Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
RESUMO
Este trabalho tem por objetivo, por meio de revisão de artigos de diferentes autores, análises
de jurisprudências acerca da aplicação do princípio da insignificância, observar os diferentes
pilares de aplicação adotado por cada Tribunal e se dedicar a estudar o nascimento e os
critérios empregues para a incidência do princípio. Por se tratar de uma pesquisa
jurisprudencial, seu desenvolvimento teve como partida a leitura de livros, artigos e
dissertações que elucidassem a concepção do referencial teórico desse trabalho acerca dos
princípios correlatos e seu surgimento.
INTRODUÇÃO
Por muito tempo a aplicação do Direito Penal era feita de acordo com o que estava
exposto no texto legal, de uma maneira extremamente legalista, o que gerava enormes
1
Aluno do Curso de Direito da Fundação de Ensino Eurípides Soares da Rocha, Marília, São Paulo;
2
Professor Ms/Dr. do Curso de Direito da Fundação de Ensino Eurípides Soares da Rocha, Marília,
São Paulo;
.
problemas, como por exemplo, punições desproporcionais. Com o passar do tempo, o Direito
Penal passou por algumas modificações, como o Direito Penal da mínima intervenção, que
prega sobre à ultima ratio do Direito Penal.
A presente pesquisa, por fim, como objeto principal, busca abordar e analisar as
diversas interpretações dadas ao Princípio da Insignificância e as decisões dos Tribunais
acerca do assunto.
1 ORIGEM HISTÓRICA
A doutrina atual diverge muito sobre o assunto, diversos autores confirmam que o
referido princípio tem suas raízes no direito romano.
Ivan Silva (1994, p. 87) assegura que parte da doutrina defende que o princípio da
insignificância já vigorava desde o direito romano, já que o pretor, via de regra, não se
ocupava das causas ou delitos de bagatela, aplicando o brocardo latino já mencionado
(minima non curat praetor).
Ainda Ribeiro Lopes (2000, p. 86) atribui a Claus Roxin a primeira menção ao
princípio da insignificância como princípio aplicado ao direito penal. Para ele, o princípio
permite na maioria dos tipos fazer-se a exclusão, desde o início, dos danos de pouca
importância.
Por sua vez, Rogério Greco (2006, p. 94) afirma que, embora haja divergências
doutrinárias quanto à origem do princípio da insignificância, havendo quem afirme que ele já
vigorava no direito romano, a “criminalidade de bagatela” surgiu na Europa, como um
problema crescente a partir da primeira guerra mundial. Após a segunda grande guerra, houve
um notável aumento dos delitos de caráter patrimonial e econômico, quase todos marcados
pela característica de consistirem em subtrações de pequena relevância, daí a primeira
nomenclatura doutrinária de “criminalidade de bagatela”, porém para ele o desenvolvimento
do princípio é atribuído principalmente a Claus Roxin.
Apesar de ter sido iniciado em relação aos delitos patrimoniais, este princípio também
se aplica a outros bens jurídicos penalmente tutelados.
No Brasil, o princípio da insignificância por reconhecido pela primeira vez, por meio
de um acordão proferido pelo Ministro do Supremo Tribunal Federal Aldir Passarinho, em
1988, com relação a uma lesão corporal no Trânsito, no Habeas Corpus 66869³:
Dessa forma, Flavio Martins (2018, p. 363) afirma que, enquanto as regras são normas
de conteúdo mais determinado, delimitado, claro, preciso; os princípios são normas de
conteúdo mais amplo, vago, indeterminado, impreciso. O que diferencia a regra do princípio
não é o assunto da norma jurídica, mas a forma através da qual ela é tratada.
Os princípios podem estar previstos em lei ou constitucionalmente. Sendo que há
possibilidade de estarem implícitos no sistema normativo. Diante da generalidade dos
princípios, pode-se dizer que dizer que os mesmos, independentemente de serem explícitos ou
implícitos, atuam como instrumentos de verificação da validade de normas.
A Constituição de 1988 positivou em seu artigo 1º, inciso III, o princípio da dignidade
da pessoa humana, que trata-se da fonte de todos os direitos e garantias fundamentais da
pessoa humana. No entanto, o princípio é anterior à própria elaboração da Carta Magna.
O princípio atua como limitador do poder punitivo estatal, pois as penas legalmente
estipuladas são por ele limitadas. Tal princípio é primordial para que se evite que uma pena
privativa de liberdade atente contra a incolumidade da pessoa como ser social.
Este princípio tem grande reflexo no Direito Penal Brasileiro estando sob a sua
perspectiva questões como a individualização da pena, a proibição de penas de morte (em
regra), de caráter perpétuo, de trabalhos forçados, de tratamentos cruéis, entre muitos outros
ditames de ordem constitucional e infraconstitucional na área do Direito Penal que limitam a
aplicação da pena e se consubstanciam como verdadeiros direitos dos cidadãos.
Por ser o Direito Penal extremamente violento, restritivo, ao impor uma pena restritiva
de liberdade, invasivas, afeta os direitos individuais, em razão disso, o Direito Penal é
considerado a última ratio, ou seja, a última seara que se deve buscar tutela.
Cezar Roberto Bitencourt (2003, p. 11), afirma que o princípio da intervenção mínima
é aquele que orienta e limita o poder penal violento do Estado.
Vale dizer, que tal princípio serve não só como parâmetro para o legislador
criminalizar como também para descriminalizar condutas já não mais consideradas
inapropriadas pela sociedade e que tenham outra forma de reprimenda.
