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São Paulo
2015
DOCS - 824585v1
Insper – Instituto de Ensino e Pesquisa
LL.M. em Direito Societário
São Paulo
2015
DOCS - 824585v1
Benemond, Fernanda Henneberg
Acordo de Quotistas de Sociedades Limitadas / Fernanda Henneberg
Benemond, São Paulo: 2015.
54 f.
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FOLHA DE APROVAÇÃO
Aprovada em:
DOCS - 824585v1
Aos meus pais, Cesar e Tania e à minha irmã,
Paula, pelo incentivo às minhas conquistas.
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AGRADECIMENTOS
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RESUMO
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ABSTRACT
This study refers to the acceptance of the limited liability company quotaholders’ agreement
by the Brazilian legislation and to the possibility to apply article 118 of Law 6404/1976,
whose subject is the shareholders agreement, to the limited liability company quotaholders’
agreement. The discussion regarding the acceptance of the quotaholders’ agreement by the
Brazilian legislation arises from the fact that the Brazilian Civil Code – which notably sets
forth the rules applicable to limited liability companies – does not refer to the quotaholders’
agreement. Therefore, even if we understand that article 118 of Law 6404/1976 shall be
applied (as a result of the subsidiary applicability of the corporation rules to limited liability
companies or as a result of analogy), we shall verify how such rule may be the basis for the
limited liability company quotaholders’ agreement. In order to clarify how the limited liability
company quotaholders’ agreement is being understood in the country, we analyze topics as
object, legal nature, term and termination, extrajudicial measures against the non-
effectiveness and specific performance. Additionally, in order to clarify the quotaholders’
agreement, we write about its history, definition and characteristics.
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LISTA DE ABREVIATURAS
1
Discute-se se o Novo Código de Processo Civil entrará em vigor no dia 16, 17 ou 18 de março de 2016.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 11
4. OBJETO ........................................................................................................................ 24
6. EFICÁCIA .................................................................................................................... 36
BIBLIOGRAFIA .................................................................................................................... 51
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11
INTRODUÇÃO
O art. 118 da LSA estabelece as regras aplicáveis aos acordos de acionistas. Quanto às
sociedades limitadas, há a necessidade de se observar se existe previsão expressa no contrato
social sobre a aplicação supletiva da LSA (conforme determina o artigo 1053, parágrafo único
do Código Civil4), para que seja coerente a aplicação do disposto no artigo 118 da LSA ao
acordo de quotistas.
É importante notar que, ainda que o disposto no art. 118 da LSA seja aplicado ao
acordo de quotistas, esta aplicação não ocorre de forma integral, sendo necessário interpretar
tal norma em vista das diferenças entre a sociedade anônima e a sociedade limitada. Como
exemplo, podemos mencionar a ausência de livros de registro e de certificados de ações pelas
sociedades limitadas, impossibilitando, assim, a aplicação fiel do disposto no art. 118,
parágrafo 1o sobre a oponibilidade do acordo em relação a terceiros.
2
De acordo com as informações disponibilizadas pelo Departamento de Registro Empresarial e Integração
(DREI) – Secretaria da Micro e Pequena Empresa 2, foram constituídas 166.353 sociedades limitadas no país
apenas no período de janeiro a setembro de 2015. No mesmo período, foram constituídas 1.743 sociedades
anônimas. Disponível em: http://drei.smpe.gov.br/assuntos/estatisticas/2022-relatorio-estatistico-mensal-nacional
Acesso em 04 de novembro de 2015.
3
É possível prever no acordo de quotistas determinadas matérias que também poderiam ser tratadas no contrato
social da sociedade limitada.
4
Art. 1.053, parágrafo único do Código Civil: “O contrato social poderá prever a regência supletiva da
sociedade limitada pelas normas da sociedade anônima”.
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12
Segundo o art. 1.053, caput, do Código Civil5, na hipótese de não haver previsão
expressa no contrato social da regência supletiva da LSA, aplicam-se, em caso de omissão, as
regras das sociedades simples (as quais estão previstas no Código Civil) à sociedade limitada.
Como o Código Civil não dispõe sobre o acordo de quotistas de sociedades simples, discute-
se a possibilidade de se aplicar, por analogia, as disposições do artigo 118 da LSA ao tipo
contratual em questão.
5
Conforme art. 1.053 do Código Civil: “A sociedade limitada rege-se, nas omissões deste Capítulo, pelas
normas da sociedade simples”.
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13
1. EVOLUÇÃO HISTÓRICA
6
Parcialmente revogado pelo Código Civil.
7
Dispões sobre a constituição de sociedades por quotas de responsabilidade limitada.
8
SETTE, André Luiz Menezes Azevedo. Acordo de quotistas sob a ótica do novo Código Civil. Repertório de
Jurisprudência IOB, no 13/2003, vol. III, p. 341.
9
Segundo o art. 300 do Código Comercial, o contrato de qualquer sociedade comercial só pode ser provado por
escritura pública ou particular.
10
BULGARELLI, Waldirio. Anotações sobre o acordo de cotistas. Revista de Direito Mercantil, nº 98, São
Paulo: Revista dos Tribunais, 1995, p. 45.
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14
Código Penal de 1940 da negociação de voto nas deliberações de assembleia geral por
acionista com o fim obter vantagem para si ou para outrem.
Após a LSA, passou-se a estudar a aplicação analógica de seu art. 118 às sociedades
limitadas, chegando-se a diversas conclusões. Estudando o tema dos acordos de acionistas,
Rachel Sztajn aponta que, na vigência do Decreto no 3.708/1919, não há dúvida de que,
naquilo que for compatível com o tipo, aplicam-se, na ausência de previsão legal ou
contratual, a normas das companhias e, portanto, todas as regras relativas a acordos de
acionistas14.
O Código Civil de 2002, por sua vez, possibilitou a regência supletiva da sociedade
limitada pelas normas da sociedade anônima, desde que haja previsão expressa no contrato
social. No capítulo a seguir, trataremos da aplicação do disposto no art. 118 da LSA ao acordo
de quotistas de sociedade limitada e da sua atual admissibilidade pela legislação brasileira.
11
CORVO, Erick. Acordo de Sócios de Sociedades Limitadas à luz do Código Civil de 2002. In: ADAMEK,
Marcelo Vieira von. Temas de direito societário e empresarial contemporâneos. São Paulo: Malheiros, 2011,
p. 87.
12
Ibidem, p. 87.
13
SETTE, A. 2003, p. 340.
14
SZTAJN, Rachel. Acordo de Acionistas. In: SADDI, Jairo. Fusões e aquisições: aspectos jurídicos e
econômicos. São Paulo: IOB Thomson, 2002. p. 293.
