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Distribuido pelo Instituto EcoBrasil

Manual de
Ecoturismo
de Base
Comunitária
Ferramentas para um planejamento responsável
Arquivo pdf com 250 k
22 páginas, capa e verso da capa

Todos os direitos reservados. Parte integrante do livro Manual de Ecoturismo de Base Comunitária:
ferramentas para um planejamento responsável, do WWF-Brasil.
Para conhecer os outros capítulos do Manual, o método de elaboração, os projetos parceiros
e demais informações sobre este livro, visite o site do WWF-Brasil – www.wwf.org.br.

SECÇÃO 01
SUMÁRIO
AGRADECIMENTOS
APRESENTAÇÃO
INTRODUÇÃO
CONTATOS DOS PARCEIROS E CONSULTORES

PARCERIA:

APOIO:
Distribuido pelo Instituto EcoBrasil

MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA


FERRAMENTAS PARA UM PLANEJAMENTO RESPONSÁVEL

Publicação do Programa de Turismo e Meio Ambiente do WWF-Brasil

FICHA TÉCNICA

Organizadora do Manual Coordenação das Oficinas


Sylvia Mitraud Sylvia Mitraud

Autores Consultores do Projeto


Anna Paula Santos, Ariane Janer, Gilberto Jane Vasconcelos, Roberto Mourão, Verônica
Fidelis, Jane Vasconcelos, Johan van Lengen, Toledo, Waldir Joel de Andrade, Ariane Janer,
Leandro Ferreira, Marcos Borges, Max Dante, Gilberto Fidelis, Marcos Martins Borges
Monica Corulón, Roberto Mourão, Sérgio
Salazar Salvati, Sylvia Mitraud, Timothy Coordenação Editorial
Molton, Verônica Toledo, Waldir Joel de Alexandre Marino - Varanda Edições Ltda
Andrade.
Projeto Gráfico, capa e edição em pdf
Edição Técnica Paulo Andrade
Robert Buschbacher, Sérgio Salazar Salvati,
Sylvia Mitraud, Leonardo Lacerda Fotos da capa:
Sérgio Salazar Salvati
Coordenador do Programa de Turismo e Meio
Ambiente do WWF-Brasil Tiragem: 3.000 exemplares
Sérgio Salazar Salvati Novembro de 2003

Esta publicação, "Manual de Ecoturismo de Base Comunitária: ferramentas para um planejamento responsável” é pu-
blicada com o apoio da USAID - Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional - com sede na
Embaixada Americana no Brasil, nos termos do acordo nº 512-0324-G-00-604. As opiniões expressas do(s) autor(es)
não necessariamente refletem as opiniões da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional.
Esta publicação contou com o apoio da Kodak Company, USA, nos termos do acordo de cooperação técnica celebra-
do para apoio ao desenvolvimento dos projetos do Programa de Ecoturismo de Base Comunitária do WWF-Brasil. As
opiniões expressas do(s) autor(es) não necessariamente refletem as opiniões da Kodak Company.
A viabilidade desta publicação contou com a participação da Companhia Suzano de Papel e Celulose, por meio de
convênio de parceria entre o WWF-Brasil e o Instituto Ecofuturo. As opiniões expressas do(s) autor(es) não necessa-
riamente refletem a opinião desta Companhia.

Publicado em papel Reciclato - 100% reciclado

M294e Manual de Ecoturismo de Base Comunitária: ferramentas para um planejamen-


to responsável. /
[Organização: Sylvia Mitraud] - [Brasília]: WWF Brasil, c2003. 470p.: il.
Color. ;21x14 cm.

Bibliografia
ISBN: 85-86440-12-4

1. Ecoturismo - Brasil. 2. Turismo Comunitário. 3. Metodologia de Planejamento e Gestão


– Ecoturismo. 4. Capacitação Comunitária. 5. Conservação.

CDU 504.31
Distribuido pelo Instituto EcoBrasil

Manual de Ecoturismo de Base Comunitária


FERRAMENTAS PARA UM PLANEJAMENTO RESPONSÁVEL

Sumário
A numeração de páginas deste sumário corresponde à edição impressa em Novembro de 2003.

Agradecimentos ........................................................................................................ 7
Apresentação ............................................................................................................ 9
Introdução ................................................................................................................ 11
O WWF-Brasil e o Turismo Responsável ....................... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23

SEÇÃO 1
Planejamento Estratégico –
Instrumentos para planos, diagnósticos
e desenvolvimento de projetos e produtos

1. Planejamento do ecoturismo ............................................................................ 33


2. Levantamento do potencial ecoturístico (inventário) ......................................... 89
3. Elaboração do produto .......................................................................... .......... 145
4. Viabilidade econômica .................................................................................... 189

SEÇÃO 2
Implementação Responsável –
Instrumentos para desenvolvimento físico,
educação e capacitação

5. Infra-estrutura de apoio .................................................................................... 217


6. Implantação e manejo de trilhas ..................................................................... 247
7. Interpretação ambiental ................................................................................... 261
8. Capacitação comunitária ................................................................................ 295

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SEÇÃO 3
Gestão Integrada –
Instrumentos para controle,
administração e participação

9. Monitoramento e controle de impactos de visitação ........................................ 315


10. Administração e práticas contábeis .................................................................. 363
11. Participação comunitária e parcerias ................................................................ 381
12. Participação de voluntários em projetos de ecoturismo .................................... 399
13. Pesquisa na atividade de ecoturismo ................................................................ 415

Glossário ................................................................................................................... 423


Contatos dos projetos parceiros e profissionais participantes do Manual .................. 443
Declaração de Ecoturismo de Quebec ...................................................................... 447

4
Agradecimentos

omo produto de um projeto desenvolvido de forma participativa e de longo prazo,


muitas são as pessoas, os profissionais e as instituições que colaboraram de forma
definitiva para a publicação deste Manual, e é com prazer que o WWF-Brasil
aproveita esta oportunidade para fazer seus agradecimentos. No entanto, a
menção a entidades e profissionais a seguir não esgota a lista de instituições e indivíduos que
prestaram apoio e colaboração a este projeto, em diversas ocasiões.
Primeiramente, agradecemos à Associação Brasileira de Ecoturismo (ECOBRASIL), pela
colaboração desde o início do projeto. Foi desta parceria que surgiu a semente que gerou o
Programa de Ecoturismo do WWF-Brasil, posteriormente denominado Turismo e Meio
Ambiente. Em especial, a idealização do programa, tanto em seus objetivos quanto em seu
método de desenvolvimento, deve-se à criativa e crítica interação entre o WWF-Brasil, com
sua especialidade em assuntos de conservação ambiental e de processos participativos, e à
ECOBRASIL, com seus conhecimentos na área empresarial do turismo.
Igualmente importante foi a participação e, principalmente, a dedicação de diversos
profissionais que atuaram como consultores; são especializados nas diversas áreas relevantes
do ecoturismo, mas também altamente compromissados com os objetivos de conservação
ambiental e responsabilidade sócio-econômica do ecoturismo. Apesar do título de “consul-
tores”, a colaboração desses profissionais em muito excedeu as expectativas e determinações
contratuais com o WWF-Brasil.
Ao longo de quatro anos, o WWF-Brasil trabalhou em parceria com as instituições execu-
toras de oito projetos de conservação e desenvolvimento de diferentes regiões do Brasil,
empregando de forma participativa, prática e interativa os diversos métodos apresentados
neste Manual, e capacitando técnicos para coordenar o desenvolvimento do ecoturismo nos
projetos. As instituições colaboradoras deste programa foram:

u Associação de Silves pela Preservação Ambiental e Cultural (ASPAC) – Silves/AM.


u Associação dos Condutores de Visitantes da Chapada dos Veadeiros (ACV-CV) –
Alto Paraíso/GO.
u Associação Mico Leão Dourado (AMDL) – Casimiro de Abreu/RJ.
u Organização dos Seringueiros de Rondônia (OSR); Associação dos Seringueiros do
Vale do Guaporé (AGUAPÉ); e Ação Ecológica Guaporé (ECOPORÉ) –
Porto Velho/RO.
u Projeto TAMAR (IBAMA e Fundação Pró-TAMAR) – Fernando de Noronha/PE.
u Secretaria Estadual de Meio Ambiente (SEMA) – Campo Grande/MS;
Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Turismo (SEMATUR) – Corumbá/MS.
u Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS) –
Curitiba/PR.
u Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (ISDM) – Tefé/AM.
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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

Sem a colaboração e o compromisso dessas instituições parceiras, suas diretorias e seus


representantes técnicos, e dos consultores, este Manual não poderia ter sido elaborado. Ao
todo, foram mais de 45 pessoas, trazendo suas perspectivas profissionais e regionais para
constituir um único produto. O entusiasmo, o esforço, o compromisso, a paciência e, por
vezes, a persistência dos técnicos e técnicas que as representaram neste projeto foram impres-
cindíveis para a realização prática das atividades em cada um dos projetos parceiros. Um
agradecimento especial fica registrado para as instituições e projetos que sediaram as ofici-
nas semestrais do projeto.
Com essas colaborações e esforços, o Projeto de Capacitação em Ecoturismo do WWF-
Brasil e a metodologia do Manual seguiram os princípios do ecoturismo comunitário, consti-
tuindo um processo participativo desde sua concepção.
A realização do Programa de Capacitação e a elaboração deste Manual foi possível tam-
bém devido ao apoio da parceria com a USAID, cujos recursos ao longo de três anos possi-
bilitaram não só a realização das oficinas, mas também o apoio técnico e financeiro aos pro-
jetos que possuíam carências específicas para o desenvolvimento do ecoturismo.
Conseqüentemente, precisamos também estender os agradecimentos às instituições que
apoiam diretamente o desenvolvimento do ecoturismo dos projetos parceiros.
Além de agradecer a todo o quadro do WWF-Brasil, pela confiança e colaboração, não
podemos deixar de lembrar daqueles que contribuíram para esta publicação e que hoje não
mais pertencem à sua equipe. Apoiando os técnicos que participaram ativamente no desen-
volvimento do programa, outros colaboraram nas etapas posteriores de edição, revisão e
encaminhamentos logísticos etc, como Rogério Dias (ex-coordenador do Programa de
Ecoturismo), Leonardo Lacerda (ex-Superintendente de Conservação) e Garo Batmaniann (ex-
Secretário-Geral).
Que todo o esforço e dedicação investidos para a elaboração deste Manual se traduzam
em efetiva contribuição para o desenvolvimento de experiências de Ecoturismo no Brasil con-
forme seus princípios de sustentabilidade.

Brasília, novembro de 2003

Sylvia Mitraud
Organizadora do Manual

Sérgio Salazar Salvati


Coordenador do Programa de Turismo
e Meio Ambiente do WWF-Brasil

8
Apresentação

m 1994, o WWF-Brasil deu início aos regiões e comunidades envolvidas e a

E projetos Silves e Veadeiros, primeiros


projetos de campo de conservação e
desenvolvimento, cujo objetivo eram o
carência de profissionais e de informações
levavam a um quadro que vem distorcendo
os princípios do ecoturismo.
desenvolvimento do ecoturismo como alter- Para o WWF-Brasil, o fator crítico que
nativa econômica sustentável. Também data poderia definir o tipo de relação que o eco-
de 1994 a elaboração, pelo Governo turismo teria com o ambiente natural e cul-
Federal, das Diretrizes para uma Política tural – de degradação ou de conservação –
Nacional de Ecoturismo, onde definiu-se, era o desenvolvimento de metodologias
entre outras abordagens, o conceito bra- para a realização das diversas atividades
sileiro de ecoturismo adotado neste docu- que compõem o ecoturismo e que o difer-
mento. No ano seguinte, o WWF-Brasil enciam do turismo tradicional. Por exemplo,
apoiou a realização da 1ª Bienal de métodos de interpretação ambiental, de
Ecoturismo de Canela, Rio Grande do Sul. controle de impactos ambientais, da capaci-
Esses eventos, associados a diversos con- tação regional para prestação de serviços de
tatos com profissionais que iniciavam o tra- ecoturismo e do manejo de trilhas de baixo
balho no campo do ecoturismo, levaram ao impacto, adaptados à realidade das dife-
claro diagnóstico da ausência e/ou fragili- rentes regiões do Brasil, e a capacitação de
dade dos mecanismos existentes para asse- profissionais de nível técnico para sua ade-
gurar que a atividade respeitasse os seus quada aplicação, foram algumas das neces-
princípios, tanto no que diz respeito à sua sidades apontadas e que mereciam estudos
interface com a conservação da natureza de desenvolvimento.
quanto com o beneficiamento prioritário Dessa forma, nasceu o Programa de
das comunidades locais. A principal pre- Ecoturismo do WWF-Brasil (PEC), posterior-
ocupação do WWF-Brasil era com a possi- mente chamado de Programa de Turismo e
bilidade de o ecoturismo se transformar em Meio Ambiente, tendo como meta principal
mais uma atividade econômica exploradora e de longo prazo “apoiar a adoção da ‘cer -
e degradadora das unidades de conservação tificação independente’ do ecoturismo no
do Brasil, em especial os Parques Nacionais. Brasil, por meio de uma metodologia multi -
Especificamente quanto ao objetivo de disciplinar aperfeiçoada em projetos de
apoiar e consolidar modelos de ecoturismo campo".
no Brasil, o WWF-Brasil primeiramente O objetivo específico dos primeiros três
procurou estabelecer claramente os fatores anos do projeto foi "propor e testar uma
limitantes e críticos para seu desenvolvi- metodologia de capacitação para treinar
mento e para o atendimento aos princípios organizações brasileiras de caráter ambien -
de sustentabilidade. Foi observado que os tal para o desenvolvimento de ecoturismo
princípios e a atual dinâmica da proposta do de base comunitária". O Manual de
ecoturismo no Brasil, a complexidade de Ecoturismo de Base Comunitária é o resul-
9
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

tado da primeira fase deste programa, rea- áreas temáticas do desenvolvimento de proje-
lizada entre o final de 1996 e 2000, por tos, oferecendo um produto ainda inédito por
meio do projeto intitulado Capacitação para conter orientações práticas para a realização
o Desenvolvimento do Ecoturismo de Base de atividades ligadas aos aspectos ambientais,
Comunitária. sociais e econômicos do ecoturismo.
A segunda e terceira fases, treinamento e O tema abordado nesta publicação – o
certificação, já vêm sendo implementadas Ecoturismo de Base Comunitária – permitiu
em projetos parceiros. a organização sob a forma de Manual. No
A segunda fase compreende a dissemi- entanto, devido à complexidade de alguns
nação dos métodos do Manual em nível temas, por exemplo Administração e
nacional para públicos selecionados e o iní- Práticas Contábeis e Pesquisa, o desenvolvi-
cio de um programa de capacitação nos mento dessas atividades sempre requererá a
diferentes biomas, destinados a técnicos em orientação de especialistas, não bastando o
posições estratégicas e lideranças regionais, conteúdo do Manual.
cujas funções serão de multiplicar seu con- A abrangência e a complexidade dos
teúdo em suas bases de atuação. princípios do ecoturismo mostram que
O Projeto de Capacitação para o seria muita pretensão tentar elaborar um
Desenvolvimento do Ecoturismo de Base manual que atendesse a todas as questões
Comunitária, por intermédio deste Manual e demandas do ecoturismo de base comu-
e da parceria com os projetos de campo nitária. Este não foi o objetivo do WWF-
que colaboraram para sua elaboração, pro- Brasil. Nos diversos capítulos, várias técni-
cura gerar meios práticos para uma melhor cas e experiências são disponibilizadas,
e mais adequada implantação de projetos algumas passíveis de adaptação e apli-
de ecoturismo visando o desenvolvimento cação sem necessidade de assessoria técni-
futuro de um sistema de certificação, que ca. Outras fornecem subsídios para dis-
constitui a terceira fase do programa, em cussão e contratação de serviços técnicos
andamento. especializados, ou leitura especializada.
Apesar do longo processo de elaboração, O importante é que, pela primeira vez
este Manual ainda não é um produto acaba- no Brasil, organizou-se de forma prática,
do. Desde o início do projeto, considerou-se acessível e, principalmente, atenta à reali-
o Manual como uma primeira versão sobre dade brasileira, um rico conjunto de infor-
práticas em ecoturismo. Entendemos, no en- mações e orientações para a prática de eco-
tanto, que muitas das melhorias necessárias turismo no país. E com base neste programa
virão com a utilização e crítica do Manual por de capacitação, o WWF-Brasil vem procu-
outros profissionais e instituições de diversas rando testar e aplicar seus conceitos e
partes do Brasil. Com a sua publicação, não metodologias nos seus diversos projetos de
se pretende esgotar os temas e métodos campo, em todos os biomas brasileiros.
necessários para a realização do ecoturismo, Espera-se que a leitura e aplicação das
e muito menos colocá-lo como o único ferramentas aqui disponíveis venham a con-
instrumento disponível para técnicos e institu- tribuir para s adoção do conceito de ecotu-
ições. Pretende-se contribuir para a formação rismo e seu desenvolvimento responsável
de profissionais capacitados nas diversas no Brasil.

Rosa Lemos de Sá
Superintendente de Conservação

10
Introdução

turismo é a setor econômico que para a conservação da diversidade biológica

O apresenta os mais elevados índices


de crescimento no contexto mundi-
al, tendo expandido suas atividades na
dentro e fora de áreas protegidas, assim
como promover melhorias na qualidade de
vida das comunidades locais e regionais.
década de 90 em cerca de 60%, de acordo
com dados da Organização Mundial do I. O Ecoturismo
Turismo. No Brasil, o turismo é uma ativi- e os princípios da sustentabilidade
dade ainda emergente, porém de cresci-
mento intenso nos últimos anos. Dentro dos diversos segmentos turísticos,
O desenvolvimento desse mercado, o ecoturismo vem sendo apontado como
inserido principalmente em locais de inte- aquele que apresenta os mais altos índices
resse cênico e tendo como base recursos de crescimento, com um aumento de
naturais de alta biodiversidade, tais como a demanda variando de 10 a 20% ao ano, de
Amazônia, o Pantanal, o Cerrado, a Mata acordo com diversos estudos.
Atlântica e a costa litorânea, tem trazido No Brasil, a realidade não é diferente. O
preocupações aos governos locais, às comu- contexto internacional favorecendo as
nidades anfitriãs e às organizações conser- chegadas estrangeiras, o crescimento do
vacionistas por colocar em risco áreas natu- mercado doméstico após o Plano Real, que
rais, protegidas ou não, de riquezas imensu- alcança hoje mais de 40 milhões de desem-
ráveis, assim como importantes patrimônios barques, e o grande potencial do Brasil
histórico-culturais. como destino turístico têm, nos últimos
Isto deve-se à velocidade e escala dos anos, provocado um volume expressivo de
investimentos públicos e privados, em detri- investimentos governamentais e privados na
mento da aplicação prévia de mecanismos indústria brasileira do turismo e em especial
de planejamento participativo, legislação de no ecoturismo. Esses fatos, associados à
uso do solo, zoneamento e proteção ambi- enorme diversidade cultural e de ecossis-
ental, educação dos visitantes e planos de temas do país e a ampla promoção do eco-
monitoramento da atividade, que podem turismo como negócio, fizeram com que
garantir a proteção da base dos recursos na- houvesse um aumento considerável de pro-
turais e culturais que fundamentam os negó- jetos e programas de ecoturismo no Brasil. A
cios do turismo. Na verdade, estes mecanis- atividade, inicialmente praticada por orga-
mos não existem, não estão disponíveis ou nizações não-governamentais como uma
não estão aplicados e consolidados. A busca alternativa de desenvolvimento sustentável,
destes mecanismos, e de sua real eficiência, é hoje prioridade e realidade para diversos
é o desafio de governos, mercados, comu- segmentos da sociedade. Governos estadu-
nidades e entidades não-governamentais. ais e municipais, bancos de investimentos,
Formas sustentáveis de turismo, como o fundos verdes, empresários e organizações
ecoturismo, têm potencial para contribuir não necessariamente ambientalistas, como
11
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

o SEBRAE, passaram a investir no ecoturis- Outro problema é que, por ser uma ativi-
mo como uma opção de negócio ou como dade nova e dinâmica, o ecoturismo no
opção de geração de emprego e renda. Brasil carece de metodologias, de infor-
O crescimento do ecoturismo no Brasil é mações e de profissionais capacitados.
interessante e ao mesmo tempo preocu- É também relevante a quantidade de pro-
pante. Interessante por ser a afirmação e dutos que são associados ao ecoturismo
expansão de uma proposta associada aos unicamente por envolverem atividades em
princípios de conservação e benefício comu- ambientes naturais, conservados ou não,
nitário. Preocupante devido à velocidade de sem qualquer outro objetivo além do lucro.
sua disseminação e crescimento como negó- Voluntariamente ou não, poder público,
cio, à complexidade dos seus propósitos e empresas e pessoas se aproveitam de falsos
seu entendimento pelos diferentes atores do esquemas de “marketing ecológico” para
mercado, à fragilidade de ambientes e vender um produto que, na verdade, não é
comunidades diretamente envolvidas e às ecoturismo, processo que vem sendo
dificuldades humanas e materiais dos dife- chamado de green washing (maquiagem
rentes órgãos públicos responsáveis pelo verde de produtos). Entre outras razões, isto
controle da atividade. ocorre por não haver um organismo e um
O ecoturismo é norteado por mínimos método de certificação de produtos de eco-
impactos ambientais e culturais e por bene- turismo.
fícios econômicos às comunidades envolvi- Observando o crescimento desordenado
das. Ao observarmos a realidade do ecotu- do ecoturismo no Brasil, que prevalece
rismo nas diversas regiões brasileiras, fica ainda hoje, os Ministérios do Meio
evidente a dificuldade encontrada por pro- Ambiente (MMA) e da Indústria, Comércio e
jetos e programas para atender aos princí- Turismo (MICT), formaram, em 1994, um
pios básicos acima descritos. Leva-se em Grupo de Trabalho Interministerial que esta-
conta que as dificuldades para encontrar beleceu diretrizes para o desenvolvimento
oportunidades econômicas no ambiente do ecoturismo no Brasil. Um dos produtos
rural brasileiro fazem com que as comu- desse grupo de trabalho foi a definição de
nidades exerçam pressão demasiada sobre ecoturismo no contexto brasileiro:
os recursos naturais, tais como vemos hoje
nas florestas tropicais da Amazônia e da O QUE É ECOTURISMO?
Mata Atlântica ou sobre o estoque pesqueiro
no Pantanal. “Um segmento da atividade turística
Por outro lado, o turismo também causa que utiliza, de forma sustentável,
impactos ambientais negativos significativos o patrimônio natural e cultural, incentiva
ou não atinge as expectativas destas regiões sua conservação e busca a formação
ou das comunidades em termos de melho- de uma consciência ambientalista através
rias socioeconômicas. Em diversos casos, da interpretação do ambiente,
ambos os resultados desfavoráveis ocorrem. promovendo o bem-estar
E como o ecoturismo busca originalidade, das populações envolvidas”.
áreas conservadas e autenticidade cultural,
é comum que seja praticado em regiões de (Embratur, 1994)
grande sensibilidade e complexidade social
e ambiental. Portanto, o bom planejamento,
a definição correta de infra-estrutura, de um Por ser uma conseqüência do movimen-
sistema de monitoramento e de vários ou- to preservacionista da década de 70, as
tros fatores são fundamentais para o sucesso primeiras definições de ecoturismo associa-
da implantação do ecoturismo. No entanto, vam a atividade apenas ao papel de preser-
tudo isso é complexo e possui alto custo. vação do ambiente natural. Este conceito
12
INTRODUÇÃO

passou a ser reelaborado a partir da sempre informativo e educacional. Além


evolução do conceito de desenvolvimento disso, o ecoturismo proporciona ao visitante
sustentável e da conseqüente inclusão do a compreensão e a consciência da
homem no processo de sustentabilidade. importância de se conservar a natureza, a
Portanto, a definição brasileira de ecoturis- história e a cultura dos lugares de visitação.
mo acompanhou uma nova tendência do A prática da educação ambiental no ecotu-
ecoturismo mundial ao incorporar a popu- rismo, principalmente por meio da interpre-
lação envolvida nos benefícios da atividade tação da natureza, contribui para que o visi-
turística (Whelan, 1991; Borges, 1995), on- tante tenha a possibilidade de transformar e
de o maior ou menor grau de atendimento renovar seu comportamento cotidiano. A
às necessidades socioculturais das regiões realidade urbana com a qual o turista con-
receptoras parece ser o maior diferencial en- vive rotineiramente passa a ser questionada
tre as diversas definições. gerando reflexões sobre consumo, poluição
Neste sentido, três grandes eixos temáti- e qualidade de vida. Objetiva-se, assim, a
cos sustentam o conceito brasileiro de eco- incorporação e tradução destas reflexões na
turismo: a sustentabilidade, a educação do forma de comportamento e posturas no seu
visitante e os benefícios às comunidades ambiente de origem. A educação do visi-
locais (Salvati, 2002). tante para o respeito às culturas e tradições,
A sustentabilidade se refere primordial- ao uso da terra e aos sítios históricos, artísti-
mente à conservação do ambiente natural cos e arqueológicos deve também ser
como pré-requisito para a manutenção do condição necessária para o ecoturismo.
ecoturismo à longo prazo. Mas sua viabili- O desenvolvimento socioeconômico
dade (e sustentabilidade) econômica deve sustentável de uma região deve ser o objeti-
também ser colocada em contexto, pois se o vo maior do ecoturismo e deve ser alcança-
ecoturismo não for planejado adequada- do quando há envolvimento das comu-
mente, seu desenvolvimento estará fadado ao nidades anfitriãs e a preocupação premente
fracasso econômico e à degradação social e em gerar benefícios locais. E isto somente
ambiental. As bases que sustentam os negó- será atingido se houver investimentos na
cios são os ambientes natural e cultural, na capacidade da comunidade em se preparar
forma de recursos atrativos. Se esta base de para recebê-lo. O envolvimento da comu-
recursos não permanecer conservada, não nidade deve existir desde a fase de planeja-
haverá mais o interesse da visitação. A sus- mento, participando e auxiliando na tomada
tentabilidade envolve, portanto, a criteriosa de decisões sobre que tipo de ecoturismo
utilização destes recursos, principalmente em deve ser desenvolvido e quais as suas neces-
parques e reservas. No âmbito da sustentabi- sidades e expectativas. Os benefícios para a
lidade econômica, metodologias e estratégias comunidade somente virão com in-
devem ser buscadas, criadas ou adaptadas vestimentos na economia local, na infra-
para se diagnosticar as atividades econômi- estrutura básica (saneamento, educação e
cas locais atuais e potenciais, visando a saúde) e o seu efetivo envolvimento na
diversificação econômica para a melhor ge- capacitação profissional para o turismo.
ração de renda e emprego, com a devida Podemos também analisar o conceito
manutenção do equilíbrio ambiental. Outro brasileiro de ecoturismo sob o foco do de-
aspecto a ser levado em consideração é a safio a ser enfrentado para compatibilizar
adequada formulação de planos de viabili- seu caráter de atividade econômica com
dade econômica e de marketing, sem os seus dois outros aspectos definidores: por
quais o produto não se concretiza. um lado a proteção ambiental das áreas
A questão da educação do visitante deve onde se realiza e, por outro, a participação
ser entendida num sentido mais amplo den- e benefício das comunidades envolvidas,
tro do contexto de que o turismo deve ser conforme segue:
13
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

a) Potencial econômico X mostrar viável em uma determinada região,


Proteção ambiental o ecoturismo tende a atrair investidores de
porte, muitas vezes de fora da região. A
O ecoturismo tem como principal atrati- tendência é a comunidade local ser atro-
vo ambientes naturais conservados, o que pelada por um processo de desenvolvimen-
transforma unidades de conservação, públi- to de infra-estrutura e serviços onde ela figu-
cas ou particulares, em grandes alvos para o ra na melhor das hipóteses como emprega-
desenvolvimento da atividade. Garantir que da. Mas comumente é marginalizada do
o aspecto econômico não assuma pre- mercado por incapacidade de manter o
cedência sobre o ambiental significa que: mesmo nível de investimentos.
❐ A atividade só deve ser desenvolvida Geralmente, os impactos da atividade
quando o potencial de impactos ambi- ecoturística sobre as comunidades são
entais do ecoturismo é avaliado e con- percebidos apenas quando atingem grandes
siderado aceitável. Em áreas onde há dimensões e os benefícios esperados não
razões para se acreditar que o risco de ocorrem. Isso acontece porque:
degradação ambiental é maior do que a ❐ Nem sempre são utilizados os mecanis-
capacidade de controlar os impactos da mos participativos e de interpretação da
visitação o ecoturismo não deve ser percepção das expectativas e necessi-
desenvolvido, mesmo que a demanda dades dessas comunidades sobre o eco-
turística e o potencial econômico sejam turismo na fase inicial do desenvolvi-
grandes. mento da atividade.
❐ Qualquer área natural que receba a visi- ❐ A atividade começa a se desenvolver por
tação ecoturística deve possuir mecanis- força da demanda turística ao invés de
mos para o monitoramento e controle por iniciativa da comunidade local. A
de impactos ambientais. Esta é uma busca por novos destinos e atrativos é
atividade que deve ser realizada perma- atividade sempre presente no ecoturismo
nentemente. Impactos excessivos ou que e turismo de aventura. O mercado e os
não se consegue controlar por meio de próprios turistas não esperam o desen-
diferentes estratégias são razão para o volvimento de um produto para começar
fechamento da área para o ecoturismo. a visitar uma área. Ao contrário, geral-
❐ Os rendimentos econômicos do ecotu- mente o fluxo de turistas é o motivador
rismo devem colaborar para a proteção do desenvolvimento do ecoturismo. Isto
da área como um todo. O compromisso leva ao desenvolvimento descontrolado
com a conservação na atividade de eco- de infra-estrutura e serviços e freqüente-
turismo refere-se à proteção da área mente à eventual destruição dos atrativos
como um todo e não apenas das áreas naturais e culturais. O ciclo de vida do
diretamente visitadas. Pode ser feito dire- turismo é muito dinâmico e uma região
tamente, com métodos de intervenção e ou comunidade pode ser “descoberta” e
recursos financeiros e humanos de apoio “abandonada” pelo turismo com incrível
à conservação, ou indiretamente por rapidez.
meio da educação ambiental de visi-
tantes e comunidades. Este dilema possui um significado ainda
maior quando se observa o papel do turismo
b) Potencial econômico x na cadeia econômica. A receita gerada pelo
Participação e benefício turismo incrementa a circulação de moeda
da comunidade nos destinos, não só pelos gastos diretos do
turista, mas também nos indiretos. É o que
Como qualquer outra atividade chamamos de efeito econômico multipli-
econômica no mercado competitivo, ao se cador. Para que o turismo se realize não bas-
14
INTRODUÇÃO

tam os serviços da agência de viagens, do todas as fases de um projeto são de caráter


meio de transporte, do meio de hospedagem altamente dinâmicos e a integração dos diver-
e de alimentação. É preciso também sos temas em planejamento, implementação
estradas de acessos, telecomunicações, sis- e gestão é um caminho desejado. Vários capí-
tema de saúde e segurança, e até pequenos tulos possuem fases de planejamento e imple-
serviços automotivos, como borracheiros. E mentação em suas metodologias e o momen-
os seus gastos movem a economia local. to de aplicá-las caberá aos técnicos do proje-
Assim, o dinheiro circula pela economia to decidir. Como exemplo, a necessidade da
local, a partir dos gastos dos turistas, seja participação da comunidade (cap. 3.11) ou a
diretamente através de serviços turísticos adesão de voluntários (cap. 3.12) no processo
(hospedagem, alimentação, transportes e de levantamento do potencial de ecoturismo
entretenimento), nos serviços de apoio turís- (cap. 1.2). Deve-se salientar ainda que cada
tico (postos de combustíveis, comuni- capítulo apresenta uma bibliografia de refe-
cações, infra-estrutura, farmácias, postos rência, que complementa mas tampouco
telefônicos, marcenaria, agricultura etc), ou esgota as fontes disponíveis aos interessados.
indiretamente, nos recursos gerados em
impostos e taxas ou nos gastos dos presta- O Manual está composto dos seguintes
dores de serviços turísticos. tópicos e sessões:

II. O M ANUAL Introdução


Apresenta os temas turismo e ecoturis-
Disponibilizando metodologias inovado- mo, define o conceito brasileiro de ecoturis-
ras para a sustentabilidade ambiental, mo, seguido de uma discussão sobre as difi-
econômica e social de projetos de ecoturis- culdades dos projetos para alcançar os seus
mo, o Manual de Ecoturismo de Base princípios. Além disso, apresenta os nomes
Comunitária orienta o planejamento de pro- e a descrição dos projetos parceiros, o de-
jetos, sua implementação e monitoramento e talhamento do método aplicado para a ela-
a avaliação dos resultados. Onde o Manual boração deste Manual e o público-alvo a
não se basta para a execução, ele orienta quem este trabalho se dirige.
tanto a contratação de serviços como a ava-
liação do trabalho a ser realizado. O WWF-Brasil
O tema abordado nessa publicação – o e a visão para
Ecoturismo de Base Comunitária – está um turismo responsável
apresentado sob a forma de metodologias, Descreve os trabalhos desenvolvidos
onde cada capítulo apresenta ferramentas pelo Programa de Turismo e Meio Ambiente
práticas para aplicação no campo. A maio- do WWF-Brasil e sua visão de posiciona-
ria das metodologias contidas no Manual foi mento sobre turismo e ecoturismo.
testada pelos projetos parceiros. Além disso,
o Manual fornece informações sobre os pro- SEÇÃO I:
jetos parceiros e diversos estudos de casos Planejamento Estratégico –
envolvendo suas experiências na aplicação Instrumentos para planos, diagnósticos
das metodologias deste Manual. e desenvolvimento de projetos
Para facilitar a compreensão e utilização
deste Manual, sua organização é composta 1- Planejamento do Ecoturismo
por três seções que apresentam as três fases Introduz conceitos em planejamento do
principais de qualquer projeto: planejamento, turismo e do ecoturismo e orienta na elab-
implementação e gestão. A impressão de oração de planos em unidades de conser-
compartimentação do processo de viabiliza- vação, municípios ou regiões para a imple-
ção de um projeto não deve acontecer, pois mentação de um programa de ecoturismo.
15
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

2- Levantamento do Potencial 8- Programa de Capacitação


Ecoturístico (Inventário) Propicia metodologia e informações
Fornece uma metodologia participativa e básicas - tendo como base a participação
adequada à realidade local para o levanta- comunitária - para a identificação de cursos
mento de informações, propiciando a prioritários, adequação de cursos à reali-
capacitação de moradores no planejamen- dade da comunidade, valorização e capaci-
to, desenvolvimento e execução das ativi- tação de instrutores e monitores locais e
dades de inventário e pesquisa, incluindo a identificação de possíveis parceiros.
tabulação dos dados pesquisados e disponi-
bilização de resultados para realização de Seção 3
diagnóstico e planos de ações. Gestão Integrada – Instrumentos para
controle, administração e participação
3- Elaboração do Produto
Demonstra os passos básicos para a 9- Monitoramento e Controle
elaboração de produtos de ecoturismo apli- de Impactos de Visitação
cando conceitos universais de marketing. Oferece aos gerentes de áreas prottegidas,
sítios e atrativos naturais um instrumento
4- Viabilidade Econômica prático e viável que possibilite o monitora-
Discute os conceitos básicos para a mento e controle dos impactos de visitação.
avaliação de investimentos no desenvolvi-
mento de programas de ecoturismo e abor- 10 Administração e Práticas Contábeis
da os aspectos empresariais da atividade a Apresenta mecanismos práticos para
fim de garantir seu sucesso econômico. controles administrativo e contábil de um
empreendimento de ecoturismo, com
Seção 2 ênfase nos conceitos mais importantes e as
Implementação Responsável – práticas mais acessíveis para pequenas
Instrumentos para desenvolvimento físico, empresas.
educação e capacitação
11 Participação Comunitária e Parcerias
5- Infra-estrutura Detalha os elementos que compõem os
de Apoio ao Ecoturismo conceitos de “participação comunitária” e
Reúne informações sobre o planejamento “parcerias”, e apresenta um conjunto de
e implantação de infra-estrutura para o eco- métodos e estratégias para introduzir estes
turismo, utilizando tecnologias alternativas. conceitos e processos dentro de um projeto
do ecoturismo.
6- Manejo de Trilhas
Apóia a capacitação em técnicas de levan- 12 A Contribuição de Voluntários
tamento, mapeamento, implantação e manu- em Projetos de Ecoturismo
tenção de trilhas, observando-se as peculiari- Demonstra a importância do diagnóstico
dades do ecossistema e da cultura local. das necessidades e potencialidades na ela-
boração de um programa eficaz de volun-
7- Interpretação Ambiental tariado para o ecoturismo, e fornece orien-
Orienta o desenvolvimento de progra- tações gerais para seu planejamento de
mas educativos baseados na interpretação forma a ampliar o impacto social das ações
ambiental, como forma de conciliar a satis- institucionais.
fação do ecoturista e a conservação ambi-
ental e cultural das áreas visitadas. Visa tam- 13 Pesquisa na Atividade de Ecoturismo
bém promover mudanças positivas de com- Descreve a importância da pesquisa
portamento. científica no contexto do ecoturismo e
16
INTRODUÇÃO

mostra como seus resultados podem aper- III. PROJETOS PARCEIROS


feiçoar essa atividade. Pretende também
fornecer subsídios para o desenvolvimento Para desenvolver um instrumento prático
da pesquisa. e útil para técnicos leigos em ecoturismo era
necessário que o Manual fosse elaborado
No final do Manual constam ainda os por meio de um processo onde os diferentes
seguintes tópicos: temas desenvolvidos – os capítulos – fossem
testados na prática em diferentes contextos
– Glossário, com os principais conceitos ambientais, culturais e institucionais do
e definições usadas no Manual com os ter- Brasil. A composição dos projetos parceiros
mos técnicos e profissionais em turismo e do WWF-Brasil e do Manual respondeu aos
meio ambiente. critérios de diversidade de:

– Contatos dos projetos parceiros e dos ❐ Ecorregiões do Brasil.


consultores participantes; ❐ Tipos de unidade de conservação.
❐ Tipos de instituição líder.
– Carta de Quebec, com as diretrizes ❐ Tipos de proposta ecoturística.
mundiais para o desenvolvimento respon- ❐ Estágios de desenvolvimento da ativi-
sável do ecoturismo por parte de empresas, dade ecoturística.
governos, mercados, comunidades e
agentes financeiros. Nas páginas seguintes, apresentamos o
mome uma descrição detalhada de cada
projeto parceiro, incluindo um encarte col-
orido com mapa de localização e fotos dos
projetos.

Para melhor compreensão do quadro da página seguinte:

Siglas da coluna “Estágio de desenvolvimento”,

A Avançado
MO Mediano, em operação
MI Mediano, em início de operação
M Mediano

17
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

18
INTRODUÇÃO

IV. PÚBLICO-ALVO trizes, conteúdo e atividades do Manual,


além de proceder à avaliação do material
Este Manual foi pensado para ser usado produzido e testado entre as oficinas.
por técnicos de entidades que desenvolvem Com o intuito de realizar um projeto que
atividades de ecoturismo em unidades de gerasse resultados práticos e adaptáveis aos
conservação. Porém, o objetivo pode ser diferentes contextos socioculturais, políticos
mais amplo. Pode funcionar como um e ambientais do País, o WWF-Brasil realizou
instrumento de apoio a conservacionistas uma oficina visando identificar os desafios
que desejem aplicar, em suas regiões de atu- para o ecoturismo no Brasil e elaborar os
ação, o ecoturismo como alternativa de componentes do projeto que seria desen-
desenvolvimento socioeconômico e, ao volvido. A oficina reuniu representantes do
mesmo tempo, desenvolvimento ambiental WWF-Brasil, especialistas atuantes no Brasil
de áreas protegidas ou não. em diferentes e relevantes áreas para o
Por outro lado, ele será útil para alunos, desenvolvimento do ecoturismo e represen-
professores e pesquisadores de universi- tantes de organizações parceiras já enga-
dades, técnicos e planejadores de institui- jadas na promoção dessa atividade. O grupo
ções governamentais e não-governamentais, definiu que a problemática do ecoturismo
proprietários e gerentes de sítios e atrativos no Brasil poderia ser assim descrita:
e técnicos de projetos com abrangência
municipal ou regional. Se bem aplicado, O ecoturismo praticado atualmente
pode facilitar o trabalho de implantação de
no Brasil não aproveita seu potencial
projetos de ecoturismo e propiciar melhores
condições para reduzir riscos e impactos de geração de benefícios para
negativos diversos e ampliar as oportu- as comunidades e para a conservação.
nidades e resultados.
Vale ressaltar aos leitores que esta publi- O contexto apresentado acima motivou
cação é uma experiência inédita no país, a instituição de um Programa de Ecoturismo
cujo conteúdo é proveniente de vários pelo WWF-Brasil e a conceituação e desen-
autores de várias partes deste imenso Brasil. ho de um método para implementação
Por isto, sugere-se ao público-alvo, que ten- responsável de projetos que viessem de fato
tará aplicá-lo em campo, que não veja os a contribuir para orientar o mercado e
capítulos como uma metodologia acabada, comunidades rumo à elaboração e imple-
mas sim para ser adaptada frente às reali- mentação de projetos que se aproximem
dades locais e regionais. dos princípios do ecoturismo.
A todos esses leitores, sugere-se o envio de As etapas da metodologia definidas pela
sugestões e críticas ao conteúdo dos capítulos. equipe do Manual envolveram três aspectos
O WWF-Brasil está aberto para receber adap- – a definição dos participantes, o método
tações e correções metodológicas efetuadas propriamente dito e a assistência técnica
nos instrumentos aqui oferecidos a partir dos aos projetos parceiros.
resultados de suas aplicações práticas.
➨ Participantes
V. MÉTODO DE ELABORAÇÃO DO MANUAL
A experiência dos participantes no dia-a-
O método de elaboração deste Manual se dia de projetos de ecoturismo, assim como
baseou em um processo decisório participa- a sistemática de utilização e avaliação da
tivo, subsidiado por etapas de teste e avali- maioria dos capítulos na implementação
ação do material produzido. Em um período dos projetos parceiros, muito contribuíram
de dois anos e meio, foram realizadas seis para que o resultado final deste Manual
oficinas técnicas que estabeleceram dire- fosse o mais próximo possível das diferentes
19
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

realidades do ecoturismo no Brasil. Cada que já desenvolviam o ecoturismo, e mem-


projeto apontou um ou dois técnicos para bros da equipe técnica do WWF-Brasil para
participar do Manual. Apesar de ter-se bus- desenvolver tanto o conceito do Manual
cado a participação dos mesmos técnicos quanto a sua estrutura.
durante todo o Manual, em alguns casos Fazendo parte da estratégia metodológi-
isso não foi possível. Esses profissionais se ca, tanto para aprofundar a compreensão do
distribuíram da seguinte forma (ver nos conceito de ecoturismo como para subsidiar
Anexos do Manual a lista com os nomes dos a elaboração deste Manual, os participantes
participantes): da primeira oficina detalharam, segundo seu
entendimento, os princípios do ecoturismo
❐ Projeto Mamirauá: uma técnica perma- e estabeleceram as diretrizes que orientam
nente; um técnico parcial. seu desenvolvimento. Os tópicos gerais
❐ Projeto Mico-Leão-Dourado: uma técni- desses princípios, que estão detalhados no
ca permanente; um parcial. Capítulo 1.1 - Planejamento do Ecoturismo,
❐ Projeto Superagui: duas técnicas perma- são:
nentes; um parcial.
❐ Projeto Silves: um técnico e um comu- a) O ecoturismo deve contribuir para
nitário permanentes. a conservação do meio ambiente;
❐ Projeto Estrada Parque Pantanal: uma b) O ecoturismo deve promover a
técnica da Secretaria Estadual de Meio valorização cultural das comunidades,
Ambiente permanente; dois técnicos da bem como sua capacitação para o
Secretaria Municipal de Meio Ambiente gerenciamento participativo e de
e Turismo parciais. mínimo impacto dos recursos
❐ Projeto Veadeiros: dois técnicos/comu- envolvidos;
nitários permanentes; um técnico/comu- c) O ecoturismo deve buscar a
nitário parcial. diversificação e integração econômica
❐ Projeto TAMAR / Noronha: um técnico para a melhoria da qualidade de vida
permanente. das comunidades;
❐ Projeto de Ecoturismo de Rondônia: d) No desenvolvimento do ecoturismo,
uma técnica permanente; dois comu- a integração e equilíbrio entre
nitários parciais. conservação ambiental, respeito pela
❐ WWF-Brasil: duas técnicas permanentes; cultura local e a diversificação
sete técnicos parciais. de atividades econômicas devem
❐ Consultores: cinco permanentes; quatro ocorrer via processo participativo.
parciais.
❐ Colaboradores: seis técnicos que partici- Assim, foi nesta oficina que as diretrizes
param apenas da oficina sobre partici- orientadoras do Manual, seu conteúdo,
pação e parcerias (ver descrição de cada estrutura inicial e cronograma de elabo-
oficina abaixo). ração foram definidos. Além disso, os par-
ticipantes da oficina distribuíram entre si a
➨ Método responsabilidade de elaborar a primeira ver-
são dos diferentes capítulos que vieram a
Foram realizadas seis oficinas entre 1996 compor este Manual.
e 1999. A primeira, realizada em novembro Os elementos básicos do método de
de 1996, reuniu diversos consultores com implementação do projeto de ecoturismo do
experiência em áreas-chave para o desen- WWF-Brasil foram assim definidos:
volvimento do ecoturismo (que se transfor-
maram em capítulos do Manual), represen- ❐ Oficinas de capacitação e elaboração do
tantes de projetos parceiros do WWF-Brasil Manual. Foram planejadas quatro outras
20
INTRODUÇÃO

oficinas, com quatro sessões cada: (a) de subsidiar a elaboração do capítulo


apresentação e discussão dos trabalhos Participação Comunitária e Parcerias.
realizados no período anterior à oficina; Participantes do Manual com experiên-
(b) capacitação nos diferentes temas do cia no desenvolvimento de processos de
Manual, com base nos esboços iniciais participação e parceria foram reunidos
dos capítulos; (c) avaliação e aperfeiçoa- com colaboradores convidados especial-
mento dos capítulos com base na expe- mente para a oficina (ver relação de
riência de sua implementação; (d) plane- nomes nos anexos). O capítulo resul-
jamento de atividades para o período tante desta oficina foi apresentado para o
seguinte. Buscou-se realizar as oficinas restante do grupo do Manual na última
nas áreas de desenvolvimento dos proje- oficina de capacitação. Assim, somando-
tos, colaborando para a troca de expe- se todas as oficinas realizadas para a
riências entre os participantes. Uma elaboração e implementação do Manual,
quinta oficina foi realizada com o intuito foram realizadas seis oficinas:

OFICINAS REALIZADAS DURANTE O MANUAL


OFICINA DATA LOCAL CONTEÚDO BÁSICO

Elaboração e Novembro de Projeto Veadeiros: Conceituação do Manual,


Planejamento 1996 Alto Paraíso, GO. diretrizes, estrutura e planejamento.
Capacitação 1 Setembro de Projeto Silves: Capacitação em levantamento de
1997 Silves, AM. Potencial Ecoturístico, Viabilidade
Econômica, Manejo de Trilhas e
Interpretação Ambiental
Capacitação 2 Março de Projeto Mico-Leão- Capacitação em Elaboração de
1998 Dourado: Silva Produto, Participação e Parcerias,
Jardim, RJ. Pesquisa e Voluntários
Capacitação 3 Setembro de Projeto Estrada- Capacitação em Monitoramento e
1998 Parque Pantanal: Controle de Impactos de Visitação,
Corumbá, MS. Programas de Capacitação, Infra-
estrutura de Apoio ao Ecoturismo e
Práticas de Administração e
Contabilidade.
Participação e Novembro de Brasília, DF. Conceituação e elaboração de
Parcerias 1998 passos metodológicos.
Capacitação 4 Maio de 1999 Brasília, DF. Apresentação do capítulo de
Participação e Parcerias, elaboração
dos exemplos referentes a cada
projeto, avaliação final dos capítulos,
elaboração de estratégias de
disseminação e multiplicação do
Manual, planejamento da fase
seguinte do Programa de
Ecoturismo do WWF-Brasil:
a certificação.

21
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

❐ Assistência técnica para implementação BIBLIOGRAFIA


de atividades planejadas nas oficinas. O
WWF-Brasil garantiu a assistência técni- WHELAN, T. (ed.). 1991. Nature Tourism.
ca aos projetos parceiros de duas formas. Washington, DC: Island Press.
Primeiro, por meio da visita dos consul- BORGES, M. M. 1995. Tourism on the Rio
tores aos projetos durante os intervalos Araguaia, Brazil: Tourist’s perceptions
entre as oficinas (por exemplo, no inter- and motor boat erosion. (Dissertação de
valo entre as oficinas de capacitação 1 e Mestrado) -- Department of Geography
2, dois projetos receberam a visita técni- and Recreation. University of Wyoming,
ca do consultor em manejo de trilhas). WY, EUA.
Segundo, durante as oficinas, parte do EMBRATUR. 1994. Diretrizes Para uma
período de trabalho foi alocado para a Política Nacional de Ecoturismo. Sílvio
assistência técnica individualizada (por M. de Barros II e Denise H. de La Penha
projeto). Cada projeto pôde discutir com (Coord.). Embratur. Brasília,DF.
os diversos consultores presentes aspec- SALVATI, S. S. 2002b. Turismo responsável
tos sobre o planejamento e implemen- como instrumento de desenvolvimento e
tação das atividades que estavam desen- conservação da natureza. In: Diálogos
volvendo. Assim, buscou-se atender às entre a esfera global e local: con-
necessidades de cada projeto, em dife- tribuições de organizações não governa-
rentes fases de implementação do ecotu- mentais e movimentos sociais brasileiros
rismo, mesmo que a atividade ainda não para a sustentabilidade, eqüidade e
tivesse sido abordada na capacitação. democracia planetária. Rubens Born
[org.]. São Paulo: Peirópolis.

22
O WWF–Brasil
e o Turismo Responsável

Sérgio Salazar Salvati

m 1996, iniciaram-se os primeiros como o patrimônio histórico-cultural como

E projetos de conservação e desenvolvi-


mento do WWF-Brasil que incluíam o
incentivo ao ecoturismo como uma das
base essencial para o desenvolvimento
responsável do turismo, contribuindo para a
sustentabilidade da atividade a longo prazo.
alternativas para o uso sustentável dos O WWF acredita que o ideal do “turismo
recursos naturais. Atualmente, o WWF- sustentável” é, atualmente, demasiado
Brasil possui a maior carteira de projetos em ambíguo e discutível pois o mercado
turismo e meio ambiente do Terceiro Setor envolve aspectos de difícil solução como,
no Brasil. por exemplo, o controle das emissões de
Atuando em nível nacional, o WWF- CO2 dos transportes aéreos, responsáveis
Brasil está trabalhando com turismo onde há por 3% do total de emissão dos "gases estu-
ameaças à conservação da natureza ou fas". O WWF-Brasil prefere trabalhar com o
onde o turismo possa ajudar na busca por termo “turismo responsável” no contexto de
soluções. Com um enfoque integrado, a uma estratégia para a sustentabilidade
missão estabelecida para o Programa prevê: ampla (social, econômica e ambiental).

Contribuir para a manutenção Turismo responsável é aquele que mantém


das paisagens e da biodiversidade de áreas e, onde possível, valoriza as características
prioritárias para a conservação por meio dos recursos naturais e culturais nos
do turismo responsável. destinos, sustentando-as para as futuras
gerações de comunidades, visitantes
Para o WWF-Brasil, o turismo, em uma e empresários.
nova concepção estratégica, deve ser um
conjunto de bens e serviços que promova o
Dentro do conceito de turismo respon-
desenvolvimento sócio-econômico em nível
sável, o ecoturismo de base comunitária
local. Assim, não deve ser considerado
pode ser descrito como:
somente como a implantação de meios de
hospedagem, alimentação e locais de
recreação e lazer, mas sim um conceito que Turismo realizado em áreas naturais,
integra o desenvolvimento urbano e rural, determinado e controlado pelas
criando um novo pólo de desenvolvimento comunidades locais, que gera benefícios
com investimentos em infra-estrutura, vias predominantemente para estas e para as
de acesso e na melhor qualidade nos
serviços de educação, saúde, saneamento e áreas relevantes para a conservação
segurança. da biodiversidade.
Há também que valorizar e proteger as
paisagens e sua diversidade biológica, assim Uma variedade de instrumentos é
23
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

requerida para o alcance do turismo respon- O ordenamento territorial, o monitora-


sável. Isto inclui políticas e regulamentos, mento contínuo dos impactos ambientais e
planejamento integrado em nível nacional, o respeito às paisagens naturais e às áreas
regional e local, principalmente para o zo- protegidas podem ajudar a evitar impactos
neamento, uso e ocupação do solo e de negativos em áreas sensíveis. Sempre que
áreas protegidas, incentivos e códigos de éti- apropriado e possível, devem ser usados
ca e de conduta empresarial, diretrizes seto- instrumentos e incentivos econômicos para
riais para o mercado, campanhas de educa- alcançar o turismo responsável. Em particu-
ção do visitante e esquemas de certificação. lar, o princípio poluidor-pagador deve ser
Para ser efetivo, estes instrumentos precisam aplicado na mitigação de impactos.
ser integrados e combinados em uma políti- O turismo deve apoiar a conservação da
ca nacional com estratégias específicas natureza, especialmente a proteção da vida
definidas em programas e projetos. selvagem nos ecossistemas terrestres, aquá-
ticos, costeiros e marinhos e evitar contri-
OS PRINCÍPIOS DO TURISMO buir para a fragmentação e a degradação
RESPONSÁVEL das paisagens naturais, que reduzem a qua-
lidade da experiência do turista e impactam
O WWF-Brasil acredita que o mercado negativamente o ambiente.
turístico precisa aceitar a responsabilidade O turismo deve ser planejado de modo a
por seus impactos no ambiente natural e nas prevenir a degradação de sítios arqueológi-
populações e ativamente buscar reconhecê- cos, históricos, pré-históricos, científicos e
los e lidar com sua redução. E neste sentido, remanescentes e deve apoiar ativamente a
os seguintes princípios são oferecidos como sua conservação. O turismo deve obedecer
diretrizes para os temas que o WWF-Brasil a convenções internacionais e leis nacio-
acredita que devem ser considerados na nais, estaduais e locais que apóiam o desen-
busca pelo turismo responsável: volvimento sustentável e a conservação.
Onde tal regulamentação não existir, o setor
• O turismo deve ser parte de um desen - do turismo deveria tomar a iniciativa de
volvimento sustentável amplo e de incentivá-las ou criá-las.
suporte para a conservação
O turismo deve ser compatível e fazer • O turismo deve usar os recursos naturais
parte de planos em níveis internacional, de modo sustentável
nacional, regional e local de desenvolvi- A conservação e o uso sustentável dos
mento sustentável e de conservação. Deve recursos naturais são essenciais para
ser planejado, administrado e empreendido manutenção de um meio ambiente sadio
de modo a evitar danos à biodiversidade e em longo prazo. A concentração de turistas
ser ambientalmente sustentável, economi- no tempo e no espaço pode impor um sa-
camente viável e socialmente eqüitativo. crifício muito pesado a recursos naturais
Todo o desenvolvimento do turismo deve como a água. Sistemas de manejo turístico
ser empreendido com uma visão preventiva. devem se esforçar para distribuir, da melhor
O turismo não deve comprometer as opor- forma, os fluxos turísticos ao longo do ano e
tunidades de uma economia local diversifi- a renda obtida deve apoiar tecnologias e
cada, deve ser empreendido dentro dos estratégias de uso sustentáveis.
“limites aceitáveis de mudança” (ou capaci- Esportes e atividades ao ar livre, incluin-
dade de carga) e em preferência a outras do caça amadora e pesca em áreas ecologi-
formas de desenvolvimento potencialmente camente sensíveis, devem obedecer aos re-
mais prejudiciais. No caso de o próprio tu- gulamentos existentes em conservação e
rismo ser a atividade mais prejudicial, ele uso sustentável de espécies e habitats. Onde
deve então ser evitado. os regulamentos são ineficazes, as ativi-
24
O WWF-B RASIL E O TURISMO RESPONSÁVEL

dades turísticas devem buscar orientação de • O turismo deve ser informativo e educa -
especialistas e o conhecimento da área de cional
interesse. Educação, conscientização e capaci-
tação compõem a base do turismo respon-
• O turismo deve eliminar o consumo sável. Todos os integrantes do setor devem
insustentável e minimizar a poluição e o ser alertados sobre seus impactos positivos e
desperdício negativos e encorajados a serem respon-
Reduzindo a poluição e o consumo, os sáveis e apoiar a conservação por meio de
danos ambientais também serão menores, suas atividades. Isto inclui o mercado, os
melhorando a experiência do turismo, governos locais e nacionais, as comu-
reduzindo os custos operacionais e de nidades locais e os consumidores. Os turis-
recuperação do ambiente. O consumo de tas devem receber informações sobre assun-
combustíveis fósseis e o transporte motor- tos ambientais, culturais e sociais como
izado, dentro e no entorno dos destinos ponto essencial da viagem. Sempre que pos-
devem ser evitados sempre que possível. É sível, deve haver a oportunidade de os visi-
preciso ter atenção particular aos impactos tantes compartilharem a cultura e as
ambientais causados pelo tráfego aéreo, tradições locais.
especialmente em áreas ecologicamente
sensíveis. A busca por fontes de energia
mais limpas e o uso eficiente do recurso AS ESTRATÉGIAS DO PROGRAMA
são essenciais.
O WWF-Brasil entende que a estratégia
• O turismo deve respeitar as culturas para o desenvolvimento responsável do tu-
locais e prover benefícios e oportu - rismo no Brasil deve considerar, entre outras
nidades para as comunidades locais questões:
As comunidades locais têm o direito de
manter e controlar a sua herança cultural e – O planejamento integrado, através da
assegurar que o turismo não tenha efeito articulação política intersetorial entre
negativo sobre ela. O turismo deve então todos os atores da atividade: ONG's
respeitar os direitos e desejos dos povos (ambientalistas e sociais), comunidades,
locais e prover a oportunidade para que academia, mercado, governo, mídia e
amplos setores da comunidade contribuam turistas;
nas decisões e nas consultas sobre o plane- – A normatização e regulamentação da
jamento e a administração do turismo. atividade, principalmente com relação
D e ve-se levar em consideração as ao uso e ocupação do solo, códigos
tradições locais nas construções, ou seja, é ambientais e planos de desenvolvimento
preciso que o desenvolvimento ar- responsável do turismo em todos os
quitetônico seja harmônico com o ambi- níveis;
ente e a paisagem. O conhecimento e a – A efetiva participação das comunidades
experiência das comunidades locais em envolvidas nos destinos turísticos nas
manejo sustentável dos recursos podem tomadas de decisão para o planejamento
trazer uma grande contribuição para o tur- e gestão da atividade;
ismo responsável. O turismo deve respeitar – A valorização de áreas naturais prioritá-
e valorizar o conhecimento e as experiên- rias para a conservação da biodiversidade;
cias locais, buscando maximizar os benefí- – A efetiva implementação e gestão susten-
cios para as comunidades e promover o tável e participativa das áreas protegidas,
recrutamento, treinamento e emprego de com foco na conservação da biodiversi-
pessoas do lugar. dade e bem-estar das comunidades de
entorno;
25
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

– A sustentabilidade de áreas naturais, pro- criação de um Conselho Brasileiro de


tegidas ou não, e suas populações, Turismo Sustentável (CBTS) de amplo
inseridas em regiões com dificuldades de espectro de representatividade.
desenvolvimento econômico, comple-
mentando e incrementando as atividades
econômicas tradicionais; OS PROJETOS EM DESENVOLVIMENTO
– A capacitação profissional das empresas
e das comunidades para a implantação Os projetos em turismo do WWF-Brasil
de modelos de ecoturismo; possuem alcance nacional, envolvendo par-
– A educação de consumidores, funcio- ceiros locais ou intervenções diretas, em
nários e fornecedores de serviços turísti- projetos de campo na Amazônia, na Mata
cos para o turismo socialmente e ambi- Atlântica, no Cerrado, no Pantanal e na
entalmente amigável; Zona Costeira. O mapa abaixo localiza os
– A certificação para o turismo, através da projetos de campo.

