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Contextos Específicos
Autoras: Profa. Silmara Cristina Ramos Quintana
Profa. Carla da Silva
Colaboradoras: Profa. Amarilis Tudela Nanias
Profa. Maria Francisca S. Vignoli
Professoras conteudistas: Silmara Cristina Ramos Quintana/Carla da Silva
Mestrado em Adolescentes em Conflito com a Lei pela Universidade Bandeirantes de São Paulo – Uniban (2010). Especialização em
Psiquiatria e Psicologia de Adolescentes pela Universidade Estadual de Campinas – Unicamp (1989), Orientação e Encaminhamento ao Mundo do
Trabalho pelo Centro Brasileiro para Infância e Juventude – CBIA (1994) e Psicodrama Pedagógico pela Animus (1997). Assistente social graduada
pela Faculdade de Serviço Social de Araraquara (1983). Atua desde 2001 como assistente social no Centro de Orientação ao Adolescente de
Campinas – Comec. Docente e coordenadora do curso de Serviço Social no Centro Universitário Amparense – Unifia. Coordenadora do curso de
pós‑graduação em Gestão de Políticas Públicas e professora‑adjunta do curso de graduação em Serviço Social da Universidade Paulista – UNIP
Interativa, campus Cidade Universitária. Auxiliar de coordenação e docente do curso de Serviço Social da UNIP – campus Swift/Campinas.
Partindo de sua vinculação à Unip, enquanto coordenadora do Curso de pós‑graduação, emergiu a oportunidade de seu atrelamento
também ao curso de graduação de Serviço Social nas modalidades SEI e SEPI, prestadas pela Unip Interativa, ministrando aulas de diversas
disciplinas nessa modalidade de ensino. O vínculo com essa universidade também lhe possibilitou a elaboração de livros‑textos, inclusive este.
Carla da Silva
Mestrado em Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC‑SP (2011). Especialização/aprimoramento
em Serviço Social, Saúde e Violência Urbana pela Universidade Estadual de Campinas – Unicamp (2007). Graduação em Serviço
Social pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas –PUC Campinas (2005). Curso de extensão universitária em Psicoterapia
Analítica de Grupo, Casal e Família pela Sociedade de Psicoterapia Analítica de Grupo de Campinas – Spag, (2005). Pesquisadora
do Projeto Unicamp – SOS Ação Mulher e Família, financiado pelo CNPq (2008‑2010).
Assistente social com experiência no atendimento direto e indireto a pacientes e familiares vítimas de violência urbana no
Hospital de Clinicas – HC da Unicamp (2005‑2006). Atuou em instituição de acolhimento na Casa da Criança e do Adolescente de
Valinhos (2007‑2009). Participou da equipe interdisciplinar da ONG SOS Ação Mulher e Família, no atendimento direto a mulheres
vítimas de violência doméstica e respectivas famílias (2008‑2012). Assistente social do Centro de Referência e Apoio à Vítima – CRAVI/
Campinas, Programa da Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania do Estado de São Paulo (2012). Ministra aulas na pós‑graduação
em Psicopedagogia Clínica e Institucional do Centro Universitário Amparense – Unifia (desde 2010). Exerceu a docência na Faculdade
de Serviço Social do Instituto Superior de Ciências Aplicadas – Isca – Limeira (2011‑2013).
Atualmente exerce a docência na Faculdade de Serviço Social do Centro Universitário Amparense – Unifia e na Universidade
Paulista – UNIP, campus Swift/Campinas, além de atuar como pesquisadora nas áreas de gênero e violência doméstica e urbana.
Trabalha também como assistente social do Centro Corsini, em nível ambulatorial, no atendimento e na prevenção de DST/AIDS.
CDU 001.8
© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem
permissão escrita da Universidade Paulista.
Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Comissão editorial:
Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)
Apoio:
Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos
Projeto gráfico:
Prof. Alexandre Ponzetto
Revisão:
Juliana Maria Mendes
Luanne Batista
Sumário
Projetos de Pesquisa em Contextos Específicos
APRESENTAÇÃO.......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO............................................................................................................................................................7
Unidade I
1 LEVANTAMENTO DOS TEMAS E DA LITERATURA QUE CIRCUNSCREVE O ASSUNTO
DA PESQUISA......................................................................................................................................................... 19
1.1 Levantamento dos temas de interesse dos alunos.................................................................. 27
1.1.1 Crianças....................................................................................................................................................... 27
1.1.2 Adolescentes.............................................................................................................................................. 28
1.1.3 Pessoas idosas........................................................................................................................................... 29
1.1.4 Pessoas com deficiência........................................................................................................................ 29
1.1.5 Família.......................................................................................................................................................... 29
1.1.6 Políticas públicas sociais....................................................................................................................... 29
1.1.7 Programas de governo........................................................................................................................... 30
1.1.8 Políticas públicas de educação........................................................................................................... 30
1.1.9 Políticas públicas de saúde.................................................................................................................. 31
1.1.10 Políticas públicas de assistência social......................................................................................... 31
1.1.11 Políticas públicas de habitação........................................................................................................ 32
1.1.12 Temas estruturantes............................................................................................................................. 33
1.1.13 Sistema de garantia de direitos....................................................................................................... 35
1.2 Levantamento de literatura que circunscreve o assunto de cada pesquisa................. 40
1.2.1 Escolha do tema....................................................................................................................................... 42
1.2.2 Elaboração do plano de trabalho...................................................................................................... 43
1.2.3 Estrutura...................................................................................................................................................... 43
2 DELIMITAÇÃO DO PROBLEMA E DO OBJETO DA PESQUISA............................................................ 47
2.1 Delimitação do problema da pesquisa......................................................................................... 47
2.2 Delimitação do objeto de pesquisa................................................................................................ 51
3 RELEVÂNCIA DA PESQUISA: SOCIAL, TÉCNICA E CIENTÍFICA......................................................... 52
4 ÚLTIMAS CONSIDERAÇÕES PARA O PRÉ‑PROJETO............................................................................ 55
4.1 Definição dos objetivos da pesquisa............................................................................................. 55
4.2 O marco teórico conceitual da pesquisa..................................................................................... 56
4.3 Formulação de hipóteses................................................................................................................... 60
Unidade II
5 A METODOLOGIA DA PESQUISA................................................................................................................. 67
5.1 Delimitação da metodologia da pesquisa................................................................................... 67
5.2 O campo da pesquisa e o trabalho de campo........................................................................... 73
5.3 Abordagem da pesquisa..................................................................................................................... 74
5.3.1 Pesquisa quantitativa............................................................................................................................. 74
5.3.2 Pesquisa qualitativa................................................................................................................................ 77
5.3.3 Comparações entre as abordagens: quantitativa e qualitativa............................................ 81
5.4 Tipos de pesquisa................................................................................................................................... 83
5.4.1 Pesquisa exploratória............................................................................................................................. 83
5.4.2 Pesquisa descritiva.................................................................................................................................. 84
5.4.3 Pesquisa explicativa................................................................................................................................ 85
6 PROCEDIMENTOS PARA A PESQUISA....................................................................................................... 85
6.1 Pesquisa bibliográfica.......................................................................................................................... 85
6.2 Pesquisa documental........................................................................................................................... 88
6.3 Pesquisa de laboratório....................................................................................................................... 89
6.4 Pesquisa de levantamento................................................................................................................. 89
6.5 Pesquisa de campo............................................................................................................................... 91
6.6 Estudo de caso........................................................................................................................................ 92
6.7 Pesquisa‑ação......................................................................................................................................... 93
6.8 História de vida...................................................................................................................................... 94
6.8.1 Biografia...................................................................................................................................................... 95
6.8.2 Autobiografia............................................................................................................................................. 95
6.8.3 Depoimento............................................................................................................................................... 96
6.9 Coleta de dados..................................................................................................................................... 97
6.10 Instrumentos de coleta de dados...............................................................................................100
6.10.1 Questionário..........................................................................................................................................100
6.10.2 Entrevista................................................................................................................................................105
6.10.3 Observação.............................................................................................................................................106
7 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS.............................................................................................115
7.1 Categorias de análise.........................................................................................................................116
7.2 Preparação dos dados........................................................................................................................117
7.3 Análise......................................................................................................................................................118
7.4 Considerações finais ou conclusões............................................................................................120
8 QUALIFICAÇÃO DO PRÉ‑PROJETO DE PESQUISA...............................................................................120
8.1 Revisão do pré‑projeto de pesquisa............................................................................................120
8.2 Entrega do projeto de pesquisa.....................................................................................................122
8.3 Entrega do relatório de pesquisa..................................................................................................125
APRESENTAÇÃO
O presente livro‑texto buscará construir com o aluno a investigação, como dimensão constitutiva
do trabalho do assistente social – subsídio para a produção do conhecimento sobre processos sociais –,
e como fortalecimento do objeto da ação profissional.
Para tanto, abordará a pesquisa como espaço para o exercício da práxis profissional, contando com
a articulação entre o conhecimento teórico‑metodológico e o técnico‑operativo na compreensão da
realidade social, com vistas à produção do conhecimento científico.
Vamos pensar juntos na concepção, elaboração e realização de seu projeto de pesquisa, como
exigência curricular para a graduação em Serviço Social, lembrando sempre que esse poderá ser o
primeiro de muitos projetos de pesquisa na sua trajetória profissional.
Assim, por agora, teremos como objetivos: problematizar a investigação como dimensão constitutiva
do trabalho do assistente social, como subsídio para a produção do conhecimento sobre processos
sociais e como reconstrução do objeto da ação profissional; fortalecer em você, aluno, uma atitude
investigativa diante da realidade social; compreender e discutir a natureza, o método e o processo de
construção de conhecimento, bem como o debate teórico‑metodológico na área de Serviço Social.
Esses objetivos serão alcançados a partir de uma discussão aprofundada sobre o olhar estabelecido
pelo aluno para com a realidade social, por meio de experimentação, com a Teoria da Pesquisa Social,
que se fortalece e instrumentaliza por meio da inclusão no estágio, espaço privilegiado de investigação
e elaboração do conhecimento teórico, que é agregado à vivência técnico‑operativa. Nesse espaço, a
experiência gera a análise e o confronto das teorias, estimulando a investigação, donde nasce um novo
saber‑fazer teórico e prático. Maria Liduína Silva (2011) afirma que o pesquisador tem possibilidade
de interpretar e transformar a realidade, estabelecendo‑se assim o método dialético.
Se de um lado estão os métodos que nos indicam os caminhos da práxis profissional, de outro,
simultaneamente, existe a necessidade de saber registrar os achados de pesquisa. Para ter um
ordenamento, deveremos planejar um caminho para a pesquisa e seu registro, nascendo assim o projeto
de pesquisa.
INTRODUÇÃO
Ao longo do curso de Serviço Social, que já dura dois anos, você, aluno, teve de estabelecer critérios
de tempo, disponibilidade emocional e aprendizado para sua formação profissional.