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15
Conforme já exposto neste trabalho, o art. 1.053, parágrafo único do Código Civil
dispõe que o contrato social poderá prever a regência supletiva da sociedade limitada pelas
normas da sociedade anônima15, podendo se entender, desta forma, que as regras
estabelecidas no art. 118 da LSA sobre o acordo de acionistas também seriam aplicáveis ao
acordo de quotistas.
Contudo, conforme ressalta Modesto Carvalhosa16, em que pese haver mais clareza
sobre as regras supletivas das sociedades limitadas após a promulgação do Código Civil, não
nos devemos iludir com a ideia de que todas as normas aplicáveis às sociedades anônimas
serão transplantadas integralmente para preencher as omissões das regras próprias das
sociedades limitadas.
De acordo com Erick Corvo17, o intérprete deve ter cautela e ser crítico, para
identificar se efetivamente há omissão nas regras das sociedades limitadas, a ser preenchida
por regras supletivas. Por outro lado, se a suposta “lacuna” representa algo contrário à
essência das sociedades limitadas e às suas regras próprias, não haverá omissão a ser suprida.
Com efeito, ainda que estejamos no âmbito de relações privadas, não caberia ao legislador a
tarefa árdua de legislar expressamente sobre tudo aquilo que não é aplicável a determinado
tipo societário, sendo certas vedações uma decorrência lógica do arcabouço de normas que
regulam cada tipo societário18.
15
Sobre o assunto, temos: “Prevendo expressamente o contrato social a regência supletiva das normas das
sociedades anônimas, na hipótese de omissão do capítulo legal que regulamenta as sociedades limitadas, não há
que se falar em aplicação das normas das sociedades simples. Aplicam-se as normas atinentes às sociedades
anônimas, ainda que o capítulo do Código Civil de 2002 que trata das sociedades simples não seja omisso”
(CAMPOS, Aline França. A natureza das sociedades limitadas: tratamento jurídico conferido às sociedades
empresárias e às sociedades simples. Revista dos Tribunais. vol. 940. Fev/2014).
16
CARVALHOSA, Modesto. Código Civil comentado. Coord. Antônio Junqueira de Azevedo. Vol. 13. São
Paulo: Saraiva, 2003. p. 44.
17
CORVO, E. 2011, p. 90.
18
Ibidem, p. 90-91.
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16
João Luiz Coelho da Rocha21 também entende pela aplicação do disposto no art. 118
da LSA aos acordos de quotistas e afirma que:
Já o art. 1.053, caput, do Código Civil22 estabelece que, caso não haja previsão
expressa no contrato social acerca da regência supletiva da LSA, aplicam-se, em caso de
omissão, as regras das sociedades simples (as quais estão previstas no Código Civil) à
sociedade limitada.
19
CREUZ, Luis Rodolfo Cruz e. Acordo de quotistas. São Paulo: IOB Thomson, 2007, p. 91.
20
CARVALHOSA, M. 2003, p. 45.
21
ROCHA, João Luiz Coelho da. Acordo de acionistas e acordo de cotistas. Rio de Janeiro: Lumen Juris,
2002, p. 105.
22
Conforme art. 1.053 do Código Civil: “A sociedade limitada rege-se, nas omissões deste Capítulo, pelas
normas da sociedade simples”.
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17
De acordo com Arnoldo Wald24, a aplicação analógica da LSA a este caso não é
automática. Segundo o jurista, decorrendo a analogia do art. 4o da Lei de Introdução ao
Código Civil25 (atualmente, Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro), somente se
estiverem presentes os requisitos de sua aplicação, isto ocorrerá. Afirma Arnoldo Wald que,
se a aplicação resultar em incongruência, como por exemplo em caso de se aplicar um
dispositivo feito para sociedades de capital a uma sociedade de pessoas, melhor fará o juiz se
aplicar outro meio de integração de lacuna, como o costume ou os princípios gerais do
Direito, em especial do Direito Societário. No caso em tela, porém, em razão da similaridade
de situação entre o acordo de acionistas e o de quotistas de sociedade limitada que não
estabelece a aplicação subsidiária da LSA, entende Wald que caberá a aplicação parcial do
art. 118 da LSA.
André Luiz Menezes Azevedo Sette26 também entende que o jurista deve utilizar as
normas da LSA para regular os acordos de quotistas, passando de um caso particular (acordo
de acionistas) para outro similar que não encontra guarida no ordenamento jurídico (acordo de
quotistas).
23
A analogia é, segundo André Luiz Menezes Azevedo Sette (2003, p. 340), um instrumento de integração do
ordenamento jurídico positivo, é um raciocínio que permite transferir a solução prevista para um caso para outro
análogo não regulado pelo ordenamento jurídico. Assim, repousa a analogia na exigência de tratamento igual
para casos de natureza semelhante devem ser tratados da mesma maneira.
24
WALD, Arnoldo. Comentários ao Novo Código Civil. Livro II. Direito de Empresa. Vol. XIV. Coord. Sálvio
de Figueiredo Teixeira. Rio de Janeiro: Forense, 2005, p. 350.
25
Art. 4 do Decreto-lei n. 4.657 de 4 de setembro de 1942 (este decreto era, anteriormente, a Lei de Introdução
ao Código Civil Brasileiro - LICC e é, atualmente, a Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro -
LINDB): Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios
gerais de direito.
26
SETTE, A. 2003, p. 340.
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18
Por outro lado, Erick Corvo27 entende que, apesar de os sócios de todas as sociedades
limitadas poderem celebrar acordo de acionistas, apenas as sociedades limitadas regidas
supletivamente pelas regras das sociedades anônimas estarão sujeitas ao regime dos acordos
de acionistas. Erick Corvo afirma que, diferentemente da LSA, as regras aplicáveis às
sociedades simples não regulam a eficácia desses acordos em relação à sociedade e a
terceiros, nem estabelecem mecanismos específicos de tutela dos interesses dos sócios
signatários desses acordos. Ao contrário, o art. 997 do Código Civil, que é aplicável às
sociedades simples e às sociedades limitadas regidas supletivamente por estas, estabelece que
“é ineficaz em relação a terceiros qualquer pacto separado, contrário ao disposto no
instrumento do contrato”.
Kugler também esclarece que a principal consequência da aplicação do art. 118 da Lei
6.404/76 ao acordo de sócios empresarial diz respeito à sua eficácia especial, em face de
terceiros (em especial a sociedade, membros da administração e demais sócios)30.
Em nossa opinião, com exceção dos parágrafos 4o31 e 5o32, deve haver a aplicação
adequada, com parcimônia, do disposto no art. 118 da LSA aos acordos de quotistas de
27
CORVO, E., 2011, p. 91-92.
28
KUGLER, Herbert Morgenstern. Os acordos de sócios nas sociedades limitadas. São Paulo: Quartier Latin,
2014, p. 112.
29
Ibidem, p. 137.
