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o pastor reformado

“Pois a terra se encherá do conhecimento da glória do SENHOR, como as águas cobrem o mar” –
Hc 2.14

6 de julho de 2013

Pregação Expositiva: Não há outro método!

Introdução:
Em um artigo recente escrevi sobre a suficiência da Escritura, esta é uma doutrina que
realmente acredito. Porém não tem possibilidade de ser um pregador da Bíblia,
acreditando na suficiência e não ser adepto do método expositivo de pregação. Por
isso, venho por meio deste, mesmo sendo um pouco longo, pois é a introdução de uma
monografia, divulgar uma defesa explícita e convicta do único método que
verdadeiramente honra a Escritura como palavra de Deus.

O que é pregação expositiva?

A pregação expositiva é um método de pregação e um estilo homilético de exposição


da palavra escrita de Deus (Bíblia) de modo fiel ao texto, no qual quem fala é a própria
Palavra e faz com que o pregador se submeta à ação do Espírito Santo um verdadeiro
servo da Palavra.
Na pregação expositiva o mais importante é a palavra de Deus, pois esse foi o modo
que Deus escolheu para se revelar a humanidade e para produzir fé e intimidade com
os seres humanos, sempre com a presença do Espírito Santo falando e convencendo
os ouvintes. A Confissão de fé de Westminster, a última Confissão Reformada propõe
essa dinâmica de ação entre o Espírito e a palavra de Deus:

“...todas as opiniões dos antigos escritores, todas as doutrinas de homens


e opiniões particulares, o Juiz Supremo em cuja sentença nos devemos
firmar não pode ser outro senão o Espírito Santo falando na Escritura”.

Durante a história da Igreja de Cristo, muitos oradores santos usaram recursos e


modelos de exposição da revelação de Deus. Devido à necessidade da mente humana
os métodos de exposição e de ensino são necessários para que a Palavra seja
entendida e possa ser praticada de forma relevante e concreta. Para isso uma
argumentação sistemática e lógica é muito proveitosa na realização do ofício do
pregador, pois o mesmo pode transmitir a verdade de Deus com muita eficiência e
clareza.
A explicação do Rev.Hernandes Dias Lopes traz uma lucidez muito importante para
começar a compreender esse método e a necessidade do mesmo para a edificação da
igreja local, ele diz:

“... a pregação expositiva tem o compromisso de explicar o texto da


Escritura segundo o seu significado histórico, contextual e interpretativo,
transmitindo aos ouvintes contemporâneos a clara mensagem da Palavra
de Deus com aplicação pertinente” (LOPES, 2004, p.18).

Essa definição é muito clara no que pretende. Mostra o compromisso da pregação em