7
Não tem sido fácil, com certeza. Afinal, temos de fazer escolhas e, com isso, deixamos para outro
momento atividades que nos são importantes e prazerosas.
Agora temos um novo desafio para você. Não basta desejar, “arrumar um tempinho”. Será necessário
muito mais: chegou o tempo de intensificar essa dedicação, a fim de ter uma produção científica.
Aqui, teremos o objetivo de desconstruir o medo de escrever e buscar sua criatividade de expressar
tudo aquilo que vem vivenciando durante as aulas, as leituras, os estudos e o estágio.
Outro desafio importante é saber que o projeto de pesquisa poderá ser elaborado com outras
pessoas; para que isso se traduza em avanço e crescimento, você precisará identificar características
convergentes e divergentes para os participantes se complementarem, pois vão trabalhar durante
dois anos: juntos, iniciarão o projeto, realizarão a pesquisa e elaborarão o relatório da pesquisa – TCC
(Trabalho de Conclusão de Curso).
Perceba que estamos falando de um tempo longo e que precisa ser planejado de forma que alinhe
todas as demandas (pessoais, familiares, profissionais e de estudo e pesquisa).
Precisamos estar bem próximos, a fim de que, à medida que formularmos o conhecimento teórico
sobre projetos, identifiquemos os caminhos a serem trilhados.
Expostas essas nossas demandas relacionais, vamos abordar alguns conceitos importantes para a
nossa tarefa.
A pesquisa social tem um cunho científico, portanto gera conhecimento, ou seja, seu trabalho não
pode ser considerado algo isolado: pelo contrário, deverá ter a função de construir conhecimento.
Minayo (2008 apud VOGEL, 2011) reporta‑se às tribos primitivas, que explicavam a vida e a morte e
suas relações individuais e sociais com mitos.
Historicamente, tivemos as religiões como impulsionadoras da chamada moral para deliberar sobre as
relações individuais, sociais e espirituais, impetrando poder à ordem de seus superiores, em nome do extranatural.
Também o artista, por meio da sua arte, seja ela escrita, plástica, musical ou interpretativa, teve o
papel de registrar o consciente e o subconsciente das relações humanas/individuais e sociais/coletivas.
Contudo, é a ciência “não exclusiva, não conclusiva, não definitiva” (MYNAIO, 2011, p. 9) que coloca
à prova o conhecimento passado, o presente e o futuro, com sua função investigadora, que delimita
8
o problema, estabelece o foco de atenção, registra suas múltiplas relações e reações com seu entorno
direto e indireto, contudo não o limita; pelo contrário, insere‑o, sempre que pertinente, em novas
reações, a partir de novas variáveis.
Vogel (2011) lembra que “a ciência é permeada por conflitos e contradições”, sendo um dos embates
o existente entre Ciências Sociais e Ciências Naturais. Minayo (2008 apud VOGEL, 2011) considera que,
para alguns autores, existe uma uniformidade: eles indicam que o natural deve se equiparar ao social,
pois somente assim poderá receber o título de ciência. Outros estudiosos, no entanto, defendem que as
diferenças, singularidades e peculiaridades dessas áreas devem prevalecer.
Vogel (2011) prossegue, afirmando que, diante de inúmeros questionamentos sobre a configuração
das ciências sociais na lógica de conhecimento científico, Minayo propõe a ponderação sobre os
seguintes dilemas: “[...] seguir os caminhos das ciências estabelecidas e empobrecer seu próprio objeto?
Ou encontrar seu núcleo mais profundo, abandonando a ideia de cientificidade?” (MINAYO, 2008, p. 11
apud VOGEL, 2011). Lembra também que, para discutir as Ciências Sociais em sua singularidade, essa
autora utiliza cinco critérios (listados a seguir), que as diferenciam, mas que não as desvinculam dos
princípios da cientificidade:
O terceiro critério é que nas Ciências Sociais existe uma identidade entre
sujeito e objeto, pois lida com seres humanos, que por seus traços como
classe, faixa etária etc., se aproximam do investigador.
A pesquisa é uma atividade basilar da ciência, que investiga para construir a realidade. Mesmo
sendo uma prática teórica, vinculada o pensamento à ação. Donde se tem que qualquer pesquisa deve
ser iniciada com uma pergunta ou uma dúvida, que para ser respondida demanda articulação dos
conhecimentos anteriores ou a criação de novos conhecimentos.
Leia a seguir várias definições de pesquisa, dadas por diversos pesquisadores e compiladas por Silva
e Menezes (2001):
Nesse contexto, Minayo (2008, p. 17 apud VOGEL, 2011) apresenta a necessidade da teoria, que é
Entretanto, devemos considerar que surgem problemas que as teorias existentes não abrangem,
ou não são suficientes para esclarecer. Portanto, faz‑se necessária a pesquisa exploratória, na qual é
proposta uma nova interpretação. Nenhuma teoria, por mais bem‑formulada que seja, tem o potencial
de explicar todos os fenômenos e processos (VOGEL, 2011).
Nesse sentido, a teoria se baseia em um conjunto de proposições, que são as hipóteses cujo
referencial está comprovado. Quando elencadas, devem ser claras, possibilitando o fácil entendimento e
trazendo, em sua apresentação, as relações abstratas, para que estas norteiem as questões reais.
[...] que são os temas mais significativos num discurso científico, são eles
que focalizam e delimitam o tema de estudo e são carregados de sentido, já
que uma mesma palavra pode ter conceitos diferentes em teorias distintas.
Minayo (2008) aponta quatro características do conceito que devem estar
claras para o pesquisador: o conceito tem que ser valorativo (explicitação
da corrente teórica onde os conceitos foram concebidos), pragmático
11
(descrição e interpretação da realidade) e comunicativo (nítidos, inteligíveis,
abrangente e específico ao mesmo tempo). Os três tipos de conceitos são os
teóricos (compõem o discurso da pesquisa), de observação direta (definem
os termos para serem trabalhados em campo ou nas análises documentais),
e de observação indireta (relacionam o contexto da pesquisa com os
conceitos da observação direta). A autora afirma que tanto as teorias como
os conceitos são fundamentais para qualquer pesquisa, porém eles não
podem ser camisas de força (VOGEL, 2011).
Para se iniciar uma pesquisa, é necessário reconhecer as correntes de pensamento existentes para
dialogar com as suas hipóteses e estabelecer critérios para suas escolhas. Para alguns autores, como
Minayo (2007), Demo (1996 apud SILVA e MENEZES, 2001), Severino (2007) e Gil (1997, 2002, 2008), é
necessário reconhecer os métodos de pesquisa para poder identificar qual o mais apropriado à realidade
que se apresenta, ou mesmo considerar o diálogo entre eles, para então iniciar o percurso da elaboração
do conhecimento.
Esse conhecimento científico se estabelece mediante métodos, mas o que são métodos, vejamos
alguns conceitos:
“É um esforço para atingir um fim, investigação, estudo, caminho pelo qual se chega a um determinado
resultado” (LALANDE, 1999, p. 678).
“Método significa uma investigação que segue um modo ou uma maneira planejada e determinada
para conhecer alguma coisa; procedimento racional para o conhecimento seguindo um percurso fixado”
(CHAUÍ apud SILVA, 2011, p. 5)
Para entender melhor, precisamos reconhecer que a investigação científica depende de um “conjunto
de procedimentos intelectuais e técnicos” para que seus objetivos sejam atingidos: são os métodos
científicos, “conjunto de processos ou operações mentais que se devem empregar na investigação. É a
linha de raciocínio adotada no processo de pesquisa” (GIL, 1999, p. 26 apud SILVA e MENEZES, 2001).
13
Das hipóteses formuladas, deduzem‑se consequências que deverão ser testadas ou falseadas. Falsear
significa tornar falsas as consequências deduzidas das hipóteses. Enquanto no método dedutivo se
procura a todo custo confirmar a hipótese, no método hipotético‑dedutivo procuram‑se evidências
empíricas para derrubá‑la (GIL, 1999, p. 11‑5 apud SILVA e MENEZES, 2001).
Saiba mais
Entretanto, uma pesquisa não se limita ao método: envolve também sua natureza, que pode ser:
14
bibliográfico; entrevistas com pessoas que tiveram experiências práticas com
o problema pesquisado; análise de exemplos que estimulem a compreensão.
Assume, em geral, as formas de Pesquisas Bibliográficas e Estudos de Caso.
Retomando, não podemos acreditar que uma pesquisa seja a finalização de um saber. Pelo contrário:
no campo da pesquisa social, ela poderá indicar novos caminhos de intervenção, considerando
que, em Ciências Sociais, o movimento é constante, cíclico e espiral, demandando continuidade na
investigação. Contudo, somente a partir do reconhecimento das histórias de vida e, simultaneamente,
das histórias sociais é que teremos a identificação do lócus da política que agrega ou desagrega as
relações sociais.
Lembrete
Assim, estabelece‑se o compromisso com o Projeto Ético‑Político (PEP) do Serviço Social. Conforme
afirma Guerra (1998), é necessário haver
16
em pressupostos teórico‑metodológicos, na base dos quais localizam‑se princípios
e fundamentos filosóficos e ético‑políticos. Em outras palavras, em determinadas
concepções de Razão e de História. Esta relação entre teorias sociais e referências
filosóficas é uma relação necessária e se expressa em várias dimensões, sendo o
método a dimensão mais determinante desta relação (GUERRA, 1998 p. 9).
Metodologia científica é entendida como conjunto de etapas ordenadamente dispostas que você,
pesquisador, precisa vencer na investigação de um fenômeno. Compreende a escolha do tema, o
planejamento da investigação, o desenvolvimento metodológico, a coleta e a tabulação de dados, a
análise dos resultados, a elaboração das conclusões e a divulgação de resultados.
Os tipos de pesquisa apresentados nas diversas classificações não são estanques. Uma mesma
pesquisa pode estar, ao mesmo tempo, enquadrada em várias classificações, desde que obedeça aos
requisitos inerentes a cada tipo.
Realizar uma pesquisa com rigor científico pressupõe que você escolha um tema e defina um
problema para ser investigado, elabore um plano de trabalho e, após a execução operacional desse plano,
escreva um relatório final e este seja apresentado de forma planejada, ordenada, lógica e conclusiva.
Assim, a partir de agora, vamos esquematizar um tema, para juntos trabalharmos nas etapas
metodológicas da pesquisa social, concretizando‑a com a elaboração do projeto de pesquisa.
