Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
A 'Sformação do analista
"
I. O desencantamento da i originalidade, e mesmo a bizarria do caso a
psicanálise caso. O singular é aliás, desde então para nós, o
status do caso.Temos que nos virar também com
Vi anunciado em todo canto que o titulo um real desatado do racional e mesmo de qual-
desse curso seria O desencantamento da psi- quer possibilidade de regularidade e de qualquer
canálise'. Primeira novidade. estabelecimento de uma lei.
Reconheço nele uma fórmula à qual cheguei
no ano passado, que não renego e tonio de boa
vontade como apoio, porém o que viso nesse 1. O primado da experiência
começo de ano é fazer com que se tome dis-
tância em relação a essa fórmula. Eu a havia em- O desencantamento da psicanálise - com
pregado para nomear aquilo em que desembo- os harmônicos dessa fórmula -, eu o deixo de
ca o último ensino de iacan2 a medida que ele bom grado aos outros.
desnuda, por um lado, a mola de ficção da ex-
periência analítica, o que ele já havia nomeado Fragmentação
o sujeito suposto saber e, por outro, correlati- 'L 'mimialin h i n n e ! I l , 4 (Zooim),
vamente, o real em jogo nessa experiência, um Nomeemos estes outros, já que existe na aulade11.21 eZidenor~mbrode2WI.
real que sobressai tanto mais quanto mais psicanálise uma formação. uma sedimentação 2NotemmqueJ.~A.Miller uãoempregoii,
disjunto está do racional. Mostrei no ano pas- chamada IPA. Não sei se vocês ouviram falar dela propnamena falando. esta fórmula: "de-
sencantamento da priranáiist' cm seu
sado3 que o ensino de iacaii não atingia esse com esse nome, pois ela se faz de coquete e não curso, m a sim numa Noite daEscolada
ponto sem uma inversão do determinismo le- quer que a chamemos assim na França. Trata-se Causa Freudinna. Fa-se desta o titulo do
vado ao absoluto, que dava sua ênfase própria de um conglomerado de agrupamentos de psi- cursa de 7001-02.J - A . htiller invalida
aqui ewtilulo. Seeleeuoco~uma\~ezque
aos começos do seu ensino. É uma ênfase que canalistas, de Sociedades de psicanálise,que tem o titulo desse ano poderia ser "0tato do
escutamos em seu "Discurso de Roma2$,em hoje bastante dificuldade de se definir. oporluno', náo pro* contudo nenhum
título de maneira formal. (NT Como o
1953, quando ele define a experiência analitica Eu poderia propor esta definição: "A IPA não Houaiss menciona que a locu$ão "a pro-
pela conjugação do particular e do universal, e lê Lacan"'. Uma definição a cada dia menos exa- páaito de" é considerada galicismo pelos
a teoria analítica pela subordinação do real ao ta, pois a IPA está lendo iacan. Isso promete. puristas. decidimcs traduzir: "le tact de
I 'à-pmpos' como ''o fato do oportuno").
racional. Tais termos são evidentemente extra- Ela permanece marcada por seu "não lê'; defi-
'Podemos lor nos números 48,49, j0 e i l
idos da filosofia de Hegel. nitório. Nada garante que passar Lacan no dea.! CauseFreudimmtextos eaaldos
Essas proposições são invalidadas e como triturador do seu "não lê'' lhe fará bem. do curso L'orienfalion lacnnienne
(ZOOO~OI),klieu ei k fie".
que contraditas em seu último ensino. Na ex- É deste lado - eu o digo com compaixão -
periência analítica temos que nos virar com um que se experimenta duramente o desencanta- 'lacan, J. (2001)AufreseCriIs,(pp. 143-
144). Parir: Seuil.
particular disjunto de qualquer universal, um mento da psicanálise. A IPA o experimenta sob
'NTJ.-A. Miller parm k m aqui um jogo a
particular que não se deixa absorver no univer- as formas da fragmentação, termo que retorna partir da bomohoia aike L 'IPA e Iilpa
sal, mas que é bem mais referido a singularidade, nas produções recentes provenientes da IPA. que não mmoguimos manw em pamiguk.
