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“Depois de ler este livro, sua visão de mundo vai virar de cabeça para
baixo: você verá que a inteligência coletiva não virá apenas de cérebros em
rede, mas também de máquinas massivamente conectadas e inteligentes.
Em um futuro próximo, o melhor emprego que se poderá ter será aquele
que você faria de graça.”
— Nicholas Negroponte, cofundador do MIT
Media Lab, fundador do One Laptop Per Child
e autor de A Vida Digital
AS HABILIDADES
DAS NOVAS
MÁQUINAS: A
TECNOLOGIA SAI
NA FRENTE
— Arthur C. Clarke
Nosso passeio na 101 naquele dia foi particularmente estranho para nós
porque, apenas alguns anos antes, tínhamos certeza de que os computa-
dores não seriam capazes de dirigir carros. Pesquisas e análises excelentes,
conduzidas por colegas que respeitamos muito, concluíram que a direção
continuaria sendo uma tarefa humana no futuro próximo. Como eles che-
garam a essa conclusão e como as tecnologias como Chauffeur começaram
a desbancá-la são importantes lições sobre o progresso digital.
Em 2004, Frank Levy e Richard Murnane publicaram o livro The New
Division of Labor.1 A divisão na qual se concentraram era a divisão entre o
* Nos anos antecedentes à grande recessão que teve início em 2007, as empresas estavam
concedendo hipotecas a pessoas com baixas pontuações de crédito, renda e riqueza, e maio-
res níveis de dívida. Em outras palavras, eles reescreveram ou ignoraram seus algoritmos de
aprovação de créditos anteriores. Os algoritmos de aprovação de créditos anteriores não pa-
raram de funcionar; eles pararam de ser usados.
À ÀOnde Elvis está enterrado? Respondia: “Não posso responder isso para você”.
Ele entendeu que “Elvis Buried” (Elvis Enterrado, em português) era o nome da
pessoa.
À ÀQuando foi lançado o filme Cinderela? Respondia com uma busca por ci-
nemas no Yelp.
“Sketch des Monty Python ‘Phrasebook sale hongrois’ est l’un des plus drôles les
leurs”. Transmite a essência da frase, mas há sérios problemas gramaticais.
Há menos chances de que você pudesse ter traduzido essa frase (ou
qualquer outra) para húngaro, árabe, chinês, russo, norueguês, malásio,
íidiche, suaíle, esperanto ou qualquer outra das sessenta e três línguas,
além do francês, que fazem parte do serviço do Google Translate. Mas
o Google tentará uma tradução de texto a partir de qualquer uma dessas
línguas para qualquer outra, instantaneamente e de graça, para qualquer
pessoa com acesso à internet.12 O aplicativo para smartphone do serviço
Translate permite aos usuários falarem mais de quinze desses idiomas ao
telefone e, como resposta, o software produzirá uma fala traduzida sinteti-
zada em mais da metade delas. Pode apostar que até mesmo a pessoa mais
poliglota do mundo não consegue chegar a esse nível.
Por muitos anos, ferramentas de tradução instantânea só existiam em
ficção científica (com destaque para o Babel Fish do Guia do Mochileiro
das Galáxias, uma criatura estranha que, depois de inserida no ouvido,
permite à pessoa compreender qualquer idioma).13 O Google Translate e
serviços similares estão tornando isso realidade hoje em dia. Na verdade,
ao menos um serviço desses está sendo usado neste momento para facilitar
interações internacionais de atendimento ao cliente. A empresa de servi-
ços de tradução Lionbridge fez uma parceria com a IBM para oferecer o
GeoFluent, um aplicativo online que traduz instantaneamente os chats en-
tre os clientes e atendentes que não falam o mesmo idioma. Em um teste
inicial, aproximadamente 90% dos usuários do GeoFluent relataram que o
desempenho foi bom o suficiente para objetivos de negócios.14
* Para ser preciso, Trebek lê respostas e os competidores devem dizer a pergunta que origi-
naria essa resposta.
