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Volume V
VOZES DA EDUCAÇÃO
Volume V
Ivanio Dickmann
(organizador)
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Vozes da Educação
CONSELHO EDITORIAL
FICHA CATALOGRÁFICA
________________________________________________________
8 volumes.
ISBN - 9788593711176
EDITORA DIALOGAR
dialogar.contato@gmail.com
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Volume V
Ivanio Dickmann
(organizador)
VOZES DA EDUCAÇÃO
Volume V
Dialogar
São Paulo – SP
2018
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Vozes da Educação
ÍNDICE
APRESENTAÇÃO .......................................................................................... 7
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Volume V
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Vozes da Educação
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Volume V
APRESENTAÇÃO
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Vozes da Educação
Com carinho.
Ivanio Dickmann
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RESUMO
Recurso de fundamental importância para vitalidade no ambiente
terrestre, a água boa para o consumo humano, apresenta-se com baixa
disponibilidade e com má distribuição pelas diversas regiões do planeta.
Essa baixa disponibilidade torna-se mais escassa tendo como
contribuintes diretos o crescimento populacional e o desenvolvimento
econômico da humanidade. Diante da impossibilidade de continuidade da
prática do nomadismo, o homem teve que se adaptar e encontrar maneiras
de fazer o uso sustentável dessas fontes. Uns dos grandes saltos na busca
pela sustentabilidade foi o desenvolvimento das tecnologias voltadas ao
saneamento ambiental. Essas técnicas possibilitaram ao homem tratar e
estabelecer padrões de qualidade para os mais diversificados tipos de usos
e contribuiu fundamentalmente para as possibilidades do reuso das águas
servidas na área urbana, nos setores industriais e para irrigação, além da
recarga artificial de aquíferos. O reuso para irrigação recebeu uma atenção
mais detalhada, por se tratar do maior consumidor em escala global dos
recursos hídricos e também pelo fato do país ser uma das maiores
potencias na superprodução de insumos agrícolas do planeta. Por fim, a
presente proposta aponta também, como as práticas pedagógicas podem
se apropriar por meio de práticas ambientais dos critérios para estabelecer
a qualidade e o planejamento dos sistemas de reuso, esses que no cotidiano
escolar podem ser peças fundamentais para a implantação e sucesso desses
sistemas e da sustentabilidade hidrológica e humana.
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Vozes da Educação
Introdução
Tábuas cuneiformes de 3.600 a. T. P. (antes do tempo presente)
mostravam que os babilônios temiam que o mundo já estivesse habitado
demais. Em 1798, Thomas Malthus deu um novo fôlego a essa apreensão
no conhecido "Ensaio sobre o princípio da população". Continuando a
busca desse conhecimento, em 2002, Marthis Wackernagel, um dos
autores do conceito de “pegada ecológica” e seus colegas, buscam
quantificar o total de solo que os seres humanos usavam para obter
recursos e absorver seus dejetos. Em avaliação preliminar, concluiu que a
humanidade usava 70% da capacidade da biosfera mundial em 1961 e, em
1999, chegava a utilzar 120% dessa capacidade global da biosfera.
Como o ensinoaprendizagem2 de Química poderia continuar a
desconhecer ou mesmo, ignorar, tais conhecimentos e mantê-los sob um
manto de invisibilidade?
Em outras palavras, segundo Coeh (2005: 45) em 1999 os seres
humanos estavam explorando o meio ambiente mais rápido do que esse
ambiente era capaz de se regenerar, situação evidentemente insustentável.
Esse trecho jornalístico demonstra por parte dos especialistas, desde
épocas anteriores até a idade contemporânea, certa preocupação no
quesito crescimento demográfico em paralelo ao consumo dos recursos
naturais devido ser necessária a Educação Ambiental Escolar.
No estudo desses conteúdos parte-se de um moderno conceito
de sustentabilidade estabelecido pela Constituição Cidadã ao determinar
que
Todos têm direito ao mesmo ambiente ecologicamente equilibrado,
bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida,
impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo
e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. (BRASIL, 1988,
Cap. VI).
2Em todo o texto, adotou-se o uso do termo ensinoaprendizagem escrito junto conforme o
apresentado por BOTTECHIA, J. A. de A em “A Cultura Química: uma experiência extensionista
na UEG-Formosa por meio da abordagem baseada em problemas no ensinoaprendizagem” que
consta da obra Educação, Cultura e Sociedade: diálogos interdisciplinares, por acreditar-se
na ideia de indissociabilidade entre a ação pedagógica do ensino e uma aprendizagem
significativa.
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Desenvolvimento
A importância da água para os seres vivos reside no fato de todas
as substâncias por eles absorvidas e todas as reações do metabolismo
serem feitas por via aquosa. Isso acontece porque a água além de ser
quimicamente neutra, possui propriedade de dissolver um número muito
grande de substâncias químicas minerais e orgânicas, sólidas, líquidas ou
gasosas, facilitando assim o perpassar dessas substâncias por meio das
membranas celulares e o transporte por todo organismo.
Além disso, considerando a grande estabilidade térmica, que trata
da capacidade de acumular calor e resistência às variações bruscas de
temperatura), a água é a substância ideal para garantir a estabilidade
interna, quer do ponto de vista químico, quer físico dos organismos
(BRANCO, 2001: 16), o que nos leva a pensar nas características gerais da
água, sua importância e propriedades.
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Disponibilidade hídrica
A água dos oceanos representa cerca de 97% do total de toda
água do planeta. Da parte restante, aproximadamente 2% está na forma
de gelo e na atmosfera; o que sobra representa a água doce, distribuída em
97% em águas subterrâneas e 3% em águas superficiais. Metade da água
subterrânea encontra-se abaixo de uma profundidade de 800 metros e,
praticamente, não está disponível.
Isso significa que o estoque de água doce do planeta que pode
estar disponível para o uso humano, representa apenas cerca de 0,3%, ou
cerca de 4 milhões de Km3 e se encontra principalmente no solo. A parcela
que está disponível para o ser humano é a menor de todas; exatamente
onde a retiramos para as mais diversas finalidades e onde, imutavelmente,
lançamos os resíduos dessa utilização (BASSOI, 2005:177).
Os rios são as fontes de água potável de maior facilidade ao
acesso para as atividades do homem e representam apenas 0,00009% do
4Essa propriedade explica também o fato de na natureza a água ser uma mistura de diversos
elementos e também da grande capacidade que os recursos hídricos têm de diluir e assimilar
esgotos e resíduos através dos processos de depuração.
5Os compostos iônicos e os polares são geralmente as substâncias mais dissolvidas em água, por
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6As águas para a irrigação também se enquadram dentro uso para atividades agropastoris que
abrange além da irrigação o uso para dessedentação de animais.
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menos três vezes menor por t/Km. Isso explica a enorme vantagem desse
modelo de transporte. Esse é o uso menos nobre das águas, embora seja,
um dos mais empregados pelo homem desde a antiguidade.
Vimos que o volume das águas nos rios é bastante limitado e
representa uma baixa disponibilidade na biosfera, é desses rios que o ser
humano subtrai a maior parte da água. E nesses mesmos rios o homem
lança seus efluentes poluídos, quer de natureza doméstica, quer de origem
industrial. Por isso, tem especial importância a forma com que nossos
efluentes são tratados e a maneira como os dispomos no meio ambiente,
em razão da grande possibilidade de se estar prejudicando o uso das águas
receptoras (BASSOI, 2005: 184).
Os tipos de poluição, segundo Bassoi (2005: 185), podem ser
agrupados em poluição natural; poluição causada por esgotos domésticos; poluição
causada por efluentes industriais; poluição causada pela drenagem de áreas agrícolas e
urbanas. Cada fonte pode ser utilizada pedagogicamente na elaboração de
problemas que explorem os grupos de poluentes específicos, as
consequências dos diversos tipos de usos que podem arrastar materiais
presentes na superfície do solo ocasionado pelas águas pluviais, o arraste
de substâncias de composição orgânica ou inorgânica e resíduos ou dejetos
de animais e de vegetais, pode infiltrar no solo podendo alcançar as águas
subterrâneas.
Problemas reais ou os elaborados de forma a simular a realidade,
contextualizam o ensinoaprendizagem e possibilitam uma formação
significativa tal como o incentivado por Paulo Freire em suas diversas
obras para o que seria uma formação crítica e libertadora.
Porém, como esse sistema de poluição geralmente não altera
significativamente as características da água potável, a formação é ainda
mais necessária para se obter uma educação ambiental básica e que
contribua de fato para uma ampliação da cultura química da população em
geral defendida por Bottechia (2014), pois serão necessárias apenas
algumas etapas de tratamento simplificado, para seguirem os padrões de
qualidades básicos para o uso no abastecimento público.
Quando as características não estão conforme esses padrões,
trata-se de um tipo de poluição capaz de alterar as características químicas,
físicas e biológicas do corpo d’água, podendo apresentar vários tipos de
poluentes, aumento da concentração de fósforo e nitrogênio, além da
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condição da população, pois como diz o ditado, “povo limpo é o que não
suja!”.
Já o deflúvio superficial agrícola apresenta características
diferentes a depender muito das práticas agrícolas utilizadas em cada
região e da época do ano em que se realizam as preparações do terreno
para o plantio, a aplicação de fertilizantes, defensivos agrícolas e colheita.
Horizontes...
Numa visão geral admite-se que a água em sua forma potável,
apesar de ser o insumo dos mais importantes para a vitalidade no ambiente
terrestre, encontra-se mal distribuída, e já é fator de escassez em várias
regiões do planeta e mesmo os países consideráveis potencialmente ricos
desse recurso podem apresentar alguma problemática, como o Brasil, país
que possui a maior fração da água doce disponível, porém, mal distribuída
pelo seu território.
Diante do quadro da pouca disponibilidade, da escassez, do alto
consumo e do avanço das tecnologias de tratamento, as práticas de reuso,
estão em expansão por várias partes do país e surgem como opção para
atenuar o quadro de escassez e tornar-se cada vez mais evidente como
alternativa de economia dos recursos hídricos em todo o planeta.
A baixa proporção disponível para o uso do ser humano torna-se
cada vez mais escassa na medida em que a população mundial se
desenvolve economicamente e numericamente, consequências entre
outras das necessidades da superprodução de alimentos, da expansão da
área urbana e da proliferação do setor industrial.
Assim, o aproveitamento pedagógico dessas situações na
elaboração de problemas para o ensinoaprendizagem segundo Bottechia
(2017), podem ser exitosos na ampliação da cultura química por se tratar
de aspectos sociocientíficos significativos para os estudantes conforme as
pesquisas da autora em 2014.
Observa-se também que com o desenvolvimento das técnicas e os
processos de tratamentos, foi possível assimilar certo grau de qualidade
aos corpos d’água, beneficiando-nos diretamente em questões de higiene,
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7Falta de infraestrutura e saneamento básico foi um dos fatores que contribui para o
desencadeamento de várias doenças no passado, como as grandes epidemias ocorridas na
Inglaterra durante a Revolução Industrial, ocasionadas também pelo desconhecimento sobre a
relação entre certas doenças e a qualidade dos recursos hídricos.
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Referências Bibliográficas
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Volume V
http://www.siamfesp.org.br/novo/downloads/cartilha_reuso.pdf>.
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Porto Alegre: Bookman, 2004.
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Vozes da Educação
ABSTRACT
The expressive growth of the number of elderly people in the world and the
discussion that surrounds human aging and its interfaces, has made the thematic
an intellectual field in constant construction. The expansion of studies focused on
the theme and the execution of educational actions and practices carried out in
different spaces has been an indicator of this growth. Meanwhile, this text seeks
to reflect on the role of the University in face of this phenomenon, since this
institution has sought to consolidate itself as an environment that integrates
teaching, research and extension processes through its programs and projects.
8Este texto constitui parte da tese de doutorado da autora intitulada EDUCAÇÃO DE PESSOAS
IDOSAS: UM ESTUDO DE CASO DA UNIVERSIDADE DA MATURIDADE NO TOCANTINS,
defendida pelo PPGE - Programa de Pós Graduação da UFPB - Universidade Federal da Paraíba.
Para leitura na íntegra da mesma ler; PEREIRA, Fabíola Andrade. Educação de pessoas idosas:
um estudo de caso da Universidade da Maturidade no Tocantins / Fabíola Andrade Pereira (Tese
de Doutorado) - João Pessoa, 2016.
Texto já apresentado no 4º CIEH – Congresso Internacional do Envelhecimento Humano no ano
de 2015 na cidade de Campina Grande.
9Doutora em Educação pela Universidade Federal da Paraíba. Professora da Universidade
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Primeiras palavras
A preocupação com a formação educacional continuada dos
Idosos somada a busca por alternativas de melhores condições de vida, e
ainda à necessidade de que este sujeito possa estar continuamente
preparado para acompanhar as transformações ocorridas no mundo,
acarretam a necessidade de se criar espaços que sejam vistos como
alternativas educacionais e, nesse sentido, as Universidades Abertas à
Terceira Idade consolidam-se como essas alternativas, o que tem dado a
velhice maior expressividade, pois busca favorecer através de suas
atividades, o bem-estar subjetivo, contribuindo, consequentemente, para
a melhoria da qualidade de vida dos sujeitos que as procuram.
Entrementes, a Universidade enquanto instituição promotora
do conhecimento, tem tido um papel importante no trato do
envelhecimento. Tal instituição tem buscado não só aprofundar o
conhecimento e compreensão deste fenômeno - que sabemos é extensível
a todo mundo – mas tem procurado, através de suas ações, tanto no
campo do ensino, da pesquisa e da extensão, encontrar pistas sobre
possíveis respostas aos desafios relacionados a saúde, a educação e a
qualidade de vida das populações envelhecidas. Assim, ela tem sinalizado
não só a necessidade de abrir as janelas àqueles que desejam aprender na
idade mais avançada, mas também tem ajudado a dar visibilidade às
necessidades culturais, educativas, sociais e psicológicas a esse novo
segmento etário.
O relatório Delors da UNESCO põe em discussão a necessidade
de superar um conjunto de tensões que estão presentes no mundo
contemporâneo propondo o conceito de educação ao longo de toda a vida,
uma vez que o tempo da infância e da juventude consagrado à educação
escolar, o tempo da atividade profissional adulta e ainda o tempo da
aposentadoria atrelado à velhice, não mais constitui uma realidade no
mundo atual. A premissa básica defendida no documento é que o
conhecimento deve ter início na infância e se estender até o fim da vida,
pois “a educação ocupa cada vez mais espaço na vida das pessoas à medida
que aumenta o papel que desempenha na dinâmica das sociedades
modernas” (DELORS, 1999, p 103).
Vê-se com isso que o processo de envelhecimento da população
tem conduzido a sociedade à busca de alternativas que visem a melhoria
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aposentadoria.
Sobre essa experiência Teixeira aponta:
O SESC foi o órgão pioneiro no Brasil a sistematizar programas de
atendimento à terceira idade. Nos anos 70, técnicos do SESC – São
Paulo, ao retornarem de um intercâmbio da Universidade de
Toulouse (França), onde conheceram programas para terceira idade,
entre eles a Universidade Aberta para Terceira Idade, bem como os
novos fundamentos teóricos que apoiavam as atividades educativas e
culturais para este segmento, fundaram a primeira Escola Aberta para
a Terceira Idade. Tais experiências podem ser consideradas como os
embriões dos programas de Universidade da Terceira Idade do modo
como hoje estão constituídas. (TEIXEIRA, 2003, p. 126).
Em 1983 surgiu a primeira UnATI, a Universidade Aberta à
Terceira Idade da Universidade Federal de Santa Catarina, realizada no
âmbito da extensão gerontológica. Essa experiência surgiu por intermédio
da criação do Núcleo de Estudos da Terceira Idade (NETI), em março de
1982, ano em que a Assembleia Geral da ONU realizou a I Assembleia
Mundial sobre o Envelhecimento, fato que tornaria a Universidade
Federal de Santa Catarina (UFSC) a primeira instituição de ensino superior
no Brasil a aderir ao movimento Universidade Aberta à Terceira Idade.
Desde então o NETI e a UFSC desenvolvem ações com vistas a
desencadear um processo educacional voltado aos idosos, concedendo-
lhes, dentre outros, o direito de serem protagonistas do seu próprio
envelhecer sendo que após o ano de 1990 houve uma expansão expressiva
em todo o país.
Nesse mesmo ano, em parceria com o SESC, surgiu a
Universidade da Terceira Idade da Pontifícia Universidade
Católica/Campinas, a primeira a ser divulgada nacionalmente (JACOB,
2003). Após isso, intensifica-se, cada vez mais, a criação de programas e
projetos de ensino e extensão universitários voltados para os idosos (hoje
contabilizamos mais de 200 em todo o país). Vê-se, no entanto, que nesse
período histórico, a extensão universitária voltada para a terceira idade
conhece seu apogeu, sobretudo quando se observa a multiplicação dos
programas destinados à educação desses sujeitos (CACHIONI; NERI,
2012, p. 40), instaurando aquilo que ficou conhecido como um
movimento em prol do envelhecimento. Tais programas e projetos de
extensão mudam quanto à nomenclatura que receberam de acordo com as
instituições de que fazem parte; como exemplo cita-se a Universidade
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Algumas considerações
As presenças das UnATIS evidenciam que o crescimento da
população idosa tem se tornado uma realidade e isso se dá não só em razão
do crescimento numérico, mas sobretudo pelo progresso referente do
nível de vida de parte desse grupo. Dessa forma, percebe-se que investir
na educação e na qualidade de vida na velhice é um desafio em benefício
da saúde social e econômica de toda a sociedade.
Vemos que ao estudar a velhice na atualidade é antes de tudo
compreender que é possível romper preconceitos e esteriótipos. É pensar
e realizar um trabalho voltado às necessidades biopsicossociais e
espirituais desses sujeitos, para que sejam cidadãos competentes, aptos a
viverem numa sociedade em mudança.
Vimos também que no Brasil, o tema atravessa os tempos
apresentando-se, na maioria das vezes, despercebido por entre os
dispositivos constitucionais e pela própria academia. Por outro lado, nos
dias atuais, o crescimento da população idosa, tem colocado a sociedade
brasileira frente a essa discussão, fato que tem impactado em ações efetivas
no âmbito da legislação do país. Assim, pode-se dizer que, os avanços e
compromissos do Brasil, nos âmbitos legislativo, administrativo,
programático e institucional, têm sido fortalecidos por meio do
protagonismo dos Idosos nos processos democráticos na tentativa de
prospectar uma sociedade para todas as idades.
A Constituição Federal de 1988 e outros dispositivos
constitucionais (Lei de Nº 8.842/94 que dispõe sobre a Política Nacional
da Pessoa Idosa e a lei de nº 10741/03 que institui o Estatuto do Idoso)
por exemplo, pontuam de forma incontrastável a necessidade de atentar
para o tema evocando de forma geral o direito a uma velhice digna, ativa
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Referências Bibliográficas
BRASIL, Presidência da República. Casa Civil - Subchefia para Assuntos
Jurídicos. Estatuto do Idoso. Lei No 10.741, de 1º de outubro de 2003.
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janeiro de 1994. Brasília, 2003.
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CACHIONI, Meire; NERI, Anita Liberalesso. Educação e velhice bem
sucedida no contexto das Universidades da Terceira Idade. In: NERI,
Anita Liberalesso; YASSUDA, Mônica, S. (Org.). Velhice bem sucedida:
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JACOB, Luis. A importância das Universidades da Terceira Idade na
qualidade de vida dos seniores em Portugal. Revista Medicina e Saúde, ago.
