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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS


MOLÉCULAS, CÉLULAS, GÊNESE E NÍVEIS DE ORGANIZAÇÃO
DISCIPLINA: FARMACOLOGIA MÉDICA

FRANCISCO ADAILTON DOS SANTOS SAMPAIO

ANESTÉSICOS LOCAIS

BELÉM
2017
FRANCISCO ADAILTON DOS SANTOS SAMPAIO
MATRÍCULA: 201709740067
TURMA B/2017

ANESTÉSICOS LOCAIS

Relatório escrito como requisito para


obtenção de conceito no eixo de MCGNO
na unidade curricular de Farmacologia.
Prof. Dr. Moisés Hamoy.

BELÉM
2017
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO 3

2. OBJETIVO 7

3. METODOLOGIA 7

4. RESULTADOS 8

5. DISCUSSÃO 8

6. CONCLUSÃO 12

7. REFERÊNCIAS 14
1. INTRODUÇÃO
Os chamados Anestésicos Locais (AL) compreendem um grupo de
substâncias capazes de bloquear reversivelmente a condução nervosa em uma área
circunscrita do corpo. De maneira geral, os fármacos que atuam como anestésicos
locais partilham entre si a configuração fundamental da cocaína – a primeira droga
usada oficialmente para esse fim e isolada das folhas de coca em 1859 por Niemann
(YAGIELA et al., 2011).
Geralmente os fármacos aptos a promover um bloqueio nervoso regional
devem satisfazer propriedades fisioquímicas tais como: (1) interagir diretamente com
a membrana dos axônios e (2) apresentar característica lipofílicas e hidrofílicas. O fato
do fármaco ter afinidade por substâncias apolares o possibilita atravessar barreiras
como a bainha que recobre os neurônios. Por sua vez, a característica hidrofílica
assegura que a droga não precipite quando em contato com o líquido entre os tecidos.
(YAGIELA et al., 2011)
Frequentemente os anestésicos locais são empregados para efeitos de
analgesia. A condição de analgesia não deve ser confundida com a condição de
anestesia. A primeira está relacionada a ação inibitória e especifica dos fármacos
sobre vias que estão envolvidas na sensação de dor e não levam a perda de
consciência, limitação da ação motora ou outras sensações, enquanto a segunda
caracteriza a ação inibitória sobre o sistema nervoso central – anestésicos gerais - ou
periférico, no caso dos anestésicos locais, ocasionando, respectivamente
inconsciência e bloqueio da ação motora. (GOLAN et al., 2009)
A absorção desses fármacos a partir do local onde foi administrado é dada
por diversos fatores: a dosagem, local de injeção, capacidade do fármaco de aderir
aos tecidos, o fluxo sanguíneo no tecido onde foi administrado, aplicação de um
vasoconstritor e as propriedades fisioquímicas inerentes à droga. Quanto mais
lipossolúveis mais potentes, além disso, tem a ação prolongada devido a
lipossolubilidade, que pode ser reforçada pela capacidade do anestésico local em
ligar-se a proteínas teciduais. É importante destacar que quando injetados em áreas
bem vascularizadas ocorre um aumento no processo de absorção. (KATZUNG;
MASTER; TREVOR, 2014)

