A lavagem do Santo Altar é um costume da Igreja de Constantinopla, realizada anualmente na Quinta-Feira Santa, ao fim da Oração das Horas e das “Bem- Aventuranças”, e antes de se iniciarem as Vésperas, seguidas pela Divina Liturgia de São Basílio, o Grande. O Clero deve estar revestido com sua paramentação completa, colocando-se no altar segundo a ordem hierárquica. O Sacerdote que for presidir incensa ao redor do altar, e, voltando para a frente do mesmo, faz a seguinte oração:
Oração para Desvestir o Altar:
Senhor nosso Deus, tu que com tua morte vivificante mortificaste
a morte e nos ressuscitaste das paixões do pecado: recebe-nos, por tua grande clemência, a nós que agora circundamos a figura de teu salvífico Sepulcro, e que estamos prontos e desejosos de realizar o honroso múnus sacerdotal. Faz-nos dignos partícipes da Ceia Mística, herdeiros de teu Reino Celeste e merecedores da alegria dos bens eternos e da glória imperecível. Porque tu és a Fonte da Vida e a ti glorificamos, juntamente com teu Pai Eterno e o teu Santíssimo, Bom e Vivificante Espírito, agora, sempre, e pelos séculos dos séculos. Amém.
Então se desveste o altar, enquanto são recitados os Salmos seguintes:
Salmo 50 (51)
Tem misericórdia de mim, ó Deus, segundo a tua benignidade; apaga as
minhas transgressões, segundo a multidão das tuas misericórdias. Lava-me completamente da minha iniquidade, e purifica-me do meu pecado. Porque eu conheço as minhas transgressões, e o meu pecado está sempre diante de mim. Contra ti, contra ti somente pequei, e fiz o que é mal à tua vista, para que sejas justificado quando falares, e puro quando julgares. Eis que em iniquidade fui formado, e em pecado me concebeu minha mãe. Eis que amas a verdade no íntimo, e no oculto me fazes conhecer a sabedoria. Purifica-me com hissopo, e ficarei puro; lava-me, e ficarei mais branco do que a neve. Faze-me ouvir júbilo e alegria, para que gozem os ossos que tu quebraste. Esconde a tua face dos meus pecados, e apaga todas as minhas iniquidades. Cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova em mim um espírito reto. Não me lances fora da tua presença, e não retires de mim o teu Espírito Santo. Torna a dar-me a alegria da tua salvação, e sustém-me com um espírito voluntário. Então ensinarei aos transgressores os teus caminhos, e os pecadores a ti se converterão. Livra-me dos crimes de sangue, ó Deus, Deus da minha salvação, e a minha língua louvará altamente a tua justiça. Abre, Senhor, os meus lábios, e a minha boca entoará o teu louvor. Pois não desejas sacrifícios, senão eu os daria; tu não te deleitas em holocaustos. Os sacrifícios para Deus são o espírito quebrantado; a um coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus. Faze o bem a Sião, segundo a tua boa vontade; edifica os muros de Jerusalém. Então te agradarás dos sacrifícios de justiça, dos holocaustos e das ofertas queimadas; então se oferecerão novilhos sobre o teu altar.
Salmo 25 (26)
Julga-me, Senhor, pois tenho andado em minha sinceridade; tenho
confiado também no Senhor; não vacilarei. Examina-me, Senhor, e prova-me; esquadrinha os meus rins e o meu coração. Porque a tua benignidade está diante dos meus olhos; e tenho andado na tua verdade. Não me tenho assentado com homens vãos, nem converso com os homens dissimulados. Tenho odiado a congregação de malfeitores; nem me ajunto com os ímpios. Lavo as minhas mãos na inocência; e assim andarei, Senhor, ao redor do teu altar. Para publicar com voz de louvor, e contar todas as tuas maravilhas. Senhor, eu tenho amado a habitação da tua casa e o lugar onde permanece a tua glória. Não apanhes a minha alma com os pecadores, nem a minha vida com os homens sanguinolentos, Em cujas mãos há malefício, e cuja mão direita está cheia de subornos. Mas eu ando na minha sinceridade; livra-me e tem piedade de mim. O meu pé está posto em caminho plano; nas congregações louvarei ao Senhor.