2003.
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Helenilda da Silva10
RESUMO
A gestão escolar se consolida como ato político, por meio do movimento
dinâmico que ocorre diariamente no âmbito da escola, uma vez que esta
diz respeito à participação e deliberações em prol do ambiente comum.
Com base nisto, o presente artigo teve como objetivo verificar em
documentos formais, a proposta de gestão escolar da rede estadual de
Pernambuco. Em nossas análises foi possível constatar que a rede estadual
propõe em geral práticas que caminham pelo viés da gestão democrática,
além de promover meios para que os gestores possam refletir a respeito
de suas práticas, bem como investe em formação continuada para
gestores.
Palavras-Chave: Gestor - Gestão Escolar – Gestão Democrática.
ABSTRACT
School management is consolidated as a political act, through the dynamic
movement that occurs daily within the scope of the school, since it
concerns participation and deliberations in favor of the common
environment. Based on this, the present article had as objective to verify
in formal documents, the proposal of school management of the state
network of Pernambuco. In our analysis, it was possible to verify that the
state network generally proposes practices that walk through the bias of
democratic management, as well as promoting ways for managers to
reflect on their practices, as well as investing in ongoing training for
managers.
Keywords: Manager - School Management - Democratic Management.
desenvolveu pesquisas voltadas para área de Gestão Escolar e Inclusão de Estudantes com
Deficiência. Atualmente atua na rede municipal de Recife, como Agente de Apoio ao
Desenvolvimento Educacional Especial.
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Introdução
Em nosso país a gestão democrática é um tema já discutido há
algumas décadas pelos movimentos da educação, no entanto ainda existem
muitos avanços a serem alcançados. É certo que muito se avançou desde
que este termo passou a ser abordado nos documentos que a
regulamentam, iniciado pela Constituição Federal de 1988.
A Constituição Federal de 1988 veio assegurar aos brasileiros
direitos sociais essenciais ao exercício da cidadania e estabelecer
mecanismos para garantir o cumprimento de tais direitos. Ela trouxe
possibilidades de consolidação de uma Democracia substancial e de um
Estado de Direito, a partir dela foram instituídas diversas formas da
sociedade exercer controle substancial sobre as práticas do estado,
principalmente no que se refere a políticas sociais, a exemplo disto está à
educação.
A gestão democrática provém da democracia que se define como
governo do povo e para o povo, este princípio político vai à contramão
do autoritarismo, ditaduras e totalitarismos, que em geral se definem por
terem o poder de decisão concentrado nas mãos de poucos. Ela não se
limita a apenas um segmento da sociedade, e para chegarmos ao momento
em que estamos um longo processo necessitou ser percorrido.
Por consequência, a escola como instituição pública passou a ser
pensada por esta perspectiva.
Com base neste pressuposto abordaremos neste artigo uma
breve discussão à respeito da gestão democrática escolar e o papel do
gestor. Em seguida, traremos uma análise crítica acerca da proposta de
gestão da rede estadual de Pernambuco, com base nos autores abordados.
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Diretor adjunto
1. Planejamento Pedagógico: a Eficácia e a Efetividade do Processo
Ensino-Aprendizagem
2. Gestão da Equipe: Liderança Técnico-Pedagógica a Serviço da
Aprendizagem
3. Gestão do Ensino e Gestão da Aprendizagem:
Acompanhamento e Avaliação na Busca por Elevados Padrões
de Desempenho
4. Modelo de Gestão: Foco nos Valores Humanos, na Cultura de
Paz e na Sustentabilidade.
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Volume V
Considerações Finais
A gestão escolar atualmente assume um desafio de envolver a
participação crítica e reflexiva das pessoas para um trabalho coletivo, nas
tomadas de decisões e no planejamento de suas ações. Rompendo com
paradigmas da centralização de poder e de um sistema tradicional de
ensino que durante muito tempo fez parte da história de nossa educação.
Nessa nova conjuntura a gestão escolar precisa acompanhar as
mudanças e a evolução da educação, promovendo qualidade do ensino
por meio de ações coletivas, pois todos os membros da equipe escolar
deverão estar envolvidos com as práticas de gestão cada qual dentro das
suas competências profissionais.
A gestão escolar se estabelece no contexto escolar como meio
para atingir determinados fins na escola, como planejar, organizar, dirigir
e avaliar. Para tanto existem várias formas de gestão e cabe à instituição
escolar escolher qual é a forma mais adequada.
Quando falamos em gestão democrática da educação
podemos perceber que hoje ela já passa por momentos de mais efetivação,
embora seu caráter não tenha sido totalmente compreendido e
incorporado à dinâmica escolar é certíssima sua importância como um
mecanismo de integração e formação cidadã, bem como para a construção
de uma sociedade consciente e igualitária.
Em relação à gestão escolar e à proposta de gestão escolar
inserida na rede estadual de Pernambuco podemos perceber através das
análises aos formulários/planilhas (Instrumento I e II), das apostilas do
curso de aperfeiçoamento em gestão escolar e os diversos documentos
utilizados pela secretaria de educação do estado de Pernambuco, como
por exemplo, nas planilhas de acompanhamento e Avaliação de
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Vozes da Educação
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Volume V
Referências bibliográficas
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do
Brasil. Brasília, DF.
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº. 9394/96.
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ABSTRACT
In this chapter, I propose a reflection with the National Curricular
Parameters of Transversal Themes that receives special attention in this
study, the volume of Sexual Orientation (1998a) with the State Curricular
Guidelines for Gender and Sexual Diversity of Paraná (2010). The
proposal in this present study is to perform a different writing, which
brings gender neutrality to the Portuguese language. The intention doing
that is to show resistance and visibility to people that do not recognize
themselves as being binary gender through language performance.
11Graduado em Letras Inglês pela UNICENTRO (2013), especialista em Educação Especial com
Ênfase em Libras pelo ISAM (2015), mestre em Linguagem, Identidade e Subjetividade pela UEPG
(2016) e doutorando em Letras pela UFPR. E-mail: heliton.diego@hotmail.com
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Palavras iniciais
A leitura que fiz destes documentos oficiais é levada em conta
minha formação acadêmica em que minha preocupação é a utilização da
língua(gem).
Nem no uso mais cotidiano, a língua é neutra, imparcial ou inocente.
Ao contrário disso, é o lugar privilegiado de manifestações políticas.
Na língua se inscreve o discurso, no discurso se materializa a
ideologia. Não há língua sem sujeito e tampouco sujeito fora do
ideológico. Ao enunciar, o sujeito também se significa e diz mais
sobre si do que sobre o objeto ao qual faz as suas considerações
(SOARES, 2018, p. 9).
Sendo assim, a minha preocupação com a utilização da
língua(gem) neste trabalho, levando em conta a temática central dos
documentos oficiais é a problematização da língua portuguesa em que, por
sua estrutura ser binária, acaba não trazendo visibilidade para pessoas que
fogem deste binarismo de gênero e a estas não são visibilizadas pela
língua(gem).
Minha utilização em palavras que marquem especificamente um
gênero binário, utilizarei o “e” em contraposição ao “x” e “@”. Na
questão pronominal, o pronome será “elu”
[...] por um ato político, para mostrar que o pronome considerado
“neutro” em nossa sociedade exclui as pessoas não-binárias, já que
elus não se veem como homens nem como mulheres, portanto, não
faz sentido para estas pessoas a utilização do “neutro ‘eles’”, assim
como o feminismo trata esta questão (LAU, 2018, p. 13).
Palavras no plural consideradas masculinas, como “professores”,
por exemplo, terão a vogal “i” no meio, ficando “professories” (LAU,
2018). Pode parecer uma forma “estranha” ao ler/ver este trabalho,
porém, não estarei (re)produzindo um discurso capacitista, excluindo
pessoas cegas de lerem meu trabalho através de softwares, pois “x” e “@”
no lugar da desinência de gênero, não permite uma leitura, o que não
escapa para pessoas que enxergam também.
Desta forma, utilizando a linguagem não-binária levanto, ao
mesmo tempo, com a reflexão dos documentos oficiais, a preocupação em
se discutir identidades de gênero e sexuais por meio da língua(gem).
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12Faço a marcação no plural pela inclusão de famílias homoafetivas, constituídas ou por dois
homens ou por duas mulheres, famílias monoparentais (les filhes criades ou somente pelo pai ou
pela mãe ou outro membro), as poliafetivas (em que, geralmente, o relacionamento é a três, mas
que podem ser compostas de mais de três pessoas, sendo várias as possibilidades), também
chamadas de multiparentais, e a família constituída por mãe, pai e filhe(s), chamada de
“tradicional”.
13Assexuais, lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transgêneros, transexuais, queer, intersexo e
mais.
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14Este ainda é um termo em discussão, pois, quando se fala apenas de homofobia, restringe-se a
crimes contra gays. Lesbofobia remete às lésbicas, bifobia aos bissexuais e transfobia às travestis
e todes les trans, inclusive não-binários. Algumas pessoas utilizam também LGBTfobia.
Infelizmente, nenhuma dessas siglas faz menção à acefobia, que remete às pessoas assexuais.
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sexo, este passa a ser um homem trans. Mas isso não significa que um
homem trans seja necessariamente heterossexual, pois sua identidade
sexual pode variar também. Da mesma forma que, um indivíduo com o
sexo designado ao nascer masculino, pode não aceitar seu gênero nem seu
sexo, em alguns casos. Há homens e mulheres trans que respeitam a
genitália que nasceram. Buck Angel, por exemplo, considerado um ícone
da comunidade ALGBTQI+, é ativista dos movimentos, produtor de
filmes adultos e uma das maiores vozes de homens trans do mundo. “Seu
empoderamento é a vagina. A vagina, afinal, é parte do corpo que resiste
há anos a quaisquer tentativas de retirá-la para dar espaço a um pênis”,
segundo informações da Carta Capital18.
Também, o ser humano é capaz de nascer com o sexo designado
masculino e sua identidade de gênero poder transitar entre o masculino e
feminino, mas não assumir nenhuma dessas identidades, e estarem em
maior parte do campo da feminilidade. Estas pessoas são chamadas de
travestis. Por elas estarem neste campo, o correto é tratá-las pelo pronome
feminino, podendo sua identidade sexual ser diversa também.
E quando a pessoa ao nascer, pelo aspecto biológico, não deixa
claro se é designado feminino ou masculino? Estas, atualmente, são
chamadas de intersexo19, que ao pé da letra significa “entre os sexos”.
Portanto, é possível afirmar que a genitália não tem ligação com a
identidade de gênero e atração do indivíduo. Historicamente, médiques ao
observarem este tipo de genitália “diferenciada”, notavam traços maiores
e/ou semelhantes de uma vulva ou pênis, e a adequavam ao que mais se
aproximava. Muites tinham vergonha do que eram. Através das minhas
buscas e contato com uma pessoa intersexo, descobri que existe uma
bandeira do orgulho intersexo brasileira. A cor púrpura representa a
ambiguidade, o estar entre os dois sexos não-intersexo. O triângulo
representa o intersexo, já que representa-se o sistema ovariano como um
círculo e o sistema testicular como o quadrado. Além disso, durante o
desenvolvimento intrauterino, a região da genitália, tanto masculina
quanto feminina, lembra um triângulo invertido. O branco representa uma
18Informações retiradas do portal Carta Capital. “Minha vagina é poderosa”, diz homem trans
ativista. Disponível em: <https://goo.gl/eaWp8Z>. Acesso em: 20 ago. 2015.
19Outros termos utilizados que já estão em desuso: dupla genitália e hermafrodita.
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Postagem de um homem trans em uma rede social no dia 16 de fevereiro de 2016, com ênfase
20
minha.
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orientações são: heterorromântico – alguém que se sente romanticamente atraído por alguém
do gênero oposto; homorromântico – alguém que se sente romanticamente atraído por alguém
do mesmo gênero; birromântico – alguém que se sente atraído por ambos os gêneros e
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As crianças, muitas vezes, vão para a escola com esses discursos formados
sobre a construção de gênero do ponto de vista heteronormativo,
portanto, les profissionais da educação devem ficar atentes e “neutralizar”
brincadeiras sem ficar afirmando que “menino brinca disso” e “menina
brinca daquilo”.
A forma de observar a mulher como um ser frágil e o homem
como detentor da força gerará preconceito e discursos machistas quando
a situação inverte, mais ainda para o homem se ele mostrar sensibilidade.
Nesta mesma linha de raciocínio, César afirma:
Nessa perspectiva, trabalhar as relações de gênero significa apenas e
tão somente demonstrar que meninos podem ser também meigos e
sensíveis sem que isso possa ‘ferir’ sua masculinidade, e que meninas
podem ser agressivas e objetivas, além de gostarem de futebol, sem
que essas características firam sua feminilidade (CÉSAR in PARANÁ,
2010, p. 35).
A autora fala em “ferir” a masculinidade e a feminilidade. Essa
questão remete ao fato de que homens não “se tornarão” gays ou mulheres
por serem sensíveis e mulheres não “se tornarão” lésbicas ou homens por
praticarem esportes que são considerados masculinos. Desconstruir os
discursos machistas, misóginos, homofóbicos e transfóbicos ajudará as
próximas gerações a ter empatia com a diversidade sexual e de gênero.
Ferrari discute sobre “Homofobia na escola”, a questão da
linguagem utilizada para se referir a pessoas não-heterossexuais, mais
especificamente a gays e lésbicas.
[...] quando um menino chama outro de “viadinho” em sala de aula,
mais do que ferir, essa utilização da linguagem está constituindo
sujeitos, está definindo fronteiras, estabelecendo distâncias entre
“nós” e “eles” está servindo para construir tanto as
homossexualidades quanto as heterossexualidades (FERRARI in
PARANÁ, 2010, p. 42).
Utilizar esse tipo de linguagem para menosprezar pessoas não-
heterossexuais oprime e faz pensar que essas outras sexualidades são
erradas, que a correta e única é apenas a heterossexual, colocando-a numa
situação hierárquica. Algumas pessoas gays e lésbicas com suas
“comunidades” (BAUMAN, 2005) não se sentem ofendidas quando falam
“viado”, “sapatão” ou até mesmo entre os gays utilizam pronomes
femininos para conversarem. Porém, isso não é regra para gays e lésbicas
se referirem/serem assim (LAU, 2015, 2016, 2017).
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24PRAGMATISMO POLÍTICO. Filho de pais gays morre após ser espancado. Disponível em:
<https://goo.gl/Sd8h0E>. Acesso em: 16 fev. 2016.
25Revelar o nome verdadeiro em artistas drags não é errado, como revelar o nome civil de pessoas
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Palavras finais
Como já falado no início do capítulo, os efeitos de sentido
produzidos na reflexão destes documentos oficiais levam em conta minha
formação acadêmica e, ao mesmo tempo, uma aproximação com a área de
Educação.
Através dos estudos de identidades de gênero e sexual avançando
tanto a nível internacional quanto nacional é possível ver as problemáticas
que determinados conceitos utilizados nos documentos oficiais podem
gerar. Porém, é importante situá-los em seu período histórico em que essas
discussões estavam começando a ganhar espaço no nível acadêmico e indo
para as escolas, como é o caso dos PCN (1998a).
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76
Volume V
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Vozes da Educação
RESUMO
Este artigo contém a análise da experiência de Formação de Professores
da Educação de Jovens e Adultos em áreas de Reforma Agrária, em
parceria com o INCRA, FETAEMA e FACT e UEMA - PRONERA em
convênio com A Universidade Estadual do Maranhão – UEMA com a
Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Maranhão – FETAEMA
e o Ministério do Desenvolvimento Agrário –MDA representado pelo
Instituto Nacional de Colonização – INCRA , no período de 2002 a 20109
como uma alternativa de promoção do letramento e valorização dos
trabalhadores rurais , possibilitando a inclusão e o exercício da cidadania,
além de assegurar a continuidade de estudos e melhoria das condições de
vida. A análise feita baseia-se nos pressupostos pedagógicos defendidos
por Freire, nos estudos de Hadad e na Legislação Educacional e
mostramos a relevância do processo de formação e escolarização dos
lavradores, dos Assentamentos do Maranhão pelos resultados observados
no caminho percorrido pelos egressos da formação oferecida no Curso
Magistério 2001.
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Introdução
Se é possível obter água cavando o chão, se é possível enfeitar a
casa, se é possível crer desta ou daquela forma, se é possível nos
defendermos do frio ou do calor, se é possível desviar leitos de rios,
fazer barragens, se é possível mudar o mundo que não fizemos ou a
natureza, por que não mudar o mundo que fazemos: o da cultura, o
da história, o da política? (Paulo Freire)
Pensar “Educação de Jovens e Adultos da zona rural” implica
destacar a responsabilidade dos que fazem a escola, tendo em vista o
movimento histórico que marcou de forma marginal, a trajetória dessa
educação que ainda - NÃO É PARA TODOS! Professoras que somos e
acreditando que tudo é possível, ousamos socializar um relato de
experiências que nos fez perceber as inúmeras possibilidades de inserção
social do cidadão brasileiro por meio da educação.
Em sendo a educação um “Direito Constitucional” ao homem
rural lhe é assegurado, também, a preparação para o exercício da cidadania
e, sem dúvida, um dos canais de sua inserção e politização se efetiva no
processo de escolarização quando, numa valorização dos saberes
adquiridos na vida cotidiana, a escola parte dessa realidade e a
problematiza para suscitar coletivamente a reflexão/ação/reflexão.
Esse entendimento nos impulsionou a pensar sobre a realidade
socioeducacional do homem rural surgindo daí a Proposta de
Alfabetização, elaborada por professores do Departamento de Educação
e Filosofia e do Departamento de Química, em convênio com o Programa
Nacional de Educação na Reforma Agrária – PRONERA - uma política
do governo federal, executada pelo Instituto Nacional de Colonização –
INCRA, no Ministério do Desenvolvimento Agrário – MDA, tendo como
objetivo ampliar os níveis de escolarização formal dos trabalhadores e
trabalhadoras assentados da Reforma Agrária.
Assim, o relato da experiência do Programa de Alfabetização -
da Extensão Universitária, vinculado a Pro Reitoria de Extensão –
PROEXAE (UEMA), e desenvolvido com homens e mulheres lavradores
de 10 municípios do Maranhão: São Mateus, Barra do Corda, Pio XII,
Monção, Zé Doca, Pindaré Mirim, Bacabal, Paulo Ramos, Governador
Nunes Freire e Pedro do Rosário no período de 2002 a 2010, busca
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aluno para pensar sobre sua realidade, sua vida, suas escolhas e seus
sonhos de maneira que proporcionem a si mesmos a sua própria
libertação. Nessa relação dialética, a “educação para a libertação se
constitui como um ato de saber, um ato de conhecer e um método de
transformar a realidade que se procura conhecer (GADOTTI, 1996,
p.721).
Indubitavelmente, cada cidadão pode fazer suas escolhas ou por
uma ação cultural para a liberdade e/ou para a dominação e, no em um
movimento maior para a liberdade de expressão e por uma ação
organizada para ir à luta pela melhoria de vida e pelo direito de viver com
qualidade.
Todo esse esforço para galgar conquistas e libertação tem a
contribuição da alfabetização/letramento, da aquisição da leitura da
palavra para maior entendimento da leitura de mundo. Magda Soares
(1998) trata o letramento como um fenômeno para além da alfabetização,
consistindo no domínio do código da escrita, por meio do processo de
codificação e decodificação, uma vez que envolve a prática social da leitura
e da escrita, onde o aluno vai aprender a encontrar a informação no
material escrito e posicionar-se criticamente diante dele.