dessa ordem, que faz esmorecer aquilo que Fre- mos a pedagogia como a transmissão do saber
- -
no qual a vitória, se ela não é incerta, assim os obrigamos a calar-se - "mostrando-lhes sem
parecerá". O que é preciso fazer?A verdadeira as Escrituras" - não se discute os textos ou a
resposta da ortodoxia é, em resumo, que é pre- exatidão -, "que elas não Ihes pertencem e que
ciso condenar a originalidade. Primeiramente, é eles não têm o direito de servir-se delas".
necessário promover a continuidade de um con- Isso explica para mim muitos fenômenos
formismo, ou seja, fazer valer a tradição apostó- que ocorreram no curso da história da psicaná-
lica, ininterrupta desde a origem e, em segundo lise. Faz muito tempo que se guerreia conua
lugar: é preciso promover a extensão, ou seja, um manequim, contra uma IPA que não mais
defender a unidade e o universalismo da fé. existe. Ela servia depunching-ball, era usada
Por isso, no debate com iacan, não são os ar- para se fazer valer. Trata-se agora verdadeira-
gumentosque foram, propriamente falando,avan- mente de um adeus à ortodoxia. Não se a tem
çados, mas sim que se reconheceu neles as mar- mais como parceira.
cas infamantes da heresia, tais como Tertuliano - Tudo isso está presente neste argumento de
é uma tradição inintempta até Bossuet, que cita Bossuet dirigido ao heresiarca: 'Tu és novo, \iates
bastante Tertuliano - as isola. Em primeiro lu@. depois, viestes ontem, e anteontem não te co-
a mptura. Em uma heresia vocês sempre encon- nhecíamos". Nesse teatro do debate, o que sus-
tram a marca da mptura. Em segundo, o localismo tenta a ortodoxia é a noção de que a inovqão é
que se opõe ao universalismo. Por isso o caráter em si mesma uma infâmia.A enunciação é! antes
internacional da ortodoxia era um traço inteira- de tudo, uma enunciação de proprietários.
mente essencial. Lacan conhecia bem isso. Antes de cair sob
O conselho preciso é dado por Bossuet, em o golpe da excomunhão, ele havia percebido
suas Variations des Églzses protestantes ou em perfeitamente a natureza eclesial da psicanáli-
suas Prescriptions: "Face a heresia, é necessá- se tal como ela era transmitida na comunidade
rio apenas reconduzir todas as seitas separadas analítica, uma vez que, em 1948, ao falar em
a sua origem. Sempre se encontrará facilmen- nome da Comissão de ensino da Sociedade Fsi-
te, e sem dúvida alguma: o momento preciso canaiídca de Paris, ele não ennibesce ao men-
da interrupção. O ponto de ruptura sempre cionar uma "tradição contínua desde as desco-
permanecerá, por assim dizer, ensangüentado bertas constituintes da psicanálise". O que exis-
e o caráter de novidade, que elas eternamente te detrás de uma tradição continua é a suces-
trarão sobre a fronte sem que essa marca possa são apostólica. Ele a menciona porque nada
se apagar, sempre as tornará reconhecíveis". mais havia a valorizar senão a continuidade
A marca de Caim -sempre &te um ponto apostólica da tradição. Ele tinha noçáo da im-
de ruptura assinalái-el e ele continua a sangrar portância dessa continoidade, que ele próprio
Pode-seconstatar a que ponto efetivamente, nos havia mantido acreditando ou não nela -
-
porta-vozesdas seitas heresiarcas lacanianas-que quando da criação de sua Escola, ou seja, a Es-
não o são mais, uma vez que não existe mais or- cola era uma experiência inaugural. Outrora:
todoxia - a mptura lacaniana, a excomunhão de enganei-me ao ouvir nessa expressão ecos hei-
íacan permaneceu como um episódio fundador. deggerianos. Experiência inaugural significa
O que distingue a heresia daortodoxia é que esta exatamente quel na criação de uma Escola, ele
alega a sua continuidade e aquela é marcada pela assumiu a ruptura com a tradição analítica. Pro-
mptura. Não adianta então discutir as Escrituras. pôs entào uma segunda origem.
Setembro 2003
história, talvez pelo avesso. Nada de Schadet7- Em segundo
- . é ao mesmo tempo este-
lugar.