26
O WWF-B RASIL E O TURISMO RESPONSÁVEL

As linhas de ações do Programa, os pro- volvimento são:


jetos e atividades atualmente em desen-
LINHAS DE AÇÃO PROJETOS E ATIVIDADES RELACIONADAS

1.Capacitação em Ecoturismo de Base Comunitária – ➼ Desenvolvimento de metodologias por meio da pub-


contribuindo para seu desenvolvimento como ferra- licação “Manual de Ecoturismo de Base
menta para a conservação da natureza e alternativa Comunitária”
na geração de benefícios socioeconômicos ➼ Apoio e promoção do Turismo Comunitário por
meio de projetos de campo e da página
www.turismocomunitario.org.br
➼ Treinamento nas ecoregiões
2. Desenvolvimento de “Modelos de Ecoturismo” com Projetos de campo:
foco no fortalecimento da base comunitária, por ➼ Estímulo ao ecoturismo no entorno do Parque
meio de assistência técnica Nacional da Chapada dos Veadeiros/GO
➼ Apoio a comunitários ribeirinhos para a construção e
gestão da Pousada Aldeia dos Lagos, Silves/AM
➼ Apoio a comunitários seringueiros para a construção
e gestão da Pousada Pedras Negras e Centro de
Visitantes, Vale do Guaporé / RO

3. Planejamento de Ecoturismo em Unidades de Projetos de campo:


Conservação – propondo, apoiando e implementan- ➼ Ecoturismo na Estrada-parque Pantanal, Corumbá e
do o planejamento participativo em projetos de Ladário/MS
campo, por meio de pesquisas e assistência técnica ➼ Ecoturismo na Estrada Transpantaneira, Poconé/MT
➼ Uso Recreativo no PARNA Chapada dos Vea-
deiros/GO
➼ Uso Recreativo no PARNAMAR de Fernando de
Noronha/PE
➼ Uso Recreativo no PETAR, Vale do Ribeira, SP
➼ Uso Recreativo no PE Pedra Branca, Rio de Janeiro, RJ

4. Educação e Informação – disseminando informações ➼ Apoio à Rede Brasileira de Ecoturismo, lista de dis-
e promovendo atividades de educação ambiental cussão
para o ecoturismo, propondo alternativas para con- ➼Apoio à “Campanha Pega Leve - Mínimo Impacto em
scientização dos consumidores Áreas Naturais”, visando a conduta consciente de
viajantes em ambientes naturais.

5. Políticas Públicas e Privadas em Turismo e ➼ Apoio a discussão sobre a regulamentação do eco-


Ecoturismo – participando ativamente do debate em turismo no CONAMA
torno das políticas de desenvolvimento do setor ➼ Desenvolvimento do Plano Estratégico do
turístico, propondo alternativas e planos nacionais e Ecoturismo no Vale do Ribeira, SP
regionais, assim como diretrizes e regulamentação ➼ Debate sobre políticas públicas locais, por meio da
publicação "Turismo Responsável: Manual para
Políticas Locais"
➼ Desenvolvimento de software para facilitar a gestão
ambiental na pequena e média hotelaria

6. Certificação em Turismo – apoiando um processo ➼ Contribuição para a criação do Conselho Brasileiro


independente e participativo de certificação, com de Turismo Sustentável (CBTS)
base em pesquisas e projetos de campo ➼ Participante dos conselhos executivos da proposta
no Brasil
➼ Disseminação de informações sobre o processo por
meio da página www.cbts.org.br
➼ Apoio à Rede CBTS, lista de discussão do processo
de certificação do turismo sustentável
27
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

AS PARCERIAS Ambiente e dos Recursos Naturais


Renováveis
O WWF-Brasil trabalha em parceria com – IH – Instituto de Hospitalidade /BA
o mercado, governos, comunidades locais, – Imaflora/AM
organizações multinacionais, organizações – Instituto Ecofuturo – Cia. Suzano de
não-governamentais e com a sua própria Papel/SP
Rede para que o turismo no Brasil projete a – Instituto Ing Ong/SP
sua sustentabilidade sob os enfoques da – Instituto Terra Mar/CE
capacitação de empresas e comunidades, – Instituto Vitae Civilis/SP
educação de consumidores e empresários, – Parque Estadual da Pedra Branca,
regulamentação governamental e mecanis- Instituto Estadual de Florestas/RJ
mos de certificação. – Parque Estadual Turístico do Alto Ribei-
Os principais parceiros, executores ou ra/Instituto Florestal – Secretaria do Meio
apoiadores dos projetos que o WWF-Brasil Ambiente do Estado/SP
executa ou participa são: – Parque Hotel Passo do Lontra,
Corumbá/MS
– ACV-CV – Associação dos Condutores de – Parque Nacional da Chapada Veadeiros/GO
Visitantes da Chapada dos Veadeiros/GO – Parque Nacional Marinho de Fernando
– Agenda de Ecoturismo do Vale do de Noronha/IBAMA/PE
Ribeira/SP – Pró-Várzea/IBAMA/MMA
– AGUAPÉ – Associação dos Seringueiros – Rainforest Alliance / Costa Rica
do Vale do Guaporé, Costa Marques/RO – Rede Brasileira de Ecoturismo
– ASPAC – Associação de Silves para a – Sebrae/GO
Proteção Ambiental e Cultural, Silves/AM – Secretaria Estadual de Meio Am-
– BID – Banco Interamericano de biente/MS
Desenvolvimento – Secretaria Municipal de Meio Ambiente,
– Bioma Cerrado, São João da Aliança/GO Cultura e Turismo de Corumbá, MS
– Brazil Nature/SP – Secretaria para Políticas de Desen-
– CBTS – Conselho Brasileiro de Turismo volvimento Sustentável/MMA
Sustentável – UNIMEP – Universidade Metodista de
– CET – Centro de Excelência em Turismo, Piracicaba/SP
Brasília/DF
– CEU – Centro Excursionista Universitário/SP AS PUBLICAÇÕES
– CNRBMA – Conselho Nacional da Re-
serva da Biosfera da Mata Atlântica/SP A partir das experiências de campo, ou
– Comitê Gestor da Estrada Parque por meio de pesquisa em nível nacional,
Pantanal, Corumbá/MS diversos documentos vêm sendo elabora-
– Diretoria de Ecossistemas/Ibama/MMA dos. Baseados em pesquisas e estudos
– ECOPORÉ – Ação Ecológica Guaporé, de consultoria, visam contribuir para os
Porto Velho/RO objetivos do Programa e para servir de
– FEMA – Fundação Estadual de Meio modelos para outras entidades, governos e
Ambiente/MT mercados.
– Fundação Ecotrópica/MT
– Fundação Pró-Tamar/Ibama/PE ❐ MANUAL DE ECOTURISMO: FERRA-
– Fundação SOS Mata Atlântica/SP MENTAS PARA UM PLANEJAMENTO
– GOPAN – Grupo de Operadora do Pan- RESPONSÁVEL – publicação contendo
tanal, Campo Grande/MS 13 ferramentas práticas para o planeja-
– GRUDE – Grupo de Defesa Ecológica/RJ mento, implementação e gestão do eco-
– IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio turismo.
28
O WWF-B RASIL E O TURISMO RESPONSÁVEL

❐ USO RECREATIVO NO PARQUE a ser lançada, trata de um amplo debate


NACIONAL MARINHO DE FERNAN- sobre a importância do incentivo e con-
DO DE NORONHA: UM MODELO DE trole do turismo por meio de políticas
PLANEJAMENTO E IMPLEMENTAÇÃO – públicas locais.
baseado em trabalho de pesquisa e na
implementação do planejamento e ❐ DIVERSOS – folders, cartilhas, mapas,
gestão do ecoturismo em Parque sites e demais materiais promocionais
Nacional. dos projetos de campo, educativos ou
com enfoque turístico, que são constan-
❐ CERTIFICAÇÃO EM TURISMO: LIÇÕES temente publicados pelo Programa.
MUNDIAIS E RECOMENDAÇÕES PARA
O BRASIL – apresenta no Brasil o tema, Para maiores informações:
focando nas principais recomendações
para a elaboração e aplicação de um sis- WWF–Brasil
tema de normas e padrões de sus- Programa de Turismo e Meio Ambiente
tentabilidade para o turismo. SHIS EQ/QL 6/8, Conjunto E – Lago Sul
– Brasília – DF – 71620-430
❐ TURISMO RESPONSÁVEL: MANUAL panda@wwf.org.br –
PARA POLÍTICAS LOCAIS – publicação Fone: (61) 364-7400 – Fax: 364-7474

29
PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

1. Planejamento
do ecoturismo
Sérgio Salazar Salvati (1)

1
I. OBJETIVOS tação do ecoturismo, atendendo aos seus
princípios.
ste capítulo tem como objetivo deli- O ecoturismo vem trazendo algumas

E near os diferentes tipos e níveis de


planejamento do ecoturismo, a partir
de uma base bem delimitada de princípios
importantes lições para a busca da sus-
tentabilidade no mercado do turismo
mundial. A atual discussão sobre o turismo
sustentável dentro de importantes organiza-
e características desejáveis para seu desen-
volvimento responsável. O planejamento é ções mundiais como a UNEP (United
uma atividade interdisciplinar, dinâmica, Nations Environment Program), OMT
contínua e presente em todas as diversas (Organização Mundial de Turismo), WTTC
fases do desenvolvimento do turismo, e que (World Travel and Tourism Council), BID
deve representar os anseios de diferentes (Banco Interamericano de Desenvolvi-
atores de interesse. Assim, serão abordados mento), GEF (Global Environment Facility),
os diferentes objetivos e contextos para sua entre outras, nada mais é do que o reflexo da
elaboração, assim como as diferentes abor- introdução dos métodos desenvolvidos para
dagens em que o planejamento pode se planos de ecoturismo sendo adotados e repli-
inserir. cados para o mercado convencional. Essas
Cabe ressaltar que cada capítulo que metodologias são, no caso do ecoturismo,
compõe este Manual pode ser considerado essenciais para se alcançar seus objetivos de
como um guia de planejamento, implemen- conservação e desenvolvimento local.
tação e gestão das diferentes atividades e A sustentabilidade defendida pelos
processos que compõem o desenvolvimento princípios do ecoturismo não deve ser
do ecoturismo. Mais específicamente, este entendida como um fim a ser alcançado em
capítulo deve ser estudado em conjunto planos, programas e projetos. Na verdade
com o capítulo de Participação e Parcerias. devemos perceber a sustentabilidade como
as condições ótimas de desenvolvimento do
II . I NTRODUÇÃO CONCEITUAL ecoturismo, e atentar aos seus princípios, os
quais podem não estar presentes em todos
Para o planejamento do ecoturismo não os momentos. Instabilidade de mercados,
bastam técnicas e ferramentas práticas de alterações no perfil e nas tendências dos
elaboração de planos e projetos. Desta viajantes, proliferação de doenças tropicais,
forma entende-se que refletir intensamente alterações nas políticas de desenvolvimento
sobre a atividade e seus objetivos de sus- e investimentos regionais e nacionais são
tentabilidade econômica social e ambiental algumas das externalidades que podem afe-
é fundamental para o sucesso na implan- tar a sustentabilidade de projetos. Daí a

(1) – NOTA DO AUTOR: Este capítulo contou com a contribuição técnica de Marcelo de Oliveira Sáfadi,
Sylvia Mitraud e Marcos Martins Borges.
33
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

importância de processos de monitoramen- lhe permitirão transformá-la de acordo com


to e de re-planejamento como itens funda- seus interesses e aspirações.
mentais para o sucesso do desenvolvimento Com base nos conceitos acima, devemos
do ecoturismo. Além disso, o ecoturismo considerar o planejamento como um
não pode ser a única alternativa econômica, processo dinâmico e contínuo de definição
ou a predominante, num município ou de objetivos, metas e ações, de forma
região, pois qualquer alteração na deman- integrada entre os diversos agentes sociais
da, como, por exemplo, o aparecimento de de interesse. Esta afirmativa torna-se mais
destinos concorrentes, pode levar todo um complexa quando pensamos nas diferentes
município ou uma região a ter problemas de dimensões em que se pode adotar planos e
1 ordem econômica e social em função da programas visando alcançar uma desejada
lacuna na geração de receitas. situação futura. Estas dimensões de planeja-
Para melhor entendimento serão aborda- mento consideram os seguintes elementos:
dos nesta Introdução os conceitos básicos ❐ elemento temporal – planejamento de
sobre processos de planejamento, e especi- curto, médio e longo prazo;
ficamente sobre planejamento do ecoturis- ❐ elemento político – regulador, incenti-
mo, sob uma ampla visão de sustentabili- vador, financiador, integrado;
dade econômica, social e ambiental. ❐ elemento administrativo – público ou
privado;
1. O planejamento - ❐ elemento social – participativo ou de
conceito, objetivos e processos gabinete;
❐ elemento geográfico – internacional
lanejamento pode ser entendido como a (continente, bloco de países, regiões
P definição de estratégias e meios para
sair de uma situação atual visando alcançar
trans-fronteiriças), nacional (país ou
macroregiões), regional (delimitado por
uma situação futura desejada. Parece não bacias hidrográficas, por pólos de desen-
ser percebido pela sociedade, mas o plane- volvimento, por grandes parques), local
jamento está em nosso cotidiano profissio- (municipal) ou sítio (propriedades, áreas
nal e familiar. Por exemplo, ao planejar um protegidas de pequeno porte).
novo emprego, um profissional estabelece
objetivos (ser valorizado em um novo PLANOS, PROGRAMAS E PROJETOS
emprego), metas (alcançar o objetivo em 6
meses), recursos (curriculum, tempo e di- Não devemos confundir planos
nheiro) e métodos (pesquisar em jornais, com programas e projetos. Um plano
falar com amigos e participar de entrevis- é uma grande missão, é o objetivo maior
tas). Esta idéia de planejamento vem sendo almejado de um governo ou entidade,
definida de várias formas e algumas delas
sem maiores detalhamento de projetos
foram compiladas por Barreto (2000):
❐ planejar é decidir antecipadamente o ou atividades. Envolvem diretrizes gerais
que deve ser feito; para serem adotados por setores ou
❐ planejar é determinar objetivos e meios regiões, incluindo a identificação da fonte
para seu alcance; de recursos e dos responsáveis por ações
❐ planejar é projetar um futuro desejado e os
meios específicos para torná-lo realidade. de implementação. O plano pode possuir
programas específicos (capacitação,
Ignarra (s.d) afirma que planejamento é conservação, envolvimento comunitário,
um processo lógico de pensamento me- marketing, patrimônio histórico etc.),
diante o qual o ser humano analisa a reali-
dade que o cerca e estabelece meios que que podem ser setorizados
34
Planejamento do ecoturismo – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

ou regionalizados, e demonstra Como o planejamento deve ser visto


praticamente como se alcança os objetivos de forma integrada, alguns projetos
do plano. Cada programa possui projetos, são elaborados de forma a poderem
que são compostos por atividades ser executados utilizando-se
detalhadas que devem ser conduzidas dos métodos integrados de intervenção,
para se concretizar os programas. estabelecendo-se parcerias e otimizando
Por exemplo, o WWF-Brasil possui recursos humanos e financeiros.
uma missão conservacionista (“contribuir
para que a sociedade brasileira conserve Alguns consultores adotam outras visões 1
a natureza, harmonizando a atividade para se definir o escopo do planejamento,
humana com a preservação classificando-os em estratégico, tático e
operacional. O planejamento estratégico
da biodiversidade e com o uso racional
seria aquele em que se projeta um espaço
dos recursos naturais, para o benefício de tempo de implementação de médio a
dos cidadãos de hoje e das futuras longo prazo. Isto pode ocorrer também em
gerações”) que deve ser alcançada função da dificuldade em se obter dados
por meio de vários programas específicos fundamentais e os recursos necessários para
o plano. O planejamento tático, por outro
que envolvem biomas e temas estratégicos.
lado, envolve um horizonte de tempo inter-
O turismo foi identificado como uma mediário, cerca de um ano, enquanto o
das ferramentas para se alcançar planejamento operacional é implementado
os objetivos da missão (ou do plano). em curto prazo, semanas ou meses.
Assim, o Programa de Turismo e Meio Obviamente que para estes dois últimos
níveis de planejamento deve-se contar com
Ambiente possui uma carteira de projetos uma base ampla e sólida de dados, e os
que visam "contribuir para recursos técnicos e financeiros devem já
o desenvolvimento do turismo responsável estar disponíveis.
no Brasil em áreas prioritárias para Além de contínuo, o planejamento deve
ser flexível. Um planejamento participativo
a conservação da natureza". Estes projetos
e que possua momentos freqüentes de ava-
envolvem fomento ao ecoturismo, liação, permite ajustes em todas as suas
ao turismo de base comunitária, fases (do diagnóstico ao monitoramento da
ao ordenamento da visitação em Parques, implementação e gestão). Somente se obser-
campanhas de conscientização de visitantes varão ajustes se houver um processo conti-
nuado de coleta de informações e de con-
em áreas naturais, certificação do turismo
sultas aos diretamente envolvidos e interes-
sustentável entre outros. sados sobre os resultados. Durante a imple-
Muitos destes projetos dividem-se mentação, e de acordo com a disponibili-
em sub-projetos e atividades, cada uma dade de recursos humanos e financeiros, é
com metas e recursos próprios. muito comum optar-se por estabelecer prio-
ridades de intervenção. E após sua imple-
No caso do Ecoturismo, o planejamento mentação, com a capacidade técnica insta-
pode possuir, então, vários programas lada e com o suporte do conhecimento já
que permitem atingir os princípios adquirido, aliado à adoção de sistemas de
do ecoturismo e definir os projetos monitoramento, deve-se prever revisões,
atualizações e correções nos objetivos e nos
que são necessários para alcançá-los.
métodos estabelecidos.
35
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

Durante o desenvolvimento de progra- crescimento mais rápido na economia


mas e projetos de ecoturismo, os benefícios mundial, considerado um fenômeno pelo
gerados por um planejamento adequado mundo inteiro, e envolvendo um número
podem ser vitais para o sucesso da emprei- crescente de postos de trabalho.
tada. O planejamento evita riscos demasia- Porém, enquanto o turismo pode con-
dos, permite maximizar os benefícios para a tribuir sensivelmente para o desenvolvimento
conservação e incrementar o envolvimento sócio-econômico e cultural de amplas
e a organização comunitária. Além disso, regiões, tem, ao mesmo tempo, o potencial
otimiza recursos humanos e financeiros. E, para degradar o ambiente natural, as estru-
atendendo aos princípios do ecoturismo, o turas sociais e a herança cultural dos povos.
1 planejamento contribui para que seu proje- Para países como o Brasil, o turismo, em uma
to minimize os impactos indesejáveis nos nova concepção estratégica, deve ser enten-
recursos naturais e culturais. dido como um conjunto de bens e serviços
Sem planejamento não se pode buscar que promova o desenvolvimento em nível
parceiros, financiamentos e apoios, pois não local. Assim, não pode ser considerado
está claro para os futuros parceiros qual a somente como a implantação de meios de
situação que se deseja alcançar, quais obje- hospedagem e alimentação e locais de visi-
tivos e resultados serão almejados e quais os tação e lazer, mas também como um con-
meios e técnicas de que se dispõe. Assim, ceito que integra o desenvolvimento urbano
possuir um bom planejamento facilita a e rural, criando um novo pólo de desenvolvi-
avaliação e a tomada de decisão por parte mento econômico diversificado, com investi-
de parceiros e investidores. mentos em infra-estrutura, nas vias de acesso
Para se aprofundar melhor sobre o plane- e melhor qualidade nos serviços de edu-
jamento aplicado para o desenvolvimento cação, saúde e segurança. (SALVATI, 2002a).
turístico, o item 2 abaixo apresenta algumas O turismo em uma comunidade se ca-
reflexões sobre essa atividade. racteriza pela oferta de pelo menos cinco
elementos: atrativos, serviços, infra-estrutu-
2. O turismo, seus componentes, ra, comunidades e turistas, que atuam de
benefícios e desvantagens forma interrelacionada, objetivando gerar os
benefícios desejados.
turismo é movimento de pessoas, é
O integração entre povos, é fenômeno
econômico e social. Turismo é deslocamen-
Dentro da comunidade incluem-se
vários segmentos da sociedade que podem
beneficiar-se do turismo. Os mais envolvi-
to e permanência voluntária fora de seu dos, e também responsáveis pelo seu suces-
local de residência. Turismo é um conjunto so, são os moradores locais, os proprietários
de bens e serviços tangíveis e intangíveis. (de terra e estabelecimentos comerciais) e o
Fazer turismo é reflexo das vontades psicos- governo local. Todos possuem diferentes for-
sociais do viajante durante seu tempo livre. mas de agir para o desenvolvimento do tu-
Várias definições vêm sendo usadas para rismo e diferentes formas de se beneficiar
entender o turismo e todas podem ser dele. Porém, o principal benefício de
aceitas. O que se tem em comum entre comum alcance é a melhoria da qualidade
especialistas é que o turismo possui uma de vida da comunidade.
grande importância sócio-econômica no
mundo atual. Por um lado, é uma necessi- ❐ Os componentes do turismo
dade para o bem-estar psico-físico do ser As Ficha 1 e Figura 1 (a seguir) oferecem
humano, principalmente para aqueles que subsídios para identificar os diversos seg-
vivem nos conturbados centros urbanos. Por mentos envolvidos pelo turismo e o papel
outro, o turismo é uma fonte importante de de cada um no desenvolvimento da ativi-
riqueza econômica e um dos setores de dade e no atendimento aos interesses da
36
Planejamento do ecoturismo – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

/ FICHA 1
COMPONENTES DO TURISMO
è Transportes ® Você precisa dele para ir do mercado ao destino.
è Promoção ® Como trazer o mercado ao destino (ver capítulo Elaboração
do Produto de Ecoturismo).
è Atração ® O que faz alguém ir a um destino (atrativos naturais ou artificiais,
eventos especiais, entretenimento, história, cultura, família e
amigos, negócios etc.).
è Serviços ® Alimentação, acomodações, comércio etc. Geram dinheiro para
a comunidade e acrescentam na experiência do turista. Sem servi-
1
ços, não há dinheiro para a comunidade
è Atmosfera ® 1) Dimensão humana (característica local): hospitalidade,
tumulto, congestionamento de pessoas e/ou carros;
2) Dimensão física: limpeza, acesso, estradas, estética
(paisagem, paisagismo), segurança etc.
è Pesquisa ® Quem é o mercado, qual é o perfil do turista, do que ele gosta e
de Mercado do que ele não gosta, como ele descobriu nossa comunidade,
como é seu comportamento etc. (ver capítulo Elaboração do
Produto de Ecoturismo).
✑ FIGURA 1
COMPONENTES DO TURISMO

ATRAÇÃO
PROMOÇÃO

Elo de comunicação Serviços


ATMOSFERA

PESQUISA DE MERCADO
MERCADO DESTINO
Elo físico

TRANSPORTE

comunidade. O conjunto dos cinco elemen- ecoturismo provocará mudanças na comu-


tos – atrativo, infra-estrutura, serviços, nidade, algumas positivas e outras negativas.
comunidade e turista – cria um ambiente O inventário é um instrumento para melhor
que chamamos de atmosfera do turismo. se conhecer a realidade e favorecer a adoção
de medidas de planejamento que incre-
❐ Benefícios e Desvantagens do Turismo mentem os impactos positivos e minimizem
Associada a diversos capítulos deste os negativos. (ver capítulo Levantamento do
Manual, a Ficha 2 a seguir demonstra que o Potencial Ecoturístico – Inventário)
37
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

/ FICHA 2
BENEFÍCIOS E DESVANTAGENS DO TURISMO
BENEFÍCIOS DO TURISMO DESVANTAGENS DO TURISMO

O desenvolvimento do turismo tem gera- Embora o turismo traga muitos benefí-


do uma série de benefícios. A seguir, lis- cios, o seu desenvolvimento não acon-
tamos algumas das contribuições que o tece livre de impactos negativos na
turismo pode trazer à qualidade de vida comunidade. Abaixo listamos alguns
de sua comunidade. desses possíveis malefícios.
1
BENEFÍCIOS ECONÔMICOS DESVANTAGENS ECONÔMICAS
❐ O turismo ajuda a diversificar e esta- ❐ O turismo necessita de custos opera-
bilizar a economia local. Também cionais para pesquisa, promoção etc..
pode ajudar a trazer outras atividades ❐ O turismo se utiliza de serviços públi-
econômicas para a comunidade. cos que são mantidos pelo contribuinte
❐ O turismo gera impostos e traz di- locais, excedendo seus custos.
nheiro novo para a comunidade. ❐ O turismo pode exigir o treinamento
❐ O turismo gera empregos e oportu- de empregados, proprietários e a edu-
nidades comerciais. cação da população local.
❐ O turismo pode gerar fuga de capitais.
BENEFÍCIOS SOCIAIS DESVANTAGENS SOCIAIS
❐ O dinheiro gerado pelo turismo ajuda ❐ O turismo pode atrair visitantes com
a financiar serviços e estabelecimen- comportamento conflitante com o da
tos públicos que a comunidade talvez comunidade e seus padrões culturais.
não tivesse condições de financiar ❐ O turismo pode criar tumulto,
(estradas públicas, energia, comuni- poluição em vários níveis e conges-
cação, saúde e segurança). tionamento.
❐ O turismo incentiva a participação ❐ O turismo pode aumentar os índices
cívica e o orgulho pela comunidade e de criminalidade e marginalidade.
suas manifestações culturais. ❐ O turismo pode gerar conflito entre os
❐ O turismo proporciona o resgate e o que o querem e os que são contra o
intercâmbio cultural. seu desenvolvimento.
BENEFÍCIOS AMBIENTAIS DESVANTAGENS AMBIENTAIS
❐ O turismo pode incentivar a preser- ❐ Turismo desordenado ou sem critérios
vação de recursos naturais, culturais e pode degradar a qualidade de impor-
históricos. tantes recursos naturais e históricos.
❐ O turismo pode estimular a revitaliza- ❐ Lixo, barulho e poluição do ar podem
ção e embelezamento paisagístico da aumentar com o turismo.
cidade ou vila. ❐ O sucesso econômico do turismo
❐ O turismo pode contribuir para a sus- pode levar a maior pressão sobre os
tentabilidade de áreas protegidas. recursos naturais.
❐ O turismo educa para a conservação
da natureza.

38
Planejamento do ecoturismo – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

3. O planejamento ❐ direcionar a instalação de equipamentos


para um turismo responsável e infra-estrutura, ordenando as ações e
atividades humanas sobre o território;
turismo vem sendo considerado um ❐ estabelecer os marcos legais para a ativi-
O dos maiores fenômenos da atualidade.
Para muitos países e regiões, principalmente
dade;
❐ orientar a circulação de veículos e
para os detentores de vastos recursos natu- pedestres;
rais, riquezas de paisagens, forte herança ❐ desenvolver produtos, identificar merca-
cultural e dificuldades de crescimento dos e estabelecer um programa de mar -
econômico, o turismo vem sendo identifica- keting estratégico.
do como a "bola da vez" e para muitos é a 1
"salvação da pátria". E com o aumento do Para regiões que já percebem fluxos
tempo livre na sociedade contemporânea, turísticos, os objetivos do planejamento têm
aliado às novas facilidades em transportes e forte caráter de ordenação e regulação, cor-
comunicação, entre outras causas e condi- rigindo distúrbios e problemas já instalados,
cionantes, o crescimento deste mercado direcionando o desenvolvimento do turismo
vem ocasionando diversas situações nos para um nível adequado de controle parti-
locais atrativos, algumas positivas (p.ex. cipativo das atividades atuais e projetando
emprego), outras negativas (p. ex. degra- medidas incentivadoras de oportunidades
dação ambiental). Alia-se a esta conjuntura futuras. Neste caso, além de adotar com
o uso do empirismo no planejamento e a novo enfoque alguns dos itens já menciona-
ausência de especialistas em posições dos acima, pode-se prever esforços para:
chaves dos setores estratégicos de governos ❐ educar o visitante, avaliando criteriosa-
e mercados. mente o perfil da demanda atual;
❐ (re)capacitar os prestadores de serviços e
a) Identificando os objetivos estimular novas ocupações;
do planejamento ❐ mitigar impactos socio-ambientais;
O planejamento em turismo pode ter ❐ acordar com os agentes sociais do turis-
vários objetivos, os quais dependem de uma mo (mercado privado, comunidades,
análise crítica, profissional e participativa, gestores de UC's, políticos e população
da situação em que se encontra sua região, em geral) medidas normativas e indicati-
seu empreendimento ou sua propriedade. vas, efetivas para um novo ordenamento
No caso de destinos turísticos potenciais, da atividade;
onde a atividade ainda não vem ocorrendo ❐ incentivar um ganho de qualidade dos
de forma significativa (ou seja, o momento produtos, incluindo a possibilidade de
ideal para o planejamento), podemos ter inserí-los em processos de certificação
planos como instrumento para: (veja item 6 da Caixa de Ferramentas);
❐ orientar uma nova atividade econômica ❐ (re)estabelecer estratégias de comuni-
incrementando o desenvolvimento local cação e marketing para os produtos e
e/ou regional; roteiros atuais e potenciais.
❐ desenhar que tipo de turismo (e de turis-
tas) queremos em nossa região; b) Adotando uma
❐ valorizar as culturas locais e a manu- abordagem integrada
tenção da paisagem e da biodiversidade; Para um bom plano exige-se profissiona-
❐ evitar, ou minimizar, os efeitos sociais, lismo, consulta aos interessados do mercado
econômicos e ambientais negativos da e da sociedade civil, uma visão de longo
atividade; prazo e disponibilidade de recursos finan-
❐ diversificar a economia local e qualificar ceiros. Em qualquer das situações em que se
a mão-de-obra local; encontra o turismo em sua região (presente
39
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

ou ausente), o planejamento do turismo que levando-se em conta a unidade geográfica


se almeja integrado e sustentável deve de maior interesse. As vezes é preferível um
envolver os seguintes aspectos, sempre pen- processo mais complexo de planejamento
sando-se numa escala de tempo: integrado entre dois ou mais municípios,
❐ físico e ambiental: as paisagens, a biodi- visando um planejamento regional, do que
versidade, o uso do solo e dos recursos centralizar este processo em nível local e
naturais, as áreas protegidas, o ambiente ignorar que os recursos naturais e as pai-
urbano e rural; sagens de interesse turístico não respeitam
❐ legal: as normas restritivas e/ou incenti- divisões político-administrativas. Em todo o
vadoras do turismo, as normas exigidas caso podemos ter diferentes abrangências
1 de controle e estímulo da atividade; geográficas no planejamento turístico:
❐ financeiro: a otimização e internalização ❐ o âmbito internacional, podendo ser
na cadeia produtiva local do fluxo de re- mundial (p. ex. diretrizes da Declaração
cursos gerados pelo turismo; a previsão de de Quebec - 2002, plano global de cer-
receitas, investimentos e custos de admi- tificação do turismo sustentável – Sust-
nistração do turismo; a busca de parceiros ainable Tourism Stewardship Council),
estratégicos; o estabelecimento de fundos regional (Mercosul, Comunidade Andi-
de investimentos locais (FUMTUR); na, Certificação do Turismo para a
❐ político-institucional e outras políticas Centro-América) e trans-fronteiriço
de interface com M.A., AG etc: as políti- (Pantanal brasileiro e boliviano)
cas nacionais, regionais e locais em tu- ❐ o âmbito nacional, geralmente em forma
rismo, os conselhos participativos de tu- de uma política nacional, com diretrizes
rismo (COMTUR), órgãos executivos gerais para o desenvolvimento de planos
(secretarias ou departamentos), as insti- e programas setoriais e regionais;
tuições públicas e privadas; ❐ o âmbito macro e micro regional, p.ex.
❐ promocional: estabelecer a imagem do envolvendo um bioma (p. ex. Ama-
destino, o diferencial para destinos con- zônia), uma bacia hidrográfica (Vale do
correntes, o público-alvo, as estratégias Ribeira) ou um conjunto de municípios
de comunicação etc. (entorno do PARNA Chapada dos
❐ econômicos: os incentivos de mercado, Veadeiros);
a diversificação da economia local, a ❐ o âmbito municipal, p. ex. envolvendo
integração com outros setores econômi- as ações necessárias para o desenvolvi-
cos, a qualidade e competitividade de mento do ecoturismo em nível local; e
produtos e roteiros; ❐ o âmbito de um local ou sítio atrativo, p.
❐ sociais: a organização e o envolvimento ex. uma unidade de conservação (parque
comunitário, o cooperativismo e o associa- ou RPPN) ou uma propriedade rural.
tivismo, as necessidades de capacitação
profissional, a satisfação do visitante; 4. O contexto do planejamento
❐ culturais: o resgate e a valorização de turístico no Brasil (2)
manifestações e bens culturais de inte-
turismo no Brasil é uma atividade

c)
resse social e turístico.

Adotando uma abordagem geográfica


O ainda emergente, porém de crescimen-
to intenso nos últimos anos. O desenvolvi-
Como já afirmado anteriormente, o mento deste mercado, inserido principal-
planejamento do turismo, quando integrado mente em locais de interesse cênico e tendo
e participativo, também deve prever sua for- como base recursos naturais de alta biodi-
mulação, implementação e monitoramento versidade, tais como a Amazônia, o Pan-

(2) – NOTA DO AUTOR: Adaptado a partir de vários artigos e textos deste autor.
40
Planejamento do ecoturismo – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

tanal, a Mata Atlântica e a costa litorânea, De certo que o Brasil possui um amplo
tem trazido preocupações aos governos potencial para o desenvolvimento de um
locais, às comunidades anfitriãs e às organi- mercado turístico de qualidade, e que
zações conservacionistas por colocar em necessita deste aporte de investimentos.
risco áreas naturais protegidas ou não, de Porém, para ser viabilizado com sustentabi-
riquezas imensuráveis, assim como impor- lidade, há a necessidade de se avaliar cuida-
tantes patrimônios histórico-culturais. dosamente o contexto em que se encontram
As áreas rurais e urbanas que já apresentam nossos destinos potenciais, quais os obje-
fluxos turísticos regulares, via de regra não pos- tivos de desenvolvimento sustentável a
suem planejamento algum para receber visi- serem alcançados e os meios para atingí-los,
tantes. Em nível local, isto diz respeito à ausên- por meio de uma Política Nacional de 1
cia de legislação em turismo e meio ambiente, Turismo Sustentável, integradora e associa-
planejamento do uso do solo, identificação, da às visões de mercado e das comunidades
criação e zoneamento de áreas protegidas, anfitriãs. Esta necessidade está baseada no
equipamentos de apoio turístico ou programas seguinte contexto:
de orientação e controle de visitação, incluin- ❐ Existem exemplos de planos públicos de
do atividades de educação ambiental. Do desenvolvimento turístico que não
mesmo modo, muitas empresas turísticas, prin- definiram claramente (ou ignoraram) os
cipalmente os meios de hospedagem e as objetivos de sustentabilidade do turismo
operadoras, não possuem critérios para o e os reais beneficiários, e vêm tendo difi-
planejamento de suas atividades e para pro- culdades em sua implantação, não
teção da base dos recursos naturais e culturais alcançaram as metas desejadas ou estão
que fundamentam seus negócios. causando distúrbios sócio-ambientais;
Adiciona-se a esta conjuntura o fato de o ❐ Há uma forte onda de investimentos pri-
Brasil estar, atualmente, vivendo uma vados, porém com lacunas na definição
explosão de investimentos em turismo (e de critérios ambientais e sociais, assim
também em ecoturismo). Diversos programas como há uma certa facilidade de finan-
públicos vêm se desenvolvendo e possuem ciamentos por agências de fomento go-
total ou parte de suas estratégias voltados vernamentais, onde observa-se clara-
para o desenvolvimento do turismo e do eco- mente a fragilidade na avaliação dos
turismo, como é o caso do Proecotur/ MMA resultados em prol da sua sustentabili-
–BID (desenvolvimento de pólos de ecoturis- dade ampla (econômica, social e am-
mo na Amazônia), Prodetur/MT–BID (desen- biental);
volvimento de turismo nas regiões Nordeste ❐ Ausência de regulamentos governamen-
e Sul), Programa Pantanal/BID–MMA tais em nível regional e local, e fraca
(Gestão sustentável dos recursos naturais no integração entre as diferentes políticas
Pantanal de MS e MT), Programa Pólos da de desenvolvimento econômico nacio-
Secretaria de Desenvolvimento Sustentá- nais, tais como as políticas agrícolas, de
vel/MMA, Programa de Ecoturismo em infra-estrutura, de energia e comuni-
Reservas Extrativistas/IBAMA/CNPT (envol- cações, de saneamento etc.
vendo 8 projetos em todo o Brasil), entre ❐ Falta de compromisso com o desenvolvi-
outros. Ao mesmo tempo o país está defini- mento local por parte de projetos públi-
tivamente inserido no circuito dos grandes cos e privados, associado à banalização
capitais investidores estrangeiros, associa- dos conceitos “eco” (ecoturismo, ecorsort,
dos ou não ao capital brasileiro, para a ecopousada etc.);
implantação de parques temáticos, com- ❐ Áreas protegidas ameaçadas por pressão
plexos hoteleiros e resorts, boa parte locali- de visitação associada a carência de recur-
zada em ambientes que apresentam fragili- sos humanos, técnicos e financeiros para
dade ambiental e comunidades rurais. se garantir o lazer e a segurança do visi-
41
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

tante e a integridade de nossos parques; e de comunidades nos destinos;


❐ Métodos de planejamento e marketing ❐ Ausência de diretrizes, códigos de ética
não responsáveis, empíricos ou baseados e conduta no meio empresarial e profis-
somente no enfoque da lucratividade; sional, associado à ausência de enti-
❐ Baixa capacidade técnica e financeira de dades de classe representativas em eco-
pequenas e médias empresas de turismo turismo e turismo sustentável.
1 QUADRO 1
POR UMA POLÍTICA NACIONAL DE TURISMO SUSTENTÁVEL

1
O WWF-Brasil, por meio de seu Programa de Turismo e Meio Ambiente, vem articulan-
do com entidades da sociedade civil e órgãos governamentais, o fomento ao debate sobre
a adoção de uma política de longo prazo para o desenvolvimento responsável do turismo
no Brasil. Desta articulação surgiu o Conselho Brasileiro de Turismo Sustentável, entidade
representativa dos setores social, econômico e ambiental do turismo, com objetivo de esta-
belecer uma estratégia para a implantação de um esquema unificado de certificação do tu-
rismo no Brasil. Neste mesmo sentido de participação e representatividade, espera-se do
governo que convoque a sociedade para o debate em torno de uma Política Nacional de
Turismo Sustentável, que deve considerar, entre outras estratégias:

è A integração das diversas políticas governamentais que incentivam, afetam ou


inibem a atividade turística, envolvendo diferentes órgãos da administração direta e
indireta, assim como as instituições públicas e multilaterais de financiamento e inves-
timento no setor;
è A normatização e regulamentação da atividade, principalmente com relação ao uso
e ocupação do solo, códigos ambientais e planos de desenvolvimento responsável do
turismo, orientando governos estaduais e municipais na adoção de políticas e sis-
temas de gestão sustentável da atividade;
è A efetiva participação das comunidades envolvidas nos destinos turísticos nas
tomadas de decisão para planejamento e gestão do turismo;
è A sustentabilidade de áreas naturais protegidas, com a efetiva implementação e
gestão sustentável e participativa, envolvendo suas populações de entorno, comple-
mentando e incrementando as suas atividades econômicas sustentáveis e valorizan-
do e priorizando a manutenção da biodiversidade;
è A capacitação e qualificação profissional das empresas e das associações comu-
nitárias voltadas ao turismo, facilitando o acesso à tecnologias limpas e outras linhas
de crédito;
è A educação de consumidores, funcionários e fornecedores de serviços turísticos
para o consumo do turismo de forma socialmente e ambientalmente amigável;
è O estímulo e reconhecimento de esquemas representativos para a certificação do tu-
rismo sustentável, por meio do Conselho Brasileiro de Turismo Sustentável de amplo
espectro de representatividade.

E no contexto FINANCIAMENTO/PROMOÇÃO do ecoturismo, para que o Brasil obte-


nha sucesso de longo prazo, deve-se considerar, entre outras questões, que a partir do esta-
belecimento de uma Política Nacional do Turismo Sustentável, acordada com o mercado e
a sociedade civil, se estabeleça um planejamento e desenvolvimento integrado, por meio

42
Planejamento do ecoturismo – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

da articulação política e inter-setorial entre todos os atores da atividade: ONG's (ambien-


talistas e sociais), comunidades, academia, mercado, governo (Ibama / Embratur) e turistas.
Dentro desta política podem-se estabelecer estratégias e diretrizes nacionais específicas que
compreendam as atividades de turismo comunitário e ecoturismo, como vêm fazendo paí-
ses como Austrália, Equador e Costa Rica.

5. O planejamento (1) Minimizando os impactos ambientais


e os princípios do ecoturismo negativos por meio de:
❐ Planejamento baseado em estudos e co- 1
ara aprofundar a compreensão do eco-
P turismo e subsidiar a elaboração de
planos de ecoturismo, os participantes da
nhecimentos específicos, como por
exemplo, os realizados para o desen-
volvimento do Plano de Uso Recreativo
primeira oficina do Manual detalharam os no Parque Nacional Marinho de Fernan-
princípios do ecoturismo segundo sua com- do de Noronha (3) e que envolve:
preensão, estabelecendo as diretrizes que - Zoneamento da área (área intacta e
orientaram o desenvolvimento do Manual e áreas de usos diferenciados; restrições e
seus diversos instrumentos de planejamento recomendações de acesso e uso);
temático. Os princípios são: - Definição dos limites aceitáveis de
❐ O ecoturismo deve contribuir para a impactos;
conservação do meio ambiente; - Realização do monitoramento contínuo
❐ O ecoturismo deve promover, onde pos- de impactos, por meio de indicadores
sível, a valorização cultural das comu- pré-estabelecidos e de fácil verificação.
nidades, bem como sua capacitação para ❐ Informação e educação diferenciadas
o gerenciamento participativo e de míni- para visitantes e residentes.
mo impacto dos recursos envolvidos; ❐ Capacitação dos profissionais inter-
❐ O ecoturismo deve buscar a diversifi- mediários entre visitantes e residentes
cação e integração econômica para a (gestores, administradores, proprietários,
melhoria da qualidade de vida das guias, funcionários de unidades de con-
comunidades; servação etc.).
❐ No desenvolvimento do ecoturismo, a
integração e equilíbrio entre conser- (2) Gerando benefícios por meio de:
vação ambiental, respeito pela cultura ❐ Destinação de recursos financeiros para
local e a diversificação de atividades conservação (manejo, criação de uni-
econômicas devem ocorrer via processo dades de conservação, apoio, voluntaria-
participativo. do etc.).
❐ Motivação para o trabalho voluntário em
A seguir, apresentamos os resultados conservação
deste trabalho:
(3) Viabilizando o retorno econômico e
è O ecoturismo deve contribuir para a social para as comunidades em unidades
conservação do meio ambiente de conservação (ex.: Reserva Extrati-
vista) ou entorno, permitindo a geração
A prática deste princípio se dá em três de benefícios diretos e indiretos do uso
aspectos: sustentável do ecoturismo na unidade

(3) – NOTA DO AUTOR: A experiência deste projeto, os métodos utilizados e as lições aprendidas estão registradas
na publicação "Uso Recreativo no Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha – um exemplo de planeja -
mento e implementação", lançado pelo WWF-Brasil em 2001 e disponível em www.wwf.org.br.
43
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

de conservação, a qual passa a ser va- è O Ecoturismo deve buscar


lorizada (ex.: ex-garimpeiros do Parque a diversificação e integração econômica
Nacional da Chapada dos Veadeiros são para a melhoria da qualidade
hoje guias do Parque e colaboram com de vida das comunidades.
sua proteção). Isto se dá por meio de:
❐ Participação nos conselhos gestores da A diversidade de atividades econômicas é
unidades de conservação, opinando e fundamental na busca e manutenção do
propondo estratégias de uso sustentável; equilíbrio sócio-econômico e ambiental de
❐ Avaliações da capacidade local de uma região. O desenvolvimento exclusivo do
desenvolver negócios sustentáveis de ecoturismo pode levar ao uso intensivo dos
1 interesse direto (artesanato, condução de recursos naturais, impactos negativos, perda
grupos, abertura e manutenção de atra- de qualidade de vida e da visita, concorrên-
tivos e trilhas etc) ou indireto (agricul- cia extremada gerando lucros baixos e, even-
tura, extrativismo, marcenaria, pesca etc) tualmente, descaracterização da atividade.
para o ecoturismo; O ecoturismo não deve ser atividade
❐ Preparo, capacitação e convite à so- econômica única, mas sim complementar e
ciedade local para participar do proces- integrada às outras atividades locais, fortale-
so de terceirização de serviços em par- cendo-as e colaborando para movimentação
ques nacionais(4) em desenvolvimento micro-regional dos recursos oriundos da visi-
pela DIREC/IBAMA, induzindo o empre- tação. Para tal, deve desenvolver mecanismos
endedorismo comunitário. de estímulo à produção local (alimentos, arte-
sanatos, serviços etc.), suprindo necessidades
è O ecoturismo deve promover, onde de consumo do ecoturismo e locais (ex.: estí-
possível, a valorização cultural mulo à produção de alimentos, objetos arte-
das comunidades, bem como sua sanais de decoração, objetos de marcenaria e
capacitação para o gerenciamento movelaria, confecção têxtil etc. para restau-
participativo e de mínimo impacto rantes/pousadas), evitando evasão de renda
dos recursos envolvidos. oriunda do turismo para outros centros.
A organização e fortalecimento de enti-
Deve ser desenvolvido levando em conta dades locais (públicas, comerciais, rurais, de
os seguintes aspectos: classe etc.) é fundamental na busca de equi-
❐ Valorização (se for o caso) da cultura líbrio e incremento dos benefícios econômi-
local, minimizando impactos e aumen- cos. O estabelecimento de preços mínimos
tando a auto-estima na comunidade. com padrão de qualidade (explorar o turis-
❐ Interpretação do processo histórico de mo e não o turista), o retorno econômico
colonização e uso do solo para com- para o município (impostos, taxas), o estabe-
preender os valores sociais existentes, lecimento de um fundo de investimentos e
subsidiando um trabalho mais coerente manejo do ecoturismo (vinculado à comu-
com a realidade local. nidade ou a um órgão público, p.ex. FUM-
❐ Promoção e apoio à articulação de TUR), criação e facilitação de fontes de
políticas públicas voltadas para o benefí- incentivo para pequenos empresários, pro-
cio das comunidades. gramas de capacitação e empreendedorismo

(4) – NOTA DO EDITOR: O processo de terceirização dos serviços de turismo em parques nacionais tem como
objetivo garantir um dos objetivos destas unidades - o lazer e a recreação de visitantes, por meio de concessões
e permissões ao setor privado para prestação de serviços de hospedagem, transporte, alimentação, venda de
artigos diversos, condução de grupos, atividades esportivas entre outras.
44
Planejamento do ecoturismo – P LANEJAMENTO ESTRATÉGICO

e diversas outras atividades são facilitadas Alguns indicadores de mudanças positivas ou


quando há compreensão e vontade comu- negativas de qualidade de vida já são
nitária, principalmente quando esta vontade pesquisados por órgãos governamentais ou
é expressa por meio de entidades civis. entidades não governamentais, e outros
Por fim, é importante monitorar impactos devem ser estabelecidos de acordo com as
sociais da mesma forma como se deve mo- características da região. Para que esta avalia-
nitorar os impactos ambientais. Cada proje- ção com base em indicadores seja efetiva e
to, ou comunidade, deve estabelecer seus factível, o estabelecimento de parâmetros de
próprios métodos para identificar benefícios fácil verificação e realistas e a adoção de avali-
e malefícios provenientes do ecoturismo. ação continuada são fundamentais (Ficha 3).
1
/ FICHA 3
INDICADORES BÁSICOS NA AVALIAÇÃO DE QUALIDADE DE VIDA

· Renda per capita · Poluição em todos os níveis


· Concentração de renda · Infra-estrutura (energia, comunicação,
· Escolaridade saneamento) para a comunidade
· Mortalidade/natalidade/índices · Marginalidade e criminalidade
de saúde · Preços de terras e produtos comerciais básicos
· Estrutura familiar · Preços de m2 construído
· Densidade populacional/área verde · Nível e quantidade de emprego/desemprego

è No desenvolvimento do ecoturismo, III. CAIXA DE FERRAMENTAS


a integração e equilíbrio entre conservação
ambiental, respeito pela cultura local e a Este capítulo sugere um processo de
diversificação de atividades econômicas planejamento especialmente adequado para
devem ocorrer via processo participativo. o ecoturismo de base comunitária, ou seja,
para uma atividade que objetiva o desen-
Devem ser levados em conta os volvimento econômico e social aliado à
seguintes aspectos: conservação da natureza em regiões,
municípios e sítios de visitação. Assim, esta
❐ Representação das partes interessadas seção do capítulo tratará do planejamento
(elementos ou representantes) formais e do ecoturismo para diferentes abordagens e
informais da comunidade local e externa. estratégias de desenvolvimento:
❐ Estabelecimento de estruturas e mecanis- 1. Identificando as etapas do
mos para resolução de conflitos, tomada planejamento do ecoturismo.
de decisão, planejamento, execução, 2. Planejando o ecoturismo
monitoramento, avaliação e autogestão em busca de sustentabilidade.
das atividades. 3. Planejando o ecoturismo local
❐ Resolução de conflitos buscando e regional.
otimizar benefícios. 4. Planejando o ecoturismo em áreas
❐ Processos de educação, capacitação e protegidas ou propriedade rural
transferências de tecnologias apropri- particular.
adas, envolvendo os beneficiários na sua 5. Planejando produtos
elaboração e multiplicação. ou empreendimentos de ecoturismo.
6. Projetando a sustentabilidade
de produtos para a certificação.
45
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

1. Identificando as etapas ] Onde estamos? u Análise


do planejamento do ecoturismo da Situação
] Aonde u Objetivos e
m função das considerações adotadas na
E Introdução Conceitual, pode-se estabele-
cer de forma organizada as etapas para um
queremos chegar?
] Como
Metas
u Ações
chegaremos lá?
planejamento criterioso, integrado, participa-
tivo e sustentável, onde os métodos podem ] E como saberemos u Avaliação
ser adaptados tanto para áreas sem presença se já chegamos?
do turismo como para áreas já em desen- Na Ficha 4, podemos ilustrar essas per-
1 volvimento. Assim, no momento da elabo- guntas e o elo entre elas. E para se fazer um
ração de um plano de desenvolvimento de bom planejamento de implantação do eco-
ecoturismo, seja para uma região ou municí- turismo, devemos responder à primeira per-
pio, uma empresa ou uma ONG, quatro per- gunta e gerar subsídios para elaboração das
guntas básicas devem ser respondidas. outras três respostas.
/ FICHA 4
QUATRO PASSOS NO PROCESSO DE PLANEJAMENTO DO ECOTURISMO

ANÁLISE DA SITUAÇÃO
Inventário/Diagnósticos/
Consultas

AVALIAÇÃO OBJETIVOS E METAS


Resultados alcançados/ Elaboração do Plano/
Monitoramento continuado Definição de programas
/Consultas aos atores e projetos/
Participação ampla

AÇÕES
Implementação do Plano

u Análise da situação enfoque integrado de âmbito político, legal,


(Onde estamos?) social, econômico e ambiental. Apresen-
É o conhecimento da realidade, das tando os dados à comunidade e discutindo
estruturas, atrativos, serviços, clientes, a vi- com lideranças, governos e empresas par-
são da comunidade sobre o turismo, proble- ceiras tanto para o desenvolvimento de
mas e necessidades existentes etc. A investi- diagnósticos estratégicos participativos
gação da situação atual considera um como para a elaboração dos objetivos e
46
Planejamento do ecoturismo – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

metas e para tomada de decisões. se consolidar uma visão estratégica e


responsável que planejadores devem adotar.
u Objetivos e metas Assim, as pré-condições que um plano de
(Aonde queremos chegar?) desenvolvimento do ecoturismo deve se
Diante da realidade apresentada, quais comprometer a analisar cuidadosamente
são os nossos objetivos, o que queremos do são detalhadas a seguir.
turismo e para a comunidade a curto, médio
e longo prazos? Quem serão os benefi- a) Refletir sobre se o ecoturismo
ciários em termos de conservação e desen- é apropriado
volvimento local? A decisão de planejar por si só já merece
uma análise mais aprofundada. Deve haver 1
u Ações motivações suficientes para se decidir pelo
(Como chegaremos lá?) esforço em se estabelecer um plano para o
Definição das ações necessárias para ecoturismo. No Brasil freqüentemente tem
atingir nossos objetivos. Quais as medidas se falado em planos ecoturísticos como
mitigadoras de impacto socio-ambiental? alternativa econômica para as regiões em
Deve-se pesquisar o mercado atual e poten- localidades relativamente remotas e com
cial: produtos existentes, concorrentes, seus potencial atrativo. E, neste caso, as moti-
preços e diferenciais, demanda efetiva e vações são a exploração de nossa rica pai-
potencial, tendências de desenvolvimento sagem natural para viabilizar um desen-
etc. Como desenvolver produtos, roteiros e volvimento local responsável. Neste contex-
serviços diversos ? Como integrar todos eles to, nem sempre as decisões de se iniciar o
em uma imagem diferenciada para o eco- planejamento são motivadas por interesses e
turismo na região? expectativas das comunidades onde se dará
o ecoturismo.
u Avaliação O planejamento integrado, aquele em
(Como saberemos se já chegamos?) que se estabelecem diagnósticos mais am-
Estabelecer metas, produtos e sistemas plos, envolvendo não somente as potencial-
de monitoramento que forneçam indica- idades turísticas, mas o contexto regional
dores sobre o andamento dos objetivos e para desenvolvimento e conservação, per-
resultados e as necessidades de correção e mite que o planejador obtenha uma visão
mudança de rumo. das circunstâncias políticas, legais, conser-
vacionistas e de desenvolvimento em que se
2. Planejando o ecoturismo encontra seu objeto de planejamento. Os
em busca de sustentabilidade pré-requisitos mínimos e razoáveis para se
continuar pensando em se estabelecer o
onforme identificado no item anterior, o ecoturismo podem ser:
C desenvolvimento de qualquer plano de
ecoturismo, de base comunitária ou não,
❐ Conhecer os marcos legais e políticos
que não inviabilizam o ecoturismo, ou
deve ser apoiado em atividades que resul- que não impeçam o seu investimento,
tem no conhecimento das necessidades e tais como entorno de unidades de con-
expectativas dos atores sociais, do efetivo servação de proteção integral, locais de
potencial ecoturístico em termos atrativos, construção de barragens, áreas de confli-
financeiros e de mercado e dos benefícios to indígena etc;
para a conservação e para as comunidades ❐ Um certo grau de salubridade, ausência
locais. Durante este processo, algumas con- de moléstias transmitidas em ambientes
siderações são pertinentes para qualquer naturais, como cólera, malária e febre
tipo, nível ou interesse no desenvolvimento amarela, e acesso facilitado para ser-
de planos de ecoturismo, necessárias para viços de saúde;
47
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

❐ Um alto grau de segurança ao visitante, ❐ A implantação estruturas organizacio-


principalmente com relação à criminali- nais (espaços institucionais adequados e
dade, atividades e acessos de risco, ou mecanismos claros) para se conhecer e
áreas de conflito político-social; integrar o nível de consciência e a visão
❐ Uma avaliação responsável sobre as da comunidade sobre suas expectativas
potencialidades atrativas da região, pro- em relação ao turismo, inclusive para a
priedade ou UC (diversidade e quanti- tomada participativa de decisões;
dade de paisagens e de espécies da ❐ Uma pré-avaliação de mercado que
fauna e flora de interesse ecoturístico) determine a existência de uma demanda
suficientes para se atrair visitantes; potencial e os esforços necessários para
1 ❐ Ver a oferta de atrativos naturais em que alcançá-la;
se conheça razoavelmente sua capaci- ❐ Um grau confiável sobre a propriedade
dade de manejo em receber fluxos de da terra de uso ecoturístico.
visitantes;

RESERVAS EXTRATIVISTAS
DE PEDRAS NEGRAS E CURRALINHO:
UM EXEMPLO DE PROJETO DE ECOTURISMO EM RONDÔNIA

Questão fundiária

epois de iniciado o Projeto de Ecoturismo nas Reservas Extrativistas Estaduais


de Pedras Negras e Curralinho (RO), descobriu-se que a área da Reserva
de Pedras Negras estava sendo requisitada pela FUNAI – Fundação Nacional
do Índio, por ser provavelmente ocupada por índios isolados. Apesar de envolver
diretamente a comunidade, que poderia ser retirada do local por esse motivo, os nativos
e as associações civis parceiras desconheciam a intenção da FUNAI. Caso a fundação
ganhasse a posse da área, o que não ocorreu, todas as benfeitorias já construídas para
o projeto seriam perdidas.
O planejamento estratégico recomenda que, antes de se iniciar atividades
de desenvolvimento do ecoturismo em uma região, principalmente de estruturas físicas,
seja feito um amplo levantamento sobre a legislação pertinente, o uso e posse da terra,
se há projetos de desenvolvimento urbano, agrícola e rural, entre outros aspectos.
Os órgãos públicos que comumente podem ter demanda ou interferir diretamente sobre
o uso da propriedade são FUNAI, Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
(INCRA), Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), Departamento
de Estradas de Rodagem (DER) (relativo à novas estradas que podem direcionar
ou modificar os acessos), o Ministério das Minas e Energia ou a ANEEL, sua agência
reguladora (relativo aos planos para construção de hidrelétricas), o IBAMA (relativo
a planos de novas áreas protegidas), e os governos do Estado e município, além do
cartório de registros de imóveis e terras.