Corroborando com a autora, fomos construindo as habilidades
de leitura e escrita nas formações com os professores, para que eles, em
sua prática pedagógica, as construíssem com seus alunos também. Essas
atividades foram organizadas de forma a respeitar o princípio da
interdisciplinaridade, sendo vivenciadas mediante Projetos Sociais
desenvolvidos nas comunidades campesinas, articulando os diversos
saberes e refletindo sobre assuntos de interesse do homem do campo ,
visando a construção do processo educativo articulado com os saberes
locais, regionais e globais, de modo a proporcionar um conhecimento
amplo de mundo.
Para tanto, estrategicamente, construímos atividades que
possibilitaram o reconhecimento de diversos tipos de textos
compreendendo a leitura, as ideias do texto, o sentido geral do texto; lendo
em voz alta, buscando informações específicas, fazendo inferências e
estabelecendo as relações das leituras com as experiências; além de
apreciar o valor literário dos textos; expressar-se oralmente com clareza e
produzir textos diversificados com função definida.
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Volume V
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo apresentar uma ação pedagógica
visando aprendizagens mais significativas. A partir de um projeto
interdisciplinar com a temática “Uso de Drogas e Gravidez na
Adolescência” buscou-se a construção de relações afetivas por meio da
rede social digital whattsapp, para o desenvolvimento de um trabalho que
incluía a análise do seriado “SkinsUK”, culminando em um piquenique,
na praça da cidade, para um bate papo sobre o tema. As mudanças
observadas no cotidiano escolar e as mensagens de agradecimento
recebidas pelo professor, logo após a finalização do projeto, constituíram
um parâmetro para a conclusão da eficácia das relações afetivas na
construção de aprendizagens mais significativas.
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Introdução
Este trabalho apresenta a importância das relações afetivas
desenvolvidas na execução de um projeto interdisciplinar, com alunos dos
2º ano do ensino médio do Colégio Estadual Dr. Thiers Cardoso, no
município de Campos dos Goytacazes-RJ. Estas relações foram
desenvolvidas através da contato com os alunos no ambiente escolar, rede
social e um piquenique em uma das praças da cidade.
O Colégio Estadual Dr. Thiers Cardoso promove todo bimestre
um projeto interdisciplinar com um tema específico e comum para todas
as turmas, em que cada professor – ou dupla de professores - é responsável
por uma turma e precisa desenvolver uma atividade que valerá nota para
as demais disciplinas. Com o tema “Uso de drogas e gravidez na
adolescência”, o trabalho deveria levantar a discussão sobre esta temática
no âmbito da prevenção.
Segundo Ferreira (2010) é recente o estudo do campo da
afetividade influenciando nos processos educativos. Somente a partir da
década de 1970 que a afetividade como fenômeno subjetivo passou a ter
caráter cientifico nos estudos e na década de 1990 o conceito de
“inteligência emocional” de Goleman (2012) retoma um debate, que vem
produzindo vários estudos desde então, a cerca da afetividade e cognição.
Henri Wallon concebe a afetividade como resultante do fator
orgânico e o social. Na criança surge primeiramente como fator orgânico
que passa por uma evolução progressiva permeada pelas relações sócias
que moldam suas manifestações em processo recíprocos e
complementares. (ALMEIDA, 2008)
É notório para o professor que a cada ano cresce o desinteresse
dos alunos pela sala de aula. Ao tentar compreender a percepção dos
alunos, Asbahr (2014) em um estudo desenvolvido pelo Instituto de
Psicologia da USP, afirma que para os alunos a escola não é um lugar para
aprender, apenas um acesso ao mercado de trabalho, porém não satisfaz
essa expectativa. Desta forma, ao perceber que a escola não cumpre o seu
papel – ou pelo menos não satisfaz suas necessidades – o aluno acaba
frequentando, quase que totalmente, contra sua vontade, por uma
imposição externa.
Assim, relações afetivas formam o único fator intrínseco que leva
os alunos ao ambiente escolar espontaneamente. Na pesquisa de Asbahr
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Volume V
Afetividade e cognição
Seguramente a escola se constitui no segundo espaço de maior
importância na vida social de crianças e adolescentes, sendo o primeiro a
família. Segundo Santos (2007) qualquer ação entre professor e alunos é
repleta de significados e sentimentos. A experiência afetiva desta relação
pode ser positiva ou negativa influenciando diretamente na construção
intelectual do aluno. Quando há uma maior empatia com o professor, a
compreensão do conteúdo é facilitada por uma predisposição para
aprendizagem.
O ser humano recebe estímulos desde seu nascimento e a
interação que ocorre com o ambiente gera os mais variados
comportamentos. O cérebro é o órgão responsável por uma aprendizagem
que permeia a vida do aluno desde seu nascimento até o fim da vida. A
escola é o local onde o conhecimento acumulado é transmitido na
tentativa de promover uma aprendizagem formal de conteúdos.
Para Guerra (2001) toda relação humana atua no sujeito como
agente de mudança neurobiológica que leva a aprendizagem, que por sua
vez, requer várias funções mentais como atenção, memória, percepção,
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Vozes da Educação
emoção, função executiva, entre outras. Neste contexto, uma das relações
mais significativas que se estabelecem no âmbito escolar são entre
professores e alunos. O professor surge como agente consciente que atua
promovendo uma mudança neurobiológica com o intuito de levar a aluno
a aprendizagem.
São as emoções que orientam a aprendizagem. Neurónios das áreas
celebrais que regulam as emoções, relacionadas ao medo, ansiedade,
raiva, prazer, mantêm conexões com neurônios de áreas importantes
para formação de memórias. Poderíamos dizer que o
desencadeamento de emoções favorece o estabelecimento de
memórias. Aprendemos aquilo que nos emociona. (GUERRA, 2001.
p.10)
Nesse sentido se faz necessário diferenciar emoção, sentimento
e afetividade. Para Damásio (1996) as emoções são respostas químicas e
neurais a partir de determinado estímulo que surgem para contribuir para
a manutenção da vida. Elas podem ser primárias – medo, raiva, alegria,
repulsa e tristeza – ou sociais como a simpática, vergonha, culpa, orgulho,
dentre outras. Já os sentimentos são as sensações que surgem quando o
celebro faz a interpretação das emoções.
Para Wallon (1995) a afetividade é um conceito em que há
significações atribuídas intrinsicamente a situações vivenciadas com base
nos aspectos orgânicos e sociais. Logo após o nascimento a criança já
apresenta sensações de bem-estar ou mal-estar em um estágio primário de
manifestações psíquicas ligadas às suas necessidades. Assim, a afetividade
é um processo de base orgânica que resulta em atos psíquicos permeada
pelas relações sociais.
baseando-se em pressupostos wallonianos, usa o termo
cognitivização da afetividade para retratar que, conforme a criança vai
se desenvolvendo, as trocas afetivas vão ganhando complexidade.
Identificar necessidades, demonstrar atenção às dificuldades e
problemas dos alunos são maneiras bastante refinadas de
comunicação afetiva. Conforme a criança avança em idade,
ultrapassam-se os limites do afeto epidérmico, estabelecendo relações
afetivas com exigências cognitivas. (TASSON, LEITE, 2013. pág.
265)
É possível perceber que, dentro de sala de aula, as relações
afetivas construídas de forma positiva impulsionam uma empatia com a
disciplina facilitando a aprendizagem. O professor quando demonstra se
importar com as dificuldades que o aluno passa dentro e fora do ambiente
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Volume V
O projeto
A necessidade de trabalhar um tema amplo e complexo como
“Uso de drogas e gravidez na adolescência” veio do crescente número de
adolescentes grávidas no colégio e a descoberta de uma rede em que
meninas trocavam sexo por drogas. Apesar de ser um tema vasto e com
muitas possibilidades, havia uma angustia para que se fugisse de um
habitual trabalho relacionando causas versus consequências. Por ser um
projeto que permite uma liberdade metodológica e tendo a intenção de
gerar interesse por parte dos alunos, foi pensado em algo que viesse de
suas próprias realidades.
Quase totalidade das crianças e adolescentes estão expostos a
programas televisivos em seu cotidiano. No Brasil eles passam em média
3,5 horas por dia em frente a televisão e no mundo crianças e adolescentes
gastam assistindo televisão o dobro de tempo dedicado a qualquer outra
atividade. Contudo é possível que estas mídias contribuam positivamente
com o desenvolvimento do aluno quando há uma mediação do professor.
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mesmo ocorreu com outros temas como uso drogas lícitas e ilícitas,
conflitos familiares, relacionamentos amorosos e de amizade, sexo na
adolescência e distúrbios emocionais.
Após este momento de apresentação do projeto e discussão
preliminar dos temas, foi dito que o projeto seria finalizado em um bate
papo no Jardim São Benedito, uma das principais praças da cidade de
Campos dos Goytacazes-RJ. A ideia assustou um pouco de inicio, gerando
uma certa estranheza, pela quebra da rotina escolar não usual. Aos poucos
o incomum foi sendo assimilado como uma grande oportunidade de algo
bom. Partiu dos próprios alunos a ideia de se fazer um piquenique,
gerando uma autonomia para organização daquele momento de
discussões, aprendizagens e confraternização.
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Volume V
Considerações finais
Deve-se ressaltar que seria impossível a realização desse trabalho
sem o apoio de toda comunidade escolar. Tanto os pais que entenderam
a proposta e liberaram seus filhos para uma aula fora do ambiente escola,
quanto o suporte de toda a equipe diretiva, direção e coordenação
pedagógica, em motivar e ter um esforço para que o piquenique pudesse
ser realidade ao confeccionar autorizações, oferecer lanche e todo tipo de
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“Professor, estou sem internet e queria falar com você, então a única
maneira que achei foi por aqui rs. Hoje foi surpreendente, muito obrigada
pelos conselhos que você deu, pela forma de aula diferenciada e pela
preocupação com cada um. Existem professores que dão aula só por dá, e
com você da pra ver que é por amor. Continue assim, Deus abençoe e não
desista professor!”
Duas semanas depois quando os alunos fizeram a prova de
geografia, disciplina que o professor ministra, foi dado os parabéns por
terem tirado boas notas. A resposta dada por um aluno e concordada por
todos foi: “seria até falta de consideração com você ir mal né?!”. Estar
baseado no tripé formado pela: utilização de uma linguagem adequada,
estar presente e se importar sinceramente com o aluno, resultou em uma
construção afetiva determinante para o empenho escolar.
Referências bibliográficas
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Vozes da Educação
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RESUMO
Esse artigo visa discutir sobre a formação do professor, num contexto escolar
midiático, direcionado por um currículo multirreferencial, que seja capaz de
possibilitar reflexões sobre a escola que se tem e, a que se precisa ter num mundo
globalizado. Por isso, é necessário refletir sobre a (re) construção do espaço escolar
como local de produção de conhecimentos inter-relacionados e significativos, pois
a cibercultura é valorizada nos diferentes espaços sociais, assim sendo a escola
precisa oportunizar aos alunos o uso de recursos tecnológicos respaldados pela
intervenção pedagógica planejada.
ABSTRAT
This article aims to discuss teacher education in a media school context, guided by
a multireferential curriculum that is capable of reflecting on the school that one
has and what one needs to have in a globalized world. Therefore, it is necessary to
reflect on the (re) construction of the school space as a place of production of
interrelated and significant knowledge, since it is known that cyberculture is valued
in different social spaces, so the school needs to provide students with the use of
technological resources backed by the planned pedagogical intervention.
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Introdução
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professores, para os pais, e não para si mesmos para suas vidas” (MOSÉ,
2015, p. 49).
Nessa realidade educacional, analisando na escola a sua proposta
curricular, comumente conhecida como grade curricular, percebe-se a
urgência em repensar, (re)construir uma proposta de currículo para a
formação do humano na escola.
O currículo multireferencial, caracterizado pela pluralidade,
possibilita uma formação maior, mais abrangente no contexto escolar
atual, caracterizado pela valorização e uso dos recursos midiáticos e
todo suporte teórico e experimental que ele, o currículo, oferece.
Tanto os professores como os alunos têm no currículo
multireferencial diferentes e positivas formas para aprender. Esse
aprender deve ser mediado pelo professor que, na condição de
facilitador do processo de ensino e aprendizagens, planeja e
desenvolve atividades diversas com o apoio das tecnologias midiáticas
e os hipertextos e interfaces disponíveis na internet (ALBINO, 2015,
p. 24).
A urgência em se repensar os diferentes modelos curriculares
educacionais e as formas como as TIC podem contribuir para ressignificar
a escola e sua função social, não deve ser vista e compreendida como
projeto futuro. A necessidade de mudar é muito conhecida e a mudança é
para agora.
Os processos educativos escolares não devem se adaptar às
inovações, mas integrar novas formas ao seu cotidiano. Adaptar é
postura passiva, enquanto integrar pressupõe metas de convergências.
As tecnologias mais recentes podem fazer parte do trabalho
pedagógico escolar, desde que utilizados como ferramentas a serviço
de objetivos educacionais que estejam claros para a comunidade
(CORTELLA, 2014, p. 53).
Com o planejamento e desenvolvimento da pesquisa espera-se
contribuir para a melhoria da formação docente no que se refere ao estudo
e uso planejado de recursos tecnológicos voltados para a melhoria da
informação e comunicação como alternativa para formação humana e
profissional que também favoreça a formação humana e intelectual dos
estudantes, preparando-os para a boa convivência e atuação nos diferentes
espaços sociais. Com o estudo, conta-se também elaborar e apresentar na
rede municipal, através das redes sociais e diferentes recursos
tecnológicos, possibilidades interventivas diretas, capazes de melhorar a
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com a realidade dos alunos fazendo como que eles percam o interesse em
usá-lo.
Diante dessa realidade, percebe-se a crítica de Paulo Freire (2017)
aos livros didáticos ao dizer que “quando fazem cartilhas e livros de leitura
para adultos, os textos escolhidos para o ensino das letras deixam muitas
vezes passar pelas entrelinhas um pensar que pensa pelo alfabetizando.”
Por isso, ensinar exige reflexão crítica sobre a prática, pois muitos
professores norteiam sua prática pedagógica através do livro didático e
prende-se a ele, não considerando o seu próprio pensar, muito menos o
pensar do aluno.
Segundo Freire,
Percebe-se, assim, a importância do papel do educador, o mérito da
paz com que viva a certeza de que faz parte de sua tarefa docente não
apenas ensinar os conteúdos, mas também ensinar a pensar certo. Daí
a impossibilidade de vir a tornar-se um professor crítico se,
mecanicamente memorizador, é muito mais um repetidor cadenciado
de frases e de ideias inertes do que um desafiador (FREIRE, 2016, p.
28 e 29).
Apesar das mudanças ocorridas no cenário educacional em nosso
país, ainda percebe-se a existência de educadores que são adeptos da
concepção bancária, que acreditam que o aluno é um depósito de
conteúdos, como também há aqueles adeptos à prática tecnicista. Eles
adotam uma postura em que prevalece a separação entre a teoria e a
prática, em geral, preocupam-se com o conteúdo previsto no programa.
Todavia, há professores que já compreenderam que, sem uma
formação continuada, terão maior dificuldade para atuarem de maneira
significativa em sua prática pedagógica e que a excelência da práxis
acontece a partir da reflexão sobre a mesma, sendo a formação docente o
caminho que contribui para esse fim. Principalmente uma formação que
contemple as novas tecnologias, pois numa era globalizada é de suma
importância que o educador se instrumentalize de conhecimento sobre as
novas tecnologias da informação e da comunicação (TIC ou NTIC) e
assim possam tornar suas aulas mais relevantes e contextualizadas, afinal
essa é a era digital.
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Volume V
Considerações (in)conlcusivas
A educação utilizada como meio direcionador da vivência social
humana apresenta-se como mecanismo de defesa e organização da
conduta humana em diferentes culturas e territórios. Assim
compreendida, percebe-se que o desenvolvimento educacional deve
acompanhar e aproximar-se do crescimento e desenvolvimento
tecnológico. Essa aproximação entre educação e tecnologia melhor
acontecerá quando, de forma profissional e colaborativa os profissionais
da educação, em especial, os professores, resolverem transformar os
recursos tecnológicos comunicativos em tecnologia educacional. Essa
transformação somente acontecerá de fato quando o professor ao planejar
sua intervenção pedagógica, opte por metodologias que associem o uso de
diferentes recursos tecnológicos e humano em prol da melhoria
educacional a favor do desenvolvimento da aprendizagem dos alunos.
A escola “contemporânea” é, ou deveria ser, o espaço
educacional equipado com os diversos recursos tecnológicos
comunicativos e educacionais capazes de, a partir de situações
educacionais metodologicamente planejadas e desenvolvidas, contribuir
para o desenvolvimento das múltiplas aprendizagens no/pelo aluno. Essas
aprendizagens, calcadas numa proposta interacionista estabelecida entre o
individuo, o aluno, e o objeto de estudo, devem, desde que planejadas e
desenvolvidas adequadamente no contexto midiático, aproximar o que é
ensinado e aprendido com as histórias de vida dos alunos e suas vivências
sociais, contribuindo para uma melhor e maior orientação da vivência
social e comunitária na cibercultura.
O currículo multirreferencial apoiado pela cibercultura,
utilizados estrategicamente no campo educacional podem facilitar o
planejamento e a ação docente, estimular o desenvolvimento da
curiosidade discente e por ela, o interesse pela pesquisa, o que pode
contribuir para uma melhor formação do aluno no atual contexto
midiático e globalizado. À escola, cabe organiza-se e zelar para que
professores e alunos aprendam de forma significativa e prazerosa, e se
comportem como indivíduos investigadores e/ou pesquisadores no meio
social.
125
Vozes da Educação
Referência bibliográfica
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CURRÍCULO MULTIRREFERENCIAL - Aprendizagem significativa
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Terra, 2017.
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Vozes da Educação
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Volume V
RESUMO
O presente texto tem como objetivo descrever e comentar uma prática de
letramento ocorrida durante o ano letivo de 2017, realizada no Instituto
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia, IFPA - Campus Abaetetuba,
através do Projeto de Ensino “Oficinas de leitura, interpretação e
produção textual no IFPA-Campus Abaetetuba”, fundamentado sob a
abordagem das práticas de letramento em interface com os princípios da
perspectiva sociointeracionista para o ensino da linguagem.
ABSTRACT
The purpose of this text is to describe and comment on a writing practice
that occurred during the school year of 2017, held at the Federal Institute
of Education, Science and Technology, IFPA - Campus Abaetetuba,
through the Teaching Project "Reading workshops, interpretation and
production in the IFPA-Campus Abaetetuba", based on the approach of
letter skills in interface with the principles of the socio-interactive
perspective for the teaching of language.
Mestre em Letras – Estudos Linguísticos pela Universidade Federal do Pará – UFPA. Professor
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Vozes da Educação
Introdução
31O IFPA-Campus Abaetetuba passou a ser assim denominado a partir da criação da Rede Federal
de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, que cria os Institutos Federais de Educação,
Ciência e Tecnologia por meio da Lei Nº 11.892, de 29 de Dezembro de 2008. Na modalidade
técnico integrado ao ensino médio, oferta-se os cursos: Edificações, Informática, Mecânica e Meio
Ambiente. Na modalidade técnico subsequente ao ensino médio, oferta-se: Aquicultura,
Edificações, Informática, Meio Ambiente, Pesca, Saneamento e Segurança do Trabalho. Quanto
ao ensino superior, oferta-se os cursos de licenciatura em Biologia e Educação do campo.
