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AVALIAÇÃO SÓCIO-ECONÔMICA E VIABILIDADE DE UMA COOPERATIVA

AGROINDUSTRIAL NO CARIRI CEARENSE

Antonia Olga Correia de Moura1


Sebastião Cavalcante de Sousa2
Adriana Correia Lima3
Romênia Oliveira de Souza4

RESUMO: o presente trabalho visa analisar os aspectos sócio-econômicos e viabilidade da


Cooperativa Agroindustrial dos Pequenos Produtores do Sítio Malhada (CAIPEMA) no município de
Crato (CE). A produção leiteira municipal tem sido de grande relevância para a economia local sendo
imprescindível que se compreenda como esta atividade vem sendo desenvolvida. A cooperativa em
estudo é uma das 103 agroindústrias leiteiras do Estado do Ceará e a única na região do Cariri
cearense. Os dados sócio-econômicos dos associados foram obtidos através de questionário, nos meses
de junho e julho de 2010, e os dados contábeis efinanceiros da cooperativa, junto aos registros
existentes e consulta aos diretores. Os associados apresentam baixo nível de conhecimento em gestão
do negócio, resultando em falta de planejamento da produção e no controle do processo produtivo,
comprometendo, assim, o resultado final da atividade leiteira, agravando-se no período da estação seca
do ano. A CAIPEMA apresenta sérias dificuldades no processo de gerenciamento, falta de capital,
atraso nos pagamentos, resultando em um crescente descrédito e afastamento dos associados. Os
associados apresentam interesse em conhecer novas tecnologias de produção que resultem em maior
produtividade e menor custo.

Palavras-chave: Agricultura familiar; Cooperativismo; Desenvolvimento regional.

1INTRODUÇÃO

No período atual, onde a questão econômica rege todas, ou se não quase todas,
atividade humanas, torna-se imprescindível analisar, de forma crítica, alguns setores que
tentam se estruturar de forma mais criativa e mais dinâmica no mercado. No processo de
globalização o mercado se torna uma luta desigual entre as empresas, onde aquelas que são
capitalizadas apresentam condições de circulação de suas mercadorias em uma maior área de
abrangência (nacional e mundial) e aquelas que, por falta de capital, se prendem ao mercado

1
Especialista em Administração Financeira pela Universidade Regional do Cariri – URCA; Técnica da
Incubadora Tecnológica de Empreendimentos Populares e Solidários (ITEPS) da Universidade Federal do Ceará
- UFC/ Cariri.
2
Mestrado em Agronomia pela UFC e Professor do Curso de Agronomia da UFC. E-mail:
scsousaufc@hotmail.com
3
Especialista em Administração Financeira pela Universidade Regional do Cariri – URCA; Professora Auxiliar
da Universidade Regional do Cariri – URCA. E-mail: dricacorreia@yahoo.com.br
4
Especialista em Administração Financeira pela Universidade Regional do Cariri – URCA; Professora
Substituta da Universidade Regional do Cariri – URCA. E-mail: romenia@bol.com.br
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local necessitam de criatividade e forma de organização produtiva para poder competir e
sobreviver.
A compreensão de que o sistema de cooperação se constitui na reunião de pessoas
trabalhando juntas para obter um objetivo comum a todos, parte do pressuposto de que no
grupo, os associados possam compartilhar da mesma forma de produção, de informação
egerenciamento do negócio sem discriminação ouexclusão de nenhum dos seus membros.
Mas ao mesmo tempo esse tipo de cooperativa assume característica de empresas porque
representa à conjunção dos fatores que integram o sistema produtivo como o trabalho, o
capital, a administração e a tecnologia empregada.
Uma cooperativa é, na verdade, uma sociedade cujos donos são os próprios
produtores, autogeridos por um grupo de seus representantes, eliminando a relação
empregado/empregador possuindo, contudo, leis nacionais e internacionais (lei nº 5.764/71 e
decreto-lei nº 335/99) que regulam sua autonomia e funcionamento.
Faz-se necessário buscar subsídios teóricos para fundamentar a análise comparativa
entre a pecuária leiteira desenvolvida no Estado do Ceará e na região do Cariri cearense, com
ênfase na produção desenvolvida em sistemas cooperativos.
Desta forma, o presente trabalho visa analisar os aspectos sócio-econômicos e de
viabilidade da Cooperativa Agroindustrial dos Pequenos Produtores do Sítio Malhada
(CAIPEMA) no município de Crato – Ceará.