48
Planejamento do ecoturismo – P LANEJAMENTO ESTRATÉGICO

Uma avaliação positiva sobre estes pré- sustentáveis ter o mesmo papel
requisitos não permite afirmar que o ecotu- ou alcançar os mesmos resultados
rismo é a melhor (ou única) opção, mas que o ecoturismo, pelo mesmo
serve como ponto de afirmação para se pen- esforço comunitário?
sar em continuar a desenvolver o plano de
ecoturismo. Tendo em mãos esta pre-avali- Em muitas localidades rurais tem sido
ação, esta pode também ser uma importante observada uma relação equilibrada entre
ferramenta para se comunicar com agências comunidades e meio ambiente. A chegada
financiadoras, por meio de cartas de do ecoturismo pode trazer uma nova visão
intenção, possibilitando a obtenção de um de uso econômico da natureza, modifican-
sinal verde para possíveis apoios financeiros. do hábitos e pressionando o uso dos recur- 1
sos naturais. Assim, caso o ecoturismo seja a
b) Verificar as vantagens potenciais opção de desenvolvimento local, essa
para a conservação da natureza relação deve ser mantida, buscando-se um
A conservação de habitats e paisagens é equilíbrio adequado.
um dos princípios do ecoturismo. Mas o Ao se definir claramente quem será bene-
contexto de conservação nos destinos ficiado (a conservação da natureza, a co-
potenciais de ecoturismo nem sempre é munidade local, os turistas etc.), as ações e
favorável. Dificuldades econômicas no estratégias para isto e os indicadores de fácil
meio rural e ausência de políticas governa- verificação para se conhecer o grau de
mentais de apoio às atividades tradicionais sucesso do ecoturismo, o plano terá grandes
no campo, entre outros fatores, tem levado chances de cumprir com um dos seus
as comunidades a uma sobre-exploração maiores objetivos: promover desenvolvimen-
dos recursos naturais. Se melhorar a quali- to local aliado à conservação da natureza.
dade de vida local é objetivo de plane-
jadores e comunitários, a visão que se c) Identificar as necessidades
espera no planejamento é a de que esta e expectativas dos atores
nova atividade (o ecoturismo) possa vir a ser sociais envolvidos
uma ferramenta para lograr uma forma mais Durante o processo de planejamento,
sustentável de se relacionar com a natureza. deve-se estabelecer as estratégias e técnicas
Com o diagnóstico das potencialidades para garantir a participação dos setores
do ecoturismo, aliado ao diagnóstico sobre interessados, dosando adequadamente as
as potencialidades de outros usos econômi- suas necessidades e expectativas.
cos na região, pode-se questionar se o eco- Para que o núcleo receptor seja benefi-
turismo é realmente a melhor alternativa. ciado com o turismo os planejadores locais
Assim, questões chaves que devem ser precisam satisfazer as necessidades dos tu-
respondidas por planejadores e lideranças ristas e do mercado turístico, as necessi-
comunitárias são: dades de proteção dos recursos naturais e
è Qual o número de beneficiários culturais e as necessidades da comunidade
do projeto de ecoturismo? receptora, assim como precisam estabelecer
è Quais as atitudes que se espera seus interesses específicos.
em nível local para reverter processos Os moradores locais dos destinos de eco-
de degradação da natureza? turismo questionam em como se beneficiar.
è E que papel o ecoturismo pode ter Já os turistas esperam como conhecer a
nas mudanças de atitudes? natureza por meio da atividades de lazer,
è Quais problemas adicionais para porém buscando preço, conforto, segurança
a conservação (contrapondo-se aos seus e qualidade nos serviços. Os governos vêem
benefícios) o ecoturismo pode trazer? o turismo como item de exportação (princi-
è Poderia outras alternativas econômicas palmente em nível nacional) e gerador de
49
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

renda e riquezas (principalmente em nível d) Aproximar a visão de planejamento


regional e local). Já os ambientalistas optam às visões das comunidades
pelo ecoturismo como uma oportunidade e do mercado
em desenvolvimento social e conservação Para se perceber melhor a importância e as
da natureza. Os mercados e demais profis- possíveis características do planejamento do
sionais vêem o ecoturismo como oportu- ecoturismo de base comunitária em uma deter-
nidade econômica, os sociólogos pelo seu minada região, município ou área natural pro-
valor sócio-cultural e até escritores, produ- tegida ou não, duas abordagens merecem
tores e publicitários se interessam por um destaque para se ampliar a visão dos plane-
mercado de publicações abundantes. As uni- jadores: as de mercado e as da comunidade. As
1 versidades, seus alunos e pesquisadores Fichas 6 e 7 a seguir trazem o detalhamento de
desejam oportunidade para aplicar seus co- algumas visões desejáveis para planejadores.
nhecimentos e técnicas em parcerias com Essas visões não são difíceis de se identi-
governos locais e entidades sociais. ficar, se o planejamento é participativo e se
Este exercício gera uma visão de plane- o método adotado basear-se num diagnósti-
jamento com maior amplitude, favorecendo co efetivo e amplo, onde fiquem claras as
o diagnóstico e a elaboração de planos. A potencialidades e o papel do ecoturismo no
Ficha 5 abaixo apresenta alguns dos inte- desenvolvimento sócio-econômico local/
resses dos agentes sociais do turismo. regional. Este é talvez, o passo mais impor-
tante para se estabelecer planos adequados
para o ecoturismo.
/ FICHA 5
IDENTIFICANDO AS DIFERENTES NECESSIDADES E INTERESSES

O MEIO AMBIENTE NATURAL E CULTURAL NECESSITA:


❐ Proteção e recuperação
❐ Conscientização e valorização

SETOR PRIVADO MEIO AMBIENTE

MELHOR QUALIDADE DE VIDA

SETOR PRIVADO A COMUNIDADE DESEJA:


DO TURISMO PROCURA: ❐ Saúde, trabalho, educação
❐ Oportunidade econômica e saneamento
❐ Recursos Humanos ❐ Respeito aos seus direitos
capacitados e suas tradições e partici-
❐ Infra-estrutura, facilidades pação nas tomadas de
e acessos decisões
COMUNIDADE/
❐ Atrativos em quantidade ❐ Benefícios sociais
GOVERNO e econômicos
e qualidade
LOCAL
FONTE: Adaptado de OMT - Desenvolvimento do Turismo Sustentável: manual para organizadores locais.
EMBRATUR, 1994.
50
Planejamento do ecoturismo – P LANEJAMENTO ESTRATÉGICO

/ FICHA 6
CONSIDERANDO AS VISÕES DAS COMUNIDADES

[ Atentando para os conflitos culturais – Em se tratando o ecoturismo de uma atividade


com forte característica de integração cultural, muitas vezes observa-se a sobreposição
das culturas urbanas contemporâneas da origem do turista e empresários turísticos
sobre aquelas tradicionais e rurais. Sabe-se que outras influências econômicas e soci-
ais também agem desta forma, e que nenhuma cultura é estática. Mas o ecoturismo
desordenado ou indesejável tem o caráter de potencializar as alterações que
sobrepõem valores e riquezas tradicionais locais. Desta forma, o inventário também 1
deve considerar a pesquisa sobre valores e costumes tradicionais e históricos que pre-
cisam ser resgatados, tais como linguagem, danças, gastronomia e artesanato, maiores
chances de se manter a autenticidade dos futuros produtos.
[ Atendendo aos anseios e expectativas das comunidades envolvidas – Diante de um
possível cenário de alterações no cotidiano e na economia das comunidades pela
implantação de projetos de ecoturismo, é importante conhecer o que a comunidade
pensa sobre isto, sendo presente ou não a atividade. Esse conhecimento pode dire-
cionar a escala desejada de desenvolvimento do turismo, indicar as causas de descon-
forto da comunidade com os problemas gerados pela visitação ou as necessidades de
informação da comunidade em relação ao turismo. O descontentamento da popu-
lação provoca um ambiente hostil ao turismo, diminuindo a qualidade da “atmosfera”
e, portanto, podendo causar redução do fluxo de turistas.
[ Ampliando os benefícios do desenvolvimento do ecoturismo – Para que a comunidade
obtenha vantagens econômicas do turismo, ao mesmo tempo em que proporciona
maior qualidade à experiência do turista, a infra-estrutura e os serviços são planejados
e criados. O levantamento daquilo que existe ou necessita ser criado em termos de
infra-estrutura turística, serviços e equipamento de apoio, do montante de empregos e
de produtos locais é essencial para se otimizar o benefício econômico gerado pelos
visitantes, especialmente no que se refere à diversificação da economia local.
[ Adotando uma visão de precaução – A identificação dos impactos existentes (e pos-
síveis) e da capacidade de carga natural e social, facilita a adoção de medidas que
minimizem o prejuízo causado à natureza e à comunidade, indicando a necessidade
de novas estruturas ou serviços.
[ Observando acessibilidade como fator chave no ecoturismo – Estradas e acessos
implantados em função do ecoturismo podem ser úteis também para escoamento de
produção agropecuária local. Da mesma forma, estradas causam impacto a um deter-
minado ambiente (erosão, poluição etc.), como também aceleram o processo de ocu-
pação desordenada nas áreas de entorno. Portanto, estradas e trilhas são necessárias,
mas nem sempre desejáveis.

/ FICHA 7
CONSIDERANDO AS VISÕES DO MERCADO

[ Percebendo as potencialidades dos recursos para se atingir mercados – As potenciali-


dades de uma região são definidas, no caso do ecoturismo, pelos conjunto de atrativos
e localização do destino. Este último é fator decisivo na elaboração do planejamento,
pois orienta uma série de investimentos em infra-estrutura. Os atrativos naturais, cul-

51
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

/ FICHA 7
CONSIDERANDO AS VISÕES DO MERCADO (Continuação)

turais e históricos determinam a atmosfera do local, e a capacidade de carga dos mes-


mos determina o potencial de crescimento. A presença de atrativos naturais, em maior
número que os demais, determina uma vocação para o ecoturismo de caminhadas,
passeios e, consequentemente, um público mais jovem. Se os atrativos tiverem fácil
acesso, o público pode ser estendido a uma faixa etária mais elevada. Se houver diver-
sidade de pássaros pode-se pensar em um público mais especializado – observadores
1 de pássaros. A história da comunidade e suas atividades tradicionais são fatores impor-
tantes para a elaboração de produtos de ecoturismo, valorizando a cultura local, com
grandes chances da população anfitriã passar a compreender melhor sua influência no
processo de definição das características do destino. Enfim, pequenas diferenças no
conjunto de recursos disponíveis modificam ou diversificam muito o público alvo
potencial. Somente um processo adequado (e geralmente lento, podendo levar meses)
de envolvimento dos diferentes setores da comunidade (ou das comunidades da
região) associado aos resultados do inventário poderão definir claramente as poten-
cialidades naturais, culturais e históricas da região para o ecoturismo.
[ Identificando, atraindo e mantendo o público alvo – Em um mundo cada vez mais
competitivo e de consumidores cada vez mais exigentes, é importante conhecer a per-
cepção de nosso cliente, o turista, em relação ao que lhe oferecemos ou vendemos.
Por que o turista busca nosso produto (atrativo, hotel etc.)? O que falta em nosso municí-
pio e o que podemos fazer para agradar mais o visitante? Será que ele ficou satisfeito
com o que viu, experimentou, vivenciou, comprou? Qual é a sua percepção em relação
ao impacto ambiental/cultural do turismo na região? O que podemos fazer para
diminuir os impactos e mudar essa percepção? As respostas podem nos aproximar do
que o visitante quer, melhorar nossos serviços e infra-estrutura ou mesmo mudar nosso
sistema de comunicação para que o visitante já venha consciente do que vai encontrar.
Ao evitar uma falsa expectativa, atraímos o turista ideal para nossos propósitos.
[ Avaliando os acessos – Atrativos visitados ou potenciais, visitantes habituais, prováveis
mercados e principalmente a existência, qualidade e localização dos meios de transporte
e dos acessos devem ser identificados e avaliados no início do processo de planejamen-
to. Quanto maior o grau de dificuldade para se chegar a um determinado destino, maior
o preço do produto, menor é o mercado e, consequentemente, a renda gerada.

e. Dosar as expectativas lidade para o relacionamento comercial


O desenvolvimento do ecoturismo em com o público. As questões a seguir indicam
uma região, propriedade ou Unidade de que alguns assuntos devem ser criteriosa-
Conservação deve encontrar formas de mente investigados nos primeiros momentos
coordenar o trabalho de planejamento com do planejamento, mais especificamente nas
as expectativas da comunidade, principal- fases de inventário, diagnóstico e apresen-
mente quando se pretende compatibilizar as tação do plano.
potencialidades econômicas com a conser- è A comunidade quer mudar seu ritmo
vação ambiental da região. de vida?
A participação da comunidade na ativi- è Muito trabalho, estresse e maior
dade turística deve ser compatível com sua rentabilidade, ou trabalho menos
disponibilidade para o trabalho e sua habi- intensivo com menor rentabilidade?
52
Planejamento do ecoturismo – P LANEJAMENTO ESTRATÉGICO

è Criação de empregos ou de micro- tural quanto econômico), mas também pelas


empresas? preferências da comunidade quanto ao
è Visitantes o ano todo ou concentrados público com que desejam ou concordam
em uma determinada época? em se relacionar.
è Visitantes passeando por locais Estas perguntas, relativas às expectativas
de trabalhos comunitários ou em locais dos diferentes setores da comunidade, são
próprios somente para o turismo? formuladas durante o diagnóstico, a pri-
è Qual é a melhor opção para meira etapa do planejamento. As respostas
a comunidade? determinam o plano, e um diagnóstico
equivocado ou um processo inadequado de
Se por um lado pode-se praticar uma integração da comunidade à discussão 1
política de estímulo às pequenas empresas, sobre o desenvolvimento do ecoturismo
o que fortalece as empresas familiares, por (além do capítulo referente ao inventário,
outro podem-se atrair investidores de médio ver capítulo Participação Comunitária e
porte em turismo para geração de empregos. Parcerias) podem causar danos sociocultu-
No primeiro caso a comunidade local é for- rais irreparáveis.
talecida. No segundo, os moradores são Outra questão referente à dosagem de
transformados em simples funcionários dos expectativas diz respeito à ansiedade que
empreendimentos. uma proposta de ecoturismo pode gerar em
Turismo de massa, turismo especializa- lideranças e na comunidade como um todo.
do, visitação com guias locais, trilhas auto- Dizer que o ecoturismo vai chegar logo e
guiadas, comida tradicional, comida natu- que todos serão beneficiados ainda é prati-
ral, misticismo... Várias são as modalidades, ca comum entre consultores e técnicos da
atividades e serviços na definição de um área, prática extremamente condenável,
produto, mas qual é o interesse da comu- sabendo-se que o ecoturismo é um segmen-
nidade? O turista deve ser jovem? De ter- to de interesse específico e que sua viabili-
ceira idade? Estudante? Famílias? Rico? dade e retorno financeiro é lento. Mesmo
Místico? Esportista? Qual será o mais ade- tomando este cuidado, é sempre aconse-
quado? Poucos turistas de alto poder aquisi- lhável deixar claro em todos os momentos
tivo e com resultados mais rentáveis? Ou do processo, das fases necessárias para a
maior quantidade de turistas de classe implementação do ecoturismo e que os
média para ganhos em volume de ope- resultados comerciais nem sempre chegam
ração? A identificação do turista adequado rápidos. Esta abordagem é tanto mais difícil
deve ser motivada não só pelo potencial em locais onde há sérias dificuldades em
ecoturístico da região (tanto natural e cul- desenvolvimento econômico.

RESERVAS EXTRATIVISTAS
DE PEDRAS NEGRAS E CURRALINHO: UM EXEMPLO DE PROJETO
DE ECOTURISMO EM RONDÔNIA

Expectativa e motivação

uando se trabalha com comunidades, é muito difícil manter ou controlar a fase


de motivação e um trabalho mal feito pode levar rapidamente ao desânimo e
descrédito. Nas Reservas Extrativistas Estaduais de Pedras Negras e Curralinho
(RO), onde as necessidades básicas são urgentes, tomou-se o cuidado de, junto

53
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

(Continuação)
com a comunidade, definir muito bem todas as etapas a serem cumpridas, desde o
momento de apresentação do projeto.
Sempre foi dada atenção especial ao esclarecimento das dificuldades e do tempo
necessário para avaliação, aprovação e liberação de recursos, que podem demorar anos.
Durante o período de espera, o contato com a comunidade continuou a ser mensal
ou bimestral. Algumas atividades foram realizadas, mesmo com poucos recursos, para
1 que a organização comunitária se fortalecesse, e para que a população sentisse
a seriedade do projeto e das pessoas envolvidas, evitando o desânimo. Assim, construiu-
se um pomar comunitário, uma casa teste para receber os primeiros visitantes, uma
operação turística demonstrativa e teve início o processo de capacitação e treinamento.
Após a inauguração da Pousada Pedras Negras, em setembro de 2001, utilizou-se das
mesmas estratégias, visto que a demanda não chegou de modo satisfatório nos primeiros
meses. Dependendo do esforço de marketing disponível, a comunidade tem que estar
esclarecida de que a consolidação do produto dar-se-á em alguns meses e até anos.
No mundo dos negócios, e dentro de padrões de investimentos normais, nenhum projeto
apresenta balanço financeiro positivo antes de dois anos. No ecoturismo, produtos
novos, autênticos e originais, podem ter resultados positivos mais cedo, mas isso não
deve ser encarado como regra.

3. Planejando o ecoturismo em valores éticos. Os passos desejáveis para


regional e local este processo em nível regional e local são
detalhados a seguir.
o Brasil, o planejamento não é uma
N atividade muito comum na sociedade
e, principalmente, nos governos. Planejar e
è Avaliando e diagnosticando
a situação atual
executar um plano são tarefas complexas,
principalmente quando se procura integrar Tanto o planejamento em nível local
os interesses da sociedade com os dos como regional (5) se inicia com as ações do
poderes públicos, sejam nacionais, esta- inventário (ver capítulo Levantamento do
duais ou municipais, e esses às necessi- Potencial Ecoturístico – Inventário). De
dades de mercado. Como afirmado anterior- posse dos dados do inventário, inicia-se a
mente, uma proposta de desenvolvimento interpretação e análise dos dados (diagnós-
de um plano deve ser entendida como resul- tico) e a proposição de um caminho a seguir
tado de um estudo das diversas variáveis (prognóstico). O diagnóstico avalia a situa-
que compõem o cenário social, político, ção atual da região para fins do desenvolvi-
legal, econômico, cultural e ambiental den- mento do ecoturismo, esboçando a idéia
tro de uma perspectiva integradora, apoiada básica do potencial e do perfil da região

(5) – NOTA DO EDITOR: Neste item 3 da Caixa de Ferramentas estamos considerando o termo planejamento
local como aquele desenvolvido em âmbito municipal, e o termo planejamento regional para identificar
planos desenvolvidos para vários municípios de uma mesma região. Neste último caso, dependendo da
abrangência geográfica do plano, ele pode assumir, com adaptações, contornos de um plano estadual e até
mesmo interestadual.
54
Planejamento do ecoturismo – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

para a atividade e das alterações/ade- turística é fator determinante do sucesso de


quações necessárias. Além disso, o diagnós- sua implementação.
tico se baseia também nas informações ge- Durante a fase de diagnóstico, é preciso
radas pelas pesquisas de mercado, definido- buscar o equilíbrio entre o uso de exemplos
ras das oportunidades mercadológicas na de outras regiões e a identificação do perfil
oferta de produtos e roteiros de ecoturismo, atual e desejado do ecoturismo para a
assim como projeta os perfis de demanda região. Seja por iniciativa dos técnicos faci-
efetivas e potenciais. litadores ou por iniciativa dos participantes,
A qualidade do diagnóstico está direta- é muito comum que as discussões do diag-
mente ligada à qualidade do inventário. As nóstico sejam orientadas pela “importação”
informações coletadas durante o inventário de características de ecoturismo em uma 1
são a base para as discussões que elaboram outra localidade que os participantes te-
o diagnóstico. Nesta fase, o cuidadoso tra- nham visitado ou que tenham informação
balho realizado na identificação das per- de ser exemplo bem sucedido de ecoturis-
guntas a serem formuladas e das infor- mo. Assim, freqüentemente durante o diag-
mações a serem inventariadas durante o le- nóstico (e planejamento) ouvem-se frases
vantamento do potencial ecoturístico da como: “Lá em Porto Seguro as cabanas nas
região prova a sua validade. praias fazem o maior sucesso. Por que a
Os diferentes setores da sociedade que gente não faz o mesmo por aqui?”; ou
participaram e/ou foram consultados durante algum prefeito dizer: “Lá no meu município
o inventário são reunidos em um processo tem uma cachoeira linda, será que podemos
participativo para avaliar seus resultados e fazer turismo?”; ou então “Precisamos fazer
definir estratégias, por exemplo, do tipo de uma represa para atrair turistas”. Essas afir-
infra-estrutura básica e dos serviços mativas demonstram a falta de entendimen-
necessários, das normas para o uso e ocu- to da atividade pela grande maioria dos
pação do solo pelo turismo e de regras para administradores públicos e até mesmo por
construção de empreendimentos específi- aqueles que já trabalham com o turismo há
cos, do zoneamento espacial da atividade muito tempo. Porém, mais importante, se o
turística, da proteção de recursos de inte- uso de tais exemplos não for controlado e
resse ecológico e cultural, da disponibilidade contextualizado durante as discussões, o
de recursos financeiros entre outros. perfil do ecoturismo na região, ou seja, o
O diagnóstico deve ser feito com a par- resultado do diagnóstico, pode ser equivo-
ticipação da comunidade local / regional cado, com conseqüências graves para o
em reuniões de trabalho, principalmente sucesso da atividade, seja do ponto de vista
com a criação de uma instância oficial para da vocação cultural e ambiental da região,
a integração dos diversos setores da seja do ponto de vista do mercado.
sociedade, como por exemplo, o Conselho Como no caso do inventário, ou de qual-
Municipal de Turismo (COMTUR). Nesse quer outro processo participativo de caráter
momento, é imprescindível a presença dos regional, para se realizar um bom diagnósti-
técnicos que orientaram e facilitaram a rea- co é necessário realizar uma série de
lização do inventário, porém é preciso reuniões ou outros eventos em diferentes
atenção para que eles não direcionem os locais da região, para diferentes grupos da
debates e as tomadas de decisão. É muito comunidade. A mesma equipe que realizou
comum os técnicos utilizarem dados estatís- o inventário pode iniciar este trabalho, bus-
ticos e referências técnicas desconhecidos cando envolver representantes de cada setor
para a comunidade, procurando convencê- organizado ou área da comunidade. Mais
la a assumir posturas que terá dificuldades do que um documento com objetivos e
em manter posteriormente. Mas a satisfação estratégias, o sucesso do plano, ou seja, sua
plena da comunidade com a atividade eco- bem sucedida implementação, depende
55
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

desde processo de elaboração coletiva na è Estabelecendo uma base política,


região. E, desta forma, o diagnóstico deve legal e administrativa
apresentar as seguintes respostas:
A partir do diagnóstico, pode-se esta-
❐ Pontos negativos e positivos, oportu- belecer um processo político que objetive a
nidades e ameaças (conhecida por criação de uma Política Regional ou Mu-
planejadores como "análise SWOT"(6)) nicipal de Ecoturismo, incluindo as grandes
do desenvolvimento do ecoturismo na linhas de ação acima mencionadas, e esta-
região, pelas perspectivas ambiental, belecendo as bases administrativas e legais
social, cultural e econômica. para o desenvolvimento do Plano.
1 ❐ Estimativa preliminar da capacidade de A partir da adoção de uma Política de
carga dos atrativos. Caso as propriedades Ecoturismo, o conteúdo do plano constitui-se
não possuam a avaliação de sua capaci- principalmente de regras acordadas pelo
dade de carga (ver capítulo Monitora - grupo, das responsabilidades individuais e
mento e Controle de Impactos de coletivas, e sua implementação vai depender,
Visitação), pode-se optar inicialmente mais uma vez, da qualidade e da efetividade da
por uma estimativa do número de pes- participação e da relação entre os diferentes se-
soas que pode visitar a área em um dia tores da sociedade. A realização de uma ou
sem prejudicar a qualidade da visita. Esta mais oficinas com a participação de pessoas de
estimativa deve basear-se na experiência diversos setores da comunidade, como em-
dos proprietários ou usuários freqüentes presários, guias, vereadores, secretários muni-
da área (guias ou moradores locais, ope- cipais e até pessoas não ligadas ao turismo,
radores, visitantes). também é uma boa estratégia para definir o
❐ Contraste entre a estimativa de capaci- modelo de ecoturismo que se pretende.
dade de carga dos atrativos naturais com Em âmbito regional, num pólo de eco-
a oferta de leitos atuais na região. turismo, no entorno de uma grande área pro-
❐ Quais atrativos podem ser utilizados a tegida ou em uma bacia hidrográfica, a ado-
curto, médio e longo prazos. ção de uma política pode ser estabelecida
❐ Análise da infra-estrutura e identificação por meio de consórcios ou comitês intermuni-
de suas deficiências. cipais. Como exemplo, o estabelecimento
❐ Tipos e oportunidades de empreendi- de uma política regional de uso e gestão sus-
mentos necessários. tentável de bacias hidrográficas, por meio
❐ Quais os públicos preferenciais, ou seja, de consórcios intermunicipais, com uma vi-
que tipos de visitante se deseja ou se são estratégica sobre todas as atividades eco-
pode atrair de acordo com as caracterís- nômicas (indústria, agricultura e serviços),
ticas ambientais, culturais e de infra- servirá para que cada município adote em
estrutura do local. nível municipal uma política local harmoni-
❐ Número de ocupações profissionais ou zada aos municípios de entorno. E na Amazô-
empregos. nia, o Grupo Técnico de Coordenação do
❐ Vocação da comunidade. Ecoturismo para a Amazônia (GTC) vem há
❐ Tipo e nível de formação profissional dos 6 anos estabelecendo políticas de ecoturis-
moradores locais (tanto a formação esco- mo de forma participativa pela integração
lar quanto a prática). de interesses de nove estados da região
junto com o governo federal.

(6) – NOTA DO AUTOR: A análise SWOT – Strengths (pontos fortes), Weaknesses (pontos fracos), Opportunities (opor-
tunidades), Threats (ameaças) é um método que parte da idéia de que deve-se avaliar e atuar estrategicamente sobre
os fatores atuais (maximizar as forças e corrigir as fraquezas) e futuros (realizar as oportunidades e evitar as ameaças)
que influenciam ou venham a influenciar o desenvolvimento de atividades e projetos que compõem os planos.
56
Planejamento do ecoturismo – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

EXEMPLO: PLANEJAMENTO REGIONAL DE PÓLOS DE ECOTURISMO

Dois programas públicos de desenvolvimento do ecoturismo, com enfoque regional,


vêm se desenvolvendo no Brasil nos últimos anos. Um é conduzido pela Secretaria de
Coordenação da Amazônia do Ministério do Meio Ambiente (SCA/ MMA) e outro con-
duzido pela Embratur, órgão do Ministério de Esportes e Turismo(7). Há ainda um terceiro
projeto, não constituído em forma de programa, desenvolvendo dois pólos de ecoturismo,
conduzidos pela Secretaria de Políticas para o Desenvolvimento Sustentável também do
Ministério do Meio Ambiente (SDS/MMA). Apesar de adotarem, infelizmente, diferentes
metodologias, os programas vêm trazendo valiosas contribuições para a definição de
planos estratégicos de desenvolvimento do ecoturismo em nível regional. Segue abaixo 1
uma breve descrição de cada programa.

PROGRAMA PÓLOS DE ECOTURISMO – EMBRATUR / MT UR

Desenvolvido pelo Ministério de Esportes e Turismo (MET, atual Ministério do Turismo),


por intermédio do Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur) e de sua Diretoria de Economia
e Fomento, em parceria com o Instituto de Ecoturismo do Brasil (IEB), o Programa Pólos de
Ecoturismo possui entre seus objetivos identificar as localidades brasileiras onde a prática do
ecoturismo vem ocorrendo com sucesso e aquelas com potencial de desenvolvimento mas
ainda carentes de infra-estrutura e recursos humanos capacitados. Ainda em implantação, e
sem um orçamento definido, o Programa abrange todo o território brasileiro e já identificou
96 regiões ou pólos com potencial para o desenvolvimento de atividades ecoturísticas.
Atualmente vem fazendo um levantamento das características, das potencialidades e das
condições da infra-estrutura nos locais onde o ecoturismo se apresenta como uma nova
alternativa de desenvolvimento. A implementação do Programa dar-se-á por um Comitê
Gestor, onde os diferentes representantes do setor privado e não-governamental vão con-
tribuir para consolidar os Pólos. Fazem parte do Comitê Gestor, entre outras entidades, o
Instituto de Ecoturismo do Brasil, Fundação SOS Mata Atlântica, WWF-Brasil, Conselho
Nacional da Reserva Biosfera da Mata Atlântica, Eco Associação para Estudos do Ambiente,
Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (FUNBIO), Instituto para o Desenvolvimento da
Economia e Indivíduo do Ambiente e da Sociedade (IDEIAS), Instituto de Hospitalidade (IH)
e Brasil Connects.

PÓLOS DE DESENVOLVIMENTO DO ECOTURISMO NA AMAZÔNIA LEGAL -


PROECOTUR - SCA / MMA

Desenvolvido pela Secretaria de Coordenação da Amazônia (SCA) do Ministério do Meio


Ambiente, por meio do Grupo Técnico de Coordenação do Ecoturismo para Amazônia
(GTC Amazônia), o Programa Pólos de Desenvolvimento do Ecoturismo na Amazônia
Legal (Proecotur), está sendo desenvolvido por meio da definição de nove pólos de eco-
turismo, um em cada estado da Amazônia Legal - Amazonas, Acre, Amapá, Pará, Rondônia,
Roraima, Tocantins, Maranhão e Mato Grosso. Serão implementados em cada estado por meio
de diversas ações estratégicas, ações de definição e de detalhamento de um pólo, a elaboração
de planos de desenvolvimento, a criação e implantação de áreas protegidas, programas de
capacitação profissional, estratégias de marketing entre outras. O programa conta com diver-

(7) – NOTA DO EDITOR: Em 2003, o Ministério dos Esportes e Turismo foi desmembrado em dois (Ministério dos
Esportes e Ministério do Turismo)
57
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

EXEMPLOS:
(Continuação)
sas parcerias, além de financiamento do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

PÓLOS DE DESENVOLVIMENTO DO ECOTURISMO – SDS / MMA

Desenvolvido pela Secretaria de Políticas para o Desenvolvimento Sustentável (SDS)


do Ministério do Meio Ambiente, vem elaborando ações de planejamento para o desen-
volvimento de pólos de ecoturismo em duas regiões brasileiras: no Delta do Parnaíba,
1 entre Piauí e Maranhão, e no entorno do Parque Nacional da Serra dos Órgãos, na região
serrana do Rio de Janeiro. No caso do Delta do Parnaíba, uma das estratégias de planeja-
mento é o estabelecimento do Zoneamento Econômico-Ecológico permitindo-se efetuar
um diagnóstico amplo dos potenciais de desenvolvimento econômico aliado à conser-
vação ambiental. E o ecoturismo é uma das atividades potenciais identificadas.

Em nível municipal(8), uma política de definindo a “missão” que deverá desempe-


ecoturismo identificará o papel e as ações nhar o ecoturismo no município ou na
dos diversos setores e instituições, propondo região. O Conselho ou o grupo de trabalho
e regulamentando a interface entre poder é a instância onde o planejamento pode ser
público e a sociedade civil, a partir de um monitorado da melhor forma possível, é um
plano integrado e participativo. A criação de instrumento institucional que permite a par-
Conselhos Municipais de Turismo ticipação da comunidade nas decisões de
(COMTURs) de caráter consultivo e, mais desenvolvimento do ecoturismo.
importante, deliberativo, é um passo impor- Ainda pensando-se em âmbito munici-
tante por estabelecer um foro instituciona- pal a regulamentação pode ser definida por
lizado e legítimo para as tomadas de meio de um plano diretor amplo, que inte-
decisão em nível local, desde que possua gre o desenvolvimento urbano e rural,
paridade em sua composição entre governo, observando os limites para o uso e ocu-
mercado privado e setores sociais e ambien- pação do solo pelas diferentes aptidões
tais da sociedade. Criado por decreto econômicas locais, a definição de espaços
municipal e elevado à condição de fórum especialmente protegidos (sítios naturais,
legítimo de debate do turismo, o Conselho é históricos e culturais) e até especificando a
formado por pessoas de vários segmentos limitação das estruturas dos equipamentos
sociais. Seu caráter diversificado deve ser turísticos e de lazer, tais como a escala dos
um motivador ao senso comum. empreendimentos, altura das edificações,
O Consórcio Intermunicipal ou áreas verdes e jardins etc., definição de
Conselho Municipal de Turismo (COMTUR), padrões arquitetônicos e tecnologias para os
ou o grupo formado com representação empreendimentos na área rural e outras
diversificada de setores da comunidade, normas. Esse controle é de fundamental
deve debater o turismo de maneira a dar importância, pois tem-se verificado nos
continuidade ao processo de planejamento, pólos de ecoturismo uma invasão de

(8) – NOTA DO AUTOR: Uma política do turismo em nível local, com base legal ampla, reguladora
e fomentadora foi motivo de estudo de consultoria por parte do Programa de Turismo e Meio Ambiente
do WWF-Brasil, que gerou uma publicação a ser lançada em 2003: Turismo Responsável: Manual para
Políticas Locais, em parceria com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
58
Planejamento do ecoturismo – P LANEJAMENTO ESTRATÉGICO

empresários de outras localidades, deten- formado é estabelecer o chamado prognós-


tores de maiores recursos financeiros, maior tico, ou diagnóstico futuro, definindo um
entendimento da atividade ecoturística e cenário desejável em função da situação
menor compromisso com o desenvolvimen- diagnosticada, e onde já começam a ficar
to local sustentado. Isto gera um tipo de tu- claros os desafios e as estratégias para se
rismo que centraliza os benefícios econômi- realizar as idéias geradas pelo diagnóstico.
cos ou que ocupa os melhores espaços A pergunta que deve ser feita na etapa do
comerciais, ou mesmo espaços tradicionais prognóstico é: “Aonde queremos chegar?” e
da comunidade, expulsando-a para a perife- a resposta, na forma de um Plano, será uma
ria das cidades e ainda impedindo estas resultante das potencialidades e das expec-
comunidades de usufruir de sítios atrativos, tativas compatibilizadas com as perspecti- 1
antes de gozo comum. vas do mercado. Expectativas, potenciali-
dades e mercado são as “chaves” do
è Estabelecendo o prognóstico prognóstico para o desenvolvimento do
ecoturismo em um município ou região. No
Uma vez definido o grupo responsável entanto, nem todas as cidades ou regiões
pela elaboração do Plano de Desen- têm a obrigação de optar pelo ecoturismo
volvimento do Ecoturismo (local ou regio- como atividade econômica, e o diagnóstico
nal), a primeira responsabilidade do grupo deve ser capaz de identificar isto.

VALE DO RIBEIRA, SP –
CONSELHO CONSULTIVO
E PLANO ESTRATÉGICO REGIONAL

região do Vale do Ribeira contém as maiores áreas contínuas dos remanescentes


de Mata Atlântica do Brasil, sendo de grande importância para a conservação
desse bioma. Trata-se de uma das áreas piloto da Reserva da Biosfera da Mata
Atlântica, que abrange 29 milhões de hectares em 14 Estados brasileiros, e área
reconhecida pela UNESCO como Sítio do Patrimônio Natural da Humanidade.
Localizada na região mais pobre do Estado de São Paulo, a região vive permanentemente
os conflitos que envolvem a conservação do meio ambiente e o desenvolvimento.
Próxima a algumas horas de um dos maiores centros urbanos do mundo, a cidade de
São Paulo, o Alto Vale do Ribeira possui grande potencial para a implantação de um
turismo planejado, sustentável e que seja uma alternativa econômica concreta para as
populações.
O ecoturismo já vem sendo discutido com as populações do Vale do Ribeira como
uma alternativa para um modelo de desenvolvimento que melhore as suas condições de
vida e promova a conservação deste importante patrimônio natural. O WWF-Brasil, em
parceria com o Vitae Civilies, observando que haviam diversas iniciativas em turismo e
meio ambiente na região, mas que elas não estavam integradas por um plano regional,
desenharam um projeto que objetiva, entre outras atividades de conservação da Mata
Atlântica, apoiar iniciativas ligadas ao fortalecimento do ecoturismo na região.

59
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

(Continuação)
Dividido em 3 componentes, o projeto prevê:
1. Apoiar o desenvolvimento de um Plano Estratégico Regional de Ecoturismo;
2. Apoiar a consolidação das Áreas Protegidas da região;
3. Promover a criação de RPPN no entorno das Unidades de Conservação
Mais voltado para o planejamento do ecoturismo, o componente 1 teve como
1 estratégias fazer a) o mapeamento de atores e ações em ecoturismo no Vale do Ribeira,
b) promover um diagnóstico amplo da atividade na região, c) elaborar uma visão de
futuro comum para os diversos temas que envolvem o ecoturismo e d) elaborar o plano
estratégico de desenvolvimento da atividade.
O Mapeamento de Atores Sociais e de Ações em ecoturismo identificou as entidades
públicas e privadas que já promovem trabalhos de ecoturismo na região formando
um cadastro. O cadastro foi dividido, para efeito de melhor noção de representatividade, em
instituições governamentais que teve a participação de Prefeituras, Secretarias e Conselhos
Municipais de turismo, Instituto de Terras, Escritório Regional do SEBRAE e gerências dos
Parques Estaduais, entre outros. Pelo setor privado participaram agências de viagens e turismo,
pousada e hotéis, restaurantes, revistas regionais além de proprietários rurais. Por parte das
associações e ONGs participaram as Associações de Monitores Ambientais, Associação
de Moradores e de Bairros, Associação de Produtores Rurais e associações Quilombolas. Além
disso, participaram instituições de ensino e pesquisa como universidades e escolas locais.
As entidades foram convidadas para compor um Grupo Consultivo, que tem o papel de
sugerir estratégias e diretrizes para a melhor realização do projeto, além de ser o verdadeiro
autor do futuro Plano Estratégico. Não se esperava que o aceite fosse imediato, porém
conforme as reuniões se desenvolviam, mais entidades foram aderindo ao Grupo. Foram
desenvolvidas oficinas participativas para complementar o cadastro de entidades
e desenvolver o mapeamento de atores sociais, uma espécie de “quem é quem”
no ecoturismo da região, e o que cada um vem desenvolvendo dentro de temáticas
pré-estabelecidas. O quadro a seguir mostra o mapeamento resumido em formato
de matriz. Cabe ressaltar que além das informações abaixo, o mapeamento pode buscar
e detalhar outras informações como por exemplo, a missão da entidade, seus pontos fortes
e fracos em sua área de atuação etc.
Na Tabela da página seguinte, cada entidade é representada por um símbolo, de forma a se
identificar as parcerias em cada área de atuação.
Após o mapeamento, foi possível identificar lacunas de trabalhos em áreas
estratégicas do turismo na região como, por exemplo, a inexistência de uma estratégia
de comercialização do produto turístico instalado e a necessidade de educação
ambiental com escolas e a população local. Foi possível também que as entidades
visualizassem parcerias de fácil alcance, o que de fato veio a ocorrer.
Com o mapeamento e as parcerias atuais e potenciais identificadas, passou-se para
a fase de construção do plano, cuja primeira etapa foi a coleta de documentos
institucionais, diagnósticos, informativos, revistas locais regionais, teses e dissertações,
inventários disponíveis, além de diversas visitas de campo nos municípios de interesse.

60
Planejamento do ecoturismo – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

(Continuação)
GRUPO CONSULTIVO
IDENTIFICAÇÃO DOS ATORES SOCIAIS EM ECOTURISMO NO VALE DA REIBEIRA,
SUAS ATIVIDADES E PARCERIAS

INSTITUIÇÃO 1

Agenda de
Ecoturismo/
Cepam/IEA OG
Diretor PETAR OG
IBAMA OG
Sebrae OG
Prefeitura Itaóca OG
COMTUR Apiaí OSC
AMAIR OSC
AGUA OSC
SUTACO OSC
ING ONG ONG
GAIA ONG
WWF/Brasil ONG
Vitae Civilis ONG
Revista Valetur PRIV
Ambiental
Expedições PRIV
Universidades OG/PRIV
Fundesvar OG
Embratur OG
FONTE: Vitae Civiles e WWF-Brasil. Relatório do Projeto "Apoio a conservação da Mata Atlântica
no corredor ecológico da Serra de Paranapiacaba, Estado de São Paulo/Brasil”
LEGENDA: ONG – organização não governamental;
OSC – organização da sociedade civil;
OG – organização governamental;
PRIV – empresas privadas; Símbolos – parcerias entre instituições.
Para efeito de demonstração e modelo, esta tabela retirou os nomes de algumas organizações identificadas.

A base do Plano é um diagnóstico da infra-estrutura e serviços, da comercialização


do produto turístico, do perfil da demanda e dos atrativos existentes nos municípios
da região. Em função de já haver um inventário, realizado em 1998, porém incompleto
e desatualizado, optou-se pela sua retomada, em parceria com a Agenda de Ecoturismo
do Vale do Ribeira e associações de monitores ambientais da região. Para o diagnóstico
(análise crítica dos dados levantados), foi contratado um consultor especializado.

61
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

(Continuação)
A partir do diagnóstico, foi planejada uma oficina de 2 dias para se estabelecer
a análise dos pontos fortes e fracos e das oportunidades e riscos para a implantação
do ecoturismo na região para cada tema de interesse (os mesmos temas definidos na
matriz de mapeamento dos atores). Com esta análise foi possível estabelecer os objetivos
estratégicos para cada área temática, detalhando os projetos, ações, responsabilidades e
parcerias, indicadores, orçamento, fonte de recursos, monitoramento etc
1 Por fim, para otimizar o trabalho de comunicação, e para estimular o debate,
foi criado um fórum eletrônico de discussão. Foi previsto ainda, a elaboração
de um boletim para a divulgação do fórum e da elaboração e distribuição de material
de divulgação do Projeto. Todo o resultado dos trabalhos estará disponível em livro,
e outros formatos adequados para o público amplo, além de estar previsto a elaboração
e manutenção de páginas na Internet e localizados em sites do VC e WWF, entre outros.

è Elaborando o Plano de Desenvolvimento truir, um cenário ideal, onde todas as neces-


do Ecoturismo Local / Regional sidades e desejos são atendidos. Sem ser
demasiado específica, a missão deve no
O primeiro passo para se elaborar o entanto expressar a escolha da comunidade
Plano de Desenvolvimento do Ecoturismo é em termos de qualidade social e ambiental
o estabelecimento de sua missão. A missão que o ecoturismo pode trazer.
é o cenário que a comunidade deseja cons-

MISSÃO DO PLANO DE ECOTURISMO


EXEMPLO: DE UM MUNICÍPIO OU REGIÃO
Características desejáveis para se estabelecer uma "Missão"

❐ É o norte de orientação do Plano.


❐ As palavras têm que ser objetivas e diretas.
❐ O caráter da missão é atemporal, ou seja, a missão não possui prazo de implementação.
❐ Serve sempre como a orientação maior para empresas, funcionários, fornecedores
e políticos locais

Exemplo:

Missão ] “Consolidar o ecoturismo como atividade econômica rentável, valo-


rizando nossa cultura e nossa natureza e satisfazendo as necessidades da comu-
nidade e dos visitantes, por meio de produtos e serviços de qualidade e de respon-
sabilidade sócio-ambiental.”

Definida a missão ou o que se pretende gerais, objetivos específicos, metas e ativi-


com a atividade ecoturística, o passo dades. Para o objetivo geral, elaboram-se
seguinte será detalhar de que forma a mis- objetivos específicos. Para cada objetivo es-
são será buscada, por meio de objetivos pecífico requer-se metas e, para cada meta,
62
Planejamento do ecoturismo – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

diversas atividades. aos objetivos gerais dentro das característi-


Os objetivos devem atender aos princí- cas da região. É então necessário definir as
pios do ecoturismo, ao mesmo tempo em metas a serem cumpridas para que os obje-
que são descritos dentro do cenário deseja- tivos específicos possam ser alcançados. As
do e almejado. Dividem-se em objetivos metas devem ser mensuradas e datadas, e
gerais – aqueles que abordam de forma definidas as responsabilidades por seu
global o interesse do plano – e objetivos cumprimento (indivíduos, instituições, em-
específicos – que definem resultados inter- presas ou grupos comunitários que estejam
mediários que conjuntamente respondem presentes na elaboração do Plano).

1
EXEMPLOS: OBJETIVOS, METAS E ATIVIDADES

Características desejáveis para se estabelecer "OBJETIVOS":

❐ Os objetivos ajudam a definir o que se pretende alcançar.


❐ Refletem a afirmação da missão.
❐ Refletem coletivamente a direção aceita para a região ou município.
❐ Podem variar, e geralmente variam, de uma região para outra.
❐ São definidos dentro do prazo de implementação do ecoturismo como Plano (partin-
do do princípio que eventualmente a atividade, se bem sucedida, passará a integrar a
rotina de vida da comunidade).

Para o ecoturismo de base comunitária os objetivos devem contemplar:


❐ Preservação de modos de vida sustentáveis e valores locais.
❐ Conquista de benefícios econômicos, sociais e ambientais.
❐ Proteção do meio ambiente.

Exemplos:
Objetivo geral w “Desenvolver produtos e roteiros de ecoturismo geridos por
pequenos e médios empresários do local / região.”
Objetivo específico (1) w “Buscar ou criar uma linha de crédito para implantação
de pequenos estabelecimentos de operação, hospedagem e alimentação para o eco-
turismo.”
Objetivo específico (2) w “Apoiar tecnicamente pequenos estabelecimentos de ope-
ração, hospedagem e alimentação para o ecoturismo na obtenção de créditos.”

Características desejáveis para se estabelecer "METAS":


❐ As metas são os resultados necessários para atingir os objetivos.
❐ São quantificadas e qualificadas de forma a permitir sua verificação.
❐ Possuem prazos para seu cumprimento que são no máximo iguais aos prazos dos obje-
tivos específicos.

Exemplos:
Meta (1.1) w “Criar um fundo municipal / regional, controlado pela sociedade, para
disponibilizar micro-créditos para estabelecimento ou fortalecimento de pequenos
negócios de ecoturismo, até março de 2000, pela Secretaria Municipal de Turismo em
parceria com o Estado e agências governamentais e bancos de financiamentos.”

63
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

OBJETIVOS, METAS E ATIVIDADES


EXEMPLOS:
(Continuação)
Meta (2.1) w “Dar suporte técnico e viabilizar o crédito para a implantação, aquisição
de equipamentos e/ou reforma de 02 operadoras de receptivo, 10 pousadas e 2 restau-
rantes na região da Lapinha, entre março de 2000 a setembro de 2001 pela Secretaria
Municipal de Turismo.”

Características desejáveis para se estabelecer "ATIVIDADES":


1 ❐ São as ações específicas que serão tomadas para atingir as metas.
❐ São bastante objetivas, com prazos menores do que os das metas, e identificação dos
responsáveis, preferencialmente seu nome ou a função que ocupam.
❐ Geralmente apresentam-se como uma seqüência de ações necessárias para atingir
cada meta.
Exemplos:
Atividade (1.1.1) w Firmar contrato com governo estadual para uso do Fundo ‘XYZ’
como linha de crédito para pequenos empreendimentos locais voltados para o ecotu-
rismo – até março de 2000 – Secretário Municipal de Turismo.
Atividade (2.1.1) w Elaborar os critérios e termos para concessão de crédito – Até
Junho de 2000 – Dois membros do COMTUR (buscar auxílio técnico especializado,
caso necessário).
Para mais detalhes sobre a elaboração de objetivos, metas e atividades, consultar o
capítulo Participação Comunitária e Parcerias e a bibliografia sugerida.

Definidos os parâmetros do Plano – mis- demasiada complexa para se elaborar


são, objetivos gerais, objetivos específicos e planos de ação sob um único objetivo geral.
metas – estão constituídos os elementos Assim, a partir da missão estabelecida,
centrais (a coluna vertebral) do Plano de define-se diferentes objetivos gerais, cada
Desenvolvimento do Ecoturismo. Com base um com objetivos específicos e metas dife-
nesses parâmetros é elaborado o roteiro, ou renciadas entre si.
plano de ação, composto pelas atividades Partindo-se desta visão, pode-se esta-
necessárias – assim como prazos, recursos e belecer Programas dentro do Plano. Cada
responsáveis – para se atingir as metas. O programa vai possuir seus objetivos (geral e
plano de ação responderá a pergunta específicos, metas e atividades). Os prazos,
“Como chegaremos lá?”. os responsáveis e os recursos necessários
podem ser diferentes em cada programa. E
è Priorizando objetivos ainda, se o Plano for demasiadamente com-
plexo, a sua divisão em Programas pode
Um Plano de Desenvolvimento do facilitar a captação de recursos por dife-
Ecoturismo Local ou Regional pode, even- rentes fontes de financiamento.
tualmente, conter um ou mais objetivos Sabendo-se que o ideal é que o plano
gerais, dependendo da complexidade da seja implementado de forma integrada, con-
área de abrangência e da complexidade da templando todos os objetivos e programas,
própria missão e dos objetivos do Plano. Em caso seja necessário sua implementação de
alguns casos, o objetivo geral pode ser a acordo com os limites de recursos, um
própria missão. Em outros a missão é método de priorização deve ser desenvolvi-
64
Planejamento do ecoturismo – P LANEJAMENTO ESTRATÉGICO

do. É necessário uma criteriosa avaliação dade estabelecida pela comunidade ou a


para se decidir se os diferentes programas disponibilidade de recursos para os dife-
serão implantados conjuntamente ou sepa- rentes programas. Abaixo, segue um exemplo.
radamente, influindo nesta decisão a priori-

EXEMPLO: PRIORIZANDO OBJETIVOS


OBJETIVOS CURTO MÉDIO LONGO
PRAZO PRAZO PRAZO
• Gerar e manter renda por meio do desenvolvimento
de produtos e roteiros de ecoturismo geridos por 1
pequenos e médios empresários do local / região 3 2 1
• Proteger e manter a qualidade dos recursos naturais
motivos de interesse turístico 3 3 3
• Ampliar a arrecadação de impostos municipais 1 2 3
Escalas de Prioridades: 0 = ausente; 1 = mínima; 2 = média; 3 = máxima

FONTE: Adaptado de IGNARRA, s.d

PROJETO SILVES, AM –
FASE 3 – CARAVANA MERGULHÃO

Um modelo de Participação, Integração,


Planejamento e Re-Planejamento

m Silves, Amazonas, após as duas primeiras fases (1994 a 1999) de planejamento


e implementação (veja a apresentação do Projeto Silves na Introdução)
a comunidade assumiu o controle total do projeto. Ao longo do período de 2000
à 2002, e após diagnosticar a necessidade de ajustes para se atingir os objetivos e as
metas iniciais, a Associação de Silves pela Preservação Ambiental e Cultural (ASPAC),
optou por um processo de re-planejamento, com o estabelecimento de novos, e mais
amplos, objetivos e metas de conservação e uso sustentável dos recursos da várzea.
O novo planejamento identificou como objetivo principal a implantação
e consolidação de um plano de desenvolvimento e conservação da várzea, por meio
de diferentes programas de intervenção, aliado a um processo organizado
de envolvimento e participação comunitária (veja o diagrama abaixo).
O método identificado para este novo processo foi a Caravana Mergulhão, projeto de
Educação Ambiental organizado pelo WWF-Brasil e ASPAC em 2000. As novas Caravanas
Mergulhão consistem de equipes multi-disciplinares e multi-temáticas, compostas
principalmente pelos próprios comunitários, que percorrem as comunidades em barcos
equipados com materiais educativos e técnicos, para atuar com educação ambiental e
assistência técnica, buscando um maior envolvimento comunitário. Este envolvimento
visa a atuação coletiva sobre diversos temas de interesse local – gestão de lagos
(zoneamento, acordos de pesca), controle da pesca (comunitária, comercial e esportiva),

65
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

(Continuação)
qualidade d'água (monitoramento), agricultura e pecuária (técnicas de uso e permacultura);
turismo (identificação, implantação e monitoramento de atrativos e paisagens de uso
turístico), lixo (geração e disposição) entre outros.
Após uma etapa de planejamento e diagnósticos participativos com representantes
e lideranças de 10 comunidades locais, foram delimitados os principais problemas
das comunidades em cada um dos temas centrais. Os próprios comunitários indicaram
1 o cenário futuro desejado para suas comunidades, as formas como a Caravana
(o método) irá intervir, ressaltando que as atividades (palestras, oficinas, apoios técnicos,
jogos e artes para os públicos adulto e infanto-juvenil) deverão compor um processo
integrado de busca de soluções. As caravanas percorrerão o entorno da Ilha de Silves
e do Lago Canaçari aos fins-de-semana durante 7 meses.
Por meio deste método, o qual adquire o formato e a intensidade de uma campanha
que pode ser idealizada para qualquer tipo de ambiente e de situação, são contemplados
projetos em todos os programas, ao longo de determinado tempo, facilitando a execução
do plano. Para monitorar as Caravanas foram elaborados formulários simplificados
estabelecendo quais as necessidades, atividades, custos, responsáveis, agenda de tarefas
futuras, resultados alcançados e demais itens para o sucesso da proposta. No caso do
turismo, o método utilizado para apoio técnico é o constante deste Manual. Avaliações
serão feitas ao final de cada rodada de caravanas (1 mês e meio), identificando
e corrigindo eventuais lacunas e falhas do método. Todos os resultados serão compilados
em um estudo demonstrativo, para ampla disseminação.

