação UV, radiação gama,
radiação solar e, em nível domiciliar, fervura. Os agentes químicos incluem cloro, dióxido de
cloro, peróxido de hidrogênio, ácido acético, bromo, iodo, permanganato de potássio, cloreto
de bromo e ozônio (LIBÂNIO, 2016). A tabela a seguir apresenta o potencial de oxidação de
alguns desinfetantes químicos utilizados no tratamento de água.

Tabela 12 Potencial de oxidação de alguns desinfetantes químicos


Composto Fórmula Potencial de oxidação (V) Reação típica
Ozônio 𝑂2 2,07 O3 + 2H+ + 2e- → O2 + H2O
Dióxido de cloro 𝐶𝑙𝑂2 1,91 ClO2 + 5e- + 2H2O → Cl- + 4OH-
Cloro 𝐶𝑙2 1,36 Cl2 + 2e- → 2Cl-

Bromo 𝐵𝑟2 1,09 Br2 + 2e- → 2Br-


Iodo 𝐼2 0,54 I2 + 2e- → 2I-
A cloração é o sistema mais antigo e ainda o mais usado, sua ação se dá por oxidação
celular dos microrganismos e pode ser aplicado na forma de gás, de soluções de hipoclorito ou
dióxido de cloro. Ele tem sido empregado como desinfetante primário na maioria das estações
que trata água superficial ou subterrânea, tanto como pré-oxidante como pós-desinfectante.
O ozônio é outro forte oxidante, aplicado na forma de gás, deve ser produzido in loco,
por descarga elétrica através de ar seco ou oxigênio puro. É capaz de oxidar compostos
orgânicos e inorgânicos na água.
O ozônio decompõe-se na água espontaneamente em pequenos intervalos de tempo, o
que gera a dificuldade de manter uma concentração residual na rede de abastecimento caso seja
utilizado este método de desinfecção. O sistema completo de desinfecção consiste no gerador
de ozônio, no reator ou câmara de contato entre o gás e a água a ser desinfectada e no
equipamento para destruição do ozônio gasoso que não foi dissolvido na água.
A radiação ultravioleta (UV) é gerada in loco por descarga elétrica através de
lâmpadas de vapor de mercúrio. Esta radiação natural, parte do espectro não visível dos raios
do sol, penetra no corpo dos microrganismos, altera seu código genético e impossibilita a
reprodução.
Os parâmetros de qualidade de água para aplicação de radiação UV são:
● Turbidez - máxima de 5 UNT
● Sólidos suspensos – máximo 10 mg/l
● Cor – nenhum
● Ferro – máximo 0,3 mg/l
● Manganês – máximo 0,05 mg/l
● PH – 6,5 – 9,5
Vantagens da desinfecção por UV:
● É eficiente para eliminar bactérias, vírus, esporos e cistos;
● É um processo físico, não adiciona produtos químicos ao meio;
● Não tem necessidade de transporte, armazenamento e manuseio de produtos tóxicos ou
corrosivos;
● Não há efeito residual que possa prejudicar humanos, meio ambiente ou vida aquática;
● Não altera o PH ou qualquer propriedade físico-químico da água;
● Ocupa menos espaço que a instalação de outros métodos;
● Preserva o gosto da água;
● Ação rápida, 0,5 a 5 segundos contra 20 a 40 minutos no caso de cloro e/ou ozônio.
13 CONTAMINANTES EMERGENTES