2 ASSOCIATIVISMO E COOPERATIVISMO

O associativismo é toda ação formal ou informal, onde pessoas, grupos ou entidades


reúnem esforços, vontades e recursos, com o objetivo de superar dificuldades, resolver
problemas e gerar benefícios comuns. O associativismo acompanha a evolução dahumanidade
e com o passar do tempo, fez-se necessário estabelecer normas para que as pessoas sentissem
segurança ao participarem de grupos e movimentos que respeitam a vontade e o desejo de
todos. São entidades constituídas pela união de pessoas físicas ou jurídicas que se organizam
para fins não econômicos, assumindo diferentes formas: cooperativas; sindicatos; fundações;
organizações sociais; e clubes, onde o diferencial jurídico é basicamente os objetivos que se
pretende alcançar (MELO, 2006).
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A origem do sistema cooperativista tem como cenário o período da Revolução
Industrial (1844), na cidade de Rochdale – Inglaterra, onde 28 artesãos, que haviam perdido
suas funções na manufatura têxtil, organizaram-se com o objetivo de juntos, manterem seu
trabalho.
Desta forma, surgiu a primeira cooperativa em bases associativas formais. No Brasil,
o marco inicial foi em 1847, quando o médico francês Jean Maurice Faivre fundou no interior
do Paraná uma colônia em bases cooperativas – A Colônia Tereza Cristina (MELO, 2006).
Os princípios do cooperativismo são os seguintes: adesão voluntária e livre; gestão
democrática pelos membros; e participação econômica destes; autonomia e independência;
educação, formação e informação; inter cooperação; interesse pela comunidade (ALIANÇA
COOPERATIVA INTERNACIONAL apud MELO, 2006).
Cooperação supõe liberdade de trabalhar em comunidade, possuindo duas condições
importantes e imprescindíveis: liberdade e comunidade; trabalho livre e grupal. Igualmente se
opõe à competição e concorrência. Concebem-se a cooperativa como associação e empresa,
com base na cooperação. Associação porque constitui a reunião de pessoas, que trabalham
juntas, livremente e com o mesmo objetivo. Empresa porque representa a conjugação dos
fatores de produção: trabalho, capital, administração, tecnologia e natureza. Destacam-se as
duas dimensões caracterizadoras da cooperativa: econômica e social. Se faltar uma, já não é
cooperativa.
Como estas não visam obter lucro, no sentido capitalista, as sobras geradas por todos
os associados são repartidas entre os mesmos, por intermédio do mecanismo de retorno. Neste
tipo de sociedade os donos são os próprios produtores, autogerida por um grupo de seus
representantes, eliminando a relação empregado/empregador e outros mecanismos de
dominação. As cooperativas não possuem independência absoluta, sua autonomia funciona
obedecendo às leis já estabelecidas e aceitas (MAIA, 1985).
As cooperativas são classificadas por ramos de atividade e por seus propósitos gerais
(de produção, de consumo e de crédito). Em documento legal, as cooperativas
sãoclassificadas de acordo com a natureza das atividades que desenvolvem. A lei também
considera aquelas com mais de um objeto de atividade, as cooperativas mistas.
Na literatura sobre cooperativismo rural, os especialistas divergem entre si quanto à
avaliação da eficácia de existirem cooperativas concentradas apenas em uma única atividade.
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Para os que defendem cooperativas especializadas o argumento é que diferentes formas
institucionais visando atender a uma necessidade específica dos produtores rurais seria
melhor, pois cada instituição teria a vantagem da especialização. Como desvantagens citam-se
seus custos elevados, o risco alto e as poucas garantias para transações.
Para os que defendem cooperativas mistas, os argumentos em favor são: cooperativas
exclusivas apresentam sérios problemas de coordenação entre as várias instituições
especializadas; as cooperativas mistas oferecem diversos serviços, aumentando a confiança do
rural nelas; beneficiam-se de economias de escala; a habilidade gerencial dos cooperados
aumenta; existem possibilidades de estabelecer conexões sinérgicas entre um tipo de operação
e outro, por exemplo, operações de crédito com canais de comercialização (FEIJÓ, 2011).
Cooperativas rurais têm-se mostrado um importante instrumento de desenvolvimento
do meio rural, pois: auxilia os membros cooperados; geram empregos no campo; propiciam
arrecadação de impostos. Elas perseguem o objetivo de auxiliar o produtor na aquisição de
insumos e tecnologia, possibilita melhor comercialização de produtos primários, facilitando o
seu escoamento em direção aos centros consumidores. Em geral, cooperativas cumprem
diferentes funções: fornecedoras de insumos, comercializadoras de produtos, armazenamento
e controle da produção, oferecendo facilidades de processamento (FEIJÓ, 2011).
Em que pesem suas vantagens, a organização cooperativa provoca diversos problemas
de gestão. As ações do gerente da cooperativa não estão automaticamente alinhadas com os
desejos dos sócios do negócio. O incentivo ao gerente para que siga suas orientações afigura-
se menor no caso das cooperativas, em virtude dasfreqüentes mudanças de controle
administrativo. Neste caso, o monitoramento do agente executor pelo principal é muito tênue.
Na medida em que todos os cooperados são sócios, os direitos de propriedade sobre os
resíduos financeiros tendem a ser muito dispersos. A renda do cooperado provém muito mais
da venda de seus produtos do que dos eventuais restos distribuídos ao final do exercício.
Também o cooperado é proprietários e cliente, muitas vezes, da cooperativa. Isso leva a
conflitos internos, por exemplo, “enquanto cliente o cooperado espera vender a sua produção
à cooperativa recebendo o maior preço possível, e enquanto proprietário deseja que a empresa
tenha o melhor desempenho econômico possível” (FEIJÓ, 2011, p. 218).