explicar o texto bíblico para que os ouvintes possam tomar uma decisão de acordo
com seu entendimento e disposição. O autor quer mostrar a integridade do método
quando se crê que a intenção do pregador é falar da parte de Deus e fazer com que o
povo conheça a sua vontade, sendo assim a pregação expositiva é simplesmente
expor a Escritura com seu sentido original e aplicando seu conteúdo ao coração do
homem contemporâneo.
Mesmo sendo um método nobre pelo que representa e faz na prática a pregação
expositiva tem perdido seu valor em nossos púlpitos. Muitos pregadores evangélicos
não sabem que método é esse e muito menos estão interessados em usá-lo devido
sua falta de conhecimento e disposição para sua elaboração. É necessário considerar
também que o desinteresse pela exposição em muitos casos acontece pelo desejo
excessivo de crescimento numérico da igreja local ou por falta de conhecimento
bíblico adequado.
É muito comum entre os membros nas igrejas e os pregadores de hoje acharem que
tudo que se fala da Bíblia é exposição ou é pregação bíblica, mas isso pode ser uma
falácia, pois tem surgido em grande número no seio da igreja cristã evangélica homens
utilizando a palavra de Deus ou expondo um tema sobre a palavra de Deus, sendo
assim em muitos lugares já desapareceu a exposição exegética e contextual. Aqui é
necessário se arriscar e dizer que em algumas igrejas locais Deus não tem falado
mais, pois alguns pregadores estão usando a Bíblia para que eles mesmos possam
falar e para que os ouvintes acreditem que a voz que estão ouvindo é a de Deus.
Alguns pregadores sérios têm chegado à conclusão de que as igrejas locais no campo
religioso brasileiro precisam urgentemente de uma restauração em seus púlpitos e um
retorno ao ensino homilético de qualidade e que o método expositivo é a melhor forma
de alcançar esse objetivo. O Rev. Hernandes Dias Lopes expressa seu sentimento
dizendo: “De fato, muitos pastores e membros de igreja entraram numa profunda letargia
espiritual. Um reavivamento no púlpito e nos bancos é absolutamente necessário”
(LOPES, 2004, p. 11).
O entendimento sobre a pregação expositiva deve estar bem claro nas mentes
daqueles que têm sido vocacionados para o ministério da Palavra, pois a ordem ao
vocacionado é: “prega a Palavra”.
O objetivo primário da pregação bíblica é levar a igreja à maturidade espiritual e ao
crescimento saudável a fim de formar discípulos parecidos com Cristo. A pregação
expositiva se propõe a isso, nesse caso a definição de Walter L. Liefeld é bem
esclarecedora:

“Pregação Expositiva é explicação aplicada... A natureza essencial da


pregação expositiva, portanto, é pregação que explica a passagem de uma
maneira que leve a igreja a uma aplicação verdadeira e prática da
passagem” (LIEFELD, 1985).

Quando este método é estudado percebe-se a grande dificuldade que alguns


pregadores têm para entender a diferença de outros métodos. A pregação expositiva é
muito confundida com o método textual; este é muito usado e ensinado em seminários
evangélicos e com certeza o pregador poderá usá-lo como exposição textual, sendo
fiel ao texto usado e explicando seu contexto à luz de outras passagens da Bíblia. O
método de pregação textual também tem sido importante na história da igreja e se for
usado legitimamente e com cuidado pode ser um instrumento de edificação espiritual,
porém para uma melhor compreensão é essencial entender a diferença; essa diferença
é muito bem elaborada por Robson M. Marinho, quando diz: “Numa visão superficial,
pode parecer que o sermão textual e o expositivo são bem semelhantes, pelo fato de
ambos se originarem no texto bíblico. Mas a diferença vai além do tamanho do texto”
(Marinho, 1999, p. 145).
O mesmo autor descreve as principais diferenças, dizendo que:

“o sermão textual extrai as divisões principais do texto, mas as subdivisões


são construídas conforme a argumentação do pregador, enquanto o
sermão expositivo constrói as subdivisões a partir das circunstâncias do
texto”. Outra diferença é que “o sermão textual limita-se a um versículo da
Bíblia, enquanto o expositivo pode usar uma narrativa ou um conceito de
um ou mais capítulos, ou até de um livro inteiro da Bíblia. Um sermão
expositivo pode abordar, por exemplo, a vida do profeta Jonas, utilizando
todo o livro para extrair as divisões e subdivisões da idéia central”. O autor
também declara que no textual, “o estudo do contexto é recomendável: no
expositivo é indispensável, pois, do contrário, o sermão deixa de ser
expositivo(1999, p. 146)”. 