Cada vez mais estamos consumindo produtos industrializados, com isso ficamos cada
vez mais expostos aos agentes químicos que causam diversas alterações nos nossos organismos
e são irreparáveis a saúde humana. A comunidade científica internacional tem dedicado atenção
especial aos efeitos causados pelos contaminantes emergentes nos seres humanos e também nos
animais aquáticos.
Nos últimos 20 anos houve um avanço tecnológico significativo no tocante à
identificação, quantificação e remoção desses contaminantes presentes na água.
Os contaminantes emergentes são um grande grupo de produtos químicos e que
continuam a crescer à medida que novos produtos são identificados como parte dessa
classificação. Richardson e Ternes, apresentam uma revisão semestral onde incluem uma
ampla variedade de compostos para o grupo dos contaminantes emergentes, incluindo sucralose
e outros adoçantes artificiais, nanomateriais, compostos perfluorados, subprodutos de
desinfecção de piscinas, protetores solares e Filtros UV, retardadores de chama, benzotriazóis
e benzotiazóis, siloxanos , ácidos naftênicos, almíscares, toxinas de algas e líquidos iônicos e
priões. Com os crescentes avanços na indústria química, a variedade de compostos que estão
sendo liberados para o ambiente, que são potencialmente prejudiciais para os seres humanos e
para o ecossistema a longo prazo, deve crescer significativamente ao longo dos anos, (Mcelroy.
C R. et Al 2015).

13.1 Contaminantes emergentes na água: causas, efeitos e análise


O consumo de água com presença de contaminantes emergentes, em especial os
interferentes endócrinos, afeta principalmente a função do sistema endócrino e
consequentemente causa efeitos adversos em um organismo saudável, ou em seus descendentes,
como por exemplo:
 Destruir ou modificar a estrutura de um hormônio;
 Incentivar ou inibir a síntese de um hormônio;
 Estimular a excreção;
 Inativar as enzimas responsáveis pela decomposição.
 Efeitos adversos na reprodução (infertilidade, câncer, criptoquirdia, hipospadia);
 Antecipação da idade da menarca;
 Aumento da incidência de câncer de mama;
 Potencialização do desenvolvimento precoce do cérebro;
 Deterioração da qualidade do sêmen;

Já em animais podemos perceber os efeitos de alterações no desenvolvimento de


moluscos e anfíbios, feminilização de peixes, disfunções no metabolismo da testosterona em
Daphnias, decréscimo da fertilidade de aves, deformidades no sistema reprodutivo de roedores
e concentrações anormais de hormônios sexuais no plasma e anomalias morfológicas nas
gônadas de répteis.

13.2 Metodologias atuais para identificação e quantificação dos contaminantes emergentes


Os Contaminantes emergentes são substâncias que entram continuamente no meio
ambiente e que estão sendo reconhecidas com maior profundidade devido ao avanço de técnicas
instrumentais e de preparo de amostra, (Souza, Maiara Priscilla, (2016).
Devido à estrutura química de vários compostos incluídos no grupo dos contaminantes
emergentes, eles podem ser facilmente dissolvidos em água e transportados através do ciclo da
água com alto potencial como uma ameaça para organismos aquáticos e humanos. A
identificação e quantificação destes compostos em água ou águas residuais tornou-se uma tarefa
científica importante, exigindo metodologias analíticas altamente sofisticadas que são capazes
de detectar em níveis de nanogramas por litro (ng L-¹). Consequentemente existe uma
necessidade clara de informações detalhadas sobre esses contaminantes de uma perspectiva
de química analítica, que pode fornecer conhecimento sobre a aplicação de métodos de
monitoramento de amplo alcance e para desenvolver métodos de seleção rápidos e eficientes
para determinar esses compostos.

13.3 Tecnologias de tratamento para remoção de contaminantes emergentes


As tecnologias não convencionais de tratamento de água mudaram com o tempo como
resultado de novas técnicas sendo desenvolvidas. Esses tratamentos podem ser amplamente
divididos em tecnologias de mudança de fase, como a adsorção usando os mais variados
adsorventes, tudo intimamente ligado ao tipo de contaminante a ser tratado, tratamento
biológico sistemas de lodos ativados são normalmente usados para tratar esses contaminantes
devido à sua eficácia, processos aeróbicos ou anaeróbicos e processos avançados de oxidação
como radiação ultravioleta, fotólise, oxidação eletroquímica, dentre outros.
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