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3. ASSOCIATIVISMO E COOPERATIVISMO DE AGROINDÚSTRIAS LEITEIRAS
NO CEARÁ
Segundo estudo realizado por Botega et al. (2008), avaliando o nível de automação
na pecuária leiteira no sul do Estado de Minas Gerais, foram realizados levantamentos de
dados em fontes secundárias e, também, entrevistas não-estruturadas individuais. Essas
entrevistas foram realizadas com o objetivo de intensificar o conhecimento sobre o assunto,
sendo as informações obtidas por meio de profissionais que atuam na cadeia produtiva de
leite, como veterinários, fazendeiros, técnicos, mestres, etc. Para verificar as limitações do uso
da automação por produtores de leite foram analisadas quatro propriedades rurais e realizadas
entrevistas com os proprietários. Os resultados da pesquisa evidenciaram diferentes graus de
automação entre os fazendeiros, não existindo um padrão e em conformidade com o capital
disponível de cada um.
Costa (2007), estudando o nível tecnológico, rentabilidade e cadeia produtiva da
ovina caprinocultura de corte no Estado do Ceará utilizaram dados primários obtidos
mediante entrevista direta com produtores e dados secundários obtidos em diversas
instituições. Com a identificação do perfil socioeconômico chegou à conclusão de que a
maioria dos criadores não tem nenhum tipo de mecanismo de gerenciamento da sua
propriedade e não conta com energia elétrica e fossas sépticas. O percentual de adoção de
tecnologias relacionadas à infrainstrutura, gerenciamento da propriedade e manejo do rebanho
é ainda muito baixo entre os criadores de ovinos e caprinos no Ceará. A decisão de adotar ou
não uma tecnologia é determinada pela escolaridade dos criadores, acesso à assistência
técnica, participação em associações, dedicação à atividade e acesso ao crédito. O nível
tecnológico tem influência positiva sobre a lucratividade dos criadores.
Outro estudo sobre a pecuária leiteira no município de Quixeramobim foi realizado
por meio de questionários pretextados e inventários das propriedades. Os dados utilizados
para esta análise foram estratificados em quatro grupos, de acordo com a área destinada à
pecuária leiteira e a produção diária de leite do rebanho: as características pessoais e
socioculturais dos produtores; as características técnicas utilizadas na pecuária leiteira; análise
da rentabilidade econômica na atividade leiteira e identificação dos fatores limitantes à
produção leiteira. Os resultaram obtidos evidenciaram que a pecuária leiteira desenvolvida no

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município passava por sérias dificuldades econômicas, agravadas principalmente pelas secas
periódicas que produzem danos até mesmo para os produtores mais especializados.
Todos os indicadores de rentabilidade econômica utilizados apresentaram resultados
médios desfavoráveis para a amostra estratificada composta por quatro grupos de produtores.
Os produtores com maior produção diária de leite apresentaram resultados menos
desfavoráveis relativamente aos demais grupos, visualizada principalmente pela receita
líquida média. Concluiu-se, ainda, que as dificuldades por que passava a atividade leiteira de
Quixeramobim não eram originadas só pela seca, mas pela ineficiência e ausência de
assistência técnica, falta de organização e ineficiência administrativa dos produtores, baixa
qualidade do rebanho e a falta de uma política específica para o setor (HOLANDA JUNIOR,
2003).