Abaetetuba: Município da região tocantina (nordeste) do estado do Pará, com cerca de 150 mil
habitantes, segundo dados do IBGE/2015 – ver site: <www.ibge.gov.br/>.
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uma sessão de debate acerca da temática A questão da inclusão das pessoas com
deficiência. Solicitava leitura coletiva, em que cada aluno realizava uma parte
da leitura de textos acerca do tema em questão, como forma de mobilizar
a participação e a elaboração de uma argumentação consistente. Em
seguida, iniciava o debate propriamente dito, momento em que os alunos
socializavam seus argumentos. Por vezes, alguns corrigiam e/ou eram
corrigidos por outros colegas. Ressaltamos que, em determinados
momentos, durante a sessão de debates havia uma clima de tensão, mas
no âmbito discursivo apenas. Na oportunidade, o professor mediador
trabalhava os aspectos constituintes de uma redação: escrita formal da
língua portuguesa; coesão textual e coerência textual; vocabulário;
argumentação; e proposta de intervenção.
Assim, entendemos que os alunos foram inseridos em contexto
significativo de produções textuais, abordando o texto na perspectiva
processual, que inclui planejamento, escrita, revisão e edição final
(GERALDI, 2000).
Quanto aos resultados obtidos, em âmbito nacional, o ENEM
2017 teve queda no total de alunos com nota mil na redação, foram 4,72
milhões de redações corrigidas e somente 53 notas máximas. No caso do
IFPA Campus Abaetetuba, em levantamento preliminar entre os alunos
que participaram das oficinas e que realizaram a prova do ENEM,
detectamos que a menor nota foi de 800 pontos e a nota máxima foi 920.
Consideramos o resultado satisfatório a ponto de motivar-nos à realização
das oficinas em caráter de fluxo contínuo.
Após o resultado que será divulgado pelo ENEM-2018, as
redações melhores avaliadas serão expostas no site do IFPA/Campus
Abaetetuba, a fim de que outros alunos possam ler e conhecer o trabalho
realizado e comporão uma coletânea que será organizada no formato e-
book (livro digital), a ser lançado até o final do ano de 2019, com os
resultados das outras interfaces do Oficinas de leitura, interpretação e produção
textual no IFPA-Campus Abaetetuba, que está sendo restruturado pelo
Colegiado de Linguagens do referido campus e será ofertado em outras
dimensões, mas isso é outra história a ser apresentado em outro momento.
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Considerações finais
A partir da reflexão desenvolvida, concluímos que ensinar a
língua portuguesa conforme a abordagem de projetos como práticas de
letramentos em interface com a perspectiva sociointeracionista de
língua(gem) significa experiências produtivas tanto para o professor,
quanto para os alunos. Ao docente, exige-se que o desenvolvimento de
saberes acadêmicos e de práticas atitudinais frente às demandas das
possibilidades dos diversos projetos como práticas de letramento, ou seja,
assumir a abordagem dos projetos como práticas de letramento faz-se
necessário a atitude do professor, que, reconheça o processo de
letramento como necessário e contínuo, que esteja disposto a continuar
aprendendo com seus alunos, conforme as práticas mobilizadoras e que
atendam aos interesses e objetivos individuais e sociais. No caso do
exemplo apresentado neste texto, inferimos que a atitude é essencial ao
processo de formação de leitores e permite uma segurança aos alunos
enquanto sujeitos que escrevem.
Quanto aos alunos, é certo que as leituras e os debates
empreendidos durante a prática de letramento descrita neste texto têm
como objetivo principal o aperfeiçoamento do gênero redação
dissertativo-argumentativa, no entanto, antes de se atingir a plenitude da
produção textual propriamente dita, ressalta-se que a contribuição das
práticas de letramento para a promoção dos convívios mais éticos, sejam
eles amplos ou específicos.
Desta forma, compreendemos plenamente ser relevante a
abordagem do ensino de língua portuguesa sob a perspectiva das práticas
de letramento, principalmente quando consideramos os projetos
relacionados a tais práticas "[...] que desencadeiam ações de leitura e de
escrita. Essas ações viabilizam a análise de ações de leitura e de escrita. [...]
a implicação central do trabalho com projetos de letramento é a
construção identitária do leitor-escrevente-cidadão-leitor-participante”
(OLIVEIRA; TINOCO; SANTOS, 2011, p.48), ou seja, colaboram com
o desenvolvimento de um convívio humanitário e inclusivo, rejeitando,
inclusive, quaisquer práticas de exclusão, de superioridade ou de
inferioridade entre os cidadãos.
141
Vozes da Educação
Referências Bibliográficas
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142
Volume V
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RESUMO
O trabalho aborda a experiência recente de uma Escola Comunitária
Rural, que tem como proposta educativa a Pedagogia da Alternância. A
pesquisa teve como objetivo analisar o Plano de Estudo da EMERFEC
Conjunto Familiar Agostinho Partelli, a pesquisa de abordagem qualitativa
envolveu a pesquisa bibliográfica, documental e pesquisa de campo com
questionário e diário de campo. No conjunto dos dados analisados
constamos que o Plano de Estudo da experiência em curso tem como
objetivo um instrumento que guia toda ação pedagógica dessa escola. Os
resultados alcançados revelam dois desafios vivenciados pelos educadores.
Palavras-chave: Educação do Campo, Pedagogia da Alternância, Plano
de estudo.
ABSTRACT
The paper approaches the recent experience of a Rural Community
School, whose educational proposal is the Pedagogy of Alternation. The
research had the objective of analyzing the EMERFEC Study Plan of the
Family Group Agostinho Partelli, the research of qualitative approach
involved the bibliographical research, documentary and field research with
questionnaire and field diary. In the set of data analyzed, we show that the
Study Plan of the ongoing experiment aims at an instrument that guides
all pedagogical actions of this school. The results achieved reveal two
challenges experienced by educators.
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Introdução
A Educação do Campo emerge a partir da organização e luta dos
movimentos sociais do campo, reivindicando o direito a educação pública
aos trabalhadores, assim como, a implementação de uma política efetiva
de fortalecimento da escola pública de qualidade. Deste modo, a Educação
do Campo pauta a formulação de políticas públicas de combate às
desvantagens educacionais históricas sofridas pelas populações rurais e
valorização da diversidade nas políticas educacionais (SANTOS, 2009).
Entre os aspectos fundamentais para a Educação do Campo, a
educação compreendida como um processo formativo que se desenvolve
na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de
ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações,
compreendendo que a educação forma sujeitos protagonistas de sua
própria história. Esse entendimento de educação se faz presente nas
Diretrizes Operacionais para as Escolas Básicas do Campo.
A identidade da escola do campo é definida pela sua vinculação às
questões inerentes à sua realidade, ancorando-se na temporalidade e
saberes próprios dos estudantes, na memória coletiva que sinaliza
futuros, na rede de ciência e tecnologia disponível na sociedade e nos
movimentos sociais em defesa de projetos que associem as soluções
exigidas por essas questões à qualidade social da vida coletiva no país
(BRASIL, 2002).
Na Educação do Campo, a expressão campo é compreendida
como um lugar de produção de vida, dinâmica própria de trabalho e de
cultura, com possibilidades diversas que dinamizem a ligação dos seres
humanos com a própria produção das condições da existência social e com
as realizações da sociedade humana, considerando que estas questões
estão intrínsecas a situação educacional, por tanto, exigem políticas
próprias e adequadas a esta realidade (KOLLING et al, 2002; CALDART,
2003).
No Movimento da Educação do Campo, a Pedagogia da
Alternância enquanto proposta metodológica e pedagógica tem orientado
os processos formativos dos educandos e sido fundamental para envolver
as famílias na educação dos filhos, contribuir com desenvolvimento da
agricultura familiar camponesa e fortalecer a prática do diálogo entre os
diferentes atores que participam dos processos de formação dos
educandos. No conjunto das experiências, a Pedagogia da Alternância tem
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Metodologia
O referencial teórico-metodológico utilizado neste trabalho
fundamenta-se em: Melo (2013); Gimonet (2007); Brum & Telau (2016);
Silva & Queiroz, (2007); Projeto Político Pedagógico da EMERFEC
Conjunto Familiar Agostinho Partelli (2014); Queiroz, (2011); Rodrigues,
(2008); Nawroski (2012).
A primeira etapa de caráter bibliográfico e documental envolveu
a leitura de documentos da EMERFEC Conjunto Familiar Agostinho
Partelli, com propósito de caracterizar a escola, seus princípios e proposta
pedagógica. Essa etapa envolveu, ainda, a leitura de artigos e livros sobre
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Algumas considerações
Esta pesquisa se propôs, como objetivo analisar o Plano de
Estudo da EMERFEC Conjunto Familiar Agostinho Partelli, de maneira
a identificar as contribuições e desafios deste instrumento pedagógico na
experiência em curso. Ao abordarmos sobre o Plano de Estudo,
identificamos este instrumento guia, ou seja, toda ação pedagógica da
EMERFEC, apresentando assim potencialidades e alguns desafios com
relação aos sujeitos envolvidos no processo de seu desenvolvimento.
Em nossas análises constatamos dois desafios vivenciados pelos
educadores no desenvolvimento do PE: A falta de envolvimento das
famílias no desenvolvimento do PE, interferindo assim na formação dos
filhos. O outro desafio está relacionado ao trabalho coletivo de
educadores, ainda pouco explorado na experiência em curso.
Embora tenhamos identificados desafios, experiência educativa
tem tido muito importante para os educandos dessa escola, sendo uma
experiência única no município.
Vale destacar, que realizar este estudo sobre experiência de
Educação do Campo recente no município de Vila Valério-ES e poder
compreender a importância que esta escola tem para esta região e, ao
mesmo tempo poder contribuir com a educação a partir da realidade
camponesa dos sujeitos envolvido no processo de formação dessa escola
é extremante significativo na minha formação de educadora do campo.
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Francisco ES, 2016.
157
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Volume V
RESUMO
O presente artigo objetiva promover algumas reflexões sobre implicações do
conceito de adolescência, o fracasso escolar, e o papel da escola para a garantia da
alfabetização plena de seus alunos com as interfaces do processo de in/exclusão
social, à luz da perspectiva histórico cultural. O estudo prioriza responder a duas
questões oriundas dos estudos teóricos acerca da temática. São elas: Quais as
implicações da inconclusão do processo de alfabetização para o adolescente? Quais
os incursos desse fenômeno para o processo de in/exclusão social? O constructo
teórico escolhido nos oferece parâmetros para responder essas questões, de modo
a possibilitar reflexões e não conclusões.
ABSTRACT
This article aims to promote some reflections about the implications of the
concept of adolescence, school failure, and the school’s role in guaranteeing the
full literacy of its students with the interfaces of the process of social in/exclusion
in the light of historical cultural perspective. The study prioritizes to answer two
questions from these theoretical studies on the subject, which are: What are the
implications of the not concluding the literacy process for the adolescent? What
are the consequences of this phenomenon for the process of social
exclusion/exclusion? The chosen theoretical construct offers us parameters to
answer these questions, in order to allow reflections and not conclusions.
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Introdução
O trabalho objetiva promover algumas reflexões sobre as
implicações do conceito de adolescência, o fracasso escolar, o papel da
escola para a garantia do sucesso da alfabetização de seus alunos com as
interfaces do processo de in/exclusão social, à luz da perspectiva
histórico-cultural.
Com base nas contribuições de Coimbra (2005) e Bock (2004), o
conceito de desenvolvimento, adolescência tem sido amplamente
discutido. Nas últimas décadas, os resultados apontados pelas avaliações
externas como, por exemplo, os apresentados pelo INAF no ano de 2012,
em seus diversos aspectos, conferem ao quadro da alfabetização poucos
avanços no que diz respeito ao processo de qualidade desenvolvido em
sala de aula. Esse aspecto tem demandado inúmeras pesquisas na esfera
acadêmica, uma vez que as fragilidades do processo ecoam no fracasso
escolar – ainda muito presente na contemporaneidade – daqueles que não
conseguem atingir a alfabetização com êxito, em sua maioria, adolescentes.
Contudo, há que se traçar um caminho à luz da teoria escolhida, para então
concentrar esforços a fim de responder as questões que dão origem ao
trabalho desenvolvido. Tendo como base que a educação é um direto de
todos e instituído nacionalmente pelo Plano Nacional da Educação
(PNE), o texto está organizado em 3 subitens, são eles: desenvolvimento;
adolescência e a alfabetização. Para tanto, as discussões propostas nesse
estudo têm como premissa responder a duas questões: Quais as
implicações da inconclusão do processo de alfabetização para o
adolescente? Quais os incursos desse fenômeno para o processo de
in/exclusão social?
O construto teórico escolhido nos oferece parâmetros para
responder essas questões, de modo a possibilitar reflexões e não
conclusões. Busca-se, nesse trabalho, discutir a compreensão do conceito
de adolescência que, em linhas gerais, é apresentado por algumas teorias
como estágio linear do desenvolvimento humano. Além disso, o estudo
consiste em aclarar as relações de objetividade da educação escolar e a
subjetividade do sujeito, no que tange ao conceito de alfabetização que,
quando discutido por outras abordagens teóricas que não essa, defendem
uma hegemonia no processo, culpabilizando o sujeito e jamais o sistema.
À guisa de conclusão, o estudo versa sobre as influências desses aspectos
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A questão do desenvolvimento
Algumas teorias da psicologia tendem a naturalizar o
desenvolvimento do ser humano prescindindo das relações sociais e
culturais. Esse artigo pretende enveredar pelos pressupostos teóricos da
psicologia histórico-cultural que contrapõe a ideia de um desenvolvimento
espontâneo e linear.
Os psicólogos, ao falarem sobre o fenômeno psicológico,
apresentam-no como se estivesse dado no ser humano tal fenômeno.
Como se fosse da natureza humana, do qual somos dotados desde
que nascemos. Não há qualquer preocupação em explicar a gênese do
psiquismo humano, pois este é tomado como algo natural. É
impressionante o desinteresse dos psicólogos, apresentado no estudo,
pelas relações sociais, pelas formas de produção da sobrevivência ou
pela cultura (BOCK, 2004).
Vale dizer que a opção teórica assumida que baliza esse estudo
tem sua origem na concepção metodológica e epistemológica marxiana
conjecturada na lógica dialética, uma vez que Karl Marx, segundo Leontiev
(1978) é o preconizador do socialismo científico, o primeiro a fornecer um
legado teórico que analisa criticamente a natureza social do homem e do
seu desenvolvimento sócio-histórico.
Assim, tal pressuposto entende que o processo de humanização,
ou seja, o desenvolvimento humano está diretamente ligado ao
desenvolvimento da cultura e sociedade. Essa conexão só é possível por
meio das relações que excedam a cultura material para transpor aos bens
culturais e sociais, cambiadas pelos sujeitos com outros sujeitos da mesma
espécie. Segundo a concepção metodológica marxiana:
[...] concepção que compreende a realidade no movimento gerado por
contradições no espírito da lógica dialética, em que o ser humano se
desenvolve e se constitui no interior das relações sociais de produção.
O ser humano, nesse sentido, é síntese das relações sociais na medida
em que tais relações são objetivas e se expressam na subjetividade dos
indivíduos (SACCOMANI, 2014, p. 46).
Com base nesse excerto nota-se que as interfaces do ser humano
são oriundas de um processo subjetivo, engendrados pelas experiências
adquiridas ao longo de toda trajetória humanizadora que culmina em
processos de múltiplas determinações. Isso significa que, para o ser
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Vozes da Educação
O conceito de adolescência
A questão que se coloca agora para prosseguirmos com essa
discussão visa esclarecer em que medida a compreensão do processo de
desenvolvimento humano pode interferir no entendimento para o
conceito de adolescência?
O estudo até aqui teve como premissa discutir as questões
relacionadas ao desenvolvimento humano, não de modo concluinte, mas
com destaques mínimos para a evolução humana, sem desconsiderar a
importância do aparato biológico e reiterando a importância das relações
tipicamente humanas resultantes de atividades conscientes.
Assim, sabendo que o desenvolvimento não decorre de situações
espontâneas, a adolescência, nessa perspectiva teórica, não deve ser vista
como processo natural do ser humano. Para ilustrar essa ideia, é
importante situarmos o contexto dessa discussão com a seguinte
prerrogativa: qual o entendimento do conceito de adolescência na
contemporaneidade?
Na contemporaneidade, a figura do adolescente costuma remeter a
uma tendência ditada pelos teens estadunidenses – modelo de todo um
estilo de vida a ser consumido pelo restante do mundo -, tendência
essa presente em anúncios, conversas e notícias. Isto instaura uma
determinada forma de adolescente como a única reconhecida, a qual
conta com o apoio de algumas práticas da própria psicologia – ainda
hoje hegemônicas – na propagação e fortalecimento de tal modelo
(COIMBRA et al., 2005, p. 4).
Diante dessas palavras, nota-se que o conceito de adolescente
vem sendo abordado de forma generalizada pelo sujeito contemporâneo
e tal definição tem sido sustentada por teorias psicológicas hegemônicas.
A difusão midiática dessa ideia tem acarretado prejuízos, pois, de modo
equivocado, identifica a adolescência como um processo natural,
instaurado especificamente num período conturbado e que todas as
crianças devem passar. Os danos causados por esse entendimento
convergem numa busca desenfreada para amenizar os conflitos gerados
desse tal “período”, pois diante de um conjunto de características próprias
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Volume V
de adolescente ideal, aquele que não se enquadra nesse perfil ditado, fica à
margem desse modelo.
Nessa visão hegemônica, o conceito de adolescência toma
grandes proporções biológicas e psicológicas, conforme destacado por
Coimbra (2005, p. 04):
Práticas baseadas nos conhecimentos da medicina e da biologia, em
especial, vêm afirmando, por exemplo, que determinadas mudanças
hormonais, glandulares, corporais e físicas pertencentes a essa fase
seriam responsáveis por algumas características psicológico-
existenciais próprias do adolescente. Tais características passam a ser
percebidas como essência, em que “qualidades” e “defeitos” como
rebeldia, desinteresse, crise, instabilidade afetiva, descontentamento,
melancolia, agressividade, impulsividade, entusiasmo, timidez e
introspecção passam a ser sinônimos do ser adolescente, constituindo
uma identidade adolescente.
Ao contrário dessa visão hegemônica, advogamos a superação
dessas práticas muito presentes na contemporaneidade e que vem
norteando leis e políticas públicas objetivando garantir a “inclusão”
daqueles que se encontram “fora” dos padrões instituídos como ideais.
Assim, o enfoque dado a questão da adolescência nesse estudo requer
desvelar a concepção de desenvolvimento cristalizada nos discursos, nas
práticas e difundida culturalmente.
Para Coimbra et. al (2005), a forma como a teoria hegemônica
psicológica expressa o entendimento do conceito de adolescência
manifesta interesses próprios, isto é:
[...] servem aos propósitos dominantes de homogeneização e
imobilização, reificando determinadas práticas e relações presentes na
atual sociedade de controle globalizado. Os meios de comunicação de
massas, por exemplo, estão entre os equipamentos sociais mais
poderosos para difundir e reforçar a ideia de adolescência,
oferecendo-a como produto a ser consumido, necessariamente, para
se ingressar no mundo dos bem-sucedidos e dos que têm valor, tanto
material como simbolicamente (COIMBRA, 2005, p. 7).