PLANO DE DESENVOLVIMENTO E CONSERVAÇÃO DA VÁRZEA EM SILVES / AM

PROGRAMA DE PROGRAMA DE USO


PROGRAMA
GESTÃO INTEGRADA SUSTENTÁVEL
DE CONSOLIDAÇÃO
DE BACIAS DOS RECURSOS
DO ECOTURISMO
HIDROGRÁFICAS DA VÁRZEA

Projeto de Projeto de Projeto de


Projeto Projeto de Projeto de
Zoneamento Mapeamento Operação e
de Criação Monitoramento Assistência
e Controle e Marketing
da APA da Qualidade Técnica para
dos Lagos Monitoramento de
de Silves d'água Uso do Solo
de Pesca de Atrativos Ecoturismo

MÉTODO INTEGRADO - CARAVANA MERGULHÃO


66
Planejamento do ecoturismo – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

è Áreas mínimas a serem contempladas ❐ Elaboração de roteiros e pacotes turísticos.


no plano de ações ❐ Estabelecimento de uma política de
preços.
Abaixo são apresentados de forma ❐ Definição das necessidades de sistemas
resumida algumas atividades estratégicas de sinalização turística (educativas e de
que devem compor o plano de ações do orientação).
Plano de Desenvolvimento do Ecoturismo ❐ Integração de outros setores econômicos
Regional. (produção agrícola, construção civil e
marcenaria, produção de suvenires, con-
a) Definição do zoneamento, fecções e artesanato etc).
da infra-estrutura urbana e rural 1
e serviços necessários: d) Estratégia de marketing
❐ Definição do zoneamento de uso e ocu- local / regional:
pação do solo, incluindo o mapeamento ❐ Identificação do mercado consumidor.
das áreas de conservação (áreas protegi- ❐ Estabelecimento de uma estratégia de
das legalmente, reserva legal e áreas de divulgação, buscando objetividade na
proteção permanente) atração do público potencial, dentro de
❐ Quantificação das necessidades de infra- uma política de associar a divulgação
estrutura de acesso, iluminação, sanea- institucional (feita pelo Poder Público) à
mento, energia, comunicação, segu- divulgação comercial (feita pela iniciati-
rança e saúde, baseadas nos resultados va privada).
do diagnóstico. ❐ Definição de uma identidade visual para
❐ Definição das necessidades e tipologias a área de abrangência do ecoturismo,
das estruturas, dos equipamentos e insta- compatibilizando logomarca, folhetos,
lações e suas características especiais e sinalização, vídeos etc..
serviços para atender ao público de- ❐ Elaboração de um calendário de pro-
finido no diagnóstico. moções e eventos que possam poten-
cializar a publicidade e estruturar o mar -
b) Zoneamento dos atrativos keting, atuando com estratégias específi-
e infra-estrutura de apoio turístico: cas em cada época do ano, dentro da
❐ Definição das áreas de uso interditado perspectiva de sazonalidade do turismo.
(intangível), restrito, extensivo, intensivo
e outras de acordo com o diagnóstico è Estratégia de implantação
ambiental. do Plano de Ações
❐ Mapeamento e hierarquização dos atra-
tivos de acordo com o prazo para seu A estratégia de implantação é a última
desenvolvimento. etapa da elaboração do Plano de Desen-
❐ Definição da localização dos equipa- volvimento do Ecoturismo Regional ou
mentos necessárias aos atrativos (esta- Local, onde as ações são organizadas de
cionamento, acessos etc.) maneira cronológica (ações organizadas ao
longo do tempo). Além do cronograma físico
c) Desenvolvimento do produto (por exemplo, atividades por mês), deve-se
ecoturístico regional e a interação avaliar e definir um cronograma financeiro,
com outras atividades onde insere-se os custos da implantação do
da comunidade: plano, ordenados por atividades, permitin-
❐ Definição da identidade visual e ar- do-se observar, de maneira coerente, a
quitetônica do pólo e dos produtos. necessidade de captação de recursos.
❐ Definição do público ou dos públicos Na implantação do plano de ecoturismo
potenciais. em nível local ou regional, duas abordagens
67
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

merecem destaque para garantir o desen- Conceitual e o exemplo do item 3 da Caixa de


volvimento equilibrado e a viabilidade Ferramentas deste capítulo).
econômica e social – a capacitação da No caso do planejamento regional, ao se
comunidade e a obtenção e uso de recursos adotar a unidade de bacias hidrográficas
financeiros. No primeiro caso, os moradores para a gestão ampla dos recursos naturais,
da localidade ou da região necessitam de como vem ocorrendo por diversas iniciativas
treinamento e capacitação tanto para parti- financiadas pela Agência Nacional de Águas
cipar ativamente do processo de planeja- (ANA), pode-se aproveitar deste investimen-
mento (como, por exemplo, no inventário to para se implantar algumas estratégias do
participativo) como para atender à demanda plano de ecoturismo o qual, por ser integra-
1 de mercado (ver capítulo Programa de do, tem objetivos comuns em termos de
Capacitação Comunitária). Para gerar renda gestão dos recursos naturais. Essa adoção de
de forma mais equilibrada, mais importante uma visão de planejamento integrado, que
que a atração de empresas de fora da região vem sendo implantado nos Comitês de
será a criação de empresas por empreende- Bacias, só tende a favorecer a implantação
dores locais, que devem ser estimuladas por do ecoturismo em nível regional.
prefeitos e vereadores. Normas legais dife- Outra estratégia alternativa é observar os
renciadas de incentivo ao empreendedoris- mecanismos de compensação ambiental pela
mo para os atores locais, aliadas às parcerias implantação de grandes obras de infra-estru-
estratégicas, por exemplo, com o SEBRAE, tura, os quais têm também gerado recursos
permitirão melhor competitividade do mer- significativos para projetos integrados de
cado, ao oferecer incentivos e isenções fis- manejo dos recursos. Por exemplo, ao passar
cais aos pequenos empresários da própria por vasta área de influência do Parque
comunidade e treinamentos específicos Nacional da Chapada dos Veadeiros (GO), a
para diversas ocupações que direta ou indi- implantação do linhão de distribuição de
retamente o turismo exige. energia da Usina Hidrelétrica de Serra da
A busca de fontes de financiamento e Mesa vai gerar recursos financeiros de com-
investimento é outro gargalo com que se pensação ambiental que serão revertidos
deparam prefeitos e entidades na busca de se para iniciativas locais que contribuem para a
viabilizar seus planos locais e regionais. Os consolidação do Parque e seu entorno,
projetos de caráter comunitário e que atendem incluindo atividades de educação ambiental
aos princípios do ecoturismo têm conseguido e ecoturismo. E recursos de compensação
recursos de fontes governamentais – nacionais ambiental serão destinados ao Parque
ou bilateriais (como Banco Mundial, Banco Nacional da Tijuca (RJ), simplesmente pela
Interamericano de Desenvolvimento, GEF, existência de antenas de rádio e TV que se
PPG7 etc.) –, ou não governamentais com instalaram em sua área montanhosa.
maior facilidade do que projetos conven- Em nível local, a busca por investimentos
cionais. Não cabe a este Manual detalhar não é menos árdua. Mas a criação de um
todas as possibilidades na busca por financia- Fundo Municipal de Turismo (FUMTUR),
mentos de projetos, mas apenas algumas con- com o estabelecimento de taxas para
siderações que ilustram caminhos alterna- licenças de implantação de empreendimen-
tivos.(9) Diversos programas públicos, em tos, atividades e serviços turísticos, acorda-
nível federal e estadual, de planejamento, das com o mercado, pode subsidiar a
ordenamento e fomento ao turismo vêm se implantação de itens importantes do plano,
desenvolvendo e cabe ao planejador identi- como por exemplo uma estratégia comum
ficar e procurar inserir sua região como parte de promoção turística, ou mesmo financiar
destes programas (ver item 4 da Introdução atividades básicas locais, como a coleta e
(9) – NOTA DO EDITOR: Ver ítem Riscos e Recomendações no final deste capítulo.
68
Planejamento do ecoturismo – P LANEJAMENTO ESTRATÉGICO

destinação do lixo, a sinalização turística, os impactos socioculturais. Esses investi-


cursos de guias, segurança pública etc. mentos devem resultar no benefício à popu-
Por fim, os investimentos financeiros lação local, seja ela tradicional ou migrante,
devem nortear-se por princípios susten- e orientar as possibilidades de crescimento
táveis, determinados por contabilidade segundo a capacidade de suporte ambiental
ambiental e econômica e sua relação com e cultural.

RESERVAS EXTRATIVISTAS
1
DE PEDRAS NEGRAS E CURRALINHO:
UM EXEMPLO DE PROJETO DE ECOTURISMO EM RONDÔNIA

Captação de recursos

Projeto de Ecoturismo nas Reservas Extrativistas Estaduais de Pedras Negras


e Curralinho (RO) teve sua proposta de trabalho, integral ou em partes,
encaminhada para várias agências financiadoras nos últimos dois anos, tendo
tido relativo sucesso na aprovação de algumas delas. Cada agência possui um perfil
diferente de financiamento, principalmente no que diz respeito a salários e equipamentos
permanentes, que algumas não permitem incluir.
Deve-se ficar atento para o fato de que muitas dessas entidades não consideram
o ecoturismo uma atividade extrativista, conservacionista ou produtiva, diminuindo o
potencial de arrecadação de recursos nessas fontes. Como estratégia, o pedido de recur-
sos para o ecoturismo pode vir a ser parte de um proposta maior de conservação, facili-
tando o entendimento de órgãos financiadores de projetos ambientais, sobre o ecoturis-
mo como instrumento de conservação.
Assim, antes de iniciar o processo de elaboração e encaminhamento de proposta, é
importante avaliar o histórico e o momento da entidade à qual o apoio está sendo solici-
tado, principalmente se for governamental. Em Rondônia, apesar da proposta ter sido
aprovada e de haver um convênio, o repasse de recursos tardou quase dois anos, em vir-
tude de mudanças político-governamentais.
Deve-se considerar também as dificuldades já reconhecidas para esse tipo de processo,
tais como a demora para avaliação, aprovação e liberação do recursos.

è Monitoramento, avaliação plano de ações. O monitoramento da imple-


e continuidade do planejamento mentação do Plano – ou seja, o acompan-
hamento da realização das atividades de
O planejamento deve ser visto como acordo com seus prazos –, a avaliação pe-
processo que dura tanto quanto a atividade riódica da efetividade das atividades para
que ele visa desenvolver. Ou seja, o planeja- alcançar as metas e objetivos, e a adequação
mento não acaba quando o Plano de do plano de ações de acordo com os resul-
Desenvolvimento do Ecoturismo Regional é tados da avaliação – muitas vezes chamada
devidamente aprovado pelos diferentes de re-planejamento –, são partes do proces-
setores da comunidade e implementado pelo so que chamamos de planejamento. A con-
69
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

tinuidade do processo de planejamento é de 4. Planejando o ecoturismo


responsabilidade do mesmo grupo que o em áreas protegidas
iniciou, daí o preferência pela criação do ou propriedade rural particular
COMTUR. Os capítulos de Participação
nidades de conservação (UCs) e pro-
Comunitária e Parcerias e Monitoramento e
Controle de Impactos de Visitação oferecem
sugestões para a elaboração e implemen-
U priedades particulares com atrativos nat-
urais e culturais são o patrimônio indispen-
tação de um sistema de monitoramento, sável para o desenvolvimento do ecoturismo.
avaliação e re-planejamento. Sem a sua existência ou sem o seu adequado
A base do planejamento em ecoturismo desenvolvimento, não há ecoturismo (mesmo
1 é a participação dos diferentes setores e gru- que haja turismo). É neste âmbito que o
pos da comunidade dentro de uma estraté- princípio da conservação deve estar sempre à
gia que divide responsabilidades entre os frente das atividades de desenvolvimento do
interessados. O planejamento participativo ecoturismo, prevalecendo sobre interesses ou
é feito a partir do entendimento de que a necessidades empresariais.
comunidade, ou parte expressiva da comu- Diversos capítulos do Manual orientam o
nidade, deseja empreender o ecoturismo na desenvolvimento de infra-estrutura e serviços
região e deter controle de parte considerável em áreas naturais, especialmente os da Seção
de seu desenvolvimento. Esse entendimento 2 (ver capítulos "Manejo de Trilhas",
é desenvolvido ao longo do processo de "Interpretação Ambiental", "Monitoramento e
envolvimento da comunidade (capítulo Controle de Impactos de Visitação" e "Infra-
Participação Comunitária e Parcerias) e de estrutura de Apoio ao Ecoturismo"), de forma
realização do inventário e diagnóstico do a assegurar o respeito ao princípio da pro-
potencial ecoturístico. teção ambiental. Entretanto, a abertura de
Porém, como em qualquer sociedade, trilhas, a construção de infra-estrutura de
dificilmente haverá consenso entre todos os serviços, a elaboração de materiais interpre-
setores e grupos, ou mesmo internamente tativos e o controle dos impactos ambientais
em um setor ou grupo, sobre a atividade do devem ser feitos no âmbito da UC ou da pro-
ecoturismo como um todo ou sobre aspec- priedade como um todo.
tos específicos da atividade na região. Do ponto de vista da conservação, as
Quantas pessoas constituem “parte expressi- UCs e as propriedades (particulares ou públi-
va da comunidade”? Não há resposta clara a cas) com diversidade de recursos naturais e
esta pergunta. É necessário que o COMTUR, culturais, detentoras de paisagens autênticas
ou grupo de trabalho, ou equipe técnica e exuberantes, com elevado grau de conser-
facilitadora, ou todos esses grupos estejam vação ou com características ecológicas
atentos às reações e questionamentos dos incomuns demandam esforços prioritários
participantes em cada evento, seja como para assegurar sua proteção e manutenção
indivíduos ou como representantes de dife- perante a presença do turismo. Do ponto de
rentes setores ou áreas da comunidade. Um vista do ecoturismo, enquanto atividade
bom termômetro do nível de comprometi- econômica, essas áreas são o principal atra-
mento da comunidade com o desenvolvi- tivo, a base do produto que se coloca no
mento do ecoturismo é a distribuição de mercado. Sem elas, não há ecoturismo.
responsabilidades no Plano de Desen- Neste item, estaremos sugerindo proce-
volvimento do Ecoturismo Regional. dimentos para orientar o plano de visitação
Naturalmente, melhor termômetro é a efeti- de uma UC ou outra propriedade em área
va participação na subseqüente implemen- rural de forma a garantir a sua conservação e
tação do Plano. melhor aproveitar o seu potencial tanto recre-
ativo quanto educativo. Porém, é de funda-
mental importância conhecer a legislação
70
Planejamento do ecoturismo – P LANEJAMENTO ESTRATÉGICO

vigente e consultar os gestores das áreas pro- que na grande maioria das categorias de
tegidas antes de se estabelecer planos de eco- unidades de conservação é permitida a visi-
turismo que envolvam estas unidades. tação pública, por meio de atividades de eco-
Segundo o Sistema Nacional de Unidades turismo e de educação ambiental. Mas em
de Conservação (SNUC – Lei Federal todas elas há restrições, as quais referem-se
9.985/00) a visitação pública para atividades àquelas contidas em regulamentos próprios
de ecoturismo e de educação ambiental só (decretos), em Planos de Manejo, em consul-
pode ser desenvolvida em algumas categorias tas a proprietários, a concessionários (no caso
de unidades, tanto de Uso Sustentável como de Reservas Extrativistas) de terras inseridas
de Proteção Integral. As especificidades apre- em áreas protegidas ou a conselhos gestores,
sentadas na Ficha 8, a seguir, demonstram entre outras regras. 1
/ FICHA 8
USO PÚBLICO NAS DIFERENTES CATEGORIAS DE UCS
CARACTERÍSTICAS DOMÍNIO VISITAÇÃO EDUCAÇÃO PESQUISA
E USOS PÚBLICO PÚBLICA AMBIENTAL CIENTÍFICA

CATEGORIA DE UC – PROTEÇÃO INTEGRAL


ESTAÇÃO ECOLÓGICA Sim Não Sim, com Sim, com
restrições restrições
RESERVA BIOLÓGICA Sim Não Sim, com Sim, com
restrições restrições
PARQUE NACIONAL Sim Sim, com Sim, com Sim, com
restrições restrições restrições
MONUMENTO NATURAL Sim, com Sim, com Sim, com Sim, com
restrições restrições restrições restrições
REFÚGIO DE VIDA SILVESTRE Sim, com Sim, com Sim, com Sim, com
restrições restrições restrições restrições
CATEGORIA DE UC – USO SUSTENTÁVEL
ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL Independe Sim, com Sim, com Sim, com
restrições restrições restrições
ÁREA DE RELEVANTE INTERESSE Independe Sim, com Sim, com Sim, com
ECOLÓGICO restrições restrições restrições
FLORESTA NACIONAL Sim Sim, com Sim, com Sim, com
restrições restrições restrições
RESERVA EXTRATIVISTA Sim, com uso Sim, com Sim, com Sim, com
concedido restrições restrições restrições
RESERVA DE FAUNA Sim Sim, com Sim, com Sim, com
restrições restrições restrições
RESERVA DE DESENVOLVIMENTO Sim Sim, com Sim, com Sim, com
SUSTENTÁVEL restrições restrições restrições
RESERVA PARTICULAR DO Não Sim, com Sim, com Sim, com
PATRIMÔNIO NATURAL restrições restrições restrições
FONTE: Sistema Nacional de Unidades de Conservação, Lei Federal 9.985 / de 18 de julho de 2000.
71
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

Ecoturismo em UCs Para ilustrar o desenvolvimento da ativi-


dade, utilizamos como exemplo o Plano de
depende de aprovação Uso Recreativo do Parque Nacional Marinho
pelos órgãos competentes de Fernando de Noronha, metodologia
desenvolvida como parte de um projeto pilo-
O desenvolvimento do ecoturismo to no manejo de visitação pública em UCs,
em Unidades de Conservação deve seguir implementado pelo WWF-Brasil em parceria
com o Parque/IBAMA e com o Projeto
estritamente as orientações contidas no
TAMAR em Fernando de Noronha.
Plano de Manejo, sem o qual nenhuma O planejamento de uma UC ou pro-
1 atividade de uso poderá ser implementada. priedade rural para o ecoturismo tem por
O plano de manejo define os objetivos objetivo desenvolver um sistema de áreas de
gerais da unidade, sua inserção numa visitação (trilhas, áreas de mergulho e
esportivas, de piquenique, de contemplação
realidade geográfica e o estabelecimento etc.), infra-estrutura de apoio ao visitante
de diferentes programas temáticos (centro de visitantes, áreas de repouso,
de gestão, tais como de administração, de pontes, camping, canopy walkways, escadas
controle e manejo, de educação ambiental etc.), meios de interpretação ambiental (pla-
cas, folhetos, orientações para guias etc.),
e de visitação. Os dois últimos, para que
capacitação dos gestores do parque e dos
possam ser desenvolvidos, terão seu prestadores de serviços, de forma a otimizar
planejamento e gestão definidos em tanto a experiência recreativa e educativa do
instrumento específico, chamado Projeto visitante quanto a proteção da UC ou pro-
Específico. Este plano, no caso de priedade rural. O planejamento baseia-se na
identificação de alternativas recreativas de
unidades de conservação federal de
acordo com a diversidade e características
proteção integral (PARNA, EE, RB), deve do ambiente (natural e cultural) e dos visi-
ser orientado e implementado por tantes, com base no conceito de que quanto
aprovação prévia da Diretoria de maior o conjunto de oportunidades ofereci-
Ecossistemas do Ibama (DIREC), e deve das, mais fácil é atrair e distribuir as pessoas,
aumentar seu nível de satisfação e diminuir
abordar, pelo menos: os impactos no ambiente.
Pelo método desenvolvido pelo WWF-
• Identificação do Projeto (título, Brasil para o PARNAMAR de Fernando de
autoria e localização); Noronha, quatro etapas foram consideradas
no processo de planejamento de uma UC ou
• Objetivos e justificativas;
propriedade rural para o uso recreativo:
• Descrição do projeto enfocando as
atividades a serem desenvolvidas; ❐ Levantamento e revisão das informações
• Dados disponíveis para o projeto disponíveis.
❐ Levantamento de campo e mapeamento
e suas recomendações técnicas;
para o uso recreativo.
• Custo estimado de implementação ❐ Diagnóstico do uso recreativo incluindo
e fonte (s) de recursos; o potencial de visitação, fragilidade am-
• Instituições e pessoas envolvidas. biental, necessidade de infra-estrutura,
definição de tema(s) interpretativo(s).
FONTE: Roteiro Metodológico de Planejamento: ❐ Zoneamento do uso recreativo na área
Parque Nacional, Reserva Biológica, Estação
Ecológica. MMA, 2002. (incluindo descrição das características
de cada zona).
72
Planejamento do ecoturismo – P LANEJAMENTO ESTRATÉGICO

è Levantamento e revisão (Continuação)


das informações disponíveis
orçamentárias, pode-se satisfazer a maior
O passo inicial para o planejamento é o parte dos procedimentos sugeridos neste
levantamento de informações sobre a área. processo contratando um profissional
No caso de uma UC, esta etapa inicia-se com de renomada experiência em turismo
a revisão do plano de manejo, caso exista. e conservação, colhendo sugestões junto
Devem-se analisar os objetivos de proteção, a entidades com experiência nessa área.
de visitação recreativa, educação e interpre-
Convidar acadêmicos e pesquisadores
tação ambiental. Especial atenção deve ser
dada ao zoneamento da unidade e ao tipo de de universidades também pode ser uma 1
uso e atividades permitidas em cada zona. Se solução ao mesmo tempo profissional
for o caso, o plano pode ser atualizado com e de baixo custo para seu plano. Assim
a proposição de novas estratégias de visi- como treinar e envolver a comunidade
tação. Deve-se analisar as possíveis áreas local para atividades específicas
para compor um programa de lazer e em pesquisa e manejo.
recreação que melhor explore as possibili-
dades ambientais, culturais e recreativas da
UC, observando-se também as potenciali-
dades de mercado. Além do plano de mane- No caso de propriedades privadas, caso
jo, outros documentos referentes à visitação não possuam um instrumento de referência
da área, assim como documentos referentes como o plano de manejo, é necessário não
aos aspectos-chave tanto ambientais quanto só coletar todas as informações possíveis
culturais, devem ser pesquisados. O levanta- sobre a área como também definir em que
mento de informações deve também identi- áreas da propriedade o uso recreativo será
ficar pessoas com conhecimento prático da desenvolvido, quais áreas serão destinadas
área: funcionários, guias, outros membros da integralmente à conservação, quais áreas
comunidade local, pesquisadores etc., os serão destinadas para instalações físicas ou
quais deverão ser entrevistados. de uso do proprietário para outros fins etc.
O zoneamento da área como um todo
deve incluir, por exemplo, a definição de:
MONTANDO EQUIPES
PARA O PLANEJAMENTO ❐ Áreas relevantes destinadas à preservação
ambiental e áreas protegidas por lei como,
Esta é uma etapa crucial para garantir tanto por exemplo, as Áreas de Proteção
a proteção da área quanto sua viabilidade Permanente e as de Reserva Legal definidas
econômica. Neste sentido recomenda-se, no Código Florestal (Lei Fed. 4.771/65) ou
sempre que possível, trabalhar com uma uma área para implantação de uma RPPN;
equipe multidisciplinar, com técnicos que ❐ Usos diferenciados dos espaços territoriais.
❐ Áreas de produção rural e de manejo
possuam conhecimentos sobre os difer-
sustentável dos recursos naturais.
entes aspectos da área. Em Fernando de ❐ Áreas para o uso recreativo, incluindo as
Noronha, o plano de uso recreativo áreas para construções físicas de serviços
envolveu (p. ex. centro de visitantes, pousadas) ou de
diretamente 14 profissionais de diferentes gestão do uso recreativo (escritórios) etc.
especialidades, além dos técnicos do WWF, ❐ Acessos e áreas para estacionamento.
do Parque e do Ibama. Dependendo ❐ Áreas para residência do proprietário, de
funcionários e outros usos particulares.
da complexidade da área e de limitações
❐ Áreas para pesquisa e/ou treinamento.
73
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

è Levantamento de campo e mapeamento impactos de visitação, considerando que


para o uso recreativo qualquer tipo de uso sempre implicará
impactos nos recursos naturais. O nível de
Com base nas informações contidas nos impacto dependerá de:
documentos pesquisados ou no zoneamen- 1) variáveis sociais e de manejo da visi-
to geral da área, inicia-se o trabalho de le- tação, como época e hora da visitação, tipo
vantamento de campo e mapeamento de de atividade desenvolvida (caminhada,
todas as trilhas e áreas de visitação, seja em esportes de aventura, cavalo, bicicleta, con-
atual uso por visitantes, comunidade local templação, piquenique etc.), intensidade de
ou proprietário, seja novas possibilidades visitação, comportamento do visitante; e
1 apontadas pelo levantamento de infor- 2) variáveis físicas e ecológicas como car-
mações. No caso de trilhas, o método para acterísticas de solo, declividade e topografia,
realizar esta etapa está descrito no capítulo altitude, clima, tipos de ecossistema, fauna
Manejo de Trilhas. (tanto silvestre quanto doméstica, se houver),
O levantamento de campo é mais do que tipo de vegetação na área de visitação e seu
a simples medição de uma trilha. Ele é ori- entorno, construção e manutenção dos aces-
entado pelo objetivo maior de minimizar os sos aos sítios de visitação e de trilhas.
LEVANTAMENTO DE ÁREAS DE VISITAÇÃO
EXEMPLO: NO PARNAMAR NORONHA

O Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha possui áreas de visitação tanto em


ambiente terrestre quanto no ambiente marinho. Como parte do levantamento de infor-
mações no plano de manejo e em entrevistas com funcionários e pesquisadores atuantes no
parque, definiu-se no ambiente terrestre o desenvolvimento das trilhas (que incluem áreas
de repouso, interpretação ambiental e contemplação) e no ambiente marinho a identifi-
cação de pontos para mergulho autônomo (com garrafas de ar) e/ou livre (com snorkel).
No ambiente terrestre, foi feito o levantamento e mapeamento de sete trilhas e uma área com
três pontos de visitação (mirante, sítio arqueológico e acesso a praia manejada pelo Projeto
TAMAR). No ambiente marinho foram mapeados 20 pontos de mergulho, sendo 14 de mergul-
ho autônomo, quatro de mergulho livre e dois de mergulho tanto autônomo quanto livre.

O mapeamento da área contendo os (MMA, 2002), a base cartográfica deve con-


dados do plano de manejo e os dados de ter, pelo menos, os seguintes dados:
levantamento é de extrema utilidade para a - rede hidrográfica;
definição do zoneamento e seus diferentes - sistema rodoviário;
usos, dos sítios de visitação turística e das - curvas de nível e seus pontos altimétri-
futuras estruturas, equipamentos e acessos e cos relevantes;
para a gestão da área como um todo. - limites políticos.
Sugere-se que se desenvolva uma base car- De posse dessa base de dados, podem-se
tográfica de referência, utilizando-se aque- elaborar mapas temáticos (de preferência na
las existentes – por exemplo, mapas do mesma escala da base cartográfica feita ou
IBGE ou imagens de satélites – e efetuando existente), que podem conter:
confirmações de campo com uso de GPS - a vegetação;
(Global Position System, aparelho para a - a geologia e geomorfologia;
determinação das referências geográficas de - as áreas de uso e/ou pressão antrópica;
pontos de interesse). Segundo o Roteiro - o zoneamento da área ou da UC como
Metodológico de Planejamento de UC's um todo, incluindo seu entorno, ou
74
Planejamento do ecoturismo – P LANEJAMENTO ESTRATÉGICO

zona de amortecimento, no caso de aos atrativos (do ponto de vista da inter-


UCs; pretação ambiental e de atividade re-
- o zoneamento das área de uso turístico; creativa), condições físicas, acesso, infra-
- as áreas de uso da comunidade (se for estrutura, fragilidade ambiental.
o caso). ❐ Definição sobre áreas intangíveis, ou
seja, que devem ser interditadas ou não
è Diagnóstico do uso recreativo abertas ao uso recreativo, conforme
definido no Plano de Manejo. Isto pode
As informações colhidas durante o le- ocorrer por razões de fragilidade ambi-
vantamento de campo e mapeamento possi- ental, de segurança do turista ou de iso-
bilitam a elaboração do diagnóstico do poten- lamento de outras áreas de visitação (o 1
cial de uso recreativo de cada área de visi- que pode causar problemas tanto de
tação, indicando os atrativos, suas fragilidades acesso quanto de fiscalização).
ambientais, as necessidades de infra-estrutura ❐ Visualização de todas as áreas de visi-
e equipamentos, a definição do(s) tema(s) tação mapeadas (identificação em mapa
interpretativo(s), o perfil do visitante etc. da área) e identificação de infra-estrutura
Para a realização do diagnóstico, deve-se de apoio necessária para a gestão do uso
reunir a equipe envolvida no planejamento, recreativo como um sistema (por exem-
que analisará conjuntamente todo o materi- plo, áreas para serviços, sanitários, fisca-
al produzido durante o levantamento de lização, acessos, estacionamentos etc.).
campo e mapeamento. A análise deve con- ❐ Priorização para a abertura (quais áreas
ter os seguintes passos: devem ser preparadas para uso recreati-
❐ Análise de cada área de visitação quanto vo a curto, médio e longo prazos).

DIAGNÓSTICO DA TRILHA DOS GOLFINHOS


EXEMPLO: DO PARNAMAR NORONHA
A Trilha dos Golfinhos foi diagnosticada como a principal trilha no ambiente terrestre,
sendo prioritária para o desenvolvimento de infra-estrutura de apoio e materiais de inter-
pretação ambiental. Segue a descrição da trilha de acordo com o seu diagnóstico:
“Percurso de mediano comprimento (2.160m), principalmente plano, que deve ser
preparado para que públicos de diferentes idades e habilidades físicas possam percorrê-lo
(com exceção de cadeira de rodas). Esta trilha é ideal para observação e interpretação da fauna
terrestre, principalmente de aves. A trilha também dá acesso a um dos locais mais visitados da
ilha, o Mirante dos Golfinhos. Desse local, posicionado na borda de um penhasco a 70m de
altura, pode-se observar durante todo o ano a comunidade de mais de 300 golfinhos rotadores
em sua área de repouso e procriação. A Praia do Sancho, uma das mais belas e populares da
ilha, é acessada por esta trilha, por meio de uma escada encravada em uma fenda natural. Nas
águas da baía de mesmo nome é possível fazer o mergulho livre” (WWF, 2001a).

è Zoneamento para uso recreativo Spectrum, idealizado por R. Moore em 1994),


com adaptações para uso ecoturístico.
Após o mapeamento e diagnóstico, as tri- O ROS visa criar variadas alternativas de
lhas devem ser classificadas de acordo com as recreação, possibilitando experiências de
características de infra-estrutura, meios interpre- alta qualidade para os visitantes. De acordo
tativos e intensidade de manejo. Para orientar com as expectativas das pessoas que bus-
esta classificação, sugerimos o uso do método cam, ao ar livre, uma variedade de ativi-
norte-americano de Espectro de Oportunidades dades e de ambientes, esperando diferentes
Recreativas (ROS - Recreational Opportunity resultados ou experiências, o método ROS
75
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

SISTEMA DE USO RECREATIVO


EXEMPLO: DO PARNAMAR / NORONHA
Além de um Centro de Visitantes localizado em área central da ilha principal, foram
definidos quatro setores para facilitar a gestão do uso recreativo no Parque, inseridas nas
zonas já estabelecidas. Nessas áreas foi indicada a instalação de edificações, contendo: sala
para fiscalização, lanchonete, sanitários e local para orientação e interpretação ambiental
do setor. Posteriormente, decidiu-se nomear estes locais de “Postos de Informação e
Controle” ou PIC.
❐ Golfinhos 4 acesso às trilhas dos Golfinhos, Baía dos Porcos, Farol e Capim-açu.
❐ Caieiras 4 acesso à trilha da Pontinha - Pedra Alta, ao mirante do Buraco da Raquel, e
1 apoio à fiscalização no porto.
❐ Atalaia 4 acesso à Praia do Atalaia e alternativa de acesso às trilhas da Pontinha - Pedra
Alta e dos Abreus.
❐ Sueste 4 acesso à trilha dos Abreus, Praia do Sueste e Área de Visitação Leão–Ponta das
Caracas–Forte São Joaquim do Sueste.

estabelece um quadro de demanda recrea- Dessa forma, o zoneamento baseia-se no


cional, composto pela integração, observa- progressivo aumento da intensidade de uso,
da em uma determinada propriedade, entre indo desde uma Zona Primitiva, bem natural,
quatro fatores, determinados pela possibi- com pouca ou nenhuma infra-estrutura e
lidade que os visitantes têm de: baixa intensidade de manejo, para uma Zona
Semi-Primitiva, Zona de Uso Extensivo, uma
(a) realizar suas atividades preferidas; Zona Natural, uma Zona Rural, até uma Zona
(b) nos ambientes recreativos com Urbana, bastante alterada, com muita infra-
características de sua preferência; estrutura e manejo visíveis (ver Figura 2).
(c) visando experimentar determinado O zoneamento de uso recreativo orienta
tipo de resultado psicológico; os gestores da área em suas decisões quanto
(d) o qual resulta dos benefícios ao nível de intervenção e melhorias nos
advindos de uma experiência locais visitados, tais como nível de com-
satisfatória. pactação ou tipo de pavimentação de uma
área ou trilha, quantidade, tamanho e loca-
No planejamento de uma área, conforme lização de infra-estrutura (banheiros, postos
seu potencial de oferta recreativa, um ou de fiscalização, lanchonete etc.), localização
outro fator assume maior importância. Em e tipo de sinalização e de interpretação, for-
áreas naturais protegidas, maior ênfase é mas de realizar a fiscalização, entre outros.
colocada no nível (b), ou seja, nas caracterís- Para detalhar as características do zonea-
ticas específicas do ambiente visitado (biofísi- mento ROS para uma área específica, as
cas, sociais, de gestão), buscando-se a maior variáveis principais são:
representatividade da variedade do local. A
diversidade de características é utilizada para ❐ Tipo de local (área particular ou pública,
classificar os locais de visitação em diferentes isolada ou não etc.);
zonas recreativas, que variam desde níveis ❐ Tipo de atrativos;
mínimos de alteração humana (característi- ❐ Características sociais (tipo e quantidade
cas biofísicas), interação humana (caracterís- de presença humana, encontros e inte-
ticas sociais) e intensidade de manejo (carac- ração entre grupos de visitantes etc.);
terísticas de gestão), até níveis bastante eleva- ❐ Características de manejo (tipo e quanti-
dos destas mesmas características. dade de restrições colocadas ao visitante,
76
Planejamento do ecoturismo – P LANEJAMENTO ESTRATÉGICO

✑ FIGURA 2
ZONAS DE USO RECREATIVO SEGUNDO O ROS

P ro g re s s iva intervenção humana no ambiente

Primitiva 1
Semi-
Primitiva
Natural
Uso
extensivo Uso
intensivo

FONTE: Extraído do documento “The Opportunity Spectrum Concept and Behavioral Information in Outdoor
Recreational Resource Supply Inventories: a Rationale” (MOORE: 1994).

ZONEAMENTO, INTERVENÇÕES E USOS EM UNIDADES DE CONSERVAÇÃO


O zoneamento de uma UC é definido pela Lei 9.985/00 como sendo "a definição
de setores ou zonas em uma unidade de conservação com objetivos de manejo
e normas específicos, com o propósito de proporcionar os meios e as condições para
que todos os objetivos da unidade possam ser alcançados de forma harmônica
e eficaz". E de acordo com o novo Roteiro Metodológico de Planejamento,
as zonas internas de uma UC e os graus de intervenção são assim descritos:

Zonas de nenhuma ou baixa intervenção:


Intangível e Primitiva
Zonas de média intervenção:
Uso Extensivo e Histórico-Cultural
Zonas de alto grau de intervenção:
Uso Intensivo, Recuperação, Uso Especial, Uso Conflitante,
Ocupação Temporária, Superposição Indígena e Interferência
Experimental.

assim como a evidência destas infor- na placa ou de cordão de isolamento).


mações para o visitante – por exemplo, a ❐ Infra-estrutura recreativa (trilhas, inter-
fiscalização de acesso a uma área frágil pretação etc.).
pode ser feita de forma ostensiva, com pre- Há, ainda, Zonas Externas à UCs tais
sença de um fiscal, ou então de forma como as de Amortecimento e os Corredores
mais discreta com a colocação de peque- Ecológicos.
77
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

ZONEAMENTO DO USO RECREATIVO


EXEMPLO: NO PARNAMAR NORONHA

Para a aplicação do método no Parque, foi solicitado pelo IBAMA que se adotasse uma
nomenclatura semelhante àquela utilizada no zoneamento de parques. Assim, foram ado-
tadas as seguintes zonas: Primitiva, Semi-Primitiva, Uso Extensivo, Natural, Uso Extensivo,
Uso Intensivo. (10)
Para o ambiente terrestre, foi necessário descrever em detalhes as características de cada
zona de uso recreativo no contexto do Parque. Como no diagnóstico foi definido que todas
as trilhas proporcionam o mesmo tipo de atividade, ou seja, são restritas a pedestres com
1 fins de caminhada, contemplação, acesso a praias, mergulho livre e banho de sol ou mar,
foram definidas três zonas de uso recreativo, correspondentes a semi-primitiva, natural e
rural. A seguir descrevemos as características de trilhas na Zona de Uso Extensivo, de forma
que possibilitou o diagnóstico da Trilha dos Golfinhos:
Na Zona de Uso Extensivo:
❐ As trilhas devem possibilitar a interpretação ambiental mais intensiva e estar desen-
volvidas para um tráfego grande de visitantes;
❐ O leito da trilha deverá ter entre 1,20m e 1,50m e ser bastante compactado, priorizan-
do, sempre que possível, a utilização de materiais encontrados no arquipélago;
❐ Para cruzamento de cursos de água perenes, a utilização de pontes é recomendável,
sendo para os sazonais recomendada a estrutura de pequenos aquedutos;
❐ As áreas de descanso e edificações deverão estar preparadas para receber todos os tipos
de visitantes (diferentes faixas etárias e condicionamento físico), estimando-se que os
mesmos permanecerão nas áreas de descanso por períodos relativamente longos;
❐ A sinalização poderá ser colocada em toda a trilha;
❐ A interpretação ambiental deverá ser colocada ao longo da trilha, independente de
haver materiais escritos complementares, favorecendo-se sempre o posicionamento de
placas rente ao solo;
❐ Os mirantes deverão conter painéis interpretativos nos temas relevantes;
❐ O corredor da trilha deverá ser aberto com até 2m de largura por 2m de altura.

DEFINA COM CUIDADO AS ATIVIDADES RECREATIVAS


PERMITIDAS EM CADA ÁREA DE VISITAÇÃO.

Um dos aspectos mais importantes para o zoneamento do uso recreativo é a definição do


tipo de atividade que o turista pode realizar: caminhada, ciclismo, escalada, canoagem,
cavalgada, passeio de carro, de moto, de barco motorizado, acampamento, piquenique,
excursões de escolas etc. Além de influenciar o tipo de tratamento que se dará à área
de visitação, é importante estar atento para os possíveis conflitos de uso turístico.
Por exemplo, trilhas para pedestres são incompatíveis com o uso de veículos motorizados,
bicicleta, ou cavalgada pela perspectiva do pedestre.

(10) – NOTA DO AUTOR: Para efeito de entendimento deste e de outros exemplos, estão sendo mantidas
as denominações de zoneamento de UCs anteriores às novas definidas no novo Roteiro Metodológico
de Planejamento.
78
Planejamento do ecoturismo – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

Uma vez que as quatro etapas do planeja- mergulho etc.) sejam resumidas e sistematiza-
mento de uma UC ou propriedade rural para o das em formulários específicos para orientar o
uso recreativo tenham sido realizadas, seu desenvolvimento. No caso do PARNAMAR
recomenda-se que as informações sobre cada de Fernando de Noronha foram elaborados for-
área de visitação (cachoeira, trilha, ponto de mulários como no exemplo que se segue.
DESCRIÇÃO DA TRILHA DOS GOLFINHOS –
EXEMPLO: PARNAMAR/NORONHA
1) Nome: Trilha dos Golfinhos.
2) Localização: Inicia e termina no atual estacionamento da Trilha dos Golfinhos. 1
3) Tipo: Circular, com 3 braços de trilha para mirantes/atrativos.
4) Tamanho em metros: Circuito principal: 2.160 m; Mirante do Golfinho 2: 280 m;
descida para a Praia do Sancho: 103 m.
5) Atrativos: 2 Mirantes para observação dos golfinhos; pássaros ao longo do penhasco
entre Mirante dos Golfinhos e Mirante do Sancho; geologia ao longo do penhasco;
vista cênica; Forte e antiga bateria antiaérea; banho na praia do Sancho; mergulho
livre na Baía do Sancho; cachoeiras sazonais na praia do Sancho.
6) Problemas e limitações (incluindo sazonalidade): grande impacto no solo e vege-
tação devido ao pastoreio de animais e antigo manejo de abertura de estrada/acesso
por trator.
7) Temas interpretativos: Golfinhos, pássaros, ciclo de degradação e recuperação
de vegetação, geologia na formação do penhasco e fenda no acesso à Praia do
Sancho, história militar no Forte e antiga bateria.
8) Zoneamento de acordo com o ROS: Zona de Uso Extensivo
9) Nível de dificuldade: baixo, com exceção da descida à Praia do Sancho.
10) Grupo etário generalizado: todos, sendo que na descida à Praia do Sancho há
limitações para pessoas com problemas em relação a altitude ou dificuldade
em descer/subir escadas.
11) Avaliação de resistência e resiliência: Alto grau de resistência uma vez que o terreno
em partes de maior declividade tenha sido corrigido (ver capítulo Manejo de Trilhas);
área ao longo do penhasco entre Golfinhos e Sancho deve ser monitorada para o
impacto no seu comportamento geomorfológico, pois trata-se de uma falésia
em atividade, com risco de desmoronamento.
12) Aspectos de segurança: Vários locais entre o Mirante dos Golfinhos 1 e o Mirante
do Sancho merecem consideração para construção de muretas de pedras fixadas
com cimento (guarda-corpos). A descida do Mirante do Sancho até a Praia do
Sancho deverá ser melhorada com equipamentos de segurança. Entretanto, como
nunca houve um acidente até o presente momento e a área é atualmente a de maior
intensidade de uso, recomenda-se que as estruturas colocadas sejam as mínimas
possíveis e que seja monitorada, por meio de questionários, a percepção
dos visitantes sobre a necessidade de maiores estruturas preventivas de acidentes.
13) Necessidade de intervenção corretiva de trilha e desenvolvimento de infra-estrutura:
No começo do circuito: estacionamento, lanchonete por concessão, (Cont…)

79
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

DESCRIÇÃO DA TRILHA DOS GOLFINHOS –


EXEMPLO: PARNAMAR/NORONHA
(Continuação)
sanitários, placa descritiva da trilha com mapa, restrições e atrativos, posto de
fiscalização para dois fiscais com rádio e equipamentos de primeiros socorros.
Na trilha: definição e correção/preparação da trilha, com desenvolvimento de
estruturas de drenagem, algumas pontes e pequenos aquedutos, abertura de trilha
em alguns pontos entre o Mirante dos Golfinhos 1 e Mirante do Sancho e do
Mirante do Sancho para o Forte; estruturas de segurança ao longo do penhasco entre
1 o Mirante dos Golfinhos 1 e Mirante do Sancho e na descida para a Praia do
Sancho; nesta última parte, desenvolvimento de degraus de pedras fixadas com
cimento; melhorar os cabos de proteção ao redor da escada de descida no penhasco
e depois, dando mais segurança com corrimão; retirada de cercas de antigas
propriedades particulares; desenvolvimento de mirantes com quiosques, bancos e
centro de interpretação no Mirante dos Golfinhos 1.
14) Ações de recuperação necessárias: Revegetação ao longo da trilha até o Mirante dos
Golfinhos 1 nas partes mais degradadas e do Mirante do Sancho até o estacionamento,
aumentando o sombreamento da trilha e possibilitando a interpretação com o tema
de recuperação de vegetação degradada.
15) Recomendação de priorização baseada no diagnóstico e nos princípios ROS:
(1) de 8 trilhas.

Após o término do planejamento, são um pouco mais complexa e envolve uma


iniciadas as etapas de desenvolvimento de avaliação cuidadosa dos seguintes compo-
infra-estrutura (ver capítulo Infra-estrutura nentes: o mercado consumidor, o mercado
de Apoio ao Ecoturismo), de desenvolvi- concorrente, seus fornecedores e os obje-
mento das trilhas (ver capítulo Manejo de tivos e características de sua empresa.
Trilhas), de elaboração de produtos de eco- Neste nível a sociedade civil é o principal
turismo (ver capítulo de mesmo nome), de agente do planejamento. Quando o planeja-
elaboração do sistema de monitoramento e mento regional é realizado de forma adequa-
controle de impactos de visitação (ver capí- da, ou seja, quando resulta no compromisso
tulo de mesmo nome), e de elaboração do dos diferentes setores da sociedade civil com
programa de interpretação ambiental (ver a implementação do plano, cada empresário
capítulo de mesmo nome). ou proprietário buscará desenvolver seu
empreendimento ou produto de acordo com
5. Planejando produtos as orientações, normas e acordos definidos
ou empreendimentos de ecoturismo no planejamento regional, incentivado por
parcerias e incentivos específicos.
entro do contexto do plano regional Quando o planejamento de um
D desenvolvem-se os empreendimentos
específicos (um restaurante, pousada, uma
empreendimento se faz de forma integrada a
um planejamento regional, o principal
propriedade com atrativos a serem visitados) desafio para um empresário é desenvolver
e os produtos ecoturísticos compostos por um produto ou empreendimento que seja
uma combinação entre atrativos e serviços original (diferenciado) o suficiente na região
(ver capítulo Elaboração do Produto de para atrair turistas e garantir sua viabilidade
Ecoturismo). Na verdade a combinação é econômica e ao mesmo tempo manter-se
80
Planejamento do ecoturismo – P LANEJAMENTO ESTRATÉGICO

dentro dos parâmetros acordados no plane- ❐ Atrativos naturais e culturais;


jamento regional. ❐ Estrutura física;
Como a maior parte dos capítulos deste ❐ Equipamentos de apoio turístico;
Manual foram desenvolvidos visando orien- ❐ Serviços ;
tar o planejamento e realização de ações ❐ Características da identidade visual da
para criar um empreendimento de ecoturis- estrutura física e equipamentos;
mo, esta seção apresenta um roteiro resumi- ❐ Caso o empreendimento já esteja em
do das ações, aproximadamente na ordem andamento, volume da visitação e perfil
em que devem ser realizadas. Porém deve- do turista. Caso negativo, buscar esta
se observar que as atividades envolvidas na informação em empreendimentos no
criação e operação de um empreendimento entorno, ou na região, ou na origem do 1
são interativas, e partindo de uma situação turista potencial.
ideal, no caso, onde o negócio ainda não foi
elaborado. Além de estudar os outros empreendimen-
tos do mesmo tipo existentes na localidade ou
a) Levantamento de informações na região e contrastá-los com o que se deseja
e diagnóstico desenvolver, deve-se especialmente buscar
identificar o desempenho econômico dos
Uma pessoa que deseje desenvolver um empreendimentos similares, sua adequação
empreendimento de ecoturismo em uma aos princípios de proteção ambiental do eco-
região deve antes de mais nada coletar turismo, seu público, sazonalidade, entre ou-
informações sobre o potencial de ecoturis- tros elementos que se julgue necessário.
mo da região em geral e de sua propriedade Eventualmente, no caso de recursos altamente
ou tipo de empreendimento, em particular. especializados, como um conjunto de caver-
Para efeito deste capítulo, partimos do nas, a pesquisa de produtos concorrentes exis-
princípio de que um inventário local ou tentes pode não estar em sua região (por
regional participativo foi realizado. Desta exemplo, duas das maiores províncias espeleo-
forma, o empresário potencial pode acessar lógicas do Brasil localizam-se uma no Vale do
e analisar não só as os resultados do inven- Ribeira, SP, e outra em São Domingos, GO)
tário, como também do diagnóstico e plane- Neste momento, é importante observar
jamento regionais. Isto não o desobriga de as informações que lhe permitam identificar
realizar um inventário específico e detalha- os potenciais parceiros comerciais do seu
do para conhecer as bases que fundamen- futuro negócio e iniciar conversas sobre
tarão o diagnóstico do seu futuro negócio, suas idéias. É neste momento também que
de forma completa (se não houver o inven- se deve iniciar contatos com a comunidade
tário regional ou local) ou de aprofunda- de entorno ao seu empreendimento, bus-
mento (se houver). cando saber o que pensam, como podem
Adicionalmente, e se for o caso, é pre- agregar valor ao produto e que vocação
ciso fazer uma avaliação da propriedade profissional possuem ou desejariam possuir
que deseja adequar ao ecoturismo, seja uma e que possam ser úteis em seu negócio.
casa que se deseja transformar em pousada A avaliação deste conjunto de infor-
ou restaurante, ou uma propriedade onde se mações gerará um diagnóstico preliminar
deseja abrir um camping, ou ainda uma pro- sobre o setor que se deseja participar.
priedade com atrativos naturais onde se Finalmente, deve-se esboçar o projeto do
deseja receber visitantes. O próprio inven- empreendimento, já incluindo as alterações
tário pode fornecer as informações básicas necessárias à propriedade (no caso da pessoa
sobre sua disponibilidade de bens e interessada não possuir ainda a propriedade,
serviços, existentes ou necessários, que a compra da mesma passa a ser parte do pro-
incluem: jeto, devendo ser descrita em detalhes).
81
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

b) Elaboração tentativa do produto Adicionalmente, deve-se planejar:

Com o resultado positivo do diagnóstico ❐ A construção ou reforma de infra-estru-


preliminar e o projeto preliminar do tura, incluindo áreas de camping (ver
empreendimento, o empresário potencial orientações no capítulo Infra-estrutura de
deve esboçar o seu produto, seguindo as Apoio ao Ecoturismo).
orientações fornecidas no capítulo Elabo - ❐ No caso de propriedades com atrativos
ração do Produto de Ecoturismo. Esta fase naturais, deve-se realizar o zoneamento
precede o desenvolvimento de qualquer da propriedade (ver seção 4 da Caixa de
infra-estrutura ou investimento de porte. Ferramentas deste capítulo, acima).
1 Como foi observado no início do capítulo, ❐ Capacitação de mão-de-obra (incluindo
as fases de diagnóstico, elaboração do pro- a do próprio empresário).
duto e viabilidade econômica são interativas. ❐ Elaboração de materiais interpretativos e
promocionais.
c) Verificação da viabilidade ❐ Elaboração de atividades que promovam
econômica do produto a conservação da região (e da pro-
priedade), e a educação ambiental (ver
O passo seguinte é realizar o estudo de capítulos de A Contribuição de
viabilidade econômica do empreendimento Voluntários em Projetos de Ecoturismo e
e do produto, seguindo as orientações do Pesquisa na Atividade de Ecoturismo).
capítulo Viabilidade Econômica. De acordo ❐ Elaboração do plano de ação, incluindo
com os resultados, é possível que se neces- um cronograma físico-financeiro de
site adequar o produto. todas as atividades planejadas.
Por meio da interação entre estas três eta- ❐ Elaboração da estratégia de implemen-
pas, que vão se ajustando e se complemen- tação, incluindo avaliação de custos e
tando, chega-se à versão final do produto e identificação de fontes de apoio e/ou
de sua viabilidade econômica. Só então, crédito.
caso os resultados sejam positivos do ponto
de vista do empresário, deve-se partir para o 6. Esquemas de certificação como
planejamento dos investimentos e ações indutores de um turismo
necessários para desenvolver o empreendi- mais responsável
mento e iniciar a operação do produto.
m esquema de certificação é um
d) Preparando
o Plano de Desenvolvimento
U mecanismo não governamental e vo-
luntário de controle social sobre os produ-
tos, serviços e destinos turísticos, baseado
O plano organiza, de forma racional e numa avaliação independente dos desem-
operativa, os produtos e serviços passíveis penhos sociais, econômicos e ambientais
de serem imediatamente oferecidos ao das suas operações.
público visitante com a estrutura existente, A necessidade de se buscar uma certifi-
bem como a programação de ações de cação independente, como vem ocorrendo
curto, médio e longo prazos, compatibi- no Brasil e no mundo, pode ser uma
lizando os recursos e os atrativos demonstração de que os empreendimentos
disponíveis, associados ao potencial de turísticos privados não estão cumprindo
demanda e à capacidade de investimentos. com o papel que freqüentemente lhes é de-
Uma boa parte do plano de desenvolvimen- signado: “indústria” limpa, gerador de renda
to já terá sido feita durante a elaboração do e riquezas, promotor de justiça social e do
produto e do plano de negócios (parte do resgate cultural etc. E mais, a ampliação
estudo de viabilidade econômica). destes esquemas significa claramente que
82
Planejamento do ecoturismo – P LANEJAMENTO ESTRATÉGICO

empreendedores responsáveis, aqueles que esquemas eficazes e ineficazes vem a ser a


investem no seu negócio como indutor para criação de um corpo de credenciamento
um desenvolvimento local amplo, susten- independente. Tal corpo poderia empregar
tável e integrado, estão se sentindo inco- um único logotipo, credenciar e descreden-
modados pelo oportunismo que o uso de ciar empresas certificadoras e clarear a con-
palavras como ecoturismo e turismo susten- fusão oriunda da diversidade de logotipos
tável vem sendo aproveitado como alavanca existentes atualmente.
de marketing, mais conhecido como green Depois de um trabalho participativo e
washing. organizado por algumas das mais expressivas
Esquemas de certificação de turismo entidades ambientalistas da sociedade civil,
podem representar um papel importante ao surge o Conselho Brasileiro de Turismo 1
trazer mais responsabilidade e competitivi- Sustentável - CBTS, entidade que vêm procu-
dade para o setor privado do turismo. rando dar consistência técnica e mercadoló-
Configura-se pela formulação e adoção de gica ao esquema brasileiro de certificação,
um plano de ações que visam o aperfeiçoa- por meio do planejamento e implementação
mento dos negócios e que vem unido a um de uma estratégia de certificação que seja
incentivo de mercado, em forma de selo. O participativa, independente e voluntária. O
selo, ou logotipo de marketing, será forneci- CBTS pretende obter a credibilidade de mer-
do para negócios que alcançam um padrão cados e consumidores por permitir a partici-
de eficiência e desempenho, demonstrando pação ativa dos setores sociais, ambientais e
as suas credenciais ambientais e sociais que econômicos envolvidos com o turismo no
permitem aos consumidores identificar Brasil, principalmente para a formulação de
companhias responsáveis. padrões (ou normas) sustentáveis.
Uma variedade de esquemas de certifi- O objetivo maior desta iniciativa é con-
cação em turismo já existe no mundo e tribuir para o desenvolvimento sustentável do
alguns são mais amplos e consistentes que setor do turismo no Brasil por meio de uma
outros. O objetivo de gerar nos destinos metodologia que objetiva ser tecnicamente
turísticos competitividade e sustentabilidade viável, cientificamente embasado, politica-
ainda não foi comprovado. No Brasil, a cer- mente negociado e comercialmente focado.
tificação já não é uma novidade e as difer- A certificação em turismo é um desafio,
entes iniciativas, envolvendo a certificação por um lado em função da dinâmica natural
ambiental de produtos e serviços turísticos, de um dos mais pujantes setores econômicos
ainda carecem de embasamento técnico ou do mundo, aliada a sua importante função
possuem perfil geograficamente ou setorial- como meio de lazer. Por outro, por ser com-
mente limitados, podendo causar confusão posto por uma cadeia de fornecedores instá-
e descrédito no empresariado e no consum- vel e variada, sobrepujada por diferentes
idor. A necessidade de produtos susten- níveis de interesses públicos e privados.
táveis, a maior consciência do consumidor e
o falso uso de eco-determinantes são os p Como funciona a certificação
maiores argumentos a favor de programas Os programas de certificação em turismo
de certificação (WWF, 2001c). sustentável objetivam fazer com que tanto os
Existe um consenso entre os especialistas produtos e empresas sócio-ambientalmente
de que esquemas eficazes são aqueles em responsáveis como os que não respeitam o
que os padrões de sustentabilidade do turis- meio ambiente e as relações sociais se afi-
mo incluem critérios de desempenho (per- liem a programas de certificação. Eles devem
formance) amplamente acordados pelos ser motivados pelo ganho em competitivi-
atores de interesse, e que devem ser ratifica- dade no mercado, levando a uma mudança
dos através de processos complementares e progressiva em favor da maior sustentabili-
independentes. Um meio de distinguir entre dade da atividade (WWF, 2001c).
83
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

