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LIBERTAS CLÍNICA - ESCOLA

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM PSICOLOGIA CLÍNICA

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A correção do movimento é uma
aprendizagem do uso adequado do
corpo
Pierre Wiel
Monografia de conclusão do Curso
de Especialização de Psicologia
Clínica com foco em Análise
Bioenergética, sob a orientação da
professora Grace Wanderley de
Barros Correia e Supervisão
Metodológica de Pesquisa do
professor José Ricardo Paes
Barreto, apresentada à
coordenação da Libertas Clínica-
Escola.
A Deus, agradeço a vida e o querer viver.

Aos que fazem a Libertas pelo carinho da acolhida.


Quero ressaltar a participação de Soraya Campelo,
meu primeiro contato; Rosa Couto que, sem me
conhecer, propiciou a minha participação no curso e
a professora Grace Wanderley de Barros Correia por
me permitir à oportunidade de um crescimento
interior rumo à vida profissional.

A Edson, meu companheiro, meu amigo, meu amor,


pela generosidade em compartilhar os momentos
que juntos vivemos, com atenção, paciência e
carinho, incentivando-me a continuar sempre.

Aos meus filhos amados, Ricardo, Edson Júnior e


Viviane de quem recebi aprendizagem, respeito e
carinho.

Aos colegas, por todos os momentos, na


particularidade de cada um, no menor detalhe,
partilhando e acolhendo, com a palavra, com o
gesto, com um abraço carinhoso.
Àqueles que, na sua simplicidade,
saibam apreciar a vida com respeito, com
carinho, com amor. E assim, quando, de
frente com as dificuldades puser o coração,
o amor as transformará.
RESUMO

Este trabalho teve por objetivo aprofundar o estudo, a partir de um período de


observação, de como a respiração na vida das pessoas é importante para a sua saúde físico-
emocional. De que forma o indivíduo se posiciona no mundo, sua qualidade de vida, estão
correlacionadas com a disposição da sua carga energética, sua história de vida e sua
respiração impressa no seu corpo. Saber respirar resulta melhora na vitalidade e
flexibilidade, na auto-percepção, no contato social; fortalece o ego oferecendo-lhe maior
maturidade. Reich trabalhava com os pacientes analisando os conteúdos de suas
comunicações, mas analisava também a forma de comunicação. Isto o levou a estudar,
mais detalhadamente, o tônus muscular, a postura e os padrões de respiração. Lowen
oferece um caminho, não único, de alguns, conforme Anna Verônica Mautner. A análise
bioenergética pode ser vista como uma escolha. O objetivo é derrubar a barreira que nos
protege da alegria de viver; esse caminho atraente oferecido por Lowen, é acessível pela
sua linguagem direta, nos seus exercícios de corpo, leva- nos a lutar em busca do conhecer-
nos melhor, a entrar em contato com nossas emoções reprimidas, a enxergar a angústia no
nosso corpo; “do que precisa àquela criança que está lá dentro” Grace Wanderley (2005);
ensina a passar pela dor; dor que faz mudar, que faz crescer, para chegar a alegria, uma
sensibilidade que se desenvolve, um termômetro que se insere no cotidiano. E finalmente,
Lowen nos diz que viver é bom, não é ter prazer só em partes da vida, mas nela inteira; é
lutar para conquistar. A respiração, a partir da análise bioenergética, proporciona enxergar
com o coração na busca de uma sobrevivência saudável.

Palavras-Chave: respiração; linguagem; corpo; expressão corporal, análise bioenergética.


ABSTRAT

The objective of this paper was to develop the study of breathing, after a period of
observation, and its importance to get physical and emotional health in people’s lives.
Individuals attitude and life quality have a straight relationship with her/his energetic load,
personal history and respiration printed on her/his body. Knowing how to breathe causes
improvement in vitality and flexibility, in self-perception, in social interaction; strengthens
the self, proportioning more maturity. Reich observed his patients analyzing both their
communication contents and form. This observation made him study in details muscular
tension, posture and breathing patterns. According to Anna Veronica Mautner, Lowen
offers an uncommon way. Bioenergetical analysis may be seen as a choice. The objective
is to bring down the barriers which protect us from the joy of living, this attractive way
offered by Lowen is accessible by its direct language in its body exercises leading us to a
fight against ourselves, to contact our repressed emotions to perceive the anguish in our
bodies; “what the child within needs” Grace Wanderley (2005); teach us how to overcome
pain, the pain which causes changes, which causes growing, to come across joy, a
sensibility which develops, a thermometer inserted in quotidian. And at last Lowen tell us
that living is very nice, we should not only have pleasure in parts of life, but in life as a
whole thing; it is fighting to conquer. Breathing perceived from Bioenergetical analysis
proportions a view from the heart in search of a healthy survival.

Key words: Breathing; language; body; body-language; bioenergetical analysis.


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO

1. RESPIRAÇÃO ............................................................................................ 12
1.1. Respiração fisiológica / emocional ......................................................... 12
1.2. Do feto ao ser .......................................................................................... 18
1.3. Exercícios de respiração......................................................................... 21
1.4. O corpo: uma forma de linguagem......................................................... 22
1.4.1. Expressão corporal – a linguagem do silêncio ...................................... 22
1.4.2. A individualidade ................................................................................... 24
2. ANÁLISE BIOENERGÉTICA .................................................................... 26
2.1. Importância da respiração: uma visão bioenergética ........................... 28
2.2. Grounding............................................................................................... 29
2.3. Anéis x couraças ..................................................................................... 30
2.4. A respiração a partir do caráter ............................................................ 31
2.4.1 Caráter.................................................................................................... 31
2.4.2 Estruturas de caráter / carga energética / respiração .......................... 32
2.5. Linguagem x comunicação do corpo ...................................................... 33
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................... 36
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................... 38
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A escolha do tema, inicialmente, ocorreu de um trabalho, em desenvolvimento, numa


clínica de hemodiálise, onde os pacientes renais apresentavam comportamentos de angústia;
depressão; apatia; revolta e outros, por terem suas vidas delimitadas ao controle/dependência
de uma máquina. No contato com eles, através da escuta de suas histórias, questionávamos
como poderíamos, utilizando a bioenergética, oferecer-lhes uma melhoria na sua qualidade de
vida buscando na relação mente-corpo-coração uma integração harmônica, para sua vida
pessoal e social. Posteriormente da observação das pessoas em suas posturas que desenhavam
uma linguagem corporal de acordo com o seu modo de respirar. Qual a importância da
Respiração no processo de transformação e re-significação da dor em alegria, numa
reorganização físico-emocional e de sobrevivência saudável.
Assim sendo, a presente monografia apresenta um capítulo sobre respiração
caracterizando-a quanto aos aspectos fisiológicos e emocionais; no desenvolvimento do feto
ao ser, considerando a criança que vai nascer; a linguagem do corpo como forma de
expressão, ressaltando a linguagem do silêncio, o dito sem a palavra e a individualidade e a
importância dos exercícios de respiração, qual a sua função.
A seguir falamos da importância da Análise Bioenergética na melhor qualidade de
vida do ser humano, focando especialmente a respiração. Dando continuidade, falamos
também, do grounding na qualidade de vida; dos anéis e couraças; dos tipos de respiração a
partir do caráter, o que é o caráter, como se dão os bloqueios e em quais períodos da história
das nossas vidas. Encerramos o capítulo falando da linguagem corporal como meio de
comunicação não verbal.
Considerando a linguagem corporal a partir do olhar da Análise Bioenergética percebi
que fiz, e continuo fazendo, uma revisão da minha vida. Tem sido gratificante, ainda que com
as dores do despertar. Ao mesmo tempo, vem me proporcionando um crescimento pessoal e
profissional, resultando numa melhoria da minha qualidade de vida

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Respirar indica os ritmos da vida, o
modo com que respiramos assinala a
disposição das nossas energias.
Tarthang Tulku

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1.1 Respiração fisiológica / emocional