17
Unidade I
18
PROJETOS DE PESQUISA EM CONTEXTOS ESPECÍFICOS
Unidade I
Construção do pré‑projeto de pesquisa em Serviço Social
Precisamos deixar claro que o ato de pesquisar não se limita a este momento da graduação em Serviço
Social ou de qualquer outra graduação. Pesquisar é investigar, inquirir, buscar, reconhecer, olhar, escutar,
aprofundar a realidade social e, consequentemente, as relações entre os sujeitos, reconhecendo a singularidade
dos indivíduos no tecido social e suas relações interpessoais e sociais, no momento atual e na sua história de
vida permeada e inserida em sua referência histórica, cultural, econômica e política, individual e coletivamente.
Com esse olhar singular, devemos estar inseridos no campo profissional. Nesse momento, você
vivencia o estágio curricular, deparando‑se com a realidade social, mas, muitas vezes, sente dificuldade
de identificar em que aspectos a ética, a política, a teoria e a metodologia podem ser inseridas.
Essa dúvida não é apenas sua, mas também da maioria dos graduandos e – podemos dizer – de
alguns profissionais. Tal sensação é o que Guerra (2010) conceitua como dicotomia teoria/prática e
não pode ser desconsiderada; pelo contrário, precisamos enfrentá‑la para consolidarmos efetivamente
nossa profissão e o compromisso com o Projeto Ético‑Político de Serviço Social.
Assim, retomamos a demanda pelo reconhecimento da realidade social, que se dá, pedagogicamente,
em quatro momentos:
• experimentar o espaço profissional, ou seja, entrar e atuar no campo profissional com todo o
referencial técnico‑operativo;
• identificar as relações de força entre os sujeitos sociais e as instituições de poder (Estado e demais
instituições), com seu referencial ético‑político, procurando ler e refletir sobre essas relações;
• investigar as formas de exclusão geradas nos chamados processos de inclusão, escutando o que
reverbera dessa relação de forças nos sujeitos sociais e em sua relação social, política, cultural e
econômica, balizando‑se por seu referencial teórico‑metodológico;
Escrever ou ler isso parece muito fácil, mas sabemos que não é, pois nessa perspectiva encaramos
os conflitos e as contradições de nossa atuação. Contudo, temos de ser honestos e reconhecer que
a simples e complexa ação de viver nos remete ao contraditório, e a vivência profissional nos
instiga a romper com a hegemonia do poder institucional, articulando e potencializando novas
formas de relação.
Para tal, não podemos nos tornar simples executores de projetos político‑partidários, apresentados
como políticas públicas, mas estabelecidos por um Estado que os utiliza como questionadores e
investigadores destas.
Assim, diante dos instrumentos, das técnicas e das estratégias do Serviço Social, precisamos manter
uma postura crítica, ética e política, não aceitando a manipulação que nos é imposta a todo tempo. A
respeito disso, Guerra (2010) aponta:
[...] implica na aceitação passiva de informações que nos chegam pelo cotidiano,
pela necessidade de sobrevivência, de reprodução da existência. A este nível do
conhecimento chamaremos de entendimento. O entendimento se localiza ao
nível dos fenômenos, da epiderme do real. É um processo de reconhecimento
que se traduz em imagens que são representações mais ou menos vividas da
aparência do real, que nos permite identificarmos as coisas pela sua aparência,
de modo imediato. Ele possibilita distinguir as coisas, determiná‑las, compará‑las,
classificá‑las a partir da sua imagem, da aparência, da forma. Para tanto, os sujeitos
acionam o nível do intelecto. Assim, “o entendimento é posto como um modo
operativo da razão, que não critica os conteúdos dos materiais sobre que incide”
(NETTO, 1994, p. 29). Nesse nível predomina a racionalidade formal‑abstrata. Esta,
porque realiza suas operações de análise e síntese sobre as bases da positividade do
mundo, “esgota‑se e reduz a racionalidade aos comportamentos manipuladores
do sujeito em face do mundo objetivo” (NETTO, idem, ibidem) (GUERRA, 2010, p. 2).
Diante das demandas impostas pelo social, na qualidade de profissionais, urge avançarmos em nossos
conhecimentos, encarando as contradições e buscando soluções, como nos inspira Guerra (2010):
Lembrete
Cabe, portanto, ao profissional estar atento ao movimento societário imposto e desvelá‑lo, fazendo
o mesmo com seu papel como profissional e sujeito desse tecido social, pois exercemos dupla função:
somos trabalhadores e profissionais, inseridos na mesma textura manipulada historicamente pela classe
dominante, conforme nos apontam Marx e Engels (1989 apud GUERRA, 2010, p. 4):
Saiba mais
21
Unidade I
Caso seja necessário, quando em campo profissional, recomenda‑se ter na pesquisa social um
instrumento permanente, que inclua, em seu rol de instrumentos, técnicas e estratégias, a serem inseridas
no cotidiano, não como manutenção da hegemonia do poder, mas como instrumento de libertação do
ranço da culpabilização do sujeito pela sua realidade social.
22
PROJETOS DE PESQUISA EM CONTEXTOS ESPECÍFICOS
Temos o compromisso pessoal e profissional de levar, para a nossa prática diária, esse conceito, não
limitando a pesquisa social somente à utilização na academia, ou a uma exigência da graduação. Se
assim a entendermos, estaremos restringindo nosso olhar e nosso saber fazer. Em vez disso, precisamos
ter a pesquisa social como um instrumento cotidiano que nos impulsiona a desmistificar e desvendar a
manipulação do projeto societário hegemônico.
Nesse sentido, ainda temos de avançar nesses nossos questionamentos, pois quando nos deparamos
com o ritual da prática, muitas vezes, tendemos a valorizar a rotina e até a acreditar que estamos
cumprindo com os compromissos, contudo precisamos identificar se essa rotina não nos impele à
manutenção da hipocrisia de um fazer aparente, em detrimento de um fazer que liberta sujeitos e
transforma a realidade social.
Isso nos encaminha para retomar o que foi apresentado anteriormente, no que concerne às
metodologias para a pesquisa científica, e esclarece que, na intervenção do profissional de Serviço
Social, nada pode estar restrito a um único olhar ou conceito, limitando a leitura crítica. Devemos
abrir a metodologia para as “múltiplas determinações” (MARX, 1989 apud GUERRA, 2010), a fim de
entendermos as singularidades num universo totalitário.
Esse método deve ter subjacente uma racionalidade que permita alcançar
o concreto como síntese de múltiplas determinações (cf. MARX, [1989]),
captar as relações sociais de maneira articulada, seus nexos e mediações,
numa perspectiva de totalidade, para o que tem que ser histórico,
dialético, inclusivo e crítico.
Estamos caminhando para reconhecer a pesquisa social, não apenas como um instrumento da
pesquisa científica acadêmica, desvinculada da prática, mas como instrumento permanente, que sustenta
uma nova práxis profissional, construída a partir da reflexão sobre as competências ético‑políticas,
teórico‑metodológicas e técnico‑instrumentais ou operativas.
Temos de avaliar como estamos utilizando essa última competência, para que seja efetivado o
compromisso com as classes subalternas e expropriadas de seus direitos humanos, sociais, culturais,
econômicos e políticos.
24
PROJETOS DE PESQUISA EM CONTEXTOS ESPECÍFICOS
Existe uma demanda por “novos instrumentos operativos, a profissão carece de uma racionalidade,
como fundamento e expressão das teorias e práticas, capaz de iluminar as finalidades” (GUERRA, 2010
p. 14). Ou seja, a autora nos diz que o que chamamos de instrumentos, técnicas e estratégias não
podem ser considerados ações‑fim da profissão, mas que é necessário compreendê‑los como uma
instrumentalidade com a qual os assistentes sociais, por meio da articulação e da mediação teórica
voltada a fins específicos, atuam e transformam a realidade.
Iamamoto e Carvalho (2009) nos convidam a considerar uma razão: o referencial teórico permeia
nossa prática com intensidade e intencionalidade para que não nos tornemos mecânicos e superficiais,
mas estejamos abertos para identificar nosso objeto de trabalho. “O assistente social lida, no seu trabalho
cotidiano, com situações [...] vividas por indivíduos e suas famílias, grupos e segmentos populacionais,
que são atravessadas por determinações de classe” (IAMAMOTO; CARVALHO, 2009, p. 33).
Diante desse importante instrumento que é a pesquisa social, vamos a partir daqui sugerir uma
metodologia para a elaboração do pré‑projeto de pesquisa, nesse momento, vinculada à sua prática no
estágio e ao referencial teórico estudado durante a graduação. Teremos como base a crítica na atuação
profissional, na lógica do respeito ao sujeito social, inserido numa realidade histórica e atual.
25
Unidade I
• uma nova concepção de atuação profissional, a partir de um posicionamento que vence a hegemonia
do poder e fortalece a credibilidade no potencial humano de transformar a realidade social.
• Acrescenta um novo capítulo à relação entre teoria e prática, por meio da práxis profissional,
numa inserção dialética da leitura de realidade que redimensiona e amplia a teoria.
Assim, acreditamos que estejamos prontos para entrar no universo da pesquisa, pois revisitamos
conceitos importantes no âmbito da metodologia científica e transcendemos a práxis profissional do
Serviço Social. É chegado o momento de decolarmos nessa viagem… Mãos na massa… Afinal, temos uma
descoberta a ser realizada, então precisamos fazer algumas perguntas e buscar as respostas, segundo
Gomes (2011, p. 38-39):
O que?
Quais? Como?
Onde?
26
PROJETOS DE PESQUISA EM CONTEXTOS ESPECÍFICOS
Você já teve contato com fundamentos históricos, técnicos e metodológicos, políticas públicas,
Ética, Sociologia, Antropologia, Psicologia, Direito etc. Já tem uma base sólida de conhecimento
generalista e iniciou seu contato com a prática profissional no estágio. Isso lhe garante uma vivência
em relação ao objeto do Serviço Social, que o embasa e habilita para fazer a escolha de um tema.
A ciência do Serviço Social pesquisa e atua em áreas que perpassam pelas questões sociais, que
são consequência das desigualdades provocadas pela hegemonia do sistema capitalista, excluindo do
mercado profissional os sujeitos que não tiveram acesso às condições de qualificação, muitas vezes, pela
ausência de políticas públicas sociais. São temas de pesquisa relacionados a essa área, entre outros:
• trabalho;
• geração de renda;
• direitos sociais;
• direitos humanos;
• trabalho coletivo;
• ética profissional.
São temas fundantes que compõem o universo teórico/prático do Serviço Social. Cada um destes
pode constituir ou gerar o tema do pré‑projeto de pesquisa social.
Podemos ainda pensar nos segmentos sociais, tais como os apontados a seguir.
1.1.1 Crianças
Segundo a Convenção dos Direitos Humanos (ONU, 1989, p. 6) “A criança é definida como todo ser
humano com menos de dezoito anos”.
27
Unidade I
Figura 2 – Criança
1.1.2 Adolescentes
Figura 3 – Adolescentes
28
PROJETOS DE PESQUISA EM CONTEXTOS ESPECÍFICOS
Segundo o artigo 1º do Estatuto do Idoso (2003), são “pessoas com idade igual ou superior a 60
(sessenta) anos”.