Num mercado competitivo como o do e, conseqüentemente, para a sustentabili-


turismo, a busca de consumidores torna-se dade econômica dos produtos turísticos.
uma batalha de mensagens comerciais (pu- Benefícios ambientais
blicitárias, propagandas) cada qual com seu ❐ Contribui para a conservação da biodi-
apelo de marketing. Num momento em que versidade e de seus valores associados:
assuntos de meio ambiente tornam-se cada água, solos, paisagens e ecossistemas,
vez mais presente na mídia, ao mesmo entre outras coisas.
tempo em que há tendências de consumi- ❐ Favorece a manutenção da qualidade
dores optarem por produtos social e ambi- ambiental dos atrativos turísticos.
entalmente mais amigáveis, as estratégias de ❐ Auxilia na proteção de espécies
1 marketing aproveitam para utilizar apelos ameaçadas ou em perigo de extinção e
comerciais que visem atrair consumidores de seus habitats.
por suas pretensas qualidades ecológicas e Benefícios sociais
sociais. Muitas vezes são apenas men- ❐ Auxilia na legalização da atividade.
sagens, não correspondendo efetivamente ❐ Favorece a melhora das condições de
às qualidades do produto. São chamados de trabalho.
green washing as empresas que se comuni- ❐ Promove o respeito aos direitos dos tra-
cam com o mercado como ambientalmente balhadores, povos indígenas e comu-
amigáveis, porém operacionalmente nada nidades locais.
ou muito pouco nesta área é feito. ❐ Proporciona um novo espaço de partici-
A certificação permite atestar que as pação para os trabalhadores e comu-
mensagens enviadas ao comprador sobre a nidades locais na definição dos padrões
qualidade e/ou característica do produto ou e no monitoramento das operações certi-
serviço turístico que ele está adquirindo são ficadas.
verdadeiras. Para que esta mensagem seja ❐ Reconhece os valores culturais locais,
atestada com eficiência e credibilidade, é tais como a gastronomia, arquitetura fol-
necessário que um organismo independente clore e artesanato, entre outros.
realize uma verificação da qualidade ou da
característica anteriormente declarada pelo p O CBTS
empreendedor. A verificação deve ser feita O CBTS - Conselho Brasileiro de Turismo
pelo certificador. Para garantir o bom fun- Sustentável, fundado em 29 de junho de
cionamento da certificação, existe um 2002, é o órgão executivo e consultivo da
organismo controlador, chamado Creden- certificação e promotor e controlador do
ciador (no caso brasileiro, o CBTS), que processo.
define as regras e media o processo. O cre- A missão maior do CBTS é desenvolver e
denciador controla o certificador e os implementar uma metodologia para a certi-
demais envolvidos na certificação, assim ficação do turismo sustentável no Brasil
como garante o bom uso do selo. baseada nos desempenhos econômico,
social e ambiental de produtos, serviços e
p Benefícios da Certificação do Turismo destinos turísticos e com caráter indepen-
Benefícios econômicos dente (desenvolvido e controlado pela
❐ Proporciona um diferencial de market - sociedade), tecnicamente consistente
ing, gerando vantagens competitivas aos (embasamento técnico-científico), não-dis-
produtos e empreendimentos. criminatória (de setores ou de escalas pro-
❐ Facilita o acesso a novos mercados, prin- dutivas), transparente (participação e divul-
cipalmente o internacional. gação ampla do processo) e voluntária (par-
❐ Desenvolve e melhora a imagem pública ticipação não obrigatória).
da empresa. O CBTS é formado pela seguinte arquite-
❐ Contribui para a conservação dos atrativos tura organizacional:
84
Planejamento do ecoturismo – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

CÂMARAS SETORIAIS (CS) Turismo Sustentável prevê a implementação


Fórum amplo para se discutir, criar, alte- dos seguintes componentes, por meio do
rar, adaptar, harmonizar ou suprimir critérios próprio CBTS ou de seus parceiros, como o
e indicadores (padrões) do turismo susten- Instituto de Hospitalidade e associações de
tável, onde se desenvolve a plena partici- mercado.
pação democrática, contribuindo tecnica-
mente para a viabilização e garantindo a A. Estabelecimento da estrutura consultiva e
credibilidade do Programa de Certificação. executiva do CBTS
São formadas por entidades relacionadas ao B. Desenvolvimento participativo do sis-
setor, representando os interesses sociais, tema de normas e padrões de certifi-
econômicos e ambientais da atividade, onde cação, por meio da mobilização da 1
seus integrantes exercem seu direito de voto. sociedade para o debate sobre a sus-
tentabilidade do turismo e por meio de
CONSELHO DIRETOR (CD) estudos e pesquisas de base
Conselho tri-cameral, formado por 9 C. Desenvolvimento do sistema de avali-
membros integrantes das Câmaras Setoriais ação e auditorias
do CBTS, eleitos para períodos de 3 anos. D. Elaboração de um programa de capaci-
Reúne-se para ajustes e encaminhamento tação de auditores
das discussões e aprovação dos relatórios E. Estabelecimento e apoio a programas de
técnicos. capacitação e assistência técnica para o
mercado, principalmente o pequeno e
SECRETARIA EXECUTIVA (SE) médio empreendedor
Representante administrativo e finan- F. Elaboração e implementação de apli-
ceiro do CBTS, responsável pelo gerencia- cações práticas do sistema de certifi-
mento de documentos, materiais, equipa- cação em pilotos de campo para teste da
mentos e recursos. Fornece apoio para a metodologia
ampla divulgação do processo e para os G. Promoção de parcerias para a integração
encontros regionais do CBTS, prestando do Programa com esquemas de certifi-
contas à sociedade. cação setoriais, regionais e/ou interna-
cionais, assim como inserir o Programa
CONSELHO FISCAL (CF) no Sistema Brasileiro de Qualidade (SIN-
Conselho tri-cameral formado por 3 METRO)
membros integrantes das Câmaras Setoriais H. Lançamento do selo CBTS, por meio da
do CBTS, eleitos para períodos de 3 anos. elaboração de um plano de marketing
Responsável pela análise das prestações de institucional do Programa de Certificação
contas, autorizando gastos diferenciados e voltado para os mercados empreendedor
encaminhando os relatórios financeiros. e consumidor, assim como estabelecer
mecanismos de promoção e marketing
COMITÊ DE RESOLUÇÃO DE CONFLITOS dos produtos certificados
(CRC)
Conselho tri-cameral formado por 3 mem- p Como participar
bros integrantes das Câmaras Setoriais do Você e/ou sua Instituição tem um impor-
CBTS, eleitos para períodos de 3 anos. É tante papel a desempenhar, na composição
acionado para indicar o melhor encaminha- de uma das Câmaras Setoriais (Social/Am-
mento quando não se obtém o consenso nas biental/Econômica), que integram o CBTS.
discussões dos padrões de sustentabilidade. A criação de um corpo de credencia-
mento independente (o CBTS), de caráter
p A PROPOSTA DO CBTS participativo, é um meio eficiente de distin-
O Programa Brasileiro de Certificação do guir sistemas eficientes e sérios, evitando a
85
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

confusão oriunda da diversidade de selos vel, onde a relação entre a capacidade


existentes atualmente. de suporte e a rentabilidade é construída
Sua participação e/ou de sua Instituição a partir de uma contabilidade ambiental,
permitirá garantir ampla representativi- que determina que uma atividade
dade, enriquecendo as discussões e con- econômica não deve gerar prejuízos
tribuindo para a credibilidade e consistên- ambientais que ultrapassem os benefí-
cia do processo. cios. Do ponto de vista da contabilidade
A forma de participação, fichas de ambiental, o manejo pautado pela
adesão, direitos e deveres, possibilidade de administração dos recursos naturais é
voto, participação nos grupos de trabalho e uma ciência ainda nova, e deve orientar-
1 demais atividades do CBTS estão definidas se por um princípio básico: se o ecotu-
no Estatuto Social, disponível em rismo propõe a visitação de ambientes
www.cbts.org.br. naturais preservados, destruí-los é um
É imprescindível que a confirmação do ato de insanidade econômica.
aceite para composição de uma das câmaras A diversificação de produtos num
setoriais seja efetuado por meio do envio ao mesmo pólo de turismo sustentável é
CBTS, da ficha de adesão preenchida e de uma boa alternativa para diminuir a
uma breve descrição da instituição e das pressão sobre espaços naturais.
atividades empreendidas relacionadas ao No desenvolvimento industrial conven-
desenvolvimento do turismo. cional, o fracasso de um produto pode
Para conhecer melhor todo o processo ser minimizado com mudanças na linha
desenvolvido pelo CBTS e obter seus con- de produção. No ecoturismo, a mudança
tatos, visite sua home-page em de um produto não ocorre com veloci-
www.cbts.org.br. dade, e os impactos gerados podem ser
irreparáveis. Apesar de ser impossível
IV. RISCOS E RECOMENDAÇÕES prever e prevenir todos os problemas de
implementação e resultados adversos do
A qualquer momento podem estar ocor- desenvolvimento do ecoturismo, é
rendo simultaneamente em uma região necessário evitar os erros advindos do
vários níveis de planejamento público e mau planejamento ou de interesses
privado que afetam (ou mesmo inibem) econômicos ou políticos imediatos.
propostas de desenvolvimento do eco- No caso do planejamento de produtos,
turismo. Políticas de desenvolvimento de por mais atrativo que seja seu sítio e
pólos de turismo/ecoturismo, investi- maior a demanda que bate a sua porta,
mentos públicos em infra-estrutura (es- não abdique das ferramentas de planeja-
tradas, barragens) ou privados em turis- mento. Tomando atitudes pró-ativas e
mo (complexos turísticos e resorts) estratégicas, o empreendedor estará
podem interferir na imagem que você garantindo um crescimento equilibrado
projetou para seu município ou região da visitação, garantindo a qualidade
ou trazer uma demanda turística não ambiental de seus atrativos e conseqüen-
compatível com a imagem de seu produ- temente estará observando um incre-
to. Por um lado, nunca deixe de procurar mento seguro de receitas. E a visão de
integrar sua proposta às diversas iniciati- avaliar, planejar, avaliar (monitorar) e re-
vas dos diferentes planos. Por outro, não planejar deve ser uma tarefa constante
exite em abandonar suas idéias se proje- para o empreendedor, onde cada setor
tos de maior abrangência influírem em da empresa deve ser planejado e ba-
riscos para seu plano. lanceado com todos os outros setores
O ecoturismo sempre se apresenta como internos e externos que propiciam o eco-
um forte expoente do turismo sustentá- turismo.
86
Planejamento do ecoturismo – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

Por fim, os capítulos de Elaboração de • www.abong.org.br - Associação Brasi-


Produtos de Ecoturismo e de Viabilidade leira de ONGs (Pesquisa sobre Fundos);
Econômica trazem mais informações • www.iser.org.br - Instituto de Estudos da
sobre desenvolvimento de negócios em Religião (Leyla Landim e Samyra Crespo);
ecoturismo. • www.abcr.com.br - Associação Brasileira
Atualmente há uma diversificada fonte de Captadores de Recursos;
de recursos disponível para projetos de • www.voluntarios.com.br - Voluntariado;
ecoturismo, por meio de financiamentos • www.voluntariado.org.br - Centro de
crédito ou a fundo perdido. Bancos Voluntariado de São Paulo - (11) 288-9056;
públicos, como o BASA, possuem uma • www.filantropia.com.br - Portal do Terceiro
linha de crédito específica para negócios Setor; 1
em ecoturismo de base comunitária. • www.ashoka.org.br - Empreendedores
Outros possuem linhas de crédito para Sociais;
qualquer negócio em turismo, como a • www.repea.org.br - Rede Paulista de
Caixa Econômica Federal, BNDES, Educação Ambiental (a partir de nov. de
Banco do Brasil, Banco do Nordeste do 2000);
Brasil e outros. A ABONG, Associação • www.ecoar.org.br - ecoar@ecoar.org.br -
Brasileira de Organizações Não Gover- Ecoar - Facilitador da REBEA - Rede
namentais, lançou um livro sobre o Brasileira de Educação Ambiental;
assunto, “Manual de Fundos Públicos • www.portaldomicrocredito.org.br - Por
2003”, disponível em tal do Microcrédito.
www.editorapeiropolis.com.br.
Alguns sites de referência para financia- Centros de Estudos do Terceiro Setor
mento são: • CETS - Centro de Estudos do Terceiro
Governo: Setor - FGV
www.mma.gov.br - Ministério do Meio www.fgvsp.br/academico/estudos/cets
Ambiente, Fundo Nacional do Meio Centro de Estudos do Terceiro Setor -
Ambiente; FGV-EAESP - Av. 9 de julho, 2029, Cep:
www.mre.gov.br - Ministério das Relações 01313-092 - São Paulo, SP - Tel: 55-
Exteriores, Cooperação Internacional; 11/281-7892 - Fax: 55-11/2841789 - e-
www.planejamento.gov.br - Ministério mail: cets@fgvsp.br - Coordenador: Prof.
do Planejamento, Assuntos Internacionais; Luiz Carlos Merege;
www.integração.gov.br - Ministério da • CEATS - Centros de Estudo e Admi-
Integração Nacional, Planafloro (RO) e nistração do Terceiro Setor - FEA/USP
Prodeagro (MT); www.fea.usp.br/ceats
www.ambiente.sp.gov.br - Secretaria do Av. Prof. Luciano Gualberto, 908 - Cep:
Meio Ambiente do estado de São Paulo; 05508-900 - São Paulo, SP - Tels: (11)
www.fehidro.sp.gov.br - Fundo Estadual 3818-5811/5800 - Fax: (11) 3814-3814 -
de Recursos Hídricos; e-mail: fea@edu.usp.br
www.prodam.sp.gov.br/svma - Secretaria • SENAC - Fórum Permanente do Terceiro
do Verde e do Meio Ambiente - PMSP. Setor - Informações: SENAC/Centro de
Educação Comunitária para o Trabalho -
Sobre o Terceiro Setor Tel: (11) 6191-5151.
• www.gife.org.br - Grupo de Institutos,
Fundações e Empresas; Alguns Prêmios na Área Sosial e Ambiental:
• www.rits.org.br - Rede de Informações Prêmio Ethos/Valor - Instituto Ethos;
do 3º Setor; Prêmio Henry Ford - Fundação Ford;
• www.ethos.org.br - Responsabilidade Prêmio von Martius - Câmara de Comér-
Social; cio e Indústria Brasil/Alemanha;
87
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

Prêmio Eco - AMCHAM - Câmara Managers. Report nº HWA-PD-94-031.


Americana de Comércio; Federal Highway Administration.
Prêmio Top de Ecologia - ADVB; Washington, DC.
Prêmio Idéias Inovadoras em Captação OMT, 1994. Desenvolvimento do Turismo
de Recursos - Ashoka; Sustentável: manual para organizadores
Prêmio Bem Eficiente - Kanitz Asso- locais. Brasília, DF: Embratur.
ciados e SALVATI, S. S. 2002a. Ecoturismo no
Prêmio FENEAD - Federação Nacional Pantanal Brasileiro e Boliviano: estudos
de Estudantes de Administração. de políticas e alternativas sustentáveis.
São Paulo: Prolam / USP, 139 p.
1 V. BIBLIOGRAFIA [Dissertação de Mestrado]
SALVATI, S. S. 2002b. Turismo responsável
BARRETO, M. 1991. Planejamento e como instrumento de desenvolvimento e
Organização em Turismo. Campinas: conservação da natureza. In: Diálogos
Papirus. entre a esfera global e local: con -
BOO, E. 1992. The Ecotourism boom: plan - tribuições de organizações não governa -
ing for development and management. mentais e movimentos sociais brasileiros
Washington, DC, WWF. para a sustentabilidade, eqüidade e
CEBALLUS-LASCURAIN, H. 1996. Tourism, democracia planetária. Rubens Born
Ecotourism and Protected Areas. Paris: [org.]. São Paulo: Peirópolis.
UNEP. SISTEMA Nacional de Unidades de
DRIVER, B. L.; BROWN, P. 1978. The Conservação. 2002. SNUC: lei nº 9.985,
Opportunity Spectrum Concept and de 18 de julho de 2000; decreto nº
Behavioral Information in Outdoor 4.340, de 22 de agosto de 2002. 2 ed.
Recreation Resource Supply Inventories: Aum. Brasília: MMA/SBF.
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oficina “Integrated Inventories of Nacional Marinho de Fernando de
Renewable Natural Resources”. Anais da Noronha: um modelo de planejamento e
oficina. 8 a 12 de janeiro de 1978. implementação. Série Técnica nº VIII.
Tucson, AZ. Brasília, DF: WWF.
IGNARRA (s.d). Planejamento Turístico WWF, 2001b. Directrices para el desarrollo
Municipal, um modelo brasileiro. São del turismo comunitario. Gland: WWF.
Paulo: CTI. WWF, 2001c. Certificação do Turismo:
GALANTE, M. L.. V.; BESERRA, M. M. L.; lições mundiais e recomendações ao
MENEZES, E. O. 2002. Roteiro Brasil. Série Técnica nº IX. Brasília, DF:
Metodológico de Planejamento: Parque WWF.
Nacional, Reserva Biológica, Estação WWF, (no prelo). Turismo Responsável:
Ecológica. Brasília, DF: MMA/DIREC. manual para políticas locais. Brasília,
MOORE, R. 1994. Conflicts on Multi-use DF: WWF
Trails: a Survey of National Park Service

88
PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

2. Levantamento do potencial
ecoturístico (inventário)
Marcos Martins Borges

2
I. OBJETIVOS região. No caso do ecoturismo podemos con-
siderar como área de interesse para a realiza-
realização do inventário da oferta ção do inventário tanto a área total de um

A turística, a identificação do perfil e


das opiniões do turista e o reconhe-
cimento das expectativas e percepções da
município, uma região (vários municípios) ou
uma área protegida e seu entorno imediato.
Por ser um segmento da indústria do turis-
mo, o ecoturismo trabalha com e depende
comunidade receptora formam a base do
planejamento e orientam as fases de dos mesmos componentes básicos do turis-
implantação e monitoramento de programas mo convencional. Desta forma, ao propor o
de ecoturismo, sendo, portanto, determi- levantamento de dados e informações para
nantes para o sucesso da proposta. subsidiar o planejamento do ecoturismo,
O objetivo deste capítulo é fornecer uma devemos primeiramente compreender os
metodologia participativa, e de fácil ade- principais mecanismos dessa atividade
quação às diferentes realidades regionais, descritos no capítulo de Planejamento do
para o levantamento dessas informações. Ecoturismo. Durante o desenvolvimento de
Como um dos principais instrumentos de projetos, os atrativos, o turista, a infra-estrutu-
envolvimento e participação, as pesquisas ra, os serviços e a comunidade são elementos
do inventário aqui proposto sugerem a que devem ser pesquisados e avaliados para
capacitação de moradores no planejamen- se chegar a uma compreensão mínima das
to, desenvolvimento e execução das ativi- suas características e necessidades.
dades. E inclui a tabulação dos dados O inventário deve fornecer dados impor-
pesquisados e disponibilização de resulta- tantes para uma análise da situação atual da
dos para realização de diagnóstico e para a região de interesse e, no final deste proces-
definição dos objetivos e metas do projeto so de coleta e análise de dados, tem-se um
de ecoturismo, contribuindo de forma deter- diagnóstico do potencial ecoturístico que
minante para a consolidação das etapas permite responder as seguintes questões:
seguintes propostas neste Manual. - Qual o potencial que os recursos na-
turais e culturais da minha região tem
II. INTRODUÇÃO CONCEITUAL para atrair visitantes?
- Esses recursos estão conservados e
O levantamento do potencial do ecotu- preparados para se tornar atrativos
rismo representa a primeira e fundamental ecoturísticos?
etapa do processo de planejamento estratégi- - Quais os serviços e equipamentos de
co da atividade. Inventariar é pesquisar e que dispomos para facilitar a visitação
relacionar, de modo quantitativo e qualitati- e quais as necessidades de capaci-
vo, os bens (p. ex. atrativos naturais ou cul- tação profissional?
turais, acessos) e serviços (p. ex. meios de - Os acessos e os meios de transportes
hospedagem e guias) de uma determinada são adequados e seguros?
89
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

- Qual os limites de mudanças que esta subsidia e é subsidiado por diversos capítu-
região, sua infra-estrutura, as comu- los. A plena compreensão do que se propõe,
nidades e os atrativos podem aceitar? do que é o ecoturismo e quais são seus
- Como as diversas lideranças comu- princípios, é fundamental para a compreen-
nitárias percebem o ecoturismo e são do porquê do inventário e do que quer-
quais benefícios que esperam receber? emos dele.
- Quais as restrições legais, políticas e Em muitas ocasiões, a realização do
econômicas que podem afetar o inventário de ecoturismo será o primeiro
desenvolvimento do projeto? contato da comunidade com o tema do
- Qual a visão e as expectativas dos ecoturismo de uma forma mais profunda,
2 comerciantes, empresários e das concreta, menos especulativa. Idealmente,
ONG's locais? isto deveria ocorrer apenas após um
- Qual o compromisso do poder público processo participativo de conhecimento da
local (prefeito e vereadores) com relação comunidade e envolvimento desta – seus
ao desenvolvimento do ecoturismo? diversos setores – no planejamento e de-
Estas e inúmeras questões devem ser senvolvimento do ecoturismo, inclusive a
respondidas pelo diagnóstico final, baseado decisão de realizar um inventário. Assim
nas informações da pesquisa do inventário. sendo, apesar de muitos procedimentos
Cabe ao diagnóstico determinar as vocações discutidos neste capítulo constarem de
específicas, bem como as possibilidades de forma mais aprofundada no capítulo
desenvolvimento de produtos turísticos Participação Comunitária e Pa rc e r i a s ,
regionais integrados. E para se definir bons decidiu-se tratá-los aqui também, sendo
produtos, de baixo impacto ambiental, que que neste capítulo os procedimentos suge-
gere amplos benefícios econômicos e soci- ridos focalizam o caso específico do inven-
ais, devemos ter uma boa análise dos dados tário. Entretanto, utilize este capítulo con-
levantados, os quais subsidiarão as etapas juntamente com o de Participação Comu-
seguintes do projeto, incluindo a definição nitária e Parcerias, especialmente se o in-
de objetivos e metas. ventário de potencial de ecoturismo estiver
sendo realizado sem o devido processo ini-
cial de apresentação e envolvimento de
Somente após o conhecimento diversos setores da comunidade no desen-
do potencial atrativo, volvimento do ecoturismo.
das lacunas e dificuldades Também cabe reforçar que os ques-
para implementação e da visão tionários utilizados para exemplificar os
diversos temas de pesquisa incluídos em um
e expectativas da comunidade
inventário, devem ser adaptados para a reali-
é que um programa ou projeto dade de cada local. Ao utilizar o capítulo, as
de ecoturismo deve ser implantado. fichas e questionários, procure sempre asso-
ciar o exposto a exemplos locais, dando rea-
lismo ao que parece ser teórico e distante.
III. CAIXA DE FERRAMENTAS Nesta seção serão apresentados os
seguintes tópicos:
O processo de planejamento, aplicação
e análise do inventário ecoturístico é um 1. Apresentação à comunidade.
conjunto de atividades que interage com 2. Definição de parcerias e manejo
diversas outras atividades abordadas neste de informações.
Manual. Assim, lendo-o atentamente, prin- 3. Definição da área a ser pesquisada.
cipalmente o capítulo de Planejamento do 4. Recursos materiais e humanos
Ecoturismo, percebe-se que o inventário necessários – previsão de custos.
90
Levantamento do potencial ecoturístico (inventário) – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

5. Seleção da equipe de dade de recursos humanos para este


pesquisadores para realizar fim e já iniciar o processo de identi-
o inventário. ficação dos mais preparados e inte-
6. Treinamento da equipe – ressados.
nivelamento de informações ❒ Obter apoios diversos ou parcerias
e motivação. institucionais para o desenvolvimen-
7. Principais elementos a serem to, análise e publicação dos resulta-
inventariados. dos juntos aos setores interessados.
8. Elaboração de questionários
específicos. É bom ressaltar que a efetiva compreen-
9. Aplicação dos questionários. são da comunidade sobre a importância do 2
10. Tabulação de dados. inventário tem um papel fundamental na
11. Manuseio dos dados coletados – qualidade da informação que será coletada.
análise de resultados. Coletar dados, muitas vezes não quantita-
tivos, já é difícil. Se não houver interesse por
parte da fonte, ou seja, a pessoa entrevista-
1. Apresentação à comunidade da, e do próprio pesquisador, essa tarefa se
torna ainda mais difícil, aumentando a
primeira fase para a realização do
A inventário é justamente a apresentação
do tema à comunidade. Caso o procedi-
margem de erro.

2. Definição de parcerias
mento proposto no capítulo Participação e manejo de informações
Comunitária e Parcerias para este fim não
tenha sido realizado, isto pode ser feito no levantamento de informações turísticas
momento em que for detalhado o projeto do
inventário como um todo. Promover um
O é de interesse e depende de vários
setores da comunidade ou fora dela. Na
seminário com apoio da prefeitura ou do comunidade local, a prefeitura, associações
COMTUR e tomando o cuidado para que de classe (comercial, guias etc.) e os pró-
todos os principais atores sociais e prios empresários individualmente podem
econômicos locais estejam presentes, pode ter um interesse direto no conhecimento e
ser um passo importante. Caso necessário, manuseio dos dados levantados pelo inven-
faça reuniões formais e informais em todos tário. Da mesma forma, outros órgãos públi-
os locais de interesse, incluindo para as cos, como a EMBRATUR, o órgão de turis-
comunidades que estão mais afastadas. mo do estado ou do município, universi-
Utilize as fichas do capítulo de Planeja - dades (trabalhos de pesquisadores ou
mento do Ecoturismo como subsídios para a alunos), ONG's, prefeituras do entorno ou
introdução da proposta de ecoturismo jun- outros tipos de organizações, como o
tamente com as fichas deste capítulo. SEBRAE, também podem se interessar pelas
Essa primeira introdução ao tema para a informações. Eventualmente inventários
comunidade tem três objetivos básicos: podem já ter sido realizados e, através de
❒ Propiciar à população um primeiro pesquisas secundárias (de gabinete) em
esclarecimento sobre a importância alguns dos órgãos acima citados, pode-se
do inventário e notificá-la de que procurar conhecer seu conteúdo previa-
alguns, ou muitos, serão procurados mente e prever o uso, a complementação ou
por pesquisadores. a atualização dos dados coletados. Esses
❒ Em caso de não haver um grupo já interesses devem ser materializados por
identificado para realizar o inven- meio de parcerias, gerando subsídios técni-
tário (por exemplo, uma associação cos e financeiros para a realização do inven-
de guias), informar sobre a necessi- tário e pesquisas.
91
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

Parcerias estratégicas cos, como a Câmara, associações


comunitárias e de proprietários.
O momento do inventário é extremamente ❒ Definição de critérios para acesso e
utilização das informações.
relevante para se iniciar o processo O estabelecimento de parcerias para o
de estabelecimento de relações parceiras, inventário pode ou não se dar no início do
sejam comerciais ou não, entre os diversos projeto de ecoturismo. O importante é que
componentes do turismo. Proprietários de elas sejam buscadas e bem trabalhadas para
propiciar um levantamento de informações
terra, chefe de unidades de conservação,
adequado. Além disso, deve-se discutir os
2 donos de pousadas, agências de turismo termos do acordo de parceria com as pes-
receptivo, proprietários de vans e barcos soas que irão realizar o levantamento de
e condutores de visitantes são atores informações, facilitando a compreensão de
importantes e podem vir a merecer todos os envolvidos no processo, bem como
o destino dos dados levantados.
um tratamento diferenciado mediante
uma pesquisa mais aprofundada 3. Definição da Área a ser Pesquisada
e o estabelecimento de parcerias formais.
o se elaborar um projeto de ecoturismo,

Para que se mantenha a integridade do


A provavelmente a área de abrangência
do mesmo já pode estar previamente defini-
processo de realização do inventário e, prin- da. Pode ser um município, um pólo turísti-
cipalmente, da própria parceria, os se- co (vários municípios), uma bacia hidrográ-
guintes procedimentos devem ser observa- fica, uma Unidade de Conservação, ou
dos (ver capítulo Participação Comunitária e mesmo a área de influência de uma deter-
Parcerias): minada comunidade ou empreendimento.
No caso do inventário turístico, a abrangên-
❒ Oficialização de contratos formais e cia da área a ser pesquisada pode ser a
transparentes, identificando clara- mesma do projeto como um todo ou não.
mente: De qualquer forma, essa definição é básica
Os objetivos da parceria. para o planejamento do inventário.
Deveres, responsabilidades e benefí- Deve-se lembrar que os recursos
cios de cada parte. humanos e financeiros oriundos das parce-
Um cronograma de execução do rias podem limitar ou ampliar a área e o
trabalho. tempo necessário para realizar o inventário.
Procedimentos gerais técnicos, Acordos institucionais com a Prefeitura, por
administrativos e financeiros. exemplo, podem permitir a ampliação da
Resumo simplificado do acordo para área de abrangência da pesquisa para gerar
exposição à comunidade. dados mais completos, e necessários para
❒ Estabelecimento de um sistema de um melhor planejamento integrado do eco-
comunicação eficaz entre as partes. turismo na região. Abaixo listamos alguns
❒ No caso de prefeituras, a apresen- procedimentos para facilitar a definição de
tação e discussão do projeto na uma área a ser pesquisada que atenda aos
Câmara dos Vereadores ou, preferen- interesses e limitações do projeto:
cialmente, no Conselho de Turismo,
pode dar maior representatividade ❒ Solicitar à equipe de pesquisadores
na formalização do acordo proposto. locais que faça uma lista de atrativos
❒ Produção de relatórios periódicos, já conhecidos (visitados ou não),
com apresentações em foros públi- infra-estrutura turística e outras
92
Levantamento do potencial ecoturístico (inventário) – P LANEJAMENTO ESTRATÉGICO

informações que possam ajudar na ❒ Áreas já visitadas, mesmo por


definição da área. Nesse caso, vale moradores da região, são priori-
lembrar que certos elementos a tárias. Significa que têm atrativos,
serem pesquisados podem estar fora despertam o interesse do público,
da área inicialmente pensada pelo podem ter infra-estrutura turística e,
projeto. Por exemplo, um grande certamente, já sofrem algum tipo de
atrativo pode se localizar no municí- impacto de visitação.
pio vizinho, mas ser relevante para o ❒ Áreas potenciais identificadas pela
desenvolvimento do ecoturismo no equipe de pesquisadores ou outros
município proponente do projeto. moradores vêm a seguir, priorizan-
Ou apesar de estar no município vi- do-se, neste caso, atrativos de maior 2
zinho, seu acesso é mais fácil pelo relevância.
município do projeto. ❒ Prever uma reserva técnica para
❒ Quais são os recursos humanos, suprir necessidades decorrentes de
materiais e financeiros disponíveis? novos atrativos descobertos durante
Não adianta planejar um inventário o inventário. É comum que a equipe
muito abrangente se não há recursos de pesquisadores descubra uma
suficientes. Utilizar informações le- seqüência de atrativos em local
vantadas pela equipe de pesquisa- ainda pouco conhecido da comu-
dores, fazer o planejamento de cus- nidade, principalmente em áreas
tos (ver item Recursos materiais e particulares.
humanos necessários – previsão de ❒ Conforme a equipe for coletando
custos, a seguir) e definir as áreas dados em campo, outra equipe já
prioritárias. pode ter começado a sua tabulação.

/ FICHA 1
CRITÉRIOS NA DEFINIÇÃO DA ÁREA A SER PESQUISADA

Para maximizar
Núcleo urbano tempo e recursos
mais próximo humanos e
financeiros, pode-se
dividir a região em zonas
Complementares de pesquisa, cada uma
delas com uma equipe de
Zonas de influência – pesquisa responsável pela
ZONA 1 atrativos e serviços ZONA 2 geração dos dados. Neste
de apoio exemplo a zona prioritária
é a zona 2 (FICHA 1).
As zonas prioritárias são
visitadas primeiro.
Durante a pesquisa em
determinada zona, vários
Atrativo
Atrativo elementos são pesquisados
ou conjunto
secundário (sinalização, acesso,
de atrativos
ou ainda equipamentos e serviços)
principais ou
não visitado assim como outros
já visitados
atrativos, que podem
ser complementares.

93
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

4. Recursos materiais e humanos ❒ Mapas do IBGE e do Ministério do


necessários – previsão de custos Exército – baratos – de todo o Brasil.
❒ Imagens de satélite e laboratório
or menor que seja a área a ser pesquisa-
P da, a realização do inventário e de
pesquisas com turistas e comunidade vai
ajudam a localizar atrativos, identi-
ficar áreas mais preservadas ou
degradadas e aprimoram e enrique-
demandar investimentos em recursos cem qualquer mapa turístico da
humanos e materiais. O planejamento região.
prévio dos recursos necessários é impor- ❒ Equipamento fotográfico, filmes e
tante para garantir a continuidade do proje- pilhas para registro de atrativos,
2 to. A interrupção por falta de recursos pode equipamentos e acessos.
comprometer todo o trabalho já realizado ❒ Binóculos pois ajudam a localizar
de mobilização comunitária, treinamento e atrativos, observar animais e aves.
parceria, e gerar descrédito em relação ao ❒ Pedômetro para medir distâncias de
projeto. trilhas e/ou atrativos.
Ao se realizar uma estimativa prévia dos ❒ Mochilas, lanternas, bússolas,
recursos necessários pode-se, então, dimen- capas-de-chuva, equipamentos de
sionar a área a ser pesquisada de acordo segurança e primeiros socorros para
com os recursos disponíveis, ou buscar pesquisadores de campo.
novas parcerias para viabilizar a proposta ❒ Aparelhos de localização geográfica
inicial. A seguir, listamos os recursos ne- (GPS – Global Position System –
cessários para realizar o inventário que de- Sistema de Posicionamento Global)
vem ser apresentados à comunidade e aos pode ajudar a localizar atrativos e
possíveis parceiros para definição de plotá-los em mapas turísticos.
apoios. Alguns deles não são impres- ❒ Material de consumo tais como
cindíveis, mas facilitam e dão maior quali- papel, pranchetas, lápis e canetas,
dade ao trabalho, cabendo à equipe de cartuchos de impressora, combus-
coordenação definir o que julga pertinente tível etc.
ou não. ❒ Computador com softwares tais
❒ Recursos humanos e serviços de ter- como processadores de texto
ceiros tais como coordenador de (Word), planilhas eletrônicas (Excel)
equipes, pesquisadores e tabula- e sistemas de bancos de dados
dores do inventário, assistência téc- (Access) para tabulação e análise de
nica em informática, revelação de dados, impressora para impressão
filmes, serviços de xerox etc. de relatórios e scanner, que facilita o
❒ Meios de transporte tais como carro, trabalho de arquivamento e disponi-
barco, animais, bicicleta etc. De- bilização de fotos dos atrativos e
pendendo do tamanho da equipe e estabelecimentos.
do tempo disponível para realizar o
inventário, mais de um meio de 5. Seleção da equipe de pesquisadores
transporte pode ser necessário, para realizar o inventário
sendo um item imprescindível na
realização do inventário. agente pesquisador é peça importante
❒ Diárias de alimentação e, caso
necessário, hospedagem dos técni-
O na construção e direcionamento das
relações entre os componentes do turismo.
cos e pesquisadores de campo. Durante a pesquisa pode-se convidar o
❒ Remuneração, mesmo que seja a empreendedor entrevistado para uma parce-
título de incentivo, para os partici- ria e para que contribua de qualquer outra
pantes. forma no projeto. Desta forma, e diante do
94
Levantamento do potencial ecoturístico (inventário) – P LANEJAMENTO ESTRATÉGICO

objetivo deste Manual – capacitar comu- Por fim, a seleção da equipe a ser treina-
nidades para uma gestão autônoma do eco- da deve atender a três preocupações:
turismo – e das qualidades necessárias a ❒ Capacitar um número de pessoas
qualquer pesquisador, a seleção e treina- que seja suficiente para realizar o
mento da equipe para realização do inven- inventário do município ou região.
tário devem seguir alguns critérios: ❒ Mudança de residência ou desinte-
resse são situações que podem sem-
• Selecionar pessoas que tenham uma pre ocorrer. Portanto, o grupo deve
forte ligação com a comunidade e com o ter um número mínimo de pessoas
local onde moram. Ou seja, buscar indi- que comporte abandonos e garanta
víduos que apresentam menor possibili- a realização de pesquisas e a capa- 2
dade de migração para outras regiões. A citação de novos pesquisadores no
melhor forma de selecionar pessoas futuro.
compromissadas com a comunidade é ❒ Sugere-se que o grupo não exceda
consultar a própria comunidade (ver 10 pessoas, pois é muito difícil trei-
capítulo Participação Comunitária e nar uma equipe muito grande.
Parcerias).
• Apesar de não ser um pré-requisito 6. Treinamento da equipe –
eliminatório, pessoas com maior conhe- nivelamento de informações
cimento da região colaboram muito no e motivação
momento de realizar o inventário de
urante a apresentação da proposta de
atrativos e serviços.
• A aplicação dos questionários do inven-
tário demandam diálogo com infor-
D inventário à comunidade, e posterior-
mente à equipe que o realizará, é importante
mantes. Por isso é muito importante que ressaltar que o ecoturismo é uma atividade
os pesquisadores tenham facilidade de complementar, que veio para se somar a ou-
comunicação oral. tras atividades, que seu crescimento é lento e,
• Realizar um inventário de grande escala espera-se, criterioso. É muito importante que
exige, de fato, motivação e afinidade da todos os passos fiquem claros para a comu-
equipe selecionada com a proposta do nidade evitando, ou ao menos minimizando,
projeto. Fazer um mesmo questionário a geração de falsas expectativas, fato comum
dez ou mais vezes em um mesmo dia ou em muitos projetos comunitários.
entrevistar uma pessoa desinteressada ou Como mencionado anteriormente, é
mal humorada tendem a levar ao essencial que a equipe de pesquisadores se
cansaço ou à monotonia e, muitas vezes, encontre motivada para fazer o inventário.
ao erro. Para que isso ocorra, é necessário que todos
• Por envolver o preenchimento constante compreendam a totalidade do projeto de
de questionários, todos os membros da ecoturismo e a importância do inventário
equipe devem ter boa capacidade de para o projeto. Portanto, é preciso que se
leitura e escrita. faça uma apresentação mais detalhada de
• Atenção especial deve ser dada à estru- todos os passos do projeto e deste Manual,
tura das equipes de trabalho. Definir inclusive trabalhando com maior profundi-
responsabilidades e hierarquias pode ser dade os princípios do ecoturismo. Como a
um fator de sucesso. Caso a escala da equipe do inventário será porta-voz do pro-
pesquisa exija grandes equipes de traba- jeto perante boa parte da comunidade, a
lho sugere-se a identificação de um líder compreensão de todo o processo não só
responsável para cada uma das três prin- ajudará na motivação como também capa-
cipais atividades: coordenadores geral, citará os pesquisadores para uma clara
de campo e da tabulação. exposição do projeto ao entrevistado.
95
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

Importante é ressaltar para a equipe de uma região podem ser muito subjetivas, de
campo que os dados levantados nessa modo que é importante estabelecer critérios
pesquisa são sigilosos. Sempre serão trata- para se definir hierarquias (ou potencial de
dos e divulgados para a comunidade de atratividade) para seus recursos. Por exem-
forma agregada e não serão, portanto, divul- plo, uma cascata de 5m pode ser percebida
gados individualmente. pela comunidade como um grande atrativo e
Para este treinamento deve-se utilizar as serão abordadas desta forma na pesquisa,
fichas do capítulo de Planejamento Integrado como a maior atração da região. Porém, eco-
e deste capítulo para motivar a equipe na turistas experientes já terão vivenciados atra-
aplicação dos questionários. Como o objeti- tivos de maior envergadura. Nestes casos,
2 vo é o de capacitar e treinar uma equipe, este para ter elementos mais concretos sobre o
roteiro deve ser utilizado com maior profun- potencial de seus recursos, os pesquisadores
didade e tempo para discussão do que quan- podem atribuir notas aos atrativos de acordo
do apresentado à comunidade. com o potencial de atratividade que pos-
Percepções pessoais sobre o potencial suem dentro do contexto turístico, de acordo
atrativo dos recursos naturais e culturais de com os seguintes critérios :

/ FICHA 2
CRITÉRIOS NA PESQUISA DOS ATRATIVOS

Hierarquia para definir potencial de atratividade dos recursos

• HIERARQUIA 4: Recurso turístico de grande interesse capaz de, por si só, motivar
importantes correntes de visitantes internacionais, interestaduais e regionais.
• HIERARQUIA 3: Recurso turístico de interesse capaz de, por si só, motivar impor-
tantes correntes de visitantes interestaduais e regionais, servindo ainda de comple-
mento para aqueles de hierarquia 4.
• HIERARQUIA 2: Recurso atrativo de relativo interesse capaz de, por si só, motivar
correntes de visitantes regionais, podendo servir ainda, de complemento para aque-
les de hierarquia superior.
• HIERARQUIA 1: Recurso turístico sem potencial suficiente para, por si só, motivar
correntes de visitantes locais, podendo servir, porém, de complemento para aqueles
de hierarquia superior.

FONTE: Compilado pelo Editor.

7. Principais elementos decisão de quais serão incluídos em cada


a serem inventariados inventário depende destas condições e tam-
bém dos objetivos que se espera alcançar
ependendo do estágio de desenvolvi- com o projeto de ecoturismo de forma geral
D mento sócio-econômico da região
pesquisada, da oferta de infra-estrutura e
e, de forma específica, com o inventário.
Deve-se atentar para que a escala de
serviços, assim com da presença de fluxos alcance da pesquisa seja condizente com os
turísticos, podem ser diversos os elementos recursos humanos e materiais que o projeto
que devem ser inventariados. Assim, a disporá. Por exemplo, deslocamentos para
96
Levantamento do potencial ecoturístico (inventário) – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

locais distantes que exigem carros traciona- oferecidos devem ser expandidos e adequa-
dos ou muitas horas de barco, são custosos dos à realidade do município ou da região
e nem sempre possíveis. em questão. As possibilidades de levanta-
A ficha a seguir mostra a importância do mento devem ser consideradas junto com a
inventário, dos dados que se quer coletar e equipe na ocasião de decidir o que é ou não
a relação destes com as necessidades de relevante para o projeto.
diagnóstico e planejamento. Os exemplos

/ FICHA 3 2
PRINCIPAIS ELEMENTOS A SEREM INVENTARIADOS – ATRATIVOS
ELEMENTOS EXEMPLOS MOTIVO
Atrativos naturais 4 Áreas naturais protegidas – ❐ Como o próprio nome indica,
(cênicos, recursos parques públicos e privados e os atrativos fazem com que o
remanescentes demais áreas que permitem turista seja atraído até uma
ou em extinção) visitação; determinada região.
4 Montanhas – picos, serras e ❐ Deve-se hierarquizar o seu
cânions, suas trilhas e seus potencial de atração atribuin-
mirantes; do valores dentro de um con-
4 Planaltos e Planícies – texto de mercado mais amplo.
chapadas e vales; ❐ Para sabermos o que promo-
4 Costas e Litorais – praias, ver, quantos e quais tipos de
manguezais, recifes de corais, turistas queremos em nossa
baias e enseadas, barras de região, é necessário conhecer
rios e dunas; os atrativos, a oferta de equi-
4 Ilhas e arquipélagos – pamentos e serviços de apoio
locais para mergulhos; e quantas pessoas podem ter
4 Cavidades Subterrâneas – acesso a esses atrativos em um
grutas e cavernas; mesmo momento sem gerar
4 Recursos Hídricos – rios, lagos, alto impacto ambiental ou
lagoas, nascentes, canais e re- queda na qualidade da expe-
presas, cachoeiras e corredei- riência do visitante (capaci-
ras, praias de rio, balneários; dade de carga).
4 Flora – mata primária, mata ❐ Da mesma forma, o inventário
secundária, exemplares raros oferece dados para subsidiar a
ou em extinção; elaboração de medidas de
4 Fauna – observação de aves, preservação e recuperação,
ninhais, criadouros naturais, bem como possibilitar o mo-
presença ou vestígios de ma- nitoramento da qualidade e
míferos, animais em extinção, integridade destes atrativos,
criadouros comerciais, locais seus acessos e serviços agre-
para pesca. gados.

Atrativos e 4 Culturais e Históricos - sítios ❐ Idem, pelo item acima.


Manifestações históricos, arqueológicos ou
Culturais Religioso, étnicos; (índios,caiçaras e qui-
Cívico, Artístico ou lombolas), monumentos, cons-
popular) truções, ruínas e esculturas

97
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

ELEMENTOS EXEMPLOS MOTIVO


civis, religiosas e históricas;
museus; eventos e festas cul-
turais; minas antigas; estradas e
trilhas históricas;
4 Gastronômicas – bebidas, co-
midas, doces e salgados típicos;
4 Artísticas – contadores de his-
tórias, grupos étnicos, folclóri-
cos e populares de danças e
2 música;
4 Artesanato – Cestarias, tapetes,
cerâmicas, metais, pinturas,
papel, motivos locais;
4 Eventos programados – Feiras,
mercados, exposições, con-
gressos/seminários, eventos es-
portivos, eventos turísticos;
4 Centros Técnicos – zoológico,
jardins botânicos/hortos.

PRINCIPAIS ELEMENTOS A SEREM INVENTARIADOS – SERVIÇOS

ELEMENTOS EXEMPLOS MOTIVO

Serviços de apoio 4 Meios de hospedagem – hotel, ❐ Os serviços geram benefí-


direto ou indireto hotel fazenda, resort, colônia cios econômicos para a
ao ecoturismo de férias, hotel de lazer, motel, comunidade e são a base de
spa, apto. ou chalé tempo- sustentação para uma maior
rário, hotel residencial ou flat, permanência e satisfação do
hospedaria, albergue da ju- turista.
ventude, alojamento, pousa- ❐ O aprimoramento e a di-
da, pensão, camping, casas de versificação dos serviços
aluguel e veraneio; existentes geram maiores
4 Alimentação – restaurantes possibilidades de lucros para
(variado, churrasco, pizza, a comunidade e de ativi-
peixes/frutos do mar, comida dades para o turista.
caseira, comida típica e re- ❐ A identificação de serviços
gional) e diversos (mercado, turísticos sendo oferecidos
açougue, lanchonete, bar, na região, como agências e
doceria, sorveteria); guias, são estratégicos para
4 Agências – de turismo receptivo; estabelecimento de parce-
4 Serviço de guiagem – guias, rias futuras.
condutores, monitores, mateiros; ❐ O conhecimento dessa reali-
4 Meios de transportes e aces- dade facilita o planejamento
sos Intermunicipais e Inte- de novos serviços necessários.
restaduais – Rodoviário, flu- Preocupe-se principalmente
vial (balsas e/ou barcos), fer- com qualidade, quantidade e
roviário, aéreo; diversidade dos serviços, ge-
4 Meios de transportes e acessos ração de empregos e necessi-
locais – táxis, vans, kombis, dade de mão-de-obra.
98
Levantamento do potencial ecoturístico (inventário) – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

ELEMENTOS EXEMPLOS MOTIVO


barcos, avião destinados ao ❐ O inventário pode também
apoio para acesso aos atrativos; levantar quais subprodutos
4 Outros serviços de turismo e estes serviços necessitam,
lazer – locação de motos, bi- demonstrando quais tipos de
cicletas e cavalos, locação e atividades devem ser incenti-
venda de equipamentos de vadas no município (por
escalada/espeleologia ou es- exemplo, sub-produtos do
portes de aventura em geral leite).
(p.ex.) bóia-cross;
4 Recreação, entretenimento e 2
espaços para eventos artísti-
cos e culturais – cinema, tea-
tro, casas de shows, centros
esportivos, centros culturais,
parques de diversão, boate,
clubes;
4 Estabelecimentos comerciais
de apoio turístico – loja de
materiais fotográficos, de arte-
sanatos ou “souvenirs”.

PRINCIPAIS ELEMENTOS A SEREM INVENTARIADOS – INFRA-ESTRUTURA

ELEMENTOS EXEMPLOS MOTIVO

Infra-estrutura 4 Auto-Serviços – postos de ga- ❐ A infra-estrutura não só


básica e de apoio solina, borracharia, oficinas facilita o acesso e permanên-
ao ecoturismo mecânicas e elétricas, guinchos cia do turista, mas também
e auto-peças; tem papel importante na
4 Comunicação – Posto telefôni- forma como ele percebe a
co, emissoras de rádio e tele- comunidade.
visão, jornais, agências postais e ❐ Regiões com muitas carên-
telegráficas, emissoras, editoras; cias em infra-estrutura po-
4 Bancos – Agência comum, dem ter problemas na exe-
posto de serviço ou caixas cução de projetos ou para
eletrônicos 24 horas; atrair demandas.
4 Saúde – Hospitais, postos de ❐ A identificação da infra-
saúde e pronto-socorro públi- estrutura disponível é neces-
cos ou privados, farmácias, sária para informar o turista,
clínicas médica e odontológica; e também para suprir even-
4 Segurança – Polícia Militar tuais carências através de
Florestal e Bombeiros, polícias indicações das necessidades
federal, civil ou rodoviária, básicas ao poder público.
Receita Federal, Defesa Civil, ❐ Além das necessidades nor-
Guarda Municipal; mais de qualquer comuni-
4 Outros – sinalização turística e dade, o incremento da visita-
rodoviária, paisagismo, ilumi- ção e as concentrações de vi-
nação, sistema de água e esgoto, sitantes em determinada
coleta de lixo, banheiros públi- época gera maior demanda de
cos, áreas públicas, aparência infra-estrutura no município.
geral da cidade ou vila etc.
99
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

PRINCIPAIS ELEMENTOS A SEREM INVENTARIADOS – COMUNIDADES E VISITANTES

ELEMENTOS EXEMPLOS MOTIVO

Comunidade 4 População envolvida e não ❐ Alguns destes podem vir a


envolvida com o turismo. merecer um tratamento
4 Prefeitos e técnicos públicos diferenciado mediante uma
em turismo pesquisa mais aprofundada e
4 Representantes de ONG's o estabelecimento de parce-
socio-ambientalistas rias formais
2 4 Líderes comerciais, de coope- ❐ Por exemplo, uma pesquisa
rativas (pesca, artesanato), de com o chefe de unidade de
condutores de visitantes conservação pode ser rele-
4 Chefes e técnicos de Unidades vante para ecoturismo dentro
de Conservação ou no entorno de áreas pro-
4 Donos de pousadas e agências tegidas.
❐ É fundamental para os
princípios do ecoturismo o
conhecimento do que a co-
munidade pensa e quer em
relação à atividade. Isto
pode direcionar o grau dese-
jado do seu desenvolvimento
no município, indicar as
causas de desconforto da
comunidade com os proble-
mas gerados pela visitação,
ou as necessidades de infor-
mação da comunidade em
relação ao turismo.

Visitantes 4 Dados geográficos – Origem, ❐ O turista é nosso cliente,


meio de transporte; aquele que traz benefícios e
4 Dados sócio-econômicos – problemas. Ao conhecê-lo
faixa etária, profissão, sexo, mais profundamente, nos
motivações, média de per- capacitamos para melhor
manência e de gastos diários, atendê-lo, aumentando sua
grau de satisfação; satisfação, sua permanência
4 Motivações – como soube da no município e, conseqüen-
região, decisão de compra, temente, incrementando o
expectativas; benefício econômico para a
4 Percepções e satisfação – su- comunidade.
gestões, percepção de impacto ❐ Da mesma forma, podemos
ambiental ou de carências nos tentar atrair o turista ideal
serviços etc. para nossos objetivos e de-
sestimular atividades de visi-
tantes indesejáveis.