Logo, onde houver efetividade na proteção dos bens jurídicos por outros ramos do
direito não caberá a intervenção do Direito Penal.
Este caráter fragmentário do Direito Penal significa, que uma vez escolhidos aqueles
bens fundamentais, comprovada a lesividade e a inadequação das condutas que os ofendem,
esses bens passarão a fazer parte de uma pequena parcela que é protegida pelo Direito Penal,
originando-se, assim, a sua natureza fragmentária, não significa que haja omissão, indica
apenas que somente os pontos mais relevantes dentre os bens protegidos pelo ordenamento
jurídico devem receber a proteção da ciência penal.
Conforme tal princípio, o Direito Penal deve se ocupar da proteção de bens mais
importantes para a sociedade ante a conduta lesivas e prejudiciais aos bens jurídicos.
Por fim, este princípio não é permissivo com a prática de crimes, é apenas compatível
com os preceitos constitucionais, e justamente por seguir e respeitar os princípios e garantias
da Constituição, a quem é subordinado, é que rechaça o Direito Penal máximo e autoritário.
Tal princípio tem por fim afastar ou excluir a tipicidade de certas condutas quando elas
se adequam ao tipo penal, sendo dotadas de tipicidade formal, mas devido a sua baixa
lesividade não se enquadrem no contexto de relevância material.
Desta forma, cabe ao operador da lei penal especificar a área de alcance dos tipos
penais abstratamente previstos no ordenamento jurídico, de maneira a excluir da tutela penal
os fatos ocasionadores de insignificante lesão ao bem jurídico tutelado.
Percebe-se que a extensão do tipo penal esta diretamente ligada ao conceito material
de crime. Crime em sua concepção material pode ser entendido como todo fato humano que,
propositada ou descuidadamente, lesa ou expõe a perigo bens jurídicos considerados
fundamentais para a existência da coletividade e da paz social, sendo passível de sanção
penal.
Como é sabido, o crime é fato típico, antijurídico e culpável. O fato típico é composto
por quatro elementos, sendo eles, conduta dolosa ou culposa; resultado (no caso de crimes
materias); nexo causal (no caso de crimes materias) e a tipicidade.
Os critérios fixados pelo Supremo Tribunal Federal são critérios que possuem
conteúdo normativo evidente, ou seja, necessitam da valoração do magistrado.
Durante a análise de alguns julgados, foi possível constatar que tanto o Supremo
quando o Superior Tribunal de justiça tem permitido a aplicação do princípio nesses casos,
apesar de existir julgados do STJ que impedem a aplicação do princípio da insignificância no
caso de reincidentes. Como demonstrado no julgado abaixo:
Pela análise das jurisprudências dos tribunais foi viável de perceber que para a
aplicação do Princípio da Insignificância só se trabalha com critérios objetivos, não havendo
que se falar em reincidência, personalidade, culpabilidade, demonstrando-se evidente os
esforços dos tribunais para aplicar esse princípio de suma importância corretamente.
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal, parte geral. 7 ed., rev., e atual. São Paulo, Saraiva
2008.
_______________. Curso de Direito Penal, parte geral. 4 ed., rev., e atual. São Paulo, Saraiva
2002.
Carlos Vico Manãs ( MAÑAS, Carlos Vico. Tipicidade e princípio da insignificância. 1993.
Dissertação (mestrado) - USP, São Paulo, 1993. p.97
GRECO, Rogério. Direito Penal do Equilíbrio: uma visão minimalista do Direito Penal. 2 ed.
Rio de Janeiro: Impetus, 2006.
JESUS, Damásio Evangelista de. Direito Penal parte geral, 28° edição, 2005, p. 201.
LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 12 ed., rev., atual. e ampl. São Paulo:
Saraiva, 2008, p. 75.
LOPES, Mauricio Antonio Ribeiro. Princípio da insignificância no Direito Penal: análise à luz
das Leis 9.099/95 (Juizados Especiais Criminais), 9.503/97 (Código de Trânsito Brasileiro) e
da jurisprudência atual. 2 ed. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 2000.
NUNES JÚNIOR, Flávio Martins Alves. Curso de Direito Constitucional. 2. ed. rev., atual. e
ampl - São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2018 p. 363
RHC 66686-PR, Aldir Passarinho, Segunda Turma, Julg. 06/12/1998/ DJ: 28/04/1988,
https://stf.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/722059/recurso-em-habeas-corpus-rhc-66869-pr
SILVA, Ivan Luiz da. Princípio da Insignificância no direito penal. 2 edição. Curitiba: juruá,
2011. P.101
SILVA, Ivan Luiz da. Princípio da Insignificância no direito penal.2° Ed. (ano2003), 3°
reimp. Curitiba: Juruá, 2009.
SILVA, Ivan Luiz. Princípio da Insignificância no Direito Penal. Curitiba: Ed Juruá, 2004.
(TROCAR A DATA NA CITAÇÃO)
STF - HC: 112506 DF, Relator: Min. CÁRMEN LÚCIA, Data de Julgamento: 02/10/2012,
Segunda Turma, Data de Publicação: DJe-031 DIVULG 15-02-2013 PUBLIC 18-02-2013,
https://stf.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/23509097/habeas-corpus-hc-112506-df-stf
STF - HC: 84412 SP, Relator: CELSO DE MELLO, Data de Julgamento: 19/10/2004,
Segunda Turma, Data de Publicação: DJ 19-11-2004,
https://stf.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/767015/habeas-corpus-hc-84412-sp
TOLEDO, Francisco de Assis. Princípios básicos de Direito Penal. São Paulo: Saraiva, 1986.