3.1. Caracterizações socioeconômicas e ambientais do município de Crato-CE

O município do Crato está localizado no sopé da Chapada do Araripe no extremo-sul


do Ceará e na microrregião do Cariri. Possui área total de 1.009,202 km2, população de
136.259 habitantes, com densidade de 114,0 hab./km2 no ano 2009. Sua altitude é de 425m e
o seu clima é o tropical (IPECE, 2009). A pluviosidade no município é de 1090,9 mm anuais
(Figura 1), com chuvas concentradas de janeiro a abril com temperaturas que variam,
conforme a época do ano e local, de mínimas de aproximadamente 15 °C até máximas de 35
°C. As médias térmicas mensais, no entanto, giram entre 24 °C e 27 °C na zona urbana, isto é,
não considerando as áreas mais altas da Chapada do Araripe, onde as temperaturas são mais
frias devido à altitude (IPECE, 2009).
As principais fontes de água fazem parte da bacia do rio Salgado, sendo seus
afluentes: os rios Carás e das Batateiras; riachos Correntinho, Carão, dos Carneiros, São José
e outros tantos. Existem ainda diversos açudes, sendo os de maior porte o Açude dos
Gonçalves e o Açude Tomaz Osterne (IPECE, 2009). Os solos da região são planos,
profundos, ácidos, bem drenados e de baixa fertilidade, representados, em maior proporção,
pelos Latosolos e Argissolos (IPECE, 2008).
O município é dividido em dez distritos: Crato (sede), Baixio das Palmeiras,
Belmonte, Campo Alegre, Dom Quintino, Monte Alverne, Bela Vista, Ponta da Serra, Santa
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Fé e Santa Rosa. A economia local é baseada na agricultura de feijão, milho, mandioca, arroz,
monocultura de algodão, cana-de-açúcar, castanha de caju, hortaliças, banana, abacate e
diversas frutas. Na pecuária extensiva destaca-se criação de bovinos, ovinos, caprinos, suínos
e de aves (IPECE, 2009). O PIB do município, em 2005, era de R$ 459.764,000, onde o setor
agropecuário representa 2,96%, o setor de comércio e serviços representa 78,50% e a
indústria 18,54% (IPECE, 2008).

3.1.1. Estudo de caso da cooperativa CAIPEMA no sítio malhada em crato-CE

O presente estudo foi realizado no período de setembro de 2009 a setembro de 2010.


A cooperativa estudada (CAIPEMA) está situada na comunidade do Sítio Malhada, localizada
a 3 km do distrito de Ponta da Serra, no vale do rio Carás, a 17 km da Sede do município do
Crato. A análise socioeconômica dessa pesquisa foi baseada em depoimentos dos associados
da cooperativa, colhidos através de questionários, conforme metodologia proposta por Botega
et al. (2008), Costa (2007) e Holanda Júnior (2003), bem como leituras bibliográficas para
fundamentação teórica sobre o tema. Outros dados dessa pesquisa foram colhidos em órgãos
públicos. A análise da viabilidade econômica da cooperativa foi efetuada com a realização de
visitas para prospecção contábil-financeira utilizando os registros contábeis existentes.
A Associação dos Pequenos Produtores de Leite do Sítio Malhada, foi fundada no
dia 03 de março de 2007, com sede na comunidade da Malhada, foro jurídico na Comarca do
Crato, e área de abrangência nos sítios circunvizinhos (Palmeirinha dos Brito, Sítio Juá,
Palmeirinha dos Vilar, Sítio Patos, Umburana, Malhada, Sítio Cipó e Sítio Macapá). A
Associação do Sítio Malhada dispõe de sede própria, cujo terreno foi doado pelo presidente da
referida entidade (Raimundo S. da Silva), dispondo dos seguintes bens: um tanque com
capacidade para quatro mil litros de leite, doado pelo governo federal; três frízeres; uma
máquina de pasteurização; uma desnatadeira; uma embaladeira, todos doados pelo Projeto
São José; uma iogurteira; uma prensa (queijeira); uma máquina para embalagem a vácuo,
adquiridos através de doação da Coelce; um computador, doado por um particular e um
botijão de sêmen, doado pelo Governo do Estado.
Em dezembro de 2008 a Associação dos Pequenos Produtores de Leite do Sítio
Malhada assumiu, também, a condição de Cooperativa Agroindustrial dos Pequenos
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Produtores do Sítio Malhada – CAIPEMA, que tem como principal objetivo prestar serviços
aos seus associados e congregando pequenos produtores rurais que, dentre outras culturas,
produzam leite, no município de Crato e regiões circunvizinhas viabilizando o interesse
econômico dos mesmos.
Os serviços prestados aos sócios, que buscam oportunidades de mercado, são: a
gestão dos recursos auferidos pelos sócios na produção agropecuária; a prestação de
assistência técnica, educacional e social; organização da compra conjunta de insumos; apoio
logístico e outros que beneficiem a atividade profissional de cada sócio. Vale salientar que a
função da associação é viabilizar a inserção de projetos pelos quais doações e verbas públicas
são disponibilizadas e que a posteriori serão administradas pela cooperativa, sendo que todos
os bens são de propriedade da associação.
A administração da cooperativa se dá através de uma parceria com o Instituto
Agropólos, realizada em junho de 2009, com a contratação de um técnico que gerencia as
atividades. A CAIPEMA também utiliza os serviços de um contador que faz o trabalho
gratuitamente, sendo que a mesma só é responsável pelo pagamento dos serviços de dois
funcionários, um atuando na linha de produção dos derivados lácteos e o outro nos serviços
gerais.