30
Ibidem, p. 139.
31
Conforme esclarece Herbert Morgenstern Kugler (KUGLER, H. 2014, p. 140), pelo teor do parágrafo 4 o do
art. 118 da LSA, um dos deveres da companhia aberta é o de retirar de negociação na bolsa ou mercado de
balcão as ações vinculadas ao acordo de acionistas nela arquivado e averbado. No caso, tendo em vista que a
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norma se dirige às companhias abertas, não há que se falar na sua aplicação para as sociedades limitadas, diante
da impossibilidade de se negociar quotas em bolsa ou mercado de balcão.
32
O parágrafo 5o do art. 118 da LSA estabelece que no relatório anual, os órgãos da administração da companhia
aberta informarão à assembleia geral as disposições sobre política de reinvestimento de lucros e distribuição de
dividendos, constantes de acordos de acionistas arquivados na companhia. Esta regra não deve ser observada
pelas sociedades limitadas, já que se dirige às sociedades anônimas abertas.
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3. DEFINIÇÃO E CARACTERÍSTICAS
O acordo de sócios é um contrato firmado por dois ou mais sócios que tem por
objetivo estabelecer regras de organização e funcionamento da sociedade33. Mariana Conti
Craveiro34 ressalta, porém, ao tratar do acordo de sócios de uma forma geral, que há pactos
que se referem apenas a direitos patrimoniais dos celebrantes enquanto sócios. Segundo
Herbert Morgenstern Kugler35, trata-se do negócio jurídico celebrado entre sujeitos de direito,
titulares de direitos de sócio de uma sociedade limitada, por meio da qual se criam e regulam
direitos e obrigações ligados ou decorrentes do elo societário.
Sendo um contrato (e, portanto, um negócio jurídico), para que o acordo de sócios seja
válido, é preciso observar o disposto no art. 104 do Código Civil, ou seja, é preciso (i) agente
capaz, (ii) objeto lícito, possível, determinado ou determinável, e (iii) forma prescrita ou não
defesa em lei.
Contudo, para que o negócio jurídico possa ser um acordo de sócios no âmbito das
sociedades limitadas, será necessário que ele preencha dois requisitos no bojo de seus
elementos complementares ou categorias inderrogáveis, um relativo às partes (elemento
subjetivo) e outro relativo ao objeto (elemento objetivo)38.
As partes que celebram o acordo devem ser titulares de direitos de sócio da sociedade
limitada39. Não é preciso que a parte seja sócia da sociedade, basta que seja titular de direitos
33
CORVO, E. 2011, p. 93.
34
CRAVEIRO, Mariana Conti. Contratos entre sócios – Interpretação e direito societário. São Paulo:
Quartier Latin, 2013, p. 207.
35
KUGLER, H. 2014, p. 95.
36
Será unilateral o acordo quando gerar obigações para apenas uma das partes signatárias. Por sua vez, nos
acordos bilaterais, há obrigações para ambas as partes. (…) Por fim, no acordo plurilateral há comunhão de
escopo, onde todas as partes têm obrigações e deveres para com as demais (Ibidem, p. 111).
37
CORVO, E. 2011, p. 92.
38
KUGLER, H., 2014, p. 97.
39
Ibidem, p.98.
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de sócia. Assim, não vislumbramos impedimentos para que um usufrutuário, com direito de
voto, ou de um fideicomissário de quotas de determinada sociedade limitada, participe de um
acordo de sócios, ressaltando-se que sua participação ficará sujeita à permanência de referida
condição de usufrutuária ou fideicomissária40.
Da mesma forma como a sociedade não pode ser parte do acordo de sócios, os
membros da administração da sociedade também não podem ser partes, ressalvada a hipótese
de eles também serem sócios da sociedade limitada42. Neste caso, porém, o objeto da avença
será mais restrito, uma vez que há matérias que podem gerar conflitos de interesse,
principalmente nos acordos de voto43.
40
Ibidem, p. 100.
41
LOBO, Carlos Augusto da Silveira. In: Direito das companhias. vol. I. LAMY FILHO, Alfredo;
PEDREIRA, José Luiz Bulhões (coord.), Rio de Janeiro: Forense, 2009, p. 443.
42
KUGLER, H., 2014, p. 106.
43
Ibidem, p. 107.
44
Ibidem, p. 109.
45
Há, contudo, quem considera que o acordo de sócios é contrato preliminar.
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acordados, o contrato definitivo tem por objeto obrigações e deveres próprios, vinculantes
para as partes46”.
André Luiz Menezes Azevedo Sette47 defende que os acordos de quotistas são
contratos comerciais e típicos, porque, apesar de observarem preceitos de validade contratual
do Código Civil (art. 104), estão previstos e autorizados pela legislação comercial (Lei n.
6.404/1976) e, como tal, adquirem a natureza jurídica da legislação específica, inserindo-se,
inclusive, no âmbito de estudo deste ramo do Direito.
Assim, tendo em vista que o legislador não estabeleceu um tipo específico para o
acordo, tampouco uma denominação própria, o acordo de sócios seria, a nosso ver e no
entender de Kugler, um contrato atípico50.
46
KUGLER, H., 2014, p. 116.
47
SETTE, A., 2003, p. 340.
48
KUGLER, H. 2014, p. 113.
49
Ibidem, p. 113 apud VERÇOSA, Haroldo Malheiros Duclerc. Contratos mercantis e a teoria geral dos
contratos: o Código Civil de 2002 e a crise no contrato. São Paulo: Quartier Latin, 2010, p. 193.
50
KUGLER, H. 2014, p. 114.
51
CREUZ, L., 2007, p. 52.
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23
52
MONTEIRO, Sabrina da Cruz. Acordo de sócios no âmbito das sociedades limitadas. Artigo científico
apresentado à Escola de Magistratura do Estado do Rio de Janeiro para obtenção de título de pós graduação. Rio
de Janeiro: 2009, p. 6.
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4. OBJETO
O art. 118, caput da LSA dispõe que: “Os acordos de acionistas, sobre a compra e
venda de suas ações, preferência para adquiri-las, exercício do direito a voto, ou do poder de
controle deverão ser observados pela companhia quando arquivados na sua sede”. O acordo
de sócios, porém, não precisa tratar somente destas matérias. Admite-se que o acordo de
sócios tenha por objeto qualquer outra matéria sobre a qual se possa licitamente convencionar.
Conforme afirma Jorge Lobo53:
O fato de o art. 118 da Lei 6.404/1976 não mencionar outros objetos não
implica na proibição de tratamento de outras matérias no âmbito dos sócios.
Muito ao contrário, considerando a importância de tais pactos para a
realidade societária atual, os acordos de acionistas sevem, inúmeras vezes,
para regrar verdadeiras parcerias entre as empresas, que amoldam
necessidade de investimento com o regramento do controle compartilhado,
em típica joint venture.