Processo fisiológico pelo qual os organismos vivos inalam oxigênio do meio


circundante e soltam dióxido de carbono. Respiração quer dizer “re-spirit”, animar. “Respirar
é uma experiência de ação contínua que executamos para ficarmos conectados ao planeta”
Stanley Keleman, 1985. O termo respiração é utilizado também para nomear o processo pelo
qual as células liberam energia, procedente da combustão de moléculas como os carboidratos
e as gorduras. Função de importância vital para todos os seres vivos, graças a esse fenômeno,
as células recebem o oxigênio indispensável à queima dos alimentos necessários ao
fornecimento da energia que mantém os animais vivos. Dependendo da espécie de animal, a
troca de oxigênio por gás carbônico é feita pelos pulmões, brânquias,nos animais aquáticos,
ou através da pele. Nos seres que respiram pelos pulmões, o ar é admitido e expulso do
organismo mediante a ação de músculos especiais que se relaxam e se contraem
permanentemente. Nos seres humanos e em outros vertebrados, os pulmões se localizam no
interior do tórax. As costelas, que formam a caixa torácica, inclina-se para frente pela ação do
músculo intercostal, provocando um aumento do volume da cavidade torácica. O volume do
tórax também aumenta pela contração para baixo dos músculos do diafragma. Quando o tórax
se expande, os pulmões começam a encher-se de ar durante a inspiração. O relaxamento dos
músculos do tórax permite que estes voltem a seu estado natural, forçando o ar a sair dos
pulmões. O ritmo da respiração varia de espécie para espécie e até mesmo dentro da mesma
espécie. O homem varia cerca de dezesseis vezes por minuto, a mulher dezoito, e a criança
um número maior ainda quanto mais nova, mais rápido é o processo respiratório. Mas esse
ritmo depende também do esforço físico. A prática de exercícios pode elevar a freqüência
respiratória de uma pessoa para trinta ou quarenta vezes por minuto. Mas, se alguém tiver
uma freqüência respiratória maior ou menor que a normal, isso pode ser indício de doença.
Embriologicamente, a respiração inicia no tubo endodérmico, onde predomina a
função de fornecer energia e onde o alimento deve ser oxigenado para subsidiar o combustível
para o crescimento. O tubo digestivo e o tubo respiratório têm origem comum e são
interligados na anatomia da cabeça, boca, tórax e abdome. A boca e o nariz compartilham a
cavidade da cabeça. Tubos comuns se dividem para formar a traquéia

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e o esôfago, passagens para os pulmões e estômago.
O sistema respiratório está formado por: vias respiratórias: cavidades nasais,
nasofaringe, traquéia, árvore bronquial; que conduzem, aquecem, umedecem e filtram o ar
inalado de partículas de pó e gases irritantes, antes de sua chegada à parte pulmonar.

Parte respiratória dos pulmões, formada pelos pulmões com os bronquíolos


respiratórios, os alvéolos pulmonares e o tecido elástico. Começando pelo nariz, que é onde a
gente pega o ar, dentro do nariz, há um monte de pêlos, eles servem como um filtro, já que o
ar pode estar sujo.
A quantidade de ar que os pulmões recebem ou expelem a cada inspiração ou a cada
expiração pode-se medir com um aparelho especial: o espirômetro. Tal quantidade é, nas
condições normais, cerca de meio litro. Uma vez que executamos 16 movimentos
respiratórios por minuto, a quantidade de ar que introduzimos é a seguinte: 8 litros por
minuto, 480 litros por hora, 11.000 litros em um dia. O ar que penetra nos pulmões a cada
inspiração se ajunta àquele contido estavelmente nos pulmões (os pulmões não se esvaziam
nunca completamente de ar). A capacidade total dos pulmões é de cerca de 4 litros e meio no"
adulto. Depois de uma expiração normal, ficam ainda nos pulmões cerca de 1600 centímetros
cúbicos de ar (ar de reserva). Depois de uma expiração forçada, ficam ainda cerca de 1.200
centímetros cúbicos (ar residual). Mediante uma inspiração muito profunda é possível
aumentar a quantidade de ar que entra nos pulmões; esta, na respiração habitual, é de 500

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centímetros cúbicos e pode chegar, depois de profunda inspiração, a 1.600 centímetros
cúbicos: é este o ar complementar .
A inspiração, que promove a entrada de ar nos pulmões, dá-se pela contração da
musculatura do diafragma e dos músculos intercostais. O diafragma abaixa e as costelas
elevam-se, promovendo o aumento da caixa torácica, com conseqüente redução da pressão
interna (em relação à externa), forçando o ar a entrar nos pulmões.

A expiração, que promove a saída de ar dos pulmões, dá-se pelo relaxamento da


musculatura do diafragma e dos músculos intercostais. O diafragma eleva-se e as costelas
abaixam, o que diminui o volume da caixa torácica, com conseqüente aumento da pressão
interna, forçando o ar a sair dos pulmões.

A respiração é ainda o principal mecanismo de controle do pH do sangue.


Dessa forma, o aumento da concentração de CO2 no sangue provoca aumento de íons
H+ e o plasma tende ao pH ácido. Se a concentração de CO2 diminui, o pH do plasma
sangüíneo tende a se tornar mais básico (ou alcalino).
A ansiedade e os estados ansiosos promovem liberação de adrenalina que,
freqüentemente levam também a hiperventilação, algumas vezes de tal intensidade que o
indivíduo torna seus líquidos orgânicos alcalóticos (básicos), eliminando grande quantidade
de dióxido de carbono, precipitando, assim, contrações dos músculos de todo o corpo.
Se a concentração de gás carbônico cair a valores muito baixos, outras conseqüências
extremamente danosas podem ocorrer, como o desenvolvimento de um quadro de alcalose
que pode levar a uma irritabilidade do sistema nervoso, resultando, algumas vezes, em tetania
(contrações musculares involuntárias por todo o corpo) ou mesmo convulsões epilépticas.
O ar pode entrar pela boca também, mas nesse caso não é filtrado. Para o ar, a boca
deve ser como uma rua de mão única: só saída.
Do nariz ou da boca, o ar passa por um grande túnel, cheio de estações, a glote. Ela só
deixa entrar o ar, impedindo que alimentos passem. A primeira estação é a laringe, muito
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importante para a voz. Em seguida, vêm as cordas vocais. São elas que regulam o ar, quando a
gente fala grosso ou fino. Logo embaixo vem a traquéia. É a última estação antes de chegar
aos pulmões – ou a primeira quando o ar está saindo. Como o nariz, a traquéia tem um filtro
de pêlos, que não deixa que nenhuma partícula passe para os pulmões: próxima parada... os
pulmões.
No começo dos pulmões estão os brônquios. Os brônquios formam uma rede através
do pulmão, levando o ar por caminhos cada vez mais estreitos até os alvéolos. Alvéolos
pulmonares, a estação terminal do sistema respiratório. Aqui o ar é passado ao sangue e
começa outra viagem. Para a gente, o principal componente do ar é o oxigênio. Então o
sangue vai pegar o oxigênio com seus glóbulos vermelhos e levá-lo até as mais remotas
células. É nos alvéolos também que chega o sangue sujo, com o ar usado. Os alvéolos pegam
esse ar usado e mandam embora, pelo mesmo caminho por onde entrou: brônquios, traquéia,
cordas vocais, laringe, nariz ou boca.

Na realidade, os pulmões são órgãos passivos; o que se move e a caixa torácica, que é
o verdadeiro elemento ativo da respiração. Dotados de grande elasticidade, os pulmões
conseguem acompanhar qualquer modificação da caixa torácica, dilatando-se ou restringindo-
se com esta. A respiração é controlada automaticamente por um centro nervoso localizado no
bulbo. Desse centro partem os nervos responsáveis pela contração dos músculos respiratórios
(diafragma e músculos intercostais). Os sinais nervosos são transmitidos desse centro através
da coluna espinhal para os músculos da respiração. Caixa torácica e pulmões realizam os
"movimentos respiratórios" que são de dois tipos: inspiração, mediante a qual o ar entra nos
pulmões, e expiração, mediante a qual o ar é expulso dos pulmões para o exterior.

O mais importante músculo da respiração, o diafragma, recebe os sinais respiratórios


através de um nervo especial, o nervo frênico, que deixa a medula espinhal na metade
superior do pescoço e dirige-se para baixo, através do tórax até o diafragma. Situado na base

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da caixa torácica, o diafragma, a aumenta ou a restringe no sentido vertical, levantando ou
abaixando as últimas costelas sobre as quais se insere, quando você fala, é o diafragma que
está mandando o ar para cima.
Os músculos intercostais intervêm, ao contrário, sobre o diâmetro
transversal e ântero-posterior.
Os movimentos respiratórios são involuntários, porque se
produzem mesmo sem a nossa vontade Na inspiração, a caixa
torácica, com os pulmões, se dilata, movimento ativo; na expiração
se restringe, movimento passivo. A expiração torna-se ativa e
voluntária quando é forçada. No fim de uma expiração normal,
estamos ainda em condições de expelir mais ar: isto se consegue
"soprando" como para apagar uma vela. Esta expiração forçada é
naturalmente voluntária e ativa.

