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Candidato Supervisor
Alves Ernesto Manjate Dr. Sérgio Gomes
O Candidato O Supervisor
_______________________ ________________________
Alves Ernesto Manjate Dr. Sérgio Gomes
Assinatura
___________________________
i
Agradecimentos
O meu agradecimento vai para todos aqueles que me apoiaram na escolha deste tema e
também a todos aqueles que, de forma directa ou indirecta, contribuíram para o sucesso
deste trabalho.
ii
Dedicatória
Este trabalho é dedicado a minha família de quem recebi, incondicionalmente, todo tipo
de apoio. Minha mãe, Olinda de Oliveira Simão, a pessoa mais importante da minha vida,
a quem devo tudo aquilo que sou. Meus irmãos, Esmeralda Manjate e Edilson Chadreque.
Amo-vos.
Dedico ainda a todos meus amigos e companheiros de carreira, pessoas que tem estado a
auxiliar-me no meu percurso estudantil.
iii
Lista de Abreviaturas
APE – Acordo de Parceria Económica
ACP – África, Caraíbas e Pacífico
CE – Comissão Europeia
COMECON – Conselho de Assistência económica Mútua
EUA – Estados Unidos da América
FRELIMO – Frente de Libertação de Moçambique
ISRI – Instituto Superior de Relações Internacionais
MDC – Moviment For Democratic Change
URSS – União da Repúblicas Socialistas Soviéticas
RENAMO – Resistência Nacional de Moçambique
ROSA – Rede de Organizações para a Soberania Alimentar
ZANU-PF – Zimbabwe African National Union – Patriotic Front
SADC – Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral
UE – União Europeia
iv
Índice
Declaração de Autoria………………………………………………………………………..i
Agradecimentos……………………………………………………………………………...ii
Dedicatória………………………………………………………….……………………….iii
Lista de Abreviaturas………………………………………………………………………..iv
Introdução ..............................................................................................................................1
i. Objectivos .....................................................................................................................4
ii. Questões de Pesquisa ....................................................................................................4
iii. Hipóteses ...................................................................................................................4
iv. Metodologia ..............................................................................................................5
v. Estrutura ........................................................................................................................6
Capítulo I ...................................................................................................................................7
Enquadramento Teórico e Discussão Conceitual ......................................................................7
1.1 Enquadramento Teórico ............................................................................................7
1.1.1 Teoria Pluralista ................................................................................................7
1.1.2 O modelo de Dois Níveis ..................................................................................8
1.2 Discussão Conceitual ..............................................................................................12
1.2.1 Estado .............................................................................................................12
1.2.2 Política Externa ...............................................................................................16
1.2.3 Opinião Pública ..............................................................................................18
Capítulo II ................................................................................................................................20
A opinião pública.....................................................................................................................20
3.1 Debate em torno do conceito, evolução e características da Opinião Pública ........20
3.2 Autonomia da Opinião Pública ...............................................................................23
3.3 Opinião Pública e Liderança ...................................................................................25
Capítulo III...............................................................................................................................28
A estrutura de tomada de decisão na Política Externa em Moçambique .................................28
2.1 Processo decisório na Política Externa de Moçambique.........................................28
Capítulo IV ..............................................................................................................................33
O papel da Opinião Pública na tomada de decisões de Política Externa em Moçambique .....33
4.1 Breve historial da Política Externa de Moçambique ...............................................34
3.4 Opinião Pública em Moçambique ...........................................................................36
4.2 Papel da Opinião Pública na tomada de decisões de Política Externa em
Moçambique ........................................................................................................................38
4.3 Papel da Opinião Pública no caso concreto de algumas decisões ...........................43
4.3.1 A Diplomacia Silenciosa na Crise Zimbabueana ...........................................43
4.3.2 A Assinatura dos Acordos interinos de Parceria Económica com a União
Europeia 45
4.3.3 A Negação da navegabilidade dos Rios Zambeze e Chire .............................46
Conclusões ...........................................................................................................................49
Bibliografia ..........................................................................................................................52
Fontes Secundárias ..........................................................................................................52
Artigos e Relatórios .........................................................................................................54
Paginas Consultadas ........................................................................................................56
Outras fontes....................................................................................................................57
Entrevistas .......................................................................................................................57
Introdução
O presente trabalho aborda a estrutura de tomada de decisão em Moçambique,
focalizando o papel da opinião pública nas decisões de Política Externa. Este trabalho
tem como ponto de partida o ano de 1990, ano em que entrou em vigor uma nova
constituição, adoptando valores pluralistas. A constituição de 1990 foi consequência de
mudanças sistémicas, regionais e domésticas e trouxe uma nova orientação para a Política
Externa de Moçambique. A análise estende-se até 2011, ano em que se levou a cabo a
pesquisa. A escolha do ano de 1990 como referência para o trabalho torna-se relevante
pelo facto de se acreditar que os sistemas políticos pluralistas permitem mais agentes no
debate sobre políticas públicas, e por conseguinte, maior participação pública em
processos conducentes a adopção de políticas públicas incluindo a Política Externa.
O segundo grupo afirma que as decisões de Política Externa não sofrem qualquer
influência da opinião pública. Estas partem do topo, tomando um efeito top-down. Por
exemplo, Hill (2003: 53) fala da existência de estruturas competentes com poder
decisório dentro do Estado na tomada de decisão de Política Externa e afirma que em
grande parte dos Estados, o Ministro de Negócios Estrangeiros é o órgão encarregue por
esta área, seja qual for a sua designação. Portanto, estas estruturas actuam num sistema
fechado sem qualquer interferência do meio externo e colocam para o consumo externo
apenas o que lhes é conveniente.
1
Sabe-se que a Política Externa de um Estado visa satisfazer os seus interesses e
necessidades no ambiente externo, daí a necessidade de questionar acerca do papel da
opinião pública em Moçambique, na tomada de decisões de Política Externa, partindo do
pressuposto básico de que a Política Externa é parte de Políticas Públicas.
A análise aqui proposta é acompanhada por um estudo de casos. Poderia se discutir uma
vasta gama de assuntos ligados a Política Externa moçambicana, tal como assuntos
relacionados com partilha das águas, migração, litígios fronteiriços, comércio
internacional e outros. Porém, iremos nos debruçar fundamentalmente em torno de três
decisões que julgamos serem exemplares para dar sustentação a análise, pois ilustram a
estratégia do Estado de isolar do debate público determinados assuntos, confinando-os a
elite governante.
A escolha deste caso particular está ligada ao facto de os países da região possuírem
ligações fortes com Moçambique, e deste modo as questões de segurança não apenas do
Zimbabué, mas da região no geral afectam Moçambique. Esta crise também foi bastante
mediatizada pelos canais de comunicação, despertando, deste modo, o interesse dos
académicos, intelectuais, massas e da sociedade no geral.
2
Outra decisão merecedora de atenção é a de Moçambique ter assinado em Junho de 2009
os Acordos de Parceria Económica (APE) provisórios com a União Europeia (UE).
Embora os assuntos económicos mexam com a sociedade no geral, esta decisão não
mereceu tanta mediatização o quanto se podia esperar. Moçambique assinava um acordo
provisório de Parceria Económica com a UE numa altura em que se acusa estes acordos
de estarem fundamentalmente virados para a abertura de mercados para os produtos
Europeus e não para os objectivos de desenvolvimento afirmados nos acordos de
Cotonou assinados na capital económica do Benim em 2000.
Pretende-se que esta seja uma alternativa aos corredores terrestres que beneficiaria não
apenas o Malawi mas também a Zâmbia que também é um Estado do hinterland. A
decisão de navegabilidade dos rios Chire e Zambeze é bastante sensível uma vez que
mexe com questões de soberania.
