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Gestão de Estoque de uma empresa do segmento automotivo: um estudo da


eficiência operacional e financeira.

¹ Angélica Nardi Serapião Lopes

² Lívia da Silva Modesto Rodrigues

Resumo

Estoques de peças de reposição atendem necessidades de manutenção e reparos dos


produtos, gerando altos custos de capital imobilizado e forte impacto no nível de serviços
aos clientes. Este artigo apresenta uma revisão de literatura sobre a gestão de estoques e
um estudo de caso numa empresa do ramo automotivo, analisando a composição do
estoque de acordo com a curva ABC e propondo estratégias para a diminuição do seu
custo médio. Esta pesquisa objetiva compreender a gestão de estoque como ferramenta
para a redução de custos para o alcance da eficiência operacional e financeira,
considerando o segmento de peças automotivas.
Palavras - chave: Gestão de estoque, estoque, peças automotivas, controle de estoque.
Abstract
Spare parts inventory meets demands for maintenance and repairs of products, generating
high costs of capital in fixed assets and strong impact on the quality of customer service.
This paper presents a literature review on inventory control and a case study of a company
from the automotive industry. The research analyzes its inventory composition according to
ABC analysis and outlines strategies to reduce its average cost. Our goal is to understand
inventory management as a tool to reduce costs in order to achieve operational and
financial efficiency within the segment of automotive parts.
Key-words: inventory management, inventory, automotive parts.

1. Introdução

Estoques de peças de reposição representam altos custos de capital, empresas que


administram de forma deficiente seus estoques, sem adotar medidas a respeito, se
deparam com sérias crises financeiras, havendo até casos de concordata e falência. Uma
administração de materiais ineficaz utiliza mal os recursos financeiros, muitas vezes sem
produtividade e o que é mais agravante, com baixo nível de atendimento aos clientes, um
forte indício de uma administração geral não eficiente.

A gestão de estoques tem recebido substancial destaque dos meios acadêmicos e


empresarial nos últimos anos. A maior parte dos estudos buscam estabelecer ou aplicar

¹ Pedagoga pela Universidade Federal da Bahia e estudante da pós - graduação em Administração e Gestão de
Negócios pela Universidade Salvador – UNIFACS.
² Orientadora, Doutora em Geociências pela Universidade Federal da Bahia e coordenadora do curso MBA em
Administração e Gestão de Negócios da Universidade Salvador – UNIFACS.
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métodos para o ressuprimento dos estoques em ambientes de produção e distribuição.


Nesse cenário, a demanda e o tempo de resposta podem ser previstos com maior grau de
assertividade. No presente artigo o cenário é totalmente diferente, as demandas são
esporádicas, as peças de reposição são caras, os tempos de resposta são longos e os
clientes desejam receber as peças rapidamente.

O estudo sobre gestão de estoque foi realizado numa empresa estabelecida em Salvador,
Bahia, com mais de 25 anos de mercado. Atua no segmento de venda e manutenção de
ônibus e caminhões, destinada ao transporte de passageiros e cargas, respectivamente. A
empresa atua como canal intermediário entre fábrica e o consumidor final, sendo
responsável pela venda e assistência técnica dos produtos. Por razões óbvias, o nome da
empresa, informações sensíveis a esta, seu posicionamento no mercado e às suas
operações serão omitidas ou disfarçadas.

Esta produção objetiva compreender a gestão de estoque como ferramenta para redução
de custos para o alcance da eficiência operacional e financeira, considerando o segmento
do varejo de peças automotivas. A metodologia utilizada foi pesquisa exploratória e estudo
de caso, com base em artigos e livros que fundamentaram a análise e discussão do tema.

2. Referencial Teórico
2.1 Conceito

No presente trabalho adotamos a definição de estoque construída pelo Comitê de


Pronunciamentos Contábeis, citada no pronunciamento do CPC 16, que define estoque
como “ativos mantidos para venda no curso normal do negócio, ou em processo de
produção para venda, ou na forma de materiais ou suprimentos a serem consumidos ou
transformados no processo de produção ou na prestação de serviços”.

Nesta definição os estoques perpassam pelos bens comprados com pretensão de venda,
englobando, por exemplo, produtos adquiridos por um varejista para revenda ou terrenos e
outros imóveis para revenda. Os estoques também são formados por produtos acabados e
produtos em processo de produção pela entidade e incluem matérias – primas e materiais
esperando utilização no processo de produção, como: embalagens, materiais de consumo,
entre outros.

