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Compreensão do oral (II) — Transcrição do texto

A Queda dum Anjo, de Camilo Castelo Branco

Está tudo no título. Sabemos desde o início que o protagonista vai perder a
condição de anjo como nos é apresentado. Logo à primeira frase, sabido o nome da
personagem principal, começamos a desconfiar do intuito sarcástico do autor. Calisto
Elói de Silos e Benevides de Barbuda, morgado de Agra de Freimas. É o tal anjo que,
eleito deputado, há de corromper-se no contacto com os vícios urbanos da capital.
Camilo Castelo Branco publicou esta novela em fascículos, sob a forma de folhetim, no
jornal O Comércio, durante três meses do ano de 1865. Um século e meio mais tarde, a
história de Calisto Elói continua a ter qualquer coisa de atual, a ponto de, no prefácio,
Salvato Trigo ter este desabafo: «Algo vai mal num povo e numa nação que, mais de
cem anos depois, tem de reconhecer que nela se mantêm os mesmos vícios, as
mesmas peripécias sociais, digamos até a mesma mentalidade.»
Camilo diverte-se e diverte-nos com a história do morgado que ocupou um
lugar no parlamento disposto a defender a moral e os bons costumes e que acabou
por ser tornar um homem como os outros, trocando a mulher pela prima Efigénia, o
que leva Camilo a concluir que nesta novela não há moralidade possível. Caiu o anjo e
ficou simplesmente o homem. Homem como quase todos os outros e com mais
algumas vantagens que o comum dos homens: dinheiro a rodos, uma prima que o
preza muito, dois meninos que se lhe cavalgam no costado, saúde de ferro e barão.
O Livro do Dia TSF é A Queda dum Anjo, de Camilo Castelo Branco, Editora
Civilização.

ENTRE NÓS E AS PALAVRAS • Português • 11.o ano • Material fotocopiável • © Santillana 1

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