Sabe-se que o estudo de viabilidade requerido leva tempo e recursos, o que sob um ponto
de vista pode deixar transparecer a ideia de que o Estado Moçambicano não pretende
abdicar de parte da sua soberania permitindo a transição pelo seu território de
mercadorias para o Malawi e que com esta decisão pretenda distanciar a concretização do
projecto malawiano. Por outro lado, a decisão de Moçambique de exigir um estudo de
viabilidade é legítima sob o prisma do Direito Internacional, pois pretende que se sigam
os trâmites legais para que o projecto traga benefícios a todos, sem danos.
3
Em qualquer dos casos acima referidos a participação da opinião pública nos processos
decisórios foi insignificante ou quase nula. Notar-se-á que as decisões foram discutidas e
tomadas pela elite dirigente sem qualquer envolvimento da massa que compõe a opinião
pública.
i. Objectivos
O presente trabalho medita, de forma geral, sobre a estrutura de tomada de decisão em
Política Externa em Moçambique. E de forma específica, o trabalho (i) descreve o
processo de tomada de decisão de Política Externa em Moçambique; (ii) analisa a
evolução da opinião pública em Moçambique e; (iii) medita sobre o papel da opinião
pública na tomada de decisões de Política Externa de Moçambique.
iii. Hipóteses
Na sequência dos objectivos apresentados acima, o estudo tem como hipóteses: (i) o
processo decisório não depende da justificação racional das decisões, mas sim dos
interesses da unidade decisória; (ii) a evolução da opinião pública é directamente
proporcional a evolução da democracia e; (iii) A participação popular nos processos
decisórios é proporcional ao grau de abertura de instituições políticas e ao nível de
instrução pública.
4
iv. Metodologia
O método é por definição o processo racional que se segue para se chegar a um fim (CD-
ROM – Dicionário Universal da Língua Portuguesa. Versão 1.1: 1995). A palavra
método é de origem grega e significa caminho para chegar a um fim. Assim, para o
sucesso do trabalho foram usados os métodos histórico e o comparativo.
Por sua vez, o método comparativo defende que o estudo das semelhanças e diferenças
entre diversos tipos de grupos, sociedades ou povos contribui para uma melhor
compreensão do comportamento humano. Este método realiza a comparação com a
finalidade de verificar similitudes e explicar divergências, (Marconi e Lakatos: 2009:92).
O método comparativo permitiu fazer comparações entre a situação interna moçambicana
com a de alguns Estados democráticos do Sistema.
5
v. Estrutura
Em termos de estrutura, o trabalho está organizado em quatro capítulos. No primeiro
capítulo debruça-se sobre as teorias que serviram de orientação para a leitura do trabalho.
O presente trabalho será lido na base da complementaridade de duas teorias, o Pluralismo
e o modelo de dois níveis de Putnam (1988). Ainda no primeiro capítulo faz-se uma
discussão dos conceitos chave do trabalho, nomeadamente Estado, Política Externa e
Opinião Pública.
6
Capítulo I
1
Caderno de apontamentos da Cadeira de Metodologia de Investigação, curso de Relações Internacionais,
2º ano, aula do dia 16 de Março, Instituto Superior de Relações Internacionais, 2009.
7
e não podem ser ignorados. Os Estados são reconhecidos como os principais actores da
política mundial, mas não são os únicos importantes.
Para os Pluralistas o Estado não é visto como um actor unitário e racional; é visto como
um campo de batalha para interesses burocráticos conflituais, sujeito a pressões de grupos
de interesse domésticos e internacionais que tentam formular ou influenciar a Política
Externa. Os actores não estatais não só são importantes como em algum momento podem
ser decisivos.
O Estado é visto como algo “caduco” a ser suplantado ao longo do tempo por
organizações não governamentais e outras formas institucionais. O termo sociedade civil
global não só refere ao crescimento de regras do Direito Internacional, mas também
descreve a multiplicidade de instituições, organizações voluntárias e redes que se
multiplicaram rapidamente desde o século XX (Viotti e Kauppi: 1993).
Esta teoria tornou-se útil para a nossa análise pelo facto de explicar a existência de
diferentes actores não estatais que pretendem influenciar o curso da acção política. Uma
vez que, em termos de actores, os pluralistas vêm os Estados em combinação com uma
grande variedade de actores, torna-se pertinente analisar como essa combinação opera no
processo decisório em Moçambique.
8
Robert D. Putnam (1988) em “Diplomacy and domestic politics: the logic of two-level
games”, aborda o processo decisório internacional como sendo composto por dois níveis:
o doméstico e o internacional.
Esta teoria ilustra que a tomada de decisões internacionais não depende apenas do
negociador, pois toda decisão para ser ratificada deve ser aprovada no Nível II. E como o
processo é interactivo, pode ser conduzido no sentido contrário, ou seja, o problema pode
ser discutido internamente e, uma vez obtido o consenso interno, ele é levado para ser
negociado no nível internacional.
9
Dado que nenhum Estado é auto-suficiente, capaz de estar isolado dos outros e
permanecer independente no sistema, surge a necessidade de estabelecer laços de
cooperação com os outros Estados, aliás, “as relações internacionais são o reflexo, o
espelho das interacções desenvolvidas pelos principais actores internacionais – os
Estados, as organizações internacionais e as sociedades multinacionais” (Fernandes:
1991: 20).
Este processo de interacção envolve um processo de escolhas destes actores que estão
interessados em obter benefícios próprios ou para os entes que representam. Importa
ressalvar que estas relações nem sempre são de cooperação, podendo também redundar
em conflito.
Putnam (1988), no seu modelo, afirma que ocorre uma negociação no nível II entre os
actores domésticos, daí que a decisão posteriormente tomada resulta, pelo menos em
princípio, do nível II. Portanto, é neste nível que ocorre a barganha de interesses entre os
actores tal como defende a teoria pluralista.
As sociedades normalmente são caracterizadas pela diferenciação social, isto quer dizer
que os componentes das sociedades possuem diferenças em termos de idade, sexo,
religião, estado civil, níveis de instrução, rendimento, e também possuem ideias, valores,
interesses e ideais diferentes e ainda desempenham diferentes funções na mesma
10
sociedade. Assim, a vida em sociedade torna-se complexa e frequentemente envolve
conflito de opinião, de interesses, de valores (Ruas: 2008). Assim, numa situação de
divergências, leva a melhor o actor que tiver maior capacidade de mobilização de
recursos a seu benefício para impor o seu posicionamento e interesses perante os outros.
A teoria Pluralista constitui uma “umbrella” para o Modelo de dois niveís de Putnam
(1988) na medida em que o pluralismo considera a participação de múltiplos actores não
estatais na tomada de decisões que tentam influenciar a política externa. Esta
multiplicidade de actores pode se reflectir na mesa doméstica (Nível II) do Modelo de
dois niveís de Putnam (1988), onde figuras partidárias e parlamentares, porta-vozes para
agências domésticas, representantes de grupos de interesse fundamentais, e os próprios
aconselhadores políticos do líder irão usar de todos recursos em sua disposição para que a
decisão final levada para o nível I seja favorável aos seus interesses.
Assim, a princípio, a opinião pública irá incidir no nível II, isto é, a influência da opinião
pública é exercida sobre os actores da mesa doméstica. Acredita-se que num Estado
democrático há sempre espaço para acomodar a opinião pública. Uma vez que a opinião
pública representa a opinião geral de uma sociedade, espera-se que os Decision Makers
tomem sempre decisões para o benefício dessa sociedade. A opinião pública poderá
pressionar os actores da mesa doméstica para ver as suas opções reflectidas na decisão
levada para a mesa internacional.