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O mecanismo de distribuição é essencial, pois em geral a droga é injetada
em um órgão-alvo (distribuição localizada) e a maneira que ela irá distribuir-se nesse
órgão é importante para a obtenção do chamado efeito clínico. Essas drogas ligam-
se reversivelmente as proteínas do plasma e eritrócitos e ocorre, também, a
distribuição sistêmica, que compreende duas fases: α e β. Em α ocorre uma rápida
distribuição no sangue e órgãos ricamente difundidos o que provoca uma queda
exponencial em sua concentração. Em β manifesta-se uma distribuição lenta com
declínio baixo da concentração, o que significa uma distribuição em tecidos com baixa
perfusão. (GOLAN et al., 2009)
Em relação ao metabolismo e eliminação observa-se que os fármacos que
alcançam a circulação sanguínea são metabolizados nos pulmões em uma tentativa
de poupar o cérebro e outros órgãos dos possíveis efeitos farmacológicos. Além disso,
ocorre metabolização no fígado, pelo sistema microssomal P450 ou no plasma,
tornando-os substâncias mais hidrossolúveis sendo liberados pela urina. As formas
neutras dos anestésicos locais podem ou não serem eliminadas pela urina, haja vista
sua capacidade de difundirem através das membranas lipídicas. De modo geral, os
anestésicos locais lipossolúveis sofrem um processo de excreção lento. (GOLAN et
al., 2009)
O mecanismo de ação desses fármacos ocorre sobre os canais de sódio
regulados por voltagem. De maneira geral, os canais são bloqueados e a geração e
condução dos potenciais de ação são inibidos. Existem vários locais na membrana
dos neurônios onde essas drogas podem agir inibindo a permeabilidade do sódio,
podendo atuar sobre os lipídeos de membrana na tentativa de comprometer os canais
de sódio, no entanto, nos últimos anos muitos fatores têm colaborado para que seja
pensado que essas drogas atuam diretamente nos canais de sódio. (YAGIELA et al.,
2011)
Como todo fármaco, os anestésicos locais, podem apresentar toxicidade.
Essa condição pode ser apresentada sobre duas formas: primeiramente pode ocorrer
efeitos sistêmicos quando injetado de maneira intravascular de maneira imprudente
ou quando absorvido de seu local de administração. A outra forma é a chamada
neurotoxicidade quando ocorre o contato direto em grande quantidade com elementos
neurais.

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Um fármaco bastante empregado como anestésico local é o cloridrato de
lidocaína, derivado aminoetilamida da xilidina. Apresenta potência e toxicidade
superior a procaína e possui um efeito rápido. (YAGIELA et al., 2011). A Lidocaína
apresenta forma molecular C14H22N2O e possui considerável hidrofobicidade. Ela é
considerada um protótipo dos anestésicos locais amídicos e é de uso recorrente em
intervenções que precisem de sedação anestésica local de duração intermediária.
Além disso, é uma alternativa para os indivíduos sensíveis aos anestésicos locais do
tipo éster. (BRUNTON et al., 2012)
Essa droga é apresentada comercialmente como fármaco de uso tópico ou
injetável. Sendo comercializada em concentrações de 1% ou 2% com ou sem
vasoconstritor.

FIGURA 01. Fórmula estrutural da lidocaína. Este fármaco é um derivado


aminoetilamida da xilidina. Fonte: internet.

2. OBJETIVOS
 Apresentar as vias de administração anestésica.
 Discutir a farmacocinética e a farmacodinâmica do cloridrato de lidocaína,
correlacionando-o com os demais anestésicos locais.
 Analisar o tempo de latência da droga e suas manifestações clínicas.

3. METODOLOGIA
3.1. DROGAS UTILIZADAS
Cloridrato de lidocaína a 2% - solução injetável sem vasoconstritor.
Via de administração: plexobraquial.

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3.2. MATERIAIS E ANIMAIS UTILIZADOS
1 Jaleco
1 Seringa de insulina
1 Flanela
1 Cronômetro
1 Rato Wistar albino (Rattus novergicus), com peso aproximado de 300g.

4. RESULTADOS

A administração do fármaco ocorreu por via perineural do plexobraquial


dianteiro esquerdo do rato. Foi injetado 0,1 ml do fármaco com o auxílio de uma
seringa centesimal para insulina. Em seguida, foi acionado o cronômetro e
acompanhou-se as reações comportamentais do rato. Cerca de 43 segundos após a
administração do fármaco notou-se um relaxamento visível da pata dianteira esquerda
do animal, verificando-se uma dificuldade inicial do rato em locomover-se.
Cerca de 2 min e 30 segundo foi possível verificar a anestesia completa da
pata dianteira esquerda do rato Winstar, pois o animal apresentou máxima dificuldade
de locomoção, visto que o membro em questão não respondia aos estímulos.

