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Luis Pires foi um resignado não no sentido de rendição

passível, subserviência ou deposição da vida, mas por estar


plenamente consciente de sua condição e limitações de
hanseniano. O autor de Farrapo não entregou os pontos, não
jogou a toalha, como parece indicar uma primeira leitura de
seus versos. Seus poemas são também uma latente/velada
denuncia/protesto contra uma sociedade que em nome de um
pretenso progresso relegara seus “gafos” a mais absoluta
reclusão, condenando-os a mais irreversível das lepras: o
preconceito. Despidos de quaisquer pedantismo e
convencionalismo insossos, seus versos são a mais legítima
expressão da vida, são versos em carne viva, emitidos a partir
da dor que lhe tangia. Seu mal era também seu estro. O poeta
não compactua com a dor nem lhe tem a menor comunhão,
ela é opressora, um inimigo necessário. A compulsória reclusão
no Bonfim, seu exílico asilo, obrigou-o a voltar-se para o
território de sua própria condição, elegendo-o seu esteio.

O cantor de FARRAPO retira do mal irremediável em que


se acha imerso o motivo aos versos que compõe e faz das
chagas do seu corpo o esteio onde ergue seu edifício poético.
Cantou até erguer-se de seus versos como um Lázaro
ressurreto.

No entanto, ao ver esfacelanda sua “Sião”, desespera-se,


porém como um nobre timoneiro, não abandona

Seu discurso poético não é escapista, não cria um mundo


paralelo, uma realidade outra, não faz da linguagem sua Terra
Prometida. Seu infortúnio constitui a matéria-prima por meio
do qual acomete seus versos. Autor e eu lírico se confundem,
estão em seu discurso consubstanciados.

Em Luis Pires poesia e vida se fundem numa ostentação


mimética, , catártica, autobiográfica.

Luis Nascimento Pires nasceu em Barra do Corda no dia


29 de abril de 1917, filho de Francisco das Chagas Nascimento e
Raimunda Oliveira Nascimento. Por alguma razão que
desconhecemos, o pequeno Luis foi criado e educado pela
então viúva Josefa Nascimento Pires, que decidiu adotá-lo por
alguma impossibilidade dos pais. Tudo leva a crer que o pai do
poeta era irmão de Josefa,

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