Para mensuração do estoque será aplicado o conceito de preço de custo, que é calculado
pelo preço de compra, mais tributos de circulação do produto, bem como os custos de
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transporte, manuseio, estocagem e outros diretamente aplicados à compra de produtos


acabados, materiais e serviços. Créditos de impostos e descontos comerciais devem ser
deduzidos na formulação do preço de custo.

O objetivo principal de uma empresa é auferir o lucro sobre o capital investido, espera-se
que o dinheiro aplicado em estoque seja o necessário para a produção e o bom
atendimento aos clientes, tido como investimento inicial para geração de lucros na
atividade comercial ou industrial.

Sobre o ponto de vista operacional e financeiro a gestão de estoque obtém grande valia e
demanda cuidados especiais. Muitas vezes as empresas não conseguem acompanhar os
aumentos repentinos de demanda, ou seus fornecedores não estão preparados para
atender estas demandas esporádicas com um tempo de suprimento satisfatório, o que
justifica a criação de estoques.

Sobre a criação de estoque FRANCISCHINI (2002) salienta:

“Qualquer que seja a razão para manter estoques, ela pode


ser eliminada mediante um trabalho inteligente e técnico.
Assim, o ideal de desempenho de uma empresa é manter
estoque zero. O problema é que o custo para manter estoque
zero pode ser maior do que o custo de manutenção de
estoque e, embora persiga o ideal de desempenho, uma
empresa deve procurar manter os seus estoques no nível
mais baixo possível”.

Manter estoques é necessário para corrigir uma ineficiência do produtor ou até mesmo
para atender as demandas de produção e dos clientes. Em alguns casos manter estoque é
necessário para garantir a operação da empresa, visando o alcance do nível de serviço
desejado.

2.2 Gestão de Estoque

Gerenciar estoques é equilibrar, ponderar e desfazer conflitos existentes entre quatro


forças de uma empresa: compras, produção, vendas e finanças.

Cada uma delas objetiva maximizar seus resultados em detrimento das demais áreas.
Nessa interface de interesses, o administrador de materiais deve ter uma visão
abrangente, garantindo o bom desempenho de todas as forças, para que o resultado seja o
melhor possível.
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Para auxiliar na gestão desses conflitos, o administrador de materiais pode aplicar o


conceito de nível de serviço para adequar às necessidades de cada força conflitante às
necessidades gerais da empresa.

FRANCISCHINI (2002) conceitua nível de serviço como: “a qualidade com que o fluxo de
bens e serviços é gerenciado e o desempenho oferecido pelos fornecedores aos seus
clientes: internos ou externos, no atendimento dos pedidos”.

Pode-se considerar o desempenho como o resultado do realizado pela operação, dividido


pelo esperado pelo cliente.

Para o bom desempenho da operação faz-se necessário saber quais as necessidades dos
clientes, para que a empresa possa atendê-lo de forma eficaz.

É relevante destacar que quanto maior o nível de serviço, maior o custo associado para
atender os clientes internos e externos. Ofertar níveis de serviço próximo a 100% pode ter
um custo muito elevado para a empresa, o que pode inviabilizar o negócio. Dessa forma
faz-se necessário decidir qual o nível de serviço a ser oferecido para o cliente. Sendo
estabelecida a meta.

Dessa forma, o diretor de materiais adotará todas as decisões necessárias para alcançar o
indicador e será responsável por apresentá-lo para a diretoria da empresa.

De acordo com FRANCISCHINI (2002) a administração de materiais tecnicamente bem


aparelhada é, sem dúvida, uma das condições fundamentais para o equilíbrio econômico e
financeiro de uma empresa. O referido autor descreve ainda a administração de materiais
como a atividade que planeja, executa e controla, nas condições mais eficientes e
econômicas, o fluxo de material, partindo das especificações dos artigos a comprar até a
entrega do produto terminado ao cliente.

Dessa forma, a literatura sobre o controle da gestão do estoque e o seu ressuprimento


tende a ser mais rara. As pesquisas realizadas nos últimos dez anos apresentam várias
abordagens para o problema, como a determinação de políticas de estoque de acordo com
a criticidade dos itens e a determinação do último pedido. Nesse trabalho priorizamos as
abordagens realistas, que já foram aplicadas na prática, as pesquisas puramente teóricas
e hipotéticas foram desprezadas, sendo privilegiadas as que apresentam aplicabilidade.