Note-se que a liberdade dos sócios para contratar acordos de sócios é limitada,
devendo o objeto do acordo ser lícito (ou seja, não poderá violar as normas que compõem o
ordenamento jurídico brasileiro). Caso o objeto seja ilícito, o acordo será inválido, não
vinculando as partes. Assim, afirma Calixto Salomão Filho, o acordo de sócios não pode
contrariar a própria estrutura societária. Portanto, e essa observação é óbvia, não é admissível
qualquer acordo que possa, de maneira direta ou indireta, ferir estatutos sociais ou a lei55.
53
LOBO, Jorge. Sociedades limitadas. Vol. I. Rio de Janeiro: Forense, 2004, p. 261.
54
RETTO, Marcel Gomes Bragança. Aspectos controvertidos dos acordos de acionistas – uma abordagem
prática. Revista de Direito Bancário e de Mercado de Capitais. Vol. 48, 2010, p. 112 e ss.
55
SALOMÃO FILHO, Calixto. O novo Direito Societário. 3a ed. São Paulo: Malheiros, 2006, p. 118.
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Ressaltamos que somente os acordos de quotistas que tratarem das matérias prevista
no art. 118 da LSA (acordos em sentido estrito) produzirão efeitos perante a sociedade e
terceiros, desde que cumpridas certas formalidades. Além disso, o acordo que dispuser sobre
exercício do direito a voto também estará sujeito aos mecanismos de cumprimento das
obrigações estabelecidos nos parágrafos 8o e 9o do art. 118 da LSA56.
As cláusulas de voto têm por finalidade regular o exercício do direito de voto para
influenciar nas deliberações dos sócios (em reunião ou assembleia geral de sócios) ou dos
órgãos de administração da sociedade. Diversos doutrinadores classificam os acordos que
contêm cláusulas de voto como acordo de voto.
Herbert Morgenstern Kugler60 entende que o acordo de voto é aquele por meio do qual
as partes obrigam-se a exercerem o direito de voto em um sentido predeterminado antes da
reunião ou assembleia de sócios, via de regra constituindo um bloco. Já André Luiz Menezes
Azevedo Sette61 afirma que os acordos de voto são aqueles em que se estabelecem as matérias
que deverão ser objeto de voto uniforma de todos os signatários.
56
No capítulo 8 deste trabalho, discorremos sobre tais mecanismos.
57
KUGLER, H. 2014, p. 110.
58
Ibidem, p. 111.
59
CORVO, E. 2011, p. 97.
60
KUGLER, H. 2014, p. 110.
61
SETTE, A., 2003, p. 339.
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Por outro lado, há quem entenda que as cláusulas em acordos de voto que sujeitam o
exercício do voto pelo sócio aos termos do acordo no que tange a qualquer matéria que seja
objeto de assembleia ou acordo de sócios não ofende o disposto no art. 166, II do Código
Civil, já que as matérias que dependem de deliberação da assembleia ou reunião estão listadas
objetivamente no Código Civil63 e no contrato social da sociedade, não se tratando de cláusula
vazia ou universal. Compartilhamos deste entendimento com Herbert Morgenstern Kugler.
62
Art. 166 do Código Civil: É nulo o negócio jurídico quando: (…) II - for ilícito, impossível ou indeterminável
o seu objeto; (…)
63
Conforme dispõe o art. 1.071 do Código Civil: Dependem da deliberação dos sócios, além de outras matérias
indicadas na lei ou no contrato: I - a aprovação das contas da administração; II - a designação dos
administradores, quando feita em ato separado; III - a destituição dos administradores; IV - o modo de sua
remuneração, quando não estabelecido no contrato; V - a modificação do contrato social; VI - a incorporação, a
fusão e a dissolução da sociedade, ou a cessação do estado de liquidação; VII - a nomeação e destituição dos
liquidantes e o julgamento das suas contas; VIII - o pedido de concordata.
64
CORVO, E. 2011, p. 102.
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vincula todas as partes do acordo, ainda que alguma delas tenha proferido voto contrário ao
resultado alcançado.
No mais, o direito de voto deve ser exercido conforme dispõe o art. 115 da LSA65, isto
é, no interesse social. Desta forma, nos termos do parágrafo 2o do art. 118 da LSA66, os
acordos não poderão ser invocados para eximir o acionista de responsabilidade no exercício
do direito de voto ou do poder de controle, sendo “nula a cláusula de acordo de acionistas que
estabeleça a obrigação de votar sempre pela aprovação de contas da administração, das
demonstrações financeiras ou de laudo de avaliação de bens ofertados à integralização do
capital social67”, por violar o interesse da sociedade. Conforme doutrina majoritária, esse
mesmo exemplo também é válido para os acordos de sócios de sociedades limitadas, já que o
voto do sócio também não deve contrariar o interesse social.
O voto, desta forma, sempre deverá ser exercido considerando a consecução de um fim
econômico comum, o qual contemplará o interesse comum dos sócios.
65
Art. 115, caput da LSA: O acionista deve exercer o direito a voto no interesse da companhia; considerar-se-á
abusivo o voto exercido com o fim de causar dano à companhia ou a outros acionistas, ou de obter, para si ou
para outrem, vantagem a que não faz jus e de que resulte, ou possa resultar, prejuízo para a companhia ou para
outros acionistas.
66
Art. 118, parágrafo 2o da LSA: Esses acordos não poderão ser invocados para eximir o acionista de
responsabilidade no exercício do direito de voto (artigo 115) ou do poder de controle (artigos 116 e 117).
67
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 315.
68
FRANÇA, Erasmo Valladão Azevedo e Novaes; ADAMEK, Marcelo Vieira von. Affectio societatis: um
conceito jurídico superado no moderno direito societário pelo conceito de fim social. In: FRANÇA, Erasmo
Valladão Azevedo e Novaes (coord.) Direito societário contemporâneo I, São Paulo: Quartier Latin, 2009, p.
141.
69
CARVALHOSA, Modesto. Acordo de acionistas: Homenagem a Celso Barbi Filho. São Paulo: Saraiva,
2011, p. 134.
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28
Por fim, esclarecemos que o acordo de voto pode ser subdividido em acordo de
comando e o acordos de defesa. O acordo de comando consiste naquele pacto celebrado pelas
partes para a organização do poder de controle da sociedade70. Por tais acordos, os sócios
procuram obter ou manter o controle da sociedade limitada, ajustando seus interesses de tal
forma a permitir o exercício do poder de controle sobre a sociedade71.
O acordo de bloqueio aumenta a eficácia do acordo de voto, já que tem por objetivo
restringir a transmissibilidade das ações, presentes e futuras, dos acionistas convenentes.