3.1.1.1. Caracterização socioeconômica dos associados

O resultado da pesquisa evidencia que os produtores possuem idade média de 49 anos,


variando entre 31 a 86 anos. A idade exerce grande influência na relação entre os associados e
a cooperativa, tendo em vista que a iniciativa de buscar mudanças e melhorias de seus
negócios é, na maioria das vezes, realizada pelos produtores de menor faixa etária, com
atitudes inovadoras, contrapondo-se aos de maior faixa etária, que se baseiam apenas nas
experiências vividas mostrando resistência a novas inovações. Dos 20 produtores associados
dois são alfabetizados, 13 possuem ensino fundamental incompleto, três possuem ensino
médio e dois possuem ensino superior. O baixo nível de escolaridade da maioria dos
produtores, aparentemente, não impede a assimilação de novas técnicas de manejo das
pastagens e do rebanho, bem como da administração da propriedade, no sentido de melhorar a

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eficiência econômica da atividade. Entretanto, este baixo nível de instrução formal, reflete
negativamente no que diz respeito às relações dos associados com a cooperativa.
Quanto ao local de residência dos associados, observou-se que 14 produtores moram
na propriedade e seis moram na sede do município, sendo estes últimos, auxiliados por
moradores. O local de residência do produtor contribui para aumentar o tempo dedicado a
atividade leiteira, facilitando a identificação e a solução de problemas, resultando em melhor
administração da propriedade, fato esse, observado com os produtores da CAIPEMA.
Quanto à atividade dos produtores, observou-se que três só possuem a produção
leiteira como fonte de renda. Os outros desempenham, também, distintas atividades, tais
como: agricultura (nove associados); comércio (3); autônomos (1); profissionais liberais (1);
servidores públicos (2) e avicultores (1). Os produtores afirmam que há necessidade de
diversificação das atividades em função da impossibilidade de se obter sustento
exclusivamente da produção leiteira nos moldes em que a mesma se apresenta atualmente. Ou
seja, produção sazonal, com elevados riscos de deficiência de quadra chuvosa, além de
mercado incerto e preços baixos para o litro de leite.
A assistência técnica dada aos produtores é realizada pela Empresa de Assistência
Técnica e Extensão Rural do Ceará (EMATERCE); pelo Instituto Agropólos do Ceará e a
assistência contratada, que é feita por técnicos agrícolas ou veterinários particulares. Dentre
os associados, observou-se que 16 recebem assistência técnica da EMATERCE e do Instituto
Agropólos, enquanto dois fazem uso de assistência técnica contratada e da EMATERCE e
dois dos associados dizem não possuir nenhum tipo de assistência.
Embora a grande maioria dos produtores afirme que recebe assistência técnica dada
pela EMATERCE, eles reconhecem que esta assistência está sendo prestada de forma
deficiente, por vários motivos, dentre os quais: periodicidade inexistente e ausência de
multidisciplinaridade na equipe técnica. Os produtores têm consciência da importância deste
item no processo de desenvolvimento e disseminação de novas tecnologias no setor
agropecuário e se mostram preocupados e atentos a todas as informações que possam
viabilizar uma melhoria das condições de produção de seus rebanhos.
O resultado da pesquisa evidencia que a administração das propriedades é realizada
em sua totalidade pelos proprietários. Dos 20 produtores entrevistados, 15 não utilizam
nenhum recurso administrativo para registrar suas operações financeiras e técnicas; três
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afirmam fazer uso do caderno para anotações referentes às receitas e despesas e dois utilizam
dados informatizados para controle dos animais e planejamento das ações. A deficiente
atenção dada ao controle e registro das diversas operações existente no processo de produção,
evidencia uma insuficiente forma de gestão e planejamento, provocando a desistência do
produtor da atividade por considerá-la inviável do ponto de vista econômico.
Dentre os agentes financiadores que estão no município de Crato, o Banco do
Nordeste é o principal, participando com os programas do Fundo Constitucional de
Desenvolvimento do Nordeste (FNE) e o Programa Nacional de Fortalecimento da
Agricultura Familiar (PRONAF). O resultado da pesquisa evidencia que 11 produtores
utilizam algum tipo de financiamento, sendo que nove produtores foram beneficiados com o
PRONAF; dois com o FNE e nove não utilizam nenhum tipo de financiamento, até o
momento desta pesquisa. Observa-se que apesar da maioria dos produtores estudados
possuírem financiamento, este fato não resulta em um desenvolvimento econômico visível da
pecuária leiteira do Sítio Malhada.