Figura 4 – Idosos
1.1.5 Família
Consideramos família um grupo de pessoas que se encontram unidas, por um determinado período
de tempo, com laços, consanguíneos ou não, de afeto, cuidado e proteção.
As políticas públicas sociais são ações da gestão pública, desenvolvidas pelo Estado ou em parceria
com a sociedade civil, por meio de serviços, programas, projetos e transferência de renda que visam
proporcionar aos sujeitos sociais (cidadãos) a proteção social e a garantia de direitos, para uma vida
digna, com equidade e justiça.
29
Unidade I
São consideradas políticas públicas sociais aquelas que asseguram à população o exercício de seus
direitos individuais e sociais: educação, saúde, trabalho, assistência social, previdência social, justiça,
agricultura, saneamento, habitação popular e meio ambiente.
Figura 5 – o Programa Bolsa Família faz parte do Plano Brasil sem Miséria
É por meio da educação que os sujeitos sociais garantem sua autonomia e sua independência, pois
ela os qualifica para assumirem seu papel social com dignidade. Considerando que a leitura, a escrita
e a interpretação dos fatos são ferramentas fundamentais para a verdadeira inclusão, essa política é
essencial à proteção social e à garantia de direitos.
30
PROJETOS DE PESQUISA EM CONTEXTOS ESPECÍFICOS
Correspondem a:
31
Unidade I
Figura 8 – O Programa Minha Casa, Minha Vida é um exemplo de política pública de habitação
32
PROJETOS DE PESQUISA EM CONTEXTOS ESPECÍFICOS
Existem vários temas desse tipo que podem ser trabalhados, dentre os quais destacamos:
• Violência
Para discutirmos a violência, recorremos a Chauí (1984), que define esse conceito, de forma
ampliada:
Temos vários tipos de violência. Todos são demandas do Serviço Social, considerando a violação
de direitos que tanto vitima quanto violenta os que estão expostos a essas situações.
Apresentamos alguns dos tipos de violência que emergem das ações profissionais do assistente
social, sejam de articulação, mediação ou intervenção:
Abrange todo e qualquer ato que leve à omissão ou à prática de violência por pais
e/ou responsáveis por criança e adolescente, que cause dano físico, sexual e/ou
psicológico. Reverbera na transgressão do dever de afeto, cuidado e proteção que o
adulto tem para com o outro. Muitas vezes, essa prática submete a pessoa em situação
de fragilidade ao poder do adulto, que coisifica a criança e o jovem, negando o direito
desses cidadãos de serem tratados como sujeitos sociais em condição peculiar de
desenvolvimento.
33
Unidade I
— Violência de gênero
Ação que provoca um comportamento deliberado e consciente que submete o outro à situação
de domínio físico, psicológico e/ou sexual exercido de um sexo para outro, em que um se torna
ativo, e o outro, passivo.
— Exploração sexual
A exploração e o abuso sexual contra crianças e adolescentes vêm sendo estudados no Brasil
desde 1990. Embora ainda com ações incipientes, todos os anos, em 18 de maio, militantes
mobilizam‑se para sensibilizar a população quanto a essa situação, que perdura em nossa
sociedade. Conceituamos o abuso e a exploração sexual contra criança e adolescente como
uma forma hedionda de influência do poder de um dominador, que submete a criança e/ou o
adolescente à exploração sexual para aferir recursos financeiros.
— Trabalho infantojuvenil
Parte das pessoas imagina que essa legislação seja a causadora de situações de violência, em
razão do tempo que as crianças e, especialmente, os adolescentes passam sem ter afazeres.
Contudo, isso esbarra na contradição de que esse tempo deve ser empregado para frequentar
a escola e desenvolver aspectos emocionais e relacionais, favorecidos pelo brincar.
Entretanto, ocorre que, mesmo existindo a legislação, e com toda a luta travada pelo direito
ao desenvolvimento pleno da criança e do adolescente, estes ainda são expostos à situação de
trabalho infantojuvenil.
Esses trabalhos, muitas vezes, são insalubres e comprometem a qualidade de vida, especialmente
pelo esforço físico. Além do trabalho externo, temos ainda as atividades domésticas, de que
crianças e adolescentes são incumbidos, sem que os responsáveis por eles percebam a violação
de direitos que ocorre nesses casos, existindo sempre uma explicação, como de que os mais
velhos podem cuidar dos irmãos mais novos, bem como de que limpar, lavar e cozinhar não é
trabalho, e sim dever, entre outras justificativas.
O tema Trabalho Infantojuvenil apresenta‑se como um grande desafio para o Serviço Social,
pois há poucas pesquisas. Existe uma possibilidade de enfrentamento da situação quando esta
é revelada, deixando de ser considerada natural.
— Drogas
Quando falamos em drogas, devemos entender que esse conceito engloba toda e qualquer
substância psicoativa que, quimicamente, tenha influência sobre o ser humano. Outro aspecto é
34
PROJETOS DE PESQUISA EM CONTEXTOS ESPECÍFICOS
– o uso e a dependência;
– o tráfico,
As respostas não são fechadas: pelo contrário, há muito a ser pesquisado e analisado,
portanto esse é um tema importantíssimo para o Serviço Social.
— Medidas socioeducativas
Previstas pelo Estatuto da Criança e Adolescente (ECA) – Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990,
artigo 112. Para dar suporte a essa lei, temos o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo
(Sinase), instituído e regularizado pela Lei nº 12.594, de 18 de janeiro de 2012. As medidas
socioeducativas previstas podem ser aplicadas de duas maneiras:
Veja, a seguir, duas vertentes deste tópico que podem ser trabalhadas em sua pesquisa.
Na lógica da Proteção Social proposta pela Constituição Federal de 1988, e pela participação popular
garantida pela efetivação dos Conselhos de Direitos:
• Conselho da Mulher;
35
Unidade I
• Conselho do Idoso;
• Conselho da Saúde;
• Conselho da Educação.
Esses são espaços legítimos de participação e controle social, em que os recursos, especialmente
nos conselhos deliberativos, são acompanhados pelos conselheiros. Constituem importantes espaços de
defesa de direitos, na luta pela qualidade das políticas públicas sociais, em que o assistente social tem
duplo compromisso: fazer parte como conselheiro e oferecer subsídios para a participação dos usuários
das políticas públicas.
1.1.13.2 Legislação
Eis alguns assuntos que apresentamos a você. Claro que existem muitos outros. Você pode escolher
aquele que, enquanto vive, tem um grande desejo de desvendar. O que lhe chamar mais a atenção
deverá ser o seu tema de pesquisa.
Ao longo de seus dias, você com certeza viveu possibilidades e desafios no que tange aos direitos,
sejam os seus, os de pessoas próximas ou de sua convivência, ou ainda os daqueles com quem você
pode ter uma relação profissional. Não importa a distância entre você e a situação que o estimula
a investigar, o importante mesmo é que exista um interesse vibrante e intenso, conforme registram
Barreto e Honorato (1998):
Esse interesse pode perpassar pelo desafio de questionar na lógica da crítica, pela suscetibilidade
que provoca a outrem, ou pode ser desvelador de uma intervenção técnica: o importante é sentir
desejo de investigar.
36
PROJETOS DE PESQUISA EM CONTEXTOS ESPECÍFICOS
Estamos aqui contrapondo Durkheim, o qual afirma que a primeira e mais fundamental regra para
o cientista social é tratar os fatos sociais como coisa, e valorizando Gil, quando afirma que “os fatos
sociais dificilmente podem ser tratados como coisas, pois são produzidos por seres que sentem, pensam,
agem e reagem, sendo capazes, portanto, de orientar a situação de diferentes maneiras” (GIL, 2008, p.
5), e avança dizendo que “o objetivo fundamental da pesquisa é descobrir respostas para problemas
mediante o emprego de procedimentos científicos” (GIL, 2008, p. 26).
Exemplo de aplicação
Adolescentes que cumprem medida socioeducativa produzem cartilha sobre direitos humanos
para escolas
Em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, o Dia Internacional dos Direitos Humanos, celebrado
no dia 10 de dezembro, ganhou um sentido prático para sessenta adolescentes que cumprem medidas
socioeducativas no município. Mais do que ouvir adultos falarem sobre seus direitos, eles colocaram a mão
na massa e produziram uma revista em quadrinhos para dialogar diretamente com crianças e adolescentes
sobre o tema. O resultado do trabalho foi lançado hoje pela Fundação Criança, órgão municipal responsável
pela política da infância, e será distribuída em todas as escolas públicas do município.
Pedro Silva*, de 16 anos, participou, junto com os colegas, de oficinas sobre desenho e direitos
humanos durante seis meses. “Já sabia desenhar e agora aprendi mais ainda”, disse. Ele está feliz pela
publicação e espera que a cartilha possa ajudar outros adolescentes a conhecerem seus direitos. “Muita
coisa eu só fiquei sabendo na fundação. A gente passa por tanta coisa na rua, porque não sabe o
direito que tem”, declarou. Dentre os assuntos que mais interessaram Pedro na construção da cartilha,
ele cita o direito de ir e vir e o de não ser agredido.
O promotor de Justiça da Infância, Wilson Tafner, aponta, ao analisar o perfil dos adolescentes
em conflito com a lei, que a ausência de políticas públicas para a infância tem relação direta com a
incidência das infrações. “Cerca de 15 bairros de São Paulo, dos mais de cem que o município tem,
concentram a maior parte desses adolescentes. No geral, são regiões bem afastadas do centro e com
baixo IDH [Índice de Desenvolvimento Humano]. Extremo sul, leste e parte da zona norte”, disse.
Tafner destaca que muitas vezes o Estado só chega a essas famílias quando as infrações são cometidas
pelos jovens. O promotor atuou no início dos anos 2000 no enfrentamento a violações sofridas na antiga
Fundação do Bem‑Estar do Menor (Febem). Na época, até mesmo casos de tortura foram identificados.
Para o presidente da Fundação Criança, Ariel de Castro Alves, o trabalho por meio da arte ajuda a
envolver os adolescentes em atividades positivas. “O nosso trabalho é criar um novo projeto de vida para
esses jovens, no qual eles possam estar engajados na cidadania”, explicou. Ele acredita que a produção
da cartilha, por exemplo, potencializa talentos e torna os adolescentes protagonistas de um trabalho do
qual eles se orgulham. “Se o Estado excluir, o crime vai incluir”, declarou.
tendo em vista que colocam em diálogo jovens de universos diferentes. “Quem receber o material vai
saber que ele teve a participação de jovens que cumprem medida de liberdade assistida e de
prestação de serviços comunitários. Isso faz com que eles estejam no mesmo patamar”, avaliou.
