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PEDAGÓGICA
Resumo
O presente artigo tem por objetivo apresentar aspectos do pensamento pedagógico das
Pedagogias da Essência, da Existência e, culminando na Pedagogia da Complexidade. A
pergunta inicial que se faz é: Qual a aprendizagem ideal? O que dizer do questionamento feito
por Ferguson (1992) de que milhões de pais se sentem desencantados com a educação
convencional ora porque seus filhos não estão adquirindo uma alfabetização, ora porque as
escolas são desumanizantes? Pergunta-se: será que não vivemos num sistema educacional que
só apostou no intelecto e se esqueceu do lado emocional das pessoas? O analfabetismo
emocional não está custando caro? Esses questionamentos orientaram a investigação
desenvolvida mediante pesquisa bibliográfica. O estudo se apoiou nas contribuições de
Ferguson (1992), Suchodolski (1992), Aranha (1996), Behrens(2005, 2006) Os argumentos
destacados ao longo da reflexão apontam que é preciso reeducar nosso olhar de educadores
sobre os educandos; vê-los como sujeitos e não como objetos (visão mecanicista, reprodução
do conhecimento, educação bancária). Ao falar sobre a Teoria da Complexidade, pode se dar
a impressão de que temos que fazer uma ruptura, por exemplo, com a Pedagogia da Essência,
com a Pedagogia da Existência, com a Pedagogia Tecnicista, entre outras. É sabido que não se
trata de ruptura, mas sim de superação, que implica em progredir qualitativamente, segundo
as novas exigências históricas. Portanto, acredita-se que a Teoria da Complexidade lança para
nós, educadores, um grande desafio: lutar por uma docência inovadora que provoque uma
aprendizagem significativa e relevante, isto é, uma aprendizagem que favoreça o espírito
crítico reflexivo, a busca da formação para a cidadania e a recuperação do posicionamento
ético.
Introdução
Lembra-nos o filósofo Al-Ghazali do séc. XIX: “Um camelo é mais forte que um
homem; um elefante é maior; um leão tem mais coragem; o gado pode comer mais; as aves
são mais vigorosas. O homem foi feito com o propósito de aprender” (CLAXTON, 2005,
p.16).
Todos somos aprendizes desde o nascimento. A aprendizagem acontece ao longo da
vida. Além da família, a escola é um lugar privilegiado de fazer experiências de
aprendizagem. Portanto, neste processo de ensino-aprendizagem, na história do pensamento
pedagógico, dar-se-á um destaque das tendências fundamentadas nas Pedagogias da Essência,
da Existência, Tecnicista e, culminando na Pedagogia da Complexidade. Afinal, por que não
filosofar sobre essas Pedagogias e perceber os reflexos na prática pedagógica dos educadores?
A Pedagogia da Essência, mais antiga e que assenta numa concepção ideal do homem,
racionalista em Platão, cristã em São Tomás de Aquino, atribui à educação a função de
realizar o que o homem deve ser como deve ser o homem. É evidente que a filosofia é uma
ferramenta necessária para que se entenda o ser humano, pois na verdade não se deve
esquecer das célebres palavras de Immanuel Kant (século XVIII) filósofo alemão: “Não há
filosofia que se possa aprender: só se aprende a filosofar”. Isso significa que a filosofia é
sobretudo uma atitude, um pensar permanente. Ela é um conhecimento instituinte, no sentido
de questionar o saber instituído.
Como já é sabido, a Pedagogia da Essência tem a sua raiz na Pedagogia de Platão e na
Pedagogia Cristã, como afirma Suchodolski (1992, p.28): “A grande herança do idealismo
antigo e cristão constitui a base destas concepções”.
A princípio, para se compreender a proposta pedagógica de Platão é necessário
recorrer à Alegoria da Caverna, descrito no livro VII de A República, na verdade uma alegoria
usada para melhor explicar sua teoria. Segundo Aranha (1996, p.45): “O filósofo, aquele que
se liberta dos grilhões, passando da opinião à ciência, tem a obrigação de orientar os demais.
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A Pedagogia da Existência irá surgir no século XVII com Rousseau cujo interesse é
voltado para a vida concreta, cotidiana e verdadeira do homem. Condena a cultura, o modo de
viver e os ideais do sistema feudal. Questionam-se os ideais impostos e externos ao homem e
passa-se a valorizar as experiências próprias. Questiona-se a autoridade da Igreja que dita as
normas e os princípios vigentes.