A decisão tomada irá depender da força relativa dos protagonistas que levam a cabo a
barganha. Partimos do princípio de que cada actor faz um cálculo racional de custos e
benefícios, onde delineia alternativas possíveis e favoráveis. A definição das alternativas
é um dos mais importantes momentos do processo decisório, porque é quando se colocam
claramente as preferências dos actores, manifestam-se os seus interesses e é então que os
diversos actores entram em confronto. Cada actor possui recursos de poder: influência,
capacidade de afectar o funcionamento do sistema, meios de persuasão, votos,
organização (Ruas: 2008).
11
1.2 Discussão Conceitual
1.2.1 Estado
A abordagem deste conceito torna-se importante pelo facto de o Estado ser o principal
actor de Relações Internacionais, de onde emanam as mais importantes decisões com
relação ao meio externo.
Com efeito, Estado é uma organização política que exerce sua autoridade num
determinado território. A característica fundamental desta organização é a soberania. Esta
soberania deve ser reconhecida no meio doméstico, mas fundamentalmente no meio
externo pelos demais Estados (Microsoft Encarta 1993-2001).
12
de se organizar politicamente. Neste último parágrafo estão implícitos os componentes do
Estado:
1.2.1.1 Território
Território é por definição uma extensão considerável de terra (CD-ROM – Dicionário
Universal da Língua Portuguesa. Versão 1.1: 1995). Porém, quando se fala de território
refere-se ao espaço geográfico, ou seja, espaço físico de cada Estado. O Estado é o único
actor que detém esta característica, esta que por sua vez o determina.
O território do Estado é o espaço no qual os órgãos do Estado têm o poder de impor a sua
autoridade (Caetano: 1993: 127). Portanto, existem leis obrigatórias que regem dentro
dos limites do território do Estado.
1.2.1.2 População
Designa-se população ao conjunto de indivíduos de um país, localidade, etc. (CD-ROM –
Dicionário Universal da Língua Portuguesa. Versão 1.1: 1995). A população representa
os habitantes do Estado, unidos por uma identidade comum. Normalmente os Estados são
constituídos por povos de diversas nacionalidades, embora alguns Estados são formados
por um único povo.
13
de participar na vida política do Estado; beneficiar da defesa dos seus direitos dentro e
fora do território do Estado e participar na defesa do território através da prestação de
serviço militar (Bastos: 1999: 120-123).
1.2.1.3 Governo
A palavra governo pode se referir ao poder executivo ou ao conjunto de indivíduos que
administram superiormente um Estado (CD-ROM – Dicionário Universal da Língua
Portuguesa. Versão 1.1: 1995). Porém, governo vai além da organização de indivíduos,
englobando também instituições soberanas que formulam as políticas públicas e gerem
assuntos do Estado.
Governo resulta de uma progressiva união de todos poderes antes espalhados pelo
território do estado. O governo é gestor do Estado desenvolvendo uma administração
pública.
Segundo Weber (1982), citado por Pecequilo (2003: 45) o governo detém o monopólio da
força legítima, comandando os fluxos internos da sua sociedade, sendo aceito legal e
legitimamente.
1.2.1.4 Soberania
Conceitualmente, soberania é o poder ou autoridade que possui uma pessoa ou um grupo
de pessoas com direito a tomar decisões e a resolver conflitos no seio de uma hierarquia
política. A capacidade de tomar essas decisões implica independência dos poderes
externos e autoridade máxima sobre os grupos internos (Microsoft Encarta 1993-2001).
14
Soberania significa, nas palavras de Caetano (1993: 132), um poder supremo e
independente. Supremo porque não é limitado por qualquer outro internamente e
independente porque não reverencia regras, a menos que sejam voluntariamente aceites, e
está no mesmo nível com os poderes de outros povos.
Este elemento do Estado está fundamentalmente ligado ao território, dado que é dentro
desse mesmo território que se exerce soberania. Toda entidade política individual detém
soberania e autonomia política dentro de limites territoriais Pecequilo (2004: 44).
Note-se que estes componentes estão relacionados entre si. É o povo assentado num
território, que formula posicionamentos para pressionar um governo de modo a adoptar
políticas favoráveis para si. Este mesmo governo goza da autoridade ou poder de tomar
decisões reflectidas quer domesticamente, como no meio externo.
Já as diferenças em termos de idade, sabe-se que existem Estados novos como os que se
formaram através de independências nos séculos XIX e XX e outros resultantes da
desagregação de uniões políticas de vários Estados nos primórdios do século XXI, e
ainda outros mais antigos como os Europeus que participaram na assinatura do tratado de
Vestfália Pecequilo (2004: 47).
15
1.2.2 Política Externa
É o conjunto de princípios, prioridades que em determinado espaço de tempo são
realizados pelos Estados com vista a satisfação e defesa de certos interesses. Contudo, o
alcance da satisfação e a defesa desses interesses são influenciados por vários factores
tais como factores do ambiente externo, qualidade de liderança, ideologia, o que leva a
que a análise da Política Externa seja multidimensional. Assim, a abordagem da Política
Externa de qualquer Estado deve ser multi-nível e multi-factorial.
A perspectiva Realista traz uma visão tradicional da Política Externa, considerando que
os Estados são actores unitários e racionais que tomam decisões baseadas no interesse
nacional. Segundo esta abordagem, o Sistema Internacional é baseado em Estados que
actuam como actores centrais, sendo os restantes actores secundários. Esta perspectiva
defende ainda que a política internacional é essencialmente conflitual, e que a
sobrevivência do Estado depende da capacidade deste em acumular e expandir a base de
poder em termos militares. Os Estados relacionam-se com base na existência de uma
soberania legal e não estão subordinados a nenhuma outra autoridade. O poder é o
conceito mais importante na explicação e previsão da conduta dos Estados Dougherty
(2003: 80).
16
Contudo, a perspectiva realista entrou em tempos difíceis, e neste contexto surge a
abordagem Pluralista, na década 80, para dar resposta a questões cujo Realismo se
mostrava incapaz de explicar cabalmente Viotti (1993). Esta perspectiva rejeita o
pressuposto realista de que o Estado é o único actor de Relações Internacionais,
defendendo que o Sistema Internacional é composto por uma crescente interdependência
de actores estatais e não estatais que leva a uma cooperação entre as instituições e criação
de uma barganha. O pluralismo advoga que a agenda internacional está preenchida por
variados assuntos e que a Política Externa preocupa-se não apenas com assuntos
militares, mas também com questões económicas, sociais e ambientais. Assim, as
ameaças à segurança do Estado já não são apenas militares. O Pluralismo privilegia a
cooperação bilateral ou multilateral para a defesa e promoção dos interesses do Estado.
Por sua vez, a visão Globalista traz uma abordagem ligada a estrutura do Sistema
Internacional. Segundo Viotti (Ibid.: 449) para explicar o comportamento dos actores, em
qualquer nível de análise, é necessário compreender a estrutura global do Sistema em que
o mesmo comportamento ocorre. O Sistema é regido pelo capitalismo, cujo objectivo é o
de beneficiar alguns indivíduos, Estados e sociedades às custas de outros. De acordo com
esta abordagem, o Centro cria mecanismos de relacionamento entre os Estados que
perpetuam a dependência e o Sul actua como fornecedor de recursos escassos. A Política
Externa dos Estados do Centro visa garantir a manutenção das relações de dependência.