A revista em quadrinhos, que também ganhou uma versão em audiobook para pessoas com
deficiência visual, aborda temas como o contexto histórico do surgimento da Declaração Universal dos
Direitos Fundamentais do Homem, lançada no Pós‑Guerra em 1948, e a formulação do Estatuto da
Criança e do Adolescente (ECA), em 1990, após a promulgação da Constituição.
*Os nomes verdadeiros dos adolescentes foram preservados em atendimento ao Estatuto da Criança
e do Adolescente. Por Agência Brasil.
Esse artigo suscita alguns temas, por exemplo: Adolescência; Políticas Públicas para o
Adolescente; O Sistema Nacional de Medidas Socioeducativas e sua Execução – Meio Aberto e
Meio Fechado; Violência na Adolescência; Adolescentes em Conflito com a Lei; Adolescentes em
Medidas Socioeducativas.
Imagine que um deles fosse o seu tema. Que considerações você poderia fazer?
Saiba mais
O assunto é bem mais abrangente, permite diversas possibilidades de recortes. Nesse sentido, o
recorte abrangerá aquilo que o pesquisador anseia abordar com parâmetros concisos em sua pesquisa.
38
PROJETOS DE PESQUISA EM CONTEXTOS ESPECÍFICOS
Muitos alunos ou pesquisadores podem abordar um mesmo assunto, mas isso não significa que
todos tratarão do mesmo tema. Vejamos o exemplo que estamos utilizando:
• Assunto: Adolescente.
Primeiro deve ser escolhido o assunto de pesquisa, e em seguida é preciso ainda afunilá‑lo,
restringi‑lo, circunscrevê‑lo. Para ajudar nessa etapa da elaboração do projeto de pesquisa, podemos
pensar em alguns critérios, que, segundo Gil (2008), podem ser:
Sempre depende do objetivo do pesquisador elaborar o dado recorte, pois devemos considerar a
delimitação usando a terminologia da Victor Franz Rudio, quando utiliza a definição do “campo de
observação” (RUDIO, 1985, p. 72‑5). Esse campo comporta, além do lugar (recorte espacial) e das
circunstâncias (recorte temporal), a população a ser estudada.
Essa população consiste em quem será o objeto da pesquisa, considerando que pode referir‑se a um
conjunto de políticas públicas, aos usuários de algum serviço de uma determinada política pública, ou
ainda a sujeitos que serão questionados acerca de seus comportamentos ou sua visão de mundo (por
exemplo, adolescentes em medida socioeducativa de meio aberto atendidos num determinado Creas).
Em outras palavras, nesse ponto, já estamos nos aproximando do objeto de pesquisa e da problemática
que buscamos pesquisar.
39
Unidade I
• Caso haja publicações sobre o tema a ser abordado, existem lacunas na literatura? Quais?
Em pesquisa, chamamos de estado da arte o que já existe em pesquisas sobre o assunto, conceitos,
achados, análises de dados que estão na literatura para serem pesquisados.
Trata‑se de uma revisão histórica de tudo o que já foi escrito, obviamente, com um recorte de autores
escolhidos (que será abordado logo a seguir), pois algumas pesquisas de literatura são infindáveis,
considerando o enorme número de publicações existentes.
É por meio da revisão de literatura que você descobre se a sua pesquisa será inovadora ou não. Todo
esse investimento requer cuidado para garantir inovação, até porque será necessário evitar duplicação
de informações e – sabemos – seu tempo é precioso, e o dos demais pesquisadores também.
Assim, rememorando o exemplo Política Pública para Adolescentes, temos de fazer o contorno em
Adolescentes em Medida Socioeducativa e definir se será em meio aberto ou fechado, para concretizar
e sistematizar a pesquisa bibliográfica.
Essa sistematização de estudo para a revisão de literatura ou pesquisa bibliográfica contribuirá para:
• conhecer opiniões divergentes e convergentes sobre o tema e mais aspectos pesquisados que
podem não ter sido identificados por você.
Considerando que nessa fase sua pesquisa é de graduação, você não terá descobertas autônomas,
pois deve sempre se apoiar no que já foi registrado na bibliografia sobre o tema.
40
PROJETOS DE PESQUISA EM CONTEXTOS ESPECÍFICOS
Num trabalho de conclusão de curso de graduação, sua pesquisa parte daquilo que já foi descoberto
e registrado.
Numa iniciação científica, você fará experimentos, a partir do estudo iniciado por um orientador,
sobre o tema abordado.
Na dissertação de mestrado, você segue uma linha de pesquisa dentro da proposta curricular do
curso e também realiza a revisão bibliográfica do tema.
Nesses casos, seus achados de pesquisa apresentam as considerações finais sobre o tema, diante dos
novos resultados.
Diferentemente, na tese de doutorado, há um referencial teórico, mas o propósito é ter achados que
ampliem consideravelmente os registros anteriores.
A revisão da literatura vai subsidiar o processo de levantamento das informações já publicadas sobre o
tema, e isso norteará o mapeamento do que já foi pesquisado e analisado e daquilo que oferece possibilidade
de resultar em novos achados de pesquisa. Estes surgem quando você problematiza o assunto.
Para Luna (1997 apud SILVA e MENEZES, 2001), a revisão da literatura em um trabalho de pesquisa
passa pelas seguintes etapas:
Para realizar a revisão bibliográfica, você terá de desenvolver um planejamento, definir como será
feita, ou seja, precisará ter uma metodologia.
São muitos textos, TCCs, dissertações, teses, artigos científicos, livros, páginas na internet etc. Como
vai sistematizar o registro e a organização das informações com as quais está tomando contato? Por isso
existe a metodologia para a revisão bibliográfica.
Assim, para tornar o processo de revisão de literatura mais produtivo, você poderá seguir alguns
passos básicos para sistematizar seu trabalho e canalizar seus esforços. Os passos sugeridos por Lakatos
e Marconi (2010, p. 23) são:
• Escolha do tema
• Tema
• Estrutura do Trabalho
• Identificação
• Localização e compilação
• Fichamento
• Análise e interpretação
• Redação
• Fontes de Informações.
A partir daqui, vamos tentar construir juntos, à luz de Lakatos e Marconi (2010), a metodologia da
revisão bibliográfica:
Já temos nosso tema, que é o exemplo: Adolescentes em Medida Socioeducativa. Vamos fazer a
revisão da literatura no que tange a políticas públicas de atenção ao adolescente incluído em medida
socioeducativa, analisando aspectos legislativos e operacionais, bem como identificando que se trata de
uma ação interdisciplinar.
Assim, vamos buscar o que já foi publicado sobre o tema. Como há temas sobre os quais
há muita publicação (caso desse nosso exemplo), é necessário organizar o tempo, para não
desperdiçá‑lo.
42
PROJETOS DE PESQUISA EM CONTEXTOS ESPECÍFICOS
Você deve se lembrar de que falamos sobre a importância de o tema ser conhecido por nós; assim, já
estão estabelecidas nossa relação com o que vamos pesquisar, as linhas filosóficas que desejamos revisar
e as opiniões que queremos agregar ao trabalho.
Não podemos perder tempo. Precisamos organizar nossa rotina de trabalho, afinal, estamos numa
fase em que, além de termos nossas responsabilidades no nosso dia a dia, como trabalho, família e nós
mesmos, ainda precisamos ter tempo para as disciplinas regulares, o estágio, os relatórios de estágio e
o TCC.
Portanto, identifique quais aspectos quer abordar em seu tema. Vamos seguir o exemplo, para
facilitar – Adolescente em Medida Socioeducativa:
• Lei nº 12.594, que trata da organização das execuções das medidas socioeducativas e legitima o
Sistema Nacional de Medidas Socioeducativas (Sinase) (BRASIL, 2012).
• Adolescência – obras dos autores Maria de Lourdes Trassi Teixeira e Paulo Artur Malvasi.
Assim, você já terá um caminho estabelecido. Isso quer dizer que terá um plano de trabalho de
pesquisa bibliográfica. Observe que, inclusive, identificamos materiais legislativos e outros, alguns
disponíveis on‑line gratuitamente. Isso economizará muito tempo e facilitará a própria orientação
quanto a novos materiais, já com um foco.
1.2.3 Estrutura
• Adolescência.
Você já estará em busca de conceitos sobre esses subtemas e encaminhará sua leitura para possíveis
proposições, de acordo com sua experiência, seja das aulas, seja do estágio. O exemplo que estamos
utilizando é o de Medidas Socioeducativas. Caso você realize estágio no Creas, está bastante familiarizado.
43
Unidade I
Obviamente existem vários recortes a serem feitos, mas vamos tratar desse assunto no item que
discute a problematização.
1.2.3.1 Identificação
Nesse ponto, você já deverá ter um esquema, que não é concluso, nem fechado, mas aberto para os
desafios da pesquisa.
Essa é uma fase da revisão bibliográfica que dará acesso às informações e ampliará o universo da
pesquisa, pois você poderá encontrar aspectos a serem abordados. Para isso, precisa estar disposto até
mesmo a mudar de rumo.
Implica abrir o leque da pesquisa, para ampliar seu levantamento bibliográfico, mas de forma
organizada, por meio de índices, sumários, resumos.
É o momento de voltar a fazer buscas ativas em bibliotecas presenciais e virtuais, pois pode haver
caminhos novos a serem percorridos.
Saiba mais
Agora que você já identificou, a princípio, o material bibliográfico que pretende usar, ou seja, fez o
levantamento bibliográfico, nessa etapa deverá entrar em contato com o material efetivamente, ou seja,
deverá ler.
Esse material deverá ser localizado fisicamente. É interessante ir até as bibliotecas de faculdades, do
polo, e/ou da sua cidade, pois você deverá ter o livro em mãos para começar a ler.
Os materiais que estão on‑line precisam ser organizados numa pasta em um pen drive. Cada assunto
poderá ter uma pasta com título de fácil identificação. Sempre que salvar um documento, deverá ter
registrado o endereço eletrônico no material, para reconhecer com facilidade a localização.
Estabeleça dia e horário para suas leituras. Se estiverem organizados em um grupo de alunos,
definam se estudarão juntos ou se farão leituras em separado. É importante todos terem uma mesma
rotina, salvaguardando as individualidades, mas tendo o compromisso de localizar as obras e estudar,
com o objetivo de compilar o material a ser trabalhado diretamente no referencial teórico da pesquisa.
44
PROJETOS DE PESQUISA EM CONTEXTOS ESPECÍFICOS
Lembrete
1.2.3.3 Fichamento
O fichamento permite que você reúna as informações necessárias e úteis à elaboração do texto da
revisão. Podem ser elaborados diversos tipos de fichas, como:
• citações: com a reprodução literal entre aspas e a indicação da página da parte dos textos lidos de
interesse específico para a redação dos tópicos e itens da revisão (IAMAMOTO; CARVALHO 2010);
• resumo: com um resumo indicativo do conteúdo do texto; com suas palavras, conforme seu
entendimento, mas, ainda assim, se for usar alguma palavra, indique (idem, 2010);
• esboço: apresentando as principais ideias do autor lido de forma esquematizada, com a indicação da
página do documento lido; pode ser um esquema, sem uma linguagem corrida, apenas por tópicos.