Essa nova visão de mundo caracterizava pelo racionalismo (em oposição à fé), o
antropocentrismo (em oposição ao teocentrismo) e o individualismo (em oposição ao
coletivismo cristão). Trata-se de uma revolução pedagógica similar à copernicana. Na
copernicana inverteu-se o modelo astronômico, retirando a Terra do centro; já com Rousseau a
centralidade dos interesses pedagógicos deve ser no aluno e não mais no professor. Surge o
humanismo, que foi um movimento intelectual que pregava a pesquisa, a crítica e a
observação, em oposição ao princípio da autoridade. Os princípios da educação e a pedagogia
da essência, por conseguinte, passam a ser debatidos e a partir de então novos ideais surgem
que irão conceber a educação como função da vida. Suchodolski (1992, p.46) afirma: “[...] se o
homem é naturalmente bom, a educação não deve ir contra o homem para formar o homem”.
Posteriormente, Suchodolski (1992, p.50) complementa: “É a partir do
desenvolvimento concreto da criança, das suas necessidades e dos seus impulsos, dos seus
sentimentos e dos seus pensamentos, que se forma o que ela há de vir a ser, graças ao auxílio
inteligente do mestre.”
Com isso, provoca-se uma revolução na educação, pois, na sua concepção pedagógica,
não é o professor que se encontra no centro do processo educativo, mas sim a criança. O fim
da educação não é formar a criança de acordo com modelos, nem orientá-la para uma ação
futura, mas dar-lhe condições para que resolva por si própria os seus problemas. O professor
não deixa de ser uma presença no processo de ensino-aprendizagem, isto é, não deve deixar o
educando no espontaneísmo, mas é aquele que apenas é ausente nas possibilidades. O pensar
do educando deve ser um processo que não vem de fora; é um desenvolvimento interno e
natural.
Percebe-se, portanto, que a Pedagogia da Existência põe o primado do existir sobre a
essência e a existência humana concreta e vivida. Convém evidenciar a afirmação de
Rousseau, citado por Aranha (1996, p.121): “Viver é o que eu desejo ensinar-lhe. Quando sair
das minhas mãos, ele não será magistrado, soldado, sacerdote, ele será, antes de tudo, um
homem”.
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pais se sentem desencantados com a educação convencional ora porque seus filhos não estão
adquirindo uma alfabetização, ora porque as escolas são desumanizantes? Portanto, diante
dessa angústia, todos os educadores devem repensar a sua prática pedagógica. Quão
profundas são aquelas célebres palavras contidas num cartaz de uma escola que dizia:
“Nenhum de nós é tão inteligente como todos nós” (FERGUSON, 1992, p.292).
Tendo em vista que buscamos uma educação integral do ser humano, não poderíamos
deixar de destacar os quatro pilares da educação contemporânea apresentados pela Unesco:
aprender a ser, a fazer, a viver juntos e a conhecer. Cardoso (1995, p.53) afirma:
Para essa nova visão de mundo que, conseqüentemente repercute na nova forma de se
educar, não podemos deixar de citar a contribuição de Capra (1996, p.28):
sobre os educandos; vê-los como sujeitos e não como objetos (visão mecanicista, reprodução
do conhecimento, educação bancária). A educação, portanto, deve estimular os educandos a
aprender a aprender para desenvolverem todas as potencialidades, utilizando não somente o
lado esquerdo do cérebro responsável pela racionalidade científica e memorização, mas
também o lado direito que desenvolve o sentimento, a criatividade, a intuição, a sensibilidade.
Educar é favorecer o crescimento da pessoa como um todo. Desse modo, para a educação
holística é fundamental o princípio da não-fragmentação dos seres humanos. Ferguson (1992,
p.297) faz um alerta aos educadores:
Falando da Teoria da Complexidade, dá-se impressão de que temos que fazer uma
ruptura, por exemplo, com a Pedagogia da Essência, com a Pedagogia da Existência, com a
Pedagogia Tecnicista, entre outras. É sabido que não se trata de ruptura, mas sim de
superação, que implica em progredir qualitativamente, segundo as novas exigências
históricas.
Lembra Freire & Shor (1986, p.98):
desafio para a Teoria da Complexidade: buscar uma aliança entre a visão holística, a
abordagem progressista e o ensino com pesquisa (BEHRENS, 2005).
Falando da abordagem do ensino com pesquisa, pode-se afirmar que se trata de um
dos grandes desafios no processo de ensino aprendizagem, pois na verdade, os educandos são
vistos pela maioria dos professores como subalternos, que participam passivamente das aulas,
fazem as provas e passam de ano. Quão bonitas as célebres palavras de Demo (1996, p.02):
“...entra em cena a urgência de promover o processo de pesquisa no aluno, que deixa de ser
objeto de ensino, para tornar-se parceiro de trabalho[...]. Não se busca um “profissional da
pesquisa” mas um profissional da educação pela pesquisa”.
Pela primeira vez o professor é apresentado como um orquestrador do processo de
ensino aprendizagem que conduz o aluno para sua emancipação social (BEHRENS, 2005,
p.83). Acompanhar o ritmo produtivo e participativo, por meio de produções individuais e
coletivas, bem como acreditar no potencial de aprendizagem dos alunos é missão fundamental
dos educadores.