Desta forma, ao se redigir um acordo de quotistas com cláusulas de bloqueio, recomenda-se
vincular o acordo tanto as quotas detidas pelos sócios no presente, quanto as quotas que eles
eventualmente vierem a deter no futuro.
Importante notar que o art. 1.057 do Código Civil estabelece que: “Na omissão do
contrato, o sócio pode ceder sua quota, total ou parcialmente, a quem seja sócio,
independentemente de audiência dos outros, ou a estranho, se não houver oposição de titulares
de mais de um quarto do capital social”. O contrato a que se refere este artigo é o contrato
social. Assim, na omissão do contrato social, aplica-se a regra do Código Civil a respeito da
70
KUGLER, H. 2014, p. 170 apud COMPARATO, Fábio Konder. Novos ensaios e pareceres de direito
empresarial. Rio de Janeiro: Forense, p. 54-55.
71
KUGLER, H. 2014, p. 170.
72
Ibidem, p. 172.
73
Ibidem, p. 173.
74
CORVO, E. 2011, p. 97.
DOCS - 824585v1
29
transferência de quotas. Entendemos, desta forma, que será nula qualquer disposição do
acordo de quotistas que viole o contrato social ou a lei (no caso, o Código Civil).
Já o direito de primeira oferta (right of first offer) estipula que a parte que pretender
alienar suas quotas deve, em primeiro lugar, oferece-las às demais partes do acordo. Caso as
demais partes não adquirirem as quotas, o sócio ofertante estará livre para vender suas quotas
a quaisquer terceiros76.
75
KUGLER, H. 2014, p. 176.
76
Ibidem, p. 176-177.
77
CORVO, E. 2011, p. 99.
DOCS - 824585v1
30
ou onerá-las. É importante notar que o período de vigência dessa cláusula não pode ser
perpétuo ou indefinido, sob pena de nulidade. Pelo bom senso, esse prazo deverá ser razoável,
conforme a atividade desenvolvida pela sociedade e o prazo esperado para se obter o retorno
do investimento inicial78.
O tag along consiste no direito que uma parte possui para acompanhar a outra na
venda de suas quotas a terceiros, pelo preço previamente estabelecido, o qual normalmente é
um percentual do quanto será pago à parte que pretende vender suas quotas no primeiro lugar.
Desta forma, condiciona-se a aquisição, pelo terceiro, das quotas de um sócio à aquisição das
quotas de todos os sócios que exercerem o tag along. Salienta-se que o tag along previsto na
alienação de controle de companhia aberta (art. 254-A da LSA) não se aplica às sociedades
limitadas.
Pela cláusula de drag along, o sócio que receber uma oferta para a venda de suas
quotas a terceiros poderá exigir que os demais sócios também vendam as suas quotas ao
terceiro. Em outras palavras, o sócio arrasta os demais sócios para venderem suas quotas.
Por meio da put option, o titular da opção de venda pode obrigar a outra parte a
comprar as suas quotas por certo valor. Já por meio da call option, o titular da opção de
compra pode obrigar a outra parte a vender-lhe suas quotas por determinado valor. Muitas
vezes, as partes convencionam que a call ou put option só pode ser exercida quando atendidas
certas condições.
Deve-se ter em mente que, em regra, os acordos de quotistas são personalíssimos, não
vinculando o cessionário das quotas alienadas ao acordo. Todavia, caso (i) o acordo contenha
previsão de que o cessionário deve aderir aos seus termos e condições, e (ii) o acordo tenha
sido divulgado ao cessionário previamente à alienação das quotas ou esteja arquivado na sede
78
Ibidem, p. 100.
DOCS - 824585v1
31
A cláusula texana é utilizada para resolver impasses societários. De acordo com Erick
80
Corvo , por meio desse ajuste, os sócios acordam que, na hipótese de surgir impasse em
relação à definição do voto a ser proferido, eles deverão sortear um, o outro terá a opção de
comprar, por aquele preço, as quotas detidas pelo sócio que atribuiu o preço às quotas, ou de
exigir que ele compre suas quotas por aquele preço. Em outras palavras, o segundo sócio terá
uma opção de venda das suas quotas e uma opção de compra das quotas do primeiro sócio,
podendo determinar que este compre ou compra (buy or sell) as respectivas quotas.
4.1.3 Confidencialidade
DOCS - 824585v1
32
obrigação de não concorrência deve perdurar durante o período em que o sócio está vinculado
ao acordo e após alguns anos a partir da data em que deixar de ser sócio da sociedade.
DOCS - 824585v1
33
5. NATUREZA JURÍDICA
Da mesma forma, afirma Luís Rodolfo Cruz e Creuz83 que não se pode atribuir um
caráter societário ao acordo, pois estaríamos por reconhecer a existência de uma sociedade
dentro de outra sociedade, o que não pode ser admitido. Vale lembrar que, embora estejam
vinculados à existência da sociedade, os acordos de quotistas contêm declarações de vontade
dos quotistas no que tange aos seus interesses particulares, contêm verdadeiras promessas de
fazer, que os obrigam na medida do que está consignado no contrato e, por isso, são
parassociais.
Para Luiz Gastão Paes de Barros Leães84, os acordos têm natureza contratual,
consistindo em verdadeiro pacto parassocial, isto é:
82
KUGLER, H. 2014, p. 112.
83
CREUZ, L., 2007, p. 46 apud CORVO, E., 2011, p. 92-93.
84
LEÃES, Luiz Gastão de Barros. Estudos e pareceres sobre sociedades anônimas. São Paulo: RT, 1989, p.
215-216.
85
CRAVEIRO, M., 2013, p. 39.
86
Ibidem, p. 43 apud OPPO, Giorgio. Contratti parasociali. Milano. Vallardi, 1942, p. 82
DOCS - 824585v1
34
Celso Barbi Filho89 afirma, inclusive, que pode haver utilidade jurídica para os
acordos realizados pela unanimidade ou mesmo maioria dos quotistas quando o objetivo do
pacto parassocial seja regular interesse particulares dos acordantes, perfeitamente lícitos, mas
cuja menção no contrato social revela-se incompatível com a natureza deste ou com o sigilo
comercial.
87
COMPARATO, Fábio Konder. O poder de controle na sociedade anônima. 4ª ed. Rio de Janeiro, Forense,
2005, p. 199.
88
Segundo Mariana Conti Craveiro (CRAVEIRO, M. 2013, p. 39): “Diferentemente dos estatutos, cuja função
primordial é determinar a estrutura da companhia e as regras de sua vinculação perante terceiros (função
organizativa, portanto), os contratos a que nos referimos têm normalmente por objetivo regular o exercício de
direitos dos sócios, fundados em sua participação na sociedade”.