Assim, os Estados dependentes devem assumir uma Política Externa pró Centro, sob pena
de privação de benefícios ou punição em caso de desobediência manifesta.
17
1.2.3 Opinião Pública
Definir opinião pública não é tarefa fácil, por esta ser uma expressão composta por duas
palavras que foram sofrendo transformações ao longo da história. Isto faz com que este
conceito seja polissémico e complexo, sujeito a várias definições, mas nenhuma
universalmente aceite por todos. Pode-se dizer que este termo surge no contexto da
oposição contra todos aqueles que pretendiam limitar os direitos e liberdades dos
cidadãos, no âmbito da declaração formal destes pelas revoluções francesa e americana,
na segunda metade do século XVIII.
Opinião pública é o que geralmente se atribui à opinião geral de uma sociedade. Esta
sociedade usa dos mídia e dos meios de comunicação para expressar uma posição de
pressão ao governo.
A sociedade civil, por sua vez, é parte componente da opinião pública. A sociedade civil
pode ser definida como “uma entidade criada por um acto da vontade colectiva dos
interessados, com vistas a um objectivo comum e com a finalidade de obter vantagens ou
um fim lucrativo” (Microsoft Encarta 1993-2001).
18
Conclui-se assim, que o regime de opinião forma-se aquando do surgimento dos
governos liberais, onde são postos em prática os valores e ideais da democracia. Desde o
momento que se assume a origem popular do poder, as opiniões e desejos dos cidadãos
não poderiam estar fora do processo democrático.
19
Capítulo II
A opinião pública
A opinião pública é um assunto complexo e apaixonante. É complexo pois a sua
existência é dependente de elementos ligados ao tipo de regime e aos meios de
transmissão de informação. Apaixonante pois a opinião pública faz valer o princípio
democrático segundo o qual o poder reside no povo. Este capítulo pretende discutir
algumas matérias ligadas a opinião pública.
Por seu turno, público quer dizer “do povo, de uma sociedade, comum, geral” Azambuja
(2005: 260). Assim, a opinião pública é definida como um grupo passageiro e mais ou
menos coerente de julgamentos que, respondendo a problemas propostos, em dado
momento é compartido por numerosas pessoas do mesmo país, do mesmo tempo, da
mesma sociedade (Ibid.).
Portanto, uma vez que a sociedade está interessada em que sejam tomadas decisões
sábias, que lhes tragam benefícios, tem tendência a influenciar as decisões do governo.
Segundo Boniface (2001: 234), a noção de opinião pública é ambígua, pois é uma
construção intelectual na qual os mídia desempenham um papel decisivo, do que uma
realidade incontestável.
20
Deste modo, “para entendermos como a opinião pública pode afectar os processos
decisórios e de formulação de política temos que incluir os mídia” Razuk (2008). Os
mídia podem ser entendidos como os canais usados para armazenamento e transmissão de
informação ou dados. Mídia, muitas vezes, é usado como sinónimo de meios de
comunicação de massa ou agências de notícias, mas pode se referir a um único meio
utilizado para comunicar os dados para qualquer finalidade.
Contudo, para Azambuja (2005: 261), para ser pública não é preciso que a opinião seja de
todo povo, de todas pessoas de um país, pois se assim fosse, nunca haveria opinião
pública em nenhum país uma vez que é impossível que todos os habitantes de um país
tenham a mesma opinião sobre qualquer assunto. Portanto, em maior parte dos casos se
assume a opinião da maioria como opinião pública. Porém, a opinião da maioria é
opinião pública quando a minoria, mesmo não concordando, se submete a ela
pacificamente, sem o uso da força (Ibid: 262).
Segundo Freitas (1984), a opinião tem sua origem nos grupos, mas este facto não é
suficiente para caracterizar a opinião pública, pois estes grupos transformam-se em
públicos quando se organizam em torno das controvérsias, oposição de argumentos com
21
ou sem contiguidade espacial, discutem, informam-se, reflectem, criticam e procuram
uma base comum.
Uma opinião nunca é tão exacta como é, por exemplo, uma afirmação científica, por este
motivo a opinião pública é sempre discutível, o seu conteúdo muda com o tempo,
permitindo também a discordância. A opinião pública verdadeira forma-se e se fortalece
em debates abertos e assim expressa uma atitude racional, crítica e bem informada,
continuando um fenómeno muito presente e muito importante na sociedade.
Com efeito, o sentido de opinião pública só pode ser compreendido no contexto de uma
sociedade, pois a opinião pública representa a opinião geral de uma sociedade. Ora, para
que uma sociedade tenha uma opinião é necessário que tenha conhecimento do facto.
Assim, só com a proliferação de meios de comunicação e a consequente criação de
opiniões que se começa, concretamente, a falar de opinião pública.
Assim, a princípio, uma sociedade que não sinta a representatividade política e cujas suas
opiniões não são tomadas em conta pelos dirigentes políticos tenderá a optar por outras
escolhas políticas na perspectiva de se sentir representada e poder participar na
determinação das políticas públicas.
O poder político é tido como algo muito valioso, cuja conquista e manutenção exige que
o indivíduo seja dotado de capacidades. O poder político confere prestígio, influências,
recursos, etc. Portanto, é interesse dos titulares do poder político mantê-lo e expandi-lo.
Uma das principais formas de mantê-lo, em sociedades democráticas, é ter em
22
consideração as opiniões dos cidadãos de modo a satisfazer os seus anseios e vontades e,
deste modo, se adquirir a confiança do eleitorado.
Importa destacar que existem dois tipos de opinião pública, opinião pública nacional e
opinião pública internacional. Boniface (2001: 234) assevera que a opinião pública
nacional pode ser definida como uma opinião expressa publicamente, por um número de
pessoas, em torno de uma questão de interesse geral, respeitante a uma escolha política,
económica, social, etc. Por outro lado, a opinião pública internacional é definida como
uma vasta convergência de opiniões nacionais dominantes, da qual se poderia extrair uma
linha de conduta a seguir ou um objectivo a atingir.
Moreira (2003) mostra-se céptico quanto a existência de uma opinião pública autónoma.
Segundo este autor, a opinião pública é algo que se pode mobilizar, sendo assim, a
opinião pública pode ser produzida, condicionada, manejada independentemente da sua
correspondência. Portanto, a opinião pública estaria a reboque de interesses particulares
de actores que por sua vez irão servir-se do seu poder para concretização de seus
objectivos.
De acordo com o Prof. Doutor João Pereira2 “a opinião pública sempre esteve a reboque
dos interesses dos indivíduos, em qualquer parte do mundo. Não existe e nunca irá existir
uma opinião pública autónoma”. Este facto é justificado pela natureza do ser humano,
pois o homem tem sempre interesses estes que por sua vez legitimam todas suas acções.
Amaral (2005), é mais radical chegando a afirmar que a opinião pública não mais existe e
que não volta a existir. Os motivos mais importantes apontados por este autor para
2
João C. G. Pereira, docente da Cadeira de Opinião Pública na UEM; Investigador associado ao IESE;
Entrevistado a 18 de Maio de 2011, Cidade de Maputo.
23
sustentar a sua tese estão relacionados, primeiro, com o carácter da sociedade de massas,
pois nas palavras dele a “opinião pública foi reduzida a um agregado estatístico de
opiniões individuais privadas”. Em segundo, os meios de comunicação de massas deixam
de exercer o seu tradicional papel de colector das opiniões para desempenhar papel de
construtor, agente e manipulador da realidade.