Nessa etapa do fichamento, você deverá identificar todas as obras lidas e respectivas citações,
sistematizar as análises e os comentários de cada obra ou artigo e tecer críticas ao material lido.
Sugerimos que tenha um texto para cada autor, fichando de acordo com a sequência das páginas,
separando as citações e registrando‑as. Em seguida, faça um resumo das principais informações; isso o ajudará
quando tiver lido mais de um artigo e/ou livro, além de fazê‑lo ganhar tempo e qualidade na produção.
Quando terminar o fichamento do primeiro grupo de materiais elencados para pesquisar, faça uma nova
leitura e identifique aquilo que for adequado para usar, especialmente considerando o tema do seu trabalho.
45
Unidade I
Muitas coisas que fichamos nem sempre vamos utilizar, mas não dispense nada, pois poderá usar
posteriormente, ou mesmo em outras oportunidades de pesquisa.
Essa leitura deve ser crítica e apurada, para fazer um recorte do que for mais próximo do tema, e será
também um encaminhamento para a problematização e o foco do trabalho.
1.2.3.5 Redação
Agora que você já tem todo o material, deve preparar a primeira redação, observando alguns critérios:
• objetividade;
• clareza;
• precisão;
• consistência;
• linguagem impessoal;
• o texto tenha começo, meio e fim; opte por parágrafos curtos de, no máximo, cinco linhas, pois
isso facilita a leitura e a escrita.
• faça um texto introdutório explicando o objetivo da revisão de literatura; capriche, pois isso
poderá ser utilizado na íntegra quando da finalização do trabalho;
• a revisão de literatura não seja restrita à colagem de citações; sempre que for utilizar a citação de
um autor, deverá escrever uma introdução e, posteriormente, um fechamento.
Observação
46
PROJETOS DE PESQUISA EM CONTEXTOS ESPECÍFICOS
Saiba mais
Ferramentas nacionais:
<http://www.achei.com.br>.
<http://www.cade.com.br>.
<http://www.radaruol.com.br>.
<http://www.surf.com.br>.
<http://www.zeek.com.br>.
<http://bookmarks.com.br>.
Ferramentas internacionais:
<http://www.altavista.digital.com>.
<http://infoseek.go.com>.
<http://www.excite.com>.
<http://www.hotbot.com>.
<http://www.webcrawler.com>.
<http://www.yahoo.com>.
Agora você já sabe o que quer pesquisar, já tem um tema e levantou várias referências sobre ele, que, no
nosso exemplo, é Adolescente em Situação de Medida Socioeducativa. Pois bem, esse é um tema que abrange
inúmeras possibilidades, que com certeza não precisam nem devem ser apresentadas num único trabalho.
Aqui estamos tratando de um projeto de pesquisa, ou seja, você terá de realizar um recorte, encontrar
um assunto específico diante de tudo o que encontrou para, de fato, pesquisar.
47
Unidade I
Um equívoco que muitos alunos cometem em suas pesquisas é revisitar uma vasta bibliografia
e apresentar uma pequeníssima síntese, muitas vezes, deslocada do foco da pesquisa. Por vezes,
quando vamos ler um trabalho de conclusão de curso ou mesmo uma monografia, nós nos
deparamos com um resumo da bibliografia sobre o tema, completamente desvinculado da
pesquisa de campo.
Considerando o universo do campo prático com o qual o aluno se depara quando em campo de
estágio, poderá realizar uma pesquisa científica significativa que subsidiará novos conhecimentos
teóricos e metodológicos, vislumbrando novas formas de intervenção profissional.
Obviamente, muitas vezes, a pesquisa usa o método bibliográfico, mas, ainda assim, deverá ter um
recorte do tema, pois o trabalho de conclusão de curso não deve ser apresentado como um resumo do
tema, absolutamente.
Pelo contrário, mesmo que a pesquisa caminhe no método bibliográfico, será necessário apontar
autores que convergem para o mesmo conteúdo e autores que divergem deste, para que tenhamos uma
pesquisa bibliográfica. Apontar apenas o que se fala sem fazer essa análise não é pesquisar.
Retomando nossas considerações sobre a importância da pesquisa para o Serviço Social, ressaltamos
que esta possibilita novas descobertas ou consolida o conhecimento desenvolvido, numa proposta
sempre dialética, em que, a partir do apreendido, na relação com a prática, surgem novos achados
teóricos, metodológicos e técnicos, possibilitando o reescrever de nossa atuação.
Com isso, não podemos desconsiderar nem menosprezar a pesquisa no campo da atuação prática,
para que essa retroalimente a nossa intervenção profissional.
compromisso com a investigação, passará por uma fase de constantes buscas, sem ter, de fato, um
interesse, com foco num assunto e num tema.
Contudo, se o assunto e o tema já fizerem parte de sua vivência, já terá questionamentos, pois
tem olhado para a questão‑problema, bem como apresenta dúvidas sobre o que vem presenciando e
estudando, e isso o instigará à investigação. Para que esta se efetive, deverá ter pontos de partida, que
são as perguntas que você pretende realizar para a busca das respostas científicas.
Dessa construção que cuida de cada etapa, sem negligenciar sua sequência, estabelece‑se a
sustentação da pesquisa, que se concretiza com o amadurecimento, para o êxito da formulação de um
problema de pesquisa.
Para Gil (2008), o problema de pesquisa deve satisfazer alguns requisitos metodológicos, tais
como ser:
a) claro e preciso;
b) empírico;
c) delimitado;
Ao problematizar o tema, os conceitos e os termos usados na enunciação não devem dar margem a
dúvidas e ambiguidades, o que resultará em uma apresentação clara e precisa.
Cuide para que o problema, por meio do questionamento, esteja delimitado, isto é, tenha um foco,
com objetividade, assertividade e diretividade.
Por fim, será necessário buscar resolver os questionamentos a partir de critérios metodológicos e
científicos, de forma que seja passível de solução.
Essas quatro dimensões devem ser utilizadas por você, para que examine se há ou não consistência
no problema delimitado. Para isso, deve olhar, escrever, reescrever e perguntar‑se: os termos utilizados
estão corretos e claros? Os questionamentos levantados são passíveis de solução com os instrumentos,
as estratégias e as técnicas adotadas? A situação‑problema está delimitada num determinado foco? A
demanda levantada para a pesquisa é empírica?
49
Unidade I
Você deve estar se perguntando como fazer isso. Para formular um problema, você terá de transformar
o tema em uma pergunta. Com esse objetivo, vamos buscar nosso assunto (Adolescente em Conflito
com a Lei), o tema (Adolescente em Medida Socioeducativa), a delimitação do tema (Adolescente em
Cumprimento de Medida em Meio Aberto) e elaborar uma frase interrogativa:
— Quanto tempo os adolescentes atendidos pelo Creas de Pirapuã levam para cumprir a medida
socioeducativa em meio aberto de liberdade assistida?
Observe que não perguntamos o tempo estabelecido por lei para a medida socioeducativa de
liberdade assistida, que é de 6 a 36 meses; nem estamos pesquisando mais de uma medida, pois
isso seria mais um fator significativo que poderia influenciar os resultados. Perguntamos, a partir
da análise de dados reais, em um determinado serviço, de um município específico, tomando
por base o prazo estabelecido para a medida, quanto tempo o adolescente leva para cumpri‑la
efetivamente.
Essa problematização deve vir ao encontro da sua observação, a qual leva você a analisar os fatores
que envolvem a situação. Isso porque, como pesquisador da área de Ciências Sociais, suas perguntas
acabam por ser direcionadas para uma relação causal, ou que busca conceituar ou descrever a
ocorrência de um determinado fenômeno social, fazendo surgir novas perguntas para esse momento
de aprendizagem.
• Por que os adolescentes em medida socioeducativa de liberdade assistida no Creas não a cumprem
no tempo deliberado em audiência? (Considere que o fenômeno é o descumprimento da medida
socioeducativa.)
• Quais as razões que levam o adolescente em medida socioeducativa a não respeitar o prazo
estabelecido?
Assim, você precisa saber se investiga a causa do fenômeno, originando uma pesquisa explicativa, ou
se pretende estudar a ocorrência do fenômeno, gerando uma pesquisa descritiva.
Esperamos ter conseguido transmitir a beleza de uma delimitação do problema, em que o foco de
seu trabalho se estabelece, explicando o que vai buscar em sua pesquisa.
50
PROJETOS DE PESQUISA EM CONTEXTOS ESPECÍFICOS
Retornemos ao exemplo. Caso você esteja realizado estágio num Creas, no Serviço de Medidas
Socioeducativas e perceba que muitos adolescentes demoram para cumprir a medida socioeducativa,
questione‑se:
• Qual a postura do orientador de medida, dos executores do Sistema de Justiça e dos representantes
do Sistema de Garantia de Direitos diante desse fenômeno?
Perceba que esses questionamentos direcionam sua pesquisa, dando centralidade ao fenômeno
cumprimento versus descumprimento da medida socioeducativa, possibilitando abertura para a análise
dos resultados, tendo em vista as legislação que sustenta a proteção social e a corresponsabilidade dos
atores da sociedade civil e da gestão pública diante desse fenômeno.
Lembrete
Quando você consegue delimitar o problema a ser pesquisado, já está caminhando para a delimitação
do objeto de pesquisa. Essas etapas são integradas e dialogam entre si, não sendo estanques ou separadas.
Aqui estamos construindo um passo a passo didático, na lógica de uma compreensão maior do porquê
do projeto de pesquisa, a partir de um fenômeno de interesse pessoal, podendo estar ou não inserido
em sua realidade prática.
Nessa etapa, vamos construir mais um recorte, que é o campo de observação, a partir de uma
determinada área do conhecimento e de critérios consistentes.
51
Unidade I
Esse é o momento de estabelecer contato com a realidade concreta, com reflexão, despido
de preconceitos, prejulgamentos e pré‑saberes, desvelando o cotidiano e as relações sociais a ele
pertencentes.
52
PROJETOS DE PESQUISA EM CONTEXTOS ESPECÍFICOS
Esse caminho ora trilhado serve para identificar a demanda pela produção de conhecimento e
pela reafirmação da interiorização de um Projeto Ético‑Político, instituído a partir da década de 1980,
comprometido com o projeto societário. É a busca do conhecimento, concretizada pela investigação a
partir de um vínculo teórico, em que o Serviço Social reflete teórica e criticamente sobre as necessidades
humanas, fundamentado na lógica da intervenção profissional, que permite o empoderamento da
realidade pelos sujeitos sociais.