89
BARBI FILHO, CELSO. Acordo de acionistas: panorama atual do instituto no Direito brasileiro e
propostas para a reforma de sua disciplina legal. Revista de Direito Mercantil, Industrial, Econômico e
Financeiro. n. 121. São Paulo, 2001, p. 38.
90
Para esclarecimentos sobre os acordos de controle, vide final do item 4.1.1 deste trabalho.
91
CARVALHOSA, Modesto. Comentários à Lei de Sociedades Anônimas. Vol. 2. 5a ed. São Paulo: Saraiva,
2011, p. 726.
DOCS - 824585v1
35
O acordo de bloqueio, por sua vez, de acordo com Modesto Carvalhosa95, não tem
como função implementar cláusulas do estatuto social. Eles são de natureza unilateral
clássica, dependendo sua validade e eficácia da existência da companhia e de artigos
estatutários compatíveis, residindo aí a sua acessoriedade. Os acordos de bloqueio não são, na
opinião do doutrinador, parassociais, pois os interesses das partes são contrastantes,
resolvendo-se a avença pela cláusula resolutiva implícita.
92
Para esclarecimentos sobre acordos de voto, vide item 4.1.1 deste trabalho.
93
Ibidem, p. 728.
94
Ibidem, p. 728.
95
Ibidem, p. 730.
96
ROCHA, J., 2002, p. 31.
DOCS - 824585v1
36
6. EFICÁCIA
Para que o acordo produza efeitos perante a sociedade e perante terceiros, é preciso
que preencha pressupostos de ordem material e formal. O pressuposto de ordem material é
que o acordo tenha como objeto as matérias previstas no art. 118, caput da LSA. Desta forma,
nem todas as disposições previstas no acordo serão oponíveis perante a sociedade e terceiros,
97
Exceto se sujeitos à condição suspensiva.
98
Segundo Herbert Morgenstern Kugler (KUGLER, H., 2014, p. 193): “Cremos, todavia, que o acordo de sócios
simples não poderá produzir efeitos perante ã sociedade limitada, aos membros de sua administração e aos
demais sócios, visto que é inaplicável o quanto disposto no art. 118 da Lei 6.404/76 à espécie. Assim, não podem
as partes de um acordo de sócios obrigar a sociedade a observer os termos de tal avença”.
99
LOBO, J. 2004, p. 256.
DOCS - 824585v1
37
mas apenas aquelas referentes à compra e venda de quotas, preferência para adquiri-las,
exercício do direito a voto e exercício do poder de controle.
Assim, para que os termos do acordo de quotistas sejam observados pela sociedade
limitada, é preciso arquivá-lo em sua sede. Segundo Hebert Morgenstern Kugler100:
A LSA não prevê como deve ocorrer este arquivamento. Modesto Carvalhosa entende
que somente será eficaz o acordo depois de arquivado um exemplar de seu inteiro teor na sede
social. Segundo o doutrinador, caberá aos convenentes promover esse depósito na sede social,
sem outra formalidade que não a de recibo de entrega. Ele ressalta, no entanto, que, por
medida de prudência, poderão remeter o instrumento por via extrajudicial certificada (v.g.,
notificações por Cartório de Títulos e Documentos), ou ainda por correio eletrônico, que
constitui prova material do envio101.
Note-se que é comum que a sociedade participe do acordo como interveniente anuente.
Discute-se se, neste caso, há a presunção de que o acordo esteja arquivado na sede social.
Modesto Carvalhosa102 entende que sim, que há a presunção de arquivamento na sede social.
Já Herbert Morgenstern Kugler103 e Luis Rodolfo Cruz e Creuz104 defendem, em suma, que tal
anuência não altera a necessidade de se arquivar o acordo de sócios na sede social.
100
KUGLER, H. 2014, p. 195.
101
CARVALHOSA, M. 2011, p. 739.
102
CARVALHOSA, Modesto. Eficácia e execução específica do acordo de acionistas. Revista EMERJ, vol. 7,
n. 26, 2004, p. 125.
103
KUGLER, H. 2014, p. 197.
104
CREUZ, L. 2007, p. 99.
DOCS - 824585v1
38
Ressaltamos que, nos termos do parágrafo 10o do art. 118 da LSA, os acionistas
devem indicar, no ato de arquivamento do acordo perante a sociedade, representante para se
comunicar com a sociedade e para prestar e receber informações, quando solicitadas. Esta
regra também seria aplicada ao acordo de quotistas, posto não haver impedimento para sua
aplicação. Note-se que representante poderá ser qualquer dos signatários do acordo ou pessoa
estranha105, cabendo-lhe apenas prestar e receber informações e não lhe competindo
interpretar o acordo, tampouco receber notificações em nome dos signatários. Ainda sobre o
dever de prestar e receber informações, ressaltamos que a sociedade poderá solicitar
esclarecimentos tanto ao representante do acordo (nos termos do parágrafo 10o do art. 118 da
LSA), quanto à parte que o subscreveu (nos termos do parágrafo 11o do art. 118 da LSA106).
Com relação à eficácia do acordo perante terceiros, ressaltamos que não há, na
sociedade limitada, livros de registro que funcionem como um registro de caráter
(semi)público e que a sociedade limitada não emite certificados, sendo necessário, portanto,
interpretar o disposto no parágrafo 1o do art. 118 da LSA considerando a forma pela qual a
sociedade limitada dá publicidade aos seus atos. Desta forma, para produzirem efeitos perante
terceiros, deverá ser dada publicidade aos acordos de sócios em sentido estrito107 por meio do
único sistema de registro público de que as sociedades limitadas dispõem – qual seja, o
arquivamento de documentos na Junta Comercial.
105
KUGLER, H. 2014, p. 141.
106
Art. 118, § 11 da LSA: A companhia poderá solicitar aos membros do acordo esclarecimento sobre suas
cláusulas.
107
Ou seja, aos acordos que tratam das matérias previstas no art. 118, caput da LSA.
108
CREUZ, L. 2007, p. 101.
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39
Erick Corvo109 esclarece que Fábio Konder Comparato afirma que ha dois regimes
autônomos: um para disposições que precisam ser oponíveis à sociedade e outro para
convenções que precisam ser oponíveis a terceiros. Assim, se o acordo de contiver convenção
de voto, sem qualquer estipulação referente à circulação de quotas, não haveria necessidade
de averbação das obrigações e ônus na Junta Comercial, podendo-se manter o seu sigilo110.
Por outro lado, se o acordo de sócios em sentido estrito só diz respeito às regras de bloqueio,
não é necessário manter o instrumento do acordo arquivado na sociedade, bastando a
averbação de suas estipulações na Junta Comercial.