Em práticas de entendimento sobre o desenvolvimento humano
como o esboçado acima, predomina o interesse de controle sobre o
sujeito. Essa constatação leva-nos ao entendimento de que a obtenção
desse controle sobre o adolescente pode evitar alguns aborrecimentos,
reprimir crises de rebeldia, agressividades. Em outras palavras, contribui
com a inibição dos sintomas típicos dessa “fase”. Ao afirmar que a
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Considerações finais
A guisa de não conclusão, o objetivo desse texto é depreender
algumas reflexões sobre a adolescência, o fracasso escolar e os processos
de alfabetização realizados no interior das instituições escolares, à luz da
psicologia histórico-cultural.
Portanto, coube imprimir em breves linhas as contribuições
oriundas dos autores supracitados. De fato, os destaques realizados para
quaisquer tópicos discutidos requerem um aprofundamento, que pretendo
em outras oportunidades desenvolver. No entanto, como já descrito nos
tópicos que organizam esse texto, a condição humana não está dada: a
criança, ao nascer, dispõe de atributos biológicos necessários para sua
condição humana, porém, não suficientes para o processo de
humanização. Humanizar-se dentro da perspectiva teórica defendida
constitui-se de condições objetivas de educação. O conceito de
adolescente dentro desse contexto, não deve ser entendido como parte de
um processo natural de desenvolvimento. Ao contrário disso, cabe a
educação escolar atender as necessidades educacionais do adolescente, de
172
Volume V
Referências bibliográficas
BRASIL. INAF 2012. Indicador de Alfabetismo Funcional Principais
Resultados. Disponível em:
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173f. Dissertação (Mestrado em Psicologia) - Universidade Estadual de
Maringá, Maringá, 2009.
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Vozes da Educação
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Volume V
RESUMO
O presente artigo traz uma reflexão sobre a educação inclusiva e a inclusão
de pessoas com deficiência na escola regular tomando por base a
necessidade do Atendimento Educacional Especializado e os entraves
para a sua promoção. Tendo em vista os obstáculos para a concretização
desta inclusão, sugere-se uma articulação intersetorial capaz de conjugar
políticas públicas de acesso aos direitos civis e sociais conquistados na
Constituição de 1988 e reforçados na Lei nº 13.146/2015 – Lei Brasileira
de Inclusão da Pessoa com Deficiência.
Palavras-chave: Inclusão. Atendimento Educacional Especializado.
Intersetorialidade.
ABSTRACT
This article presents a reflection on inclusive education and the inclusion
of people with disabilities in the regular school based on the need for the
Specialized Educational Assistance and the obstacles to its promotion. In
view of the obstacles to the achievement of this inclusion, it is suggested
an intersectoral articulation capable of combining public policies for
access to civil and social rights won in the 1988 Constitution and
reinforced in Law 13,146 / 2015 - Brazilian Law on the Inclusion of
Persons with Deficiency.
Keywords: Inclusion. Specialized Educational Assistance.
Intersectoriality.
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Vozes da Educação
Introdução
A Educação Inclusiva é compreendida como o processo de
inclusão das pessoas com deficiência ou de distúrbios de aprendizagem na
rede regular de ensino em todos os seus segmentos. Neste estudo,
apresentamos a importância do atendimento educacional especializado
como recurso educacional indispensável nesta proposta inclusiva.
Para que esta prática seja possível, faz-se necessário apresentar
propostas pedagógicas que envolvam a família e a sociedade no
desenvolvimento de atividades que possibilitem ao aluno com deficiência
uma autonomia e independência (dentro dos seus limites) em relação aos
outros indivíduos. Isto quer dizer, aquisição da leitura, da escrita, do
cálculo e demais conteúdos escolares, bem como de todos os
conhecimentos acessíveis a sua condição cognitiva. Segundo MANTOAN
(1997), “cabe à escola encontrar respostas educativas para as necessidades
de seus alunos”.
Neste trabalho enfatizaremos a alfabetização de crianças com
deficiência intelectual a partir do Atendimento Educacional Especializado
(AEE), sem o compromisso de sistematizar noções de: leitura, escrita e
quantificação.
Perceberemos ao longo do trabalho que o convívio com outras
crianças não deficientes, num ambiente sócio educacional inclusivo, torna-
se uma condição primordial para facilitar a aprendizagem e o
desenvolvimento da criança com deficiência intelectual, através de ações
estrategicamente planejadas e da compreensão do processo de
aprendizagem e do seu desenvolvimento.
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Considerações finais
A Lei nº 13.146/2015 também conhecida por “Lei da Inclusão”
deve ser considerada um avanço no processo de conquista de direitos da
pessoa com deficiência na sociedade, mesmo tendo em vista, o que
preconiza a Constituição Federal de 1988 sobre a igualdade de todos
perante a Lei. Muitos direitos passam a ser direcionados com esta
legislação para fortalecer a verdadeira inclusão embora, faz-se necessário
que a sociedade compreenda esta legislação e comece a praticar a inclusão
por uma questão de direito e não de compaixão.
A educação inclusiva é a forma mais indicada para os alunos que
demonstrem deficiência(s) em várias escalas e/ou qualificações. Este tipo
de educação também é indicado como o caminho eficaz para a construção
da cidadania e da participação social na perspectiva: Brasil, um país de
todos. Werneck (1997, p.42) afirma que “[...] a inclusão vem quebrar barreiras
cristalizadas em torno de grupos estigmatizados”. Assim, a inclusão de pessoas
com deficiência na rede regular de ensino, reflete o primeiro indicativo de
inclusão social-cidadã, na qual devem ser observadas as medidas
pedagógicas capazes de garantir o acesso à aprendizagem e ao
conhecimento no cotidiano escolar bem como toda a rede que venha a
garantir a saúde e assistência social ao estudante.
A escola deve eximir-se de sua condição burocrática (cumpridora
de normas estabelecidas), para poder tornar-se um espaço inclusivo,
compromissada com as minorias, pois, desta forma ela se transformará
num espaço de decisão em consonância com o contexto mundial
(globalização) e seus desafios. Por esta vertente, o que realmente
precisamos é de uma escola que não tenha medo de arriscar, seja corajosa
em questionar as normas vigentes e busque rumos inovadores que
atendam às necessidades de inclusão em conformidade com a legislação
vigente e problematizando novas legislações que garantam os direitos
sociais das pessoas da sociedade.
No que se refere à escola é interessante enfatizar um tema sempre
abordado nos debates educacionais: o fracasso escolar. Na verdade, isto
ocorre em função de vários aspectos: econômicos, culturais, sociais,
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Vozes da Educação
psicológicos entre outros. Este tipo de fracasso é mais visível nas classes
de baixa renda que, diariamente, depara-se com obstáculos (às vezes
intransponíveis) no cotidiano escolar, provenientes de sua comprometida
condição social. Nesta composição, a postura escolar, diferenciada da
realidade infantil, contribui para o fracasso escolar que eleva ou
desenvolve uma autoestima negativa, confirmando a situação de miséria
que muitas vezes lhe é imposta pela sociedade.
Rego (1995) apresenta o capitalismo como um modo de
produção excludente, principalmente quando aplicado em sociedades
periféricas, àquelas que foram colônias de exploração no período
mercantilista. Neste argumento, apresenta-se a íntima ligação entre política
e educação que claramente exibe o antagonismo das classes sociais e, para
ilustrar, menciona-se o Brasil onde, segundo o IBGE/2002, tinha
aproximadamente 60 milhões de miseráveis (pessoas que vivem abaixo da
linha da pobreza). Então, como se dá um processo de inclusão escolar
com esta clientela que já se encontra condenada à exclusão social mesmo
antes de nascer? Esta é a primeira barreira vital que estas classes devem
transpor.
Para exemplificar um caso de fracasso escolar, quando
analisamos os aspectos psicológicos de uma criança com deficiência
intelectual: faz-se necessário lembrar que o seu desenvolvimento cognitivo
não conseguirá atingir o último estágio proposto por Jean Piaget da
estruturação cognitiva, o operatório formal. Isto é, ela fica estagnada no
operatório concreto que condiciona seu conhecimento de mundo à
dependência do apoio de objetos, suas vivências e das representações
mentais dos mesmos. Para tentar sanar este problema é preciso apresentar
propostas pedagógicas que envolvam a família e a sociedade no
desenvolvimento de atividades que enquadrem coerentemente a criança
com deficiência no aprendizado e no exercício de comportamentos e
condutas mais adequadas com as rotinas sociais de sua comunidade. Na
verdade, estas propostas pedagógicas e os objetivos escolares
(educacionais) devem possibilitar ao aluno deficiente uma autonomia e
independência (dentro dos seus limites) em relação aos outros indivíduos;
para esta efetivação de direitos são necessários recursos financeiros
capazes de atender às demandas necessárias ao processo de inclusão.
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educação de qualidade para todos e por uma escola pública que satisfaça
as necessidades educacionais de todas as crianças.
Referências bibliográficas
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MEC/SEESP. Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da
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Vozes da Educação
RESUMO
Este capítulo trata da relação do ensino de ciências com o exercício da cidadania.
Ele está dividido em três partes. A primeira traz um apanhado sobre a concepção
do significado da cidadania. A segunda contempla uma reflexão sobre o papel do
ensino de ciências na preparação dos educandos para o exercício da cidadania. A
terceira apresenta um recorte da pesquisa de Mestrado em Educação na
UNOCHAPECÓ. Ela ocorre em sala de aula, na EEB Tancredo Neves, em
Chapecó/SC, no segundo semestre do ano de 2017, com 4 turmas, do 1º ao 3º
ano, do Ensino Médio Inovador, envolvendo 68 alunos e 3 professores de
Química.
Palavras-chave: Ensino de ciências. Cidadania. Química.
ABSTRACT
This chapter deals with the relationship between science teaching and the exercise
of citizenship. It is divided into three parts. The first brings a collection about the
conception of the meaning of citizenship. The second contemplates a reflection
on the role of science education in the preparation of students for the exercise of
citizenship. The third presents a cut of the research of Master in Education in
UNOCHAPECÓ. It occurs in the classroom, in EEB Tancredo Neves, in
Chapecó / SC, in the second half of 2017, with 4 classes, from 1st to 3rd year, of
Innovative High School, involving 68 students and 3 professors of Chemistry.
Keywords: Science teaching. Citizenship. Chemistry.
pela Universidade Federal de Santa Catarina. Professora Titular do Centro de Ciências Humanas e
Jurídicas da Universidade Comunitária da Região de Chapecó – UNOCHAPECÓ.
ridanc.nadir@gmail.com
44Doutorando pela Universidade Federal de Santa Maria – UFSM, no Programa de Pós Graduação em
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Introdução
Em tempos de retrocesso nos direitos civis e humanos, com um
governo federal ilegítimo e sem comprometimento com a Nação,
vivenciamos uma retomada de situações de tolhimento da liberdade de
aprender e ensinar, com ameaças e ações contra instituições de ensino,
como ocorre nas reações do MEC e do Ministério Público Federal contra
universidades públicas, em suas prerrogativas da autonomia
constitucional. Também a violência é diuturnamente banalizada, como se
ela fosse produzida pelos pobres, negros e diferentes, sendo tratada
meramente com a militarização das ações policiais. A cambaleante
democracia é corroída pela corrupção, pela judicialização da política e pela
inoperância do Estado. Diante de tudo isso, falar em cidadania é
desafiador, mas não é motivo para o silêncio de quem se indigna com a
situação.
No entanto, é a partir das discussões envolvendo a liberdade de
expressão, a autonomia educacional que será possível indicar reações à
ressaca democrática e ética por que passa o país. Mesmo com todas as
pressões sofridas pelos que denunciam as injustiças, com ameaças, ações
violentas e mortes, há reações a esse conjunto de situações no meio social
democrático, no educacional e no acadêmico.
Esse artigo vem ao encontro das aspirações da construção de
uma proposta pedagógica comprometida com os que defendem a
pluralidade e autonomia das unidades escolares e demais instituições de
ensino. Nesse olhar, a intenção é demonstrar o quanto o Ensino de
Ciências tem caminhado nos rumos da construção de uma proposta
educacional que tenha como meta o exercício da cidadania.
O texto está estruturado em três momentos. O primeiro
apresenta um apanhado sobre a o significado da cidadania. A segunda
secção contempla as sinalizações que o ensino de Ciências tem dado na
direção de tornar-se mais um instrumento de preparação dos educandos
para o exercício da cidadania, contribuindo na formação integral dos
mesmos. O terceiro momento compartilha e problematiza uma atividade
realizada em sala de aula, no ensino de Química, que a partir da realidade
dos alunos, insere discussões para despertar saberes, nos mesmos, que
possibilitam a incorporação de conceitos teóricos contribuindo para uma
formação de qualidade que lhe permita o exercício da cidadania.
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mas diversos estudos e pesquisas, com esse olhar podem ser identificados
no momento:
Preparar o cidadão para pensar sobre questões que permitem várias
respostas – muitas vezes conflitantes – demanda que ele seja
alfabetizado em ciências. Considerando que, de um lado, há um
crescimento marcadamente amplo da ciência e da tecnologia e, de
outro, situações que agravam a miséria, a degradação ambiental e os
conflitos étnicos, sociais e políticos, é preciso que os cidadãos estejam
em condições de usar seus conhecimentos para fundamentar suas
posições e ações (KRASILCHIK e MARANDINO, 2007, p. 40).
As condições para que esse aprendizado aconteça depende de
várias situações, como os saberes já dominados pelos alunos, o
comprometimento dos professores, uma proposta teórico/metodológica
adequada e um currículo estruturado que permita reflexões sobre os temas
relacionados com a cidadania.
Portanto, o ensino de Ciências, a partir de suas peculiaridades,
como: a compreensão dos fenômenos químicos; como e quando ocorrem;
as implicações dos fenômenos químicos com a natureza; o domínio de
processos metodológicos que permitem comparativos entre o natural e o
artificial e outros. Enfim, é importante que a aprendizagem esteja
permeada de significados, contribuindo com melhorias na vida do
estudante.
Segundo Marco Antonio Moreira (2008, p. 24): “[...] a
aprendizagem significativa ocorre quando novos conceitos, ideias,
proposições interagem com outros conhecimentos relevantes e inclusivos,
claros e disponíveis na estrutura cognitiva, sendo por eles assimilados,
contribuindo para sua diferenciação, elaboração e estabilidade.” (grifo no
original)
As considerações do autor reforçam a importância de valorizar o
potencial do aluno na aprendizagem, por isso, para concretizar essa
possibilidade a proposta educacional carece de um planejamento coletivo,
participativo e democrático, pois, segundo Costa (2016, p. 3): “Isso nos
leva a refletir que a base de uma aprendizagem que seja significativa não
pode ser a imposição, a arbitrariedade ou a causalidade e nem ser carente
de sentido para o sujeito que aprende.” No caso da Química, e das demais
ciências naturais e exatas, é preciso que a aprendizagem seja significativa:
O que queremos dizer é que a Química no Ensino Médio não pode
ser ensinada como um fim em si mesmo, senão estaremos fugindo do
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A organização da atividade
Partindo do convencimento de que é preciso aproximar o ensino
de Química dos problemas vivenciados pelos alunos e, ao mesmo tempo,
aproveitar o potencial cultural dos alunos e os saberes por eles dominados,
foi definida a realização da atividade. Após essa definição, foi estabelecido
contato com a unidade escolar através dos gestores, para discussão da
proposta, após ser aceita, foram contatados os professores que ministram
o componente curricular de Química, no Ensino Médio Inovador, para
discussão da proposta e colher sugestões.
O contanto com os dois professores que atuam no componente
de Química na escola foi animador, com a pronta aceitação da proposta.
Com a adesão dos professores foram selecionadas as turmas nas quais os
conteúdos programáticos do componente curricular tinham maiores
relações com a proposta, na qual constava como tema um grupo de
produtos derivados de carne, da agroindústria local.
A proposta foi construída em conjunto com os professores de
Química, das turmas do Ensino Médio Inovador, previamente
selecionadas. No momento seguinte ela foi apresentada aos alunos, na
busca da adesão dos mesmos ao seu desenvolvimento. A receptividade foi
boa, sendo que todos os alunos, das turmas aceitaram participar.
As atividades foram aplicas em cinco aulas, sendo realizadas
discussões para compreender a composição química dos produtos
selecionados, bem como dimensionar as quantificações nas respectivas
unidades representativas de cada um deles. Além dessa reflexão sobre a
composição química, também foi abordada a questão da cadeia produtiva,
da industrialização e do consumo dos produtos a serem analisados. Foram
realizadas pesquisas individuais e em grupos com alunos.
Entre as tarefas dos alunos, uma delas era trazer embalagens dos
produtos para a análise da composição química dos mesmos. A partir das
embalagens foram realizados exercícios para compreender o papel dos
produtos químicos presente nos alimentos, estabelecendo os vínculos
entre a composição e o conteúdo de Química.
Os alunos também tiveram a oportunidade de apresentar os
resultados de suas pesquisas bibliográficas e de diálogo com a família sobre
os alimentos derivados de carne e as relações com a indústria.
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que a forma como são produzidos os animais que servem de matéria prima
para a agroindústria representa uma escravidão biológica, pois esses
animais deixam a condição de seres vivos, para serem transformados em
produto para a industrialização.
Portanto, estamos diante da escravidão biológica, pois os
animais, além de utilizados como “matéria prima” têm a sua carga genética
completamente modificada, para serem transformados em seres vivos sem
condições de expressar os seus sinais vitais, tendo em vista a forma como
são confinados, nos aviários, nas pocilgas ou nos galpões de engorda do
gado bovino.
Sobre esta visão observa-se a consideração de Vandana Shiva
(2001, p. 56): “Quando os organismos são tratados como se fossem
máquinas, ocorre o deslocamento ético – a vida passa a ser considerada
como tendo um valor instrumental e não um valor intríseco.”
A respeito da escravidão na cadeia produtiva, ela começa com a
produção da matéria prima, quando os agricultores integrados são
expostos a condições degradantes na manutenção do aviário. Como o
ambiente é totalmente fechado, há emissão constante de gases tóxicos e
de poeira que vai impregnando o sistema respiratório de quem trabalha
nesses locais, com perigo a saúde.
Isso não é muito diferente na engorda dos suínos, pois o sistema
de produção também é fechado. No confinamento de bovinos, apesar de
menos agressivos para quem trabalha, em virtude de os animais possuírem
maior resistência, as situações são parecidas.
Apenas para situar a discussão alguns dados oficiais. De acordo
com Pignati (2012), a produção pecuária brasileira cresceu muito, como se
demonstra (milhões de animais), em 2002 era de 185,3 de bovinos; 31,9
de suínos e 703,7 de galinhas. Sendo que em 2011 eram 213,7 de bovinos;
39,7 de suínos e de galinhas 1048,7.
Ainda, segundo Pignati (2012), na proporção que aumenta a
produção de commodities e de animais, cresce o consumo de agrotóxicos e
fertilizantes químicos nas lavouras do Brasil, (milhões de litros),
agrotóxicos 599,5 para 852,8, em 2011. Isso significa um crescimento de
quase dois litros por hectare, passando de 10,5 L/hectare para 12
L/hectare. Já o consumo de fertilizantes químicos nas lavouras do Brasil
(milhões Kg), em 2002 era de 4.910 em 2011, passou para 6.743. No
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dos alimentos. Também servem para fixar a cor, e dar sabor e aroma a
estes produtos curados. No entanto, o uso contínuo dos mesmos pode
oferecer prejuízos à saúde humana.
