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A Atualidade do Sentido da Colonização na Formação da Economia do Brasil

“Contemporâneo”

A principal conclusão a ser apreendida da obra de Caio Prado Junior é a atualidade deste
sentido da colonização, questão que permeia toda a obra. Já na introdução o autor deixa
cristalino que o objetivo de estudar o Brasil colônia se dá como instrumental para a
compreensão do Brasil contemporâneo, vez que a passagem de uma economia e sociedade
coloniais à uma economia e sociedade verdadeiramente sólidas encontrava-se ainda em
construção:

Mas esse novo processo histórico se dilata, se arrasta até hoje. E ainda não
chegou ao seu termo. É por isso que, para compreender o Brasil
contemporâneo, precisamos ir tão longe; e subindo até lá, o leitor não estará se
ocupando apenas com devaneios históricos, mas colhendo dados, e dados
indispensáveis para interpretar e compreender o meio que o cerca na
atualidade.

Se em análise dos elementos da vida contemporânea brasileira o autor destaca a presença


saliente deste passado colonial, isso se deve na medida em que o sentido da colonização
permanece arraigado na estrutura da economia e sociedade brasileiras:
Se vamos à essência de nossa formação, veremos que na realidade nos
constituímos para fornecer açúcar, tabaco, alguns outros gêneros; mais tarde,
ouro e diamantes; depois, algodão e, em seguida, café, para o comércio
europeu. Nada mais do que isso. É com tal objetivo, objetivo exterior, voltado
para fora do país e sem atenção a considerações que não fossem o interesse
daquele comércio, que se organizarão a sociedade e a economia brasileiras.
(…) O sentido da evolução brasileira, que é o que estamos aqui indagando,
ainda se afirma por aquele caráter inicial da colonização.

E, como consequências da estrutura organizacional baseada na grandes propriedade,


monocultura e mão de obra escrava, vetor da concretização do sentido da colonização, o
autor observava à época da conclusão do livro a existência de extrema concentração da
riqueza; a orientação para o exterior como permanência intrínseca da economia brasileira,
tornando a dominação situação efetiva; e a manutenção da sociedade assemelhada ao
estatuto colonial, notado pela existência de pequena minoria de colonos brancos
contraposta à grande massa de população de ex-escravos, "ou pouco mais do que isso".

Deve ser salientado, portanto, que a atualidade das estruturas passadas é corolário da
obra do autor, que traz o resgate do passado como recurso para compreender e modificar
o Brasil moderno. Como bem destaca Carlos Nelson Coutinho, é também uma clara opção
metodológica, de visualização do presente como história, em análise da gênese e das
perspectivas desse presente, cujo movimento dialético é o núcleo de sua reflexão
historiográfica.

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