Esta posição é contestada por Calixto Salomão Filho111, que entende, em suma, que as
regras de bloqueio também são relevantes para a sociedade, já que ela deve cumpri-lo, e que o
acordo de voto também é relevante para os adquirentes, que poderão por ele se obrigar. Erick
Corvo ressalta, contudo, que a sociedade limitada não deve obedecer as regras de cessão e
transferência de quotas, já que isto é feito por meio da assinatura e registro de alteração de
contrato social na Junta Comercial. Além disso, o acordo pode conter cláusula que obriga o
ingressante a aderir ao acordo, tanto em relação às regras de transferência, quanto em relação
à convenção de voto.
109
CORVO, E. 2011, p. 109-110.
110
Luis Rodolfo Cruz e Creuz (CREUZ, L. 2007, p. 102), ao citar Waldírio Bulgarelli, esclarece que: “(…) na
quilidade de guardiã do document parassocietário arquivado, é a sociedade que deverá manter o document sob
sua proteção, fornecendo a terceiros interessados certidão de registro de acordos de quotistas. Entendemos que
esta certidão deverá indicar a existência e as informações básicas do acordo, e não seu conteúdo integral. Aqui,
mais uma utilidade da Sociedade participar como interveniente do acordo, pois no document poderá ser regulada
a forma e o conteúdo desta certidão”.
111
SALOMÃO FILHO, C. 2006, p. 116.
DOCS - 824585v1
40
7. PRAZO E EXTINÇÃO
O acordo de quotistas terá vigência pelo prazo estabelecido entre as partes 112. Os
acordos de sócios por prazo determinado são aqueles celebrados com data certa de extinção,
ou seja, o momento a partir do qual o acordo deixará de produzir efeitos já está expresso no
pacto.
Por sua vez, os acordos por prazo indeterminado, inclusive aqueles onde se omite a
respeito de sua duração, não possui data certa e predeterminada de extinção113. Considera-se
por prazo indeterminado o acordo subordinado a condição resolutiva e com termo final
incerto. Além disso, se não há disposição expressa no contrato, subentende-se que este foi
celebrado por prazo indeterminado.
Denomina-se extinção todos os casos nos quais o contrato deixa de existir. O contrato
pode deixar de existir em razão de sua execução, isto é, de seu cumprimento. O advento do
termo final também acarreta a extinção do contrato.
A extinção do contrato pode ocorrer antes de seu termo final das seguintes maneiras:
(i) rescisão; (ii) resolução; e (iii) resilição.
A rescisão é a ruptura do contrato em que houve “lesão”, sendo possível nos acordos
de quotistas (quer por prazo determinado, quer por prazo indeterminado)115.
Já a resolução tem como causa a inexecução ou não cumprimento das obrigações, por
um, ou mais, contratante, por culpa ou dolo, tendo como efeito o rompimento do vínculo
contratual116. Assim, em caso de inadimplemento das obrigações do acordo, pode-se requerer
112
SETTE, A. 2003, p. 337.
113
KUGLER, H. 2014, p. 207.
114
Ibidem, p. 208.
115
SETTE, A. 2003, p. 336.
116
Ibidem, p. 336.
DOCS - 824585v1
41
A resilição é a forma pela qual o contrato extingue-se por vontade de uma ou de todas
as partes117. Apresenta-se sob a modalidade de distrato, quando as partes, em comum acordo,
resolvem extinguir o contrato118. É possível o distrato das partes nos acordos de quotistas,
tanto por prazo determinado, quanto por prazo indeterminado, vez que decorre da vontade de
todas as partes, não acarretando, pois, qualquer prejuízo119.
No que diz respeito à resilição unilateral (também denominada denúncia) dos acordos,
chamamos a atenção para o parágrafo 6o do art. 118 da LSA, que dispõe que: “O acordo de
acionistas cujo prazo for fixado em função de termo ou condição resolutiva somente pode ser
denunciado segundo suas estipulações”. Assim, no acordo de quotistas por prazo
determinado, só se admite a denúncia segundo estipulado no próprio pacto.
117
Ibidem, p. 336.
118
Ibidem, p. 336.
119
Ibidem, p. 336.
120
CORVO, E. 2011, p. 103 apud CARVALHOSA, M. 2o vol., p. 570-571.
DOCS - 824585v1
42
121
KUGLER, H. 2014, p. 210.
122
CARVALHOSA, M. 2004, p.128.
DOCS - 824585v1
43
Há, porém, outros doutrinadores que entendem que se trata de mandato legal, a
exemplo de Haroldo Malheiros Duclerc Verçosa, já que a lei confere ao acionista prejudicado
poderes de agir em nome do acionista infrator, bem como de seu representante127.
Interessante notar que, segundo Modesto Carvalhosa128, nas hipóteses previstas nos
parágrafos 8o e 9o do art. 118 da LSA, os acionistas subscritores do acordo carecerão do
interesse de agir (binômio interesse – necessidade) para a propositura de qualquer demanda
123
KUGLER, H. 2014, p. 212.
124
Ibidem, p. 213.
125
CARVALHOSA, M. 2004, p. 128.
126
Ibidem, p. 128-129.
127
KUGLER, H. 2014, p. 213.
128
CARVALHOSA, M. 2004, p. 130.
DOCS - 824585v1
44
em caráter preventivo, judicial ou arbitral129 (conforme parágrafo 3o do art. 118 da LSA) com
o fim de assegurar que a parte dissidente, omissa ou ausente cumpra a sua obrigação de fazer,
ou seja, votar conforme deliberações tomadas na reunião prévia.
129
Note que o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJ-SP) já admitiu cláusula compromissória em
acordo de cotistas de sociedade limitada, conforme ementa a seguir: “ARBITRAGEM – CLÁUSULA
COMPROMISSÓRIA ESTABELECIDA EM CONTRATO SOCIAL DA EMPRESA E NO ACORDO DE
COTISTA CELEBRADO ENTRE OS SÓCIOS – IMPASSE HAVIDO NA IMPLEMENTAÇÃO DE
CONSELHO DELIBERATIVO CRIADO PELAS PARTES NO ACORDO DE COTISTAS – DIVERGÊNCIA
CONFIGURADA – NECESSIDADE DE INSTAURAÇÃO DO PROCEDIMENTO DE ARBITRAGEM –
SENTENÇA REFORMADA – COMPROMISSO ARBITRAL INSTITUÍDO”. Apelação com revisão n.
0084897-88.2005(994.05.084897-1). 2a Câmara de Dir. Privado. TJ-SP. Des. Rel. Neves Amorim. d.j. 3/5/2011.
DOCS - 824585v1
45
9. EXECUÇÃO ESPECÍFICA
Segundo Celso Barbi Filho130, existem dois modos de execução compulsória das
obrigações descumpridas: (i) por reparação; ou (ii) específica. Na primeira, o direito do credor
é restituído pela recomposição patrimonial (perdas e danos), enquanto que na última, obtém-
se, precisamente, a prestação a que se estava obrigado o devedor inadimplente131.