100
Levantamento do potencial ecoturístico (inventário) – P LANEJAMENTO ESTRATÉGICO

8. Elaboração de Questionários Específicos que atendam às necessidades para o diag-


nóstico e planejamento.
s fichas apresentadas dão uma idéia da
A ampla abordagem que pode vir a ter a
pesquisa de dados para o planejamento ade-
Os questionários apresentados em anexo
são modelos / exemplos de questionários
para servir de base para essa adequação.
quado do ecoturismo e, assim, surge a ne- Como estes questionários são frutos da
cessidade de adaptar e melhorar os modelos experiência em aplicá-los em projetos de
ou mesmo elaborar questionários novos e ecoturismo, muitas questões podem ser uti-
específicos. Provavelmente será mais fácil lizadas em qualquer ambiente. Por outro
uma ou duas pessoas desenvolverem os lado, a realidade do grupo que desenvolveu
questionários e os apresentarem à equipe, o questionário apresenta variáveis que 2
por economizar tempo em discussões. No podem não ser aplicáveis em outras regiões.
entanto, a participação direta do grupo no Da mesma forma, características particulares
desenvolvimento dos questionários apresen- de diferentes regiões podem não estar sendo
ta duas grandes vantagens: abordadas. É por isso que os modelos servem
❒ A primeira se refere à adequação do apenas de base, devendo ser analisados e
questionário à realidade a ser pes- discutidos pelo grupo de pesquisadores,
quisada. A participação da equipe criando-se, então, o questionário local.
de pesquisadores locais garante Como é muito difícil se chegar a um ques-
maior abrangência na coleta de da- tionário ideal sem testá-lo, recomenda-se a
dos, ao mesmo tempo que propicia adoção do seguinte método:
a eliminação de variáveis não exis-
tentes na região. a. Distribuição dos modelos ao grupo, com
❒ A segunda vantagem se refere ao tempo suficiente para que todos avaliem
preparo da equipe para aplicação e identifiquem questões procedentes,
dos questionários. A não compreen- improcedentes e as necessárias em
são de questões abordadas no ques- relação à realidade local. Para agilizar a
tionário, e especialmente do que se avaliação em grupo, solicitar a cada um
quer obter por meio dessas ques- que faça suas observações por escrito.
tões, é uma das grandes causas de b. Tendo por base os modelos oferecidos e
erros de preenchimento ou de des- o conhecimento próprio da equipe, os
motivação para aplicar o ques- questionários podem ser reconstruídos,
tionário. Ao sugerir, questionar e com a eliminação, alteração e/ou
aprovar itens dos questionários, a inserção de novas questões. Esta é uma
equipe se sentirá mais motivada por atividade desgastante, sendo, portanto,
ser aquele um produto do grupo e aconselhável fazer o trabalho em etapas,
não algo pronto que deve ser inter- preferencialmente desenvolvendo um
pretado e compreendido. questionário por dia.
c. Após a construção de todos os ques-
A Ficha 3, Principais elementos a serem tionários, estabelecer um período para
inventariados, deve ser utilizada para deter- testes. Todos os questionários devem ser
minar o que queremos inventariar e o que testados por diferentes pessoas em diver-
de mais importante precisamos saber. Por sas situações reais, ou seja, em campo.
exemplo, tanto a Ficha 3 como o ques- Nesta fase, a qualidade da informação
tionário de atrativos nos indicarão uma série obtida não é uma preocupação, mas sim
de locais ou atividades que podem atrair o conhecer a forma de aplicação do ques-
turista. Na elaboração do questionário, o tionário. Todas as questões que geram difi-
exercício é o de se criar perguntas específi- culdades de respostas por parte do entre-
cas para os atrativos existentes na região e vistado e/ou de preenchimento por parte
101
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

do pesquisador, devem ser marcadas e as respostas são exatas e objetivas (“sim” ou


devidas observações anotadas. É também “não”, quantidades, uma ou mais entre
neste momento que são detectadas “lacu- várias opções), facilitando a tabulação e
nas” no questionário – questões que não permitindo que dados estatísticos sejam ge-
foram previamente formuladas mas que rados automaticamente. Nas abertas as per-
são relevantes e devem ser pesquisadas. guntas exigem respostas descritivas (em
d. É importante observar que o momento de texto), com muito conteúdo subjetivo, difi-
teste serve também como treinamento da cultando a geração estatística em computa-
equipe para as atividades de pesquisa, dores. Para facilitar o trabalho de tabulação
avaliação dos itens pesquisados e e análise dos dados, orientar a equipe para
2 exposição do projeto. É sempre bom lem- ser objetiva no preenchimento, solicitando
brar que o pesquisador será um porta-voz esclarecimentos de respostas imprecisas,
de todo o projeto e que a explicação dos escrevendo de forma concisa e evitando
motivos do inventário pode ter influência adjetivos vagos.
na qualidade dos dados a serem obtidos. Também é possível checar a qualidade
Portanto, o teste também serve para dos questionários e do trabalho realizado
mostrar se a equipe está afinada e quais pelos pesquisadores por meio da tabulação
são as maiores dificuldades de aplicação. dos dados. Textos incompreensíveis, difícil
Por ser um momento importante e de interpretação de respostas subjetivas,
busca de confiança por parte de toda a números contraditórios e vícios de preen-
equipe, aconselha-se que a fase de teste chimento são problemas comuns. Para mini-
se inicie com o grupo todo junto, apli- mizar e corrigir estes problemas deve-se
cando um mesmo questionário e prati- identificá-los através da prévia tabulação
cando a apresentação. Num segundo dos dados originados nos testes de campo,
momento, o teste pode ser desenvolvido mesmo que manualmente, visto o sistema
em duplas ou individualmente. de tabulação só ficar pronto com a
e. Findo o período de testes, reavaliar, reor- definição final da estrutura dos ques-
ganizar ou eliminar questões problemáti- tionários, e devem ser comunicados às
cas, elaborar e inserir as questões equipes de campo em novas reuniões de
ausentes e trabalhar os problemas indi- nivelamento.
viduais e de grupo quanto à compreen- Uma das formas de afinar o trabalho
são e explanação do projeto. da equipe, principalmente nas questões
f. Após a readequação dos questionários e subjetivas e/ou que demandam uma avali-
preparo da equipe, estabelecer um novo ação por parte dos pesquisadores, é por
período para testes e avaliação dos ques- meio da conferência da aplicação por
tionários. Nesse momento, o primordial amostragem, pela seleção aleatória de
passa a ser a qualidade dos dados cole- alguns questionários preenchidos e a
tados, com a avaliação da estrutura dos avaliação dos mesmos nos locais aonde
questionários sendo um segundo objeti- foram aplicados.
vo. Deve-se corrigir ou refazer ques-
tionários aplicados na primeira fase de 9. Aplicação dos questionários
testes e aplicar novos questionários
repetindo as fases 3, 4 e 5. esmo após toda a fase preparatória de
g. Ao final de todo o inventário, fazer uma
última avaliação dos questionários e, se
M treinamento da equipe de pes-
quisadores o ideal é que se estabeleça uma
for o caso, recomendar mudanças ne- estratégia de monitoramento e avaliação
cessárias para futuros levantamentos. individual e em grupo do andamento dos tra-
Um questionário pode conter perguntas balhos. Alguns procedimentos básicos para o
abertas ou fechadas. Nas fechadas, as trabalho de campo são indicados a seguir:
102
Levantamento do potencial ecoturístico (inventário) – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

• Questionários devem ser preenchidos em um procedimento de capacitação e apri-


pela equipe de pesquisadores. moramento permanente. A freqüência das
Pode parecer mais fácil e prático solici- reuniões deve ser definida de antemão, de
tar ao proprietário de um empreendimento forma a criar uma rotina para o grupo.
ou atrativo que preencha o questionário.
Mas este não teve o treinamento da equipe, • As responsabilidades pela conferência
desconhece muitos dos termos abordados e dos dados são de todos da equipe
pode não estar muito disposto a preencher Além da revisão efetuada pelo coorde-
o questionário. Além disso, certos itens, nador do inventário, o próprio pesquisador
como avaliação de impactos, dependem da (e o coordenador de campo se houver), é o
interpretação e conhecimento do pes- responsável pela conferência criteriosa dos 2
quisador. Se for necessário, somente o questionários, antes de entregá-lo ao tabu-
questionário de visitantes deve ser preen- lador. Dessa forma, possíveis problemas ou
chido pelo entrevistado. dificuldades da equipe podem ser resolvidos
de imediato evitando paralisações ou
• Distribuir equipe em duplas (idealmente mesmo o comprometimento do trabalho.
um homem e uma mulher).
O trabalho em duplas proporciona mais 10. Tabulação de dados
confiança e conforto aos pesquisadores.
Facilita a definição de levantamentos não pós a definição da estrutura final do
objetivos, como impactos ambientais e
qualidade de estruturas.
A questionário, passa-se ao processo de
elaboração do sistema de tabulação dos
dados e do treinamento da equipe respon-
• Boa aparência e seriedade. sável. Reparem que os modelos de ques-
Roupas e pessoas limpas, seriedade na tionários apresentados nos anexos não estão
abordagem e na realização do questionário indexados. Esse processo exige alguém ou
são importantes. É sempre bom lembrar que uma empresa com conhecimento de infor-
os pesquisadores são os representantes do mática e se divide nas seguintes fases: (a)
projeto e a seriedade do(a) entrevistador(a) preparo do sistema de tabulação (software
influencia a percepção do(a) entrevistado(a) ou planilhas); (b) teste do sistema; e (c) ta-
em relação ao projeto. Camisetas ou cra- bulação dos dados. Por ser custoso, procure
chás de identificação do projeto podem parcerias com empreendedores locais ou
auxiliar. com a prefeitura, entre outros.

• Boa logística. a) Preparo do Sistema de Tabulação


A realização de inventário para projetos Caso não haja na comunidade alguém
de ecoturismo sempre envolve viagens de com conhecimento em informática, deve-se
campo. O bom planejamento de distâncias buscar pessoa ou empresa para desenvolver
a serem percorridas, do número de atrativos um sistema de tabulação que seja adequado
e estabelecimentos em uma determinada aos questionários desenvolvidos, prático o
área e dos recursos necessários facilita o tra- suficiente para que pessoas da comunidade
balho do pesquisador, maximiza resultados tenham condição de utilizá-lo e que
e minimiza custos. forneça, ao final da tabulação, os principais
resultados desejados.
• Fazer reuniões periódicas do grupo. Nesse caso, pode-se optar tanto pelo
As experiências e dúvidas são sempre desenvolvimento de um programa específi-
freqüentes. O grupo deve ter oportunidade co para o gerenciamento dos dados dos
de permutá-las, enriquecendo o processo de questionários ou apenas pela utilização de
realização do inventário e transformando-o planilhas eletrônicas disponíveis em soft-
103
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

wares de fácil acesso como Excel e Access. ❒ Por ser um trabalho repetitivo e
Contratar uma empresa para desenvolver cansativo, erros de tabulação acon-
um programa específico (banco de dados) tecem. Se possível, uma pessoa deve
para os questionários elaborados, apesar de revisar os dados tabulados. Nesse
ser um pouco mais cara, é aconselhável por caso, é melhor que a revisão seja
facilitar todo o trabalho e disponibilizar feita por uma pessoa que não tenha
dados com mais eficiência e rapidez. sido designada anteriormente para
Independente da opção escolhida (progra- tabular os dados, pois, após dezenas
ma de gerenciamento de dados ou planilhas de questionários tabulados, qual-
eletrônicas), é necessária a assessoria de quer pessoa desenvolve vícios na
2 técnicos especializados. É importante saber leitura e digitação dos mesmos.
que qualquer sistema de tabulação, por ❒ Para evitar surpresas desagradáveis
envolver cruzamentos de informações, só deve-se fazer cópia de segurança
fica realmente pronto após testado. (backup) dos dados tabulados.
Portanto, ao ser contratada uma assessoria,
esta deve garantir treinamento da equipe 11. Manuseio dos Dados Coletados –
para manejo do sistema e manutenção do Resultados
mesmo por um bom período de tempo.
eita a tabulação dos dados, a etapa
b) Teste do Sistema de Tabulação
De posse do sistema de tabulação, é pre-
F seguinte é justamente disponibilizar
estes dados para as pessoas que farão o
ciso definir quem será responsável pela ta- diagnóstico e o planejamento, para os tu-
bulação dos dados. Recomenda-se que esse ristas e para outras pessoas ou empresas
trabalho seja feito por um número reduzido que possam utilizar as informações, como
de pessoas (entre 2 e 4) para garantir se- agentes e agências de turismo. Além disso,
qüência e qualidade. É um trabalho que de- é importante definir os dados que não
manda muita concentração, sendo reco- serão colocados à disposição de pessoas
mendável, se possível, pessoas com algum alheias ao projeto. Por exemplo, áreas que
conhecimento de informática. apresentam grande potencial de visitação,
Inicialmente é necessário fazer um teste mas ainda não descobertas pelos turistas,
com o sistema, tabulando alguns ques- devem ser resguardadas até que se decida
tionários e verificando o que deve ser corrigi- se elas serão abertas à visitação e como
do ou melhorado. Recomenda-se a tabulação serão preparadas e monitoradas. In-
de pelo menos dois questionários de cada vestidores não residentes na comunidade
modelo (atrativos, meios de hospedagem podem descobrir as áreas de maior poten-
etc.), para que seja possível avaliar também o cial e adquiri-las, dificultando todo um
cruzamento e a totalização de dados. propósito de ecoturismo com bases comu-
nitárias. O ideal é que coordenadores do
b) Tabulação de Dados projeto e representantes da comunidade
Após a fase de testes e correção do sis- decidam antecipadamente quem terá aces-
tema, é feita a tabulação de todos os ques- so às informações e de que forma poderão
tionários. Durante a tabulação, os seguintes ser utilizadas.
detalhes devem ser observados: Para geração de resultados, é necessário
❒ O tabulador é também o revisor fi- que as pessoas que os utilizarão forneçam, a
nal dos questionários. Questionários quem for desenvolver o sistema de tabu-
com respostas incompletas, duvi- lação, indicativos do que se quer extrair dos
dosas ou números questionáveis, questionários. A seguir, listamos algumas
devem ser separados para futuras informações básicas que poderão ser obti-
correções. das por meio do inventário:
104
Levantamento do potencial ecoturístico (inventário) – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

❒ Informações gerais, ou seja, totais das perguntas abertas, por possuir demasia-
absolutos. Por exemplo, número de do caráter subjetivo que dificulta a precisão
hotéis e leitos, de restaurantes, de no estabelecimento de padrões objetivos de
atrativos naturais e históricos, de respostas, demandam um trabalho de
empregos gerados, etc. seleção e interpretação que não se pode
❒ Particularidades diante de totais ge- fazer automaticamente. A única coisa que
rais (em porcentagem). Por exemplo, se pode obter rapidamente é uma relação
entre todos os atrativos naturais, dos principais padrões de respostas em cada
quantos apresentam baixos índices pergunta aberta, que devem ser trabalhadas
de degradação ambiental? posteriormente. De posse dessa relação,
❒ Informações segmentadas e cruza- respostas similares podem ser agrupadas e 2
das (por local, por tipo de turista, contabilizadas, gerando um diagnóstico.
por tempo de existência, dia da Quanto mais se trabalham os dados,
semana, temporada, origem, por mais se descobrem as possibilidades de
área mais impactada). Exemplos: resultados e interpretação. Mesmo que se
quantos são os atrativos com ca- solicite da empresa ou pessoa responsável
choeiras? Qual é a porcentagem uma ampla gama de resultados, é pratica-
desses atrativos que se encontram mente impossível imaginar com antecedên-
muito degradados? E pouco degra- cia toda essa diversidade de utilização dos
dados? Que tipo de turista freqüenta dados do inventário. Portanto, é aconselhá-
este tipo de atrativo? E qual é o tipo vel que uma ou duas pessoas sejam
de turista que freqüenta mirantes? treinadas para “mergulhar” um pouco mais
❒ Listagens. Exemplos: lista de todos no sistema, facilitando futuras necessidades
os restaurantes, com seus respec- de obtenção e cruzamentos de dados.
tivos proprietários e endereços; lista Os principais objetivos de uso dos resul-
de todos os atrativos que apresentam tados do inventário podem ser diagnósticos
alto grau de degradação ambiental; complexos para planejamento regional ou
lista de atrativos ainda não visitados. simplesmente para se estabelecer um pro-
❒ Etiquetas para endereçamento. Por duto de ecoturismo. Alguns usos são lista-
exemplo, etiquetas com nome e dos a seguir, lembrando que eles podem
endereço de todos os proprietários também ser usados para setores que não o
de estabelecimentos inventariados. do turismo:
• Dependendo da escala e abrangência do
Como se pode observar, as respostas à inventário, a prefeitura pode se benefi-
perguntas fechadas (números objetivos e ciar dos dados para planejar (ou recupe-
opções pré-determinadas) dão margem a rar) itens da infra-estrutura, tais como
uma infinidade de usos. Para facilitar a orga- estradas, iluminação ou coleta de lixo;
nização dos dados, perguntas como as for- • Agentes de turismo podem elaborar pro -
muladas acima devem ser feitas no desen- dutos com maior facilidade;
volvimento do sistema de tabulação para • Investidores de fora ou da própria locali-
que as respostas sejam obtidas automatica- dade podem decidir seus projetos tendo
mente ao final da tabulação. Já as respostas por base informações mais seguras.

105
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

INVENTÁRIO PARTICIPATIVO
NA COMUNIDADE DA BARRA DO SUPERAGUI
GUARAQUEÇABA, PARANÁ

Parque Nacional do Superagüi localiza-se no município de Guaraqueçaba,


litoral norte do Estado do Paraná, compreendendo cerca de 11% da Área de
Proteção Ambiental (APA) de Guaraqueçaba. Foi criado em 1989, sendo amplia-
do em 1997, abrangendo partes da APA e ARIE (Área de Relevante Interesse Ecológico) da
Ilha do Pinheiro e Pinheirinho, e estendendo sua proteção ao continente, totalizando
2 34.254 ha.
O Parque é formado pelas ilhas das Peças, Superagüi, Pinheiro e Pinheirinho, com
formações costeiras arenosas, Floresta Atlântica, restingas e manguezais. Suas florestas
de restinga abrigam grande variedade de orquídeas, uma espécie de primata recém
identificada, o mico-leão-da-cara-preta (Leontopithecus caissara) e espécies ameaçadas
de extinção, como o papagaio-da-cara-roxa (Amazona brasiliensis). Suas praias, entre
as últimas preservadas com características originais, recebem espécies migratórias todos
os anos. Em 1953 foi aberto o Canal do Varadouro, transformando em ilha artificial
o braço do continente – Superagüi – e permitindo a ligação marinha segura entre Iguape
e Paranaguá.
Nos últimos anos vem sofrendo crescente pressão do turismo descontrolado e,
conseqüentemente, tem perdido cobertura vegetal nativa, assim como têm crescido
os problemas de comercialização de animais silvestres, exploração de recursos florestais
e construções irregulares.

PROJETO DE ECOTURISMO

Um dos objetivos do programa de ecoturismo é o desenvolvimento de ações conjuntas


com a comunidade de forma que haja maior integração com o projeto e maiores benefícios
sociais e econômicos para a população local. Entre as ações delimitadas estão a realização
de um inventário da infra-estrutura, equipamentos, serviços e atrativos turísticos existentes
no entorno do Parque Nacional do Superagüi, capacitando a comunidade no processo
de pesquisa e planejamento de ecoturismo. Dessa forma, resolveu-se aplicar o método
participativo de inventário de ecoturismo.
Inicialmente, realizou-se uma pesquisa bibliográfica sobre a região, levantando dados
sobre fauna, flora e história das comunidades. Depois, procedeu-se à elaboração e aplicação
do questionário para o levantamento sócio-econômico, realização de reuniões, encontros e
palestras sobre o tema ecoturismo, a seleção e capacitação de equipe local para a realização
de inventário da oferta turística, a aplicação dos questionários de inventário, a tabulação e
análise dos dados, e, finalmente, a apresentação dos resultados para a comunidade.
Dentre os resultados positivos, ressaltamos a participação da comunidade no processo
de implantação do ecoturismo, a capacitação da equipe local para realização de
inventário da oferta turística e a realização do inventário da infra-estrutura, equipamentos,
serviços e atrativos naturais existentes no entorno do Parque Nacional do Superagüi.
As dificuldades encontradas pelos técnicos do projeto foram de diversos tipos. Por
um lado, o início do trabalho foi marcado pela necessidade de superar a desconfiança
da comunidade local com os “de fora” e o desconhecimento sobre o tema ecoturismo.
As características geográficas de distribuição das comunidades, associadas às condições

106
Levantamento do potencial ecoturístico (inventário) – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

climáticas adversas, impossibilitaram por vezes a realização de reuniões e encontros.


Para vencer essas dificuldades, a equipe intensificou os contatos com a comunidade,
constantemente reiterando sua presença e seus intuitos, sem pressa em avançar
nas atividades do diagnóstico. Foram realizadas vários tipos de atividades em diversos
locais: oficinas, palestras, encontros, reuniões sobre o tema ecoturismo.
Um outro aspecto foram as dificuldades operacionais da SPVS para tabular os dados,
pois os técnicos do projeto não conseguiram operacionalizá-los. Assim, um técnico da
empresa que desenvolveu o software visitou a SPVS para implantar o sistema
e capacitar a equipe para o seu manuseio.
Finalmente, como este foi o primeiro projeto a realizar o inventário participativo, 2
houve algumas dificuldades na aplicação das fichas de inventário. Por um lado, as fichas
aplicadas foram as originais desenvolvidas para o Projeto Veadeiros, não adequadas para
as características sociais e ambientais da região (estuário). Por outro lado, algumas
questões das fichas suscitaram dúvidas quanto à sua interpretação, demandando
repetidas consultas com o autor do capítulo para esclarecimentos. Assim, foi necessário
reestruturar as fichas para melhor compreensão dos responsáveis por sua aplicação
(grupo da comunidade) e para sua melhor adequação às características locais.

LIÇÕES APRENDIDAS

As principais lições aprendidas durante a realização do inventário participativo foram:


❐ Os trabalhos com comunidades devem ser frequentes; mensais, no mínimo.
❐ Devem-se criar mecanismos de motivação para a comunidade participar das atividades.
❐ Deve-se trabalhar sempre com pequenos grupos, de no máximo 10 pessoas, para
facilitar a adequação da linguagem, compatibilização de conhecimentos, utilizando-
se de recursos didáticos variados.
❐ Sugere-se a utilização da técnica de psicosíntese com atividades não verbais.
❐ É de extrema importância que a instituição não assuma compromissos com
as comunidades que não poderão ser realizados.
❐ O estabelecimento e manutenção da credibilidade institucional diante das
comunidades é essencial para a realização da atividade de forma participativa.
❐ Deve-se planejar todas as atividades com tempo hábil e realista.

OUTROS COMENTÁRIOS

❐ A psicosíntese foi fator primordial no contato com as comunidades. Desinibidos, eles


tornaram-se muito mais atentos, interessados e participativos.
❐ O projeto funciona como um intermediador em negociações em nome da
comunidade junto a interlocutores não locais para trazer-lhes melhorias, como por
exemplo, serviços odontológicos etc.
❐ Todo o processo de desenvolvimento de cada uma das atividades deve estabelecer-se
como uma troca, evitando cair no sistema de assistencialismo.
❐ A remuneração do trabalho da equipe de pesquisadores locais foi muito importante
pois, em alguns casos, foi a primeira vez que os membros da comunidade
receberam algo em troca de seu trabalho.
❐ Um dos objetivos do desenvolvimento do ecoturismo é a geração de renda.
A remuneração da equipe de inventário foi uma forma de fazer chegar
à comunidade o dinheiro captado pela SPVS para a realização do projeto.

107
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

IV. RISCOS E RECOMENDAÇÕES ❒ Dados do inventários devem ser


atualizados
❒ Adapte este capítulo ao seu projeto
Os dados coletados representam as ca-
Apesar da aparente complexidade desde racterísticas de um momento, o momento
capítulo, deve-se levar em conta que ele foi da pesquisa. Tanto para as fases seguintes do
estruturado para atender situações diversas, projeto como momentos futuros é aconse-
inclusive a possibilidade de escala e abran- lhável se manter atualizados os dados do
gência significativamente maiores que muitos banco. Por exemplo, determinados acessos
projetos de ecoturismo de base comunitária. a recursos ainda não utilizados podem ser
2 Assim, a adaptação, e conseqüentemente a melhorados ou contar com novas alternati-
simplificação, para a realidade de pequenos vas de transporte ou de serviços e equipa-
projetos é um trabalho de percepção crite- mentos de apoio. Desta forma o projeto
riosa do que deve ser investigado ou não. pode se beneficiar, por exemplo, com a
elaboração de novos produtos de ecoturis-
❒ Cuidados com a interpretação dos mo, se houver uma estratégia de busca e
resultados. atualização de dados.

Ao se interpretar os resultados de levanta- ❒ Programa RINTUR da EMBRATUR


mento de dados ou de pesquisas junto à
comunidade e turistas, é importante ques- A EMBRATUR tem um programa de
tionar qual é o grau de precisão desses resul- incentivo à realização de inventário turísti-
tados. Uma série de fatores pode implicar dis- co, o RINTUR, que fornece questionários
torção da realidade. Erros na aplicação dos para inventários turísticos. Recomenda-se a
questionários e no manuseio dos dados obti- consulta à EMBRATUR para obtenção dos
dos são os mais óbvios. Outros podem questionários e verificar possibilidade de
envolver métodos de pesquisa inadequados. outras formas de apoio à realização de
Por exemplo, ao se pesquisar o mercado con- inventário turístico.
sumidor dificilmente um projeto terá
condição de entrevistar todos os turistas em V. BIBLIOGRAFIA
todas as diferentes épocas do ano. Portanto,
uma pesquisa com turistas geralmente entre- BORGES, M. M. 1995. Tourism on the Rio
vista um certo número de turistas (amostra) e Araguaia, Brazil: Tourist’s perceptions
extrapola os resultados para todos os turistas and motor boat erosion. (Dissertação de
(população). Fatores como baixa/alta estação, Mestrado) -- Department of Geography
feriados, dias comuns e finais de semana and Recreation. University of Wyoming,
podem afetar o tipo de turista em um deter- WY, EUA.
minado atrativo. Da mesma forma, sexo, BRUNS, D., RICHARDSON, S., and SULLI-
idade, profissão, nível de renda, escolaridade VAN, T.. 1994. Recreation-Tourism
e origem são fatores que interferem na moti- Community Partnerships for Sustainable
vação e percepção de turistas. Se a amostra Adventure Travel. In The Fifth International
não for adequadamente selecionada, é Symposium on Society and Resource
grande o risco de que os resultados da Management. Colorado State University,
pesquisa não correspondam à realidade. Fort Collins, Colorado, June 1994.
Então, deve-se atentar para mecanismos de GRUPO NATIVA. 1998. Inventário da
checagem de resultados e, nos casos em que Oferta Turística da Região do Parque
a pesquisa for trabalhar apenas com amostras, Nacional da Chapada dos Veadeiros.
recomenda-se a consulta a especialistas para Relatório Técnico. WWF Fundo Mundial
que o resultado seja de maior confiança. para a Natureza. Brasília, DF.
108
Levantamento do potencial ecoturístico (inventário) – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

GRUPO NATIVA, ARQUIDATA E ECO- Reinhold. Nova York, NY, EUA.


BRASIL. 1999. CENÁRIO – Sistema de LINDBERG, K. and HUBER, R. M. Jr.. 1993.
Inventário e Monitoramento Turístico. Economic Issues in Ecotourism
Manual de Operação. Grupo Nativa. Management. In (eds.) K. Lindberg and
Goiânia, GO. D. E. Hawkins, Ecotourism: A Guide for
Planners and Managers. The Ecotourism
EMBRATUR. 1992. Município: Potencial Society. North Bennington, USA.
Turístico – Orientação às Prefeituras MURPHY, Peter E.. 1985. Tourism: A
Municipais. Embratur. Brasília, DF. Community Approach. Methuen, Inc..
EMBRATUR. 1994. Diretrizes Para uma Nova York, NY, EUA.
Política Nacional de Ecoturismo. Sílvio RICHARDSON, Sarah L.. 1991. Colorado 2
M. de Barros II e Denise H. de La Penha Community Tourism Action Guide.
(Coord.). Embratur. Brasília,DF. University of Colorado. Denver, CO, EUA.
INSKEEP, Edward. 1991. Tourism Planning: RITCHIE, J. R. B e GOELDNER, C. R. 1994.
An Integrated and Sustainable Travel, Tourism, and Hospitality
Development Approach. Van Nostrand Research. John Wiley & Sons, Inc.. Nova

York, NY, EUA. MODELOS DE QUESTIONÁRIOS


DE PESQUISA DE INVENTÁRIO

Os questionários apresentados neste anexo são frutos da experiência de aplicação em


diferentes municípios. Como foram baseados na realidade de municípios com contextos
sócio-ambientais distintos, os questionários abordam uma diversidade de situações. De acor-
do com o mencionado anteriormente, estes questionários estão sendo fornecidos para servir
de base, um ponto de partida para a elaboração de questionários específicos para sua região
(ver item 8 deste capítulo).
Para a compreensão dos questionários cabem algumas observações gerais:

❒ Códigos
Foram idealizados para permitir o armazenamento e cruzamento de dados por computa-
dor. O “Código do Formulário” é o número daquele formulário específico, contendo o códi-
go do pesquisador (três letras) associado ao número do questionário (três dígitos). O “Código
de Base” é utilizado nos casos em que um determinado atrativo ou serviço apresente mais de
uma atividade ou função e serve para que o computador possa identificar estes atrativos e
serviços associados.

EXEMPLO: USO DE CÓDIGOS DE FORMULÁRIOS: CURSO ITINERANTE

Um determinado local é conhecido pela exuberância de sua cachoeira. Ao fazer o inven-


tário, o pesquisador preenche um questionário de “Atrativo Turístico – Águas”. Como nessa
cachoeira é oferecido o serviço de camping, é preenchido também um questionário de “Oferta
Regular de Leitos”. Refeições também são servidas em um pequeno restaurante, sendo, então,
preenchido um questionário de Restaurantes e Lanchonetes. Cada um dos questionários
(Atrativos, Oferta Regular de Leitos e Restaurantes) terá, então, um “Código do Formulário”
diferente e seqüencial. Como a cachoeira é o elemento principal naquele ambiente ou
empreendimento, o questionário de atrativo fica sendo o principal e, portanto, não tem “Código
Base”. Como o camping e o restaurante existem em função da cachoeira, o Código Base dos
questionários destas duas atividades fica sendo o mesmo do Código do Formulário do atrativo.
109
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

MODELOS DE QUESTIONÁRIOS
DE PESQUISA DE INVENTÁRIO

QUESTIONÁRIO CÓDIGO CÓDIGO


DO FORMULÁRIO BASE
Atrativo Turístico – Águas MMB001 Não tem
(cachoeira)
Oferta Regular de Leitos MMB002 MMB001
(Camping)
Restaurantes e Lanchonetes MMB003 MMB001
2 (Restaurante)

* MMB é a parte do código que se refere ao pesquisador

❒ Nomes, Datas e Endereços


Os campos contendo nomes, datas e endereços são importantes para:
u Manter uma ordem e referência cronológica da coleta dos dados
(o que é muito útil para monitoramento e cruzamento de dados).
u Construir um banco de dados com relação de endereços e nomes de proprietários
de estabelecimentos, atrativos, turistas e outras pessoas importantes para o processo
de planejamento, implantação e monitoramento do ecoturismo.
u Relacionar dados pesquisados a pesquisadores (para esclarecimento
de dúvidas ou mesmo buscar impressões pessoais).
Por esses e outros motivos, é sempre bom enfatizar a necessidade de preenchimento des-
ses campos. Caligrafia incompreensível, erros e/ou não preenchimento de pequenos detalhes
nos endereços são práticas comuns que podem ser minimizados com o treinamento prévio
ou monitoramento contínuo de questionários preenchidos.

❒ Acessos
Na questão “Acessos mais Utilizados” (questionário de atrativos), a distância se refere à
localidade mais próxima do estabelecimento ou do atrativo.

❒ Origem de Funcionários
Alguns questionários abordam a origem de proprietários e funcionários de estabeleci-
mentos, tendo por objetivo conhecer a porcentagem de proprietários e funcionários que são
nativos e/ou moradores do município. São dados que ajudam a compreender o real benefí-
cio para a comunidade e a acompanhar este benefício ao longo dos anos.

❒ Local de Compras
Nos questionários “Oferta Regular de Leitos” e “Restaurantes e Lanchonetes” podem ser
pesquisados dados relativos à origem dos produtos consumidos nos estabelecimentos. O
objetivo destas questões é o de fornecer subsídios para a diversificação da economia local por
meio do incentivo à produção dos alimentos que são adquiridos fora do município.

❒ Infra-Estrutura Turística
Nos questionários sobre atrativos, restaurantes, oferta de leitos e camping, devem ser feitas
perguntas relativas ao tipo da infra-estrutura dos estabelecimentos. Algumas destas questões
propiciam uma visão da qualidade do estabelecimento para atender ao turista, subsidiando
programas de melhorias dos serviços existentes.
110
Levantamento do potencial ecoturístico (inventário) – P LANEJAMENTO ESTRATÉGICO

MODELOS DE QUESTIONÁRIOS
DE PESQUISA DE INVENTÁRIO

❒ QUESTIONÁRIOS
Para maior fidelidade das informações e eficiência no preenchimento, os questionários,
com exceção da pesquisa com visitantes, devem ser preenchidos pelos próprios pesquisadores.

a) Questionário 1 – ATRATIVOS TURÍSTICOS


Este questionário apresenta subdivisões. Além do questionário geral para atrativos Os atra-
tivos turísticos foram subdivididos em cinco categorias (tipos):
2
u Águas (rios, cachoeiras, lagos, etc.).
u Mirantes (naturais ou artificiais).
u Cavernas.
u Históricos, Culturais, Espiritualistas.
u Costeiros.
O campo subtipo se refere à característica daquele tipo de atrativo. Por exemplo, no tipo
águas, o subtipo pode ser cachoeira.
Muitos campos são preenchidos de acordo com a avaliação do pesquisador (impactos
ambientais, paisagem circundante, riscos, aspectos sanitários e aparência, capacidade de
carga, etc.). Por isso, é importante a plena compreensão do projeto de ecoturismo e o treina-
mento em conjunto para se estabelecer diretrizes para essas avaliações.

111
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

1.1

112
Levantamento do potencial ecoturístico (inventário) – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

1.2

113
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

1.3

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Levantamento do potencial ecoturístico (inventário) – P LANEJAMENTO ESTRATÉGICO

1.4

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Levantamento do potencial ecoturístico (inventário) – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

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Levantamento do potencial ecoturístico (inventário) – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

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Levantamento do potencial ecoturístico (inventário) – P LANEJAMENTO ESTRATÉGICO

1.10

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

8. Elaboração de Questionários Específicos

s fichas apresentadas dão uma idéia da ampla abordagem que pode vir a ter a pesquisa
A de dados para o planejamento adequado do ecoturismo e, assim, surge a necessidade de
adaptar e melhorar os modelos ou mesmo elaborar questionários novos e específicos.
Provavelmente será mais fácil uma ou duas pessoas desenvolverem os questionários e os
apresentarem à equipe, por economizar tempo em discussões. No entanto, a participação
direta do grupo no desenvolvimento dos questionários apresenta duas grandes vantagens:
❒ A primeira se refere à adequação do questionário à realidade a ser pesquisada. A par-
ticipação da equipe de pesquisadores locais garante maior abrangência na coleta de
2 2

122
Levantamento do potencial ecoturístico (inventário) – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

dados, ao mesmo tempo que propicia a eliminação de variáveis não existentes na


região.
❒ A segunda vantagem se refere ao preparo da equipe para aplicação dos questionários.
A não compreensão de questões abordadas no questionário, e especialmente do que
se quer obter por meio dessas questões, é uma das grandes causas de erros de
preenchimento ou de desmotivação para aplicar o questionário. Ao sugerir, ques-

123
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

tionar e aprovar itens dos questionários, a equipe se sentirá mais motivada por ser
aquele um produto do grupo e não algo pronto que deve ser interpretado e com-
preendido.

A Ficha 3, Principais elementos a serem inventariados, deve ser utilizada para determinar
o que queremos inventariar e o que de mais importante precisamos saber. Por exemplo, tanto
a Ficha 3 como o questionário de atrativos nos indicarão uma série de locais ou atividades
que podem atrair o turista. Na elaboração do questionário, o exercício é o de se criar per-
guntas específicas para os atrativos existentes na região e que atendam às necessidades para
o diagnóstico e planejamento.
2 Os questionários apresentados em anexo são modelos / exemplos de questionários para
servir de base para essa adequação. Como estes questionários são frutos da experiência em
aplicá-los em projetos de ecoturismo, muitas questões podem ser utilizadas em qualquer ambi-
ente. Por outro lado, a realidade do grupo que desenvolveu o questionário apresenta variáveis
que podem não ser aplicáveis em outras regiões. Da mesma forma, características particulares
de diferentes regiões podem não estar sendo abordadas. É por isso que os modelos servem ape-
nas de base, devendo ser analisados e discutidos pelo grupo de pesquisadores, criando-se,
então, o questionário local. Como é muito difícil se chegar a um questionário ideal sem testá-
lo, recomenda-se a adoção do seguinte método:

a. Distribuição dos modelos ao grupo, com tempo suficiente para que todos avaliem e iden-
tifiquem questões procedentes, improcedentes e as necessárias em relação à realidade
local. Para agilizar a avaliação em grupo, solicitar a cada um que faça suas observações
por escrito.
b. Tendo por base os modelos oferecidos e o conhecimento próprio da equipe, os ques-
tionários podem ser reconstruídos, com a eliminação, alteração e/ou inserção de novas
questões. Esta é uma atividade desgastante, sendo, portanto, aconselhável fazer o trabal-
ho em etapas, preferencialmente desenvolvendo um questionário por dia.
c. Após a construção de todos os questionários, estabelecer um período para testes. Todos os
questionários devem ser testados por diferentes pessoas em diversas situações reais, ou seja,
em campo. Nesta fase, a qualidade da informação obtida não é uma preocupação, mas sim
conhecer a forma de aplicação do questionário. Todas as questões que geram dificuldades
de respostas por parte do entrevistado e/ou de preenchimento por parte do pesquisador,
devem ser marcadas e as devidas observações anotadas. É também neste momento que são
detectadas “lacunas” no questionário – questões que não foram previamente formuladas mas
que são relevantes e devem ser pesquisadas.
d. É importante observar que o momento de teste serve também como treinamento da equipe
para as atividades de pesquisa, avaliação dos itens pesquisados e exposição do projeto. É
sempre bom lembrar que o pesquisador será um porta-voz de todo o projeto e que a expli-
cação dos motivos do inventário pode ter influência na qualidade dos dados a serem obti-
dos. Portanto, o teste também serve para mostrar se a equipe está afinada e quais são as
maiores dificuldades de aplicação. Por ser um momento importante e de busca de confi-
ança por parte de toda a equipe, aconselha-se que a fase de teste se inicie com o grupo
todo junto, aplicando um mesmo questionário e praticando a apresentação. Num segundo
momento, o teste pode ser desenvolvido em duplas ou individualmente.
e. Findo o período de testes, reavaliar, reorganizar ou eliminar questões problemáticas, elab-
orar e inserir as questões ausentes e trabalhar os problemas individuais e de grupo quan-
to à compreensão e explanação do projeto.

124
Levantamento do potencial ecoturístico (inventário) – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

4.1

125
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

4.2

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Levantamento do potencial ecoturístico (inventário) – P LANEJAMENTO ESTRATÉGICO

5.1

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

6.1

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Levantamento do potencial ecoturístico (inventário) – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

6.2

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

130
Levantamento do potencial ecoturístico (inventário) – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

8. Elaboração de Questionários Específicos

s fichas apresentadas dão uma idéia da ampla abordagem que pode vir a ter a pesquisa
A de dados para o planejamento adequado do ecoturismo e, assim, surge a necessidade de
adaptar e melhorar os modelos ou mesmo elaborar questionários novos e específicos.
Provavelmente será mais fácil uma ou duas pessoas desenvolverem os questionários e os
apresentarem à equipe, por economizar tempo em discussões. No entanto, a participação
direta do grupo no desenvolvimento dos questionários apresenta duas grandes vantagens:
❒ A primeira se refere à adequação do questionário à realidade a ser pesquisada. A par-
ticipação da equipe de pesquisadores locais garante maior abrangência na coleta de
dados, ao mesmo tempo que propicia a eliminação de variáveis não existentes na 2
região.
❒ A segunda vantagem se refere ao preparo da equipe para aplicação dos questionários.
A não compreensão de questões abordadas no questionário, e especialmente do que
se quer obter por meio dessas questões, é uma das grandes causas de erros de
preenchimento ou de desmotivação para aplicar o questionário. Ao sugerir, ques-
tionar e aprovar itens dos questionários, a equipe se sentirá mais motivada por ser
aquele um produto do grupo e não algo pronto que deve ser interpretado e com-
preendido.

A Ficha 3, Principais elementos a serem inventariados, deve ser utilizada para determinar
o que queremos inventariar e o que de mais importante precisamos saber. Por exemplo, tanto
a Ficha 3 como o questionário de atrativos nos indicarão uma série de locais ou atividades
que podem atrair o turista. Na elaboração do questionário, o exercício é o de se criar per-
guntas específicas para os atrativos existentes na região e que atendam às necessidades para
o diagnóstico e planejamento.
Os questionários apresentados em anexo são modelos / exemplos de questionários para
servir de base para essa adequação. Como estes questionários são frutos da experiência em
aplicá-los em projetos de ecoturismo, muitas questões podem ser utilizadas em qualquer ambi-
ente. Por outro lado, a realidade do grupo que desenvolveu o questionário apresenta variáveis
que podem não ser aplicáveis em outras regiões. Da mesma forma, características particulares
de diferentes regiões podem não estar sendo abordadas. É por isso que os modelos servem ape-
nas de base, devendo ser analisados e discutidos pelo grupo de pesquisadores, criando-se,
então, o questionário local. Como é muito difícil se chegar a um questionário ideal sem testá-
lo, recomenda-se a adoção do seguinte método:

a. Distribuição dos modelos ao grupo, com tempo suficiente para que todos avaliem e iden-
tifiquem questões procedentes, improcedentes e as necessárias em relação à realidade
local. Para agilizar a avaliação em grupo, solicitar a cada um que faça suas observações
por escrito.
b. Tendo por base os modelos oferecidos e o conhecimento próprio da equipe, os ques-
tionários podem ser reconstruídos, com a eliminação, alteração e/ou inserção de novas
questões. Esta é uma atividade desgastante, sendo, portanto, aconselhável fazer o trabal-
ho em etapas, preferencialmente desenvolvendo um questionário por dia.
c. Após a construção de todos os questionários, estabelecer um período para testes. Todos os
questionários devem ser testados por diferentes pessoas em diversas situações reais, ou seja,
em campo. Nesta fase, a qualidade da informação obtida não é uma preocupação, mas sim
conhecer a forma de aplicação do questionário. Todas as questões que geram dificuldades
de respostas por parte do entrevistado e/ou de preenchimento por parte do pesquisador,
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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

12

COMUNIDADE
Data: Hora: Pesquisador: Cód. Formulário:
Município: Distrito/Vila: Bairro:

A) DADOS DO (A) ENTREVISTADO (A)


1 Nome (opcional)
Nativo? Sim Não Residente? Sim Não Se sim, há quantos anos?

2 Idade (opcional) Sexo: Masculino Feminino

Idade (estimada) 0 a 10 anos 10 a 16 anos 17 a 36 anos

36 a 60 anos 61 acima

Escolaridade Nenhuma Prim. incompleto Primário Sec. incompleto

Secundário Sup. incompleto Superior Pós graduação

Profissão Renda mensal (opcional)

B) O TURISMO E O ECOTURISMO

2 Você sabe o que é Turismo? Sim Não


Se sim, por favor, fale o que é turismo?

3 Você sabe o que é Ecoturismo? Sim Não


Se sim, por favor, fale o que é Ecoturismo?

C) SOMENTE PARA COMUNIDADE QUE AINDA NÃO TRABALHA COM O TURISMO

4 Você gostaria de ter turistas visitando sua comunidade ou região? Sim Não
Porque?

5 Você acha que sua comunidade mudaria com a Sim Não


chegada do turismo em sua região?
Porque?
diversificação de serviços e comércio gera emprego movimenta a economia
mais locais de lazer p/a comunidade novos conhecimentos conhecer novas pessoas
qualidade de vida pode melhorar trará mais infra-estrutura presença e natureza

Outros

140
Levantamento do potencial ecoturístico (inventário) – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

12

COMUNIDADE
6 Quais empregos / serviços / atividades você acha que pessoas de sua comunidade
terão com o ecoturismo?
Gerência/administração Serviços de Manutenção e Limpeza Atendimento
Chefe de cozinha/cozinheiro (a) Auxiliar de Cozinha Outros
Outros

7 Você acha que o turismo traria problemas para a sua comunidade? Sim Não
2
Se sim, quais?

barulho congestionar acabar com maus costumes


o transito a tranqüilidade
drogas crime/violência impactos na lixo na cidade
natureza
lixo nos aumentar o aumentar
atrativos custo de vida o preço da terra
Outros

8 Vocâ acha que o turismo traria mais benefícios do que problemas? Sim Não

9 Existem locais em sua comunidade, cidade ou região Sim Não


que não devem ser visitadas por turistas?
Quais?

10 Quais são os locais que as pessoas de sua comunidade gostam de visitar/passear ou que
você acha que são diferentes? Existe algum local em que é possível observar animais? (pos-
síveis atrativos)

11 Que tipos de utensílios, artesanatos, alimentos ou outros ítens produzidos localmente você
compra ou conhece?

12 Se você pudesse opinar ou interferir no desenvolvimento do turismo em sua comunidade,


cidade ou região, o que faria?

Não faria nada Estimularia o turismo da região Proibiria o turismo na região

Outros

141
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

12

COMUNIDADE
13 Comentários finais

2 D) SOMENTE PARA COMUNIDADE QUE JÁ TRABALHA COM O TURISMO

14 Você trabalha direta ou indiretamente com o turismo?

15 Durante a alta estação, quantas vezes você entra em contato com turistas?

Todo dia Sempre, mas não todos os dias 1 vez por semana

2 vezes por semana Raramente Nunca

16 Durante a baixa estação, quantas vezes você entra em contato com turistas?

Todo dia Sempre, mas não todos os dias 1 vez por semana

2 vezes por semana Raramente Nunca

17 Durante feriados e fins de semana prolongados, quantas vezes você entra em contato
com turistas?

Todo dia Sempre, mas não todos os dias Raramente Nunca

18 Você gosta de turistas visitando sua comunidade ou região? Sim Não

19 Qual é a sua reação a respeito de turistas visitando sua região?

Amigável Muito amigável Indiferente Hostil Muito hostil

20 Qual é a reação da sua comunidade a respeito de turistas visitando sua região?

Amigável Muito amigável Indiferente Hostil Muito hostil

21 Qual é a reação dos turistas dos turistas que visitam sua comunidade ou região?

Amigáveis Muito amigáveis Indiferentes Educados Mal educados

22 Você acha que sua comunidade mudou Sim Não


com a chegada do turismo em sua região?

142
Levantamento do potencial ecoturístico (inventário) – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

12

COMUNIDADE
23 Se você acha que sua comunidade mudou, como foi essa mudança?

Positiva Negativa

Em qual intensidade? Muito Mais ou menos Pouco

O que mais mudou?

24 O que você mais gosta por ter turistas visitando sua comunidade ou região?
2
Diversificação Gera emprego Movimenta a economia
de serviços e comércio

Mais locais de lazer Novos conhecimentos Conhecer novas pessoas

Qualidade de vida Trouxe mais Preserva a natureza


melhorou infra-estrutura

Outros

25 Geralmente, as pessoas de sua comunidade são contratadas para que nível de


emprego/serviço?

Gerência/administração Serviços de Manutençao e Limpeza Atendimento

Chefe de cozinha/ Auxiliar de cozinha Guia


cozinheiro(a)

Outros

26 O que você menos gosta por ter turistas visitando sua comunidade ou região?

Fazem barulho Congestionam Acabou Trazem


o trânsito a tranqüilidade maus costumes

Trazem drogas Trazem crimes/ Impactam Lixo na cidade


violência o ambiente

Lixo nos atrativos Custo de vida Aumentou o preço da terra


aumentou

Outros

27 Os benefícios do turismo superam os impactos negativos da atividade? Sim Não

28 O turismo melhorou a sua condição de vida? Sim Não

29 O turismo melhorou as condições de vida de sua comunidade? Sim Não

143
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

12 e
COMUNIDADE
30 Existem locais em sua comunidade, cidade ou região
Sim Não
que não devem ser visitados por turistas?

Quais?

31 Quais são os locais que as pessoas de sua comunidade gostam de visitar/passear ou que
você acha que são diferentes? Existe algum local em que é possível observar animais? (pos-
2 síveis atrativos)

32 Se você pudesse opinar ou mudar o turismo em sua comunidade, o que faria?

Não faria nada Reduziria o número de visitantes

Proibiria o turismo na região Aumentaria o turismo na região

Outros

33 Comentários finais

144
PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

3. Elaboração do produto
de ecoturismo
Ariane Janér
Roberto Mourão

3
I. OBJETIVO No caso do ecoturismo podemos dizer
que a função do marketing é fazer com que
objetivo deste capítulo é mostrar os um atrativo natural ou cultural vire uma

O passos básicos para a elaboração de


produtos de ecoturismo aplicando
conceitos universais de marketing. O
atração. E o produto é o conjunto destes
atrativos acrescido de infra-estrutura e infor-
mação, que os valorizam e os tornam mais
enfoque é prático, mas é bom lembrar que acessíveis.
sempre serão necessárias adaptações para Com freqüência a palavra marketing é
aplicar tais conceitos a uma situação real. usada num sentido mais restrito. Exemplos
Em casos onde o projeto de ecoturismo são:
vem sendo desenvolvido por organizações
ambientalistas, estas provavelmente não ❐ Marketing é promoção.
serão diretamente responsáveis pelo desen- ❐ Marketing é inovação de produto.
volvimento e operação de produtos e pro- ❐ Marketing é posicionar seu produto no
gramas de ecoturismo. Mas, é muito impor- mercado.
tante entender como isso funciona, para que ❐ Marketing é análise de mercado e plane -
se saiba escolher os melhores fornecedores jamento e controle de vendas.
e operadoras (organizadoras de viagens),
cooperar com eles e aproveitar melhor o Neste capítulo é usado o conceito de
potencial ecoturístico do seu projeto. Para Marketing Mix, composto basicamente de
um melhor entendimento, no final do capí- quatro elementos ou os 4 P’s de Marketing.
tulo, a título de exemplo, abordaremos a Ou seja, o desenvolvimento do marketing
implantação de um projeto de ecoturismo de um atrativo envolve a definição de cada
para uma unidade de conservação. um dos elementos, que são:
❐ Produto ✒ Trata-se da avaliação do
II. INTRODUÇÃO CONCEITUAL atrativo e da adição de serviços, infra-
estrutura, informação, etc., que tornam o
A elaboração do produto é parte inte- atrativo um produto que se pode oferecer
grante do marketing, como podemos ver ao mercado.
nessas duas definições: ❐ Preço ✒ Trata-se da definição de quan-
to cobrar pelo produto.
❐ Marketing é uma atividade humana que ❐ Praça ✒ Trata-se da definição de como
tem como objetivo satisfazer necessi- o produto será colocado no mercado ou
dades e desejos por meio de processos distribuído. Ou seja, é a estratégia para
de intercâmbio. facilitar ao seu público-alvo a compra do
❐ Produto é alguma coisa (objeto, serviço, produto.
atividade, pessoa etc.) capaz de satisfa- ❐ Promoção ✒ Trata-se da estratégia para
zer uma necessidade ou desejo. atrair o público-alvo para comprar o pro-
145
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

duto, ou seja, como fazer com que o Preservação, tema que será abordado ao
público-alvo tome conhecimento da longo do capítulo. Sobre este assunto, e
existência do produto e se interesse em para efeito conceitual, o Quadro 1 a seguir
comprá-lo. detalha os principais temas de marketing
No caso de marketing ecológico para produtos de ecoturismo.
podemos falar em um quinto P, de

1 QUADRO 1
MARKETING ECOLÓGICO E SOCIAL PARA O ECOTURISMO (1)
3
O marketing ecológico e social pode ser entendido como um conjunto de atividades que
o empreendedor de ecoturismo dispõe ao adotar estratégias e ações sociais e ambientais nos
locais atrativos que são de interesse coletivo. No mundo atual, com a adoção cada vez maior
pelas empresas de estratégias de responsabilidade ambiental e social, deve-se salientar que
o cumprimento das leis e o pagamento de impostos são apenas as obrigações mínimas exigi-
das. Agir solidária e eticamente, mantendo uma relação sadia com toda a cadeia produtiva
do turismo, com as comunidades anfitriãs e também com seus funcionários e clientes, são
conquistas importantes e valorizadas por ecoturistas mais exigentes.
Freqüentemente, na ausência de pesquisa de produto e de mercado, o desenvolvimento
de marketing de produtos de ecoturismo é baseado em muito empirismo e pouco método,
ou ainda naquele marketing cuja promoção é baseada em mitos, imagens ou apelos inexis-
tentes. Assim, o mau marketing reverterá numa má imagem do produto no mercado e na pos-
sibilidade de desgaste precoce de seu atrativo. Por outro lado, o marketing responsável atrairá
visitantes que melhor apreciarão a sua destinação, seus serviços e a filosofia do seu negócio.
Deste modo, em cada um desses elementos (os "Ps"), deve-se ter uma abordagem ética
e de responsabilidade social e ambiental na formulação de muitos instrumentos de market -
ing, principalmente no desenvolvimento do produto e nas formas de promoção. Algumas
considerações a respeito:

❐ Desenvolvimento de produtos
✔ Consumidores do ecoturismo têm dado maior atenção aos produtos que dão
suporte a comunidades locais, incrementam a conservação ambiental e educam
seus clientes sobre como minimizar os impactos ambientais da visitação e
respeitar as culturas locais.
✔ Os produtos devem ser desenhados preocupando-se em gerar o menor impacto
possível nos destinos e atrativos.
✔ O projeto deve providenciar um minucioso diagnóstico turístico (bens e serviços)
e sócio-ambiental para diagnosticar a sensibilidade do núcleo receptor em supor-
tar a demanda do turismo.

❐ Promoção no mercado
✔ O projeto deve ter ciência de que consumidores provenientes de grandes centros
urbanos não têm a real consciência de que o consumo do produto turístico gera
uma maior demanda de consumo, principalmente de recursos naturais sensíveis a
altas cargas turísticas, afetando seu equilíbrio e sua própria capacidade de atração.

(1) – Compilado pelo Editor


146
Elaboração do produto – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

✔ A promoção deve assegurar e alavancar a distribuição e consumo do seu produ-


to, pensando-se nos meios mais adequados para se atingir visitantes realmente
interessados no meio ambiente. Mas não deve ser considerada somente como
uma mera manobra de venda. Deve buscar o viajante que, de fato, está interes-
sado em visitar áreas naturais, e que adotam práticas de consumo sustentável e
comportamento ético.
✔ A promoção do ecoturismo deve refletir as suas diretrizes e suas práticas ambi-
ental e socialmente responsáveis.
✔ A promoção deve envolver uma análise cuidadosa da imagem da região como
um todo, principalmente se esta contiver áreas protegidas. Desvirtuar a men-
sagem comercial para apelos inexistentes, ou que vão contra à imagem da região,
3
pode gerar descontentamento de ecoturistas experientes ou gerar uma demanda
não compatível com o real conceito de seu produto.