É por meio da investigação com embasamento teórico e com análise social crítica que os assistentes
sociais desenvolvem sua ação, imanados nos movimentos da categoria profissional e do contexto
histórico.
Essa leitura sociocrítica se estabelece a priori e, em muitas situações, mistificada com a realidade,
conduzindo práticas de controle social que provocam uma imersão nas demandas institucionais, que
muitas vezes se desvinculam das demandas dos sujeitos sociais.
Isso provoca uma desvalorização da profissão, mas temos de refletir que somente com a
imersão nas realidades sociais e profissionais teremos condições de aprimorar o conhecimento,
por meio da análise crítica da prática profissional, sustentando‑se teórica e metodologicamente
em bases para uma nova ação. Esta se fortalece a partir de uma postura ideopolítica e ética
diante dos sujeitos sociais.
Estamos aqui falando do reconhecimento do profissional também como sujeito social imerso nas
questões sociais, que se pretende realizando um contínuo esforço investigativo de sua prática profissional,
para estabelecer, por meio da pesquisa social, numa perspectiva dialética, a efetiva ampliação do
conhecimento, expandindo a teoria e a metodologia da ação profissional.
A partir desse refletir contínuo e de sua concretização por meio da pesquisa social, que estabelece
indicadores de avaliação para as ações e articulações do profissional, diminuímos os riscos de
institucionalizar a prática profissional conservadora e expandimos as possibilidades de avanço, na
lógica da garantia de direitos dos sujeitos sociais, inclusive do profissional de Serviço Social. O contexto
histórico permeia a emersão da área e sua institucionalização, mas, processualmente, a apreensão das
suas formas de ser e existir no mundo social permite seu autorreconhecimento como profissão inserida
em um movimento maior.
Isso é o que conhecemos por adotar uma postura, escolher um caminho ético e político, em que
a teoria se renova diante de cada análise crítica das relações societárias, na busca da sociabilidade
humana, em que a opressão do homem pelo próprio homem seja criticamente avaliada e deixe de
ser reproduzida, fazendo‑se cumprir a premissa de liberdade estabelecida na Declaração Universal dos
Direitos Humanos (1949). Para ser alcançada, essa liberdade precisa de pressupostos anteriores.
Realmente isso nos parece, a priori, utópico. Sem dúvida, concordamos, mas, se nos permitirmos
optar pela naturalização e pela banalização, desconstruiremos nossa humanidade e sociabilidade. Esses
conceitos são fundamentais para o profissional de nossa área, que prima pela pesquisa social, para
construir um novo projeto societário, em que o sujeito social seja, de fato, sujeito de sua história.
53
Unidade I
Quando pretendemos realizar ações resolutivas, muitas delas podem ser pontuais e imediatistas; ao
contrário de negar a demanda, necessitamos enfrentar de forma política esse “jeitinho brasileiro”, ou “é
urgente”, ou “só para não morrer”, ou “enquanto não tem coisa melhor” e assim por diante.
Isso se estabelece por meio de uma prática inovadora e desafiadora, em que a análise crítica deixa de
culpabilizar os sujeitos sociais pelas suas desventuras, iniquidades, desigualdades e estabelece padrões
de conduta diante dessas violações de direitos que serão devidamente controladas.
Observação
Estamos falando de uma ação transformadora que não se submete e não permite que o outro
se submeta aos desmandos dos que detêm o poder, mas que sustenta a democratização do poder
de escolha, a partir do suporte para se estabelecer, efetivamente, autonomia e independência de
pensar e agir.
Para se sustentar o Projeto Ético‑Político (PEP), os assistentes sociais não podem e não devem
limitar‑se às ações individuais e locais, mas precisam pensar no coletivo, donde se concretiza a efetividade
da pesquisa social científica, que avalia as ações e propõe – ética, política, teórica e metodologicamente
– novas intervenções técnico‑operativas. Saem, assim, das ações individuais para as ações coletivas
de uma categoria profissional, que se fundamenta e se expande com os demais saberes em ações
interdisciplinares e transdisciplinares, não permitindo a ausência, mas, sim, a capacidade investigativa e
interventiva transformadora.
Essa ação é madura e comprometida com o humano, suas relações sociais e, a partir daí, com
uma nova lógica societária, em que o profissional não se limita às ações imediatistas e às práticas
burocráticas, mas, verdadeiramente, torna‑se responsável, com base em sua ética profissional e humana.
Marx (2006, p. 31) já afirmara que “não há estrada real para a ciência, e
só têm probabilidade de chegar a seus cimos luminosos aqueles que
enfrentarem a canseira para galgá‑los por veredas abruptas”. Portanto, a
pesquisa imanente faz‑se necessária para aqueles que estão determinados
54
PROJETOS DE PESQUISA EM CONTEXTOS ESPECÍFICOS
Somos chamados à responsabilidade profissional. Não é apenas uma questão de legado: no momento
em que nos apropriamos do conhecimento, estamos instrumentalizados para desenvolver a crítica, com
capacidade de questionamento e de investigação. A partir desse contato com a realidade, elaboramos
um novo saber, que não mais se esconde na “mundaneidade fetichizada” (GUERRA, 1993), mas que nos
conclama a aprofundarmos a pesquisa científica, a mudarmos o rumo da história e a redescobrirmos
novas formas de intervenção.
Daí a importância, para o assistente social, de pesquisar a partir de sua prática profissional, com rigor
científico, para estabelecer novas teorias que subsidiem um prática inovadora e transformadora.
Objetivos indicam o que se pretende conhecer, medir ou provar no decorrer da pesquisa, ou seja, as
metas que desejamos alcançar. Podem ser gerais ou específicos. No primeiro caso, indicam uma ação
muito ampla; no segundo, procuram descrever ações pormenorizadas ou aspectos detalhados.
Uma ação individual ou coletiva materializa‑se por meio de um verbo. “Por isso é importante uma
grande precisão na escolha do verbo, escolhendo aquele que rigorosamente exprime a ação que o
pesquisador pretende executar” (BARRETO; HONORATO, 1998, p. 75).
• Objetivo(s) específico(s): indicação das metas das etapas que levarão à realização dos objetivos
gerais. Por exemplo: classificar, aplicar, distinguir, enumerar, exemplificar, selecionar etc.
Nessa etapa, você pensará a respeito de sua intenção ao propor a pesquisa. Deverá sintetizar o que
pretende alcançar com ela. Os objetivos devem ser coerentes com a justificativa e o problema proposto.
O objetivo geral será a síntese do que você pretende alcançar, e os objetivos específicos explicitarão os
detalhes e serão desdobramentos do objetivo geral.
Os objetivos informarão para que você está propondo a pesquisa, isto é, quais os resultados que
pretende alcançar ou qual a contribuição que sua pesquisa efetivamente proporcionará.
Os enunciados dos objetivos devem começar com um verbo no infinitivo, e este deve indicar uma
ação passível de mensuração.
É de suma importância que o autor de um trabalho acadêmico científico seja honesto consigo mesmo
e com os autores pesquisados. Dizemos isso porque é muito comum fazermos recortes, especialmente
da internet, e colocarmos no trabalho como se a autoria fosse nossa.
Em primeiro lugar, precisamos entender que copiar um texto de outro autor sem sua autorização e
sem indicar as referências bibliográficas é considerado plágio. Vejamos claramente o que isso significa:
No Código Penal Brasileiro, em vigor, no Título que trata dos Crimes Contra a Propriedade
Intelectual, nós nos deparamos com a previsão de crime de violação de direito autoral – artigo
184 – que traz o seguinte teor: “Violar direito autoral: Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1
(um) ano, ou multa”[BRASIL, 1940]. E os seus parágrafos 1º e 2º, consignam, respectivamente:
Aquele que se propõe a produzir conhecimento sério, renovador do Direito, quer seja ele
professor, pesquisador ou aluno, se obriga a respeitar os direitos autorais alheios. Vejamos
o que diz a Constituição Federal vigente [BRASIL, 1988], em seu artigo 5º, XVII: “aos autores
pertence o direito exclusivo de utilização, publicação ou reprodução de suas obras [...]”. E a
devida proteção legal em legislação ordinária nós a encontramos na Lei nº 9.610/98, mais
precisamente nos seus artigos 7º, 22, 24, I, II e III, e 29, I.
Mas, se a própria Lei [...] citada nos informa, no seu artigo 46, [inciso] III, que não se
constitui ofensa aos mencionados direitos a citação, em livros, jornais, revistas ou em
qualquer outro meio de comunicação, de trechos de qualquer obra, desde que sejam
indicados o nome do autor e a proveniência da obra, onde constataremos a incidência
dessa contrafação (reprodução não autorizada) tão grave, especificamente entendida na
sua forma conhecida como plágio? Exatamente no modo como o plagiário se apossa do
trabalho intelectual produzido por outrem.
O plagiário recorre dolosamente aos expedientes mais sutis, porém não menos
recrimináveis, e não reluta em fazer inserções, alterações, enxertos nas ideias e nos
pensamentos alheios, muitas vezes apenas modificando algumas palavras, a construção das
frases, a fim de ludibriar intencionalmente e assim prejudicar, de forma covarde, o trabalho
original de alguém e ofendendo os direitos morais do seu verdadeiro autor.
Agindo desse modo, o plagiário tenta iludir a um só tempo tanto ao verdadeiro autor da obra
fraudada, como também a quem é dirigido o seu “trabalho”, inclusive a coletividade como um
todo, que irá absorvê‑lo. Ensina‑nos Costa Netto [1998], discorrendo sobre o delito de plágio:
Concluindo, asseveramos que [...] um trabalho de pesquisa levado a efeito nos ditames
das normas metodológicas cabíveis, fincado num rigor científico necessário e inafastável,
deve ainda ser [...] revestido de uma indefectível postura ética por parte do seu autor, quer
seja ele mero estudioso, professor ou aluno de graduação ou pós‑graduação.
Agir com respeito perante não somente aquilo que se propõe a produzir com seriedade,
mas igualmente em relação às fontes pesquisadas, às ideias consultadas, aos pensamentos,
reflexões, pontos de vista, propostos em estudos e pesquisas já feitas, [...] para melhor ilustrar,
fundamentar ou enriquecer o seu trabalho científico, é o mínimo que podemos esperar de
alguém voltado para o conhecimento.
Produzir conhecimento, sim, mas calcado na lisura e na decência, sem usurpação ou violação
do produto intelectual de quem quer que seja, eis uma obrigação, um dever imposto a
todo aquele que se propõe criar ou trilhar novos caminhos no mundo jurídico, através da
investigação e da pesquisa científicas.