2.3 Mecanismos de Controle / Previsão de demanda


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Uma empresa de bens de consumo tende a manter grandes investimentos imobilizados em


peças de reposição. Em âmbito geral há um consenso que estes estoques não podem ser
gerenciados pelos modelos tradicionais, já que o padrão de consumo é esporádico
(irregular e pequeno), os custos de reposição são elevados e os tempos de respostas são
longos. Sendo assim como escolher quais produtos devem ou não ser estocados?

Grande parte das peças de reposição apresenta demanda esporádica, ou seja, ocorrem
em períodos variados, o que dificulta as suas previsões gerando falta nos estoques o que
resulta em altos custos.

Segundo LOVE (1979, Apud REGO, 2001, P.2): “previsões de demanda são pré-requisitos
absolutos para o planejamento dos níveis de estoque”. Ainda que as previsões estejam
vulneráveis ao erro, o conhecimento desses erros pode resultar em estoques de segurança
eficazes.

A gestão de estoque está intimamente associada com a possibilidade de prever o consumo


esperado de um determinado item, num certo período de tempo futuro. Quanto mais
assertiva for a estimativa de consumo, mais informações o gestor do estoque possuirá
para consolidar suas ações referente a qual nível de estoque deverá manter e quanto
deverá comprar para suprir às necessidades de seus clientes.

Segundo FRANCISCHINI, G. Paulino (2010), quanto à natureza, há dois métodos para se


estimar a demanda: métodos quantitativos, baseados em opiniões e estimativas de
diretores, gerentes, vendedores e consultores especializados (feeling) e os métodos
qualitativos, baseados em ferramentas estatísticas e de programação da produção,
pressupondo a utilização de cálculos matemáticos.

O método quantitativo, fazendo uso de ferramentas estatísticas, são muito relevantes para
prever os padrões básicos do comportamento do consumo pautados no consumo passado
e elaborando determinadas hipóteses para um período futuro. Referente às variáveis
aleatórias, são consideradas pela estatística sob a forma de erros de estimação.

Para FRANCISCHINI (2010), existem dois tipos básicos de demanda, a demanda


independente, que se configura como aquela correspondente com as condições do
mercado, não sendo controlada pela empresa, nesta categoria enquadra-se produtos
acabados e peças de reposição, e a demanda dependente, nesta o consumo é de acordo
com a demanda conhecida e está sob o controle da empresa, dessa forma a demanda
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pode ser calculada e gerida internamente, é o caso de materiais para a linha de produção,
neste caso podemos abranger peças de reposição para atender um mercado ou cliente já
conhecido dentro da oficina, buscando atender os níveis de serviço pré-estabelecidos pelo
setor de pós-vendas.

Nesse contexto, cada um dos tipos de demanda descritos acima pode ser classificado
quanto ao comportamento ao longo do tempo, a saber:

A primeira é definida como a demanda constante, nesta categoria a quantidade requerida


não flutua significativamente ao longo do tempo. Pois caso as condições que definiram
esse comportamento no passado permaneçam no futuro, a previsão de demanda é
extremamente fácil de ser realizada.

A segunda categoria é a demanda variável, nesta a quantidade requerida altera-se


significativamente ao longo do tempo, aumentando ou diminuindo de acordo com as
necessidades dos clientes.

Essas flutuações podem ser compreendidas ao analisar três fatores, são eles: a tendência,
a sazonalidade e a ciclicidade. A tendência aponta a direção básica do consumo, que pode
ser de aumento, diminuição ou estacionária. A sazonalidade aponta o comportamento na
variação do consumo, que se repetem no seio de um intervalo de tempo pequeno, em
geral um ano. A ciclicidade revela o comportamento das mudanças do consumo, que se
repetem dentro de um período de tempo grande, em geral décadas.

Ainda como ferramenta para auxílio do gestor nas tomadas de decisões pode ser utilizado
alguns métodos de previsão de demanda. O primeiro a ser estudado é o método da média
móvel, neste método compreende-se que a estimativa de consumo do próximo período
será a média de consumo dos últimos “n” períodos. É um método de fácil implantação, mas
possui algumas limitações na sua aplicação prática, são elas: requer uma ampla
quantidade de dados anteriores, desconsidera a possibilidade de alteração no futuro das
condições externas nos períodos anteriores, todos os dados dos períodos anteriores tem o
mesmo índice de relevância e importância, impactando nos resultados das medias com o
mesmo peso, flutuações de demandas por fatores atípicos do mercado são
desconsiderados, distorcendo a média calculada.