Os movimentos normais respiratórios sofrem modificações em determinadas circunstâncias.


Quando executamos um grande esforço físico, por exemplo, é, necessário interromper a
respiração: o tórax deve achar-se dilatado ao máximo por uma profunda inspiração, seguida
da oclusão da glote, isto significa, em linguagem corrente, fazer uma respiração profunda e
depois "prender o fôlego". Nesta situação, a caixa torácica constitui um sólido ponto de apoio
que permite aos músculos que nela se inserem contraírem-se com energia e desenvolverem o
esforço muscular que se deseja. Outras modificações dos atos respiratórios normais são: o
bocejo (constituído por uma profunda inspiração), o soluço (inspiração breve e espasmódica
devida à contração convulsiva do diafragma), a tosse, o espirro, o riso, que são, ao contrário,
transformações da expiração normal.

Os movimentos respiratórios aumentam de freqüência com a idade avançada. Diafragma e


costelas são os elementos que, substancialmente, entram em jogo nos movimentos
respiratórios. De acordo com os indivíduos prevalece o diafragma ou as costelas:
distinguimos, assim, uma respiração prevalentemente abdominal e uma respiração
prevalentemente costal. A respiração abdominal é típica da criança, na qual as costelas ficam
quase imóveis e é o diafragma que sobretudo se move. Na verdade, olhando uma criança que
respira, nota-se que o tórax está firme enquanto se levanta e se abaixa o abdome.
A respiração costal é, contrariamente, típica da mulher: é o tórax, e, particularmente, a
parte superior dele, que se move. Isto tem uma finalidade. A respiração costal torna-se útil

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durante a gravidez, quando o diafragma tem a sua função dificultada pela presença do feto no
abdome.
A respiração é uma forma especializada de pulsação. É uma pulsação básica que
revela uma atitude somática e emocional, vai da cabeça a ponta dos pés, como uma atividade
difusa e constante. Para dentro e para fora constitui os rítmos da respiração que pode ser
comparado ao padrão do coração como uma contração em espiral, que se desenrola e se
preenche, um preenchimento e esvaziamento separados, mas sincronizados; rápido, lento,
profundo e superficial. Quando a respiração está em fadiga, o coração tem que trabalhar mais
forte. Segundo Stanley Keleman, desde que a batida do coração e a respiração são
interconectadas, elas se influenciam mutuamente.
Respirar é aspirar, puxar para dentro, formar um espaço, reter para assimilação e troca
e depois expelir. Envolve um aumento e uma redução da pressão torácica. Inspirar se
assemelha ao sugar e para expirar é preciso usar os músculos do abdome e da caixa torácica.
O músculo diafragma sobe, o peito se estreita, os pulmões se comprimem e o ar é
expelido.
Inspirar → atingir um pico → pausa
Expirar → atingir o fundo → pausa
A respiração plena baseia-se no contato com os outros e consigo mesmo. “Respirar
indica os ritmos da vida, o modo com que respiramos assinala a disposição das nossas
energias”. Toda nossa vida existe dentro do nosso corpo. Os exercícios corporais, diários,
abrem e permitem a respiração dos poros, sua importância reside na possibilidade de
entregarmos ao nosso corpo a movimentação necessária para que todos os nossos órgãos
internos possam estar oxigenados, com boa circulação sanguínea e, conseqüentemente,
harmonizados com nosso todo. Esse padrão de energia pode ser visto como centros de energia
do qual flui a energia em todas as direções e por todo corpo; entre estes os centros figuram o
centro da cabeça, o centro da garganta e o centro do coração. A energia da respiração se
associa, particularmente, com o centro da garganta, que não só evoca, mas também lhe
coordena o fluxo através de todo o corpo. É através do centro da garganta que aprendemos
mais facilmente a fazer contato e a equilibrar a energia da respiração. À medida que o fluxo
de energias dentro de nós se equilibra, nossos sentimentos e sensações se desdobram
naturalmente e nós nos abrimos para sensações profundas de realização.
Permitamos respirar naturalmente, não precisamos pensar em faze-lo, nosso respirar é
igualmente distribuído entre o nariz e a boca, e entre a inspiração e a expiração. A respiração
reflete a função de expansão e contração, o corpo todo é um tubo flexível que pulsa como
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ondas, expandindo e contraindo, para encher todo o tubo, o peito se alonga, a barriga se
estufa, e a inalação é experienciada. Expirar requer uma ritmicidade suave que pulsa através
da parede do corpo, o organismo inteiro está envolvido na respiração. Para nos controlarmos
precisamos controlar nossa respiração, os centros cerebrais representam a regulação da
respiração.
A vida tem um ritmo salutar, todavia, é importante trabalharmos continuamente com a
respiração para manter a energia fluindo, acumulando-se e gerando-se com o respirar. A
medida que o nosso ambiente interno se modifica, modifica-se também a nossa relação com o
mundo. Estimulemos a qualidade do respirar.

1.2. Do feto ao ser

Quando uma criança vem ao mundo, a primeira coisa que faz é gritar. O que significam esses
gritos dos recém-nascidos? Seria o nascer doloroso?
O recém-nascido não fala, mas nada o impede de se comunicar. Nós é que não o
escutamos, não sabemos compreendê-lo: “olhos fechados, sobrancelhas erguidas,... boca que
grita, a cabeça que se vira..., mãos que se estendem, imploram , suplicam..., pés que
empurram... . Então, não fala o recém-nascido?” (Frédérick Leboyer) O que fala seu corpo?
É interessante fazer algumas observações considerando a criança que vai nascer.
O bebê acaba de nascer! Todos estão felizes, o bebê está no mundo, e a criança, está
contente?, então porque tem as mãos elevadas a cabeça e gritos tão fortes?
A vida do bebê no ventre materno é caracterizada por duas etapas assim definidas: “a
primeira, idade de ouro, o embrião é uma plantinha que cresce e brota, imóvel. Essa primeira
metade da gravidez, o ovo – membrana que contém o feto e as águas onde ele flutua, cresce
mais depressa que a criança; depois, o embrião se transforma em feto, a plantinha torna-se
animal, tem movimento, ocorre o inverso, o ovo que a contém se desenvolve menos”.
“Durante a vida intra-uterina, o sistema formado a partir do endodermo, o aparelho
para alimentação e respiração permanece adormecido, dentro do útero, o feto é nutrido através
do umbigo, os movimentos fetais são efetuados livres da influência da gravidade. As
sensações na pele fetal, estimuladas pelo movimento dos fluidos do útero, já vêm se fazendo
sentir durante meses antes da criança nascer. O feto pode ver luz (a luz solar pode ser
percebida como um brilho dourado através da parede do útero); ela pode ouvir sons. O
sistema nervoso em ativo desenvolvimento é alimentado por sonhos”. (Morfologia Dinâmica
– traduzido por Odila Weigand).