Salmo 83 (84)
Quão amáveis são os teus tabernáculos, Senhor dos Exércitos!
A minha alma está desejosa, e desfalece pelos átrios do Senhor; o meu coração e a minha carne clamam pelo Deus vivo. Até o pardal encontrou casa, e a andorinha ninho para si, onde ponha seus filhos, até mesmo nos teus altares, Senhor dos Exércitos, Rei meu e Deus meu. Bem-aventurados os que habitam em tua casa; louvar-te-ão continuamente. Bem-aventurado o homem cuja força está em ti, em cujo coração estão os caminhos aplanados. Que, passando pelo vale de Baca, faz dele uma fonte; a chuva também enche os tanques. Vão indo de força em força; cada um deles em Sião aparece perante Deus. Senhor Deus dos Exércitos, escuta a minha oração; inclina os ouvidos, ó Deus de Jacó! Olha, ó Deus, escudo nosso, e contempla o rosto do teu ungido. Porque vale mais um dia nos teus átrios do que mil. Preferiria estar à porta da casa do meu Deus, a habitar nas tendas dos ímpios. Porque o Senhor Deus é um sol e escudo; o Senhor dará graça e glória; não retirará bem algum aos que andam na retidão. Senhor dos Exércitos, bem-aventurado o homem que em ti põe a sua confiança.
Ainda durante a recitação dos Salmos, já desvestido o altar, os Sacerdotes, com
pedaços de algodão, limpam o altar, juntando o pó e qualquer partícula que nele esteja em um recipiente à parte. Feito isto, o Sacerdote que preside recebe um jarro com água morna. O Diácono diz: Abençoa, Senhor. O que preside verte a água sobre o altar e, juntamente com os outros Sacerdotes, cada um com uma toalha, seca o altar. Em seguida despeja água de rosas sobre o altar e, com os outros Sacerdotes, a espalha bem, usando pedaços de algodão, até secar. Feito isto reveste-se o altar com a toalha e ornamentos próprios enquanto se recita a oração:
Oração para Revestir o Altar:
Misericordioso e compassivo Deus, tu que, em tua imensa bondade, nos
fizeste, apesar de nossa miserabilidade, servidores de teu santíssimo e puro altar; pela abundância de tua misericórdia olha agora para nós, teus indignos servos, e aceita este ofício que, acercando-nos de tua Santa Mesa com temor e tremor, estamos hoje realizando. Pela santa cerimônia de lavagem do teu altar purifica-nos de toda mácula física e espiritual, purificando também nossos sentidos da imundície do pecado, para que nos apresentemos impecáveis e imaculados, dignos de oficiar os divinos Mistérios de teu puro Corpo e teu Sangue vivificante. Tu que foste colocado no sepulcro para conceder-nos a incorruptibilidade, e ressuscitaste em glória ao terceiro dia, fazendo de teu santíssimo sepulcro fonte perene de vida e incorrupção para nós, pois, tendo pisado a morte com a morte, e tendo vencido o poderio do pecado com o poder de tua soberania divina, nos revivificaste e ressuscitaste contigo. A ti, Primogênito da ressurreição, nós glorificamos, tu que foste crucificado e sepultado, e ressuscitaste por nós, pois tu és nosso Deus, nossa ressurreição e salvação, e a ti rendemos glória, juntamente com teu Pai Eterno e teu Santíssimo, Bom e Vivificante Espírito, agora, sempre e pelos séculos dos séculos. Amém.
A seguir o Sacerdote, segurando uma vela acesa, incensa ao redor do altar, e, saindo depois pela Porta Real, distribui aos fiéis, como bênção, pedaços do algodão usado para secar o altar.