III. CAIXA DE FERRAMENTAS ❐ Há mercado suficientemente grande?


❐ O potencial cliente está disposto a pagar
Como já alertado em outros capítu- o preço que pretendo cobrar?
los, não se pretende formar profissionais em ❐ Como faço para o público-alvo saber
elaboração de produtos de ecoturismo, mas que meu produto existe?
apenas orientar sobre os elementos que
compõem um produto e as etapas do seu Usando o conceito dos 4 P’s, estas per-
processo de elaboração. Neste capítulo guntas se apresentam assim:
serão tratados os seguintes tópicos: ❐ Produto: o produto será desenhado para
um grupo de terceira idade ou um grupo
1 Público-alvo: conheça seu cliente. escolar?
1.2. Elaboração do produto. ❐ Preço: o preço será popular ou exclusivo?
1.3. Preço: quanto cobrar. ❐ Praça ou distribuição: a estratégia de dis-
1.4. Praça ou distribuição: como tribuição será de vender direto ao turista
chegar até o público-alvo. ou via intermediários (como agências de
1.5. Promoção: como atrair turismo)?
o público-alvo. ❐ Promoção: a promoção será feita por
1.6. O plano de marketing. meio de mala direta com folheto simples
1.7. Produto e marketing de ecoturismo e para públicos segmentados ou será
para projetos de conservação. feita uma campanha ampla em revistas
de abrangência nacional?
1. Público-alvo:
conheça seu cliente Como tomar decisões sobre isso sem
conhecimento do mercado? Quais dados
ocê dispõe de um atrativo, ou um con- levantar, e como? Infelizmente, os dados
V junto deles, e quer elaborar um produ-
to. A primeira coisa a ser feita é pensar no
sobre turismo no Brasil são muito genéricos
e é difícil encontrar estudos sobre segmentos
seu mercado, seu cliente em potencial, ou específicos como o ecoturismo. Essa falta de
seja, seu público-alvo. É muito comum, no informação torna ainda mais importante a
mundo dos negócios, não se dar a devida coleta de dados sobre o perfil dos visitantes,
atenção a esse primeiro passo. Mas o suces- uma vez que um destino (ou seja, uma
so do produto depende das respostas às região, como a Amazônia, ou uma cidade,
seguintes questões: como o Salvador) comece a recebê-los.
147
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

Contudo, na falta de dados sobre o turis- ❐ Rede Brasileira de Turismo Comunitário


mo ou sobre a visitação a um destino, estu- – www.turismocomunitario.org.br
dos no Brasil e no exterior nos permitem ❐ Ecobrasil – Associação Brasileira de
selecionar alguns fatores importantes para Ecoturismo – www.ecobrasil.org.br
ajudar a entender melhor o cliente: ❐ IEB – Instituto de Ecoturismo do Brasil –
❐ Procedência ✒ Brasil (mercado interno www.ecoturismo.org.br
local, regional ou nacional), Argentina, Es- ❐ TIES - The International Ecotourism
tados Unidos, Europa (mercado externo). Society – projeções mundiais –
❐ Poder de compra ✒ Mochileiro, excur- www.ecotourism.org
sionista, ou turista de hotel de luxo. ❐ Planeta.com – Ecoturismo nas Américas
3 ❐ Faixa de idade ✒ Crianças, jovens, adul- – www.planeta.com
tos, meia idade, terceira idade. ❐ OMT – Organização Mundial de Turismo
❐ Atividades ou interesses específicos ✒ – dados e tendências mundiais –
Mergulho, orquídeas, observação de www.world-tourism.org
pássaros, etc. ❐ WTTC – Conselho Mundial de Viagens e
❐ Forma de viajar ✒ Individual ou em Turismo – dados e projeções mundiais –
grupo, com ou sem filhos, etc. www.wttc.org
❐ Tempo disponível ✒ Férias integrais ou ❐ UNEP – Programa de Meio Ambiente das
fracionadas, feriados ou fins-de-semana Nações Unidas – www.uneptie.org
❐ Sazonalidade ✒ Alta ou baixa temporada.
❐ Especial ✒ Deficiente auditivo, visual, etc. Regionalmente, deve-se pensar em con-
tatar as Secretarias de Turismo, Faculdades
✒ Procedência (2) de Turismo e não esquecer de falar direta-
A origem ou nacionalidade do turista é mente com quem recebe turistas, as ope-
um fator muito importante. A Embratur esti- radoras de turismo receptivo. Vale a pena
ma que de 80% a 85% da movimentação lembrar que a maioria dessas organizações
turística no Brasil deve-se ao turismo tem um website e às vezes fornecem dados
doméstico. Apesar da carência de infor- ou projeções sobre o mercado na Internet.
mações no país, ainda vale a pena colher as Entidades representativas do setor de
projeções e estatísticas sobre turismo e eco- ecoturismo no Brasil fazem projeções diver-
turismo, usando-as após passar por uma sas sobre o mercado, mas esbarram na falta
análise crítica profissional. As entidades que de uniformidade sobre o conceito de eco-
geram publicações onde se pode encontrar turismo que o mercado pratica para poder
dados e projeções gerais são: aplicar as estimativas. Assim, podemos ter
❐ EMBRATUR – Instituto Brasileiro de um número significativo de turismo em
Turismo – www.embratur.gov.br áreas naturais, não necessariamente fazen-
❐ FIPE / USP – Fundação Instituto de do ecoturismo. O que podemos afirmar é
Pesquisas Econômicas da Universidade que a demanda para um turismo no meio
de São Paulo natural (ou rural) vem crescendo e muito
❐ ABAV – Associação Brasileira de deste crescimento se deve a uma nova
Agências de Viagens – www.abav.com.br necessidade de se praticar um turismo dife-
❐ ABIH – Associação Brasileira da renciado do convencional.
Indústria de Hotéis – www.abih.com.br Com base na experiência de alguns
❐ Infraero – Empresa Brasileira de Infra- operadores importantes do mercado
Estrutura Aeroportuária brasileiro, deduz-se que o perfil do ecotu-
❐ CBTS – Conselho Brasileiro de Turismo Sus- rista brasileiro é:
tentável – www.turismosustentavel.org.br
(2) – NOTA DO EDITOR – Todos os dados sobre o mercado de turismo e ecoturismo deste item foram compilados e
atualizados pelo Editor
148
Elaboração do produto – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

❐ Grande parte oriundo de grandes e con- outras companhias no mercado. Pode-se


turbados centros urbanos. observar também, que os pacotes turísticos
❐ Relativamente jovem – 25 a 40 anos estão mais acessíveis com a chegada dos
❐ Tem médio poder de compra, e bom vôos charters (linhas aéreas locadas por
nível educacional / cultural. operadoras), que chegam aonde não há li-
❐ Solteiro(a). nhas regulares, barateando a chegada de tu-
❐ Viaja em feriados prolongados e férias, ristas nos destinos.
muitas vezes em grupos (organizados Estes tipos de pesquisas mostram ao
por operadoras nacionais de ecoturismo empreendedor as alterações e as possíveis
ou clubes de montanhismo). tendências no comportamento do viajante
❐ Procura realizar alguma atividade brasileiro. Outros dados importantes que 3
esportiva durante a visita (mountain bike, podem ajudar a definir o seu produto são
montanhismo, mergulho etc.). detalhados abaixo (EMBRATUR, 2002):
❐ Meio de Transporte utilizado: ônibus
Visando o mercado brasileiro, mesmo (36%); carona - viagem em carro de ami-
não existindo dados reais sobre o ecoturis- gos (9,9%) e avião (9%)
mo no mercado doméstico, dados sobre o ❐ Meio de Hospedagem: Casa de amigos
turismo em geral no Brasil fornecem boas (65,9%); hotéis (15%); pousadas (5%);
dicas para elaborar e operar seus produtos. ❐ O gasto médio dos turistas brasileiros foi
Em 2001, foram 32 milhões de desembar- de R$ 419,00 por viagem. Porém, quem
ques de brasileiros nos 16 principais aero- ganha mais de R$ 3.000 por mês, gasta
portos do país. Uma criteriosa pesquisa rea- R$ 1.800 numa viagem
lizada em 2001 pela FIPE / USP, a pedido da ❐ O perfil médio do viajante brasileiro diz
Embratur, revela dados interessantes sobre o que sua renda média mensal é de R$ 860
turista doméstico. Por exemplo, a pesquisa e que ele não fez faculdade;
diz que 50 milhões de pessoas viajam – ou ❐ Uma das tendências mundiais é a
36,4% da população brasileira, sendo que regionalização das viagens. No caso
70% destas somente uma vez por ano, brasileiro, 70% dos turistas viaja na
durante dez dias e sem sair da região onde região em que residem. Por exemplo,
reside. Assim, o turista nacional, e próximo 66,6% dos paulistas visita apenas MG, RJ
da região de seu projeto, pode vir a repre- e ES, 20% visitam o Nordeste brasileiro e
sentar seu maior público alvo. Para se ter o resto distribui-se pelo país.
uma idéia desta importância, o viajante
brasileiro gera R$ 20 bilhões, ou 75% do Pensando no turismo internacional, pro-
total da receita turística gerada no país, esti- jeções de especialistas, do mercado e da
mado em R$ 29,5 bilhões. OMT estimam que entre 7 e 10% do merca-
A pesquisa revela também que uma das do mundial de mais de 650 milhões de via-
tendências observadas no turismo (e que jantes, ou entre R$ 45 e 65 milhões de via-
pode ser extrapolada para o ecoturismo em jantes, podem ser considerados ecoturistas.
regiões com fluxos consolidados) é o Dados coletados por Ceballus-Lascuráin
aumento da concorrência. E com isto, a (1996) para a UNEP trazem algumas dicas
estratégia principal do empreendedor foi importantes, tais como:
baixar os preços, o que derruba a rentabili- ❐ Em 1991, 260 milhões de turistas visi-
dade e ameaça a lucratividade do negócio. taram as áreas protegidas (principal-
Por exemplo, o excesso de leitos em deter- mente os Parques Nacionais) nos EUA,
minados destinos vem provocando a queda gerando renda de Us$ 3 bilhões.
no valor médio da diária, cerca de 50% nos ❐ Parques no Kenya, na África, movimen-
últimos 3 anos, e as passagens aéreas se tam 750.000 visitantes / ano.
tornaram muito populares com a entrada de ❐ Dependendo da região, o ecoturismo é
149
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

de 40 a 60 % do movimento turístico Brasil, em 2001, foi de cerca de 4,8 mi-


total. E o turismo relacionado a vida sel- lhões. Pesquisa da Embratur indica que 13%
vagem é 20 a 40% do movimento total. do total de visitantes estrangeiros, cerca de
❐ Em 1998 estimava-se entre 157 e 236 611 mil, tem como fator decisório a prática
milhões os ecoturistas no mundo e entre de ecoturismo, porém boa parte destas
79 e 157 milhões os turistas interessados práticas se resume, por exemplo, num pas-
em vida selvagem. seio de 1 dia no Parque Nacional do Iguaçu,
❐ O ecoturismo contribui anualmente com para ver as Cataratas. Assim, cerca de 82%
algo entre Us$ 93 e Us$ 233 bilhões nas destes procuram a contemplação e obser-
rendas nacionais de vários países. O tu- vação da natureza, caminhadas por trilhas
3 rismo relacionado a vida selvagem entre (12%), pesca esportiva (2%), mergulho sub-
Us$ 47 e Us$ 155 bilhões e turismo marino (2%) e exploração de cavernas (2%).
internacional de observação de pássaros Até o inicio de 1999, devido ao valor
pode ter atraído 78 milhões de viajantes do Real, os preços no Brasil estavam muito
com impacto econômico de Us$ 78 altos, comparados aos de outros países,
bilhões. impedindo um crescimento maior de
❐ Juntando turismo doméstico com o inter- nosso turismo. Com a desvalorização da
nacional mundo afora, o ecoturismo gera moeda, em 2000 e 2002, este quadro deve
receitas totais de Us$ 660 bilhões a Us$ melhorar.
1,2 trilhões anualmente. Os argentinos, apesar da crise, conti-
nuam sendo o maior mercado, representan-
Recente publicação da UNEP traz mais do cerca de 29% dos estrangeiros que visi-
luz sobre estas projeções (WOOD, 2002): tam o Brasil no ano 2001. Mas entre os
❐ As taxas de visitação para destinos estrangeiros que possuem maior tradição
baseados na natureza de 1990 a 1999, em ecoturismo, como os norte-americanos,
cresceram significativamente na África com 594 mil visitantes, e europeus (princi-
do Sul (486%), Costa Rica (136%), palmente Alemanha, Itália, França, Portugal,
Indonésia (116%), Belize (78%) e Inglaterra e Espanha, nesta ordem), com 1,4
Equador (41%); milhão, juntos representam 42% dos visi-
❐ Em 1995, a Austrália tinha 50% (850 mil) tantes estrangeiros. Outro dado importante é
de seus turistas estrangeiros totais visi- que hoje em dia uma boa parcela desses vi-
tando pelo menos um de seus parques sitantes tem outros objetivos. Atualmente,
nacionais; menos da metade dos americanos vêm ao
❐ Os europeus, mais do que os canadenses Brasil por motivação de turismo. Na Tabela
e norte-americanos, vêm obtendo as 1 (página ao lado) as diferenças entre três
maiores taxas de viajantes com interesse tipos de turistas estrangeiros são claras.
pelo turismo baseado na natureza; O argentino viaja ao Brasil para co-
nhecer e aproveitar as praias do Sul (ou até
Para o Brasil, especialistas avaliam que pegar um vôo charter até Búzios ou
esse mercado cresceu menos do que seu Salvador), e não costuma ter interesse em
potencial indica. Isso pode ser explicado ecoturismo (Manaus não é citado como des-
pelo fato da nossa imagem ter sido prejudi- tino). Geralmente não é a primeira vez que
cada pela predominância de notícias nega- visita o Brasil, gasta pouco e se deixa influ-
tivas no exterior (violência, problemas enciar mais pela TV do que por revistas e
econômicos, queimadas etc) e pela falta de jornais.
investimentos em publicidade positiva e Menos da metade dos americanos viaja
direcionada para o lazer em ambientes na- por motivo de turismo. 50% deles visitam o
tural e culturalmente ricos. Rio de Janeiro e 6% vão a Manaus, uma
O número de visitantes estrangeiros no indicação de interesse pela natureza. Para
150
Elaboração do produto – P LANEJAMENTO ESTRATÉGICO

TABELA 1
COMPARAÇÃO DO PERFIL DOS TURISTAS ARGENTINO, AMERICANO E ALEMÃO
ANO 2001
PROCEDÊNCIA/NACIONALIDADE GERAL ARGENTINA AMERICANA ALEMÃ

Motivo da viagem: turismo 56 % 73 % 34 % 51 %


Organizado por agência 22 % 24 % 14 % 19 %
Primeira vez que visita o Brasil 35 % 26 % 36 % 46 %
Permanência média 12 dias 10 dias 15 dias 20 dias 3
Influência da viagem: TV 8 % 40 % 33 % 26 %
Influência da viagem: revista/jornal 7 % 5 % 7 % 7 %
Influência: informação de amigos 47 % 32 % 44 % 30 %
Influência: informação de
folders/impressos 6 % 10 % 2 % 5 %
Gasto médio por pessoa por dia,
sem hospedagem e transporte US$ 81 US$ 64 US$ 126 US$ 85

CIDADES MAIS VISITADAS US$ US$ US$ US$

Rio de Janeiro 29 % 10 % 50 % 45 %
São Paulo 17 % 5 % 32 % 23 %
Florianópolis 16 % 36 % -- % -- %
Salvador 11 % 7 % 7 % 23 %
Foz do Iguaçu 11 % 14 % 5 % 12 %
Manaus ND % – de 1 % 6 % -- %
Fonte: Embratur – 2002

dois terços dos americanos, essa visita não é ❐ As experiências mais admiradas são os
a primeira. Eles consomem quase o dobro cenários silvestres, observar a vida sel-
dos argentinos e acima da média geral dos vagem e fazer caminhadas.
turistas que visitam o Brasil. Numa pesquisa ❐ Permanece no país por no mínimo 8
feita nos Estados Unidos em 1994, o perfil dias.
do ecoturista americano resultou no ❐ Prefere viajar no período junho – setem-
seguinte: bro.
❐ Tem idade entre 35 – 54 anos (56%).
❐ Viaja sem os filhos (85%), sendo 60% Os alemães constituem um mercado
viajando em casal e 13% sozinhos; interessante. Cerca de 50% deles viaja por
❐ Tem educação superior (82%). motivo de turismo. A permanência média é
❐ Tem como destino favorito as florestas de 20 dias (em geral, os períodos de férias
tropicais. na Europa são muito maiores que nos
❐ As motivações são contemplar paisagens Estados Unidos), e o consumo / gasto por
naturais, ter novas experiências e co- dia é maior. Além do Rio de Janeiro e São
nhecer novos lugares; Paulo, os alemães visitam Salvador e Recife
151
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

e vem se influenciando cada vez mais por muitas vezes implica viagens a locais dis-
programas de TV. tantes ou de acesso mais difícil, na necessi-
Pode-se observar também que vem cain- dade de guias especializados, no uso de
do o número de viajantes que chegam ao equipamentos e na formação de grupos
Brasil de forma organizada por agências pequenos. Além disso, espera-se uma con-
emissivas. Isto pode ser reflexo da influência tribuição para projetos locais de conser-
de guias especializados e da internet, onde vação. Isto quer dizer que os preços dos pro-
os próprios viajantes estariam planejando gramas serão superiores aos de um tour de
suas viagens com mais facilidade e con- ônibus para 40 pessoas em visita ao Pão de
tatando diretamente os prestadores de Açúcar ou ao Corcovado, no Rio de Janeiro.
3 serviços no país de destino. Para americanos Logicamente, pessoas com baixo poder
e canadenses, o Brasil era, em 1998, o ter- de compra não têm condições de pagar o
ceiro destino de preferência, segundo dados preço de muitos dos produtos de ecoturismo
de pesquisa sobre o turismo na América comercializados. Mesmo assim, não são
Latina, e suas principais fontes de pesquisa excluídas do ecoturismo, porque existem
para o planejamento da viagem foram as clubes de montanhismo e excursionismo, de
informações prestadas por amigos (60%), observação de aves, etc., que organizam pas-
agências de viagem (57%), internet (47%), seios de baixo custo. Um grande mercado
guias turísticos (36%) entre outros. para o ecoturismo brasileiro são as escolas.
Outra análise que pode ser de interesse
para se entender a procedência e como o ✒ Faixa de Idade
turista estrangeiro chega ao Brasil é feita pela
pesquisa dos portões de entrada no país. No A faixa de idade do grupo é muito
ano de 2001, o turista chegava por São Paulo importante para a definição e adaptação do
(34%), Rio Grande do Sul (17%), Rio de grau de dificuldade e conteúdo do seu pro-
Janeiro (19%) e Paraná (11%). Neste ano, no grama.
estado do Amazonas, chegaram diretamente Estudantes, de 1º, 2º e 3º graus, são um
do exterior cerca de 28 mil turistas, menos mercado interessante para o ecoturismo
de 1% do total, sendo 10 mil norte-ameri- nacional. Escolas já são grupos pré-forma-
canos. Já na Bahia e Pernambuco chegaram dos e fáceis de localizar e contatar. Deve-se
89 mil e 60 turistas respectivamente, sendo a lembrar, no entanto, que crianças e adoles-
grande maioria da Europa (74 e 90% respec- centes geralmente são menos disciplinados,
tivamente). No caso da região do Pantanal, precisam de mais divertimento e de ativi-
dos 108 mil turistas (2,3% do total) que dades físicas. Aconselha-se incluir profes-
chegaram do exterior diretamente ao estado sores nos grupos, gratuitamente ou com
do Mato Grosso do Sul, apenas 27 mil eram custo distribuído nos preços individuais.
americanos e europeus. Eles ajudam a promover a disciplina, divi-
Atualmente vêm sendo desenvolvidos dem a responsabilidade profissional com a
estudos para se implantar corredores de operadora e podem ainda atuar como pro-
ecoturismo a partir dos principais portões de motores para formação de grupos.
entrada brasileiros. Os corredores em estu- A Terceira Idade é um mercado cres-
do envolvem o portão de entrada de Foz do cente, tanto no exterior quanto no Brasil.
Iguaçu, fazendo conexão com o Pantanal e Boa parte possui tempo, dinheiro e vontade,
a Amazônia e também o Centro-Oeste. fundamentos essenciais para se viajar e que
nem sempre estão presentes nos outros gru-
✒ Poder de Compra pos etários. Existem clubes organizados de
pensionistas e aposentados. Para esse seg-
O poder de compra é muito importante mento devem ser providenciadas medidas
para definir preços. A prática do ecoturismo adicionais de segurança, boas informações
152
Elaboração do produto – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

e roteiros com menos atividades que exijam nizador do grupo que faz as reservas e o
esforço físico e/ou emocional. Pesquisa pagamento. No segundo caso, o mercado in-
recente diz que a oferta detalhada de infor- dividual (S.I.B. – (a) Seat in (the) Bus ou “um
mações sobre facilidades médicas nos desti- lugar no ônibus”), é necessário um fluxo bas-
nos, são garantias de segurança para a toma- tante grande para justificar saídas regulares,
da de decisão do visitante norte-americano. porque os custos fixos são mais altos: as
reservas são feitas em cima da hora, há o
✒ Atividades ou Interesses Específicos risco de ‘no-show‘ (turista não aparecer), o
grupo é heterogêneo e o pagamento pulveri-
Se o atrativo oferece possibilidades para zado. Hoje em dia as principais operadoras
atividades ou interesses específicos, não emissoras nacionais de ecoturismo trabalham 3
deixe de aproveitar esses mercados. em parcerias com operadoras receptivas nos
Geralmente as pessoas já têm um grau de destinos, facilitando a saída de turistas em
organização, por meio de clubes ou asso- qualquer época e número (no mínimo dois)
ciações, o que facilita o marketing. Mas não necessitando, assim, aguardar a for-
lembre-se também que são turistas exi- mação de um número mínimo de viajantes.
gentes; como ‘conhecedores’, eles sabem o
que querem. ✒ Tempo Disponível
Convém sempre procurar entender me-
lhor as diferentes motivações e nível de O tempo disponível é uma consideração
experiência dos futuros visitantes. importante para determinar a duração do seu
Atualmente tem-se falado em ecoturistas programa. Como já vimos na Tabela 1, os
"hard" (aquele com espírito de aventura e americanos têm cerca de duas semanas
melhor preparo físico) e "soft" (preferem disponíveis, e nesse tempo querem ver o
experiências fisicamente mais leves e cur- Brasil de norte a sul. Brasileiros têm a opção
tas). Esta mesma terminologia tem sido de viajar nos feriados e não têm a ansiedade
usada para se definir o visitante menos de visitar muitos lugares diferentes em um só
engajado (soft) e o mais engajado (hard) no período de viagem. Hoje, vê-se tendências
ecoturismo, em razão deste produto ser em alguns países, incluindo o Brasil, e em
mais ou menos próximo dos seus princípios. parcelas da população, de se obter férias
No caso do turismo pedagógico, desen- mais curtas, fracionadas em diferentes perío-
volvido por estudantes de vários níveis, ao dos do ano. E nestes curtos períodos, de 7 a
se fazer o acerto com determinadas esta- 15 dias, estas pessoas tendem a viajar.
belecimentos de ensino deve-se atentar para
as atividades e abordagens do roteiro, que ✒ A Sazonalidade
devem estar ligadas a algum conteúdo cur-
ricular e, assim, exige-se conhecimento na A sazonalidade de visitas é determinada
área. A vantagem é que os grupos são garan- por dois fatores:
tidos e grandes, exigindo-se porém técnicas a) O período de férias do visitante,
de manejo de visitação para adequá-los aos em geral coincidindo com férias
locais atrativos. escolares, no verão. Cabe lembrar
que o verão nos países do hemis-
✒ Forma de Viajar fério norte ocorre no meio do ano.
Assim, enquanto as férias esco-
Em geral é mais fácil trabalhar com gru- lares nos países do hemisfério sul
pos pré-formados ou pacotes do que com tu- ocorrem entre dezembro e
ristas individuais. No primeiro caso, já se fevereiro, nos países do hemisfério
sabe com antecedência quantas pessoas vêm norte as férias vão de junho a
e quando; basta manter contato com o orga- agosto.
153
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

b) A melhor época para visitar deter- Os dados na Tabela 2 são ilustrativos: em


minado lugar, principalmente pelas 2000/2001, os argentinos visitavam o Brasil
condições climáticas regionais. principalmente no verão, que é na mesma
época nos dois países. Os alemães parecem
A sazonalidade das entradas devem ser preferir o período de dezembro a fevereiro,
analisadas para se compreender como equi- quando ocorre o verão no Brasil e o inverno
librar melhor os custos de seu produto ao na Alemanha. Isto apesar do período de
longo do ano e para melhor estabelecer férias de verão na Alemanha ser de junho a
estratégias de promoção. Em 2001, por agosto. Os americanos não fogem deste
exemplo, dos 594 mil norte-americanos e padrão de preferência, mas deve-se lembrar
3 dos 1,4 milhão de europeus que chegaram que boa parte deles está aqui a negócios. É
ao Brasil, quase a metade (41 e 42% respec- interessante notar que a pesquisa feita em
tivamente) se concentraram nos 4 meses 1994, referida anteriormente, revela que os
"quentes" do ano – janeiro, fevereiro, março ecoturistas americanos preferem viajar entre
e dezembro. Já a chegada de visitantes junho e setembro, que coincide com as
estrangeiros a São Paulo, cujo perfil é mais férias de verão deles.
para o turismo de negócios, se dilui ao
longo do ano.

TABELA 2
SAZONALIDADE DE VISITANTES EXTRANGEIROS NO BRASIL
EM 200O/2001
NACIONALIDADE DEZ/2000 A JUN/2001 A RESTO DO ANO
MAR/2001 SET/2001 (2001:ABR, MAI,
OUT. NOV.)
Geral 44 % 27 % 29 %
Argentinos 56 % 24 % 20 %
Americanos 44 % 30 % 26 %
Alemães 41 % 31 % 28 %

Cabe destacar que há muitos destinos no período escolar), oferecer espaços para
ecoturísticos com grande apelo fora da encontros e oficinas de trabalho, promover
época de verão. Por exemplo: o Pantanal no festivais de música, gastronomia, folclore e
inverno e as Serras do Mar e Gaúcha no artes em geral, entre outras.
outono. Existem, então, grandes oportu-
nidades de se vender o Brasil como destino ✒ Especial
ecoturístico a um outro tipo de turista, fora
da temporada. No caso do turismo domésti- Muito tem-se falado sobre parcelas da
co, prepare-se para aproveitar todo e qual- população que não viajam por diversos
quer feriado e pense sempre que boa parte motivos. Segundo pesquisa da Embratur
das férias hoje são usufruídas de forma fra- com o turismo doméstico, os motivos pelos
cionada (2 a 3 vezes por ano). quais o brasileiro não viaja são falta de di-
As estratégias para driblar a sazonalidade nheiro (60,3%), excesso de trabalho (15%) e
podem ser variadas, entre elas trabalhar problemas de saúde (8%). Estes últimos
com grupos de estudantes (que viajam mais poderiam estar viajando se os roteiros de
154
Elaboração do produto – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

determinados destinos, como as regiões ser- cuidar para que o produto popular não
ranas ou de águas termais, incluíssem práti- cause degradações no atrativo devido ao
cas de saúde alternativas como atividades descuido em se gerar fluxos crescentes por
em seus produtos. uma promoção mal balanceada.
E uma pequena parte, mas que pode ser No FLUXOGRAMA 1 (página seguinte),
um número significativo, é composta por descrevemos como uma operadora de turis-
deficientes físicos, que muitas vezes, por mo elabora seu produto, partindo do zero .
ausência de simples adaptações nos equipa- A operadora de turismo será um cliente
mentos turísticos e nos materiais de comuni- importante, por isso um projeto de conser-
cação, deixam de viajar. Deficientes visuais vação voltado para o desenvolvimento e
e auditivos e deficientes com dificuldades de promoção do ecoturismo deve escrutinar o 3
locomoção podem praticar o ecoturismo seu produto em potencial (atrativo) tendo
com uma capacitação específica para guias, em mente o mercado de operadoras de tu-
elaboração de materiais informativos especí- rismo. O passo-a-passo para elaborar o pro-
ficos e melhorias de baixo custo nos acessos duto é muito semelhante, como será mostra-
e infra-estrutura nos locais atrativos. do a seguir.
Por fim, para aprimorar o conhecimento A operadora sempre estará interessada
sobre o seu cliente, e sempre dispor de em destinos novos e produtos diferentes dos
informações concretas para adaptar e me- seus concorrentes e procura sempre manter-
lhorar seu produto, convém estabelecer se informada das possibilidades por meio de
uma pesquisa de demanda continuada (ver viagens, imprensa, contatos no mercado,
capítulo Inventário). Ou seja, é importante dicas etc. Uma boa operadora deve ter um
tanto no início do projeto, para identificar o banco de dados – de preferência no com-
consumidor potencial, como para melhor putador – com informações básicas de cada
conhecer o consumidor atual, inclusive destino/atrativo, além de um banco de ima-
analisando os dados para prever tendências gens e clippings (recortes de reportagens). A
futuras. Assim, o modelo de pesquisa abaixo operadora que já está no mercado há algum
está formatado para produtos já implemen- tempo deve ter uma idéia sobre o que o seu
tados. No caso de não haver demanda turís- público-alvo gosta e mesmo as dicas de
tica atual, a pesquisa é para conhecer a ecoturistas mais experientes, captadas em
demanda potencial e deve centrar-se nas questionários de avaliação, podem lhe ser
questões de perfil do viajante, suas moti- úteis. Usando o banco de dados, sele-
vações e expectativas quando viaja e deve cionará novos destinos possíveis de serem
ser feita no local de origem do turismo. desenvolvidos. Essa seleção tem como base,
entre outros aspectos:
2. Elaboração do produto
p O potencial aparente do atrativo,
uando passamos a entender melhor o incluindo sua inserção como novidade
Q mercado, a tarefa de elaborar o produ-
to fica mais fácil. É importante lembrar tam-
ou exclusividade no mercado.
p A acessibilidade e o meio de transporte
bém que o conceito de marketing considera adequado.
não apenas o “P” de produto, mas os outros p A infra-estrutura e os equipamentos exis-
três “Ps” – preço, praça e promoção – e o tentes.
conjunto deve ser coerente. Por exemplo, se p As informações e a literatura existentes
o mercado identificado é o popular, não faz sobre a cultura e a história do lugar.
sentido elaborar um produto sofisticado, p As informações e a literatura existentes
que tenha custos altos e distribuído em sobre os ecossistemas do lugar.
revistas especializadas. No caso do quinto p A importância ecológica e a existência de
"P", o marketing ecológico nos induz a projetos de conservação na região etc.
155
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

FLUXOGRAMA 1
FASES DE DESENVOLVIMENTO DO PRODUTO TURÍSTICO

FONTES DE INFORMAÇÃO
Viagens, imprensa, contatos, etc.

3 Se não satisfatório, BANCO DE DADOS DE DESTINOS Computador, Imagens,


fazer relatório Recortes, Relatórios, etc.

SELEÇÃO DE DESTINOS COM Avaliar: · Acessibilidade


· Atrativos
POTENCIAL PARA VISITA · Infra-estrutura
· Conservação
· Informações

Verificar em situ,
VISITA DE INSPEÇÃO
conhecer fornecedores

DESENHO DO TOUR E DEFINIÇÃO · Mapas (detalhes)


Muitas vezes é necessário
· Factsheets
fazer mais visitas DO PÚBLICO ALVO · Treinamento
de Guias

FASE DE MARKETING FAMTOURS PARA CLIENTES E · Avaliação


Ajustar produto · Publicidade
IMPRENSA
se necessário

Ajustar campanha CAMPANHA DE MARKETING · Medir resposta


se necessário

Avaliação contínua de:


· Qualidade
VENDAS · impacto
· desempenho
comercial
156
Elaboração do produto – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

O próximo passo é fazer uma visita de visão. Deve ser dada uma atenção especial
inspeção para verificar as características e à divulgação via Internet – cujos usuários
os dados básicos do atrativo, coletar infor- estão na mesma faixa etária e de poder
mações adicionais, conhecer fornecedores e aquisitivo que o ecoturista padrão – inclu-
operadores e pesquisar preços. Se já foi feito sive disponibilizando páginas específicas
o inventário (ver capítulo Levantamento de em inglês. Isto encurta o processo de pro-
Potencial Ecoturístico), este facilitará o tra- moção, com sua informação indo direto
balho. Se a inspeção corresponder às expec- ao seu potencial cliente.
tativas, começa o trabalho de desenhar o A campanha de vendas começa quando
programa em detalhes: o produto está sendo divulgado. Medir a
resposta de sua campanha de marketing e 3
p O número de dias ideal para a visita. vendas ajuda nas futuras decisões sobre
p A programação e o roteiro de cada dia como vender melhor seu produto (ver capí-
(incluindo hospedagem, alimentação, tulo Administração e Práticas Contábeis).
transporte, guias locais e atividades).
Passo 1 – O atrativo é a base
Começam as negociações de preços de seu produto
com fornecedores identificados no inven- A base de seu produto são os atrativos do
tário, procurando o estabelecimento de lugar. Um atrativo pode ser uma cachoeira,
parcerias locais de forma mais concreta. uma espécie animal, um ecossistema, um
As informações para guias e turistas devem projeto de conservação, uma comunidade
ser preparadas e os guias da operadora tradicional com cultura bem marcada, um
provavelmente devem receber um treina- hotel especial etc. É importante analisar
mento. Depois de elaborado o programa e tudo em detalhes e definir o perfil do turista
definido seu público-alvo, deve-se fazer ao qual seu produto é dirigido.
uma campanha de distribuição e pro- Para não esquecer aspectos importantes,
moção (o Marketing) para incentivar os é bom fazer um inventário para avaliar o
revendedores a oferecer o produto aos atrativo ou o destino (ver capítulo
seus clientes. A operadora escolhe os Levantamento do Potencial Ecoturístico -
canais de venda a serem usados e começa Inventário). Não só pelo aspecto quantitati-
a fase de marketing. Quando se trata de vo (quanto atrativos significativos estão
um produto novo, é bom organizar um disponíveis?) mas também por alguns de
Famtour (tour de familiarização) para os seus aspectos qualitativos, os quais devem
revendedores e/ou imprensa. Um revende- ser abordados no inventário, tais como:
dor que realmente conhece o produto – e
gosta – saberá vendê-lo com mais sucesso. ❐ Qual o ecossistema (por exemplo, flores-
Preste atenção nas sugestões dos revende- ta tropical de Mata Atlântica)?
dores que participam do Famtour, pois ❐ Há atrativos específicos dentro do ecos-
podem ser úteis para fazer ajustes no pro- sistema (por exemplo, cachoeiras,
duto ou no roteiro. Artigos em revistas e mirantes)?
jornais ajudam a divulgar o destino, os ❐ Qual o tipo e a duração mais adequada
projetos de conservação associados e o ao programa que se tem em mente?
nome da operadora. ❐ Existe algum apelo conservacionista (por
No caso de venda direta ao turista (sem exemplo, espécies em extinção, áreas
o intermédio de uma agência ou operado- protegidas) ?
ra de turismo), colocam-se anúncios em ❐ Há atividades/interesses associados (por
jornais e revistas, divulga-se por mala dire- exemplo, canoagem e observação de
ta de clientes de viagens anteriores ou pássaros)?
ainda, dependendo do produto, pela tele- ❐ Existe informação suficiente para sub-
157
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

sidiar os estudos sobre capacidade de EXEMPLO:


carga turística do local e quais são os
outros usos atuais e potenciais da área AVALIAÇÃO DE ATRATIVOS
(por exemplo agricultura)? SEGUINDO A CLASSIFICAÇÃO
❐ Existe mapa detalhado da área (por DO GUIA MICHELIN
exemplo, mapa do IBGE) ou é necessário
fazer um? Hoje em dia é também possí- Uma cachoeira de 10 metros
vel comprar fotos de satélite em CD-Rom pode ser achada em muitos lugares
ou adquiri-las pela Internet e só atrai quem passa perto
❐ Quais as fontes de informações sobre o (uma estrela).
3 atrativo e região ? Cataratas como Foz de Iguaçu
e Niágara são espetáculos da natureza
Depois de fazer o inventário, deve-se e atraem turistas do mundo inteiro
escrever um breve relatório, explicando os (três estrelas).
aspectos mais importantes, os pontos fortes
e fracos, as oportunidades e desafios que a O mico-leão-dourado só vive livremente
região e os atrativos lhe oferecem. Uma em um único lugar do mundo, o que lhe
curta descrição sobre o que faz desse lugar proporciona um potencial de atração forte o
algo especial é o primeiro passo para a cam- bastante para alguém que está no Rio de
panha de publicidade. Janeiro estender sua estadia para fazer uma
Técnicos, lideranças locais e outros viagem de um dia para vê-lo (duas estrelas).
gestores de projetos não tão experimentados Mas um mico-leão não é tão imponente e
com o turismo tendem a superestimar o seu conhecido como um gorila. O desejo de ver
atrativo. Por isso, seguem algumas orien- gorilas pode ser razão para uma viagem à
tações importantes para uma avaliação África (três estrelas).
objetiva e imparcial:
b) Qual é o diferencial?
a) Cuidado com avaliações subjetivas
Em geral as pessoas são inundadas com
É preciso ser objetivo na análise, para informações e dedicam pouco tempo para
saber qual é seu “raio de atra ç ã o ” . ler tudo com atenção. Pense nos atrativos
Lembre-se que o ecoturista geralmente é “concorrentes” ao seu e procure identificar
um viajante experiente e bem informado qual é o seu diferencial, ou seja, o que faz o
e não adianta exagerar os atrativos do seu atrativo diferente – e mais interessante –
lugar. Além das dicas de hierarquização do que os demais.
do potencial de atração oferecidas no Para melhor embasar a tomada de
capítulo do Inventário, um bom critério é decisão sobre o diferencial do seu atrativo
o uso de estrelas, adotado pelo Guia em relação à concorrência, uma pesquisa
Michelin e também pelo Guia 4 Rodas no de produto pode ser extremamente útil. A
B rasil. O índice de estrelas indica o Pesquisa de Produto serve para se identificar
esforço que o turista deve fazer para visi- o perfil dos produtos e dos destinos concor-
tar um lugar: rentes, seus preços e suas estratégias de pro-
moção e vendas, definindo-se seus pontos
❐ Uma estrela (*): o lugar é interessante, fortes e fracos. Permite verificar se seu pro-
vá se você já está por perto. duto é viável regionalmente e permite esta-
❐ Duas estrelas (**): merece uma visita, se belecer a sua estratégia de conquista de
você está na região vale fazer uma volta mercado. Na página seguinte, no Quadro 2,
maior. um modelo simplificado de pesquisa de
❐ Três estrelas (***): vale a viagem. produto.
158
Elaboração do produto – P LANEJAMENTO ESTRATÉGICO

EXEMPLO:

ELEMENTOS QUE DÃO


UM DIFERENCIAL AO SEU ATRATIVO

Um turista que quer ver floresta tropical pode


escolher entre quatro continentes (Áméricas, Ásia, África e Oceania).
Se ele tem interesse na floresta Amazônica, vai comparar Brasil com Equador, Colômbia,
Peru, Venezuela e Guianas. Mesmo dentro do Brasil há muitas portas de entrada
(cidades ou Estados na Amazônia ou Mata Atlântica). Alguns exemplos
que podem fazer seu produto se diferenciar da concorrência podem ser: 3
1) Oferecer equipamentos ou meios que constituam uma forma especial de ver
a floresta, como por exemplo uma canopy walkway (passarela suspensa
na altura da copa das árvores);
2) oferecer a oportunidade de ver espécies de flora e fauna
chamativas e endêmicas por meio de guias mateiros;
3) desenhar seu produto para ser gerenciado por comunidades
ribeirinhas ou de extrativistas;
4) vincular o roteiro à atividades diferenciadas de aventura e ainda
5) ter disponíveis boas listas e guias para observação da avifauna local .

1 QUADRO 2
EXEMPLO DE PESQUISA DE PRODUTO

CARACTERÍSTICAS PRODUTO PRODUTO


DO PRODUTO CONCORRENTE 1 CONCORRENTE 2
NOME DO PRODUTO
COMPONENTES DO PRODUTO
MERCADO CONSUMIDOR -
ORIGEM E VOLUME
PREÇO DO PRODUTO
DURAÇÃO DO PACOTE
DIFERENCIAL DO PRODUTO
PONTOS FORTES
PONTOS FRACOS
FORMAS DE DISTRIBUIÇÃO
DE MATERIAL DE MARKETING
ABORDAGEM DE MARKETING
(APELO ESPECIAL)
FONTE: Adaptado pelo Editor a partir de MacGregor, 1994.

159
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

c) Sinergias EXEMPLOS:
UM ATRATIVO,
Nem sempre o atrativo precisa valer a
MAIS DE UM PÚBLICO-ALVO
viagem. A proximidade de um outro atrativo
(não necessariamente ecoturístico) pode O Parque Nacional de Itatiaia/RJ
valorizar o que você está propondo. é visitado por montanhistas,
especialmente no inverno,
EXEMPLOS: e por ornitólogos, na primavera.
SINERGIA COM OUTROS A Pousada Aldeia dos Lagos, em
ATRATIVOS NA REGIÃO Silves/AM, recebe ecoturistas ao longo
3 do ano, mas também grupos para
Uma fazenda antiga do ciclo de café realização de oficinas (workshops)
perto de uma reserva privada de mata na baixa estação.
primitiva ou secundária de bom porte.
Os turistas com interesses culturais
vão gostar de fazer uma visita curta necessidade de conservação. Nesse caso, o
ao ecossistema original, e os ecoturistas diferencial está na qualidade da informação
vão achar o roteiro mais rico se transmitida ao visitante como forma de
puderem também visitar a fazenda. compensação pelo aspecto visual de
Da forma mais ampla, propriedades natureza degradada.
ou unidades de conservação com
remanescentes de Mata Atlântica f) Atividades especializadas
localizadas próximo ao Rio de Janeiro ou de interesse específico podem
ou São Paulo também geram agregar valor ao seu atrativo
esta sinergia.
Para que a visitação não se resuma a
atividades físico-esportivas ou de obser-
d) O mesmo lugar pode ter atrativos vação contemplativa das paisagens, algu-
diferentes para diferentes mas atividades de caráter recreativo, educa-
públicos-alvo tivo e informativo devem ser inseridas, cons-
truindo um verdadeiro roteiro de ecoturis-
Não limite o seu atrativo a um público-alvo mo. A simples observação e interpretação
muito específico. Se você fizer bem o inven- das paisagens pode não ser suficiente para
tário, vai descobrir várias maneiras de utilizar criar o diferencial de seu produto. Técnicas
seu atrativo ou conjunto deles, e elaborando de educação ambiental e de interpretação
produtos e roteiros de diferentes perfis, para do ambiente são necessárias e contribuem
mais de um público-alvo, podendo ainda dis- para que a vivência no ambiente natural
tribuir melhor a visitação durante o ano. seja mais enriquecedora, ao mesmo tempo
em que conscientiza o visitante para temas
e) Os atrativos não são apenas ambientais relevantes.
paraísos ecológicos intocados Todas as atividades de lazer e recreação
praticadas em áreas naturais são de caráter
Se próximo ao seu atrativo houver áreas altamente dinâmico, alterando-se princi-
desmatadas e/ou poluídas, uma rápida visi- palmente de acordo com a flutuação e
ta, ou a simples passagem por estes locais m o t ivação da demanda turística, não
podem ser uma forma valiosa para demon- sendo raro o aparecimento de nova s
strar o valor de trabalhos de conservação, modalidades. Todas necessitam de orien-
desde que seja interpretado de maneira que tação, algumas de treinamento específico e
ressalte o aspecto degradado do local e a equipamentos de segurança individuais ou
160
Elaboração do produto – P LANEJAMENTO ESTRATÉGICO

EXEMPLO: logística e a fragilidade do ecossistema,


você vai encontrar alguns obstáculos, mas
ATRATIVOS QUE NÃO SÃO PARAÍSOS poderá descobrir formas para diferenciar
ECOLÓGICOS INTOCADOS seu atrativo em relação ao dos concor-
rentes.
Na borda da Reserva Biológica
de Poço das Antas há uma barragem Passo 2 – Acesso, Transporte e Taxas
abandonada que tem causado impactos de visitação: Como o turista
ambientais sérios na região. vai chegar ao atrativo e
Uma visita a essa barragem com um quanto custa ?
guia contando a história de como foi Se vai chegar de avião deve-se avaliar 3
(mal) planejada, e nunca usada, pode qual é o aeroporto mais próximo (em
ser um assunto muito interessante. quilômetros e tempo) e, uma vez na cidade
No Rio de Janeiro, os favela-tours de acesso, que tipo de transporte será
são populares entre os turistas que usado, qual a sua capacidade e disponibili-
querem conhecer outras realidades. dade para transportar visitantes até o atrati-
Na Chapada dos Guimarães / MT, vo. Avaliar também se há problemas de
antes de se chegar ao Parque Nacional, acesso em certas épocas do ano, procuran-
há um lixão a céu aberto, do caminhos ou meios de transporte alter-
o qual pode ser objeto de temas nativos. Se o acesso, ou parte dele, do aero-
interpretativos para se conscientizar porto até o atrativo é agradável, ecologica-
sobre o problema de lixo excedente mente interessante e paisagisticamente
que o turismo pode causar bonito, este pode ser melhor aproveitado e
em pequenas localidades. propositadamente inserido no roteiro. Se
No Vale do Ribeira, sul de São Paulo, possível, fazer o transporte de maneira
o Canal do Valo Grande foi obra ecológica (uma canoa a remo ao invés de
que causou sérios problemas sociais motorizada) e contratando empresas res-
e ambientais, podendo demonstrar ponsáveis. Evite atividades e meios de trans-
ao visitante como a interferência porte motorizados dentro de áreas protegi-
antrópica no ambiente pode gerar das ou de fragilidade ambiental conhecida,
conseqüências negativas não previstas e procure também controlar para que os
em médio-longo prazo. acessos não causem perturbações em vilas
comunitárias. Lembre-se que alguns locais
atrativos, como áreas naturais públicas e pri-
coletivos. A TABELA 3 (páginas 162 a 164) vadas, protegidas ou não, possuem taxas de
pode dar uma boa idéia das principais acesso, as quais geralmente são incluídas no
atividades que vem sendo desenvolvidas preço do passeio. Nestes casos, atente para
atualmente em ambientes naturais. Porém, as necessidades de agendamento e autoriza-
procure sempre um especialista para um ção prévias (ver Exemplo na página 163).
estudo caso a caso e para desenvolvê-las
seguindo os princípios de mínimo impacto.
Depois de definir o atrativo e a melhor
forma como serão explorados, o próximo
passo é identificar a melhor forma de apre-
sentá-lo ao turista, considerando que você
quer causar o mínimo impacto no ecossis-
tema, oferecer ao turista valor condizente
com o preço pago e propiciar retorno à
comunidade e à conservação. Analisando a
161
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

TABELA 3
ALGUMAS ATIVIDADES TURÍSTICAS EM AMBIENTES NATURAIS

ATIVIDADES /
INTERESSES CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS NECESSIDADES ESPECIAIS
Bóia-cross Percorrer rios de corredeiras por Equipamentos como capacete e
(Acquaraid) meio de bóias infláveis. salva vidas, além de saber
O equipamento pode ser uma nadar e conhecer o percurso.
câmara de pneu de caminhão ou
3 equipamentos específicos, melhor
elaborados e resistentes.
Asa delta, pára- Práticas aéreas que permitem uma Treinamento especializado
quedismo, para- visualização das paisagens de forma e autorização de vôo. Os
pente, paraglyder, panorâmica e sem muitos impactos equipamentos são caros e,
balonismo na fauna e flora. na sua grande maioria,
importado. Necessita também
apoio por terra.
Acampamento Forma mais econômica de As barracas estão mais leves
(Camping) hospedar-se próximo à natureza. e mais baratas hoje em dia.
Campings regularizados, com um
mínimo de estrutura, evitando-se
o camping selvagem.
Cannyoning / Explorar e percorrer rios de vale, Bons equipamentos,
Cachoeirismo driblando os acidentes naturais equipes treinadas, preparo
(Cascading) como cânions, gargantas e experiência.
e cachoeiras. A variante "cascading"
é conhecida como rappel
de cachoeira.
Canoagem Passeios de canoas e caiaques Não necessita técnica
(Canoeing, realizados em lagoas, lagos, rios especializada, mas apenas
cayaking) e Rafting com ou sem corredeiras, baías, acompanhamento e saber
mangues etc. Rafting é a descida nadar, além de coletes
de rios com corredeiras e pequenas salva-vidas e capacete. Canoas
cachoeiras com botes infláveis e caiaques não são baratos, mas
de estrutura reforçada. produtos nacionais são bons e
acessíveis.
Ciclismo / Passeios de bicicleta adaptadas Exige-se preparo físico e
Mountain Biking a terrenos irregulares por roteiros equipamentos de segurança
pré-determinados. Pode-se alcançar como capacetes e joelheiras.
lugares mais distantes do que
as caminhadas e com menor
esforço físico.
Caminhadas e Caminhadas simples de até 3-4 km Para a prática de longas
Travessias (Hikking não exigem preparo físico, apenas a caminhadas e travessias não
/Trekking) definição de paradas para descanso basta disposição. Tem que ter
e lazer. Trekking são caminhadas um roteiro bem definido e um
162
Elaboração do produto – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

TAB. 3 (continuação)

ALGUMAS ATIVIDADES TURÍSTICAS EM AMBIENTES NATURAIS


ATIVIDADES /
INTERESSES CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS NECESSIDADES ESPECIAIS
mais longas, de até um dia. Travessias mínimo de estrutura logística
percorrem longas distâncias, (equipamentos e vestuário),
entre duas regiões de interesse, além de preparo físico.
e podem durar de 1 a 4 dias.
Mergulho livre e O mergulho em áreas marinhas Saber nadar. Equipamentos de 3
autônomo (Diving) costeiras e em águas interiores é mergulho livre e de flutuação
/ flutuação prática já bem desenvolvida no são baratos. O de mergulho
(Snorkelling) Brasil, porém pouco explorada pelo autônomo nem tanto e necessi-
turismo. A flutuação é realizada em ta de cursos especializados.
rios e mares de águas cristalinas,
equipado apenas com máscara,
snorkell e pé de pato.
Montanhismo Caminhadas em ambientes serranos Atividades com elevados graus
e montanhosos, que podem ou não de dificuldade podem exigir
incluir atividades de escalada treinamento, equipamento e
simples ou vertical. acompanhamento específicos.
Observação Observar e conhecer planetas, estrelas Pode ser realizada mesmo
astronômica e constelações. Melhor realizado a olho nu, porém binóculos
longe de centro urbanos e em locais e telescópios amadores, assim
de amplos horizontes. Cartas celestes como instrutores especializados,
auxiliam na observação e podem podem enriquecer a experiência.
ensinar as noções básicas
de orientação geográfica.
Observação da Realizadas em todo e qualquer Especialmente para a fauna,
fauna / flora / Safari passeio, seja de barco, a cavalo ou pode-se precisar de roupas
fotográfico à pé, ou em equipamentos camufladas, técnicas de
especializados, como torres caminhadas, livros de
de observação. Exige-se técnicas identificação de animais
de interpretação ambiental com e de pegadas e equipamentos
guias naturalistas especializados como binóculos, torres de
ou guias mateiros treinados. observação e canopy walkway.
Observação Observar, identificar e estudar Necessita de equipamentos
de pássaros pássaros em seu ambiente natural. como binóculos e bons livros
(Birdwatching) Trilhas específicas para esta atividade de identificação da avifauna.
podem ser implantadas. Os pássaros Técnicas ousadas, guias
podem ter hábitos muito diferentes treinados e equipamentos
entre as diversas famílias e deve-se como torres de observação
conhecer as melhores épocas e os e passarelas suspensas (canopy
horários específicos para observá-los. walk) permitem maiores chances
de observação.

163
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

TAB. 3 (continuação)
ALGUMAS ATIVIDADES TURÍSTICAS EM AMBIENTES NATURAIS
ATIVIDADES /
INTERESSES CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS NECESSIDADES ESPECIAIS
Passeio eqüestre/ Passeios em cavalos treinados para No caso do passeio eqüestre,
Enduro eqüestre visitantes de "primeira cavalgada", não há necessidade de
de poucas horas ou de até um dia, experiência prévia, apenas
formando típicas comitivas. O cavalo de orientações gerais do guia
3 é resistente a longas caminhadas e e de proteção do sol. O enduro
proporciona uma maior interação equestre é para visitantes mais
com a paisagem. Enduro eqüestre experientes. Neste caso é preciso
é o deslocamento por roteiros mais também equipamentos
longos e acidentados, exigindo e conhecimento do roteiro.
animais mais robustos e treinados.
Pesca amadora/ Muito popular em vários países, Utilizar anzóis sem farpas machu-
esportiva ganhando muitos adeptos no Brasil. cam menos os peixes. Obedeça a
A prática da soltura do peixe após legislação local e federal, e
sua captura (pesque e solte) também obtenha a licença de pesca. Há
está crescendo. Equipamentos restrições para a época de repro-
simples e baratos são suficientes dução (nov. à março) e para o
para uma boa pescaria. tamanho máximo de captura de
algumas espécies. Deve-se evitar
as áreas de pesca de subsistência
das comunidades locais.
Visita em cavernas / A visita em cavidades naturais O Ibama exige plano de manejo
Espeleomergulho permite conhecer um ambiente da visitação e acompanhamento
único, frágil e inóspito. Algumas especializado. A fauna é
cavernas apresentam graus de extremamente sensível às
dificuldade e só devem ser alterações ambientais provocadas
exploradas com acompanhamento pela visitação. Os espeleotemas
por especialistas, pois possuem são frágeis. Exige-se certo esforço
abismos, travessias de rios e lagos físico e equipamentos, alguns
internos e até quedas d'água. não tão baratos.
Visitas às Atividades que proporcionam Estudos antropológicos e sócio-
comunidades locais ao visitante trocas de conhecimentos, ambientais são necessários para
/ tradicionais vivências e experiências culturais. se conhecer as fragilidades
Regionalismos e marcas de culturais de alguns povos,
miscigenação racial possuem grande principalmente indígenas e
interesse turístico, tais como a quilombolas. Ações de resgate e
gastronomia, a arquitetura, a música, valorização cultural podem ser
o artesanato e as vestimentas. Modos necessárias se receber visitantes de
de vida, tais como atividades de lida diferentes culturas. Planejamento
com o gado, de pesca, de fabricação participativo contribui no
de medicamentos e cosméticos preparo da comunidade e para
naturais entre outros, agregam valor ampliar os benefícios.
cultural ao roteiro ecológico.
164 FONTE: Compilado pelo Editor a partir de consulta a operadoras, especialistas, guias turísticos e guias de turismo.
Elaboração do produto – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

EXEMPLO:
O ACESSO AO ATRATIVO
A Reserva Biológica de Poço das Antas e seu entorno e o Parque Nacional Chapada dos
Veadeiros e seu entorno ficam a aproximadamente duas horas de viagem de carro
de grandes aeroportos (respectivamente aeroportos do Rio de Janeiro e de Brasília),
com vôos freqüentes de diversas procedências.
O arquipélago de Fernando de Noronha, que inclui o Parque Nacional Marinho de mesmo
nome, é acessado em aproximadamente uma hora por meio de empresas aéreas regionais
e nacionais, que oferecem vôos diários a partir de três aeroportos em capitais
do nordeste (Fortaleza, Recife e Natal). A Reserva de Desenvolvimento Sustentável 3
Mamirauá também está próxima a um aeroporto regional (cidade de Tefé). Porém, é preciso
ainda o transporte por barco por aproximadamente uma hora.
Na Estrada Parque Pantanal, o acesso é também um atrativo. Ela pode ser um meio
para se atingir as pousadas ou o próprio objetivo do roteiro: percorrer e observar
a fauna e flora pantaneira. Na Chapada dos Veadeiros, o acesso para a Vila de São Jorge
também é feito por uma estrada cênica, margeando o Parque Nacional.
Para a Pousada Aldeia dos Lagos, em Silves, o acesso é feito a partir da cidade de Manaus,
que recebe vôos diários nacionais e internacionais. O traslado, feito por vias terrestre
(locação de vans e táxis) e náutico (barco do Hotel), é mais longo, podendo levar até 5
horas. Uma opção pode ser somente via barco, o chamado Expresso, que chega pelo
Rio Amazonas em 5 horas, opção segura enquanto o turista observa a paisagem
da floresta de várzea.
Já para a Pousada Pedras Negras, na Reserva Extrativista de mesmo nome, no Vale do
Guaporé, em Rondônia, o acesso, a partir de Porto Velho, é longo e relativamente custoso,
porém muito belo e rico de cenários selvagens. Pode ser feito por via aérea e por barco, ou
diretamente por via aérea até a reserva. Porém, nas épocas de seca, o acesso pode ser via
aérea até o município de Costa Marques e o restante por barcos motorizados, observando-
se as belas paisagens naturais, com o aparecimento das praias de rio, e pernoitando-se em
acampamento selvagem no meio do caminho, conferindo um perfil de aventura no roteiro.