Nesta Pedagogia da Complexidade, o caráter punitivo da avaliação é ultrapassado pela
discussão aberta entre o professor e os alunos. O professor orienta os alunos para se
expressarem de maneira fundamentada, exercitando o questionamento e a formulação própria.
O aluno é co-responsável pela sua aprendizagem. Ao aluno cabe aprender a duvidar, a
perguntar, a querer saber, sempre mais e melhor. Deve tomar consciência de que não vai à
escola para assistir a aula, mas para pesquisar, compreendendo-se por isso que sua tarefa
crucial é ser parceiro de trabalho, não ouvinte domesticado. Oxalá os educandos sejam
pesquisadores de qualidade. Afirma Demo (1996, p.28-29):
...é fundamental que os alunos escrevam, redijam, coloquem no papel o que querem
dizer e fazer, sobretudo alcancem a capacidade de formular. Formular, elaborar são
termos essenciais da formação do sujeito, porque significam propriamente participar
como sujeito capaz de propor e contrapor... Aprender a duvidar, a perguntar, a
querer saber, sempre mais e melhor. A partir daí, surge o desafio da elaboração
própria, através da qual o sujeito que desperta começa a ganhar forma, expressão,
contorno e perfil. Deixa-se para trás a condição de objeto.
Nesta busca de uma aprendizagem de qualidade, cujo eixo da ação docente precisa
passar do ensinar para enfocar o aprender e, principalmente, o aprender a aprender (MORAN,
BEHRENS & MASETTO, 2000, p.70), faz-se necessário evidenciar a importância da
elaboração dos contratos didáticos. Trata-se da organização do trabalho docente. É um
conjunto do plano de aula com organicidade. Têm como objetivo o desdobramento dos
programas de aprendizagem, descrição da proposta metodológica e a indicação de
bibliografia. Os alunos deverão ter acesso a esses contratos didáticos para obterem
conhecimento dos mesmos, bem como oferecerem contribuições significativas para eventuais
melhoramentos (BEHRENS, 2006, p.78).
Portanto, acredita-se que a Teoria da Complexidade lança para nós educadores um
grande desafio: lutar por uma docência inovadora que provoque uma aprendizagem
significativa e relevante, isto é, uma aprendizagem que favoreça o espírito crítico reflexivo, a
busca da formação para a cidadania e a recuperação do posicionamento ético.
Considerações Finais
Muda o método tradicional de tudo dizer aos alunos, agora substituídos pelos
procedimentos de trabalhar com projetos investigativos ou de pesquisa. Muda a
função da escola, agora preocupada em preparar para a vida, para atuar na sociedade
e se integrar nela. Muda o papel de professor, que deixa de ser o centro de ensino e
torna-se o orientador do estudo e do trabalho do aluno. Muda o trabalho do aluno,
que deixa de ser um ouvinte e repetidor do que lhe informam e passa a ter
participação ativa, interessada e criativa na construção de seus conhecimentos.
REFERÊNCIAS
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda (1996). História da educação. São Paulo: Editora
Moderna.
BEHRENS, Marilda Aparecida (2005). O paradigma emergente e a prática pedagógica.
Petrópolis: Vozes.
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portfólios. Petrópolis: Vozes.
CAPRA, Fritjof. (1996). A teia da vida: Uma nova compreensão científica dos sistemas
vivos. São Paulo: Cultrix.
CARDOSO, Clodoaldo Meneguello (1995). A canção da inteireza. Uma visão holística da
educação. São Paulo: Summus.
CLAXTON, Guy (2005). O Desafio de aprender ao longo da vida. Porto Alegre: Artmed,
DEMO, Pedro (1996). Educar pela pesquisa. Campinas: Autores Associados.
FERGUSON, Marilyn (1992). Voar e ver: Novos caminhos para o aprendizado. In: A
conspiração aquariana. Rio de Janeiro: Record
FREIRE, Paulo (1975). Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra.
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FREIRE, Paulo & SHOR, Ira (1986). Medo e ousadia. O cotidiano do professor. Rio de
Janeiro: Paz e Terra.
GADOTTI, Moacir e colaboradores (2000). Perspectivas atuais da educação. Porto Alegre:
Artmédicas.
MARTINS, Jorge Santos (2001). O trabalho com projetos de pesquisa: do ensino
fundamental ao ensino médio. Campinas, São Paulo: Papirus.
MORAN, José Manoel; MASETTO, Marcos Tarcísio; BEHRENS, Marilda Aparecida
(2000). As novas tecnologias e mediação pedagógica. Campinas, SP: Papirus.
SAVIANI, Demerval (1985). Escola e democracia. São Paulo: Cortez.
SUCHODOLSKI, Bogdan (1992). A pedagogia e as grandes correntes filosóficas. Lisboa:
Livros horizonte.