4. CARACTERIZAÇÃO DA ATIVIDADE LEITEIRA

A caracterização da atividade leiteira praticada pelos produtores foi dividida em duas


etapas. Na primeira destacam-se os seguintes aspectos técnicos: caracterização do rebanho,
manejo alimentar, manejo reprodutivo e manejo sanitário. Na segunda etapa, observam-se
alguns aspectos econômicos relacionados à produção, preço e comercialização do leite.

Aspectos Técnicos

O resultado da pesquisa evidencia que o rebanho bovino é, em sua maioria, composto


por animais mestiços de Gir e holandês (Girolando) encontrado em 11 propriedades.
Entretanto, encontram-se também rebanhos formados por animais holandeses em três e Girem
seis propriedades. É necessário salientar que a raça Gir, mesmo fazendo parte do grupo dos
zebuínos, já é uma raça melhorada geneticamente para produção de leite.
Verifica-se também a existência de produtores com rebanho mais especializado para
atividade leiteira, ou seja, animais com maior grau de sangue holandês, que apresenta a maior
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produção diária de leite. Atribui-se a isso o maior nível tecnológico, apresentando melhor
manejo e infraestrutura mais adequada à pecuária leiteira.
Na alimentação do rebanho bovino, 100% dos produtores utilizam pastagem nativa e
cultivada. A espécie de pastagem cultivada mais utilizada é o capim andropogon, porém,
destacam-se, também, as espécies paulistinha, cana-de-açúcar e o capim elefante. Já as
pastagens nativas são formadas por espécies que surgem nas áreas depois do desmatamento.
As práticas de divisão das pastagens cultivadas, como também a adubação orgânica e
irrigação, são feitas por todos os produtores, entretanto, nos períodos de seca, são reduzidas
em virtude da necessidade de maior disponibilidade de água, mão-de-obra e equipamentos de
irrigação, o que acaba por onerar estas práticas.
O uso de ração concentrada na alimentação do rebanho bovino é praticado pela quase
totalidade dos produtores, onde os mesmos compram os ingredientes e preparam a mistura em
sua propriedade. Constatou-se também que os 60% dos produtores utilizam silagem de milho
ou de sorgo na alimentação do rebanho. O fornecimento de minerais ao rebanho é empregado
por todos os produtores. A alimentação fornecida ao rebanho leiteiro é recomendada por
técnico agrícola ou agrônomo, mas há produtores que não utilizam qualquer recomendação
técnica, segundo depoimento de alguns associados da CAIPEMA.
Em relação ao manejo reprodutivo os produtores apresentam dois tipos de cobrição
dos animais: a monta natural e a inseminação artificial. Constatou-se que 18 dos produtores
utilizam a monta natural sem nenhum controle e dois utilizam a inseminação artificial. A
primeira monta dos animais é feita sem nenhum critério de seleção pela quase totalidade dos
produtores estudados, com exceção de dois produtores que fazem a inseminação artificial.
Tais produtores controlam a idade e o peso dos animais como critério de seleção para a época
de cobertura e fazem a detecção do cio através da observação, mostrando que os criadores
possuem maior habilidade e controle sobre o manejo reprodutivo de seus animais.
Quanto ao processo de ordenha, constatou-se que 19 dos produtores utilizam a
ordenha manual, e um produtor utiliza ordenhadeira mecânica. Verificou-se, também, que 16
dos produtores fazem a ordenha no estábulo e quatro no curral. Os produtores não aplicam um
bom padrão de higiene na retirada do leite, em função dos deficientes cuidados básicos na
ordenha (lavagem das mãos e do úbere), além de uso de local inadequado (curral) ou

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deficiente limpeza dos estábulos, resultando em baixa qualidade do produto e conseqüente
redução do preço.
As práticas de vacinação e de vermifugação do rebanho leiteiro são bastante comuns
entre os produtores. A vacinação contra a febre aftosa é feita semestralmente e contra a raiva é
feita anualmente por todos, enquanto que a vacinação contra doenças como a brucelose e o
carbúnculo sintomático (manqueira) é aplicada apenas por alguns produtores. Outros cuidados
sanitários, como o controle preventivo de mastite nas vacas leiteiras e o corte e desinfecção do
umbigo dos bezerros, são práticas empregadas por pouquíssimos produtores. O manejo
sanitário do rebanho é deficiente e necessita de melhoramento em suas práticas por todos os
associados.