Dependendo da forma como é mediatizada esta informação ela pode levantar interesse da
sociedade e criar debates em torno dela. Pode se considerar o pesquisador como o
mobilizador da opinião pública uma vez que a ele cabe formular as questões a colocar ao
público. Assim a opinião pública aparece como a “resposta dada a uma questão proposta
ao público pelo pesquisador mas que, de facto, não se refira a uma questão de interesse
do público, mas apenas ao interesse do pesquisador” (Ibid.).
Não se pretende com estes posicionamentos invalidar o papel da opinião pública como
orientador das políticas governamentais, porém, muitas vezes, esta mesma opinião é
instrumentalizada.
24
A conclusão que se chega é de que a opinião pública muitas vezes é instrumentalizada
pelos grupos de interesses. Vários actores não estatais recorrem muitas vezes a opinião
pública para a prossecução de alguns interesses. São actores com forte capacidade de
mobilização social e por vezes de influenciar as mentes. Membros de grupos como
organizações religiosas, supranacionais, movimentos de sindicatos e partidos políticos,
movimentos de libertação nacional e outros, são também membros da sociedade e podem
perfeitamente influenciar com as suas opiniões o meio em que estão inseridos.
Contudo, em sociedades democráticas, a opinião pública não perde o seu valor. Esta
continua e continuará sendo um instrumento válido na monitorização das acções políticas
dos governos e na manifestação dos desejos e vontades da sociedade.
Segundo Russett e Starr (1992: 213), a opinião pública afecta a Política Externa através
do seu impacto nos decisores do governo. É influenciando os representantes do governo
que se influencia as políticas públicas. Daí se afirmar que quanto mais sensível for o líder
maior será a incidência da opinião pública.
Porém, os governantes têm interesses próprios, tais como manter ou expandir o seu poder
e posição políticos, sua riqueza, poder económico e o seu status perante a sociedade e
promover seus valores ideológicos, crenças e ideais (Ibid.). Estes e outros interesses
conduzem os líderes á procura de apoio societal. Podemos afirmar que existe uma
“dependência” entre os líderes, que necessitam do público para apoiar as suas políticas, e
o público, que necessita dos líderes para a satisfação dos seus anseios.
25
Se a opinião pública expressa os desejos naturais e racionais dos homens, as instituições
públicas apenas poderão legitimar-se através dela na medida em que, em sua formação e
em seu funcionamento, recolham e traduzam concretamente os seus conteúdos.
Um bom líder, neste contexto, seria aquele cujas suas acções têm sempre em
consideração os interesses do público a quem ele serve e deste modo estarão
salvaguardados os seus interesses particulares. O principal vínculo de ligação entre o
líder e o público são os mídia. O líder deve estar preparado a exercer reacção mesmo
contra sua vontade. “A cobertura mediática quotidiana de um mesmo acontecimento, ou
uma forte mobilização colectiva sobre o assunto, obrigam os governantes a tomar
posição, a expressar-se ou a reagir activamente” (Boniface: 2001:238).
26
Este facto constitui verdade, porém essa verdade não é apenas válida para a
colectividade, mas também para os indivíduos de forma isolada, para a opinião pública e
para as opiniões pessoais, pois grande parte das nossas ideias, atitudes, decisões,
comportamentos não são resultado do raciocínio, mas sim do temperamento, carácter,
educação, crenças Azambuja (2005: 264).
27
Capítulo III
3
Fernandes, António José (1991). Relações internacionais – factos, teorias e organizações. Editorial
Presença, Lisboa pp. 21
4
Caderno de apontamentos da Cadeira de Teorias de Relações Internacionais, curso de Relações
Internacionais, 3º ano, aula do dia 05 de Outubro, Instituto Superior de Relações Internacionais, 2010.
28
O modelo do Processo Organizacional considera a existência de uma espécie de rotina
organizacional que conduz o processo decisório e indica a decisão correcta, limitando a
busca de outras alternativas. É nossa percepção que a agenda oficial do governo
moçambicano é dominada por assuntos rotineiros, onde para cada situação se recorre ao
passado institucional, e deste modo o sistema rejeita qualquer opção que não vá de
acordo com os eventos históricos. Assim, a memória institucional assume-se como um
elemento fundamental no processo decisório na base deste modelo.
Porém importa-nos focar na última unidade decisória nos processos de tomada de decisão
de Política Externa em Moçambique. A unidade decisória tem a ver com os indivíduos
que dirigem o processo de tomada de decisão, ou seja, as entidades das quais emanam as
decisões de Política Externa. Podemos ter três tipos de Unidades Decisórias: o Líder
Predominante, o Grupo Único e os Grupos Autónomos.
5
Caderno de apontamentos da Cadeira de Política Externa, curso de Relações Internacionais, 3º ano, aula
do dia 11 de Março, Instituto Superior de Relações Internacionais, 2010.
29
tanto para o fórum interno como externo emanavam exclusivamente destes dois órgãos.
No que se refere ao ambiente externo, o Ministério de Negócios Estrangeiros, ao invés de
aparecer como responsável pela formulação da Política Externa se posicionava como
mero implementador das decisões de Política Externa6.
6
Caderno de apontamentos da Cadeira de Política Externa de Moçambique, curso de Relações
Internacionais, 3º ano, aula do dia 27 de Setembro, Instituto Superior de Relações Internacionais, 2010.
30
(1989: 366) segundo a qual “o grupo único, para ser última unidade decisória, não precisa
estar legal ou formalmente estabelecido como um agente autoritário”7, desde que tenha
habilidade de mobilizar e comprometer recursos do Estado em assuntos externos e
prevenir que outros actores revertam ou revoguem a sua decisão.
É realidade que em Moçambique a maior parte dos órgãos competentes com poder
decisório dentro do governo estão filiados ao partido no poder. Assim sendo, o líder
predominante é representado pelo Presidente da República e o grupo único, de certa
forma, pelo partido Frelimo.
Uma das características do grupo único como unidade decisória é o facto de não ser
necessário que todos membros estejam de acordo com a decisão, nem que tenham mesmo
peso de escolha na alternativa, desde que se assuma a decisão tomada como decisão do
grupo e que a oposição não se faça ouvir publicamente.
Por sua vez, o indivíduo, como última unidade decisória, tem o poder de fazer escolhas
em nome do Estado abafando, se necessário, a oposição às suas escolhas. As
características pessoais do líder tornam-se importantes uma vez que os atributos
individuais moldam a sua tendência e determinam como este irá perceber as opiniões de
outros, reagir as informações adversas e como ele irá avaliar os riscos e acções da Política
Externa.
Considerando a configuração dada pelo jogo de dois níveis, a mesa doméstica – figuras
partidárias e parlamentares, porta-vozes para agências domésticas, representantes de
grupos de interesse fundamentais, e os próprios aconselhadores políticos do líder –
poderá pressionar o líder (representante do governo na mesa internacional) para tomar
decisões favoráveis. O líder, por sua vez, adoptará estratégias de respostas a pressão
doméstica. Os líderes respondem a pressão ou oposição doméstica usando alternativas
7
[T]o be an ultimate decision unit a single group does not have to be legally or formally established as an
authoritative agent Hermann (1989: 366).
31
diferentes que por sua vez tem efeitos divergentes sobre o processo de Política Externa do
Estado: Acomodação, Mobilização e Isolamento.
A acomodação tem sido alternativa de resposta a oposição para os líderes quando estes
pretendem evitar tomar iniciativas controvérsias de Política Externa. A acomodação tem
sido realidade em democracias consolidadas e esta procura condicionar a Política Externa
dos Estados uma vez que os decisores acabam optando por iniciativas diferentes da
posição inicial. A decisão vai reflectir, de certa forma, as preferências dos diferentes
actores envolvidos.