Entendemos que, em vista da garantia constitucional do direito de ação (art. 5o, inciso
XXXV da CF) e do disposto nos arts. 466-A134 e 466-B135 do Código de Processo Civil de
1973, o acordo de quotistas está sujeito à execução específica ainda que o parágrafo 3 o do art.
130
BARBI FILHO, Celso. Acordo de aconistas: panorama atual do instituto no direito brasileiro e
propostas para a reforma de sua disciplina legal. In: Revista de Direito Mercantil, Industrial, Econômico e
Financeiro. Vol. 121. São Paulo: Malheiros, 2001, p. 48.
131
KUGLER, H. 2014, p. 214.
132
CARVALHOSA, M. 2004, p. 126.
133
Ibidem, p. 126.
134
Art. 466-A do Código de Processo Civil de 1973: Condenado o devedor a emitir declaração de vontade, a
sentença, uma vez transitada em julgado, produzirá todos os efeitos da declaração não emitida.
135
Art. 466-B do Código de Processo Civil de 1973: Se aquele que se comprometeu a concluir um contrato não
cumprir a obrigação, a outra parte, sendo isso possível e não excluído pelo título, poderá obter uma sentença que
produza o mesmo efeito do contrato a ser firmado.
DOCS - 824585v1
46
118 da LSA não existisse e que o acordo não estabelecesse as condições para a execução
específica das obrigações. Isto porque a legislação processual possibilita que os sócios
signatários de um acordo obtenham a execução específica das obrigações nele previstas.
Entretanto, nos termos do § 3°, do art. 118, da Lei n° 6.404/76 (Lei das
Sociedades Anônimas), o acordo de acionistas enseja obrigação específica
das obrigações nele assumidas. Portanto, a ação em que se busca o
cumprimento do acordo de acionistas é regulada pelos atuais arts. 466-A a
466-C, do CPC (antigos arts. 639 a 641, na redação do CPC anterior à Lei
n.o 11.232/2005), eis que, via de regra, a pretensão é o cumprimento de
obrigação de fazer (prestar declaração de vontade, como e.g., votar na
sociedade; ou contratar, como na compra e venda de ações) ou o
cumprimento de obrigação de dar coisa certa (como e.g., entregar ações).
Superior Tribunal de Justiça (STJ), Resp. n° 784.267 - RJ
(2005/0159503-0). Rel. Min Nancy Adrighi. d.j. 17/9/2007.
DOCS - 824585v1
47
Não obstante tal fato, entendemos que será aplicada à execução específica o disposto
no art. 501 do Novo Código de Processo Civil. Isto porque, conforme esclarece Cassio
Scarpinella Bueno139, o art. 501, embora tenha redação similar ao art. 466-A do CPC atual,
quer regular, conjuntamente, a regra contida também no art. 466-B do CPC atual, abrangendo-
a. Segundo Cassio, aqueles dois dispositivos, se bem entendidos e a despeito de sua diversa
redação, conduzem seu intérprete a uma só regra. Sempre que a ação tiver por objeto a
emissão de declaração de vontade, a sentença de procedência transitada em julgado produzirá
todos os efeitos da declaração não emitida.
138
Vide nota de rodapé 1.
139
BUENO, Cassio Scarpinella. Novo Código de Processo Civil anotado. São Paulo: Saraiva, 2015, p. 332-
333.
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48
CONCLUSÃO
Como exposto ao longo deste trabalho, o acordo de quotistas é o contrato (e, portanto,
negócio jurídico) pelo qual os titulares de direitos de sócios de uma sociedade limitada criam
e regulam direitos e obrigações ligados ou decorrentes do elo societário.
Sendo um contrato, deve observar o disposto no art. 104 do Código Civil para que seja
válido. Além disso, é necessário que as partes que o celebram sejam titulares de direitos de
sócio e que o acordo regule os direitos e deveres das partes para com a sociedade limitada.
Não obstante a manifestação de alguns juristas de que era possível celebrar acordos de
sócios mesmo antes da LSA, o momento de seu surgimento se confunde com o do acordo de
acionistas, que está previsto no art. 118 da LSA. Como o Código Civil – que estabelece as
regras aplicáveis à sociedade limitada – é omisso no tratamento do acordo de quotistas,
importante se faz a discussão sobre sua admissibilidade e sobre a aplicação do art. 118 da
LSA.
Como visto, a aplicação do art. 118 da LSA não ocorre de forma integral, sendo
necessário interpretar tal norma em vista das diferenças entre a sociedade anônima e a
sociedade limitada. A doutrina majoritária entende pela aplicação do art. 118 da LSA ao
acordo de sócios de sociedades limitadas regidas supletivamente pelas regras da LSA (acordo
de sócios empresarial). A doutrina, porém, diverge quanto à aplicação do art. 118 da LSA ao
acordo de sócios simples, isto é, ao acordo de sócios de sociedades limitadas regidas
supletivamente pelas regras das sociedades simples. Neste último caso, entendemos que as
regras do art. 118 da LSA devem ser aplicadas por analogia.
DOCS - 824585v1
49
É possível classificar, pelo conteúdo, os acordos de sócios em: (i) acordos de voto, (ii)
acordos de bloqueio, e (iii) acordos que tratam de outras matérias que não o voto ou a
circulação de quotas.
Os acordos de voto têm por finalidade regular o exercício do direito de voto para
influenciar nas deliberações dos sócios (em reunião ou assembleia geral de sócios) ou dos
órgãos de administração da sociedade, sendo a realização de reunião prévia a forma mais
comum de as partes executarem o acordo de voto.
140
CORVO, E. 2011, p. 97.
DOCS - 824585v1
50
perante a sociedade, é preciso que esteja arquivado em sua sede; e, para que o acordo produza
efeitos perante terceiros, é preciso que esteja arquivado na Junta Comercial.
Note-se que, caso o sócio ou seu representante vote em desacordo ao acordo de sócios,
tal voto não será computado, em vista do disposto no parágrafo 8o do art. 118 da LSA. Porém,
em caso de ausência ou omissão do sócio ou seus representantes à assembleia ou reunião, a
parte prejudicada terá o direito de votar com as ações pertencentes ao acionista ausente ou
omisso, conforme previsto no parágrafo 9o do art. 118 da LSA.
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51
BIBLIOGRAFIA
DOCS - 824585v1
52
BUENO, Cassio Scarpinella. Novo Código de Processo Civil anotado. São Paulo: Saraiva,
2015.
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 315.
DOCS - 824585v1
53
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In: ADAMEK, Marcelo Vieira von. Temas de direito societário e empresarial
contemporâneos. São Paulo: Malheiros, 2011.
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FRANÇA, Erasmo Valladão Azevedo e Novaes; ADAMEK, Marcelo Vieira von. Affectio
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