De acordo com os autores, os efeitos adversos do uso dos
produtos químicos presentes neste tipo de alimentação são representados
principalmente pela metamioglobina tóxica e pela formação de
nitrosaminas. Porém, não se descarta a possibilidade de potencializar
outras doenças, inclusive o câncer:
Seu uso é discutível dada à possibilidade de originar compostos
nitrosos de ação carcinogênica. A toxicidade de nitratos e nitritos está
relacionada a vários fatores além do tipo de matriz alimentar ingerida:
estilo de vida, exposição ambiental, idade, grau de nutrição e estado
de saúde e a quantidade e frequência ingerida de matrizes alimentares
que possuem estes compostos ao contrário de grandes e espaçadas
doses única (IAMARINO e outros, 2015, p. 248).
Após o desenvolvimento da atividade, na qual foram pontuados
todos os elementos discutidos neste texto, foi destinada uma aula para a
roda de conversa com os alunos, que abordaram as impressões sobre
aspectos da sua formação para a cidadania, como: o domínio dos
conteúdos da Química; a identificação da composição dos produtos
industrializados; a compreensão dos processos de industrialização; as
relações comerciais dos produtores da matéria-prima; as relações
trabalhistas com a empresa; as consequências das relações de trabalho; e a
organização social decorrente do conjunto de relações com a indústria.
Os estudantes foram estimulados a se manifestarem acerca da
compreensão a respeito da relação dessas reflexões, a partir da atividade
desenvolvida, com a cidadania. Alguns demonstraram perceber o quanto
ainda é preciso avançar para que seja possível o exercício da cidadania, seja
na condição de alunos ou de pessoas – agricultores integrados e
trabalhadores – que mantêm vínculo com a agroindústria, sem esquecer
os consumidores que sofrem os efeitos da industrialização, principalmente
na saúde.
Estes aspectos pontuados demonstram a realidade sobre o tema
em discussão, que tem a pretensão de problematizar a discussão dos
conteúdos de Química em sala de aula e com isso oferecer as condições
necessárias para que os alunos tenham instrumentos de apoderamento de
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Considerações finais
A visão sobre o ensino de ciências, atualmente, está ligada com
uma perspectiva expansiva de sua abrangência, especialmente nos
aspectos relacionados com o exercício da cidadania, isso se deve a
compreensão da importância dessa modalidade de ensino para o
entendimento das influências da ciência e da tecnologia na vida das
pessoas. Também são analisados os reflexos do desenvolvimento
científico e tecnológico no exercício da cidadania.
Essa possibilidade de o ensino de Química, como é o presente
caso, estabelecer reflexões sobre a cidadania e seu exercício pelos alunos
depende de uma proposta metodológica que seja capaz de permitir que os
alunos assimilem com maior rapidez e facilidade os conteúdos e a partir
da compreensão dos mesmos sejam capazes de estabelecer relações com
o seu cotidiano pessoal, familiar e social.
A atividade desenvolvida com os alunos foi suficiente para
atender aos objetivos propostos de motivar a melhoria na aprendizagem
do conteúdo de Química, realizando reflexões de como esses conteúdos
estão presentes no dia a dia e interferem na negação ou aquisição de
direitos, portanto, no exercício da cidadania.
As reflexões sobre a cadeia produtiva, a relação com a qualidade
dos alimentos produzidos, desde o princípio na produção da matéria
prima ou no processo de industrialização demonstrando as implicações do
consumo destes produtos na saúde humana é um indicativo da
importância que o tema desperta entre os alunos e dever ser ampliado o
seu debate, permitindo que o empoderamento dos alunos dos
conhecimentos inerentes a toda a produção agropecuária, bem como, das
implicações do processo com os conteúdos escolares, nesse caso,
especialmente da Química.
Considerando estas situações descritas é possível compreender a
importância de estabelecer relações entre o que ocorre no sistema
produtivo do município com os conteúdos escolares, pois estas reflexões
permitem que os alunos estejam se preparando para o exercício da
213
Vozes da Educação
Referências bibliográfica
ARAÚJO, Abelardo Bento. SILVA, Maria Aparecida da. Ciência,
Tecnologia e Sociedade; Trabalho e Educação: possibilidades de
integração no currículo da educação profissional tecnológica. Rev. Ensaio,
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CARVALHO, Dione Lucchesi de. Metodologia do Ensino da
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CHASSOT, Attico. Alfabetização científica: questões e desafios para a
educação. 2 ed. Ijuí: Ed. UNIJUÍ, 2001.
COSTA, Ângelo Gustavo Mendes. Unidade de ensino potencialmente
significativa (ueps): uma experiência no ensino de função. XII Encontro
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Volume V
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RESUMO
O presente texto, de cunho bibliográfico, analisa a relação existente entre a
educação e o conceito de cidadania em obras representativas de Paulo Freire e
Dermeval Saviani, a fim de problematizá-la sob a ótica de Hannah Arendt. Para
que este propósito seja alcançado definiu-se três objetivos específicos: I) Analisar
a relação entre a educação e cidadania em Paulo Freire; II) Analisar a relação que
se estabelece entre a educação e cidadania em Dermeval Saviani; III) Analisar e
problematizar a relação entre educação e cidadania à luz das reflexões de Hannah
Arendt. Nessa direção, pode-se concluir que o projeto de Freire e Saviani de
“formar cidadãos”, não parece adequado, pois apostar que isso possa ser garantido
nos limites de um processo educativo, pode ser excessivo e mesmo não desejável.
Logo, sendo a cidadania uma dimensão do agir político, transportar isso para a
esfera educacional é “arrancar”, de certo modo, a oportunidade do novo e
imprevisível em cada aluno, como se fosse possível e desejável antecipar as
possibilidades de deliberação dos futuros cidadãos.
ABSTRACT
This bibliographical text analyzes the relationship between education and the
concept of citizenship in the works of Paulo Freire and Dermeval Saviani in order
to problematize it from the perspective of Hannah Arendt. For this purpose to be
achieved, three specific objectives were defined: I) To analyze the relationship
between education and citizenship present in Paulo Freire's works; II) Analyze the
relationship between education and citizenship in the works of Dermeval Saviani;
III) Analyze and problematize the relationship between education and citizenship
46Doutorando em Educação nas Ciências (Unijuí), Mestre em Educação nas Ciências (Unijuí),
Especialista em Metodologia de Ensino de História (Uniasselvi), Licenciado em História e
Sociologia (Uniasselvi). Bolsista CAPES. E-mail: jenerton.xitz@hotmail.com
47Doutor em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Professor da
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Vozes da Educação
Notas Introdutórias
Nunca antes na História brasileira se falou tanto em cidadania
como nas últimas décadas. O termo “cidadania” remete, em sua gênese, à
experiência democrática grega (mais precisamente em Atenas), na qual o
homem pode encontrar a sua emancipação nas cidades-Estado48, pois a
condução dos assuntos públicos estava alicerçada na participação política
dos cidadãos. Apesar de não existir uma essência única imanente ao
conceito de cidadania, observa-se que a participação e a ação para criar o
seu próprio destino são ideias inerentes ao conceito. Como, porém, ela se
articula com o âmbito educacional?
Embora possamos reconhecer traços comuns no enfrentamento
deste tema, julgamos incontornável a referência ao contexto no qual ela se
dá. Em nosso caso, o Brasil. A História brasileira é marcada por
escravidão, elitismo, exclusão, corrupção, ditadura e, durante os anos 70 e
80, no espírito da abertura que se anuncia, a cidadania também virou foco
de diferentes instâncias sociais, como: partidos políticos, sindicatos,
setores das igrejas, meios de comunicação e movimentos sociais.
Não obstante, “viralizou”, para usar um termo contemporâneo,
com o processo de redemocratização da sociedade brasileira, em uma
espécie de compensação ao período da ditadura – no qual, com o
48O termo “não se refere ao que hoje entendemos por ‘cidade’, mas a um território agrícola
composto por uma ou mais planícies camponesas [...] de modo geral podemos dizer que as
cidades-Estado formavam associações de proprietários privados de terra [...] os conflitos internos
[eram intensos e crescentes] não podiam ser resolvidos no âmbito das relações de linhagem [...]
tinham que ser resolvidos comunitariamente, por mecanismos políticos, abertos ao conjunto dos
proprietários.” (GUARINELLO, 2003, p. 32). Reside aqui, a origem mais remota da política, como
instrumento de decisões coletivas e de resolução de conflitos.
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49“Minha presença de professor, que não pode passar despercebida dos alunos na classe e na
escola, é uma presença em si política.” (FREIRE, 2013a, p. 96).
50Em: Algumas notas sobre humanização e suas implicações pedagógicas, Freire (2003a, p. 79)
afirma que “o conhecimento é um processo que implica na ação reflexão do homem sobre o
mundo”, ou seja, o conhecimento, é sempre um processo, uma unidade entre ação e reflexão
sobre o real.
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51Em um artigo intitulado Escola e democracia ou a teoria da curvatura da vara, Saviani (2013, p.
23) afirma que: “Quando mais se falou em democracia no interior da escola, menos democrática
foi a escola; e de como, quando menos se falou em democracia, mais a escola esteve articulada
com a construção de uma ordem democrática.”
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Libâneo (2012) considera que a escola que sobrou para os pobres prioriza as aprendizagens
52
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53Partindo do mesmo referencial, Frigotto afirma que a escola “[...] enquanto desenvolve condições
sociais e políticas que articulam os interesses hegemônicos das classes é, então, um local de luta
e disputa. A questão da escola, na sociedade capitalista, é fundamentalmente uma questão de
luta pelo saber e da articulação desse saber com os interesses de classe.” (FRIGOTTO, 1984, p.
161, grifo nosso).
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54Em um artigo dedicado a Dermeval Saviani, Batista e Lima (2013, p. 211) consideram que o
clássico para Saviani “existe para transpor o conceito de antigo e de moderno, contrapõe-se à
ideia de que o novo sobrepõe-se ao antigo, ou vice versa, pois não é algo que está evoluindo,
pode ser acrescentado, mas não diminuído por tempo.”
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55Paulo Freire e Dermeval Saviani desenvolvem boa parte de suas ideias em oposição à ditadura,
em meio à repressão, censura e controle constantes, algo que seguramente interferiu na
radicalização de suas posições.
56Virada linguística ou ainda, giro linguístico (espanhol), serve para remeter a diferentes teorias
que giram em torno da hipótese básica de centrar o objeto da análise social e cultural na linguagem
como a sede onde se constituem e se articulam os significados. Palamidessi (1998) identifica três
tradições de estudo dentro da filosofia da linguagem: 1) a francesa com Saussure, vindo até
Foucault, Deleuze e Derrida; 2) a alemã iniciada com Heidegger e Gadamer, vindo até Apel; e 3)
a anglo-saxã iniciada com Wittgenstein, Austin e Ryle e atualmente com Bernstein e Rorty.
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57Trata-se de uma análise crítica sobre a tentativa de integração racial na capital do Estado de
Arkansas (USA), onde o Estado tentou impor por meio das escolas, uma integração, porém, sem
rever as leis que eram, em princípio, o sustentáculo do racismo. O resultado não poderia ter sido
outro – a humilhação de crianças negras à rejeição branca.
58“A política baseia-se no facto da pluralidade humana. Deus criou o homem, mas os homens são
um produto humano e terreno, o produto da natureza humana. [...] O que é política? [...] para a
totalidade do pensamento científico, existe somente o homem – na Biologia, ou na Psicologia, do
mesmo modo que na Filosofia e na Teologia, e justamente do mesmo modo na Zoologia existe
apenas o leão. Só os leões se poderiam preocupar com os leões.” (ARENDT, 2007, p. 83).
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Vozes da Educação
59Reconhecer a distinção entre educação e política leva a reconhecer, também, que esses âmbitos
“jamais foram totalmente indiferentes entre si; que a extensão maior ou menor das liberdades
exercidas na esfera dos assuntos mais específicos da educação sempre dependeu da boa vontade
e do consentimento do corpo político.” (GARCIA; FENSTERSEIFER, 2011, pp. 20-21).
60Ver Arendt (2004, pp. 48-49).
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privada, nem da vida pública, mas constitui uma espécie de esfera intermediária. A escola é “a
instituição que interpomos entre o domínio privado do lar e o mundo, com o fito de fazer com que
seja possível a transição, de alguma forma, da família para o mundo.” (ARENDT, 2013, p. 238).
63 Com todas as potencialidades, mesmo que virtuais, mas já deslumbradas pelos adultos e suas
legislações.
64“[...] a função da escola é ensinar às crianças o mundo como ele é, e não instruí-las na arte de
viver. Dado que o mundo é velho, sempre mais que elas mesmas, a aprendizagem volta-se
inevitavelmente para o passado, não importa o quanto a vida seja transcorrida no presente.”
(ARENDT, 2013, p. 246).
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pretensões de sê-lo. Ela é uma ponte entre o passado e o futuro das novas
gerações, “que é o presente dos adultos, e pelo qual estes são
responsáveis.” (FENSTERSEIFER, 2005, p. 157).
Num mundo que se encontra extremamente instável, onde cada
um quer antes de tudo sobreviver, pois ninguém garante que ele não possa
ser substituído por outro a qualquer momento, qualquer responsabilidade
que não esteja ligada ao bem-estar individual é tomada como uma
exigência inaceitável. Pode-se considerar, ainda, as poucas possibilidades
de participação política e as raras oportunidades de se tornar visível em
espaços comuns, a fim de “buscar a felicidade” para que, de fato, a ação
do cidadão possa fazer diferença.
No livro Sobre a revolução, Arendt (2011, p. 173) chama a atenção
para o interesse dos franceses, e também dos estadunidenses, em participar
da esfera pública, pois ambos sabiam que “não poderiam ser totalmente
‘felizes’ se sua felicidade se situasse [...] apenas na vida privada.”
Concordavam, ainda, que a esfera pública consistia na participação em
todas as atividades ligadas às questões públicas, o que lhes proporcionava
“[...] um sentimento de felicidade que não iriam encontrar em nenhum
outro lugar” e ainda, “iam às assembleias de suas cidades [...] acima de tudo
porque gostavam de discutir, de deliberar e de tomar decisões.”
(ARENDT, 2011, p. 163).
Na medida em que essa busca pela felicidade não teve seu caráter
público claramente definido, ela passou a funcionar desde o início como
uma forma de confusão entre a felicidade pública e bem-estar privado,
entre direitos privados e felicidade pública, e ainda entre a busca pelo bem-
estar e ser participante nos assuntos públicos. A busca pela felicidade logo
se desfez e se passou a transferir “a liberdade pública para a liberdade civil,
a participação nos assuntos públicos em favor da felicidade pública para a
garantia de que a busca pela felicidade privada seria protegida e incentivada
pelo poder público.” (ARENDT, 2011, p. 181).
Durante muito tempo (pelo menos na vertente pedagógica
Progressista), como se retratou nas análises de Freire e Saviani, todos
estavam encantados com a ideia de que a educação, sendo na sua essência
“política” e a escola palco de “luta de classes”, seria papel do professor
transformar o espaço escolar em espaço de “conscientização”, os
conteúdos em crítica da dominação e a avaliação como arma política
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Obviamente desde que esta tivesse garantida pelas concessões constitucionais democráticas.
65
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Vozes da Educação
instituição escolar promete o que não pode cumprir. Não se pode atribuir
à educação uma função “demiúrgica”, como comenta Brayner (2008, p.
50) a partir de Arendt:
A escola não produz o cidadão. A escola não ‘produz’ nada! O
‘produto’ final da escola não é algo que podemos identificar como
dotado de características que, desde o início, seguiria um plano de
execução ou de manufaturação e que chegaria a uma terminalidade
chamada, por exemplo ‘cidadão’66.
Para Arendt (2013, p. 242), a educação deve possuir uma
dimensão conservadora67,
[...] em política, a atitude conservadora – que aceita o mundo [...]
como ele é, procurando somente preservar o status quo – só pode levar
à destruição. E isto porque o mundo está irrevogavelmente
condenado à ação destrutiva do tempo, a menos que os humanos
estejam determinados a intervir, a alterar, a criar o novo.
Se na política uma atitude conservadora pudesse impedir a
renovação constante do próprio mundo, visto que este é feito por mortais
e, como tal se desgastasse e pudesse vir a ser mortal como seus habitantes,
na educação é condição indispensável para preservar e introduzir as
futuras gerações em um mundo velho. E, ainda, por mais revolucionários
que os professores possam ser em suas ações, “[...] é sempre do ponto de
vista da geração seguinte, obsoleto e rente à destruição.” (ARENDT, 2013,
p. 243). Nesse sentido, a esperança “reside [...] na novidade que cada nova
geração traz consigo” (ARENDT, 2013, p. 243) e, uma educação que
pretende fabricar comportamentos políticos estaria justamente aniquilando
este potencial. Logo, a preocupação deve estar em preservar essa
potencialidade inovadora que vem ao mundo pela natalidade. Segundo a
autora, todas as intenções educacionais consideradas emancipatórias e
conscientizadoras são uma intervenção ilegítima que inibe a liberdade das
novas gerações, pois:
faz parte da essência da atividade educacional, cuja tarefa é sempre abrigar e proteger alguma
coisa – a criança contra o mundo, o mundo contra a criança, o novo contra o velho, o velho contra
o novo. Mesmo a responsabilidade ampla pelo mundo que é aí assumida implica, é claro, em uma
atitude conservadora.” (ARENDT, 2013, p. 242).
236
Volume V
[...] mesmo às crianças que se quer educar para que sejam cidadãos de
um amanhã utópico é negado, de fato, seu próprio papel futuro no
organismo político, pois, do ponto de vista dos mais novos, o que
quer que o adulto possa propor de novo é necessariamente mais velho
do que eles mesmos. Pertence à própria natureza da condição humana
o fato de que cada geração se transforma em um mundo antigo, de tal
modo que preparar uma nova geração para um mundo novo só pode
significar o desejo de arrancar das mãos dos recém-chegados sua
própria oportunidade face ao novo. (ARENDT, 2013, pp. 225-226).
Nesse sentido, propõe-se uma redefinição da tarefa escolar que
possa proporcionar às novas e futuras gerações a possibilidade de aparecer
no espaço público. Ao invés de se apostar na “formação do cidadão”
(projeto acabado), poderiam ser incluídos ainda, no projeto educacional
(inacabado), elementos que ultrapassam o ler, escrever e contar,
incorporando as capacidades de: falar, pensar e julgar, algo que
proporcionasse, a cada um, por meio da palavra e da ação, a visibilidade
(quando adultos) no espaço da igualdade (público).
Não obstante, a educação deve oferecer competências68, pré-
requisitos e os alicerces necessários à “visibilidade dos indivíduos no
espaço público comum”, referentes “à participação nos debates que
decidem suas vidas.” (BRAYNER, 2008, pp. 23-24). No mesmo sentido,
a escola republicana poderia contribuir para que os indivíduos consigam
constituir a sua opinião singular frente ao mundo, fornecendo
competências mínimas para que os jovens possam futuramente interessar-
se e participar das decisões públicas. Para o autor, portanto, trata-se de
competências que podem fazer com que a escola seja um lugar privilegiado
de ressarcimento da “dívida política”. Não de “realização do socialismo”,
do “desvelamento da ilusão ideológica”, da “passagem da consciência
ingênua para a crítica”, cujos resultados pedagógicos, sociais e políticos
68“Tais competências (que só fazem sentido na relação com o Outro) se situariam, em primeiro
lugar, numa relação com o mundo da cultura, que permitiria entender as diferentes sensibilidades,
concepções, entendimentos que ao longo das gerações constituíram um mundo comum. Em
segundo lugar, uma competência que franqueie o acesso a uma intersubjetividade responsável
entre interlocutores dispostos a participar do debate público. Em terceiro lugar, uma competência
que permita a compreensão e a inserção qualificada num mundo de vertiginosos avanços e
mudanças tecnológicas. E, por último, uma competência capaz de interrogar os próprios
fundamentos de nossas certezas sociais.” (BRAYNER, 2008, p. 111, grifo nosso).