Jreude, náo nos regozijemos com as desgraças tizante. As belas metáforas são apreciadas. Não
alheias. Tanto mais porque não é uma desgraça. se acredita contudo que elas sejam verdadeiras,
~ ~
A própria significação da ortodoxia está agora porém se é capaz de fazer uma diferença entre
perdida para eles, a ponto de assistirmos a uma bem falar da psicanálise ou não falar bem dela.
privatizaçãoda teoria. O que isso quer dizer?Eles Há também, conseqüência lógica, o plura-
estão começando a realizar. muito mais do que lismo - que desce ao nível de cada praticante.
os lacanianos, que a teoria é uma elucubração Já se perdeu a esperança de que haja um plura-
de saber - expressão do último ensino de Lacan. lismo no nível das sociedades entre si.
A IPA percebe atualmente a teoria como elucu- Esse estado de dissolução da ortodoxia con-
bração de saber. verge com o relativismo pós-moderno e pode
Nosso guia nesse terreno é o Sr.Wallerstein, perfeitamente acoinodar-se, sentir-se em res-
ex-presidente da IPA, que se dedicou de ma- sonância tanto coni a desconstrução de Derrida
neira heróica, nas últimas décadas, a pesquisar quanto com o neopragmatismo de Richard
as bases mínimas da ortodoxia. No último tex- Rorty. O resultado dessa festa -anyihiggoes, é
to que li dele, publicado em Francês em junho o banquete, todo mundo é convidado - o efei-
passado, ele chega a tese da disjunção, em psi- to de ressaca desse excesso é que se torna cada
canálise, entre teoria e prática. vez mais difícil para o movimento ipeísta, de
Ele propõe ao psicanalista distinguir dois maneira patente, distinguir a psicanálise da psi-
níveis. O primeiro consiste em dizer o que ele coterapia psicanalítica, como eles se expressam.
Faz, em tentar dizê-lo numa linguagem comum, Eles estão movidos agora por uma pesquisa
numa linguagem pobre, factual. Talvez isso se apaixonada sobre a diferenciaçáo. Eles a tomam
aproxime, em última instância, dos protocolos como tema, porém, a partir dos fundamentos
de observação que se tentava praticar no posi- que acabo de relerribrar, essa diferericiagáo ne-
tivismo lógico para descrever as experiências cessarianieiite escapa. Ela chega mesmo a se
de uma maneira desprovida de qualquer cono- inverter. Ouvimo-los então dizer: "É justamen-
tação, dentro do modelo: "Otto viu que, dois te ali onde você acredita ser psicoterapeuta que
pontos". O segundo nível é uma elucubração a você é psicanalista, e vice-versa".
esse respeito, sabendo-se que esta jamais pas- A própria idéia de ortodoxia aparece como
sará de metáforas. É iiessa direção que conver- fora de moda. Poderíamos mesmo dizer que a
gem tanto o último ensino de iacan como a única chance, o único recurso deles teria sido
experiência vivida pelo movimento ipeísta, no poder definir-se como ortodoxia contra Lacan.
qual se desenvolve um pluralismo simultanea- Seria preciso - é manejável?- que Lacali fosse
mente pragmático e estetizante. o menos-um do novo banquete dos analistas.
Inicialmente é pragmático, nosentido de que
se c u m diante do que caminha ou do que é su-
posto caminhar Ali se está no regime que o
epistemólogo Fqerabend chamavaanyi/~i?7ggoes A que assistimos ali efetivamente, hoje, na
-qualquer que seja o assunto-, e iacan também. semana passada, na próxima semana?Tento falar
Estou começando a descrever o momento mais do mais presente, da maneira como acompanho
atual e a ponto de fazer previsões de que isso só a atualidade a partir do que este ou aquele me
poderá caminhar neste sentido. Pelo andar da conta a respeito da corrente ipeísta ao tomar a
carruagem, isso caminhará nesta direção, a não palavra em Ruis, Nova lorque?Buenos Aires.