Com o intuito de solucionar o problema de igualdade dos pesos, tem-se o método da


média móvel ponderada, de acordo com este método os períodos obtêm pesos diferentes
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para o cálculo da previsão de demanda. Dessa forma, em uma média móvel calcula em d
dias, o último dia terá peso n, o penúltimo terá peso n-1, e assim sucessivamente. Neste
método os períodos mais atuais têm mais peso que os períodos mais antigos. Dessa forma
elimina-se a desvantagem do método da média móvel no que tange a fatores sazonais,
pois se pode atribuir pesos menores a períodos com essas variações.

Existem ainda outros métodos mais complexos para a previsão de demanda, como por
exemplo, o método dos mínimos quadrados, uma ferramenta estatística muito utilizada que
consiste em traçar uma linha que melhor se adapte aos dados históricos e prover uma
tendência para a previsão da demanda.

3. Estudo de Caso

3.1 Gestão de estoque de peças de reposição no setor automobilístico

Estoques de peças de reposição suprem necessidade de reparo de bens e consumo, o


que gera altos custos de capital e grande influência no nível de serviço aos clientes. Com
demandas variáveis e esporádicas, e ciclos de vida mais curtos, fica cada vez mais difícil
realizar um controle de estoque de forma eficaz, o que impacta diretamente na decisão de
estocagem ou não de um item e na elaboração de pedidos de peças.

Diante da importância da gestão de estoque evidenciada nesse trabalho, abordamos de


forma prática o caso de uma empresa do ramo automobilístico, onde foi sugerido a
integração de modelos de previsão de demanda como ferramenta para o efetivo controle
de estoque.

O estoque de peças de reposição ocupa um lugar estratégico nas empresas do ramo


automobilístico, tal afirmação justifica-se na expectativa cada vez maior dos clientes,
quanto a qualidade dos produtos, a demora de peças para o reparo impacta diretamente
na percepção do cliente. Como estes tem virado commodities o setor de pós-vendas tem
sido estratégico para a conquista de mercado, fidelização de clientes e manutenção de
vendas.

Também é válido ressaltar que uma eficaz gestão de estoque, aliada ao bom atendimento
da demanda dos clientes, proporciona uma importante oportunidade de aproximação e
relacionamento com o cliente, servindo como um instrumento de fidelização e satisfação
dos mesmos.
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A gestão de peças de reposição pode ainda ser abordada pelo viés do serviço ao cliente e
não apenas pelo aspecto financeiro e/ou de logística, pois com o mercado cada vez mais
acirrado e competitivo a satisfação do cliente é fundamental. Uma forma bastante utilizada
para manter os clientes satisfeitos é através do setor de pós-vendas, utilizando-se do
segmento de peças de reposição integrado a assistência técnica como meio para realizar
reparos em tempo recordes. Para isso, faz-se necessário a manutenção de um estoque
visando atender a determinados níveis de serviço ao cliente e sua satisfação.

Segundo FORTUIN; MARTIN (1999, Apud REGO, 2011, P.2): “o ciclo de vida das peças
de reposição está associado ao ciclo de vida dos produtos finais que a empregam”. Sua
demanda é influenciada por alguns fatores: tamanho e idade da população, especificidades
de manutenção desses produtos, entre outros. Durante o processo de gestão de estoque
algumas decisões precisam ser tomadas, entre elas a decisão de estocagem ou não de
peças, influenciando diretamente no volume de rotatividade de estoque. Surge então a
necessidade de mecanismos para conhecer melhor a composição desse estoque e suas
características, uma previsão de demanda assertiva será uma ferramenta eficaz para
auxiliar este processo.

3.2 Curva ABC

Realizar análise profunda em um estoque volumoso é uma atividade bastante complexa e,


em quase sua totalidade, desnecessária. É relevante que os itens mais importantes, sendo
utilizado um critério pré-estabelecido, tenham prioridade sobre os menos importantes.
Assim, poupa-se tempo e recursos, possibilitando a eficiência no controle gerencial desses
itens.

Conservar estoques ocupa espaço, pessoas, equipamento e mobilização de recursos.


Dessa forma, faz-se necessário um método de priorização de itens para auxiliar a análise,
direcionando o foco nos itens que possibilitam maiores retornos.

A curva ABC é uma metodologia que tem sido bastante utilizada como ferramenta para
gestão de estoques, seja para a estruturação do estoque ou até mesmo para o
planejamento de uma política de vendas. Trata-se de uma ferramenta gerencial que
possibilita identificar quais itens demandam maior atenção e tratamento adequado quanto
a sua relevância. Classificando os itens segundo os graus de relevância.
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Objetivamente, a curva ABC quando aplicada à população de itens de estoque classifica


os itens em três grupos de acordo com o seu valor de demanda, representando a relação
entre a porcentagem total do número de itens e a porcentagem total do seu valor de
demanda e demonstra a composição dos estoques.

