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ESTOICISMO

Fundado por Zenão de Cício (ou Cítio), o Estoicismo, como o epicurismo seguirá a
tríade da divisão da filosofia entre Física, Lógica e Ética. A Física diz respeito à
constituição do mundo, a Lógica está relacionada ao modo como eu capto esta
constituição e a Ética seria o modo como eu devo agir, dado que eu faço parte da
constituição física do mundo que é lógica.

Para os estoicos, o mundo possuiria uma estrutura hilemórfica, ou seja, ele seria feito
de hyle (matéria) e morfé (forma), o que resultaria numa concepção materialista da
realidade, não havendo espaço para o metafísico, o transcendente.

Essa matéria que constituiria a realidade, por outro lado, possuiria uma razão, um
logos. Como seria possível captar o fato de que a matéria e, por conseguinte, a
realidade física possui razão? Esta resposta se dá por meio de uma lei chamada
"princípio da simpatia cósmica". Tal princípio parte da ideia de que tudo o que existe
possui uma harmonia. A palavra simpatia vem do grego syn, que significa junto (com), e
pathos, que é o sofrer uma ação por parte de outro, ou o mesmo que padecer. Assim, o
princípio da simpatia cósmica é aquele segundo o qual o homem, por possuir evidente
racionalidade, é capaz de “sentir junto” e "extrair" racionalidade das coisas ao seu
redor. Dito de um modo mais simples, este princípio é o que permite a percepção de
que há uma lei racional em cada coisa, ou seja, é ele que permite o conhecimento da
realidade. Como conclusão, os estoicos poderiam dizer que se somos capazes de, por
exemplo, conhecer uma fórmula matemática, esta fórmula deveria já estar na própria
realidade antes da minha tomada consciência dela mesma, o que nos permite dizer
que a razão (o logos) está também nas coisas.

Partindo desses princípios, para os estoicos tudo seria deus, pois tudo o que existe
está neste mundo (material, como se viu) e possuiria racionalidade e vida, o que
proporcionaria dizer que o Estoicismo é a primeira corrente filosófica a tentar uma
sistematização do panteísmo (doutrina segundo a qual tudo - pan - é Deus - theos) ao
elaborar este hilozoísmo (do grego, hyle - matéria; zoe - vida), fato de que a matéria
possui vida.

Desse modo, sabendo-se que a razão (este logos que constitui toda a realidade) é algo
determinado, já que podemos prever os eventos futuros com a capacidade racional
(por exemplo, se deixo cair algo de minha mão, já sei de antemão que ele irá para o
chão), e tudo é razão, todos os eventos futuros estariam previamente determinados a
seguir necessariamente o seu destino, tudo estaria fadado a acontecer de um modo
inescapável.

A pergunta que se faz aqui é: se tudo está previamente determinado, cabe espaço para
a liberdade humana? Para os estoicos a resposta é um retumbante sim. Perguntaria
alguém: mas como? Se tudo está determinado, não haveria liberdade. A questão é que
os estoicos mudam o conceito de liberdade humana. Eles entendem a liberdade
humana, que levaria à felicidade, como o agir segundo a natureza. Como a natureza do
ser humano é ser racional, agir com a razão é ser livre. Ora, agir com a razão é saber
prever o que irá acontecer no futuro e não lutar contra estes acontecimentos, mesmo
que estes possam ser temíveis. Isso permitiria ao indivíduo não sofrer, visto que se ele
não colaborar com o destino, este se cumprirá mesmo que o sujeito não queira, o que
provocaria o sofrimento. Dessa forma, o sábio deverá viver de modo a aceitar a
realidade que o cerca e o fado (o destino), tendo que viver uma apatia: um não ser
afetado pela estrutura da realidade que segue inexoravelmente o seu fluxo.

Isto posto, pode-se agora entender por qual razão os romanos, que foram
eminentemente estoicos, seguiam para o domínio de outras regiões. Eles entendiam
que os outros povos e homens também possuíam o logos, mas não tinham consciência
disso. Em vista disso, caberia aos estoicos o dever de levar a consciência de
racionalidade para os outros povos. Isto quer dizer que os estoicos não veem o homem
como alguém que necessite apenas de sua cidade, todavia acham que o homem
participa de uma comunidade universal dentro do logos. É precisamente este o
conceito de “animal comunitário”, proposto pelos estoicos.

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