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Governança, Compliance e Cidadania - Ed. 2019
23. INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR (IES), CONTRATOS DE TERCEIRIZAÇÃO DE
SERVIÇOS, MEMÓRIA ORGANIZACIONAL E COMPLIANCE
1.Ambientação
Segundo Martins (1996), a terceirização de serviços nas empresas em geral ocorre nas
atividades acessórias (como limpeza, alimentação, transporte, vigilância) e nas atividades meio
(como departamento de pessoal, contabilidade, manutenção).
A terceirização é utilizada pelas empresas, em sua maioria, como manobra de gestão, visando
gerar valor e eficiência (PRADO, 2005), alicerçadas na busca por melhores serviços, os quais serão
desempenhados pelas empresas externas (DAVIS-BLAKE; BROSCHAK, 2009).
É de conhecimento público haver uma gama de contratos em uma IES, entretanto, os que mais
geram insegurança são os contratos com prestadores de serviço terceirizado, pela sua natureza.
Isso porque, em geral, os terceirizados prestam serviços com menor remuneração e piores
condições de trabalho, se comparados aos core workers (ABE, 2014).
Frente a essa constatação, a gestão contratual de serviços terceirizados se torna uma tarefa
desafiadora e de suma importância em uma empresa.
Para Fernandes e Carvalho Neto (2005), há um paradoxo aposto na gestão dos terceirizados, vez
que deve ser trabalhada a questão da identidade e do comprometimento de todos os funcionários,
em contraponto aos vários níveis hierárquicos aos quais os terceiros se submetem, com sistema de
recompensas muito pior que o dos core workers, o que dificulta o desenvolvimento do sentimento
de pertencimento à empresa tomadora de serviço. Isso torna a gestão dos contratos de terceiros
um assunto ligado à própria gestão estratégica da empresa.
Os instrumentos contratuais devem ser elaborados de forma clara e precisa, objetivando seu
acompanhamento e evitando resultados desfavoráveis (PETTINGER, 1998).
Para Perez e Ramos (2013), a memória se constitui em um processo dinâmico, e por meio dele
são obtidas informações e experiências do passado, tangíveis para decisões presentes.
Nesse viés, clarificado está que cultura, valores, processos e normas – especialmente de
Compliance, devem ser solidificados na organização para que não se percam quando da
terceirização (VALENÇA, BARBOSA, 2002). Esse é um processo de valorização da Memória
Organizacional.
O prestador de serviço terceirizado deve estar a par da cultura organizacional, das normas
regulatórias – incluindo de compliance, tanto da empresa a que pertence quanto das empresas
para as quais presta serviços (VALENÇA; BARBOSA, 2002).
Daí a razão pela qual a propagação das políticas de compliance, a preservação da Memória
Organizacional bem como a gestão efetiva dos instrumentos contratuais nas empresas são
fundamentais e ao mesmo tempo tão desafiadoras.
7.Desafios
7.4. Para Pettinger (1998), um dos desafios enfrentados ao se ter trabalhadores que não fazem
parte do core da empresa é a dificuldade de gerar neles a identidade e o comprometimento para
com a empresa onde prestam o serviço.
8.Considerações finais
Considerando:
Os instrumentos contratuais um fator crucial nas relações entre tomadora de serviços (IES),
empresa prestadora de serviço e normativas de Compliance;
Entende-se que:
1. Faz-se necessária uma análise crítica da IES para que essas contratações de serviços
terceirizados seja efetivada de forma plena (contrato), a fim de não prejudicar a marca
(acompanhamento constante – gestão contratual), de não comprometer publicamente a IES em
possíveis irregularidades cometidas pela Terceirizada (Compliance) e de manter para a IES os
frutos oriundos desses serviços (revertido em mais alunos, mais convênios, mais investimentos
externos, dentre outros), os quais serão utilizados no futuro como base para o processo decisório e
planejamento estratégico da IES (Memória Organizacional).
2. Ademais, uma política efetiva de Compliance garante que as relações econômicas atinjam seu
objetivo social, tendo em mente que a autonomia da vontade está limitada ao bem coletivo, e que,
antes de tudo, a boa-fé das relações comerciais deve estar evidenciada. Como diz a consagrada
premissa: “não basta ser ético, é preciso parecer ético”.
3. Para uma IES que tem princípios e valores alicerçados na confessionalidade cristã, e missão
norteada pela filantropia, o desenvolvimento de uma boa gestão contratual é essencial, assim
como controles internos e práticas de compliance é fundamental, para que sua missão, visão e
valores sejam evidenciados, e sua memória organizacional mantida, o que agregará valor à sua
marca, trazendo mais segurança aos gestores, maiores investimentos, agregando novos alunos e
assim, retroalimentando todo o sistema.
9.Bibliografia
DAVIS-BLAKE, A.; BROSCHAK, J. P. Outsourcing and the Changing Nature of Work. Annual
review of Sociology, col. 35, p. 321-340, 2009.
FERNANDES, Maria Elizabeth Rezende; CARVALHO NETO, Antônio Moreira de. Gestão dos
múltiplos vínculos contratuais nas grandes empresas brasileiras. Rev. adm. empres. 2005, v. 45, p.
48-59.
PEREZ, G.; RAMOS, I. Understanding Organizational Memory from the Integrated Management
Systems (ERP). Journal of Information Systems and Technology Management, v. 10, n. 3, p. 541-560,
2013.
WALSH, J. P.; UNGSON, G. R. Organizational Memory. In: The Academy of Management Review, v.
16, n. 1, p. 57-91, 1991.
NOTAS DE RODAPÉ
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