O conhecido “príncipe dos pregadores” Charles Haddon Spurgeon (Spurgeon, 1996) era
especialista na pregação textual, porém sua pregação textual era baseada em uma
aplicada exegese e na explicação de algum texto específico. Percebe-se que até
mesmo suas características temáticas eram trabalhadas na perspectiva do que alguns
chamam hoje de pregação expositiva temática. Lendo seus sermões pode- se ver
claramente um grande cuidado e fidelidade ao texto e contexto da Bíblia.
É importante lembrar que Spurgeon tinha uma habilidade muito grande nos estudos e
na oratória, algo que não se aplica à maioria das pessoas e principalmente aos
pregadores brasileiros. Também os pregadores de hoje não têm sido influenciados por
esse brilhante pregador, pelo contrário, alguns nem sabem que esse notável servo de
Deus existiu. O problema é que as influências de hoje estão nos campos da Psicologia,
Filosofia e das técnicas de liderança e marketing e não nos campos da oração,
exegese bíblica e de uma teologia comprometida com a verdade das Escrituras. 
A pregação expositiva se baseia no labor e na busca intensa de expor um texto mais
extenso de acordo com o contexto e intenção do autor, a mesma extrai o tema e os
tópicos oferecidos pelo próprio texto e aprofunda seu significado com aplicação direta
aos ouvintes; um grande pregador chamado Haddon Robinson escrevendo sua tese
sobre Pregação Bíblica diz:

“A pregação expositiva é a comunicação de um conceito bíblico, derivado


de, e transmitido através de um estudo histórico, gramatical e literário de
uma passagem no seu contexto, que o Espírito Santo primeiramente aplica
à personalidade e experiência do pregador, e depois, através dele, aos seus
ouvintes” (ROBINSON, 1983). 

A pregação deve ser em sua essência e propósito, bíblica, sem que a Bíblia seja apenas
um instrumento a ser usado ou manipulado, porém a Bíblia nas mãos de um pregador
deve ser explicada e aplicada para que seu propósito se cumpra como palavra viva e
transformadora de Deus nos corações dos ouvintes. De acordo com a Bíblia parece
que esse é o desejo de Deus, quando declara : “...assim será a palavra que sair da minha
boca: não voltará para mim vazia, mas fará o que me apraz e prosperará naquilo para que
a designei(Isaías 55: 11 – ARA)”.
A mensagem de Deus aqui deveria ser o suficiente para que o pregador se esforce em
anunciar a palavra de Deus de acordo com o desígnio de Deus revelado no texto das
Escrituras Sagradas.
Se a pregação expositiva se propõe a explicar o texto bíblico, pode-se concluir que
pregação expositiva é simplesmente expor um texto à luz de seu contexto e sua
estrutura se limita às porções exegéticas do próprio texto.
Na exposição o pregador não tem a autoridade de inserir seu próprio tema e suas
idéias ao texto, pois o próprio lhe concede todas as partes do sermão e toda a
estrutura necessária para que seja explicado.[1]
Cada porção exegética em nossas Bíblias com capítulos e versículos nos fornecem os
temas e tópicos necessários para uma boa estrutura de sermão expositivo, fazendo
com que o pregador se atenha ao texto e, suas pesquisas somente reforçam o
contexto e não tome o lugar do próprio texto.

A pregação expositiva contemporânea

A pregação nos dias atuais está sendo deixada de lado ou alguns meios de
comunicações a têm substituído, vários são os argumentos e alguns até convincentes
diante de uma análise sociológica de nosso tempo. O Rev.John Stott faz uma
declaração que revela o que alguns pastores têm pensado em relação à pregação:

“Os profetas da desgraça na igreja de hoje estão predizendo, com


confiança, que já se passaram os dias da pregação. Dizem que é uma arte
que está morrendo, uma forma de comunicação que está fora de moda...”
(Stott, 2003, p. 51).

