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07/05/2019 GERMINA - REVISTA DE LITERATURA & ARTE

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CARBONO 14

Pensar a pedra
como atrás fora
o ser, é do chão.

A pedra que dentro


diz da criatura
seu peso-réu
de ambição. (De quem

o novo erro?)

Nosso verbo se iguala


ao dos dinossauros:

adubos de um paraíso além.

TIPOIA

Sobre o rio trabalhado


algo além da mesma ave
pulsa no viés de sua órbita.

Algo que se elabora


dum quase inascido voo.

(Danificada asa sem apoio


senão o da paz traída
no avesso nenhum

de um deus subtraído)
Exato (posto que concluído),
inclina-se habitual
em seu vir desnecessário, o canto.

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FÊNIX

Um corpo
para que o pó o plume
da pedra que o pena,

que pena
é peso de pálpebras
na palha após
do tempo.

A pena
que é do pássaro
o sempre depois
no próprio pó
a repetir-se.

O GOLPE

Deu-nos Deus a dádiva-dívida


do existirmos para a folha
de pagamento, indébita

quando pese em juros


o cunho do ser no chão
e cesse a cobrança.

CONTRACEPTIVO

É da noite
o colher galos
de sua infância.
Para a noite,
o experimento do dia.

A manhã final
previne-se da luz:
o galo in vitro
e o sol na gema.

LIÇÃO GASTRONÔMICA

À maneira dos peixes


no paladar dos mares,

as línguas do silêncio
nadam juntas no pó.

Ó cardápio em mim
onde sem pai naufrago:

és o que de Deus cabe

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quando porto nenhum.

ESTOCAGEM

Um museu de sombras
gela em nosso sangue.
Pesamos sobre o engaste
do nada como um depósito
de sobras sem nenhum direito.

Detrás de que pálpebras


existiremos? Sob que
pensamento?
Qual pedra de nós
se fará sem risco?

EXERCÍCIO DE MONTARIA

O dia cavalga crepúsculos


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em seus cavalos

Ó reino do estábulo,
a existência é esse relincho
sob os cascos gastos das horas.

ÊMBOLO

Temos porém
um cão,
que só porque é pronto
late para dentro

do fundo
que se dobra
ao vazio quintal
do Ser,

entre o que nos sobra,


para logo
ir-se no mesmo nada.

Um cão
na imordaça.

Desafio
é alimentá-lo
sem que flua
à boca.

OFÍCIO SOTURNO

Quanta carne
idêntica
usufrui o tempo.

Uma tabula rasa


sobre quem o solo
forja esquecimento.

Como de um AR-15
a última verdade:

em berço esplêndido
deita-se eternamente.

REFORMA AGRÁRIA

Repartir terras
no partir do ser
à terra que o dista,

a juntar-se ao ínfimo

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grão sem flor dos ossos


da eternidade nele
debulhada em bulha.

Repartir terras
no ser adentro
como do bagre ao bago
se afogam na feira os peixes,
em frescos e podres:

o ser pode em bago


voltar ao que lhe é de terra
e de direito.

RESGATE

Na boca das mamoranas


a noite amadurece,
irrompe em múltiplas papilas,

resvala nos muros encardidos


confundida com as pontas de cigarro
apagadas na urina
e com o asfalto esburacado
da avenida,

resumida à velocidade
que os pneus lhe dão
e aos passos clandestinos
de que se alimenta.

O silêncio depois é tão grande


que chega a derrubar as flores,
a desafiar as pedras,
o frio.

Engasgado nos sapatos


anda a disputar os homens.

Assume então a consistência


das sombras,
o assédio das sombras
que nos usam e se disfarçam
para despistar a claridade.

Alastra-se pela cidade inteira


até que o braço da aurora
se estenda
reavendo seus reféns.

[imagens ©oliver contreras parrao]

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Kissyan Castro (Barra do Corda/MA, 1979). Poeta e escritor, colabora com poemas em vários blogues e
assina uma crônica às quintas feiras no jornal virtual "Turma da Barra". Publicou Vau do Jaboque (Rio de
Janeiro: CBJE, 2005) e Bodas de Pedra (edição do autor, 2012). Têm inéditos Farelos e Rio Conjugal.
Participou das coletâneas Caleidoscópio (São Paulo: Andross, 2006) e Antologia de Poetas Brasileiros
Contemporâneos (Rio de Janeiro: CBJE, 2012). Bloga em http://kissyancastro.blogspot.com.

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