237
Vozes da Educação
238
Volume V
Considerações finais
Ao finalizar, entende-se que a relação entre educação e cidadania
– ou a promessa de educar para a cidadania –, que segue o modelo de
fabricação (político-ideológico), não seria desejável em uma sociedade
democrática, pois, de certo modo, busca controlar um dos lados dessa
relação, privando-o da liberdade de ação, arrancando-lhe a possibilidade
do novo. Para que essa relação não traia os propósitos destas sociedades,
é necessário que não ocorra o apagamento das identidades que permitem
essa relação, e que os adultos resolvam os problemas desse mundo, uma
vez que ele será deixado para as próximas gerações, razão porque deve ser
cuidado, evitando apostar “as fichas” na formação de cidadãos com vistas
a um futuro utópico. Pode-se afirmar, ainda, que é preciso apostar em
elementos que possibilitam a cada um, por meio da palavra e da ação, a
visibilidade (quando adultos) no espaço comum (público), pois, tornar-se
alguém só ocorre com o aparecimento dos homens no espaço público.
Entende-se que é de responsabilidade do Estado, educadores,
pais, instituições escolares..., nos diferentes lugares, a responsabilidade
“[...] para com os princípios republicanos e democráticos da igualdade, da
liberdade, da pluralidade”, oferecendo às novas gerações “[...] as condições
materiais e espirituais para que possam, quando adultas, assumir e
desenvolver seus pendores e talentos particulares, bem como suas
responsabilidades e iniciativas cidadãs.” (GARCIA, 2009, p. 199).
Por fim, entende-se que a cidadania, ou o exercício da cidadania,
por sua vez, só se consolida quando os cidadãos aparecem no espaço
público, entre iguais, e nele interferem, por meio da palavra e da ação.
Desse modo, compreende-se que a promessa de transformação social,
conscientização, emancipação e educação para a cidadania, seguindo o
modelo de fabricação (político-ideológico), contraria a promessa de
felicidade (da condição humana), uma vez que busca “controlar” e
“transformar” um dos lados dessa importante relação, privando a
liberdade de agir e, consequentemente, impossibilitando o novo.
Significa, assim, pensar sobre as possibilidades, mas também
sobre as limitações da cidadania, exatamente para não torná-la apenas um
dogma, afinal, a relação sempre guarda um grau indeterminado, o que
exatamente distingue o processo educacional de uma simples
domesticação. As crianças necessitam da educação e, por essa razão, ainda
239
Vozes da Educação
não são adultos e não fazem a política, pois nela estão aqueles já foram
educados70. No campo político todos são iguais perante a lei, e todos
podem defender seus pontos de vista, o que não acontece na educação,
pois ali existe a autoridade do professor que conduz e passa a orientar
aqueles que ainda não têm condições de fazer uso público da ação/razão.
A dimensão política da educação fica comprometida quando
entra em vigor um governo totalitário ou tirânico. A distinção entre a
educação e a política deve permanecer para que seja admissível a abertura
para a possibilidade da ação futura dos jovens, imprevisível e também livre,
no momento em que estes finalizam o seu processo de formação e/ou
atinjam a maioridade. Assim, uma educação que é direcionada para uma
realidade que se pretende ou se determina alcançar, como se fosse uma
atividade de fabricação, perde a sua condição de assunto político.
O fato de Arendt propor a separação entre os dois âmbitos,
evidentemente, se justifica para evitar que as crianças se envolvam
com/em questões que ainda não lhes dizem respeito, além de querer evitar
também qualquer possibilidade de doutrinação e eliminação da
possibilidade de pensar e, logicamente, no futuro, de agir. Ademais, educar
para a cidadania pode ter consequências drásticas, como, por exemplo,
fazer da escola o palco político para a resolução dos problemas que os
adultos não foram capazes de resolver. Esta seria uma forma de lhes negar
o futuro papel no corpo político, pois, querer preparar uma geração –
alunos –, para um amanhã utópico, é recusar a própria possibilidade de
inovação que está contida em cada aluno, em cada geração.
Por fim, os cidadãos se constituem quando aparecem no espaço
público (política) – espaço de visibilidade e constituídos entre iguais –, e
nele interferem a partir da palavra e também de sua ação, buscando tratar
assuntos de interesse comum. Isso, porém, não acontece na educação,
instância pré-política em que impera a autoridade do professor, que é
70“[...] a linha traçada entre crianças e adultos deveria significar que não se pode nem educar
adultos nem tratar crianças como se elas fossem maduras [...]. É impossível determinar mediante
uma regra geral onde a linha limítrofe entre a infância e a condição adulta recai, em cada caso.
Ela muda frequentemente, com respeito à idade, de país para país, de uma civilização para outra
e, também, de indivíduo para indivíduo. A educação, contudo, ao contrário da aprendizagem,
precisa ter um final previsível. Em nossa civilização esse final coincide provavelmente com o
diploma colegial [...].” (ARENDT, 2013, p. 246).
240
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Referências Bibliográficas
ARENDT, Hannah. Entre o passado e o futuro. Tradução de Mauro W.
Barbosa. 7. ed. São Paulo: Perspectiva, 2013.
_____. O que é política? Tradução de Reinaldo Guarany. 5. ed. Rio de
Janeiro: Bertrand Brasil, 2004.
241
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RESUMO
O estudo deste artigo objetiva apresentar o resultado de uma pesquisa
teórico-empírica versando sobre avaliações externas e suas influências na
prática docente. Como forma de levantamento de dados as autoras
aplicaram questionários à docentes atuantes no município de Fazenda Rio
Grande – PR. As respostas obtidas foram analisadas com o aporte do
embasamento teórico, assim como as demais informações apresentadas
no artigo. No caso específico desse estudo, são analisadas as perspectivas
e objetivos da Provinha Brasil e da prova semelhante aplicada no
município analisado.
ABSTRACT
The study of this article aims to present the result of a theoretical-empirical
research about external evaluations and their influences on teaching
practice. As a form of data collection, the authors applied questionnaires
to teachers working in the municipality of Fazenda Rio Grande - PR. The
answers obtained were analyzed with the contribution of the theoretical
basis, as well as the other information presented in the article. In the
specific case of this study, the perspectives and objectives of Provinha
Brasil and the similar test applied in the analyzed municipality are analyzed.
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Vozes da Educação
Introdução
Quer dizer, já não foi possível existir sem assumir o direito e o dever
de optar, de decidir, de lutar, de fazer política. E tudo isso nos traz
de novo à imperiosidade da prática formadora, de natureza
eminentemente ética. E tudo isso nos traz de novo à radicalidade da
esperança. Sei que as coisas podem até piorar, mas sei também que é
possível intervir para melhorá-las. (FREIRE, 2011. p. 52).
246
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Vozes da Educação
Referencial teórico
Não há como discorrer um estudo sobre avaliação e não
considerar as questões de ensino – aprendizagem, as relações econômicas
e sociais que podem influenciar em seu êxito ou fracasso escolar.
As práticas de avaliação escolar [...] não são apenas práticas que
negociam conceitos, notas, méritos, são também práticas que
negociam os lugares e os tempos em que se compartilham inúmeros
significados engendrados na lógica do trabalho escolar pelos
membros da coletividade da escola. (MINDAL, 2007. p. 86).
Deve-se também recorrer a questões das políticas educacionais,
visando compreender o como as avaliações externas são postas e
fortalecidas no país. O Brasil como federação73 compartilha74 os serviços
públicos entre seus entes federados, no caso específico, municípios,
estados e união75. Um desses serviços compartilhados é a educação. Como
determina a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB
9394/9676, na qual descreve que, estados, municípios e união irão
trabalhar em prol da educação “em regime de colaboração” (BRASIL,
2017 c). Antes mesmo da LDB, em 1988 a Constituição Federal já
explicitava como deveria funcionar a questão da colaboração entre os
entes federados na busca de uma educação de qualidade: “Art. 211. A
União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizarão em
regime de colaboração seus sistemas de ensino”. (BRASIL, 1988 d).
Abrucio (2013) afirma que o artigo 211 da CF explicita um
federalismo cooperativo, ou seja, todos os entes federados irão se auxiliar
mutuamente, evitando o enfraquecimento das políticas destinadas à
educação. Não obstante, temos como forma de garantir o direito à
educação, a elaboração de planos de educação (AZANHA, 1996), visando
à obtenção de um currículo mais abrangente a todas as necessidades
educacionais brasileira, referenciais que norteiam o trabalho docente,
avaliações externas (BONAMINO; SOUZA 2012), entre outros
interesses era a descentralização do poder, visto que o país acabara de sair de um regime
ditatorial. (ABRUCIO, 2013)
76Consultar o Título IV – Da organização da Educação Nacional. Artigos: 8 ao 20 da Lei 9394/96.
248
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77Barroso (1996) trabalha com a ideia de autonomia decretada e autonomia construída. Consultar:
O estudo da autonomia da escola: da autonomia decretada à autonomia construída.
78Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do
Magistério
79Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos
Profissionais da Educação
80Escravidão, por exemplo, que ainda hoje apresenta suas consequências, quando analisamos
escolas, as avaliações tem o intuito de prover estratégias para que esse acesso não aconteça sem
qualidade.
82Verificar Bourdieu (2010).
83Alienantes quanto ao que se refere ao marxismo, de limitação de pensamento e compreensão
de mundo. Também pode-se remeter a ideia de manutenção de status quo citado por Bourdieu
(2010).
249
Vozes da Educação
84No sentido de criar parâmetros que auxiliassem gestores na criação de políticas educacionais
que tivessem como objetivo central a melhoria da qualidade e equidade da educação básica
brasileira.
85Professores podem observar suas práticas através do resultado de tais avaliações, e escolas
250
Volume V
88A Provinha Brasil, é uma avaliação diagnóstica que visa investigar as habilidades desenvolvidas
pelas crianças matriculadas no 2º ano do ensino fundamental das escolas públicas brasileiras.
Fonte: http://portal.inep.gov.br/provinha-brasil
89Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira Legislação e
Documentos.
90 Plano Nacional de Educação
251
Vozes da Educação
Metodologia
Buscamos confirmar ou refutar teorias relacionadas a avaliações
externas, quanto as suas limitações e/ou influencias no cotidiano e
currículo docente. Para tal pesquisa contamos com o aporte da teoria e
com uma análise empírica, a mesma foi possível devido à aplicação de um
questionário direcionado as docentes do ensino fundamental I (1º a 5º
ano). O questionário teve como objetivo investigar o quanto a aplicação
de avaliações externas corrobora ou compromete a prática docente. A
pesquisa foi realizada nos anos de 2017 e 2018. A análise dos dados foi
realizada a partir da Análise de Conteúdo (BARDIN, 2006).
252
Volume V
5 1 4
Fonte: Autoras, a partir dos dados coletados no questionário aplicado para a pesquisa. Fazenda
Rio Grande – PR (2018).
94Provinha da Fazenda. Uma prova semelhante à prova Brasil aplicada pela Secretaria de
Educação do município de Fazenda Rio Grande – PR. Prova esta, temida pelos docentes por
conta da exposição de seus resultados, estes são colocados em painéis no prédio da secretaria.
E os professores responsáveis pelas turmas com baixo desempenho são chamados para uma
“conversa” com os gestores da secretaria.
95Avaliação Nacional da Alfabetização, avaliação externa que tem como objetivo verificar o nível
253
Vozes da Educação
Fonte: Autoras, a partir dos dados coletados no questionário aplicado para a pesquisa. Fazenda
Rio Grande – PR (2018).
254
Volume V
a vida toda sem vir a ser castigado, mas tem em sua cabeça a
permanente ameaça. (p. 24 e 25)
Mesmo tendo leis que proíbam a agressão 96 às crianças, essa
ainda é uma prática recorrente. Basta analisarmos o ECA97 para perceber
o quanto as crianças já sofreram com agressões, a ponto de termos que
criar leis para protegê-las.
O castigo psicológico expõe as mazelas dos alunos frente aos
demais colegas, na forma de “violência simbólica”. Essa violência tem
símbolos que a fortalecem, que cria estigmas nos alunos, e que é reforçado
inúmeras vezes.
A violência simbólica expressa-se na imposição "legítima" e
dissimulada, com a interiorização da cultura dominante, reproduzindo
as relações do mundo do trabalho. O dominado não se opõe ao seu
opressor, já que não se percebe como vítima deste processo: ao
contrário, o oprimido considera a situação natural e inevitável.
(L’APICCIRELLA, 2003, p. 1).
As crianças sentem medo das avaliações e atividades com esta
finalidade, contudo, seu comportamento “indesejado” continua a existir,
pois é um castigo sem sentido para elas.
Outras falhas escolares estão na qualidade e na dosagem da
quantidade de informações a serem transmitidas e na “cobrança” ou
avaliação da aprendizagem. Tais situações, se mal conduzidas, são
geradoras de uma ansiedade insuportável para o aluno, chegando à
desorganização de sua conduta por não aguentar o excesso de
ansiedade. (WEISS, 2006. p. 18).
Muitas vezes após ser exposto e sofrer com a violência simbólica
o aluno acaba se autopunindo, pois se culpa por seus supostos erros, julga-
se incapaz e concorda com as violências do professor. Fato que pode
acarretar evasão escolar no futuro, por falta de interesse e descrença na
escola. (MELLO, 1978)
A avaliação ao invés de ter como finalidade a observação do
quanto o aluno aprendeu e se os objetivos propostos foram cumpridos
por professores, acaba tendo a finalidade de disciplinar os alunos.
No entanto, é importante que o educando viva a experiência do
erro. E entendam que não é pecado errar, e sim uma parte do processo de
96Considerando que a agressão não é apenas física, pode ser verbal, emocional, simbólica, entre
outras maneiras de exposição dos sujeitos.
97Estatuto da Criança e do Adolescente (BRASIL, 1990).
255
Vozes da Educação
98Verificar Prudência em: COMTE-SPONVILLE, André. Pequeno Tratado das grandes virtudes. 2ª
Ed. São Paulo: editora WMF Martins Fontes, 2009.
99Provas embasadas nas questões de anos anteriores das provas externas, assim como fazem os
cursos de pré-vestibular.
256
Volume V
Considerações finais
A afirmação das professoras sobre a alteração em sua prática de
ensino revela que as avaliações externas contribuem para “estratégias que
não propiciam elevação do nível de qualidade do processo educacional,
mas encobrem os resultados” (MINHOTO, 2011, p.172), uma vez que as
professoras fraudam os resultados dos testes a partir do treino de
estudantes para os exames100.
Para a professora que atesta que a estrutura das avaliações
externas “não é interessante”, pode-se conjecturar que “a vivência com
exames de larga escala no inicio da escolarização, causa uma experiência
atípica”. (MINHOTO, 2011, p.174). Uma vez que as avaliações são
padronizadas e pretendem aferir o processo de letramento de maneira
oposta das vivências da sala de aula. Uma das professoras trouxe a questão
do currículo que é cobrado na Prova Brasil, ela remete a discussão de que
a aplicação destes testes enrijece os currículos escolares, diminuindo a
ampliação e variedade dos mesmos101.
É perceptível que todas as professoras concordam que as
avaliações permitem aferir a aprendizagem dos alunos e alunas. Porém,
estas avaliações extrapolam este contexto uma vez que o Ideb de cada
escola é utilizado como recurso para responsabilizar escolas com baixos
índices e aferir prestígio às escolas com altos índices. A culpabilização das
escolas que possuem baixos índices ocasionam uma pressão nas
professoras que precisam mudar sua prática de ensino, para atender os
requisitos das avaliações externas. Este estigma de culpa é feito sem ter em
vista o nível socioeconômico dos alunos e alunas e sem compreender a
prática de ensino de cada professora.
As avaliações externas ocasionam um ranking entre as escolas, as
que possuem altos índices no Ideb acabam por possuir um prestígio na
comunidade que está inserida, ocasionando uma grande procura por
matrículas e possibilitando a seleção do alunado. O que difere das escolas
257
Vozes da Educação
com baixos índices, que não possuem uma grande procura de matrículas
e sofrem com a “má- fama” na comunidade. Este ranking não contribui
para a diminuição das desigualdades, mas reforça a culpabilização dos
professores e do diretor destas escolas. É importante fomentar as
pesquisas sobre as avaliações externas que venham a contribuir para a
diminuição das desigualdades educacionais, e que contribua para o avanço
da qualidade do ensino público.
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258
Volume V
259
Vozes da Educação
260
Volume V
RESUMO
O presente artigo aborda a questão da popularização da Ciência em espaços não
formais, fazendo referência a uma experiência pedagógica, realizada a partir de uma
palestra e visita ao Parque Zoológico da Fundação Zoobotânica em Sapucaia do
Sul/RS. Alunos de quatro turmas do primeiro ano de Ensino Médio participaram da
palestra e visita ao Zoológico. A partir desta atividade buscou-se fazer uma reflexão,
juntamente com docentes e alunos sobre a importância da construção do conhecimento
a partir de outros territórios educativos, que venham ao encontro da realidade cotidiana
do aluno, tornando-o um ser crítico em relação ao ambiente em que está inserido.
Palavras-chave: Construção do Conhecimento; Ensino de Ciências; Zoológicos;
Espaços Não Formais.
ABSTRACT
This article deals with the popularization of science in non - formal spaces, referring to
a pedagogical experience, made from a lecture and visit to the Zoological Park of the
Zoobotânica Foundation in Sapucaia do Sul / RS. Students from four classes of the
first year of high school participated in the lecture and visit to the Zoo. From this
activity we sought to reflect, together with teachers and students on the importance of
building knowledge from other educational territories, which meet the everyday reality
of the student, making it a critical being in relation to the environment in which it is
inserted.
Keywords: Knowledge Building; Science teaching; Zoos; Non-formal spaces.
261
Vozes da Educação
Introdução
Nos dias atuais faz-se necessário uma educação a fim de dar
suporte aos vários aspectos, sejam eles, econômicos, sociais, científicos e
tecnológicos, impostos por um mundo globalizado. Dessa forma, autores
como Cacais e Fachín-Terán (2011) acreditam que a educação formal não
dará conta desse processo sozinha, sendo necessárias outras modalidades
didáticas para fazer parte dessa tarefa, como a educação não formal e
informal, complementando o processo de ensino aprendizagem.
Segundo Gohn (2001, p. 39):
A educação formal é aquela desenvolvida nas escolas, com conteúdos
previamente demarcados; a informal é aquela que os indivíduos
aprendem durante seu processo de socialização, na família, bairro,
clube, amigos, etc., é carregada de valores e cultura própria, de
pertencimento e sentimentos herdados; e a educação não formal é
aquela que se aprende “no mundo da vida”, via os processos de
compartilhamento de experiências, principalmente em espaços e
ações coletivas cotidianas.