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Concluído o desenvolvimento intra-uterino, a próxima etapa, o parto. O espaço antes
sem fronteiras torna-se mais estreito, o corpo do bebê toca em todas as paredes ao mesmo
tempo, de tal forma que as suas costas e o útero da mãe ficam como que colados.
Posicionado para nascer, é preciso ultrapassar o canal vaginal, primeiro a cabeça, após
ela o corpo em movimento espiral, as contrações o empurram para baixo, com o coração
batendo quase a ponto de se romper, o bebê se lança neste túnel: é preciso abrir caminho; é
preciso sair. E de repente, a criança nasceu, o bebê. “É através da respiração que ela entra no
mundo dos opostos. Respirando pela primeira vez,... inspira, e desta inspiração nasce seu
contrário, a expiração”.
... Respirando, a criança toma o caminho da independência, da autonomia, da
liberdade. É um primeiro passo! LEBOYER, 1974
O fato de cortar ou não, imediatamente, o cordão umbilical, muda por completo a
maneira como se estabelece a respiração.
Conservar intacto o cordão umbilical, enquanto pulsa, faz com que a criança possa,
sem perigo e sem choques, acomodar-se a respiração, e ao nascer a ouvirmos chorar muito
pouco. Ao nascer, a criança não deve, de maneira nenhuma, sofrer falta de oxigênio. A falta
de oxigênio acarretará em danos irreparáveis para o cérebro; a cianose é a falta de oxigênio,
especialmente necessário ao sistema nervoso. A sábia natureza dispõe as coisas de tal forma
que durante o nascimento, a criança seja oxigenada duas vezes em lugar de uma: pelos
pulmões e pelo cordão umbilical. Dois sistemas funcionando juntos, um suprindo as falhas do
outro, desde que a criança permaneça ligada pelo cordão, que continua a pulsar por alguns
minutos. Desta forma, oxigenada por dois lados, passa de um mundo a outro (interior-
exterior) progressivamente, sem brutalidade, sendo lhe oferecido tempo para instalar-se.
Entretanto, se o corte é feito logo após a saída do bebê, o cérebro será brutalmente
privado de oxigênio. Todo organismo reage. E a respiração se inicia como resposta a
agressão, seus gritos, mostra a dimensão do pânico, chegando a vida, encontra a morte. E é
para escapar da morte que se lança à respiração. Aí está o primeiro reflexo condicionado que
une para sempre respiração e angústia. Respira-se a plenos pulmões, devido ao corte do
cordão, o fogo o invade; pois, o ar que entra varre a traquéia, que desdobra os alvéolos, tem
efeito de ácido derramado sobre um ferimento provocando queimaduras insuportáveis.
Tracemos um paralelo; uma pessoa que fuma pela primeira vez, tentando engolir a fumaça
engasga-se, fica desesperado, se não respira, se luta contra as chamas, enfrenta asfixia, o
afogamento com toda a angústia.

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E, essa passagem pode ser feita, suavemente, com doçura, ou de modo brutal, com
terror. Assim sendo, o nascimento se torna um despertar tranqüilo ou se transforma em
tragédia.
A medida que o ar invade e toma conta do corpo do bebê, é apenas respiração, é
preciso deixar a criança desdobrar a coluna e ajeitar as costas como preferir, na realidade, a
desconcentração da coluna vertebral, o alongamento das costas e o início da respiração fazem
parte de um processo único.
Após o nascimento o melhor é colocar a criança de bruços com as pernas e braços dobrados
sob o corpo e sobre o ventre materno, ligada pelo cordão, e deixar que a criança evolua à
vontade, descontraindo-se, abrindo-se, alongando-se. O braço se estende, uma mão desliza, a
outra, ritmicamente, depois as pernas, uma após outra, esse tronco potente estará pronta para
mais uma etapa: pôr-se de pé, provar a verticalidade. A criança não foi arrancada da mãe, uma
e outra se separam, simplesmente, até que um dia, firme sobre as próprias pernas, esquece o
apoio, a mão por muito tempo, estendida,.que continua a disposição.
É importante realçar o papel das mãos como elemento de linguagem, na comunicação, na
relação mãe-bebê, tanto na fase intra-uterina como na pós-natal; mãos que recebem,
acariciam, amam, mãos que afastam, rejeitam, têm medo de amar

As mãos servem para pedir, prometer, chamar, conceder, ameaçar, suplicar, exigir,
acariciar, recusar, interrogar, admirar, confessar, calcular, comandar, injuriar, incitar, teimar,
encorajar, acusar, condenar, absolver, perdoar, desprezar, desafiar, aplaudir, reger, benzer,
humilhar, reconciliar, exaltar, construir, trabalhar, escrever...
Com as mãos atira-se um beijo ou uma pedra, uma flor ou uma granada,
As mãos fazem os remédios e os venenos; os bálsamos e os instrumentos de
tortura.
Com as mãos tapamos os olhos para não ver, e com elas protegemos a vista para
ver melhor. Os olhos dos cegos são as mãos.
A mão aberta, acariciando, mostra a bondade; fechada e levantada mostra a força e
o poder;
Modela, dá cor às telas e concretiza os sonhos do pensamento e da fantasia nas
formas eternas da beleza. Humilde e poderosa no trabalho, cria a riqueza; doce e piedosa
nos afetos medica as chagas, conforta os aflitos e protege os fracos.
O aperto de duas mãos pode ser a mais sincera confissão de amor, o melhor pacto
de amizade ou um juramento de fidelidade.
Jesus abençoava com as mãos; as mães protegem os filhos cobrindo-lhes com as
mãos as cabeças inocentes
Nas despedidas, a gente parte, mas a mão fica, ainda por muito tempo agitando o
lenço no ar.
Com as mãos limpamos as nossas lágrimas e as lágrimas alheias.
E nos dois extremos da vida, quando abrimos os olhos para o mundo e quando os
fechamos para sempre ainda as mãos prevalecem.

20
Quando nascemos, para nos levar a carícia do primeiro beijo, são as mãos maternas
que nos seguram o corpo pequenino.
E no fim da vida, quando os olhos fecham e o coração pára, o corpo gela e os
sentidos desaparecem, são as mãos, ainda brancas de cera que continuam na morte as
funções da vida.
E as mãos dos amigos nos conduzem...E as mãos dos coveiros nos enterram!
Para que servem as mãos?,
Monólogo de Ghiaroni

1.3 Exercícios de respiração

A maioria de nós não sabe respirar adequadamente. Nós fazemos uma respiração curta
e rasa como se tivéssemos medo de que a respiração fosse nos machucar. Na realidade, nossa
respiração deveria ser longa e profunda para que pudéssemos energizar e alimentar o nosso
corpo. Como vimos anteriormente, de acordo com Stanley Keleman, os ritmos da respiração
são controlados pelos centros cerebrais e nervos autônomos na programação instintiva do
sistema autônomo,... o corpo tem consciência do CO2 :
• se há muito CO2 => respiramos mais;
• se há pouco CO2 => respiramos menos.
Muitas técnicas de meditação manipulam o controle voluntário deste processo
respiratório semi-voluntário. Ao buscar a modificação de estados da consciência, estas
técnicas afetam a respiração seja deprimindo ou inflamando o CO2; isto produz elevados
estados de O2 que conduzem à hiperventilação (ação muscular convulsiva e um aumento nas
sensações que dominam os centros da atenção).
• Estado de O2+++ Î respiração deprimida Î hipo-oxigenação (diminuição do impulso,
estado de transe).
• Com CO2 ↑ Î a sensação é inibida Î a onda peristáltica básica torna-se deprimida ou
hiperativa; o mesmo acontecendo com a respiração;
• Outro processo de regulação autônoma da respiração é a emoção: medo; raiva; terror.
A emoção pode ser tão forte que perdemos o controle.
Três centros cerebrais controlam nossa respiração:
Cortical-voluntário; talâmico-emocional e tronco cerebral-cerebelo.

21
Respiração

o coração, o cérebro e a respiração estão


Cérebro Coração proximamente interligados.

Sem respiração não há oxigenação, não há vida, não há energia.