ser que as boas fadas se apresentem e ajudem Em primeiro lugar, há tentativas de repetir
para que isso se dê de modo diferente. o anátema de 1963 nas condiçóes do século
Opção lacaniana no 37
atual para examinar oque nos conduziu atéele, É preciso dizer que se ensina de bom grado
e em particular que foi Iacan quem deu o con- Iacan no estilo dessa polêmica. São esses mes-
ceito de estrutura em psicanálise, e, singular- mos ecos que se fazem ouvir até o 'Ato de fun-
mente, em nome do retomo a Freud. dação da Escola Freudiana de Paris" em junho
de 1964, quando Lacan convoca a um "traba-
lho que restaure a lâmina cortante da verdade
freudiana, que conduza a prática analítica ao
Do ponto em que estamos, podemos con- dever que lhe cabe e que, por uma crítica assi-
siderar do que se trata nesse retorno a Freud. dua, nela denuncie os desvios e os compromis-
Ele estava estritamente condicionado pela or- sos que amortecem o seu progresso".
todoxia então reinante na psicanálise. Já fazia Temos aqui uma espécie de duplo ato inau-
meio século que o tom era dado pela corrente gural de iacan: o ato inaugural de seu ensino
da Egopsychology, que se colocava como orto- em "Função e campo da fala e da linguagem em
doxia. Foi com relação a essa ortodoxia que psicanálise"" e a repetição desse ato no 'Ato de
Iacan empreendeu seu ensino como sendo um fundação" da Escola. Esse duplo ato inaugural
retorno a Freud. Isso consistia em convocar instalou a divisão na psicanálise, fez da psicaná-
Freud contra a ortodoxia reinante, que se fun- lise o campo de uma polêmica que não se extin-
damentava em uma leitura psicologizante da gue, e na qual essa corrente que se chama o
segunda tópica, que o próprio Freud havia subs- Campo freudiano encontrou sua mola própria.
tituído a primeira na qual havia aparelhado sua Vocês encontram o ápice dessa polêmica
descoberta. O retorno a Freud é apresentado num texto que iacan se absteve de publicar em
no ensino de iacan como um retorno às for- francês, descoberto após a sua morte, e que
mulaçoes iniciais de Freud, às suas primeiras vocês encontram nos Autres écrits, 'A psicaná-
obras: "A interpretação dos sonhos", 'X lise verdadeira, e a falsa", no qual a IPA é devi-
psicopatologia da vida cotidiana': "O chiste em damente assimilada a uma Igreja e somos con-
suas relações com o inconsciente" e além dis- vidados a esmagar a infame, numa retomada
so, como um retorno a intenção original de do anátema voltairian~'~.
Freud, aquela que havia presidido à descober- O fragor e a força dessa polêmica eclipsa-
ta de um novo modo de tratar o sintoma. ram uma outra atitude que, no entanto, se re-
O retorno a Freud era um apelo a leitura de conhece claramente em iacan, sobretudo quan-
Freud, ao pé da letra. Por esse fato, Iacan foi con- do sua polêmica recebeu, da parte da onodo-
duzido a estigmatizar como desvio, como here- xia, a sansãode uma excomunhão. Seguramen-
sia o que se apresentava como ortodoxia. O co- te, sob o golpe da excomunhão de 1963,Iacan
meço de seu ensino permanece marcado por este foi levado a repetir a reivindicação de uma or-
traço: dadas às circunstâncias em que entrou na todoxia verdadeira, que se fazia ouvir na pala-
psicanálise, ele teve que adotar a própria lingua- vrade ordem do retorno a Freud. Porém é uma
gem da ortodoxia para combatê-la, teve que se ênfase totalmente diferente que se faz ouvir
expressar em termos de desvio e de heresia quando ele escreve em 1967: propondo a sua
Ele introduziu, ou aperfeiçoou, na psicaná- Escola o procedimento do passe: Freud quis as
lise, um estilo polêmico de rara violência que Sociedades existentes tais como são.
"Lacan, J. (1998) Fun$áoecampodalala reproduzia os ecos da grande polêmica revoiu- Percebe-se,a partir disso, que Iacan sempre
edalinguagem em pricangine. In b i - cionária do início do século, que encontrara respeitara, mesmo no interior do retorno a
10s. Rio deJaneiro: Zahar.