Segundo Jacobucci (2008) os espaços não formais de educação
são locais diferentes da escola, onde é possível desenvolver atividades
educativas diversas. Existem dois tipos de espaços não formais, estes
podem ser instituições ou locais que não contém uma estrutura
institucional. No âmbito de instituições são incluídos os espaços que
possuem um regulamento e técnicos que são envolvidos e responsáveis
pelas atividades executadas no local. Já em âmbito de não institucional
entram os ambientes naturais ou urbanos, que se forem utilizados para a
execução de práticas educativas de forma planejada se tornam um espaço
educativo de construção científica.
Para o ensino de ciências encontramos como espaços não
formais museus e centros de ciência, museus de história natural,
planetários, zoológicos, jardins botânicos, hortos, parques ecológicos,
aquários e outros afins (VIEIRA, 2005; ZIMMERMANN e MAMEDE,
2005; PIVELLI e KAWASAKI, 2007).
A importância do ensino de Ciências em todos os níveis de
escolaridade tem sido objeto de discussão em diversos trabalhos
desenvolvidos. Embora existam inúmeras divergências de opiniões quanto
à necessidade do ensino de Ciências, o qual já é presente nos currículos e
planejamentos escolares, ainda hoje a formação científica oferecida na
262
Volume V
263
Vozes da Educação
Interdisciplinaridade
Segundo Ivani Fazenda (1994), a interdisciplinaridade, nasceu na
Europa, mais especificamente na França e na Itália, em meados da década
de 60. Surgiu como uma resposta aos movimentos estudantis que
reivindicavam um ensino mais voltado para as questões de ordem social,
política e econômica da época, na crença que somente com a integração
dos saberes seria possível resolver os grandes problemas.
A interdisciplinaridade chega ao Brasil no final da década de 60,
exercendo influência na elaboração da Lei de Diretrizes e Bases 5.692/71.
Desde então, sua presença no cenário educacional brasileiro tem se
intensificado mais ainda, com a LDB 9.394/96 e com os Parâmetros
Curriculares Nacionais (PCN).
Para que o ensino das Ciências tenha um sentido útil e benéfico
ao planeta e seus habitantes, é importante que seu estudo parta de ideias e
fenômenos do cotidiano dos alunos. A partir desta reflexão percebe-se a
importância da superação da visão fragmentada do ensino e do
investimento em práticas interdisciplinares que contemplem relações com
as outras áreas do conhecimento. A interdisciplinaridade proporciona uma
aprendizagem mais estruturada e rica, pois nela os conceitos estão
organizados de forma a englobar o todo formado por duas ou mais
disciplinas, podendo ser realizada com vários temas a serem estudados,
pois:
Interdisciplinaridade é o processo que envolve a integração e
engajamento de educadores, num trabalho conjunto, de interação das
264
Volume V
265
Vozes da Educação
266
Volume V
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Vozes da Educação
Zoológicos
Os zoológicos são espaços institucionalizados e destinam-se à
exposição e a pesquisa de animais vivos. Segundo Brito (2010), durante
muito tempo e em vários países do mundo, os jardins zoológicos foram
locais usados somente para essa mera exposição de animais confinados em
condições precárias e sujeitos a condicionamentos cruéis, mas
268
Volume V
Metodologia
A atividade prática desenvolvida no Parque Zoológico de
Sapucaia do Sul, foi uma palestra sobre os Biomas Brasileiros e a fauna
ameaçada de extinção, com alunos de quatro turmas de primeiro ano de
uma Escola do município de Sapucaia do Sul. A palestra fez um convite a
269
Vozes da Educação
Fonte: Autores
270
Volume V
Fonte: Autores
Resultados
Antecedendo a palestra, os alunos foram instigados a conhecer
as características de cada bioma, as espécies que habitam, localização
geográfica, vegetação predominante e os benefícios da biodiversidade.
Com isso, atividades como construção de mapas e maquetes sobre o tema
foram exploradas para enriquecimento da sala de aula nas disciplinas de
geografia e biologia. Durante a palestra, esses conceitos foram abordados
e contextualizados com a situação do Parque Zoológico e seus animais.
Após a palestra os alunos foram convidados a conhecer o parque e
registrar com fotos os animais que mais os chamaram atenção.
Em sala de aula, o grupo de alunos produziu um material
referente à saída pedagógica, mostrando os caminhos percorridos dentro
do Parque Zoológico. Na disciplina de geografia eles reconheceram e
desenvolveram um mapa identificando cada bioma dos animais
fotografados; em biologia trabalharam a origem, o nome científico e
características dos animais; em química os alunos pesquisaram sobre a
alimentação de cada animal e os elementos químicos presentes nela; e em
física cada aluno calculou a força peso que esses animais exercem.
Após as atividades, os alunos confeccionaram um varal com
todas as informações trabalhadas ao longo da semana, mostrando tudo
que conheceram e desenvolveram depois da atividade no Parque
Zoológico (Figuras 3 e 4).
271
Vozes da Educação
Fonte: Autores
Fonte: Autores
Considerações finais
A atividade possibilitou aos alunos uma reflexão sobre a
importância que o Parque Zoológico possui naquela região e o quanto esse
espaço de educação não formal está inserido em temas ambientais e atuais,
e não somente referentes à flora e fauna, mas quanto a problemática dos
resíduos sólidos, preservação da água, e muito mais. Também como
diferentes temas em diferentes disciplinas podem ser trabalhados visando
um objetivo em comum: a história e o caminho percorrido pelos animais
que ali habitam. Além disso, devido à degradação dos biomas, questões
como educação ambiental, conscientização e consumo excessivo também
foram discussões levantadas após a palestra.
272
Volume V
Considera-se que os espaços não formais são uma ferramenta que pode
complementar os conteúdos trabalhados em sala de aula, facilitando a sua
aplicação, despertando um maior interesse por parte do aluno e auxiliando
na sua compreensão para que ocorra significativamente a construção do
conhecimento.
Espera-se que estas atividades e estes espaços sejam
constantemente explorados, visando despertar os olhares para o contexto
do aluno ampliando os espaços da sala de aula e os diálogos estabelecidos
num movimento de motivação e complementação ao processo de
aprendizagem.
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273
Vozes da Educação
274
Volume V
RESUMO
O presente estudo objetiva constatar a capacidade dos jogos – quando
inseridos no contexto da sala de aula de ensino regular – em auxiliar o ensino
e aprendizagem de matemática para alunos com Deficiência Intelectual. Para
tanto, foi necessária a análise de documentos oficiais os quais substanciaram
esse estudo proporcionando contemplar a definição do que é Deficiência
Intelectual, jogos, além de caracterizar o ensino de Matemática nos dias atuais.
Os resultados demonstraram que é perfeitamente admissível que os jogos
realizam uma função muito importante na aprendizagem desses alunos.
Palavras-chave: Deficiência Intelectual. Matemática. Jogos. Ensino de
Matemática.
ABSTRACT
The present study aims to verify the ability of games - when inserted in the
context of the regular classroom - to assist the teaching and learning of
mathematics for students with Intellectual Disabilities. In order to do so, it
was necessary to analyze official documents which substantiated this study,
allowing to contemplate the definition of Intellectual Disability, games,
besides characterizing the teaching of Mathematics in the present day. The
results showed that it is perfectly permissible that games play a very important
role in the learning of these students.
Keywords: Intellectual Disabilities. Mathematics. Games. Mathematics
teaching
Especialista em Gestão Escolar com Ênfase em coordenação pedagógica e atua como professora
das redes Municipal e Estadual de Ensino
275
Vozes da Educação
Introdução
O Ensino e aprendizagem de matemática é uma preocupação no
panorama da educação no Brasil. Isso por conta dos fracassos
representados pelos números negativos associados às avaliações de
aprendizagem na disciplina. Além do mais, os professores de matemática
não diferente de outros professores em suas respectivas áreas são
simplesmente considerados “culpados” pelo fracasso do ensino quando
na realidade todos envolvidos com a educação deveriam dividir essa
“culpa”.
Ainda nesse contexto, vivemos a época da educação inclusiva
que traz a expectativa de valorização de todo tipo de aluno e nesse grupo,
o aluno com Deficiência Intelectual (DI) – que não é uma doença, mas,
uma capacidade intelectual em determinadas áreas de acordo com o
comprometimento de cada pessoa (ANTONIUS, 2013) – e que necessita
a de uma atenção – do professor de matemática – que não deve ser vista
somente como especial e sim, necessária ao seu processo de aprendizagem.
Além disso, a Educação Especial está prevista na Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional em seu artigo 58, “como modalidade de educação escolar,
oferecida, preferencialmente, na rede regular de ensino, para educandos portadores de
necessidades especiais” (LDB, 1996).
Caracterizar o aluno com Deficiência Intelectual implica num conhecimento
de suas especificidades no sentido de apresentar como, quando e de que forma ocorre sua
aprendizagem, fundamental para as pretensões desse estudo.
A Educação Matemática representa uma resposta ao que tem
sido feito para melhoria do ensino e aprendizagem de matemática. Nesse
bojo, as novas tendências de ensino, fomentam a probabilidade de uma
mudança no fazer matemático que em outrora se caracterizava na
simplória dinâmica da reprodução de conteúdo e suas fórmulas
estabelecidas pelo currículo e planos de cursos das instituições de ensino.
Os jogos – uma das ramificações da Educação Matemática – é
uma excelente proposta de ensino que nos leva à uma reflexão imediata:
será que os jogos quando inseridos nas aulas de Matemática são capazes
de auxiliar no processo de Ensino e Aprendizagem dos alunos com
Deficiência intelectual? A resposta para esse questionamento, ao contrário
do que possa parecer, não é tão simples, pois, o ensino e aprendizagem
em discussão, além dos jogos, conteúdos e infindáveis listas de exercícios
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Vozes da Educação
Considerações finais
É inegável a importância da Matemática na história da
Humanidade. O seu poder transformador é notável quando voltamos no
tempo e contemplamos a maneira primitiva de contagem das inúmeras
civilizações que mais tarde apresentariam notável evolução no entender,
pensar e fazer matemático.
O ensino e aprendizagem de matemática deveriam ser
consoantes, pelo menos, para quem ensina como para quem aprende. O
que não acontece, visto que, o ensino e aprendizagem dessa disciplina
normalmente baseiam-se na tradução de uma das mais difíceis relações:
amor e ódio. O amor seria bem verificado no momento que se aprende a
disciplina e as nuancem de seus conteúdos e como consequência disso os
resultados quantitativos que credenciam a aprovação para a série seguinte,
e o ódio, estaria estampado nos resultados negativos conquistados por
284
Volume V
285
Vozes da Educação
Referências bibliográficas
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286
Volume V
RESUMO
Este artigo discute os conceitos educação integral e educação em tempo
integral, considerando a obra do educador brasileiro Paulo Freire como
principal referência. Para uma análise empírica do contexto em que este
debate se coloca no país, toma-se como referência os caminhos e
descaminhos do Programa Mais Educação e Novo Mais Educação, além da
emergência de movimentos tais como Escola sem Partido. Busca-se afirmar
a necessidade de uma educação integral, que considere os seres humanos
na sua integralidade e integridade.
ABSTRACT
This article discusses the concepts of integral education and full time
education, considering the work of Brazilian educator Paulo Freire as the
main reference. For an empirical analysis of the context in which this
debate takes place in the country, reference is made to the ways and ways
of the Program More Education and New More Education, in addition to
the emergence of movements such as School without Party. It seeks to
affirm the need for an integral education, which considers human beings
in their integrality and integrity.
287
Vozes da Educação
Introdução
Às vezes, ao final da temporada de verão, quando os turistas iam
embora de Calella, ouviam-se uivos vindos do morro. Eram os
clamores dos cachorros amarrados nas árvores.
Os turistas usavam os cachorros, para alívio da solidão, enquanto as
férias duravam, e depois, na hora de partir, os cachorros eram
amarrados morro acima, para que não seguissem os turistas que
partiam. (GALEANO, E., 2008, p. 184)
O texto de Eduardo Galeano, A civilização do consumo, pulicado
em O Livro dos Abraços (2008) como epígrafe deste artigo remete-nos ao
paradoxo que um processo educacional que tem como princípio o
pragmatismo nos coloca. Um processo educacional que não tenha como
princípio a formação dos seres humanos para a solidariedade e para o
compromisso com o outro pode ser eficaz no que diz respeito às garantias
de acesso ao trabalho, ao mercado. Mas pode também ser um processo
que em nada contribui para que sejamos sempre mais humanos.
Tal questão é aqui colocada para iniciar a abordagem acerca do
tema educação integral e educação em tempo integral, por vezes,
percebidos erroneamente como sinônimos. A expansão do tempo escolar
está em pauta na sociedade brasileira. No entanto, as justificativas para que
seja expandida a jornada diária dos estudantes não são consensuais. No
centro deste debate está a discussão quanto ao papel da educação e da
instituição escolar.
Este trabalho tem o objetivo de contribuir com este debate
partindo da análise da educação enquanto processo de formação humana,
tomando como principal referência o pensamento do educador brasileiro
Paulo Freire. Busca-se, também, a fim de explicitar os rumos que este
debate vem tomando no país, discutir, ainda que brevemente, os processos
de implementação do Programa Mais Educação pelo Ministério da Educação
e as recentes transformações pelas quais o mesmo passou.
Inicialmente, é apresentada uma análise do processo educacional
brasileiro a partir do pensamento freireano para, em seguida, discutir a
transformação do Programa Mais Educação em Novo Mais Educação e, por
fim, afirmar a importância de uma educação e um processo de
escolarização que considerem a integralidade e integridade das crianças,
adolescentes e jovens.
288
Volume V
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Vozes da Educação
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Volume V
Mesmo afirmando que as diretrizes relacionadas à política educacional no País têm se orientado
109
291
Vozes da Educação
292
Volume V
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Vozes da Educação
Ora, o termo progressivamente abre espaço para que uma expansão mínima, seja num outro
110
noutro município, através de um Programa que atenda um número restrito de unidades escolares,
por exemplo, garanta o cumprimento da lei.
294
Volume V
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Vozes da Educação
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Vozes da Educação
Considerações finais
Buscou-se, aqui, analisar os desafios que estão postos diante da
proposta de uma educação integral, bem como os interesses em jogo na
disputa por uma ou outra forma de escolarização. Ao fazermos isso sob
as luzes de Paulo Freire, é importante lembrar o que este autor declara em
diversos de seus trabalhos quanto ao ser humano: um ser condicionado,
mas não determinado. Não há fatalidade. Não há um destino inexorável
que nos impeça de romper a cultura do silêncio, que nos impeça de
restaurar a liberdade de seres para si.
Também com Paulo Freire podemos afirmar que a instituição
escolar não pode ser responsabilizada pela construção de todas as rupturas
necessárias para que se construa uma nova sociedade e uma nova escola.
Muitos são os sujeitos sociais e as instituições que podem contribuir para
a construção de novas possibilidades. Mas, sem dúvida, a educação escolar
pode exercer um importante papel neste processo de negação de uma
cultura da opressão e construção de uma cultura da liberdade.
Por fim, há também que se reconhecer que são muitas as
experiências que vêm se desenvolvendo neste país em torno de um outro
paradigma educacional. Algumas delas, experiências institucionalizadas,
outras não. Algumas, englobando toda uma rede de escolas ou uma
unidade escolar, outras, a partir de pequenos grupos de educadores/as e
educandos/as. São experiências que vêm sendo construídas pelas
juventudes, pelos setores populares e por homens e mulheres que não
querem se conformar com a cultura do privilégio, cultura esta que, ao
longo dos séculos, representa a negação da cultura dos direitos humanos.
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Volume V
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RESUMO
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Com essa frase – “se ninguém faz, nós pega e faz” –, o coletivo FDR
tem atuado nas áreas culturais, sociais e políticas da cidade e em outras
localidades. Todos seus integrantes salientam a força e a união como
articuladoras de um projeto de inserção na cultura de rua e da juventude
na cidade carente de espaços de lazer, cultura e conhecimento.
Ao pensarmos as propostas da cultura de rua articuladas por esse
coletivo juvenil e que agrega especialmente jovens oriundos da periferia,
sem acesso aos espaços de lazer e diversão nos espaços públicos da cidade,
direcionamos nosso olhar também para a dinâmica dessa cidade que pode
ser pensada, de um lado, como uma cidade organizada na superfície, e, de
outro, uma cidade subterrânea (JULIÃO, 1992). Daí podermos pensar que
há uma cidade planejada e organizada sob os auspícios da modernidade e
outra da exclusão social.
A apropriação das ruas e espaços públicos está além dos direitos
sociais, é o locus de representações e interações sociais, em que coabitam
sociabilidades, identidades e concepções de pertencimento.
Já os espaços sociais de participação são aqueles em que, ao contrário,
o fundamento da afiliação, imposta ou voluntária, submete a
experiência gratuita da convivência à necessidade ou à vocação de
produzir bens, serviços ou significados. Essa produção se dá através
de um tipo de trabalho coletivo de cujos efeitos resulta a própria
atribuição do sentido do grupo e da identidade de seus participantes.
(SOUZA, 2015, p. 32)
Sendo assim, o embate entre o projeto político-social de uma
cidade planejada em uma perspectiva positivista, em que vigiar e punir são
parâmetros de tentativas de convivência entre as classes sociais, a periferia
constrói outras configurações de lazer, sociabilidade, coletividade e
cultura.
Desse modo, essa cidade ordenada em quadriláteros impõe um
modelo em que essas classes sociais buscam usufruir e apropriar-se dela.
Porém, devemos situar que, a partir dos movimentos sociais na década de
40 e 50, essa cidade torna-se cada vez mais palco de conflitos urbanos,
como aconteceu a partir da década de 90, em que ela é remodelada em sua
preservação de monumentos e obras de infraestrutura. Cada vez mais,
tenta afastar parte dos jovens que buscam espaços de cultura e participação
social nos espaços urbanos, surgindo movimentos sociais organizados em
grupos de jovens que reivindicam espaços de cultura, lazer e sociabilidade.
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RESUMO
Este presente Artigo apresenta o sentido pleno de cooperação e confiança,
o educando aprende porque ele passa a compreender que através da
pesquisa, da investigação cientifica, e da prática ele possui a autonomia
intelectual para o desenvolvimento da compreensão da vida e das relações
de trabalho que ocorrem no mundo em plena transformação. A Economia
Social e Solidária é uma corrente de pensamento e ação, bases da Educação
Popular que se organiza por meio da Autogestão que busca recuperar o
sentido ético da economia e das relações de trabalho de forma equânime
e multidimensional, isto é, envolve a dimensão social, econômica, política,
ecológica e cultural.
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ABSTRACT
This article presents the full sense of cooperation and trust, the learner
learns because he comes to understand that through research, scientific
investigation, and practice he possesses the intellectual autonomy for the
development of the understanding of life and labor relations that occur in
the world in full transformation. The Social and Solidarity Economy is a
current of thought and action, bases of Popular Education that is
organized through Self-management that seeks to recover the ethical sense
of economy and labor relations in an equitable and multidimensional way,
that is, it involves the social dimension, economic, political, ecological and
cultural. Fair Trade and Solidarity in Brazil and the World through inter-
cooperation reorganizes the economy and social relations build in
contemporary culture a search for the balance between traditional popular
values and socioeconomic development in order to build an ecofeminist,
just, ethical and solidary society.
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Lilia Dinelli115
RESUMO
Religião, articulista da Revista Santos Arte e Cultura, Professora de Ikebana pela Fundação Mokiti
Okada, Somellière de Chá e Tea Master pela Escuela Argentina de Té certificada pela
Universidade Aberta Interamericana.
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