Por seu turno, a mobilização está ligada a regimes populistas e/ou revolucionários. Os
líderes confrontam a oposição pela expressão de legitimidade ganhando novos apoios e
mantendo os apoios anteriores. A mobilização como estratégia de resposta a pressão
doméstica pode afectar a Política Externa e levar os líderes a tomar medidas radicais que
podem resultar no uso da força ou participação em conflitos. Os líderes apoiam-se a
discursos nacionalistas, “bodes expiatórios” e usam a Política Externa como instrumento
de unidade e desacreditação dos adversários domésticos.
32
Capítulo IV
33
Deste modo, o governo empenha-se na concretização destes princípios como meio de
salvaguardar a sobrevivência e integridade territorial do Estado e alcançar as metas de
sua actuação que desembocam na luta contra a pobreza e promoção do desenvolvimento
socioeconómico.
8
Caderno de apontamentos da Cadeira de Política Externa de Moçambique, curso de Relações
Internacionais, 3º ano, aula do dia 11 de Outubro, Instituto Superior de Relações Internacionais, 2010.
34
Deste modo, em 1983, Moçambique virou as suas atenções para o Ocidente com o
objectivo de obter apoio norte-americano e europeu para pressionar a RSA a cessar com a
sua política de desestabilização, bem como para assegurar ajuda económica que tivera
sido negada pela União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) (Simpson: 1993).
Assim, Moçambique passou da confrontação à acomodação com a África do Sul, do
independentismo à interdependência simbolizados pela assinatura dos Acordos de
N’komati e adesão às instituições de Bretton Woods9.
Portanto, com a adopção, em 1990, pela Assembleia Nacional, de uma nova constituição
multipartidária que permitia eleições directas para o presidente, garantia liberdade de
imprensa e a expressão religiosa e judiciária, abria-se uma nova era política em
Moçambique.
Esta constituição revia também as cláusulas da Constituição de 1975 que não deixavam
clara a distinção entre partido e Estado; abria espaço para um debate intra-institucional e
para opinião pública; introduz o Check and Balance e acredita-se ter se passado de uma
estrutura top-down para uma participação na tomada de decisão de actores não estatais.
9
Caderno de apontamentos da Cadeira de Política Externa de Moçambique, curso de Relações
Internacionais, 3º ano, aula do dia 11 de Outubro, Instituto Superior de Relações Internacionais, 2010.
35
destes acordos Moçambique pretendia produzir resultados específicos, dos quais o mais
importante era a abolição do apoio oficial a Renamo pelo governo sul-africano e a
liquidação da guerra de guerrilha da Renamo contra o governo.
Segundo Torres et al (2003: 5), o regime democrático implica a consagração da lei como
suprema onde todos devem obedecê-la, devendo os poderes políticos prosseguir os fins a
que o Estado se propõe a realizar. Deste modo, os objectivos do Estado passam pela
provisão de justiça, segurança e bem-estar do cidadão.
Deste modo, não se poderia falar de opinião pública em Moçambique nos anos
antecedentes a 1990 uma vez que tínhamos um grupo rebelde que levava a cabo uma
guerra de desestabilização e alegadamente clamava pela inclusão política, pois estava
insatisfeito com o sistema que vigorava. Ademais, Moçambique era caracterizado por ser
um sistema corporativo onde a opinião das massas organizadas reflectia quase sempre a
opinião e vontades da elite governativa.
36
tem se assumido que Moçambique está a registar avanços significativos na consolidação
da democracia e da participação popular na vida política do Estado. Concordamos, porém
com alguma cautela. Acreditamos que existe ainda muito por se fazer para que realmente
se possa afirmar que estamos perante uma sociedade activa na vida política e económica
do Estado.
Há quem afirme que o povo participa nas políticas públicas através do acto do escrutínio.
É verdade, porém essa participação não deve se esgotar apenas na eleição dos líderes. A
participação do povo nas políticas públicas deve ser contínua, como forma de orientar o
curso político do país. E sobre as eleições em Moçambique, é delicado afirmar que o
processo de votação dos líderes ocorre de forma pura. Ao anuir com esta proposição,
estaríamos a considerar que o indivíduo exerce o voto consciente, de acordo com a
estrutura social e económica ignorando, deste modo, aspectos relativos a cegueira política
que têm sido dominantes na arena política moçambicana.
Enfim, Moçambique é caracterizado por uma opinião pública débil, ainda sem
habilidades suficientes para determinar ou influenciar de alguma forma o curso de uma
acção política. Contudo, a constituição de 1990 constituiu plataforma para o despertar da
consciência política da sociedade moçambicana, sociedade esta que, segundo Osório
(2004)10, citado por Lopes (2010), associada a dependência económica e a instabilidade
social, conduz ao esvaziamento do debate político. Por sua vez, o Estado, entidade que
10
Osório, Conceição et al. (2004). Moçambique e a reinvenção da emancipação social, Centro de
Formação Jurídica e Judiciaria, Maputo
37
determina o modelo de organização política não tem sido capaz de recriar os mecanismos
que permitam a inclusão social do cidadão.
O Estado moderno foi concebido para ser orientado na base de valores democráticos.
Segundo Boniface (2001) “a noção de opinião pública não tem sentido real senão num
regime democrático, em que a legitimidade provém de uma adesão popular expressa nas
urnas”. Porém, no caso concreto de Moçambique o papel da opinião pública na tomada
de decisões de Política Externa é ínfimo ou quase nulo.
38
Na opinião do Prof. Doutor José Magode11, nas sociedades africanas, consideradas
democracias emergentes, particularmente em Moçambique, deparamos com uma
sociedade civil fraca, ou seja, uma sociedade civil ainda não em altura de assumir as suas
responsabilidades políticas e como implicação disto temos um desequilíbrio entre os
poderes dos governantes e da própria sociedade civil. Em outras palavras, as sociedades
das democracias emergentes, particularmente a moçambicana, não tem maturidade
política suficiente para reivindicar os seus direitos políticos, facto que a inibe de
participar justamente nos processos decisórios. A falta de maturidade política está
também relacionada com os baixos níveis de instrução que a nossa população apresenta.
Ligado a este aspecto está a pobreza que afecta maior parte da população moçambicana.
Nas palavras de Marini (2010: 1) “o número de moçambicanos que viviam na pobreza
absoluta reduziu-se de 70% em 1997 para 54% em 2003, ano da última pesquisa nacional
de domicílios”. A pobreza impõe condições objectivas que impedem uma maior
participação popular nas decisões do Estado. Não é imperioso que toda população
moçambicana participe no processo decisório, porém uma maioria esmagadora não tem
11
José Magode, Docente da Cadeira de Ciência Política no ISRI, entrevistado a 26 de Abril de 2011.
Zimpeto.
39
conhecimento das decisões do Estado. Nem todo cidadão está na posse de ter um meio de
comunicação, seja ele jornal, revista, rádio, televisão e outros, que lhe permitiria estar a
par dos acontecimentos e então estar na posse de formular um posicionamento.
Uma vez que para se poder estar capacitado a fazer um juízo de valor tem de se ter
digerido alguma informação, a pobreza torna impossível que alguns moçambicanos
formulem algum posicionamento pois, por questões objectivas, estes não têm capacidade
de adquirir os meios de informação. O meio mais usado em todo país é o rádio, porém, a
diversidade dos meios de informação possibilita o enriquecimento intelectual do cidadão
acerca de um dado assunto.
