Você está na página 1de 2

A radiografia do tórax alguns autores se referem a este exame

como telerradiografia do tórax.

Avaliação
A avaliação inicia-se pela confirmação do
» Rev Medic Desp in forma, 2011, 2 (1), pp.28–29
nome e data de nascimento do doente,
olhar e ver

1
Dr. Tiago M Alfaro, 2 Dr.ª Rita Monteiro, 3 Prof. Doutor Carlos Robalo Cordeiro data do exame, incidência e marcação do
1
Médico Interno de Pneumologia dos Hospitais da Universidade de Coimbra;
2
Médico Interno de Medicina Interna dos Hospitais da Universidade de Coimbra; lado direito ou esquerdo (a dextrocardia é
3
Pneumologista dos Hospitais da Universidade de Coimbra; Professor de Pneumologia da Faculdade de Medicina
da Universidade de Coimbra. uma possibilidade).
A apreciação da técnica é importante, ob-
abstract
viando a valorização de imagens resultan-
tes da aquisição. Uma radiografia com boa
A radiografia de tórax é um exame simples e acessível para o estudo dos órgãos torácicos.
qualidade técnica deve estar centrada (cla-
O seu valor está no entanto dependente da correcta interpretação das imagens. Os autores
descrevem a avaliação estruturada do exame, sublinhando a importância da integração dos vículas equidistantes da coluna vertebral)
achados radiológicos no contexto clínico.
bem inspirada (9 a 10 arcos costais poste-
The chest X-ray is a simple and widespread diagnostic tool. Its value is however dependent riores acima do diafragma) e bem pene-
on the accurate interpretation of the images. The authors present a structured approach trada (vértebras apenas perceptíveis atrás
to this analysis and underline the importance of the integration between the imaging and
clinical findings. da sombra cardíaca). As omoplatas devem
estar fora dos campos pulmonares, e todo
o tórax deve estar incluído na imagem.
palavras-chave Radiografia de tórax; Avaliação estruturada
Chest X-ray; Structured approach O conhecimento da história clínica é fun-
keywords
damental para a interpretação dos acha-
dos radiográficos. Mesmo o indivíduo
Introdução (a radiação atravessa o tórax no sentido assintomático pode ter tido patologia no
A radiografia de tórax é o exame radioló- posterior/anterior). A ampola fica a 1,8 passado ou exposições ocupacionais ou
gico de maior utilização a nível mundial. metros do doente, por forma a maximizar ambientais que expliquem as alterações
A sua disponibilidade contrasta no entan- o paralelismo da radiação, razão pela qual observadas.
to com a complexidade da sua avaliação.
Pretende-se neste texto realçar os achados
normais e as principais alterações que po-
dem ser identificadas.

Aquisição
A radiografia do tórax pode ser obtida em
várias incidências, sendo a postero-ante-
rior (PA) a mais frequente e a única a ser
geralmente realizada no indivíduo assin-
tomático. O perfil (esquerdo por rotina e
direito se há suspeita de lesão deste lado)
pode ser um complemento importante na
localização de lesões e avaliação de regiões
não observadas na incidência PA. Outras
incidências, como a lordótica, o decúbito
lateral ou a ântero-posterior no doente
acamado, têm indicações mais precisas,
não discutidas neste texto.
A incidência PA é adquirida com o doente Fig. 1: radiografia do tórax normal, incidência PA. Estruturas visualizadas: A: clavícula; B: omoplata; C: arco costal

em pé, em inspiração profunda e com a posterior; D: arco costal anterior; E: câmara de ar gástrica; F: hemicúpulas diafragmáticas; G: seio costo-frénico lateral;

face anterior do tórax encostada ao filme H: campo pulmonar; I: botão aórtico; J: sombra cardíaca; K: hilos pulmonares.

