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ECONOMIA POLÍTICA

AULA 4

Prof. Felipe Calabrez


KEYNES, SCHUMPETER E O PÓS-GUERRA

CONVERSA INICIAL

Nesta aula tomaremos contato com a crítica de Keynes aos pressupostos


da teoria clássica. A contribuição de Keynes só pode ser entendida de maneira
estritamente conectada ao contexto histórico em que foi produzida: A grande
depressão que se seguiu à crise de 1929, com suas persistentes altas taxas de
desemprego.
Posto este contexto, serão apresentados os alicerces centrais da Teoria
Geral keynesiana e suas consequências políticas. Nas últimas seções veremos
a contribuição de Schumpeter para a análise do capitalismo, com sua noção de
“destruição criadora”. Ao final, faremos um resumo dos rumos que o capitalismo
tomou no século XX.

TEMA 1 – TEORIA (NEO) CLÁSSICA E A INSURGÊNCIA DE KEYNES

No início do século XX a teoria neoclássica havia se consolidado como


dominante nos círculos acadêmico-científicos. Sobre as relações entre oferta e
demanda prevalecia a explicação baseada na chamada Lei de Say, que vimos
na aula 2. A crise de 1929, no entanto, e a grande depressão que a ela se seguiu
questionaram frontalmente a explicação científica ao manter baixíssimos níveis
de emprego. A Teoria de Keynes veio confrontar a explicação estabelecida,
invertendo o modo como as relações entre poupança e investimento são
entendidas. Keynes demonstra então a contraintuitiva tese de que a poupança
decorre do investimento.
Nesta seção veremos em alguns detalhes como Keynes refuta a Lei de
Say, colocando em seu lugar a seguinte lição: Não há nada que garanta uma
relação automática entre poupança e investimento. Será abordada também a
noção de “fluxo circular” de renda de forma a abrir caminho para aprofundarmos,
na seção seguinte, os elementos da Teoria Geral de Keynes.

TEMA 2 – ASPECTOS DA TEORIA KEYNESIANA E A MACROECONOMIA

O objetivo da produção capitalista para Keynes, assim como em Marx,


não é o seu produto em si, mas o lucro monetário. Por essa razão concorda com
o esquema D – M – D’ de Marx, que, repare, inicia-se com o D e a ele retorna. O
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dinheiro é o ponto de partida e de chegada do esquema de circulação. Por isso
Keynes afirma tratar-se de uma economia monetária da produção, conceito que
será central para entendermos sua teoria.

2.1 Princípio da incerteza e demanda efetiva

Nessa seção será explicada a centralidade que a decisão de gasto dos


capitalistas possui para a manutenção do nível de emprego. Abordaremos os
determinantes dessa decisão.
A decisão de gasto da classe capitalista é feita com base em um conjunto
de avaliações, que incluem suas expectativas sobre a demanda futura e sobre a
rentabilidade do investimento. E aqui entra o princípio da demanda efetiva. Ao
final da seção deverá ficar claro o que significa cada um desses conceitos.

2.2 O papel da política fiscal

A política fiscal é central para Keynes como medida para reverter a


depressão. Aqui entra o papel do investimento público, que carrega consigo o
chamado efeito multiplicador, conceito que será explicado nesta seção.
A ideia central é a de que, diante da insuficiência de investimentos
privados entra o papel fundamental do gasto do governo: Este é o componente
mais autônomo e dotado de capacidade de fomentar a demanda agregada.
Trata-se, nos termos de Keynes, de “socializar” o investimento.
O governo pode então agir sobre o desemprego, gastando, por exemplo,
com obras públicas, empregando trabalhadores e criando rendimento. Além
disso, o investimento público carrega consigo o chamado efeito multiplicador, o
que significa que seu efeito sobre o rendimento nacional é superior ao
desembolso originário. Essa medida, defende Keynes, poderá ser financiada
pelo endividamento público, desequilibrando temporariamente o orçamento,
efeito recompensando pelo incremento na renda nacional.

TEMA 3 – KEYNES E A POLÍTICA

O que a teoria keynesiana resgata, do ponto de vista político, é uma visão


positiva sobre a ação do Estado. Os mecanismos de intervenção pública não são
mais vistos como inerentemente maléficos ao bom funcionamento dos
mecanismos de mercado. Em lugar da crença na infalibilidade do mercado,

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Keynes coloca o papel virtuoso da ação estatal como mecanismo estabilizador
do sistema, compensador das incertezas e auxiliar na manutenção do nível de
emprego necessário à garantia de condições mínimas de vida à maioria da
população.
Com a Teoria Geral tinha-se uma justificativa científica para a ação
pública. Sua contribuição foi muito importante diante da Grande Depressão.
Keynes é considerado o precursor da macroeconomia e, de certa maneira,
inaugurou a importância do papel do Estado no manejo das variáveis renda e
emprego de uma economia, colocando em destaque a noção de política
econômica.