Outro elemento que justifica o facto de a opinião pública não influir nas decisões de
Política Externa do Estado moçambicano é a questão de territorialidade do Estado. Não
se pode considerar que haja opinião pública num Estado, como Moçambique, em que a
territorialidade do Estado falha. Para além de se excluir as zonas recônditas do processo
decisório, geralmente estas também não são abrangidas pelos efeitos das mesmas
decisões. Existe um centro de tomada de decisões, a capital do país, e os mecanismos de
difusão de informação em todo território não são, ainda, eficientes. Isto leva a que as
decisões abranjam apenas as zonas próximas dos centros de poder, ou seja, quanto mais
distante for do centro de poder menor é o acesso a informação.
A opinião pública doméstica divide-se em duas categorias distintas: a opinião pública de
massas, que refere-se aquele procedimento populacional sem informação, facilmente
manipulado, ou sem interesse específico sobre o assunto; e opinião pública informada,
que engloba intelectuais, académicos e mídia, com capacidade de formular
posicionamentos, manipular informação e mobilizar apoios.
40
Os grupos de interesse e os grupos de pressão têm um importante papel na formação da
opinião pública. Estes geralmente são informados e buscam sempre apoios no segmento
populacional com menor instrução, com objectivo de satisfação de objectivos próprios.
Assim, esta deixa de ser uma opinião pública, pois é fruto de uma elite com interesses
específicos e não uma aglomeração de opiniões individuais mais ou menos convergentes.
Desta feita, partindo do princípio de que o líder é apenas um representante do povo, este
último deve ver figurados os seus interesses nas decisões do Estado. Um dos melhores
exemplos, que pode-se dar, da participação da opinião pública na Política Externa do
Estado são os Estados Unidos da América (EUA). A título de exemplo temos a decisão
de encerramento da prisão de Guantánamo, tomada pelo presidente dos Estados Unidos,
Barack Hussein Obama, em 2009, que foi grandemente influenciada pela opinião pública
doméstica e internacional. Esta foi de encontro com os anseios de muitos e teve um
carácter regulativo, visto que pretendia corrigir uma dada situação desfavorável aos
novos interesses dos Estados Unidos.
41
manifestações populares de cidadãos que reagiram aos efeitos da decisão anterior da
subida do custo de vida, todavia, verificou-se participação popular.
Ora, os debates que são levados a cabo não têm efeitos notáveis no curso da Política
Externa de Moçambique, são meras confrontações de posicionamentos díspares ou
conciliação de posições simétricas. Esta situação é resultado da estratégia de resposta,
mencionada no jogo de dois níveis em que a liderança ignora a pressão doméstica,
podendo abafar ou cooptar os membros da oposição.
12
Edson Muirazeque, Pesquisador e Docente da Cadeira de Médio Oriente no ISRI. Entrevistado a 11 de
Julho de 2011. Zimpeto
42
4.3 Papel da Opinião Pública no caso concreto de algumas decisões
No entanto, o Zimbabué esteve mergulhado numa crise política profunda que teve seu
ponto mais alto com as eleições de 2008, onde o seu líder máximo, Robert Mugabe, foi
acusado de estar a promover autoritarismo no governo desde a sua chegada no poder.
Este facto indignou o mundo, principalmente os países da região e domesticamente levou
a uma desestabilização económica, que trouxe consequências políticas para o próprio
país. Importa-nos analisar o posicionamento de Moçambique perante esta situação.
43
Os líderes da região se reuniram para negociar soluções para o problema político do
Zimbabué. Segundo o jornal de Angola de 13 de Abril de 200813, a SADC apelou a
estrita observância da lei e ao princípio e directrizes de um governo democrático, pois é
compromisso da organização defender as instituições democráticas, consolidar, defender
e manter democracias sólidas, a paz, segurança e a estabilidade.
Deste modo, a SADC decidiu pelo uso da diplomacia silenciosa que, na perspectiva de
Collins e Packer (2006:10), é um sub-ramo da diplomacia preventiva que é aplicada antes
que o conflito atinja o limiar para um conflito armado.
Quando questionado sobre esta decisão, o Bispo Don Dinis Sengulane, falando a BBC 14,
na sua publicação de 14 de Agosto de 2008, afirmou que, daquele modo, Moçambique e
os líderes da região não estavam a usar a plenitude das suas capacidades e que estes
deviam assumir o problema do Zimbabué como geral e considerar a urgência da situação.
Portanto, o jogo de dois níveis pode perfeitamente aplicar-se neste contexto uma vez que
decisão de uso da diplomacia silenciosa foi tomada pelos líderes da região no nível
13
www.angonoticias.com/full_headlines.php?id=19144
14
www.bbc.co.uk/portugueseafrica/news/story/2008/08/080814_bishopsadctl.shtml
15
http://www.canalmoz.co.mz/component/content/article/3-artigos-2008/13483-camaradismo-entre-lideres-
da-regiao-sacrifica-populacao-.html
44
internacional. Entretanto, Moçambique não tomou em consideração o nível doméstico e
deu primazia ao nível I. O jogo de dois níveis defende que no nível doméstico ocorrem
discussões com vista a ratificação do que foi aprovado no nível I. Neste contexto as
discussões se concentraram na elite governante e a opinião pública foi ignorada.
Uma vez que Moçambique possuiu relações fortes com países europeus torna-se parte
integrante dos APE. Este país aderiu aos APE provisórios em Junho de 2009 e era o
quarto país da região a aquiescer aos acordos depois de Botsuana, Lesoto e Suazilândia.
Na região da SADC os acordos foram negociados com 7 países dos quais Angola, África
do Sul e Namíbia ainda não assinaram.
Este caso não teve a mediatização devida e é mais uma situação ilustrativa da ausência da
opinião pública e da consideração do nível I em detrimento do nível II na tomada de
16
http://europa.eu/legislation_summaries/development/african_caribbean_pacific_states/r12101_pt.htm
45
decisões de Política Externa. A decisão foi negociada no nível internacional por
Moçambique e a UE. Mais uma vez o nível doméstico não foi tomado em consideração e
Moçambique assinou aos APE provisórios mesmo com forte oposição doméstica.
Acreditamos que decisão da assinatura dos APE provisórios foi grandemente motivada
pela pressão da Europa, que tem sido o principal contribuinte para o orçamento do Estado
moçambicano.
A sociedade opôs-se a assinatura dos APE na forma que estes se propunham. A Rede de
Organizações para a Soberania Alimentar (ROSA) publicou, a 09 de Agosto de 2007, um
documento17 de posição da Sociedade Civil sobre os APE em que focava nas implicações
nefastas que a assinatura destes acordos podia trazer para Moçambique.
Mais, cidadãos e mais de 20 organizações da sociedade civil, através de uma petição a ser
encaminhada a Chanceler alemã Ângela Markel, manifestaram o seu repúdio contra o que
consideram de “imposição” dos APE aos países da ACP (Media Fax; 20 de Abril de
2007)18.
46
O Malawi é um país do hinterland, isto quer dizer que o Malawi não goza de acesso
directo ao mar e até então tem se socorrido nos serviços de Estados costeiros como
Moçambique para o transporte de mercadorias do seu território. O projecto do Malawi é
uma alternativa a dependência pelos portos e serviços das linhas férreas moçambicanos.
Porém, para além de questões ambientais e bem-estar social, esta questão mexe com a
soberania do Estado moçambicano.
Mas, em tempos, o rio Zambeze foi navegável para o transporte de melaço da açucareira
de Marromeu para Chinde e há relatos de que a navegabilidade do rio Zambeze dura há
longa data, tendo sido David Levingstone o pioneiro nas suas expedições. Assim, por um
lado pode transparecer que o pedido de um estudo de viabilidade destes rios seja uma
pretensão do Estado moçambicano de retardar a navegabilidade dos rios para não abdicar
da sua soberania, e por outro lado, esta acção pode ser vista com o objectivo de
embaraçar o Malawi considerando que as relações históricas entre os dois Estados nem
sempre foram pacíficas.