Segundo Tarthang Tulku, 1978, os exercícios respiratórios une o corpo e a mente,


revitaliza as energias e sustentam nossa vida cotidiana. Eles estimulam a percepção do corpo,
a percepção sensorial e a percepção mental, afetando não só os sistemas físicos do corpo, mas
também o sistema de energia sutil e o emocional. Cada exercício afrouxa a tensão física e a
psicológica, e estimula sentimentos que conduzem ao equilíbrio físico e mental. Quando
emprestamos maior sabor às nossas sensações, trazendo-as, realmente, para o interior do
nosso corpo, podemos expandi-las através dos nossos sentidos e dos nossos pensamentos.
Logo que se estimula o fluxo do sentimento, que interliga todos os aspectos do corpo e da
mente, cada exercício passa a ser uma oportunidade de explorar a facilidade que caracteriza a
relação harmoniosa entre o corpo, a respiração, os sentidos, a mente e o meio; nossa
comunicação se torna mais viva. Podemos expandir cada vez mais essa qualidade de prazer
até que cada movimento, cada palavra e cada olhar se torne uma interação sutil, um exercício.
Os exercícios da Análise Bioenergética realizados individualmente ou em grupo
possibilitam tanto o trabalho de dissolver tensões que constituem as couraças, quanto podem
ser utilizados com finalidade construtiva e re-educacional.
Deixe que os seus sentidos, os sentimentos, a respiração e a atenção se movam no seu
corpo e com ele. Em lugar de dirigir os olhos para fora, olhe para dentro, à proporção que
você se aprofunda em seus sentimentos, que o corpo é alimentado pelas sensações você se
torna emocionalmente mais saudável

1.4. O corpo – uma forma de linguagem

1.4.1 Expressão corporal – a linguagem do silêncio

22
O corpo fala sem palavras. Pela linguagem do corpo, você diz muitas coisas aos
outros, e eles muitas coisas têm a dizer pra você. O significado das coisas, o simbolismo, a
linguagem dos nossos gestos, das nossas atitudes em relação ao meio, que tentamos
decodificar. Nosso corpo é, também, antes de tudo, um centro de informações para nós
mesmos. O corpo não fala por sinais, ele é portador de uma simbólica que o remete a uma
história. A linguagem corporal é decodificada segundo o modelo da teoria da informação.
Para W. Reich, o inconsciente é ao mesmo tempo corporal e psíquico. O sintoma
físico não é um subproduto, mas uma manifestação direta do inconsciente; fazer falar o corpo
seria fazer falar o inconsciente. Todo bloqueio tônico postural remete a uma origem e uma
história. O relaxamento das tensões acumuladas desde a infância favorece a liberação de uma
energia contida, presa. O corpo reencontra espontaneidade e leveza, não há mais necessidade
de falar, o corpo é em si uma linguagem. O corpo ao invés de servir de couraça muscular
defensiva, é o mediador através do qual podem ser abordadas as resistências.
“É preciso quebrar o jugo de um corpo policiado, possuído, mantido”.
“Por mais que o corpo seja esmagado cotidianamente, não está
morto”. (autor desconhecido)

Toda gestualidade é desde o início socializada. A família modela a linguagem do


corpo; a escola responsabiliza-se por ele, proíbe-lhe a manifestação ou neutraliza-a. O
movimento fala sobre o pano de fundo da imobilidade ou do silêncio. A expressão corporal
pode servir de elo entre a voz, a palavra, o gesto. Escutar este silêncio, estar atento a esta
imobilidade, permite a voz se enraizar no corpo, ao gesto investir no espaço. O fôlego
alimenta a voz; essa pode induzir um novo gesto provocando uma modificação da respiração
ou da relação com o espaço.
Em psicodrama considera-se, do ponto de vista terapêutico, que a ação não seja
realmente cumprida, mas atuada. Um agir que permitiria aflorar as fantasias e que poderia
favorecer a elaboração verbal. Uma passagem ao ato que, pela irrupção da agressividade,
impediria toda possibilidade de retomada em nível da palavra. Deixar falar o corpo na sua
espontaneidade, suas fantasias, sua violência e suas pulsões. O sujeito reconstrói uma imagem
mais gratificante de si mesmo, experimenta um conforto ao mesmo tempo corporal e
relacional.
A linguagem do corpo é tomada pelo antiverbal. O não-verbal não poderia ser
considerado como um “incomunicável”. Se um discurso é possível a partir do corpo, é que
este já é linguagem. A palavra pode suceder a implicação corporal; ela pode, também, tentar

23
estar em corpo a corpo contínuo com o agir e o sentir, num movimento de vai e vem onde não
haveria primazia de uma relação a outra, nem no tempo, nem na hierarquia.
Todo evento corporal merece amor e consideração. “Feche os olhos... Deixem as palavras ir
embora e se perder... neste vácuo, poderão emergir a sensação autêntica, a presença de si para
si no aqui e agora, um estado de não defesa”. A expressão corporal alimenta uma fantasia de
unidade, de uma harmonia psicossomática.

1.4.2 A individualidade

O mundo emocional vai dando forma e significado à vida. O desenvolvimento do ser


humano, de sua identidade vai sendo construído por tudo que o afeta em sua vida.
A nutrição intra uterina, o estado emocional materno, os desejos e conflitos que
cercam a gravidez, o suporte econômico, o afeto da família e do pai da criança, a expectativa
colocada na criança que virá, etc., uma quantidade infinita de fatores que envolvem e
influenciam o início de uma vida. Tudo sendo registrado em seu corpo e sua mente, formando
a base dos seus referenciais futuros. A história infantil vai sendo escrita no corpo e na alma
das pessoas. O que sentimos, pensamos e agimos passa por todas as memórias que nos
marcaram conforme a intensidade e freqüência que ocorreram. Cada pessoa tem uma forma
diferente de estar neste mundo, tem sua própria maneira de relacionar-se consigo e com os
outros. É como ver o mundo com diferentes cores, que foca determinados fatos e não vêem
outros. Cada um dentro do corpo e mente fruto de histórias e vivências particulares. O corpo
registra a história e expressa os conflitos até que possam ser esclarecidos da melhor maneira
possível.
Groddeck, dizia que a doença é a nossa melhor amiga, pois, conta-nos tudo que
precisamos ouvir e é muito verdadeira em suas mensagens. A doença é o caminho da saúde,
ela nos obriga a mudar, nos mostra uma necessidade inconsciente. Faz com que o adulto que
hoje desenvolvemos possa estar em contato com nossas reais necessidades e com o nosso self.
Olhamos para nosso corpo e nosso interior, sentimos a dor do esforço, do uso
inadequado do nosso corpo motivado pela necessidade de sobrevivência e de amor. A doença
é o alarme que soa quando nos distanciamos de nós mesmos. A responsabilidade compete a
nós de buscar ambientes saudáveis, de entender o limite do nosso corpo e respeita-lo, ouvir os
avisos do corpo e cuidar da melhor forma possível. Ao assumirmos nossa própria vida e a
responsabilidade por ela, poderemos ser o adulto adequado para a nossa criança.

24
Liberdade denota o direito de expressar
livremente os próprios desejos e
necessidades; igualdade significa que cada
pessoa está no relacionamento por si mesma,
e não para servir ao outro. Se a pessoa não
consegue falar abertamente, não é livre; se
tem de servir a uma outra, não é igual.
Alexander Lowen

25
22.. A
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A análise bioenergética, de acordo com Lowen, propõe uma terapia Homem-corpo-