O mundo está em constante mudança, o pragmatismo religioso que em alguns anos


atrás não era parte do campo religioso brasileiro agora é visível em todos os lugares e
está no cotidiano religioso se manifestando nas liturgias modernas e conferências
sobre crescimento da igreja, liderança e outras atividades desse tipo.
As estruturas organizacionais estão sendo formadas tendo em vista um crescimento
como nunca visto antes, técnicas de liderança e marketing tem sido implantadas como
uma espécie de “boom” do momento, a cada dia surgem movimentos vindos do Norte
para implantarem novos modelos de crescimento. Em alguns movimentos
eclesiásticos a teologia da Missão Integral, o pastorado de visitação e aconselhamento
estão sendo extremamente ridicularizados e menosprezados como algo estranho e
sem valor, pois esses trabalhos não produzem números e status para a igreja local.
Os líderes da atualidade não se preocupam mais com a edificação e a qualidade da
igreja local, pois seus sonhos estão em mega-igrejas e lindos templos; o desejo único
em seus corações é crescimento a todo custo, a frase favorita é: “precisamos preparar
a igreja para crescer”.
É impressionante como os líderes cristãos estão se parecendo mais com os homens
de negócios do que com homens santos, piedosos e compromissados com Deus. Uma
pessoa não cristã expressou essa percepção, relatando: “porque será que tenho a
impressão que quando estou sentado ao lado de um Monge parece que estou ao lado
de um santo e, quando estou ao lado de um Pastor parece-me que estou ao lado de um
homem de negócios”. Essa impressão não é nada irreal, pois há hoje em dia pastores
que passam a maior parte do tempo com assuntos administrativos e burocráticos,
alguns nem conhecem mais seu rebanho e as dificuldades que enfrentam.
A idéia de ir ao encontro da ovelha parece absurda, as ovelhas é que precisam correr
atrás do pastor e marcar horário, se o mesmo encontrar um espaço na agenda, tudo
bem, se não a ovelha precisa esperar ou procurar outro pastor que esteja desocupado.
“Pastores muito ocupados não tem tempo para suas ovelhas e nem para cuidar do
rebanho do Senhor”.
Se os pregadores estão motivados com essa mentalidade suas pregações são
preparadas com idéias do mesmo tipo, a leitura bíblica não é feita com o propósito de
saber a vontade de Deus e alimentar o rebanho, mas é feita para conseguir resultados
em seus empreendimentos “cristãos”. Seus métodos de pregações servem aos
desejos do público e caminham em direção ao que dá certo; como afirma John
MacArthur:

“Quando observamos o ministério contemporâneo, vemos programas e


métodos que são fruto da invenção humana, resultado de pesquisa de
opinião pública e avaliação da vizinhança da igreja, além de outros
artifícios pragmáticos” (MACARTHUR, 2007, p.6).

Há algum tempo atrás um pastor, professor de homilética em uma missão quando


perguntaram se ele ensinava o método expositivo à resposta foi: “ensino um pouco de
tudo, pois as coisas estão mudadas”.
A resposta tem em si uma verdade pedagógica que deve ser analisada, mas o
significado por trás dessas palavras ilustra a idéia de nossos pregadores
contemporâneos, a pregação tem que ser uma espécie de “fast food” e precisa estar
de acordo com o planejamento, se o objetivo é crescer ou construir todos os esforços
na pregação serão dirigidos a isso. Na linguagem desses pregadores contemporâneos
se alguém quiser alcançar as pessoas será necessário usar métodos que satisfaçam e
agradam os ouvintes.
Para exemplificar a influência do movimento de crescimento da igreja sobre a realidade
das igrejas locais e dos ministros do evangelho basta lembrar, que o Presbítero que era
o nome bíblico do oficial responsável pelo governo da igreja tem sido substituído por
gestor ou grupo de gestores. Essa é uma forma pragmática de administração, pois os
gestores são os responsáveis pelo planejamento e por fazer a igreja crescer.
Assim acontece com os movimentos de crescimento de igreja que tem formado a
mentalidade dos pregadores contemporâneos e vem dominando muitas igrejas locais
ao redor do mundo e particularmente no contexto brasileiro.
No livro Religião de Poder, quando Alister McGrath argumenta sobre o culto da
personalidade ele faz uma leitura da realidade muito apropriada afirmando:

“O surgimento do teleevangelismo e ministérios de pregação tem levado a


um culto crescente de personalidades dentro do evangelismo de poder.
Isso é verdade não apenas nos ministérios de mídia como também nas
apresentações que celebridades cristãs fazem regularmente em eventos e
megaigrejas. Não é o que as Escrituras ensinam que realmente importa;
mas o que fulano de tal tem a testemunhar comigo sobre suas
experiências e idéias. Até mesmo para alguns pastores, não é o que dizem
as Escrituras, mas o que o pregador disse que dizem as Escrituras, que tem
verdadeira importância. Muitas vezes a Bíblia é totalmente ignorada; o que
vale é o que Deus está dizendo agora pessoalmente a esse pregador...”
(HORTON, 1998, p. 249).

Quantos pregadores estão sendo influenciados em cursos de liderança secular e


aprendendo uma espécie de oratória que mexe com as emoções do público e métodos
de persuasão e controle. Hoje é muito comum líderes que conhecem mais sobre
neurolinguística, psicanálise e outras coisas do gênero do que conhecem a Escritura e
a Teologia Cristã, infelizmente essa é a realidade de muitas igrejas e líderes cristãos.
[2]  
Uma afirmação bastante coerente sobre pregação contemporânea é feita por John
Macarthur Jr, em seu livro diz:

“Se a pregação deve desempenhar o papel designado por Deus na igreja,


então ela deve ser edificada sobre a Palavra de Deus. Em anos passados,
tal declaração teria sido óbvia, até axiomática... Infelizmente, isso já não
ocorre, mesmo em igrejas evangélicas. Muitas pregações hoje destacam a
psicologia, o comentário social e a retórica política. A que busca a”
Relevância “... Lamentavelmente, percebe-se uma tendência no meio
evangélico contemporâneo: a distancia da pregação bíblica e a retomada
no púlpito de uma abordagem pragmática, tópica, centrada na experiência”
(JR, 2004, p. 264).

A pregação contemporânea é caracterizada pela superficialidade e jogos de interesses,


os modernos métodos de administração eclesiástica e os grandes empreendimentos
religiosos roubaram o tempo de pastores e pregadores. O pregador gasta mais tempo
no computador ou administrando as finanças e problemas da igreja do que com a
palavra de Deus e a oração.
Essas atitudes têm dominado aqueles que são chamados para serem ministros da
Palavra e tudo que se ouve em nossos púlpitos são resultados do dia a dia desses
pregadores e não a genuína palavra de Deus como revelada nas Escrituras, essa é
entendida pelo pregador no quarto da oração em secreto com Deus e no púlpito
transborda do coração do pregador ao rebanho sedento e necessitado do alimento
celestial; a palavra de Deus que edifica o cristão e salva o perdido.
Precisamos urgentemente restaurar o método expositivo na pregação contemporânea,
os pregadores cristãos evangélicos precisam voltar à palavra de Deus, investir tempo
em seus estudos e orações. A única maneira de edificar a igreja local e conduzir o
rebanho ao conhecimento de Deus é levando os pregadores à Palavra e ensiná-los a
expor os desígnios de Deus criando pontes para o mundo contemporâneo, com
fidelidade e amor à Palavra.
A pregação expositiva contemporânea deve ser uma pregação centrada na Escritura,
pois, segundo Jesus Cristo somente pelas Escrituras o conheceremos
verdadeiramente, assim o Mestre orienta: “Examinais as Escrituras, porque julgais ter
nelas a vida eterna, e são elas mesmas que testificam de mim (João 5:39 – ARA)”. A
pregação é bíblica e cristocêntrica quando as verdades de Deus e de Cristo é pregada
conforme revelada nas Escrituras.
Também a pregação não pode ser uma exposição morta baseada em uma tradição
religiosa ultrapassada e sem sentido, apenas para se defender uma postura
denominacional. Mas deve ser relevante para o dia a dia das pessoas ao qual Deus
está falando e interessado em edificar e transformar.
Uma proposta recente para a pregação expositiva contemporânea é a pregação
expositiva temática, onde o pregador extrai do texto seu tema e expõe esse tema à luz
do seu contexto, criando pontes de aplicação ao ouvinte. A pregação expositiva
temática tem a preocupação com a verdade do Evangelho e com a necessidade do
povo de Deus; ela se torna bíblica e relevante sem negociar a essência da revelação de
Deus.
O problema não está na pregação contemporânea em si, mas nos métodos usados e
na maneira como a palavra de Deus é negociada tanto nos métodos como nas novas
estruturas eclesiásticas.