uma tradução literária no surrealismo. A ener- Freud, uma margem na qual ele precisava que
% m , J (2WI). Lapqrhanalyre iraie
e1 Ia lausse. In Aulreséaits (p.174). Pa-
gia dessa polêmica não se extinguiu, e trouxe Freud estava disposto efetivamente a fazer algu-
ris: Seuil. (%ao de 1958). duradouramente o ensino de Iacan até nós. ma coisa frente ao que ele, aliás, estigmatizava
vras, que vocés encontram no "Discurso de saber nas formas universitárias ou nas formas de
Roma,"" que o próprio iacan colocava sob a m- supenisáo. O único saber nele examinadoé aque-
brica da ironia. Assim, ele qualificava o estilo que le que pode ser apreendido e relatado sobre uma
havia adotado de "estilo irônico, de questiona- mutação subjetiva.
mento dos fundamentos dessa disciplina". Ao Pode-se considerar a mutação subjetiva a
mesmo tempo, preconizando um antifonnalismo partir de dois pólos, entre a universidade e a
institucional - e Mmos desde então as críticas iniciação. Amutação subjetiva é o que a univer-
internas a própria IPA se multiplicarem -, ele de- sidade evita levar em conta. Na verdade, ela a
fine o formahmo institucional de forma precisa: recupera por outravia, pois ali se trata também
consiste em daencorajar a iniciativa, em penali- de saber se foi adquirido o hábito adequado, o
zar o risco, em fazer reinar a opinião dos doutos gênero, o estilo da instituição. Há certamente
visando obter uma prudência que arruína a au- sobre isso uma ambigüidade, porém ela proce-
tenticidade. de por meio de provas formais nas quais se tra-
Poder-se-ia concluir disso que Iiá, da pane ta de resolver, de expor ou de satisfazer a re-
de iacan, um convite para que cada um faça a quisitos formalizados. No outro pólo está a ini-
sua teoria. Temos a impressão de que se está ciação' na qual o saber que é transmitido não
tentando agora este tipo de solução com as te- pode ser dito, na qual ele é basicamente um
orias particulares ou a teoria das teorias priva- saber escondido.
das. Por isso iacan podia, de inicio, precisar que O passe visa, pelo contrário, inscrever a
não se deveria esperar dele uma valorização das mutação subjetiva num aparelho de transmis-
divergências como, tais. Ele realiza sobretudo são, cujo pivô é um testemunho que relata uma
uma manobra de tabula rasa do saber em nome experiência que foi aceita por uma comunida-
da autenticidade e da verdade. Assim, podemos de. Em linguagem pós-moderna, trata-se, no
escutar o que ele formula nos Escritos em "Va- passe, de produzir um grande relato de sua ex-
riantes da cura-padrão", que parece comportar periência, uma hystória. O que supõe a manu-
uma invalidação do saber como tal na forma- tenção de uma comunidade capaz de apreciar
ção analítica, acentuando portanto o aspecto o valor desse testemunho.
socrático da formaqáo: "Mesmo que um saber A oposição entre ipeísta e lacaniano é, a esse
desse tipo resuma os dados da experiência ana- respeito, sensível. De modo geral, o fim de aná-
lítica, seja qual for a dose de saber assim trans- lise não tem o mesmo valor crucial para o ipeísta
mitida, ela não tem para o analista nenhum va- e para o lacaniano. Para o ipeísta, não é a muta-
lor forma~ivo"~~. Temos aqui uma formulação @o subjetiva que está no primeiro plano da for-
de ordem socrática, e que convida a uma for- m a ç a analítica, mas sim o saber transmitido, o
mação que váalém da transmissão de saber, que exame supe~sionadodesse saber, que perma-
visa uma formação que comporte uma muta- nece, para o lacaniano, uma pedra angular.
ção subjetiva. A diferença essencial é que, para iacan, há
ali um real em jogo. Não apenas na experiência
Oscilação analítica: mas também na formação do analis-
ta. Essa posição deve ser oposta, evidentemen-
É nesta linha que Lacan proporá o passe como te, ao futuro eclético da ortodoxia, no qual, de
"Lacan, J. (2701). Dixours de Rome. I n
Aulresécrils. faris: Seuil. exame de capacidade, o paise apenas levando em certa maneira? não liá real, tudo é semblante.
conta e tentando cingir a mutação subjetiva ope- Eis porque também existe certamente uma cli-
"Lacan. J. (1996). Mariantes de Ia cure-
ype. inÉmlr (pp. 358~359).Pais:Seuii. rada. O exame de capacidade implícito no passe nica vista pelos lacanianos como uma clínica