28 Janeiro 2011 * www.revdesportiva.pt


É consensual que a leitura da radiografia e esterno são ainda frequentemente apa- em caso de sequela de pleurite ou de der-
do tórax deve ser estruturada. A ordem rentes os ossos dos membros superiores. rame pleural.
não é importante, podendo ser adaptada Os tecidos moles incluem, para além da
de acordo com as preferências de cada parede torácica, os membros superio- – Campos pulmonares:
um. As estruturas a ser analisadas estão res e a porção superior do abdómen, que Devem avaliar-se comparativamente os
listadas na tabela I. também deve ser investigada. As sombras dois campos, podendo observar-se con-

olhar e ver
mamárias na mulher sobrepõem-se ao pa- solidações, atelectasias, nódulos, massas,
Tabela I – Observação sistematizada da radiografia do
rênquima pulmonar. Os mamilos podem cavidades ou alterações difusas. A distri-
tórax (de fora para dentro)
Parede torácica simular um nódulo pulmonar. Geralmen- buição do retículo pulmonar, represen-
Pleura e diafragma te são opacidades arredondadas, bilaterais tado essencialmente pela rede vascular,
Campos pulmonares
e simétricas, localizadas no 5-6º espaço depende da acção da gravidade. Em or-
Mediastino e hilos pulmonares
intercostal. tostatismo, as marcas vasculares são assim
Nas figuras 1 e 2 observa-se uma radio- mais evidentes nas bases pulmonares. Não
grafia do tórax normal, com indicação das – Pleura e diafragma: deve ser visualizado a menos de 1 cm da
principais estruturas. É importante reco- A pleura só é aparente na radiografia margem costal.
nhecer que a normalidade corresponde a quando tangencial à radiação X, tal como
um espectro e que as variações do normal acontece ocasionalmente nas cisuras. As – Mediastino e hilos pulmonares:
não devem ser sobrevalorizadas. principais alterações que podem ser iden- As estruturas que definem as margens do
tificadas são o pneumotórax, o derrame mediastino médio e inferior podem ser
– Parede torácica pleural, as massas e as calcificações. observadas na figura 3. Alterações das
Devem ser observados as estruturas ósse- As hemicúpulas diafragmáticas apresen- margens do mediastino médio ou inferior
as, e os tecidos moles. tam convexidade superior bem definida, podem exprimir aumento das dimensões
Os arcos costais posteriores são mais a direita encontrando-se discretamente de câmaras cardíacas. Deve avaliar-se a
radio-opacos e têm uma orientação ho- mais elevada. No perfil, a hemicúpula es- possibilidade de alargamento do medias-
rizontal, sendo os anteriores mais radio- querda estende-se anteriormente até ao tino superior. O índice cardio-torácico
transparentes e com orientação oblíqua. bordo posterior da silhueta cardíaca en- avalia-se dividindo a maior largura da si-
As cartilagens costais podem tornar-se quanto a direita se estende até ao esterno. lhueta cardíaca pela maior distância entre
visíveis com os processos de calcificação Os seios costofrénicos laterais e posterio- as margens internas das costelas. Deve ser
no idoso. Além das omoplatas, clavículas res são agudos, podendo estar obliterados igual ou inferior a 0.5, mas pode estar au-
mentado no coração de atleta.
O hilo direito tem uma morfologia em
borboleta e o esquerdo em vírgula. Os hi-
los podem apresentar-se modificados por
alterações vasculares ou pela presença de
adenopatias.

Conclusão:
A radiografia do tórax é um exame acessí-
vel e associado a uma dose baixa de radia-
ção. Para se obter a informação correcta
do exame, este deve ser avaliado de uma
forma sistematizada e integrada no con-
texto clínico.
Fig. 2: radiografia do tórax normal, incidência de perfil Fig. 3: margens mediastínicas, incidência PA. Estruturas

esquerdo. Estruturas visualizadas: A: coluna vertebral; B: que definem as margens: A: veias ázigos e cava inferior; Bibliografia:
esterno; C: omoplata; D: hemicúpula diafragmática direi- B: aurícula direita; C: crossa da aorta; D: cone da artéria Lange S. Radiology of Chest Diseases. 3rd ed. Thieme Medi-

ta; E: hemicúpula diafragmática esquerda; F: câmara de pulmonar; E: apêndice auricular esquerdo; F: ventrículo cal Publishers; 2007.

ar gástrica; G: seios costo-frénicos posteriores; H: espaço esquerdo. Pisco JM. Imagiologia Básica. Texto e atlas. 2ª ed. LIDEL;

claro retro-esternal. 2009

Revista de Medicina Desportiva in forma * Janeiro 2011 29

Você também pode gostar