TEMA 4 – SCHUMPETER E O ESPÍRITO DO CAPITALISMO

Nesta seção abordaremos a contribuição de Schumpeter para a análise


do capitalismo.
Se a preocupação político-social de Keynes eram a estagnação
econômica e o desemprego, Schumpeter, ao olhar para o capitalismo e seus
ciclos, buscou explicar seu impulso expansivo.
O desenvolvimento, para Schumpeter, é engendrado pela inovação,
elemento fundamental para a dinamização do sistema.
A inovação altera as condições competitivas daqueles empreendimentos
que já estavam estabelecidos, apresentando alternativas aos produtos e
processos que já existiam, o que reduz o espaço que estes possuíam no
mercado, fazendo com que muitos simplesmente desapareçam. Ela é
responsável pelo dinamismo do sistema e criadora de renda e riqueza. Mas para
isso ela é destruidora, pois causa momentâneo desemprego dos “fatores de
produção”. O sistema capitalista é, portanto, dinâmico, mas marcado por crises.
É criador de riqueza, mas também destruidor. Eis aqui a noção de “destruição
criadora”.

TEMA 5 – O CAPITALISMO NO PÓS-GUERRA

Como é sabido, os EUA saíram, embora de forma muito lenta, do atoleiro


da Grande Depressão. As medidas do New Deal favoreceram a recuperação
econômica e os EUA despontaram no século XX como potência hegemônica.
Após a Segunda Guerra Mundial, os americanos tomaram a frente no sistema

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monetário internacional e lograram impor a hegemonia do dólar. Construía-se o
chamado acordo de Bretton Woods e o padrão dólar.
Esse padrão monetário, apesar de garantidor da hegemonia
estadunidense, por conta da supremacia de sua moeda como referência nas
transações internacionais, também funcionou como garantidor de certa
estabilidade nas relações monetárias e políticas internacionais, sobretudo
porque foi marcado por forte regulação financeira.
O que se seguiu ao longo da segunda metade do século XX foi um
processo de prosperidade econômica. A Europa experimentou taxas de
crescimento relativamente elevadas, ganhos de produtividade acompanhados
de aumentos nos salários e consolidação de um modelo socialdemocrata, com
amplas políticas de Welfare State e proteção dos direitos do trabalho. Chamou-
se a esse arranjo de regime fordista de acumulação (BOYER, 2009), ou anos
dourados do capitalismo, modelo que entrará em crise nos anos 1970.

NA PRÁTICA

Pesquise sobre as medidas adotadas pelo New Deal de F. Roosevelt nos


EUA. Liste o nome dos programas lançados pelo governo americano diante da
Grande Depressão e seus pontos principais, relacionando esses pontos com os
elementos da Teoria de Keynes, sob dois aspectos: 1) Demanda Efetiva; 2)
Papel do Estado.

FINALIZANDO

Nesta aula buscamos obter um panorama geral do capitalismo no século


XX e o modo como seu movimento se entrelaça com as teorias econômicas.
Vimos como a teoria neoclássica não tinha respostas eficientes para a Grande
Depressão dos anos 1930 e como Keynes formulou sua teoria diante de um
problema bastante concreto.
Na Teoria Geral de Keynes analisam-se a dinâmica do sistema capitalista
e a centralidade do investimento empresarial como elemento garantidor de níveis
aceitáveis de emprego e renda. Vimos o diagnóstico de Keynes e suas propostas
de ação prática. Essas propostas colocam o Estado como agente central e vão
ao encontro dos pressupostos liberais até então hegemônicos.

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A análise de Schumpeter identifica a dinâmica do capitalismo de maneira
diferente. O sistema seria inerentemente expansivo, movido pela inovação
empresarial. Tal expansão, no entanto, seria inevitavelmente acompanhada pelo
desaquecimento da economia e refreada nos lucros e, consequentemente, nos
investimentos. Temos uma visão cíclica do sistema capitalista.
Após a Segunda Guerra Mundial, constroem-se acordos entre as grandes
potências e inaugura-se um período de relativa estabilidade acompanhada de
crescimento econômico. Esse período histórico nos fornecerá subsídios para
pensarmos as categorias até aqui vistas e organizarmos um debate possível,
assunto das próximas aulas.

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REFERÊNCIAS

BOYER, R. Teoria da regulação: os fundamentos. São Paulo: Estação


Liberdade, 2009.

DILLARD, D. A teoria econômica de John Maynard Keynes: teoria de uma


economia monetária. São Paulo: Pioneira, 1986.

FIORI, J. L. (Org.). Estados e moedas no desenvolvimento das nações.


Petrópolis, RJ: Vozes, 1999.

KEYNES, J. M. A teoria geral do emprego, do juro e da moeda. São Paulo:


Abril Cultural, 1983. (Coleção Os Economistas).

NUNES, A. J. A. Uma introdução à economia política. São Paulo: Quartier


Latin, 2007.

SCHUMPETER, J. A. Teoria do desenvolvimento econômico: uma


investigação sobre lucros, capital, crédito, juro e o ciclo econômico. São Paulo:
Nova Cultural, 1997. (Coleção Os Economistas).

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