Aspectos econômicos

A produtividade média obtida foi de 7,24 litros/dia por vaca em lactação. Os dados
estão assim distribuídos: produtividade entre 4,0 e 6,0 litros/dia – 5 produtores; entre 6,1 e 8,0
litros/dia – 13 produtores; entre 8,1 e 10 litros/dia – um produtor; maior que 10 litros/dia – um
produtor. A produtividade diária obtida é bem superior à estadual (3,4 litros/cabeça), superior
à produtividade prevista para a raça Girolando em nível de manejo baixo (todos os
cruzamentos) e abaixo da produtividade prevista para a raça Girolando no nível de manejo
alto, com exceção do cruzamento 1/4.
A produtividade média obtida foi de 7,24 litros/dia por vaca em lactação. Os dados
estão assim distribuídos: produtividade entre 4,0 e 6,0 litros/dia – 5 produtores; entre 6,1 e 8,0
litros/dia – 13 produtores; entre 8,1 e 10 litros/dia – um produtor; maior que 10 litros/dia – um
produtor. A produtividade diária obtida é bem superior à estadual (3,4 litros/cabeça), superior
à produtividade prevista para a raça Girolando em nível de manejo baixo (todos os
cruzamentos) e abaixo da produtividade prevista para a raça Girolando no nível de manejo
alto, com exceção do cruzamento 1/4.
A comercialização do leite pelos associados é realizada in natura, com a seguinte
distribuição: 10 produtores na sede do município (atravessadores, frigoríficos e mercado
central), sete na cooperativa e três simultaneamente na cooperativa e na sede do município. A
comercialização se dá na seguinte forma de recebimento: na venda para os atravessadores o
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prazo de recebimento varia entre oito e 15 dias; para frigoríficos e para o mercado central o
prazo médio é de 30 dias, onde os valores cobrados são os acumulados no período. Para a
cooperativa não há prazo previsto para recebimento em função das operações de venda
realizadas junto ao seu principal comprador, a Companhia Nacional de Abastecimento
(CONAB), não possuírem regularidade no pagamento. Tal disfunção proporciona incerteza no
recebimento do valor do leite e boicote de, aproximadamente, 50% dos produtores no
fornecimento à cooperativa.Quanto aos custos de produção, há um aumento na estação seca,
em função da aquisição de forragem e concentrado, e diminuição dos custos na estação
chuvosa em função da disponibilidade de pastagens.Atualmente os associados depositam na
cooperativa, aproximadamente, 10.500 litros de leite/mês ao preço de R$ 0,70/litro. A tabela 1
relaciona os produtos com seus respectivos preços de venda e receita total mensal obtida.
Tabela 1: Beneficiamento do leite e receitas totais mensais
Saída
Produto Unid. Entrada
Quant. Valor Especificação Unid. Quant. Valor Valor
(R$) Unit. Total
(R$) (R$)
Leite Litro 10.500 7.350,00 Leite Litros 600 1,20 720,0
pasteurizado

Iogurte Litros 4.000 2,00 8.000,00

Manteiga Litros 15 10,00 150,00

Subtotal Litros 4.615 8.870,00

Queijo minas Kg 600 7,50 4.500,00

Queijo coalho Kg 200 10,00 2.000,00

Queijo Kg 20 10,00 200,00


orégano

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Ricota Kg 40 10,00 400,00

Subtotal Kg 860 7.100,00

Total 10.500 7.350,00 Kg 5.475 15.970,00

A tabela 2relaciona os custos de produção e a despesa total mensal.