A pregação expositiva e a palavra de Deus


A pregação expositiva como já foi visto se propõe a explicar e aplicar o texto bíblico de
forma íntegra e autêntica, recebendo assim o título de pregação bíblica.
Com essa definição podemos meditar sobre qual é a relação desse método com a
palavra de Deus (Bíblia), quero esclarecer, mesmo que seja possível deduzir do texto
acima.
O Senhor Jesus quando expunha um texto fazia-o como se sua exposição fosse a
própria palavra de Deus, todo seu ministério foi o ministério da Palavra.
Lucas registra uma de suas exposições, onde Jesus faz uma exposição do livro
de Isaías:

“Ele foi a Nazaré, onde havia sido criado, e no dia de sábado entrou na
sinagoga, como era seu costume. E levantou-se para ler. Foi-lhe entregue o
livro do profeta Isaías. Abriu-o e encontrou o lugar onde está escrito:” O
Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para pregar boas
novas aos pobres. Ele me enviou para proclamar liberdade aos presos e
recuperação da vista aos cegos, para libertar os oprimidos e proclamar o
ano da graça do Senhor. Então ele fechou o livro, devolveu-o ao assistente
e assentou-se. Na sinagoga todos tinham os olhos fitos nele...”(Lc 4:16-20-
NVI).

Segundo o costume judaico lê-se uma porção da Escritura, explica e aplica a porção,
foi isso que Jesus fez. A diferença de aplicação no caso de Jesus em relação ao texto
profético se deu no fato da profecia se aplicar a Ele mesmo, pois segundo o relato
bíblico o cumprimento profético estava sendo realizado naquele exato momento e na
vida de Jesus como o Cristo.
Depois de sua morte Jesus continua ministrando e faz uma exposição mais longa para
provar sua Messianidade, seu método agora é de expor os livros da Escritura, explicá-
los e aplicar aos acontecimentos atuais, essa exposição de Jesus está registrada no
Evangelho de Lucas 24: 44-47.
Os Apóstolos deram continuidade a esse método deixando claro que a exposição fiel
da palavra de Deus é a palavra de Deus proclamada, isso pode ser deduzido de textos
como em Atos dos Apóstolos 2:14-36 e 7:1-53. Toda pregação dirigida pelos Apóstolos
e discípulos eram exposições das Escrituras, toda estrutura do discurso era tirada das
Escrituras e apresentadas com aplicação direta aos seus ouvintes, eles cumpriam suas
responsabilidades como verdadeiros dispenseiros.
Os reformadores foram os homens que mais elaboraram conceitos profundos sobre a
palavra de Deus. Sempre quando alguém escreve ou fala de pregação esse não pode
deixar de lado uma das afirmações teológicas mais importantes para reforma
protestante e posteriormente para a elaboração da teologia reformada, a Sola Scriptura
– a supremacia da Bíblia sobre a tradição e os sacramentos.
Para os reformadores a pregação da Palavra era o próprio Deus falando. Praticamente
todos os reformadores pregaram os livros da Bíblia, alguns demoravam anos pregando
toda a Bíblia ou expondo um determinado livro, basta ler os comentários de João
Calvino (1997, p. 24) para entender que este reformador era um expositor e exegeta
por excelência: “A nossa única necessidade é a de não ter em vista nenhum outro
objetivo além do desejo sincero de só fazer o bem. Assim devemos também proceder no
tocante à exposição da Escritura”.
Em seu livro Creio na Pregação no capítulo um, John Stott (2003, p. 15) faz um esboço
histórico sobre a pregação mostrando que todos os homens poderosos nas mãos de
Deus foram homens que acreditavam que Deus agia através da pregação e que esses
homens quando pregavam estavam anunciando a palavra de Deus e unicamente isso.
O Rev. Hernandes Dias Lopes falando sobre o pensamento de Calvino sobre a
pregação declara:

“Calvino entendia a pregação como a vontade de Deus para a igreja, um


sacramento da sua presença salvadora e um trabalho tanto humano como
divino. A Palavra de Deus pregada é o cetro pelo qual Cristo estabelece
continuamente seu domínio ímpar e espiritual sobre a mente e o coração
do seu povo. O púlpito é o trono de Deus, do qual ele quer governar nossas
almas” (Lopes, 2004, p.50).

A pregação expositiva é Deus falando através das Escrituras, usando os homens para
cumprir seus propósitos de resgatar as ovelhas perdidas e edificar sua igreja, a fim de
apresentá-la perfeita e transformada.
Essa pequena argumentação sobre pregação e palavra é um pouco perigosa, hoje há
muitos falsos mestres que se dizendo pregadores da Palavra usurpam a autoridade
divina, dizem que são inspirados por Deus e uns poucos até afirmam serem
“apóstolos” e que suas igrejas são a continuação do livro de Atos.
Os textos bíblicos sobre pregação deixam claro que a pregação é a palavra de Deus,
somente quando ela é bíblica e expõe fielmente o texto. Quando falamos bíblica
queremos dizer que todo seu conteúdo e contextos são extraídos diretamente do texto.
Paulo inspirado pelo Espírito Santo escreve para Timóteo, dizendo: “pregue a palavra...
(2Tm 4:2-NVI)".
A ordem de Paulo não é para que ele usasse a palavra de Deus para comprovar suas
idéias ou formular uma pregação temática com versos isolados fora de contexto.
Paulo está tendo em vista o que tinha dito anteriormente na carta ao escrever no
terceiro capítulo, que: “Toda Escritura é inspirada por Deus e útil...” (2Tm 3:16 -NVI), a
palavra que deve ser pregada é a de Deus e, dentro de seu contexto histórico-
gramatical e de seu propósito para o qual foi revelada, principalmente na encarnação.
A pregação expositiva leva o pregador a se fixar no texto e no propósito de Deus
evitando que o mesmo tire suas próprias conclusões, ou viaje para uma direção sem
volta, deixando de lado o que Deus quer falar.
O Rev. Hernandes Dias Lopes (2004, p. 46) faz uma afirmação sobre o pensamento de
Lutero em relação à pregação e palavra de Deus:

“Martinho Lutero cria que a pregação era o meio de salvação, por não ser
uma simples atividade humana, mas a própria Palavra de Deus
proclamando a si mesma mediante o pregador”.
O pregador é apenas canal, vaso e arauto. O Rev.John Stott (2005, p. 12) trabalha muito
bem o texto de Pedro para deixar claro que a responsabilidade do pregador é expor e
fazer sua exposição ser a própria Palavra:

“... sua tarefa é expor a revelação que já foi definitivamente dada. E embora
pregue no poder do Espírito Santo, ele não é inspirado pelo Espírito no
sentido em que os profetas o foram. Certo, se alguém fala, deve falar de
acordo com os oráculos de Deus, ou como se pronunciasse palavras de
Deus” (1Pe 4:11).