Uma última área importante na qual vemos uma rápida aceleração recente
no desenvolvimento digital é a robótica — construindo máquinas que
podem navegar através e interagir com o mundo físico das fábricas, depó-
sitos, campos de guerra e escritórios. Vemos aqui, de novo, um progresso
que vinha sendo muito gradual e, então, tornou-se repentino.
1. Um robô não pode machucar um ser humano ou, através da inação, permitir
que um ser humano corra perigo.
2. Um robô deve obedecer as ordens dadas por seres humanos, exceto quando
tais ordens entrarem em conflito com a Primeira Lei.
3. Um robô deve proteger a sua própria existência enquanto tal proteção não
conflitar com a Primeira ou a Segunda Lei. 25
zas realçam uma verdade geral: muitas das coisas que os humanos acham
fácil e natural de fazer no mundo físico têm sido notavelmente difíceis
para os robôs dominarem. Como o roboticista Hans Moravec observou,
“é comparativamente fácil fazer um computador exibir desempenho do
nível de adultos em testes de inteligência ou jogando damas, e difícil ou
impossível dar a eles as habilidades de uma criança de um ano quando se
trata de percepção e mobilidade”.27
A situação ficou conhecida como o paradoxo de Moravec, muito bem
resumido pela Wikipedia como “a descoberta feita por pesquisadores de
inteligência artificial e robótica de que, ao contrário das suposições tra-
dicionais, o raciocínio de alto nível exige muito pouca computação, mas
as habilidades sensório-motoras de baixo nível exigem enormes recursos
computacionais”.28* O insight de Moravec é amplamente preciso e impor-
tante. Como o cientista cognitivo Steven Pinker coloca, “A principal lição
de trinta e cinco anos de pesquisa em IA é que os problemas difíceis são
fáceis e os problemas fáceis são difíceis… Conforme surge a nova gera-
ção de dispositivos inteligentes, serão os analistas da bolsa, os engenheiros
petroquímicos e os membros do conselho de condicional que correrão o
risco de ser substituídos por máquinas. Os jardineiros, recepcionistas e
cozinheiros ainda continuarão seguros em seus cargos por décadas”.29
O que Pinker quer dizer é que os especialistas em robótica acharam
malignamente difícil construir máquinas que tivessem até mesmo as ha-
bilidades do trabalhador manual menos treinado. O Roomba, da iRobot,
por exemplo, não é capaz de fazer tudo que uma empregada faz; ele apenas
aspira o chão. Mais de dez milhões de Roombas foram vendidos, mas ne-
nhum deles vai endireitar as revistas em cima da mesa de centro.
Quando se trata de trabalho no mundo físico, os humanos também
têm uma enorme vantagem de flexibilidade sobre as máquinas. Automati-
* Habilidades sensório-motoras são aquelas que envolvem sentir o mundo físico e controlar
o corpo para mover-se por esse mundo.
zar uma única atividade, como soldar um arame em uma placa de circuito
ou apertar uma peça na outra com parafusos, é muito fácil, mas essa tarefa
deve ser constante ao longo do tempo e deve acontecer em um ambiente
“normal”. Por exemplo, a placa de circuito deve estar na mesma posição
todas as vezes. As empresas compram máquinas especializadas para tarefas
como essas, fazem com que seu engenheiros as programem e testem e,
então, colocam-nas em suas linhas de montagem. Cada vez que a tarefa
muda — cada vez que a posição dos buracos do parafuso é outra, por
exemplo, a produção deve parar até que a máquina seja reprogramada.
As fábricas de hoje, principalmente as de grande porte em países de altos
salários, são altamente automatizadas, mas não estão cheias de robôs para
propósitos gerais. Elas estão cheias de máquinas dedicadas e especializa-
das, caras de comprar, configurar e reconfigurar.