Tabela 2: Custos de produção e despesas totais mensais
Custos fixos Valor (R$)
Salário 600,00

Custos variáveis
Material de expediente 10,00
Manutenção/limpeza 100,00
Máquinas e equipamentos 33,00
Água e energia elétrica 367,00
18,00 260,00
Transportes/frete
Despesas bancárias 18,00
Total 1.388,00

O valor médio do litro de leite comercializado pelos produtores é de R$ 0,75/litro,


um mínimo de R$ 0,70 e um máximo de R$ 0,80. Observou-se que o menor preço pago por
litro de leite é o da Cooperativa, que é R$ 0,70, fator desestimulante para muitos produtores
que optam por vender a particulares e a outros estabelecimentos comerciais, uma vez que os
mesmos pagam a R$ 0,80 o litro. Ocorre, ainda, uma sazonalidade do preço do litro do leite
em relação à estação seca e chuvosa, ou seja, na estação seca o preço tende a ser maior, dado
a queda da produção e a consequente redução da oferta do produto é menor na estação
chuvosa, pelo aumento na oferta.
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Os produtos da CAIPEMA são comercializados para os seguintes clientes: leite
eiogurte - PAA (Programa de Aquisição de Alimentos) e PENAE (Programa Nacional de
Alimentação Escolar), ambos destinados a merenda escolar cujo pagamento é efetuado pela
CONAB; demais produtos - Hotel Encosta da Serra na cidade do Crato; Padarias e
mercantisnas cidades de Crato e Juazeiro do Norte. Os recebimentos são pactuados da
seguinte forma: CONAB – 15 dias após prestação de contas; Hotel – 30 dias após compra;
Padarias e mercantis – à vista.
Destes clientes a CONAB é responsável por, aproximadamente, 55% do faturamento
da cooperativa e atrasa em até 3 meses o pagamento. A tabele 3 apresenta o resultado
operacional líquido mensal.

Tabela 3: Resultado operacional líquido mensal


Discriminação Valor (R$)
(+) Receita bruta 15.970,00
(-) Pagamento matéria prima 7.350,00
(-) Custos de produção total 1.388,00
Resultado operacional líquido 7.232,00

O valor correspondente à CONAB, em constante atraso de pagamento, é de R$


8.720,00, ou seja, superior ao resultado operacional de R$ 7.232,00. Tal situação financeira
força uma inadimplência mensal da cooperativa junto aos associados provocando uma
situação deficitária constante.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os associados da CAIPEMA apresentam baixo nível de escolaridade, baixo nível


tecnológico, pouca consciência associativa, gestão do negócio rural precária, elevada
dependência das condições climáticas, grande fragilidade com as flutuações de preço de
mercado, deficientes formas de manejo alimentar, sanitário e reprodutivo, insuficiente
capitalização, assistência técnica deficiente além de pouco espírito empreendedor para
impulsionar os negócios da cooperativa. Em outras palavras, o grau de escolaridade, a
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assistência técnica, o nível de consciência associativa e conhecimentos de gestão sobre
administração rural são os principais fatores que impedem o bom desenvolvimento do sistema
produtivo da agricultura familiar no Sítio Malhada, Crato (CE). O nível de consciência sobre
cooperativismo e conhecimento sobre gerenciamento de empresa agropecuária são os
principais fatores que impedem a alavancagem dos negócios da cooperativa.
A maioria dos produtores não faz uso de recursos administrativos, tais como:
anotações das despesas e receitas; produção de leite/vaca/dia; reprodução, resultando em
deficiente planejamento das atividades, comprometendo assim, todo o processo produtivo.
Outro ponto importante a considerar é que os produtores desconhecem o sistema cooperativo,
ou seja, a burocracia existente para o funcionamento de uma cooperativa. Os trâmites legais,
os aspectos contábeis, o sistema de integralização e retorno de capital constituem elementos
de difícil entendimento por parte dos associados.
A irregularidade no recebimento da venda dos produtos para a CONAB é o principal
fator de desestabilização entre a cooperativa e seus associados, pois a Diretoria atuante à
época da pesquisa não busca superar esta situação com a realização de contratos de venda
com outros compradores de maior liquidez nos pagamentos. Como a maioria dos produtores
afirma que não conseguem sobreviver somente da atividade leiteira, eles necessitam receber
regularmente os valores advindos de sua produção. Tal situação os força a negociar seu leite
fora da cooperativa. Por sua vez, a cooperativa deixa de produzir em maior quantidade e não
consegue realizar maiores e melhores contratos de venda na região, concorrendo com outros
fornecedores existentes, tais como: produtores de leite de Pernambuco e pelo Laticínio Raissa
da cidade de Juazeiro do Norte.
A CAIPEMA não está atendendo aos anseios dos associados que a fundaram,
necessitando, urgentemente, de: aporte de capacitação em gestão dos seus administradores;
aporte de capital de giro para cobrir eventual situação deficitária; difundir aos associados
novas tecnologias de produção leiteira; abrir novos contratos de comercialização de maior
liquidez.

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