emoção-razão, bioenergética é o jeito de integrar. A base da Análise Bioenergética envolve o
corpo, pensamentos, emoções e ações.
Segundo Lowen, a análise bioenergética acredita na dor que acompanha o
crescimento, porque doloroso é o encontro com a barreira que não cede. É preciso suportar a
dor que faz mudar, que faz crescer, que faz pulsar. É uma viagem de autodescoberta. A
alegria se encontra atrás da barreira, e tocar a barreira dói. O objetivo é derrubar a barreira que
nos protege da alegria de viver. A experiência corporal antecede a articulação do discurso
verbal, a acessibilidade pela linguagem direta, seja no plano verbal ou nos exercícios do corpo
fornece ao terapeuta bioenergético uma segunda linguagem para se comunicar com o cliente,
e ainda, possibilita ao cliente reviver relações primárias alcançando um nível mais profundo
de experiência do que aquele obtido com a abordagem puramente verbal.
A terapia retoma o passado esquecido e esta não é uma época segura e tranqüila, diz
Lowen – 1982, pois se o fosse não teríamos vindo dela marcados pelas cicatrizes das batalhas
e defendidos pela impenetrável couraça das tensões musculares. O terapeuta funciona como
um guia que oferecerá a mão compreensiva e encorajadora quando da turbulência.
O foco essencial da análise bioenergética é proporcionar a pessoa a entrar em contato
com suas tensões e tomar consciência da sua respiração. A respiração é vital, é o primeiro ato
do ser humano e estará presente por toda sua vida.
A terapia, na abordagem da análise bioenergética, significa combinar o trabalho
corporal com o psíquico. É importante ressaltar que a maioria das pessoas utiliza apenas uma
parcela do seu potencial de energia e sentimento e a análise bioenergética, dentro da teoria de
Lowen, proporciona ao indivíduo abrir seu coração para a vida e para o amor.
Para Lowen – 1982, a realidade dos sentimentos vivida no nosso corpo nos traz a
compreensão de que é possível desenvolver no corpo, a partir dos exercícios, a capacidade do
sentir energeticamente. Liberando os sentimentos e sensações através de um aprofundamento
da respiração as pessoas aprendem a liberar a couraça muscular de modo a permitir que o seu
corpo funcione mais livre e naturalmente.
A Análise Bioenergética difere de Reich quando questiona a visão reichiana do reflexo
orgástico, que considera o pescoço e a pelve como duas extremidades do corpo que se
aproximam neste reflexo. A análise Bioenergética inclui também as pernas, pois segundo
26
Lowen (1989, pg28) “ o corpo não é idêntico ao tronco” e as verdadeiras extremidades do
corpo, a cabeça e os pés, podem ter sido negligenciado naquela visão. A implicação desta
inclusão das pernas e da cabeça frente ao modelo de Reich do reflexo orgástico que aproxima
pescoço e pelve é a função de ancoragem na realidade ou grounding através das pernas e pés.
Quando Lowen (1992) falou que o objetivo da psicoterapia é o ego saudável e não a
entrega orgástica, ele deslocou a questão da potência orgástica do centro dos esforços
terapêuticos e retirou da questão do orgasmo o valor medidor da saúde mental. Para Lowen,
um ego saudável pode expressar sua sexualidade por outros canais. Segundo a postura atual
da análise bioenergética como psicoterapia corporal (Maley, 2000) a qualidade das relações
interpessoais serve como elemento para supor o grau de saúde egóica. O relacionamento
sexual é um dos elementos, importantíssimo, mas não exclusivo nem excrudente.
O objetivo da análise bioenergética, afirma Lowen com muita propriedade, é ajudar o
indivíduo a retomar sua natureza primária que se constitui na sua condição de ser livre. A
maioria das pessoas utiliza apenas uma pequena parcela do seu potencial de energia e
sentimento. E a análise bioenergética tem, também, por objetivo, ajudar o indivíduo a abrir
seu coração para a vida e para o amor.
A análise bioenergética tem seu coroamento quando propicia ao indivíduo o
crescimento pessoal; não só um maior conhecimento do seu corpo, mas, um contato com ele;
inclusive a integração da respiração com a sensibilidade e a flexibilidade, descobrir, através
do corpo e da respiração o seu movimento e a sua personalidade, olhar para dentro de si com
conhecimento e sentimento, permitir ser firme sem perder a sensibilidade, fortalecendo seu
potencial para o prazer e a alegria, ainda que engatinhando, mas, caminhando com a
segurança do ser e estar e na condição de ser vivo pulsante com o coração aberto.
A vida de um indivíduo é a vida de seu corpo, “essa atenção ao corpo e ao que se
passa com ele desenvolve a escuta necessária para empreendermos uma melhor comunicação
recíproca” JAYME PANERAI, 2001.
A análise bioenergética diz que temos inscrito no nosso organismo toda a história de
nossas vidas. Precisamos ser capazes de atravessar as agruras da vida preservando a saúde dos
órgãos de choque do nosso corpo.
A respiração consiste numa atividade somática e emocional, que reflete e desperta um
estado de espírito. Quando não há motilidade no tubo respiratório, há limitação, tanto nas
ações como nas emoções.

27
Os pilares básicos da análise bioenergética são a respiração consciente, o grounding e
a sonorização, conceito da análise bioenergética que abrange as posturas: física, emocional e
comportamental.

2.1 Importância da respiração: uma visão bioenergética

O corpo é um sistema energético que está em interação com o meio


ambiente, um influenciando o outro.
A análise Bioenergética trabalha com o conceito de carga-descarga que
funciona como uma unidade, aumentando o nível da energia do indivíduo este
libera a sua auto-expressão e restaura o fluxo de sentimentos do seu corpo, é
preciso haver um equilíbrio entre a carga e descarga de energia.
A ênfase é dada na respiração, no sentimento e no movimento aliada à
tentativa de relacionar o funcionamento energético atual com a sua história. A
energia advém da dos alimentos e do oxigênio. A quantidade de energia que um
corpo possui e como ele a usa irá determinar e refletir em sua personalidade. O
aumento de energia dá-se pela ampliação da respiração, dos movimentos, da fala
e dos olhos. A respiração mais profunda abre a garganta, recarrega o corpo, ativa
emoções reprimidas, facilita a expressão dos sentimentos, evidencia o medo.
O foco da análise bioenergética está direcionado para ajudar o indivíduo a
perceber e liberar tensões que o impedem de respirar naturalmente. Um histórico
da vida pessoal é fundamental para delinear as características do indivíduo. O
psicoterapêuta, com formação em bioenergética, procura fazer um diagnóstico do
paciente, visando identificar onde estão os sinais que norteiam a existência de
tensões acumuladas ou bloqueadas: é trabalhar com o seu corpo (do paciente)
para aprofundar a sua respiração e ter mais sentimentos. “Inspirar é aglutinar
energia, armazenar força interior e expirar é expandir atuar no mundo físico”
LOWEN (entrevista concedida a Malú Millerman – setembro de 2001).
Um corpo vitalizado vibra e pulsa: a vibração deve-se a uma carga
energética na musculatura; a pulsação é decorrente do processo energético, o
organismo movimenta-se expandindo e contraindo-se em determinado ritmo. A
respiração também está vinculada à voz, para produzir som você precisa deslocar

28
ar através da laringe, o som ressoando no corpo causa uma vibração interna
semelhante às que induzimos na musculatura.
“ Focar em bioenergética é focar a energia e a respiração, porque é só
através de mais respiração que se obtém mais energia”
Lowen (entrevista – setembro
2001).

2.2 Grounding

A sensação de contato entre os pés e o chão é conhecida em análise bioenergética


como Grounding, que representa o contato de um indivíduo com as realidades básicas de sua
existência.
Lowen (1982) ao criar junto com seu associado John Pierrakos um modelo para
desenvolver as vibrações, a partir da atividade voluntária de músculos e da respiração,
descobriu como preparar o corpo para o fluxo de excitações intensas. O tremor e as vibrações
não são a mesma coisa. Segundo Lowen (1984), tremor é um movimento mais forte, próximo
ao chacoalhar. Quando há fortes tensões, a passagem da energia através dos tecidos tensos
provoca este tipo de tremor. Já a vibração é um movimento mais sutil e pode estar associado
ao prazer de estar vivo e vibrante. Odila Weigand, em sua dissertação de mestrado, cita
Albergaria (2003) que relaciona algumas condições clínicas que podem ocorrer tremores:
fadiga muscular; hipotermia; anorexia; febre alta; espasticidade; medo; fúria e outros. As
vibrações têm a ver com excitação, com a que energia flui das células, há um sentimento de
vitalidade. Enquanto os tremores causados por fatores externos não podem ser ativados ou
interrompidos conscientemente, as vibrações, embora sejam, um movimento involuntário,
podem ser ativados ou interrompidos conscientemente. “Podemos dizer que indivíduos cujos
corpos não vibram estão mortos emocionalmente” Lowen (1984), ele também costuma
afirmar, que uma personalidade sadia é vibrante e um corpo sadio é pulsante e vibrante.
“O grounding é um processo energético em que um fluxo de excitação percorre o
corpo da cabeça aos pés” (Lowen 1997). Ele relata que trabalhando junto com Pierrakos,
explorou possibilidades diferentes de trabalhos envolvendo o corpo no processo terapêutico,
criando as posturas em pé para promover vibrações, com objetivo de liberar as tensões
crônicas e daí nasceu primeiramente a percepção corporal de conexão com o chão, ou seja, o
enraizamento. Lowen inovou em relação à técnica de Reich que colocava o paciente deitado
no divã. A posição ereta, afirma Lowen, é uma posição ativa e nela o paciente pode sentir o
29
solo, o eixo do seu corpo, numa atitude mais adulta, seus olhos podem estar abertos e
focalizados. Teoricamente, a posição ereta indica que o paciente tem a possibilidade de estar
em contato com a realidade de sua vida. O contato com a realidade é o requisito da sanidade,
também é requisito para saúde emocional e física.
As posturas de grounding e as vibrações aumentam as ondas respiratórias e a excitação
geral do organismo. A mãe que amamenta ao seio, segundo Boadella-1992, está dando
grounding ao seu bebê por meio do contato boca-seio, ao olhar o rosto da mãe e ver-se
espelhado nos olhos dela está firmando seus olhos. Contacta com a terra e se firma no chão
enquanto progride da posição de bruços, aprendendo a erguer a cabeça, engatinhar, agachar-
se, levantar-se apoiado e andar. No desenvolvimento da linguagem, o bebê começa a “firmar”
suas idéias. A qualidade do contato vai determinar um bom estabelecimento do grounding ou
falhas nesta função, que de acordo com Winnicott, os contatos falhos levam a adaptações que
vão construir um falso self. O self se constitui como uma entidade psíquica que vai enraizar-
se no corpo, bem ou mau, em função da qualidade dos cuidados maternos recebidos pela
criança. Para Lowen (1993) a identidade do ser humano é dual; uma parte da identidade
deriva da identificação com o ego e sua capacidade de representar, e a outra parte da
identificação com o corpo e suas sensações.