Conclusão:
A pregação expositiva é sem dúvida o melhor método para a edificação da Igreja de
Deus, a Bíblia continua sendo a voz de Deus aos homens para libertar, transformar e
conduzí-los à vida eterna.
A Palavra nos fornece todas as técnicas de crescimento e princípios de liderança que
precisamos, o homem de Deus não precisa correr atrás de recursos seculares ou
informações empresariais para edificar a igreja local, o mesmo Senhor que a fundou é
que cuida de sua igreja e a edifica por meio de sua presença no Espírito Santo que fala
na Escritura.
O que a liderança atual precisa na verdade é “pregar a Palavra”, retornar a verdadeira
pregação e amor por essa Palavra que é viva e eficaz, espírito e vida.

[1] Precisamos ser honestos em dizer que nem todos os textos fornecem essas facilidades, alguns
textos são mais bem explicados se forem usados outros métodos, mas mesmo assim o pregador
não tem o direito de usar o texto como quer. Sempre é necessário uma interpretação e uma
aplicação correta e digna do próprio texto. O Pregador não pode esquecer que está diante da
palavra de Deus e que ele como um arauto é servo da Palavra.
[2] Essas áreas tem seu valor e importância, mas muitos têm usado essas ferramentas para
intimidar e
  persuadir as pessoas para que acreditem sem questionar em suas idéias e pregações.

Breve Bibliografia:
BEZERRA, Durvalina Barreto. Ministério cristão e espiritualidade. Belo Horizonte: Betânia, 2007.
BÍBLIA SAGRADA. Edição revista e atualizada. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993.
BONAR, Horatius A. Um recado para ganhadores de almas. São Paulo: Vida Nova, 2003.
BOUNDS, E.M. Poder através da oração. São Paulo: Imprensa Batista Regular, 1990.
BRAGA, James. Como Preparar Mensagens Bíblicas. 16ª ed. São Paulo: Vida, 2004.
CALVINO, João. Comentário de Romanos. São Paulo: Edições Parakletos, 1997.
CHAPELL, Bryan. Pregação Cristocêntrica. São Paulo: Cultura Cristã, 2002.
FISHER, David. O Pastor do Século 21. 2ª ed. São Paulo: Vida, 1999.
HORTON, Michael Scott. Religião de Poder. São Paulo: Cultura Cristã, 1998.
MACARTHUR JR, John. Ministério Pastoral. Rio de Janeiro: CPAD, 4ªEd, 2004.
KEMPIS, Thomas à. A Imitação de Cristo. São Paulo: Shedd, 2001.  
LACHLER, Karl. Prega a Palavra. São Paulo: Vida Nova, 1990.
LARSEN, David L. Anatomia da Pregação: identificando os aspectos relevantes para a pregação de hoje. São Paulo: Vida, 2005.
LIEFELD, Walter L. Exposição do Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1985.
LOPES, Hernandes Dias. A Importância da Pregação Expositiva para o Crescimento da Igreja. São Paulo: Candeia, 2004.
LUFT, Celso Pedro. Mini Dicionário Luft. São Paulo: Scipione, 3ª Ed, 1991.
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PETERSON, Eugene H. Um Pastor Segundo o Coração de Deus. Rio de Janeiro: Textus, 2000.
QUEIRÓS, Edson. Transparência no Ministério. São Paulo: Editora Vida, 1998.
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SPROUL, R. C. O Conhecimento das Escrituras. São Paulo: Cultura Cristã, 2003.
STERN, David H. Manifesto Judeu Messiânico. Rio de Janeiro: Edições Louva a Deus, 1989.
STOTT, John. O Perfil do Pregador. São Paulo: Vida Nova, 2005.
__________. Eu Creio na Pregação. São Paulo: Editora Vida, 2003.
WESTMINSTER. Confissão de fé de Westminster. São Paulo: Cultura Cristã, 2005.

Unknown às 00:20

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Um comentário:

Vacilius Lima dos Santos 8 de julho de 2013 08:55


Aleluia por encontrar um remanescente fiel que ainda acredita na pregação expositiva.
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