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Ação contra machismo critica letras de funk,

sertanejo e samba
Secretaria de Segurança Pública de São Leopoldo criou uma exposição que relaciona
composições com feminicídio e estupro

● HELDER MALDONADO
● 11/03/2018 - 14H18 (ATUALIZADO EM 11/03/2018 - 14H18)

Foto com imagem de necrotério traz trecho de letra de Sidney Magal


Thales Ferreira

A Secretaria de Segurança Pública de São Leopoldo, no Rio Grande do Sul, lançou uma
exposição que relaciona letras de músicas populares ao machismo, violência doméstica,
feminicídio e estupro.

Com imagens de cadáveres e mulheres agredidas segurando um cartaz com trechos dessas
composições, a ação foi lançado no Dia Internacional da Mulher e tem como propósito alertar
sobre a naturalização do machismo na sociedade brasileira e até mesmo na música pop.

A curadoria de letras selecionou sucessos do passado e atuais de estilos como funk, samba,
sertanejo, axé e rock. Entre os artistas citados estão Sidney Magal, É o Tchan, Camisa de Vênus,
MC Livinho e Noel Rosa.

A exposição chama atenção para um fato: o machismo está entranhado na cultura.


Principalmente na periferia, já que samba, funk e sertanejo são estilos cantados quase sempre
por artistas que têm origem nas camadas sociais menos privilegiadas.
E é exatamente nesse recorte que existe uma maior aceitação da violência contra mulher. Não à
toa, as principais vítimas desses crimes no Brasil são jovens, negras e pobres, segundo
informações do Mapa da Violência

Infelizmente isso nem é novidade e é um cenário antigo. Letras de Noel Rosa e Moreira da Silva
já mostram que, apesar dos esforços para que exista representatividade e proteção legal à
mulher, muito pouco mudou desde então.

Enquanto Noel sugeria que a uma mulher indigesta merecia um tijolo na testa, MC Livinho diz
que vai acabar com a raça de uma mina. 86 anos separam as duas letras. Mas parece que ambos
são crias da mesma geração.
E a violência nem sempre é explícita. ​MC Diguinho fala em ​Surubinha de Leve​que vai
embebedar uma mulher e jogá-la na rua depois​. ​Mas Henrique e Juliano quase passam
despercebidos na letra de ​Vidinha de Balada​, que conta a história de um homem possessivo que
obriga uma mulher a namorar com ele. E se reclamar, vai casar também. Basicamente, a
romantização de um relacionamento abusivo. Se achar exagero, basta mudar o gênero do
personagem e imagina a letra sendo cantada por Marília Mendonça.
A questão a ser discutida é que esse tipo de conteúdo é tão enraizado que os ouvidos menos
problematizadores nem sequer notam o que existe de agravante nesses versos.
O crescimento do funk enquanto gênero musical é um fenômeno sócio-cultural interessante para
as periferias do Brasil, mas já passou da hora do estilo deixar de ser tratado com paternalismo e
receber as críticas que merece pela sua responsabilidade de vender ideias e comportamentos que
continuam colocando a mulher em posição de submissão.
E nisso não existe tom de censura. Afinal, criticar letras que fazem apologia a crimes de ameaça
à vida (como no caso de ​Surubinha de Leve​) ou a relacionamentos nada saudáveis é uma forma
de tentar construir uma cultura pop que reflita positivamente na sociedade. Afinal, para alguns
pode parecer só lazer, mas o poder de influência de um hit é gigante e até difícil de medir. Veja
ainda:
http://anoticia.clicrbs.com.br/sc/noticia/2013/09/musica-trepadeira-do-rapper-emicida-provoca-discussao-sobre-qu
estoes-de-genero-4269173.html

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