Dessa forma constata-se que cada estoque terá sua relação padrão que identifica a curva
ABC do estoque. Considerando essa metodologia, a partir de uma análise baseada na
curva ABC obtêm-se três grupos, que se caracterizam como:

Grupo A: Peças que possuem alto valor de demanda ou consumo anual.

Grupo B: Peças que possuem um valor de demanda ou consumo anual intermediário.

Grupo C: Peças que possuem um valor de demanda ou consumo anual baixo.

Em relação à aplicação na empresa do segmento automobilístico, temos a seguinte


apresentação do estoque:

Título: Quadro composição do estoque por fornecedor

CLASSIFICAÇÃO VALOR (R$) PORCENTAGEM (%)


PEÇAS U R$ 534.355,73 60,79%
PEÇAS V R$ 197.067,26 22,42%
PEÇAS X R$ 83.001,52 9,44%
PEÇAS W R$ 29.166,13 3,32%
Y R$ 8.127,81 0,92%
Z R$ 27.362,48 3,11%
TOTAL R$ 879.080,93 100%
Fonte: Elaboração própria (2016).
Convertendo o quadro acima para a classificação ABC temos:
Título: Composição de estoque a partir da classificação ABC

VALOR A (R$) A (%) B (R$) B (%) C (R$) C (%)


TOTAL
PEÇAS U R$534.355,73 R$ 30.850,79 5,77% R$ 4.975,59 0,93% R$ 498.529,35 93,30%

PEÇAS V R$197.067,26 R$ 2460,32 1,25% R$ 507,67 0,26% R$ 194.099,27 98,49%


PEÇAS X R$ 83.001,52 R$ 0,00 0,00% R$ 0,00 0,00% R$ 83.011,52 100%
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PEÇAS W R$ 29.166,13 R$ 0,00 0,00% R$ 0,00 0,00% R$ 29.166,31 100%

PEÇAS Y R$ 8127,81 R$ 5097,11 62,71% R$ 1596,39 19,64 R$ 1434,31 17,65%


%
PEÇAS Z R$ 27.362,48 R$ 0,00 0,00% R$ 0,00 0,00% R$ 27.362,48 100%
TOTAL R$ 879.080,93 R$ 38.408,22 4,37% R$ 7.079,65 0,81% R$ 833.603,24

Fonte: Elaboração própria (2016).

De acordo com a análise do estoque da empresa estudada, baseando-se na tabela X, é


possível constatar que a empresa classifica seu estoque com base na seguinte
metodologia:

Produto A: Alta demanda;

Produto B: Demanda intermediária;

Produto C: Baixa demanda.

Constata-se que o critério não considera o valor da mercadoria em relação ao seu custo,
quantidade e volume, mas a relação de demanda e valor. Essa metodologia é específica
para o setor de peças automotivas, estes dados foram obtidos através do controle
informatizado de software da concessionária.

Nesse contexto, as análises realizadas a partir dos quadros apresentados evidenciam que
os fornecedores possuem comportamentos semelhantes, e sugere a adoção de estratégias
para a reversão de imobilização do capital perante o estoque apresentado.

Com exceção do fornecedor “Y”, por se tratar de lubrificantes utilizados na oficina, nas
revisões periódicas, os demais itens que compõem o estoque são, na sua maioria, itens C,
ou seja, aqueles que possuem uma baixa demanda.

Justifica-se portanto, a adoção de estratégias que objetivem a mudança da composição de


estoque, as quais destaca-se:

I. Realização de um estudo de mercado, tal medida justifica-se pela alta população de


veículos da marca em atividade operacional, tendo em vista que esta
concessionária detém a exclusividade de venda de peças e veículos, sendo a única
autorizada na região de Salvador. Um estudo aprofundado sobre o mercado e das
características e necessidades de seus clientes trará como resultado uma mudança
na participação de mercado, alterando o volume de vendas da empresa, e o giro de
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estoque. Dessa forma, a própria “tabela X” poderá ser refeita, pois itens que outrora
tinham pouca demanda passarão a ter uma demanda maior, ocasionando
mudanças na classificação ABC do estoque.
II. Alinhar o setor de peças de reposição com o da assistência técnica também é
considerado como uma estratégia relevante, realizar o planejamento do estoque a
partir dos serviços que serão feitos na oficina é um bom argumento para alcançar a
satisfação dos clientes e o nível de serviço almejado.
III. Concomitantemente com a pesquisa de mercado, considera-se fundamental a
adoção de uma política de compras mais eficaz. Adotar métodos de previsão de
demanda mais adequados para realizar os pedidos aos fornecedores pode ser uma
ferramenta auxiliadora neste processo, evitando a aquisição de peças com
demanda baixa, itens “C”, pois pela atual conjuntura política e econômica a empresa
estudada não tem condições de realizar um alto investimento em imobilização de
estoque, essa medida estará proporcionando maior rotatividade de estoque,
garantindo a rentabilidade do setor estudado, considerando-se o custo de
oportunidade para o capital almejado pelo segmento, o que impacta diretamente no
retorno do investimento.

Como os estoques são criados para atender uma demanda futura, calculada a partir de
métodos de previsão de demanda, melhores estoques trarão maior vantagem competitiva
que refletirá numa gestão mais eficiente do setor de peças e resultados positivos
disseminados em várias áreas, será dedicado menor espaço a estocagem, o que gerará
redução de custos e despesas com pessoal, diminuição de níveis de obsolescência das
peças, maior rotatividade de estoques e redução das flutuações de preço.

IV. Com a implantação dessas medidas é relevante realizar um novo estudo sobre a
composição do estoque a luz da metodologia de curva ABC, visando a
caracterização das peças com alto custo e com tempo elevado de imobilização,
essa ação permitirá ao gestor de estoque um olhar focalizado nos itens mais críticos
considerando as variáveis de valor e demanda, pois dessa forma poderá ser criada
uma estratégia de vendas e marketing para o estoque estudado.
V. Listas de recompras também devem ser realizadas, propor ao fornecedor a
recompra de itens que não tem demanda constitui uma eficiente estratégia para a
alteração do estoque, tendo em vista que o estoque da empresa nos fornecedores,
“X,Y e Z” são totalmente constituídos por itens “C”.
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De acordo com a atual conjuntura analisada, consideramos que a implantação dessas


ações causará alterações no volume de vendas da empresa, o que permiti a diminuição do
custo médio do estoque, que deve ser acompanhado por uma mudança nas compras e na
estocagem das peças. Alterando este cenário, o setor de peças atingirá uma maior
eficiência operacional, pois entendemos que compra, estoque e vendas devem caminhar
alinhados.

4. Considerações Finais

O presente trabalho analisou a gestão de estoque como ferramenta para redução de


custos. Para tanto, num primeiro momento estruturamos o conceito de estoque, os
mecanismos de controle por métodos de previsão de demanda e a importância de uma
gestão eficiente para o segmento estudado. Posteriormente aplicamos a metodologia da
curva ABC para a análise de composição de estoque na empresa estudada, consideramos
que os resultados apresentados constituem avanços nos aspectos teórico e prático da
gestão de estoque de peças de reposição.

Com o cenário atual, as empresas cada vez mais buscam manter seus estoques em níveis
baixos, pois a diversidade de itens oferecidos e o capital imobilizado tornam a posse do
estoque e sua manutenção onerosa.

No estudo realizado consideramos que se faz necessário reduzir o nível de estoques, pois
tal medida aumentará o dinheiro disponível para a empresa investir em outros negócios,
ampliando sua carteira de clientes e, assim, aumentando o seu valor econômico no
mercado, pois se torna mais lucrativa.

A aplicação das ações propostas no estudo conduzirá a melhores resultados operacionais


e financeiros para o setor abordado, o que refletirá diretamente nos resultados da empresa
como um todo.
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5. Referências

ARNOLD, J. R. Tony. Administração de materiais: uma introdução . São Paulo: Atlas,


2009. xix, 505 p. ISBN 9788522421695 (broch.)

DIAS, Marco Aurélio P. Administração de materiais: princípios, conceitos e gestão. 6. ed.


São Paulo: Atlas, 2009. xii, 346 p. ISBN 9788522456178 (broch.)

FRANCISCHINI, Paulino; GURGEL, Floriano do Amaral. Administração de materiais e


do patrimônio. São Paulo: Cengage Learning, 2002. viii, 310 p. ISBN 9788522102617
(broch.)

VIANA, João José. Administração de materiais: um enfoque prático . São Paulo: Atlas,
c2000. 448 p. ISBN 9788522423958 (broch.)

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