19
www.opais.sapo.mz/index.php/component/content/article/63-politica-10527-navegabilidade-de-chire-e-
zambeze-e-questao-de-soberania-nacional.html
47
A soberania é um pilar da ordem internacional e segundo Boniface (2001: 307), ela
designa o carácter de um Estado que não está submetido a nenhuma outra autoridade.
Esta mesma soberania pode sofrer vários tipos de ataques e podemos considerar que ter
os navios de um outro Estado transitando dentro das fronteiras moçambicanas seria um
atentado a soberania do povo moçambicano.
Neste caso deparamos com uma dificuldade de operacionalizar o modelo de dois níveis
pois, a decisão do governo não responde a pressões externas, porém, não fica claro se
responde a pressões domésticas pois há coincidência de interesses. A decisão do governo
ia de encontro com aos desejos da opinião que também esteve a favor da realização de
uma análise de viabilidade da navegabilidade dos rios Zambeze e Chire antes de se abrir
as fronteiras moçambicanas para as embarcações do Malawi.
20
www.macua.blogs.com/moambique_para_todos/2011/01/navegabilidade-do-chire-e-zambeze-e-dialogo-
e-fundamental-entre-as-partes-defende-o-academico-antonio-caetano-lourenco.html
48
Conclusões
Sabe-se que as decisões são moldadas intelectualmente pelo meio social ou pelo contexto
em que operam os decisores, isto é, a tomada de decisão implica que os decisores tenham
conhecimento do ambiente que os envolve e da natureza da sua Política Externa ou dos
objectivos de segurança nacional.
Assim, embora a opinião pública não seja o factor exclusivo tomado em consideração na
tomada de decisões, os decision makers podem ser constrangidos ou motivados por ela, e
podem também usá-la como um instrumento político.
A participação dos diferentes actores, que constituem opinião, no debate político tem
enquadramento se considerarmos a estrutura dada pela teoria pluralista segundo a qual
actores não estatais são importantes e tentam formular ou influenciar a Política Externa.
Assim, a influência da opinião pública terá mais peso quanto mais inclusivo o Estado for.
Segundo Smith et al. (2008: 141), em Estados democráticos os mídia devem facilitar
debates completos e abertos em torno de assuntos importantes. Neste âmbito, a televisão,
os jornais e outros meios de comunicação devem ajudar a educar, informar e facilitar o
debate e só assim, poderá se alcançar consenso e deste modo influenciar as políticas
governamentais (Ibid.). Isto quer dizer que a existência da opinião pública depende da
geração e transmissão de informação independente em larga escala, a qual os cidadãos
devem ter acesso e de forma crítica formar algum posicionamento com intuito de
influenciar no curso de uma acção política.
49
por ser coabitada por duas unidades decisórias, o líder predominante e o grupo único, que
limitam os processos políticos e conferem pouca abertura para o público. Este facto faz
com que a tomada de decisões não dependa do valor lógico da decisão, mas sim dos
interesses dos dirigentes políticos.
Com efeito, em Moçambique, as decisões têm um efeito top-down, cabendo apenas aos
líderes, de forma isolada tomar as decisões de política externa, recorrendo ao público
apenas na busca de instrumento político para as suas acções.
Acreditamos que os exemplos trazidos são ilustrativos da nossa avaliação, uma vez que
mostram a consideração por parte da liderança moçambicana, nos processos decisórios,
do nível internacional em detrimento do nível doméstico. Tanto a decisão de uso da
diplomacia silenciosa na crise do Zimbabué e a decisão da assinatura dos APE
provisórios em 2009 foram tomadas respondendo a pressões externas dos líderes da
SADC e da UE, respectivamente.
Para além do grau de abertura das instituições políticas, a participação pública na tomada
de decisões de Política Externa é também constrangida pela pobreza que impõe falta de
meios de comunicação e de instrução para a totalidade dos cidadãos moçambicanos. Ora,
sociedade moçambicana está ainda em construção e ainda não atingiu a maturidade
política necessária para reivindicar pelos seus direitos políticos.
Verifica-se também limitações na liberdade de expressão quer dos mídia, bem como da
sociedade em geral. Embora existam, em Moçambique, diversos actores não
50
governamentais com o objectivo de influenciar a agenda externa do Estado, estes não tem
sido capazes, sobretudo, devido a natureza do sistema político nacional que opta pelo
secretismo no tratamento de algumas questões de Política Externa que só vem ao público
decorrido o processo decisório.
Em fim, Moçambique faz parte dos países subdesenvolvidos e por esta razão está
desprovido de algumas condições que permitiriam a inclusão da maioria povo nas
decisões do Estado. Nota-se ineficiência da territorialização do poder do Estado. Era
desejável que se trabalhasse em prol de mecanismos de difusão de informação mais
eficientes, que permitissem que o cidadão tivesse acesso, em tempo real, a informações
em torno dos acontecimentos, permitindo-o, deste modo, formular posicionamentos em
relação aos assuntos de Política Externa.
Era importante que os debates em torno dos assuntos de política externa não se
limitassem apenas as elites governantes e fossem mais abrangentes a toda sociedade e
que os posicionamentos da opinião fossem tomados em consideração posteriormente no
processo decisório.
Estamos conscientes de que tudo se faz em seu devido tempo e por esta razão
acreditamos que, com o engajamento na luta por um país melhor, futuramente tenhamos
colocadas mínimas condições para a uma participação mais quantitativa e qualitativa da
sociedade como um todo nos processos de tomada de decisão de política externa.
51
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estudo da história de desenvolvimento durante o período de 1974 -1992. 1ª Edição.
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ates/r12101_pt.htm
www.macua.blogs.com/moambique_para_todos/2011/01/navegabilidade-do-
chire-e-zambeze-e-dialogo-e-fundamental-entre-as-partes-defende-o-academico-
antonio-caetano-lourenco.html
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www.macua.blogs.com/moambique_para_todos/2007/04/sociedade_civil.html
www.opais.sapo.mz/index.php/component/content/article/63-politica-10527-
navegabilidade-de-chire-e-zambeze-e-questao-de-soberania-nacional.html
www.rosa.org.mzdocumentoseventos_indexdoc_posicao.pdf
Outras fontes
Caderno de apontamentos da Cadeira de Política Externa, curso de Relações
Internacionais, 3º ano, Instituto Superior de Relações Internacionais, 2010.
Caderno de apontamentos da Cadeira de Teoria de Relações Internacionais, curso
de Relações Internacionais, 2º ano, Instituto Superior de Relações Internacionais,
2009.
Caderno de apontamentos da Cadeira de Metodologia de Investigação, curso de
Relações Internacionais, 2º ano, Instituto Superior de Relações Internacionais,
2009.
Entrevistas
Magode, José – Docente da Cadeira de Ciência Política no Instituto Superior de
Relações Internacionais, entrevistado a 26 de Abril de 2011, em Zimpeto.
Muirazeque, Edson – Pesquisador e Docente da Cadeira de Médio Oriente no
Instituto Superior de Relações Internacionais. Entrevistado a 11 de Julho de 2011,
em Zimpeto
Pereira, João C. G. – Docente da Cadeira de Opinião Pública na Universidade
Eduardo Mondlane; Investigador associado ao IESE; Entrevistado a 18 de Maio
de 2011, na Cidade de Maputo.
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