2.3 Anéis e couraças

De acordo com Reich, a energia orgônica flui naturalmente por todo o


corpo, de cima a baixo, paralela a coluna . Reich descobriu, que cada atitude de
caráter tem uma atitude física correspondente e que o caráter do indivíduo é
expresso corporalmente sob a forma de rigidez muscular ou couraça muscular. A
couraça serve para restringir tanto o livre fluxo de energia como a livre expressão
de emoções do indivíduo. Inicialmente seu trabalho começou com a aplicação de
técnicas de análise de caráter e das atitudes físicas. Analisava com detalhes a
postura de seus pacientes e seus hábitos físicos; observou que só depois que a
emoção fosse expressa é que a tensão crônica poderia ser aliviada por completo,
começou então, a trabalhar no relaxamento da couraça muscular e verificou que a
perda desta couraça, libertava energia libidinal e auxiliava o processo de
psicanálise; descobriu ainda, que a perda da rigidez crônica dos músculos

30
resultava em sensações físicas (calor, frio, formigamento) e uma espécie de
despertar emocional. O trabalho com o corpo favorecia a libertação de emoções
(raiva, ansiedade, prazer).
Reich acreditava que a couraça muscular estava organizada em sete
principais segmentos de armadura, estes segmentos da couraça formavam uma
série de sete anéis mais ou menos horizontais em ângulos retos com a coluna;
estavam centrados nos olhos, boca, pescoço, tórax, diafragma, abdome e pelve. A
terapia reichiana consiste em dissolver cada segmento da couraça; assim, Reich
descreveu três instrumentos como principais a serem usados para dissolução da
couraça: 1) armazenamento de energia no corpo por meio da respiração profunda;
2) ataque direto dos músculos cronicamente tensos (por meio da pressão) a fim de
soltá-los e 3) manutenção da cooperação do paciente lidando abertamente com
quaisquer resistências ou restrições que emergissem.
A couraça, segundo Reich, é o maior obstáculo de crescimento; o indivíduo
encouraçado seria incapaz de dissolver sua própria couraça e seria, também,
incapaz de expressar as emoções. Ele conheceria a sensação de agrado, mas não a
de prazer; seria incapaz de deixar sair um grito de raiva. A couraça impede que o
indivíduo experimente emoções fortes, limita e distorce a expressão de
sentimentos. Reich diz “um indivíduo só se liberta de uma emoção bloqueada
experimentando-a de forma plena”. E assim ele definiu o crescimento psicológico
como o processo de dissolução da nossa couraça psicológica e física, tornando-nos,
gradualmente, seres humanos mais livres, abertos e capazes de gozar um
orgasmo pleno e satisfatório.

2.4 Respiração a partir do caráter

2.4.1 Caráter

De acordo com Reich, o caráter é composto das atitudes habituais de uma


pessoa e de seu padrão consistente de respostas para várias situações. Inclui
atitudes e valores conscientes, estilo de comportamento (timidez, agressividade,
etc.) e atitudes físicas (postura, movimentação do corpo).

31
Segundo Reich, a formação de caráter depende do momento em que o
impulso é frustrado, ou seja, se no começo ou no fim, qual o estágio do
desenvolvimento da libido em que se encontra o organismo no momento em que é
aplicada a inibição. Quanto mais precoce a frustração, mais completa a repressão.
E Reich continua, o caráter estrutura-se no nível corporal sob a forma de tensões
musculares crônicas, as quais bloqueiam ou limitam os impulsos em seu trajeto
até o objetivo ou fonte. O caráter é também uma atitude psicológica que escora
num sistema de negações, racionalizações, projeções voltadas para a
concretização de um ego ideal. A identidade funcional do caráter psíquico com a
estrutura muscular é a chave da compreensão da personalidade.
Lowen ressalta, que o caráter é a atitude básica com a qual o indivíduo
confronta a vida, é o modo típico de uma pessoa conduzir sua busca de prazer. È
também a forma como o indivíduo reage perante as situações que se lhe
apresentam, ou seja, como se defende da dor. É, portanto, uma forma peculiar,
repetitiva e habitual de resposta que estabelece, estrutura uma atitude
psicológica, emocional e corporal do indivíduo diante do mundo; é a forma como a
pessoa se reconhece e é reconhecida.
Os problemas psicológicos, o estresse, as atitudes negativas e as emoções
como a raiva e o medo, têm uma influência sobre a maneira de se sentar, de se
manter de pé, de se mover ou de respirar. “a respiração é essencial, pois levamos
a vida do tamanho de nossa respiração” Lowen.1975.
À prática de certos exercícios, fazem com que as pessoas aprendam a
liberar a couraça muscular, de modo a permitir que o corpo funcione livre e
naturalmente.
A análise bioenergética oportuniza, de forma louvável, o crescimento
pessoal objetivando elevar a auto-estima e desenvolver uma atitude positiva em
relação ao próprio corpo.

2.4.2 Estruturas de caráter x carga energética / respiração

32
Podemos considerar as estruturas de defesa de caráter como sendo padrões
de comportamentos e reações ligadas a forma com a qual lidamos com a nossa
energia da essência e dos nossos próprios campos áuricos.
Lowen empregou cinco termos para diferenciar cinco grupos distintos
desses tipos de estrutura. Essas defesas estão intimamente ligadas a processos de
formação de traumas, os quais podem ser, tanto gerados por fatos de impacto ou
pela soma do mesmo padrão de fato ao longo de muito tempo (repetição) da nossa
história pessoal.
Agimos de acordo com esses padrões, na maioria das vezes, de forma
inconsciente. No começo da vida, durante a infância até o começo da fase adulta,
as defesas nos são úteis, fundamentais. Na fase adulta e após o despertar da
consciência, as defesas agem como limitadores do auto-desenvolvimento sobre
vários aspectos, impedindo que a pessoa atinja profundidade dentro do seu
processo de expansão da consciência e evolução. As defesas são uma das
manifestações mais fortes do nosso inconsciente, elas representam um papel
extremamente importante em nossos relacionamentos, na nossa saúde e na nossa
relação intima conosco.
As características das defesas apresentadas estão reunidas por cada um
dos cinco grupos. Cada um de nós apresenta uma determinada combinação de
tendência de manifestação de cada um dos tipos, normalmente com
predominância de um ou dois tipos; entretanto, todos temos um pouco de cada
manifestação, uma vez que passamos, em maior ou menor profundidade, por
experiências representativas de cada grupo.
Os termos apresentados por Lowen, para definir as estruturas foram
utilizados considerando a sua aplicação dentro das áreas médicas, psiquiátricas e
comportamentais. Abordaremos aqui os aspectos referentes a carga energética e a
respiração: 1) estrutura esquizóide – desconectado, desligado; respiração precária
na parte superior do tórax, devido à contração do diafragma; condição energética
subcarregada; 2) estrutura oral – carente, desenergizado; respiração superficial
devido ao fraco impulso de sugar na infância; carga energética baixa; 3) estrutura
psicopática – controlador, sedutor; a carga energética concentra-se na cabeça e na
parte superior do corpo, sendo reduzida na parte inferior. O diafragma é

33
contraído, impedindo o fluxo de energia e sentimentos, respiração contida; 4) –
masoquista, sobrecarregado, “a energia está represada no centro e flui de forma
precária para a periferia, em conseqüência disso, os canais de expressão (braços,
pernas, genitais, etc.) são subcarregados e a expressividade é pobre” Lucina
Araújo – apontamentos 2005.; 5) estrutura rígida – inflexível, tenso; respiração
limitada, o movimento energético está ancorado na cabeça e nos genitais.