5. DISCUSSÃO
De modo geral, a anestesia local age sobre a nocicepção. Quando um
indivíduo é exposto as situações de estresse e que lhe causam lesões como
queimaduras, impactos e contato com substâncias químicas capazes de agredir
tecidos ocorre ativação de nociceptores – fibras nervosas sensoriais primárias. Os
nociceptores possuem terminações livres situadas na pele, tecidos profundos e
vísceras. Os nociceptores são os primeiros nas cadeias de neurônios responsáveis
pela sensação de dor e são denominados neurônios eferentes pois levam a
informação resultante dos estímulos dolorosos ao cérebro, sendo que ativação deles
ocorre frente à lesão tecidual. Receptores para bradicinina na membrana dessas
células são essenciais, pois quando ocorre lesão de um determinado local as células
atingidas a liberam nos tecidos. (GOLAN et al., 2009)

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Os neurônios, simplificadamente, são constituídos por axônio, dendritos e
corpo celular. Uma classificação que considera o diâmetro e a mielinização dos
axônios os categorizam em Fibras A, Fibras B e Fibras C. Os dois primeiros tipos de
fibras (A e B) corresponde a axônios mielinizados enquanto as fibras C são não-
mielinizada. A bainha de mielina garante isolamento elétrico e aumenta
consideravelmente a transmissão dos impulsos nervosos (GOLAN et al., 2009).
As fibras mais importantes para percepção da dor são os
axônios dos nociceptores aferentes, incluindo as fibras Aδ e as fibras C
anatomicamente classificadas. Os nociceptores aferentes incluem
nociceptores térmicos, que são ativados em temperaturas acima de
45oC (fibras C) ou abaixo de 5oC (fibras Aδ), nociceptores mecânicos
de alto limiar, que transmitem exclusivamente informações indicando
uma força lesiva sobre a pele (fibras Aδ e algumas fibras Aδ) e
nociceptores polimodais, que são ativados por estímulos térmicos,
químicos e mecânicos (fibras C). (GOLAN et al., 2009)
As fibras Aδ, por serem mielinizadas, possuem rapidez de condução
nervosa superior as fibras C que não contem bainha de mielina. Dada a diferença na
velocidade de transmissão de sinais frente aos estímulos tem-se os conceitos de
primeira e de segunda dor. A primeira dor é levada rapidamente pelas fibras Aδ e é
caracterizada como aguda e localizada, além disso as fibras que a transmitem são
mais facilmente estimuladas. Por sua vez a segunda dor é lenta, possui longa duração,
sendo indistinta, latejante ou em queimação. Os nociceptores das fibras C realização
esse tipo de dor e são polimodais pois respondem a estímulos térmicos, químicos e
mecânicos nocivos (GOLAN et al., 2009)
A ação dos anestésicos locais inclui o bloqueio dos canais de sódio
controlados por voltagem da membrana neuronal. Durante o estímulo verifica-se um
rápido e grande fluxo de sódio através dos canais em direção ao interior do neurônio
despolarizada o neurônio para o potencial de equilíbrio do sódio (+40 mV). Com
resultado da despolarização ocorre o fechamento dos Canais de Na+ que ficam no
estado inativado, por conseguinte, ocorre abertura de canais de K+ que lançam
potássio para fora do neurônio e provocam repolarização da membrana que leva ao
retorno ao estado de repouso dos canais de sódio. Quando é administrado um
anestésico local ele liga-se aos canais que tal forma que inibe a despolarização e a
transmissão de impulsos não ocorre. (KATZUNG; MASTERS; TREVOR, 2014)
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Figura 02. Estados dos Canais de Na+. Fonte: Alberts, B., et al. 5ª edição. Porto
Alegre: Artmed Editora S.A.; 2010. p. 676.
Os anestésicos locais apresentam afinidade diferente pelas diferentes
conformações dos canais de sódio. Segundo Golan et al (2009): “Os anestésicos
locais possuem maior afinidade pelos estados fechado, aberto e inativado dos canais
de sódio do que pelo estado em repouso.”
A afinidade diferencial dos anestésicos locais pelos diferentes estados do
canal de sódio regulado por voltagem possui uma importante consequência
farmacológica: o grau de inibição da corrente de sódio pelo AL depende da freqüência
de impulsos no nervo. Quando existe um longo intervalo entre os potenciais de ação,
o nível de inibição de cada impulso é igual, e a inibição é denominada tônica.
Entretanto, quando o intervalo entre os potenciais de ação é curto, o nível de inibição

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aumenta a cada impulso sucessivo, e a inibição é denominada fásica ou dependente
do uso.
A administração desses fármacos inclui vias como:
 Tópica
 Infiltrativa
 Bloqueio de Nervos Periféricos