Muitos são aqueles que não têm qualquer escrúpulo em selecionar e copiar trabalhos
inteiros, trechos ou pequenos textos que pertencem a outrem, diretamente em proveito
próprio, ou mesmo para comercializá‑los junto a terceiros, auferindo lucros à custa
alheia. Assinam‑nos como se fossem os verdadeiros autores e pouco se importam com as
consequências de seus atos criminosos.
58
PROJETOS DE PESQUISA EM CONTEXTOS ESPECÍFICOS
Estamos plenamente esclarecidos sobre essa situação de plágio. Portanto, certamente, não vamos
incorrer nesse ato, especialmente porque dedicamos três longos anos de nossas vidas para nos
qualificarmos e nos tornarmos profissionais que trabalham com as desigualdades sociais, sendo uma
destas a própria desigualdade intelectual e educacional.
Nessa reta final, todo o esforço dedicado é para que a conduta ética e política seja concretizada
tanto na nossa atuação profissional quanto na elaboração de planos, programas, projetos e relatórios de
prática profissional e de pesquisa social, com segurança na qualidade da apresentação, da justificativa
e do referencial teórico.
Esse é o marco: sempre que identificamos um assunto, colocamos foco num tema, e pesquisamos
criticamente os fatores que o envolvem, delimitamos problemas e hipóteses em torno do tema ou até
mesmo de uma situação‑problema, que suscite nossa análise aprofundada. Surge daí o interesse pela
pesquisa científica.
Contudo, é vital que, ao olharmos para nossas hipóteses diante do problema, não nos limitemos ao
nosso “achismo” – “teorização fundada no subjetivismo do ‘eu acho que’ (aplicável a qualquer campo
teórico)” (HOUAISS, 2009), mas que nossa consciência esteja desperta para investigarmos o que já foi
escrito e pensado sobre o mesmo tema ou problema.
Assim, diante de uma teoria já elaborada, vamos encontrar a sustentação daquilo que buscamos
compreender cientificamente, mas com honestidade intelectual e com a devida abrangência, pois um
mesmo tema possui teorias convergentes e divergentes, que devem ser mencionadas antes de se partir
para a busca de afirmações e confirmações desta ou daquela linha teórica.
Caso tenhamos clareza da postura ética diante dos autores e em respeito às diversidades e
pluralidades das teorias na área das Ciências Humanas ou Sociais, cabe‑nos entender o que é
marco teórico, pressuposto teórico e qual a diferença entre esses conceitos. É o que vamos buscar
esclarecer aqui.
Definimos como marco teórico a afirmação específica de um autor elaborada para definir uma
situação‑problema. Vejamos, por exemplo, como Adailza Sposati define proteção social:
Assim, se o TCC tiver como objetivo identificar o modelo de proteção social no Brasil, o marco teórico
poderá ser de Sposati (2009, p. 21), na lógica da proteção social como “proteção à Vida – supõe apoio,
guarda, socorro e amparo”. Assim, seu trabalho versará sobre esse referencial teórico.
Todo o contexto de proteção social estará em vinculado à sua escolha, pois você deverá selecionar
o marco referencial para seu trabalho, baseado nas investigações, reflexões, explicações e conclusões
de um determinado autor. É uma escolha de perspectiva de abordagem que vai acompanhá‑lo nos
capítulos de referencial teórico, metodologia, análise da pesquisa e considerações finais.
Se o marco teórico for alterado, você terá de rever o problema, os objetivos e as hipóteses. Modificar
o marco teórico significa mudar o rumo da pesquisa, ou seja, recomeçar.
Já pressupostos teóricos, são os diferentes autores que tratam do tema Proteção Social, com suas
peculiaridades, bem como conceitos que deverão ser questionados pela pesquisa, podendo ou não ser
sustentados pelo marco teórico.
Por isso, anteriormente, explicamos que pesquisa bibliográfica é muito detalhista, pois requer uma
busca conceitual e esmiuçada sobre o tema e os conceitos, podendo, a partir do marco teórico, ser aceita
ou rejeitada cientificamente.
Estamos fazendo, com este livro‑texto, um caminho para sistematizar a elaboração do seu trabalho
de conclusão de curso. Por isso, acompanhamos as etapas, para que o processo de concepção, execução
e análise da pesquisa não seja traumático, mas, sim, gratificante.
Como em muitos casos sua pesquisa será de campo, pode ser que você tenha suposições que o
intriguem e o mobilizem a buscar esclarecimentos sobre o real funcionamento de um serviço de sujeitos
sociais. Por isso, em Ciências Humanas ou Sociais, podemos chamar de hipóteses ou suposições,
contudo o termo coloquialmente utilizado é hipóteses.
Outra preocupação que não deve existir é se sua hipótese será sustentada ou não, pois a pesquisa
servirá exatamente para isso. Seu achado de pesquisa poderá mudar totalmente sua hipótese; isso é
plenamente aceitável e sustentado teoricamente.
60
PROJETOS DE PESQUISA EM CONTEXTOS ESPECÍFICOS
A redação das hipóteses, a princípio, pode causar insegurança, mas esse aprendizado, que nesse
momento pode estar no começo, quando de sua vida acadêmica e profissional, será um facilitador para
projetos de mobilização de recursos, planejamentos estratégicos, planos de trabalho (longo, médio e
curto prazo), artigos e novos trabalhos acadêmicos.
Não há como garantir que isso não acontecerá; contudo, se durante o estágio tivermos feito bons
relatórios, com crítica teórica sobre as violações de direitos, teremos um caminho percorrido que poderá
diminuir muito esse sentimento de frustração, pois não partiremos do nada; ao contrário, teremos uma
base prática e teórica.
Muitas vezes, o aluno busca um novo tema, desconsiderando o que presenciou e estudou no decorrer
do curso, justamente o que pode lhe dar sustentação e um marco inicial para a indicação de suas
hipóteses. Assim, que tal rever suas anotações de estágio e de aula? Pode lhe ajudar muito.
Para a monografia de graduação, não há exigência de novos achados de pesquisa; estes podem ser
de confirmação do que já existe. Isso pode facilitar, você não acha? Mas, se quiser e tiver empenho desde
sua monografia de graduação, já poderá indicar um novo aspecto, ainda pouco pesquisado e analisado.
Isso será muito estimulante, não é?
Vamos buscar o exemplo de proteção social que apresentamos no marco teórico referente a esse
tema. Se nossa pesquisa tiver como objetivo geral “analisar o grau de proteção social oferecido às
famílias inseridas no programa de transferência de renda do Benefício de Prestação Continuada – pessoa
idosa – BPC‑Id referenciadas no Cras I de Amanacá”, teremos de elaborar hipóteses que analisem esse
nível de proteção social.
Logo, podem‑se estabelecer uma hipótese de aspecto teórico e duas de aspecto prático:
• Hipótese 1 – O programa do BPC oferece o mais alto nível de proteção social aos seus beneficiários,
pois lhes garante vida digna após os 65 anos.
61
Unidade I
Nesse caso, partimos de hipóteses com caráter de valoração do programa, sem crítica, identificando
apenas pontos positivos e tendo como marco teórico que a proteção social no Brasil realmente trabalha
com a preservação da vida.
Contudo, podemos, ao contrário, buscar com o mesmo objetivo e com o mesmo marco teórico
hipóteses que também analisem as vulnerabilidades do programa:
• Hipótese 1 – O programa do BPC não efetiva a proteção social aos seus beneficiários, pois não
existe suporte integral das políticas públicas que garantam vida digna após os 65 anos.
Aqui temos um caminho já definido para a metodologia, que deverá buscar uma revisão bibliográfica
sobre proteção social e sobre o Beneficio de Prestação Continuada, com foco na pessoa idosa. Depois temos
uma pesquisa quantitativa, por meio de procedimentos de consulta a bancos de dados do ministério de
Assistência Social e do Cras I; e uma pesquisa qualitativa, com procedimentos de aplicação de questionário
aos beneficiários do programa ou mesmo com depoimentos ou histórias de vida. Assim, a partir de suas
hipóteses, será identificada sua metodologia, que apresentaremos na unidade II deste livro‑texto.
Estamos chegando ao final desta primeira unidade, em que nos propusemos a apresentar a
construção do pré‑projeto de pesquisa em Serviço Social. Esperamos que tenha esclarecido suas
dúvidas e que este material facilite a construção de sua pesquisa e do respectivo relato.
Resumo
63
Unidade I
Exercícios
Com base nessas informações, considere as alternativas apresentadas a seguir e assinale a correta.
A) Os verbos utilizados para enunciar objetivos específicos devem indicar uma ação de amplo
espectro, enquanto os verbos utilizados para enunciar objetivos gerais devem descrever ações
pormenorizadas ou aspectos detalhados.
B) Na etapa de delimitação dos objetivos da pesquisa ainda não se faz necessário o levantamento de
dados sobre a disponibilidade de recursos financeiros, humanos e de tempo para a execução da
pesquisa. Tal procedimento deverá ser adotado em uma etapa posterior.
D) Enquanto o objetivo geral representa a síntese daquilo que se pretende alcançar, os objetivos
específicos explicitam detalhes e constituem desdobramentos do objetivo geral.
A) Alternativa incorreta.
Justificativa: de fato, os verbos utilizados para enunciar os objetivos gerais é que devem indicar uma
ação de amplo espectro. Os verbos utilizados para enunciar os objetivos específicos farão a previsão das
ações pormenorizadas ou de aspectos detalhados da pesquisa.
B) Alternativa incorreta.
Justificativa: é indispensável saber com que recursos se poderão contar para tornar viável
a pesquisa pretendida. A própria delimitação dos objetivos depende de conhecimento sobre a
disponibilidade de recursos de todo tipo para a sua realização, como os financeiros, os humanos
e os de tempo.
C) Alternativa incorreta.
Justificativa: tanto os objetivos gerais quanto os específicos devem ser coerentes com a justificativa
e com o problema proposto. Por isso, a justificativa e o problema também servem de parâmetro para a
definição de todos os objetivos.
D) Alternativa correta.
Justificativa: os objetivos específicos explicitam detalhes dos objetivos gerais. O enunciado dos
objetivos gerais deve ser realizado de modo a indicar a síntese da conclusão pretendida.
E) Alternativa incorreta.
Questão 2. No âmbito dos estudos e das pesquisas acadêmicas, a denominação “estado da arte” se
refere a um universo que inclui uma série de informações. Leia atentamente as alternativas apresentadas
a seguir e assinale aquela que contém uma afirmativa incorreta. A expressão “estado da arte” designa
um universo que não inclui:
B) A revisão histórica de tudo o que já foi escrito sobre o assunto que se pretende investigar.
65
Unidade I
C) O conjunto de autores que desenvolveram estudos e/ou pesquisas sobre o assunto que se pretende
investigar.
E) O conjunto de artistas eméritos que ofereceram suporte visual a textos relativos ao assunto que
se pretende investigar, aí privilegiados os artistas da atualidade.
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