2.5 Linguagem x comunicação do corpo

Você e seu corpo.


Se você é seu corpo e seu corpo é você, este poderá
expressar quem você é. È a sua forma de estar no mundo.
(Lowen. 1982).

Na década de 30, Reich começou a trabalhar diretamente com o corpo dos pacientes,
com uma técnica que visava, especificamente, aprofundar e liberar a respiração a fim de
melhorar e intensificar a experiência emocional. Associou a psicanálise a observação do
corpo, das expressões dos olhos e da face, da qualidade da voz e dos padrões de tensão
muscular, descreveu o que chamamos, hoje, linguagem corporal (Sharaf, 1983). Sendo o
indivíduo uma unidade psicossomática, o que afeta a mente afeta o corpo e vice-versa,
Lowen.
Lowen diz: o que um indivíduo sente também pode ser definido pela expressão de seu
corpo. A atitude do indivíduo em relação à vida ou seu estilo pessoal refletem-se no seu
comportamento, em sua postura e no modo como se movimenta. As emoções são eventos
corporais; ... a raiva produz tensão e provoca uma carga energética na metade superior do
corpo; ... a afeição ou o amor suaviza todas as feições, tornando a pele e olhos cálidos; a
tristeza dá ao indivíduo uma aparência enternecedora. Ter consciência do seu corpo é um dos
dogmas da análise bioenergética, é uma maneira de descobrir quem você é, o que é a sua
mente; a mente funciona como órgão perceptivo e reflexivo, sentindo e definindo o ânimo, os
sentimentos e os anseios do indivíduo. Conhecer sua mente significa saber o que você quer e
o que você sente. Se o indivíduo não está atento ao seu corpo, é porque tem medo de perceber
ou experimentar os seus sentimentos.
Para Lowen - 1982, a linguagem corporal possui duas partes: uma lida com os sinais e
expressões do corpo e que transmitem informações sobre o indivíduo; e outra que lida com as

34
expressões verbais e se referem as funções corporais. Lowen traz essa última fazendo uma
analogia com a bioenergética; uma vez que a análise bioenergética preocupa-se no como o
indivíduo conduz o seu sentimento de amor, se tem o coração aberto ou fechado. O coração
está contido na caixa torácica, a qual poderá ser rígida ou maleável, imóvel ou flexível, a
mobilidade do tórax pode ser vista na respiração. O canal primário de comunicação para o
coração é através da boca e garganta. O bebê com os lábios e a boca chega ao seio materno,
mas não o faz só com a boca e a garganta, e sim também com o coração; esse é o seu primeiro
canal de comunicação para o coração. O segundo canal de comunicação do coração são os
braços e as mãos, na medida que buscam contato. A imagem do amor é o toque doce, suave
acariciante das mãos da mãe. Para que a ação se constitua numa expressão de amor, o
sentimento deverá originar-se no coração. O terceiro canal de comunicação para o coração
com o mundo é o que desce da cintura e pelve para os órgãos genitais. O sexo é um ato de
amor se o coração está envolvido; sexo sem sentimento é como fazer uma refeição sem
apetite.
“Sem amor a si próprio, aos demais, à natureza e ao universo, o indivíduo é frio,
alienado e desanimado” Lowen, 1982. Ainda, de acordo com Lowen, para fazermos a leitura
corporal é preciso que estejamos em contato com nosso próprio corpo e sejamos sensíveis às
suas expressões.
“A individualidade começa no coração e completa-se na
respiração”.
“Todo desejo vivo que não se realiza morre de
asfixia”.
José Ângelo Gaiarsa.

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“A respiração é um ato de relação com o mundo, de


relação sinalética com os outros, voz / palavra”.
José Ângelo Gaiarsa

A vida autônoma começa com a nossa primeira respiração: forte, marcante,


geralmente associada a um choro, e termina com um último suspiro.
Respirar de formas diferentes em exercícios específicos tem o propósito de
nos ensinar novas formas de reagir às situações, nos dar possibilidades de
liberdade de resposta e também de ampliar a nossa consciência. Respirar
conscientemente aumenta nossa força e poder, ancorando nossa mente em nosso
corpo físico proporcionando aumento da responsabilidade por si próprio e
fortalecendo o nosso equilíbrio como um todo.
Respirar é o primeiro ato voluntário que realizamos em benefício de nós
mesmos. Integrar as manifestações de nosso inconsciente a nossa personalidade
passa pelo aumento da consciência respiratória.
O ar, entre os quatro elementos, está associado ao nosso corpo espiritual.
Não há uma forma correta de se respirar; uma respiração de qualidade propicia
uma vida de melhor qualidade; a respiração revela a forma como a pessoa está no
mundo. De todas as privações de relacionamento com o meio externo pelos quais
podemos passar, a privação do ar, da respiração, é a que primeiro se manifesta, a
mais urgente.
“Para todo e qualquer distúrbio físico e/ou emocional que apresentamos
existe uma tensão física e conseqüentemente uma dificuldade respiratória
associada” Gaiarsa.
Para Lowen (1977), é obvio que a mente pode influenciar o corpo tanto
quanto o corpo afeta a mente; trabalhar diretamente na recuperação de funções
corporais como a respiração, a movimentação, a percepção sensorial e a auto-
expressão surte um efeito imediato e duradouro sobre a atitude mental da pessoa.
Aumentar o nível de energia da pessoa é a mudança fundamental que o processo
terapêutico deve produzir para que possa atingir seu objetivo de libertar o

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indivíduo das restrições de seu passado e das inibições do presente. Sentir é
perceber um movimento interno, um bloqueio à ação cria um estado de tensão no
músculo que se encontra, energeticamente, pronto para agir, mas é incapaz de
faze-lo por um comando repressor da mente “se não há movimento não há
sentimento” (LOWEN, 1977).
A defesa psicológica é uma defesa contra a morte, contra a sensação de
desaparecer, de desfazer-se, de desintegrar-se. A psicoterapia vai nos mostrando
todos os significados das situações e muitos aspectos do personagem, isto é
tornar-nos consciente.
Em seu livro Alegria (1997), Lowen refere que a infância é caracterizada
pelas duas qualidades que conduzem à alegria: liberdade e inocência. Liberdade
significa o direito de ir em busca da própria felicidade, a liberdade de expressar
abertamente os próprios sentimentos; a inocência significa naturalidade e
espontaneidade. Toda criança nasce inocente e livre e pode assim vivenciar a
alegria. A perda da inocência leva a culpa; a consciência de si priva o ser humano
de sua inocência. Sem a liberdade interior para sentir profundamente e expressar
os próprios sentimentos, não pode haver alegria. A liberdade interior manifesta-
se na graciosidade do corpo, em sua suavidade e vitalidade. È a expressão física
da inocência, de um modo de agir espontâneo, sem artifícios e verdadeiro para o
self. Os dois estados de ânimo: sentir-se bem/alegre e sentir-se mau/culpado são
incompatíveis.
Lowen ainda refere, não se pode empreender sozinho a viagem de auto-
descoberta, o self está bem no fundo do corpo, para chegar a esse self é uma
jornada árdua. Inicialmente, a força vem da orientação, do apoio e do
encorajamento do terapeuta; mas, vai se tornando a força do paciente a medida
que vai se dando conta de seus terrores, são medos da infância que um adulto
consegue enfrentar. Sentimentos que são considerados perigosos inaceitáveis,
transformando-se em reações naturais. Lentamente, o paciente recupera seu
corpo e com ele sua alma e seu self.
A vida caracteriza-se por energia em movimento, os movimentos em
constante pulsação, como o coração e a respiração, ocorrem em ritmo e harmonia.
Nosso organismo funciona num processo de contração, expansão, carga e

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descarga; cada parte do corpo revela o todo, contendo nele a inscrição da nossa
história. O amor é muito importante para nossa energia vital e motivação da
vida. O movimento respiratório faz circular a energia. O bom contato estimula a
respiração, os sentimentos, a alegria de viver.
Segundo Gaiarsa, respiração tem tudo a ver com emoções, das mais
agitadas as mais tranqüilizantes. Desenvolver a própria individualidade é, com
certeza, fazer-se diferente dentre os seres humanos que nos cercam.

38
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REEF
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