5.1. Anestesia Tópica


Essa técnica inclui a aplicação direta do fármaco em mucosas ou na pele,
o que ocasiona um alivio da dor em pouco tempo. Como é administrada sobre essas
regiões que oferecem uma barreira natural devido ao seu perfil histológico é comum
que seja utilizado o emplastro EMLA. (GOLAN et al., 2009)
5.2. Anestesia Infiltrativa
Essa técnica faz uso das injeções com diferentes substâncias para
anestesiar um determinado local. Os anestésicos locais podem ser injetados por via
subcutânea ou intradérmica em vários pontos próximo ao local que pretende-se
anestesiar. Essa técnica consegue anestesia rápida pois há relativa proximidade as
fibras nervosas, mas é limitada às camadas superficiais do corpo, caso queira-se
anestesiar regiões mais profundas são necessárias doses maiores e geralmente em
associação a epinefrina. (BRUNTON, 2012)
5.3. Bloqueio de Nervos Periféricos
Pode-se dividir essa técnica em bloqueio nervoso de pequena ou grande
escala. A escolha do tipo de bloqueio está relacionada ao tipo de local que pretende-
se anestesiar, mas em todos os casos a administração é feita por via percutânea. Para
se alcançar o efeito desejado é preciso uma dosagem maior que o necessário, isso
decorre da necessidade de transpassar algumas membranas teciduais. A droga
poderá ser captada pela circulação e isso reduz a quantidade que alcança as
terminações nervosas livres. (GOLAN et al., 2009)
As principais técnicas de bloqueios nervosos periféricos incluem: Bloqueio
do plexo braquial essa técnica foi empregada em sala na demonstração dos efeitos
da lidocaína e é utilizada de maneira recorrente em procedimentos cirúrgicos
realizadas no membro superior e ombro; plexo cervical, é uma técnica empregada em

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cirurgias no pescoço; Bloqueio dos nervos intercostais, usada quando se procura o
relaxamento de parede abdominal anterior; Bloqueio do nervo ciático e femoral, muito
recorrente em cirurgias de joelho e pernas; entre outros exemplos de técnicas.
(BRUNTON, 2012)
A lidocaína é um anestésico local de ampla utilização, pois proporciona
rapidez de ação e mantem o paciente sob anestesia por um longo tempo. Além de
também ter baixos índices de resposta alérgica. (GOLAN, 2009)
Durante a aula prática, o rato recebeu anestesia na região do plexo braquial
que é recomendada em casos que requerem a anestesia do antebraço e da mão.

Figura 03. Plexo Braquial. Região destaca na imagem. Fonte:


http://1.bp.blogspot.com/_jW3i6dipy_E/TLCxoESteKI/AAAAAAAABJo/Jiyn5zlUUSE/s
1600/s%C3%ADndrome+do+desfiladeiro+tor%C3%A1cico.bmp

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6. CONCLUSÃO
O conhecimento acerca dos anestésicos locais essencial para
compreender a farmacocinética e farmacodinâmica dessas drogas, haja vista sua
ampla utilização em procedimentos cirúrgicos nos procura-se manter o paciente
consciente.
A aula prática contribuiu para que os discentes possam avaliar e verificar,
por meio da administração da lidocaína, a maneira como essas drogas causam
anestesia e sua interação com os nervos periféricos, sendo que utilizou como
demonstração a depressão dos nervos do plexobraquial do rato.
Assim, conclui-se, que a aula prática possibilita aos alunos uma perspectiva
centrada na atuação, análise e constatação do que é trago na literatura acadêmica
acerca da farmacologia e seu papel prático no contexto científico e social, bem como
possibilita ao aluno capacidade de trazer para junto da formação científica e
acadêmica como um todo, a importância do conhecimento teórico como base e passo
inicial para uma intervenção eficaz sobre a realidade, garantido sentido as teorias e
conhecimentos criados ao longo do tempo.

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7. REFERÊNCIAS

BRUNTON, CHABNER & KNOLLMANN et al, As Bases Farmacológicas da


Terapêutica Goodman & Gilman, 12ª ed. Cap. 17. New York, AMGH, 2011.

GOLAN, D. E. et al. Princípios de Farmacologia: a base fisiopatológica da


farmacoterapia. 2ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2009.

YAGIELA, J. A et al., Farmacologia e terapêutica para dentistas. Rio de Janeiro –


Elsevier, 2011.

KATZUNG, B. G.; TREVOR, A. J; MASTERS, S. B. Farmacologia básica e clínica.


12ª ed. Porto Alegre: AMGH, 2014.

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