Passo 3 – Tempo: Quanto tempo o Passo 4 – Hospedagem: Onde –


turista deve ficar no atrativo? caso necessário – o turista
Qual é o período mínimo que o turista vai dormir?
teria que passar no lugar para apreciar os Se o atrativo requer (ou merece) mais de
encantos? Por quanto tempo se pode um dia de visita, ou se o tempo de viagem
entretê-lo, pensando no conjunto de atra- até o lugar é longo, é preciso pensar na
tivos e atividades de que se dispõe? Qual o hospedagem. Deve-se fazer um levantamen-
número ideal de dias? Se o acesso é difícil, to (ver capítulo Levantamento do Potencial
também deve-se pensar em tempo para des- Turístico – Inventário) dos hotéis/pousadas
cansar. Se o clima no local é muito quente, ou outros tipos de hospedagem nas proxim-
deve-se diminuir o ritmo dos passeios e idades, identificando suas características
atividades, aumentando-se o número de (conforto, preço, tamanho, localização,
dias de visita. Se a região tem vários atra- serviços etc.). Pode-se até chegar à con-
tivos, deve-se analisar se são concorrentes clusão que não há hospedagem de quali-
ou complementares, ou seja, se induzem o dade por perto e é necessário se hospedar
turista a ficar mais tempo na região. em alojamentos coletivos ou acampar.
165
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

EXEMPLO: técnicas ecológicas na operação, como


energia renovável, sistema de esgoto de
A DIVERSIDADE DE ATRATIVOS DE baixo impacto, reciclagem, suporte comu-
UMA REGIÃO AFETA O TEMPO DE nitário etc. (ver capítulo Infra-estrutura).
PERMANÊNCIA DO TURISTA Mesmo sabendo que o acesso e uso destas
tecnologias nem sempre é fácil, o simples
Poço das Antas pode ser feito fato do hotel ser responsável na sua gestão,
num tour de um dia (partindo oferecer mão-de-obra local capacitada,
do Rio de Janeiro), mas o turista arquitetura, gastronomia e decoração típicas
pode ser induzido a ficar mais tempo e e contribuir com projetos de conservação já
3 conhecer a RPPN Fazenda Bom Retiro. é um diferencial e deve ser preferido.
A organização para a hospedagem é um
Já o turista que vai para Mamirauá
item importante, principalmente na saída e
provavelmente vai ficar somente lá, na chegada. Elaborar rooming-lists (lista de
porque a cidade de Tefé não tem ocupação dos quartos) evita transtornos.
nenhum atrativo. Assim, o tempo Observe também se o meio de hospedagem
de permanência será definido escolhido está acostumado a trabalhar com
exclusivamente pelos atrativos grupos. Caso negativo, alguns acertos
da Reserva. No caso de Silves, prévios são necessários.
para determinados públicos pode-se
Passo 5 – Alimentação : O quê e
oferecer uma visita à Madeireira Mil, quando o turista vai comer?
em Itacoatiara, que possui certificado Em geral, o ecoturista gosta de conhecer
de manejo florestal responsável, comidas regionais, mas deve haver uma
mostrando como pode ser viável alternativa para quem tem menos disposição
a exploração madeireira na Amazônia. e espírito de aventura. Uma boa parte dos
Já no Pantanal, pode-se aproveitar ecoturistas prefere comida natural ou vege-
tariana. Não se esqueça da higiene!
a ida do visitante a Bonito (MS),
Problemas digestivos podem atrapalhar e
e convidar as operadoras a esticar deixar uma lembrança negativa, que pode
o roteiro até a Estrada-Parque. vir a ser associada ao seu produto. A apre-
sentação dos pratos e a decoração com
motivos regionais do estabelecimento
Neste caso o visitante deve ser claramente podem fazer a diferença.
informado. Caso haja nas redondezas um As refeições têm que ser planejadas com
hotel-fazenda, que também é um atrativo, o roteiro do passeio em mente. Se o grupo
pode-se mudar o roteiro preliminar que se precisa levantar muito cedo, é melhor um
tinha em mente. Se você dispuser de várias café da manhã simples (frutas e torradas) e,
opções, dê preferência àquela que, devido a mais tarde, complementar com alguma coisa
sua localização, lhe facilite o deslocamento mais substancial em forma de lanche. Apesar
aos atrativos. de que os turistas devem ser lembrados de
Em alguns casos, a construção de um levar água, o guia sempre tem que levar água
hotel ecológico, comunitário e/ou de extra para evitar desidratação. Também
arquitetura típica, pode ser decisivo para recomenda-se que o guia leve algum doce
atrair turistas, como no caso de Silves, ou chocolate para casos de hipoglicemia
Pedras Negras e Mamirauá. Embora seja um (queda no nível de açúcar no sangue).
conceito pouco difundido, deve-se dar Se o grupo vai passar o dia longe de
preferência à hospedagem em pousadas de restaurantes (ou dias, no caso de travessias),
pequeno porte (até 25-30 UH's) e que usam é necessário providenciar um box lunch (ou
166
Elaboração do produto – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

seja, um almoço simples, conhecido tam- usados em roteiros ecoturísticos. Evite levar
bém como lanche de trilha – que é levado enlatados, bebidas alcoólicas, leite em
em sacos ou caixas de papel). No Quadro 3 caixa, ovos ou perecíveis.
a seguir veja alguns alimentos geralmente

1 QUADRO 3
EXEMPLO DE ALIMENTAÇÃO MAIS COMUM EM ROTEIROS

❐ Sanduíches reforçados, preferencialmente de pão integral; 3


❐ Queijos de consistência dura;
❐ Mate, chá preto, água mineral e sucos naturais;
❐ Passas ou frutas secas;
❐ Chocolates, castanhas, amendoim e barra de cereais;
❐ Biscoitos empacotados;
❐ Frutas de consistência dura (laranja, maçã, goiaba);
❐ Carne seca, salame e presunto (para não-vegetarianos);
❐ Mel em bisnaga (preferencialmente) ou açúcar;
❐ Sopas e alimentos desidratados;
❐ Leite e café em pó, do tipo instantâneos.

FONTE: Compilado pelo Editor a partir de consulta a operadoras, especialistas, guias turísticos
e guias de turismo

Passo 6 – Quem vai guiar o grupo? ❐ Conhecimentos de primeiros socorros e


Este é um componente chave no seu de como agir em emergências.
roteiro. Um bom guia pode salvar um pro- ❐ Habilidade para se comunicar (inclusive
duto medíocre, mas um guia ruim pode falar outros idiomas se o seu público-
destruir um bom produto. O guia é respon- alvo incluir o mercado estrangeiro).
sável pela imagem do produto, é o anfitrião
do próprio projeto e da região. No caso do É lógico que, se possível, sempre deve-se
ecoturismo, o guia é um intérprete e um dar preferência aos guias locais. Além de ser
educador (ver também capítulo Interpre - um dos objetivos do ecoturismo de base
tação Ambiental) . Um guia deve ter: comunitária, os próprios turistas gostam de
ser acompanhados por gente do lugar, tais
❐ Compromisso com o projeto, com a como guias mateiros. A necessidade de con-
região e com o mínimo impacto. tratar um guia naturalista bilíngüe depende
❐ Capacidade em técnicas de condução e do seu público-alvo.
interpretação em ambiente natural e cul- Se a visita ao seu produto faz parte de
tural. um roteiro maior, o grupo de visitantes
❐ Simpatia, personalidade e capacidade de provavelmente já tem um guia que os acom-
mediar conflitos. panha. Normalmente, grupos estrangeiros
❐ Liderança e noções de relações pessoais. enviam um guia (tour conductor) que, em
❐ Conhecimentos gerais e específicos so- geral, tem seus custos dissolvidos nos preços
bre o atrativo e a região. individuais. A operadora pode então incluir
167
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

um guia local especializado para a parte do Passo 8 – Quais são as informações


roteiro realizada no seu produto. Em alguns que o turista vai receber?
casos, dependendo das características do O marketing responsável prevê que o
seu produto e do grupo, pode até ser feita turista receba informações consistentes
uma combinação entre um guia local e um antes, durante e após o tour. O primeiro
cientista ou naturalista para acompanhar o passo é providenciar a redação promocional
grupo no trecho do roteiro realizado no seu do produto e/ou roteiros, de forma a induzir
produto. o consumo e, mais importante, preparando
Se o grupo vai ser acompanhado por o visitante de forma realista para a viagem.
vários guias, podem surgir conflitos (cada A oferta de informações detalhadas e de
3 um se acha dono do grupo). É bom esclare- qualidade pode ser um diferencial para seu
cer as competências de cada um antes de concorrente. O potencial visitante deve
começar o programa, que podem ser receber ou ter acesso fácil às informações
definidas de acordo com a experiência e do seu produto (também disponíveis via
envolvimento com seu projeto. Internet) de forma bem organizada sobre:
Há falta de bons guias de ecoturismo no
mercado. Se seu produto precisa de guias e ❐ os dados gerais do destino - localização,
o mercado local não atende, vale a pena acesso, clima, características dos ecos-
manter um cadastro de guias (ou seja, o re- sistemas e das culturas locais e sua
gistro dos nomes e contatos com guias importância para a conservação (incluin-
especializados com características que do áreas protegidas, se houver, e sua
sejam adequadas ao seu produto), tanto importância) etc. Cuidado com textos
para o público estrangeiro quanto para o muito longos. Centre-se nos seus diferen-
nacional. Também pode valer a pena inve- ciais.
stir em treinamento (ver capítulo ❐ os dados do(s) roteiro(s) - duração, tras-
Capacitação). lados, serviços, atrativos e atividades
diárias (incluindo os períodos livres),
Passo 7 – São necessários vestuário, custos, formas de pagamento, o que está
equipamentos e não está incluso etc;
e materiais especiais? ❐ seu apelo de marketing e o seu diferen-
Para melhor aproveitar o atrativo, pode cial;
ser que o turista precise de equipamentos e ❐ os equipamentos e materiais (conforme
materiais especiais: binóculos para obser- item acima);
vação, máscaras e snorkel (equipamento ❐ as precauções de saúde e segurança e as
para mergulho sem garrafa de ar), roupas facilidades para atendimento médico; e
especiais, repelente de insetos etc. Alguns ❐ as orientações quanto ao compor-
deste itens podem ser vendidos ou locados tamento durante a visita (este item é fun-
pelo seu projeto (use o bom senso !), damental quando a visita incluir popu-
aumentando sua rentabilidade. Nas infor- lações indígenas ou tradicionais).
mações transmitidas ao cliente deve-se
deixar claro o quê ele deve trazer, o quê a Durante a viagem a maioria das infor-
operadora fornecerá e o quê pode ser aluga- mações são transmitidas pelo guia (ou, caso
do ou vendido no local. Segue no Quadro 4 não haja um guia, por intermédio de um
(página seguinte) um resumo dos principais Centro de Visitantes ou de trilhas interpreta-
itens que devem ser considerados em tivas – ver capítulo Interpretação
roteiros de ecoturismo, que devem ser adap- Ambiental). Eventualmente são organizadas
tados tanto para seus guias como para os palestras com meios audiovisuais. Muito
visitantes, de acordo com o perfil do atrati- úteis também são as listas de espécies ani-
vo e das atividades a serem realizadas. mais (aves, mamíferos, peixes, etc.) e de
168
Elaboração do produto – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

1 QUADRO 4
EQUIPAMENTOS E MATERIAIS MAIS COMUNS EM ROTEIROS DE ECOTURISMO

VESTUÁRIO
❐ O vestuário de guias e de ecoturistas deve atender às necessidades do ambiente.
Roupas leves, confortáveis, resistentes e ventiladas são as mais indicadas
para o nosso clima.
❐ Calçados do tipo bota e calças compridas (exceto jeans) dão maior proteção
contra arbustos, espinhos e animais peçonhentos. 3
❐ Proteja-se do sol (chapéus e bonés) e de mosquitos (camisetas de manga
comprida).
❐ Pensando-se em mudanças climáticas (chuvas e ventos), usar preferencialmente o
anorak - roupa de nylon impermeável.
❐ Em regiões de clima úmido, e em caso de travessia de rios e pernoites, leve uma
muda de roupa.
❐ Em regiões de clima frio e em caso de camping selvagem, leve malhas finas de lã,
gorro e luvas.
❐ Os calçados são relevantes. Botas de 1/2 cano com solado de borracha são as mais
usadas.
❐ As meias são igualmente importantes. É necessário em excursões de média ou
longa duração pares de meias para trocas periódicas, a fim de manter os pés secos
e confortáveis.
MATERIAIS E EQUIPAMENTOS

❐ Dependendo do roteiro, orientar os clientes na montagem de "mochila de ataque"


(mochila pequena / média de costas). Esta deve ser montada de acordo com a
duração e tipo do percurso e deve conter o essencial. Sem peso excessivo na colu -
na e mantendo suas mãos livres, o visitante ganha em conforto e segurança.
❐ O material básico, de acordo com o seu roteiro, é: cantil ou garrafa pequena de
água; saco de lixo, roupa de frio e muda de roupa (se for o caso), capa de chuva,
repelente, chapéu ou boné, protetor solar, máquina fotográfica e lanterna (com
pilhas extras), toalha pequena (em caso de cachoeiras / praias), binóculos para
observação da fauna e lanches entre outros.
❐ O material específico dos guias envolve, além de alguns itens acima: cordas, estojo
de primeiros socorros, rádio-comunicadores, lâminas (faca, canivete), mapas e bús -
sola, sal (para pressão alta) e açúcar (para hipoglicemia), fósforos e isqueiros.
❐ Em caso de pernoite em acampamento selvagem, deve-se providenciar: barracas,
redes com mosquiteiros, sacos de dormir, fogareiro, panelas e talheres, alimen-
tação para desjejum, lanches e refeições, vela, álcool em gel ou benzina, entre
outros itens.

FONTE: Compilado pelo Editor, a partir de consultas a guias de turismo, operadores e especialistas.

169
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

plantas que podem ser encontradas no difícil prevenção e/ou cura, tais como a
lugar, assim como guias de identificação malária. E o uso de rádio-comunicadores,
(guidebooks) que incluam as espécies que bem acessíveis atualmente, são de funda-
ocorrem na região. mental importância tanto na logística da
Depois de uma viagem, apostilas curtas operação, quanto em casos emergenciais.
(factsheets), que resumem as informações Telefones celulares via satélite, ainda muito
mais importantes dadas pelo guia, são muito caros, podem ser um item importante em
apreciadas. É importante ser objetivo nas destinos isolados, principalmente na região
informações (deve-se evitar frases como “o amazônica.
lugar com o maior ....... do mundo”), O turista deve ter um seguro de viagem e
3 respeitar a inteligência das pessoas e assinar um termo de responsabilidade para
chamar a atenção para semelhanças e dife- evitar problemas sobre quem paga a conta de
renças com ecossistemas que o turista já um resgate ou de um tratamento médico. Este
conhece (por exemplo, no Vale do Guaporé, Termo de Responsabilidade, que pode ser
uma zona de transição entre o Pantanal e a feito na forma de um contrato de prestação
Amazônia, podem-se apontar os elementos de serviços, faz-se também necessário quan-
ou espécies que são de um ou de outro do o roteiro apresentar certos graus de difi-
ecossistema). culdade (médio/alto), quando envolver a visi-
ta a ambientes selvagens ou quando forem
Passo 9 – Não esquecer do conforto realizadas atividades de esportes na natureza,
e segurança do turista e de com perfil radical ou não. Após as devidas
outras responsabilidades explicações, no ato da venda, dos cuidados e
No desenho do produto, sempre devem do comportamento necessário para o roteiro,
ser considerados o conforto e a segurança o termo de responsabilidade pode ser uma
do turista. Essas considerações influirão na boa forma de resguardar a responsabilidade
escolha de transporte, hospedagem, alimen- dos gerentes do projeto sobre os atos inade-
tação, guias, equipamentos e até nas infor- quados dos visitantes e suas conseqüências.
mações que serão transmitidas ao turista. Mas lembrem-se de que as orientações sobre
Essas escolhas poderão refletir no custo do o comportamento e a segurança do visitante
produto. devem ser ressaltadas em todos os momentos
Lembre-se que a maioria dos ecoturistas que o guia julgar necessário, em função das
gosta de uma aventura na selva, mas depois atividades desenvolvidas ou do momento do
quer água mineral e tomar um banho roteiro.
quente. O ecoturista gosta de ver animais O guia deve receber um treinamento em
selvagens, mas pode detestar uma nuvem de pronto-socorrismo (Suporte Básico de Vida)
mosquitos ou morrer de medo de contrair e levar um kit básico de primeiros socorros
uma doença tropical. Deve-se pensar nos nas viagens, de acordo com as condições do
problemas de segurança ou imprevistos local. Por fim, o ideal é providenciar que o
(picadas de insetos, cobras, acidentes, pro- visitante preencha, previamente à realiza-
blemas particulares de saúde) que podem ção da viagem, de preferência no ato de
ocorrer, e ter preparado um plano de ação fechamento da compra, uma ficha de saúde
emergencial caso ocorram (médico/hospital (ver Quadro 6) a qual deve ser mantida com
mais próximo, como se chega lá). Deve-se a equipe durante todo o roteiro. Pode-se
ponderar se vale a pena levar turistas para inserir esta ficha no verso do Termo de
regiões com altos índices de doenças de Responsabilidade.

170
Elaboração do produto – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

1 QUADRO 5
MODELO SIMPLIFICADO DE FICHA DE SAÚDE

NOME: _______________________________________________________________________
IDADE: ____ ROTEIRO: _______________ DATA: ____________________
❐ Sofre de algum tipo de alergia ?
( ) Medicamento. Quais?
______________________________________________________________________________
3
( ) Alimentos. Quais?
______________________________________________________________________________
( ) Insetos. Quais ?
______________________________________________________________________________
( ) Outros. Quais ?
______________________________________________________________________________
❐ Está tomando algum medicamento atualmente ? ( ) não ( ) sim Qual?
______________________________________________________________________________
❐ Sofre, atualmente, de algum problema de saúde ? ( ) não ( ) sim Qual?
______________________________________________________________________________
❐ Sofreu intervenção cirúrgica recentemente ? ( ) não ( ) sim Qual?
______________________________________________________________________________
❐ Recomendação para atividade física: ( ) normal ( ) moderada
❐ Sabe nadar? ( ) sim ( ) não ❐ Tipo de sangue: _____
❐ Sofre de asma? ( ) sim ( ) não • Tratamento:___________________________________
❐ Sofre de bronquite? ( ) sim ( ) não • Tratamento:_______________________________
❐ Em caso de emergência, comunicar-se com:
Nome______________________________________ Telefones ( ) ___________________
❐ Em caso de acidente ou consulta médica:
( ) convênio ou assistência médica: ______________________________________
N.º sócio ________________
( ) médico particular: __________________________________________________
Telefones ( ) ____________________

FONTE: Compilado pelo Editor a partir de consulta a operadoras e especialistas.

171
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

3. Preço: Quanto Cobrar ? para uma melhor colocação no mercado.


Mesmo que o destino e o produto sejam
ara estabelecer um preço para seu pro- bem conhecidos e que o fornecedor tenha
P duto deve-se considerar três pontos de
vista:
recursos suficientes para promoção, as ope-
radoras de turismo facilitam e aumentam a
capacidade de distribuição do produto para
❐ Qual é o valor do produto para o cliente? o público-alvo desejado.
❐ Quanto a concorrência está cobrando Em mercados onde o mesmo produto
por produtos semelhantes? pode ser vendido tanto diretamente do
❐ Quais são os custos? revendedor como por meio de diferentes
3 revendedores, é comum o uso de preços
O mais fácil é verificar o preço da con- comissionados. Para que isto funcione o
corrência. Isto pode ser feito por meio de vi- fornecedor do produto estabelece:
sitas, levantamento de anúncios, Internet etc. - um preço net - é o preço líquido,
Se você acha que o seu produto oferece sem comissão, ou seja, é o mínimo
alguma coisa a mais, o seu preço pode ter que o fornecedor quer receber por
um prêmio acima do preço da concorrência. turista, e
Por outro lado, se seu concorrente é forte, e - um preço balcão – é o preço de
você estiver iniciando suas atividades, uma tabela, onde está inserido o valor da
política de preços promocionais, oferecendo comissão. Esta pode ser destinada ao
mais por menor custo (e tendo capacidade revendedor final do seu produto, por
para isto), pode lhe dar a chance de atrair e exemplo, o operador, ou ser absorvi-
formar seu público inicial. do pelo fornecedor, no caso de ele ter
Sem os parâmetros da concorrência, o efetuado a venda diretamente ao tu-
mais difícil será estabelecer o valor para o rista.
seu cliente. Neste caso, pense também no
poder de compra do cliente e nas suas Nesse sistema, teoricamente, o turista
despesas com outras formas de lazer, como sempre pagaria o mesmo preço (o preço
por exemplo quanto custa ir a um parque de balcão) por um produto, independente de
diversões, quanto se gasta para ir ao comprá-lo do fornecedor ou de um revende-
zoológico, à praia no fim-de-semana etc. dor. O fornecedor então vende o seu produ-
Em todos os casos, é preciso fazer um cál- to ao preço balcão. O valor da comissão
culo dos custos. A diferença entre o preço que ele repassa a cada revendedor é acor-
de venda e a base de custos vai determinar dado entre as partes e varia geralmente de
a rentabilidade do negócio. O cálculo de 10 a 30%, no máximo, dependendo do
custos e preços e a análise de viabilidade esforço de venda que o revendedor em
são abordados em detalhes no capítulo questão faz para vender o produto. Ou seja,
Viabilidade Econômica. Seguem abaixo as operadoras preferenciais recebem uma
duas importantes considerações: o comis- comissão máxima de 30%, mas em troca
sionamento e a política de preços. eles destacam o produto em feiras e em con-
tatos com seus clientes.
[ Comissionamento No mundo real nem o fornecedor nem
No mercado de turismo há geralmente os revendedores aderem fielmente a esse
vários possíveis intermediários ou revende- sistema. O resultado disso é que o turista
dores – operadoras e agências de turismo – pode comprar o mesmo pacote por preços
que podem vender o mesmo produto para o diferentes (um teste simples é perguntar a
turista. Apesar do fornecedor poder vender seus vizinhos no avião quanto eles pagaram
o seu produto diretamente aos turistas, o uso pela passagem para um mesmo percurso).
de operadoras de turismo é fundamental Alguns problemas podem surgir devido ao
172
Elaboração do produto – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

não cumprimento do sistema de comissio- revendedor, ou seja, o valor da comissão em


namento. Por exemplo, o revendedor colo- moeda é calculado com base no preço total
ca um preço mais alto que o preço balcão pago pelo turista pelo produto (preço bal -
combinado, prejudicando o seu fornecedor, cão). Deste valor, o revendedor retira sua
ou o fornecedor dá um preço mais baixo comissão e repassa o restante (preço net)
para o turista que entra em contato direto, para o fornecedor. Por isso, o cálculo do
prejudicando assim seu revendedor. A preço balcão partindo do preço net é feito
comissão é calculada do ponto de vista do da seguinte maneira:

TABELA 4 3
FÓRMULA PARA CALCULAR A COMISSÃO E O PREÇO BALCÃO

DESCRIÇÃO FÓRMULA EXEMPLO


Preço net: A US$ 40.00
Comissão em porcentagem: B (em %) 20%
Preço balcão: C = A x (100% + B%) 40.00 x 1,2 = US$ 50.00
Preço net: A = C x (100% – B%) 50 x 0,8 = US$ 40.00
Comissão em moeda D=C–A US$ 10.00

[ Política de Preços por exemplo, que coincidam com a rea-


É bom pensar e estabelecer uma política lização de eventos culturais locais (fol-
de preços. Seguem algumas dicas: clóricos, gastronômicos, artísticos e
musicais) que se quer resgatar e que são
❐ Tabelas de preços complicadas confundem. promovidos pelo seu projeto;
❐ Preços com valores arredondados são ❐ quando se quer atrair grupos fechados,
mais fáceis de lembrar. de interesses específicos, por exemplo,
❐ Freqüentes mudanças de preços podem de estudantes, realizadores de eventos
resultar em perda de clientes. de negócios ou profissionais (oficinas,
❐ Às vezes, é usado o conceito loss leader, encontros), grupos de pesca esportiva, de
ou seja, um produto que se vende com observadores de pássaros, de pesqui-
prejuízo ou com margem baixa de lucro a sadores etc;
fim de atrair interesse por outros produtos. ❐ quando se quer apresentar um novo pro-
❐ Para produtos com altos custos fixos (ver duto ao mercado.
capítulo Viabilidade Econômica), é
comum dar descontos de baixa estação, Uma vez definidos o produto e seu
visando atrair turistas na baixa tempora- preço, o próximo passo é vendê-lo.
da e não ficar sem entrada para cobrir, Primeiro, deve-se torná-lo acessível ao
ao menos, parte dos custos fixos. público-alvo, de forma que se possa facil-
❐ É preciso monitorar os seus custos mente obter informações, fazer reservas e
para avaliar ajustes de preços. pagamentos. Depois, deve-se fazer propa-
ganda, divulgando o produto e estimulando
Para o mercado nacional e regional, pro- o público a comprá-lo. As decisões sobre
moções de preços são sempre bem-vindas. distribuição e propaganda estão intima-
Alguns casos em que se pode praticá-las mente ligadas. Estes dois temas serão trata-
sem causar confusões no mercado são: dos nos pontos a seguir.
❐ quando da elaboração de novos pacotes,
173
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

4. Distribuição: etc.; esta opção foi muito facilitada pelo


Como chegar até o público-alvo crescimento do uso da internet) ou usa inter-
mediários (ou revendedores). Um cliente
m um mundo ideal não haveria inter- usa intermediários porque, se fizer tudo so-
E mediários e a promoção seria feita boca
a boca: o fornecedor do produto conheceria
zinho, gastará muito tempo e nem sempre
conseguirá bons preços por falta de poder
cada indivíduo de seu público-alvo pessoal- de negociação. Se o turista não sabe muito
mente, e o público saberia exatamente que bem o que quer, provavelmente usará uma
tipo de produto desejaria comprar e onde agência de viagem (por exemplo, American
achá-lo. Além disso, os dois lados teriam Express), que tem vários produtos a oferecer.
3 confiança total um no outro nessa Se ele gosta de um certo tipo de viagem,
transação. Contudo, uma vez que o público- pode ter preferência por uma operadora de
alvo está espalhado no Brasil e no mundo, ecoturismo especializada (por exemplo,
os custos de marketing aumentam com a Mountain Travel/Sobek). Se ele tem certos
distância entre o fornecedor do produto e o interesses ou quer atividades específicas, é
possível comprador. provável que seja sócio de uma ONG (por
Parte das operadoras nacionais de eco- exemplo, o WWF) ou alguma instituição
turismo que vendem para o público (por exemplo, a American Association of
brasileiro divulgam seus produtos por meio Museums), que organizam viagens para seus
de pequenos anúncios em revistas e jornais membros. No mercado internacional de tu-
(os tijolos), e por meio da propaganda boca rismo, o número de intermediários e suas
a boca. Também montam um banco de diferentes especializações pode tornar-se
dados de clientes, para quem enviam, com bastante grande.
alguma freqüência, uma mala direta com o A agência de viagem emissora passa a
novo programa da operadora, num folheto reserva para a operadora que realmente está
simples. organizando a viagem (ou a uma agência
Mas se o público-alvo estiver no exterior, associada no Brasil, que passa para ope-
geralmente não há dados a seu respeito, ou radoras locais).
meios de encontrá-lo. O custo de mala dire- Uma típica operadora emissora oferece
ta para o exterior é mais alto (custo do cor- viagens com datas fixas no mundo inteiro e
reio, de um folheto bem produzido e publica isso anualmente (ou até com maior
traduções, se for necessário), e mesmo se o freqüência) num catálogo muito bem pro-
cliente se interessar, é complicado fazer duzido, ilustrado com fotos e mapas, que é
reservas e pagamento. Então, os custos de enviado por meio de mala direta, ou a pedi-
marketing serão muito altos com pouca do, ao seu público-alvo. Uma equipe de
chance de um bom retorno. atendimento dá maiores informações para
A saída é trabalhar com intermediários todo o mundo via telefone e anota as reser-
que já têm acesso a esse público-alvo, pois vas e dados específicos sobre o turista. Os
os custos fixos de marketing serão baixos e clientes que fizerem reservas recebem infor-
os custos variáveis serão pagos por meio de mações mais detalhadas sobre a viagem.
comissões (ver sobre custos fixos e variáveis Hoje em dia, uma importante fonte de infor-
no capítulo Viabilidade Econômica). mações é a internet, principalmente no
No Fluxograma 2 são mostrados muitos exterior.
caminhos para que o seu produto de ecotu- Essa viagem é subcontratada ou con-
rismo chegue ao público-alvo no exterior. tratada diretamente a uma operadora. No
Um indivíduo que quer fazer uma viagem caso de uma viagem para diferentes regiões
de ecoturismo no Brasil tem duas opções: do Brasil ou viagem mista (turismo geral /
ou ele faz tudo sozinho (pesquisa aonde ir, ecoturismo), contrata-se uma grande agên-
planeja a viagem, faz reservas e pagamentos cia brasileira. A agência subcontratada ou
174
Elaboração do produto – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

FLUXOGRAMA 2
O CAMINHO DO CLIENTE NO EXTERIOR ATÉ O SEU PRODUTO

UNIVERSO DE ECOTURISTAS

Observadores de Pássaros Mochileiros Terceira Idade..


Mergulhadores Orquidófilos Naturalistas. 3
Crianças Trekkers Turista
etc...

Agência de viagem

Operadora OnG Conservação


de turismo Hobby Instituição

Agência de viagem

Operadora
de turismo

P R O D U TO

175
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

contratada repassa a operação para as dife- rior, mas um produto ou programa no esta-
rentes operadoras dos produtos. A subcon- do do Amapá, um destino em desenvolvi-
tratada já conhece as datas de viagens, mas mento, apesar de estar na Amazônia, é uma
só recebe a confirmação se tiver um grupo incógnita para a maioria dos viajantes.
mínimo. Para tornar um lugar conhecido, a
Se o fluxo de turistas aumenta muito, fica imprensa tem um papel muito importante.
interessante para ambas as pontas cortar Uma reportagem ou um documentário na
caminho dispensando intermediários, mas televisão, um artigo numa revista ou jornal
existe uma certa ética em não roubar podem ter grande impacto. Deve-se lem-
clientes de outras agências, visto que a brar, no entanto, que jornalistas são inde-
3 estrutura de comissões foi criada para evitar pendentes e vão escrever o que pensarem a
erosão de preços. É importante ressaltar que respeito do atrativo, bem ou mal.
com o recurso da internet (que funciona Também vale mencionar que, se por um
como um boca-a-boca porém em meio lado um lugar conhecido ajuda a vender o
eletrônico numa comunidade global) tem produto, por outro ele desperta o interesse
havido mudanças nesse cenário. de concorrentes.
Em todos os casos, sempre aproveite
5. Promoção: para destacar o seu principal diferencial.
Como atrair o público-alvo Seguem abaixo alguns comentários sobre os
meios de promoção:
promoção do produto depende do ca-
A minho até o cliente final. Se houver a
decisão de vender o produto para um inter-
a) O boca-a-boca
É o melhor tipo de promoção, porque as
mediário, a promoção deve ser dirigida a pessoas confiam nos amigos. É o ideal para
esse cliente, em geral “atacadista”, e não ao quem vende direto para o cliente final. Um
ecoturista. A escolha do melhor inter- projeto de conservação tem uma rede de
mediário dependerá do tipo de produto: se “amigos” em forma de organizações par-
for uma caminhada de meio dia no Jardim ceiras, consultores, visitantes e simpati-
Botânico do Rio de Janeiro, deve-se vender zantes. Uma outra forma de boca-a-boca
para agências receptivas no Rio; se for uma são os guias de viagem (impressos) para via-
expedição de duas semanas para subir o jantes independentes, inserindo seu produto
Monte Roraima, deve-se vender para uma em guias como o Lonely Planet Brazil Travel
operadora especializada em montanhismo. Survival Kit, The South American Handbook
Quem optar por vender para o cliente no exterior. Também são mantidos sites na
final, deverá investir em uma loja própria, internet para troca de experiências entre via-
em mala direta, em folhetos de produção jantes (por exemplo, o Thorn Tree na
elaborada e em anúncios. Para vender a um www.lonelyplanet.com). No Brasil, vale a
intermediário, deve-se investir em mala pena mandar informações para a Quatro
direta específica, apostilas práticas, Rodas (Guia Brasil, Guia de Turismo
Famtours e contatos pessoais. Ecológico e Brasil: Viajar Bem e Barato) e
Não se deve esquecer que o atrativo para o Guia Phillips.
deve chegar ao conhecimento do mercado,
caso o destino não seja conhecido. O turista b) Imprensa
que viaja não gosta de voltar e dizer que foi A imprensa é um tipo de boca-a-boca
para determinado lugar que não despertou com alcance muito maior. Pode ser muito útil
interesse ou reconhecimento nos seus para familiarizar o público com um destino e
ouvintes. Na terminologia de marketing, o ajudar a divulgar o produto, o nome de uma
destino precisa de uma marca. A Amazônia operadora ou de um hotel. Mas tem que ser
já tem uma marca forte no Brasil e no exte- bem usado e dosado. A imprensa pode
176
Elaboração do produto – P LANEJAMENTO ESTRATÉGICO

provocar uma demanda além da capacidade renovar contatos já estabelecidos. Muitos


de um destino ou atrair um público indeseja- congressos e feiras são organizados anual-
do. Um artigo em jornal com alcance mente, e muitos são perda de tempo. Vale a
nacional ou um espaço no Jornal Nacional pena se informar com antecedência sobre
podem resultar em muitos telefonemas de os mais adequados e pedir opinião a alguém
turistas brasileiros individuais para uma ope- que já conhece. Neste caso, valem também
radora voltada para grupos de estrangeiros, as parcerias com seus fornecedores.
frustrando ambos os lados.
Vale a pena entrar em contato com as e) Visitas
revistas especializadas como Caminhos da Na maior parte do tempo a comunicação
Terra, Horizonte Geográfico, Família com seus clientes revendedores é feita pela 3
Aventura, Outdoor Travel, Mares do Sul, internet ou por fax e telefone. Assim, visitas
Ecotour entre outras. E também, caso tenha pessoais são importantes para se estabelecer
fôlego financeiro, com revistas que tratam contato pessoal, discutir novos produtos,
de temas ambientais, como a Eco-21, possíveis problemas, comissionamentos,
Ecologia e Desenvolvimento, Ciência Hoje, parcerias em promoções etc.
National Geografic entre outras.
f) Mala direta
c) Folhetos O resultado de uma mala direta está li-
Para investir em material impresso deve- gado à qualidade de seu banco de dados, a
se ponderar a respeito do público-alvo, cus- outras atividades de promoção (como um
tos e qualidade. Hoje em dia, com um com- artigo no jornal, um anúncio) e à con-
putador, um scanner e uma impressora co- tinuidade do contato. No caso de revende-
lorida já é possível fazer folhetos simples e dores, o envio de uma mala direta pode ser
bem elaborados. Para operadoras peque- usado para marcar entrevistas para esse fim.
nas, um folheto simples é muito útil na Montar malas diretas é um exercício diário
venda a turistas individuais (direto ou por nos negócios do turismo. Cadastre todos os
intermédio de uma agência). Também pode seus clientes. E por qualquer via de comuni-
servir para quem vende por meio de cação que lhe chegar interessados (fone,
revendedores que já produzem seu próprio balcão, internet etc), não perca a oportu-
catálogo. Uma operadora que tem uma nidade de cadastrá-los para formar sua
grande variedade de produtos ou um hotel própria mala direta.
de porte já devem pensar num folheto de
melhor qualidade. Uma boa dica para g) Anúncios
baixar custos é preparar folhetos em parce- Anúncios podem ser úteis para divulgar
ria com seus fornecedores, tais como pou- o nome do produto e ganhar credibilidade.
sadeiros, restaurantes, empresas de trans- Como sempre, deve-se pensar no custo e no
portes, operadores etc. Ou então, se for público-alvo, assim como em possíveis
possível e se quiser promover uma região parcerias, antes de decidir por uma forma
mais ampla, produzir folhetos junto com de anúncio e qual tipo de revista ou jornal
outros empreendedores turísticos da região, (página na Veja vs. tijolo nos cadernos de
como por exemplo, uma associação de viagens).
pousadeiros da Estrada Transpantaneira.
h) Internet
d) Feiras e Congressos A internet já está mudando o mundo do
Participar de feiras e congressos é uma turismo, que é o segundo produto mais
maneira de conhecer e se manter informado comercializado na rede mundial de com-
sobre o mercado (clientes e concorrentes). putadores. Nos Estados Unidos, 20% dos
Se já é uma operadora conhecida, poderá passeios já são comercializados por inter-
177
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

médio desse canal. A internet ajuda a cortar O WWF-Brasil e parceiros criaram o site
caminho entre o fornecedor e o cliente final www.turismocomunitario.org.br especifica-
e dificulta a vida dos intermediários de mente para abrigar e divulgar projetos de
informações (agências). turismo de base local, possuindo ainda bi-
A possibilidade de investir em uma blioteca de assuntos de interesse e mecanis-
homepage e em sistemas para garantir reser- mos de trocas de experiências entre projetos.
vas on-line deve ser considerada. Porém, Participar das mais importantes listas de dis-
deve-se lembrar que vender pela internet é cussão eletrônicas nacionais (Rede Brasileira
um negócio que envolve confiança. O de Ecoturismo) e internacionais (Green
cliente precisa acreditar que por detrás do Travel e Green Tour), enviando freqüente-
3 mundo virtual que lhe é mostrado há uma mente notícias e releases sobre as novidades
realidade correspondente. Se isso não acon- de seu produto, pode garantir uma boa opor-
tecer, ele não se sentirá seguro para fornecer tunidade de promoção. Porém, procure co-
o número de seu cartão de crédito. nhecer os critérios de participação estabele-
A Internet também pode ser usada para cidos por seus moderadores.
um boca-a-boca eletrônico. As famosas car- Por fim, veja no Quadro 6, na página
tas em rede podem ser aplicadas também seguinte, algumas informações específicas
para promoção. Mande uma carta sobre o para se montar uma página eletrônica efi-
seu novo produto para cinco amigos e peça- ciente sobre seu projeto na Internet.
lhes que a reenviem para outros cinco.
1 QUADRO 6
COMO MONTAR E GERENCIR UM BOM WEBSITE PARA O ECOTURISMO

Ter um website (literalmente, sítio na teia) na internet (rede mundial interligada


de computadores) para promover e distribuir seu negócio em ecoturismo pode ser
uma boa alternativa para tornar seu produto conhecido e, consequentemente,
incrementar os seus rendimentos.
Cerca de 20 milhões de lares brasileiros possuem computador, e 14 milhões
de brasileiros possuem acesso à internet (IBGE, 2002). E, segundo pesquisas recentes, quase
75% destes são das classes sociais A e B, possuem em média 33 anos,
19,7% já compraram viagens e 15,2% não comprariam.
Estes números são muito mais significativos nos países da Europa e dos EUA.
Nos EUA são cerca de 85 milhões de internautas. De acordo com dados de pesquisa
da entidade norte-americana TIA (Travel Industry Association), 59 milhões de viajantes
utilizaram a internet em 2000, sendo que 25 milhões destes efetivaram algum tipo
de compra, porém 84% foram de bilhetes aéreos.
Mesmo que não efetuem compras pela internet, a função de um site como fonte
de pesquisa pode ser, em muitos casos, decisivo. Para ter um site de sucesso e eficiente, veja
algumas dicas:

u entre montar uma página rústica, sem planejamento e pecando em sua manutenção
e optar por não montá-la, fique com a segunda opção;
u cuide para escolher bem o endereço de seu site, exatamente o nome que vem após
o "www". Evite nomes cumpridos demais (p. ex. www.ecoturismoeaventura.com.br).
Abreviações também nada significam para identificar seu produto, a não ser que
sejam marcas já conhecidas (como www.wwf.org.br). Se puder vincular o endereço
178
Elaboração do produto – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

1 QUADRO 6 (continuação)
COMO MONTAR E GERENCIR UM BOM WEBSITE PARA O ECOTURISMO

diretamente ao nome principal de seu produto, fica mais fácil para lembrar (p. ex.
www.aldeiadoslagos.com.br);
u as terminações de seu endereço podem ser variadas. Empresas comerciais devem
registrar-se com terminação ".com". No caso do turismo as empresas podem optar
por ".tur";
u pode-se ainda optar ou não por acrescentar a terminação ".br" ao endereço. Para
optar, deve-se contatar a Fapesp (www.fapesp.br) único órgão de registro no Brasil. 3
Os preços, em 2002, são de R$ 40,00, mais uma anuidade de R$ 40,00.;
u no caso das terminações ".com", sem o ".br", algumas empresas cobram algo em
torno de R$ 70,00 pelos dois primeiros anos e uma anuidade de R$ 35,00 para os
anos seguintes;
u o website possui um custo de construção das páginas, feito por agências
de propaganda, estúdios de design ou outras empresas especializadas.
Além disso há o custo de manutenção técnica e do serviço de hospedagem em servi -
dores, empresas que a sustentam na rede mundial. Recomenda-se fazer uma
pesquisa de preços e de qualidade dos serviços a serem contratados;
u identifique um funcionário para cuidar da manutenção mensal do seu site. O mesmo
funcionário pode ser o responsável pelo envio de releases e jornais eletrônicos (men-
sagens específicas dos produtos e novidades de seu projeto) para ampla divulgação,
assim como pelo tratamento e respostas às mensagens de solicitação de informações;
-u Se possuir pessoal especializado em informática, elabore formulários de preenchi -
mento no próprio site como forma de melhor organizar os interesses e as solicitações
do visitantes virtuais, medir a sua eficiência e iniciar um banco de dados (mailing list)
eletrônico.
u Pode-se ainda estabelecer um sistema de reserva on-line, mas o processo e a
manutenção são mais complexos, correndo-se o risco de permitir o chamado over -
booking (vender mais do que a capacidade do tour ou da hospedagem);
u Visite-o freqüentemente, assim como visite e examine regularmente sites de projetos
de ecoturismo concorrentes;
u Insira seu site nos serviços especializados de busca na internet, utilizando palavras
chaves para fácil identificação dos internautas (ecoturismo, turismo comunitário, tu-
rismo e meio ambiente etc)

Por fim, mesmo com a tendência de aumento do uso da internet para o turismo,
nada substitui os contatos pessoais. Profissionais de turismo bem capacitados vão continuar
sendo os melhores instrumento de promoção e venda de seus produtos.

FONTE: Organizado pelo Editor, a partir de consultas a especialistas.

179
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

6. O plano de marketing indicação de custos ou preços reais.


Quaisquer decisões sobre marketing têm
plano de marketing tem como objetivo que contemplar o retorno financeiro. Para
O vender o produto ao cliente da forma
mais eficaz possível. A premissa é a de que
dar um exemplo simples :

existe um público-alvo bastante grande para ❐ O tour tem uma margem de lucro de
comprar o produto. O marketing mix US$ 50 por pessoa.
(decisões sobre produto, preço, distribuição ❐ O congresso custa US$ 5.000 e deve ren-
e promoção) deve ser coerente e casar com der 100 novos clientes para compensar o
o perfil do público-alvo. Além disso, o plano investimento (US$ 5.000 / 50 = 100). Para
3 de marketing deve ter objetivos quantifica- ter um retorno de 20% (US$ 6.000 divi-
dos, um cronograma, um orçamento e um didos por US$ 5.000) deve render 120
cálculo de retorno. novos clientes (US$ 6.000 / 50 = 120).
A seguir, apresentamos um exemplo sim-
ples, baseado no produto e preço dese- No capítulo Viabilidade Econômica a
nhados. Os números usados são apenas parte financeira é abordada em detalhes.
para ilustrar e não devem ser usados como

EXEMPLO:
DEFININDO OS OBJETIVOS DO MARKETING MIX
ITEM DESCRIÇÃO OBJETIVOS QUANTIFICADOS

Público-Alvo Ecoturistas americanos 800 turistas (1,6% do mercado)


e europeus: mercado total por ano até o final do ano 2
de 50.000
Clientes e Distribuição – Operadoras Estrangeiras – 10 operadoras
(total no cadastro
do fornecedor: 200)
– Agências Receptivas – 35 agências que vendem o
(total no cadastro produto
do fornecedor: 1000)
Produto Tour de trekking 2D/1N Nível de satisfação do turista:
(dois dias/uma noite) 80% bom/excelente
Preço Net médio para – US$ 250, margem US$ 50
o Cliente final/Comissão – 20% de comissão
Promoção – Viagem ao exterior/ – Investimento de US$ 5000
congressos
– Famtours – Investimento de US$ 5000
– Folhetos/Mala direta – Investimento de US$ 3000

180
Elaboração do produto – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

No cronograma de implantação deve-se


quantificar suas ações e metas no tempo.

EXEMPLO:

CRONOGRAMA DE IMPLANTAÇÃO DO PLANO DE MARKETING


PERÍODO DESCRIÇÃO OBJETIVOS QUANTIFICADOS
Semana 1 Mala direta Agências Receptivas 1000 agências
Semana 2 Famtour Imprensa 10 participantes
Follow-up da mala direta 3
Convites para Famtour para agências
Semana 3 Famtour para agências 10 participantes
Semana 4 Primeiros artigos na imprensa
Mês 2 Mala direta Operadoras Emissoras. Follow-up 150 operadoras
(manutenção de contatos), planejar viagem ao
exterior
Mês 4 Viagem exterior Visita a 20 operadoras
Mês 6 Tours realizados 5 roteiros/50 turistas
Convidar jornalistas/agências/operadoras para Faturamento US$ 7.500
participar de viagens planejadas
PERÍODO DESCRIÇÃO OBJETIVOS QUANTIFICADOS
Ano 1 Tours realizados
10 tours/100 turistas
Follow-up Agências/Operadoras
Faturamento US$ 25.000
18 meses Tours realizados
30 tours/300 turistas
Faturamento US$ 75.000
Ano 2 Tours realizados 80 tours/800 turistas
Faturamento US$ 200.000

7. Produto e marketing muito trabalho e trata-se de atividade espe-


de ecoturismo para projeto cializada, em um mercado bastante dinâmi-
de conservação co. Além disso, mesmo tratando-se de um
projeto de conservação, sem fins meramente
que muda no processo de elaboração lucrativos, a operação de ecoturismo é uma
O do produto e marketing no caso de um
projeto de conservação? Nesse caso é muito
atividade comercial que deve ser viável finan-
ceiramente (ou seja, gerar lucros, que no caso
importante a participação dos responsáveis serão revertidos para as atividades de conser-
pelo projeto no desenvolvimento do produ- vação). Para tanto, o projeto deve gerenciar
to. Um projeto de conservação pode mudar uma operação profissional do ecoturismo,
a ênfase em algumas fases desse processo. mantendo-se atualizada sobre o mercado.
Assim, em geral é melhor passar a tarefa
O projeto pode ou de ve operar para quem vive disso. Uma operadora de
diretamente o ecoturismo? ecoturismo já tem experiência em montar
Desenvolver, vender e operar roteiros dá roteiros, já tem um público-alvo, sabe orga-
181
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

nizar os grupos e está disposta a investir. Isso conservação em busca de fundos extras.
implica a necessidade de uma avaliação
sobre a opção por serviços de operadores, e [ Como avaliar operadores
quais seriam eles. responsáveis e estabelecer
Em alguns casos (por exemplo, lugares boas parcerias
com baixa capacidade de carga) é impor- É normal que a operadora e os respon-
tante limitar o número de operadoras autori- sáveis pelo projeto de conservação tenham
zadas. Ter mais de uma operadora é bom visões e expectativas bem diferentes das
para incentivar a concorrência, porém um possibilidades de operação do ecoturismo.
número grande pode gerar uma carga Na primeira reunião, cada parte deve expor
3 administrativa alta para o projeto. o seu trabalho e suas expectativas. Avalie,
por meio do Quadro 7 a seguir, as oportu-
[ Contato inicial entre operadora nidades de formar parcerias com operadores
de ecoturismo e o projeto de ecoturismo. A avaliação envolve tanto
de conservação uma análise da qualidade de serviços e da
A iniciativa do contato pode partir tanto eficiência comercial do futuro parceiro,
da operadora de ecoturismo, que está vendo como sua postura em adotar os princípios
uma oportunidade, quanto do projeto de do ecoturismo.

1 QUADRO 7
AVALIAÇÃO PARA ESTABELECIMENTO DE PARCERIAS COMERCIAIS

ITENS DE AVALIAÇÃO PARCEIRO A PARCEIRO B


Nesta avaliação, busque o maior detalhamento possível. Em alguns dos itens abaixo, basta atribuir
valores como "alto, médio ou baixo", "sim ou não" ou ainda "bom, regular e ruim".

Tempo de serviço e volume de negócios


Perfil e qualidade dos programas / roteiros
Perfil e extensão do marketing
Qualidade dos catálogos
Referências de outros operadores e clientes
Adota Código de Ética ou Conduta empresarial
Experiência e reputação em baixo impacto
Envolvimento e benefícios à comunidade local
Obtenção de serviços e suprimentos locais
Guias qualificados e instruídos
Apoio à conservação ambiental
Atenção à questão do lixo,
energia, água e saneamento
Outras Informações
182
Elaboração do produto – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

[ Discussões preliminares sobre informações dadas pelo projeto, a operado-


as possibilidades do ecoturismo ra elabora seus informativos para guias,
Se a conclusão da análise anterior é de clientes e turistas. Com base no cálculo de
que há uma base comum (filosófica e/ou custos de fornecedores de transporte e em
oportunidade comercial) para trabalhar, os preços finais aceitáveis para o turista, deve
seguintes aspectos têm que ser discutidos ser determinada a taxa de contribuição para
em maior profundidade: o projeto de conservação.

❐ Quais são as partes envolvidas? [ Operação Demonstrativa


❐ Quais podem ser os benefícios para cada É sempre recomendável fazer um teste
parte? operacional com um grupo de amigos e 3
❐ Quais são os riscos e restrições de cada conhecidos, que tenham o perfil do públi-
parte? co-alvo, para verificar a logística e o con-
❐ Quais poderiam ser os clientes – teúdo do tour. A operação demonstrativa
público-alvo? pode ser feita também com uma operadora
❐ Qual é (ou como podemos determinar) a que seja cliente freqüente, desde que previ-
capacidade de carga ou os limites amente informada, e com a participação de
aceitáveis de mudança ? um guia experiente, que saiba lidar com
❐ Qual é a carga de trabalho e o envolvi- imprevistos.
mento de cada parte no desenvolvimento e
promoção do produto? [ Marketing
❐ Estimativas (metas, resultados) para No marketing é importante não esquecer
resultados e contribuições para o projeto que a própria instituição responsável pelo
e como monitorá-los. projeto poderá ter bons contatos com a
imprensa, ter meios de divulgação próprios
É importante registrar todo o processo de por meio de boletins informativos e também
discussão entre operadora e projeto e, antes ter uma mala direta, facilitando o marketing.
de começar a receber os turistas, formalizar Uma ação de marketing em conjunto
um contrato legal com os direitos e deveres pode ser a melhor maneira para começar a
de cada uma das partes. divulgar o produto. Deve-se deixar bem
claro quem deve ser contatado no caso de
[ Visitas ao Projeto interesse em visitar o projeto, ou seja, a
Nessa fase é importante a troca de infor- operadora ou o projeto diretamente.
mações. A operadora deve conhecer o dia-
a-dia e as restrições do projeto, as pessoas [ Monitoramento
envolvidas e as informações do projeto Os sistemas de monitoramento podem e
disponíveis para o público (tanto científicas devem ser simples. É essencial que o projeto
quanto operacionais). Em geral, os partici- tenha seu próprio sistema de controle: custos
pantes do projeto conhecem melhor a reais, número de visitantes, procedência,
região e a comunidade e podem facilitar o número de grupos, arrecadação direta e indi-
trabalho da operadora, além de estimular o reta (merchandising, ou a venda de produtos
uso de mão-de-obra e serviços locais. a turistas com a marca do projeto). Também é
importante monitorar os indicadores escolhi-
[ Desenho do Programa dos para o controle dos impactos de visitação
O roteiro de visita não deve interferir na (ver capítulo Monitoramento e Controle dos
rotina do dia-a-dia do projeto. Guias sele- Impactos de Visitação). Os dados coletados
cionados pela operadora devem receber nessa fase poderão estar contribuindo com o
treinamento específico e devem se entrosar seu banco de dados, facilitando futuros con-
com a equipe do projeto. Com base nas tatos com seus clientes.
183
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

[ Merchandising profissionais de agências financiadoras de


O merchandising pode ser uma fonte de projetos, imprensa, estudantes universi-
renda significativa. A possibilidade de tários, etc.) vale a pena encarregar um pes-
vender camisetas, cartões postais e peças de quisador de recebê-los, tendo em vista,
artesanato local, ou de oferecer pequenos principalmente, as futuras possibilidades de
brindes, deve ser avaliada. O momento para contatos, trabalhos cooperativos e volun-
oferecer isso ao turista também deve ser tários, e mesmo doações que a visita poderá
planejado. Você observará que terá melhor gerar. Disponibilize o máximo de infor-
resultado se isso for feito no final do roteiro. mações práticas em temas ambientais, vin-
Depois de já ter conhecido melhor seu pro- culados ou não ao seu projeto de conser-
3 jeto, ficará mais fácil conseguir apoio adi- vação (folhetos institucionais, revistas, pu-
cional do turista. Caso a instituição que blicações técnicas, livro de fotos etc.).
implementa o projeto, ou seus parceiros, Visitantes gostam de utilizar o tempo livre
possuam quadro de afiliados, deve haver for- para leituras e novos aprendizados. Essas
mulários para filiação à disposição dos turis- informações servirão ainda como item de
tas tanto no projeto quanto na operadora. promoção de sua e de outras entidades con-
servacionistas.
[ Algumas dicas Se o projeto localiza-se em área remota,
Nem sempre é possível para projetos de de difícil acesso e comunicação, deve-se
conservação ter pesquisadores disponíveis prever algum esquema para comunicação
para receber turistas, sendo isso feito por imediata com quem está operando o tour,
assistentes de pesquisas ou guias locais que, caso não seja o próprio projeto. Alguns
embora treinados e capacitados, não têm a roteiros podem ficar inviabilizados por
profundidade de conteúdo que um pes- razões climáticas, e é necessário ter como
quisador da área teria. No entanto, depen- avisar a operadora sobre isso.
dendo do perfil do grupo (pesquisadores,

O MICO-LEÃO-DOURADO
E A CONTRIBUIÇÃO DO ECOTURISMO
NA CONSERVAÇÃO DE ESPÉCIES E HABITATS AMEAÇADOS

pós vários anos de iniciativas de apoio do WWF na proteção do Mico-leão


Dourado, teve início no Brasil em 1983 o Programa de Conservação para
o Mico-Leão-Dourado (PCMLD), por meio de uma parceria entre o IBAMA,
a Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente (FEEMA) /Centro de Primatologia
do Rio de Janeiro e o Zoológico Nacional de Washington. Sua missão é aumentar
a probabilidade de sobrevivência da espécie em seu ambiente natural, assegurando que,
no ano de 2025, pelo menos 2.000 micos-leões-dourados estejam vivendo soltos
em 23.000 hectares de florestas protegidas.
O mico-leão-dourado (Leontopithecus rosalia) é uma espécie criticamente
ameaçada de extinção, endêmica da Mata Atlântica de Baixada Costeira do Estado
do Rio de Janeiro e cuja distribuição atual está restrita aos remanescentes florestais
de seis municípios: Silva Jardim, Casimiro de Abreu, Rio das Ostras, Rio Bonito, Cabo Frio
e Búzios. A maior ameaça sobre a espécie é a perda e fragmentação do seu habitat
devido ao desmatamento e a incêndios florestais.
184
Elaboração do produto – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

O PCMLD possibilitou o estabelecimento de infra estrutura para pesquisa e educação


ambiental na Reserva Biológica Poço das Antas/IBAMA. Numa iniciativa pioneira em
Reservas Biológicas, em 1989, o IBAMA permitiu que o PCMLD construísse e operasse o
Centro Educativo de Poço das Antas, posteriormente ampliado para abrigar a sede da
Associação Mico-Leão-Dourado, criada em 1992, para coordenar todos os trabalhos do
PCMLD.
Já em meados da década de 90, como resultado das ações de educação ambiental,
era crescente a pressão pública para a abertura da visitação aos micos-leões-dourados. 3
Buscando atender essa demanda, técnicos do PCMLD iniciaram um processo de
discussão interna, visando o estabelecimento de um programa com objetivos integrados
à sua missão institucional e que viabilizasse a visitação ao ambiente dos micos, sem
contudo prejudicar as pesquisas e a conservação da espécie. O ecoturismo foi a solução
mais indicada para atender aos requisitos acima.
Nessa época, o PCMLD teve a colaboração de uma voluntária do Consulado Geral
dos Estados Unidos no Brasil, que fez os contatos iniciais com duas operadoras,
a Bromélia Expeditions e a Expeditours, para o desenvolvimento do produto,
trabalho feito sem qualquer ônus para o PCMLD.
Como o mico-leão tem sido objeto de pesquisas desde a década de 70, dispõe-se
de grande volume de informações sobre a espécie e seu comportamento social,
reprodutivo, alimentar, demográfico, territorial etc. Essas informações foram compiladas,
tratadas e apresentadas de maneira a despertar o interesse do visitante para
a conservação da espécie e seu habitat.
Também participaram desse processo, a equipe da Reserva Biológica de Poço das
Antas/IBAMA e os proprietários de fazendas de entorno da Reserva, que contribuem para
o programa de reintrodução de micos nascidos em cativeiro, já que o roteiro envolve
tanto a Reserva quanto essas propriedades.
Alguns grupos de micos reintroduzidos foram selecionados com base na acessibilidade
à área, tamanho e comportamento do grupo de micos, proximidade de Poço das Antas
etc. O ecoturismo é operado em propriedades particulares por diversos motivos, entre
eles: a visitação pública não é prevista em Reservas Biológicas; micos nascidos em
cativeiro são mais habituados à presença humana; o ecoturismo é um incentivo para a
conservação de florestas particulares, uma vez que sua operação é economicamente rentável.
O roteiro é acompanhado por guias locais e da operadora, especialmente
capacitados para tal. Por se tratar de uma pesquisa de longo prazo, todos os micos
têm sido monitorados sistematicamente, o que requer dos assistentes de pesquisas
habilidades para trabalhar com equipamentos de radiotelemetria para localização
dos animais. Não somente devido à especificidade dessa tarefa, mas também
ao conhecimento acumulado pelos mesmos, os guias locais são os próprios assistentes.
Durante o roteiro, de prancheta e lápis na mão, eles demonstram para os visitantes quais
e como são coletados os dados sobre os micos. Ao mesmo tempo que essa atividade
em si já é uma atração para o turismo, os dados coletados durante as visitas são usados
para monitorar e avaliar o impacto sobre o comportamento dos micos.
O roteiro definido é composto pela visita a um grupo de micos reintroduzidos em
fazenda particular, com duração média de 2 a 3 horas de caminhada e acompanhamento
dos micos, além de lanche e visita ao Centro Educativo da REBIO Poço das Antas,
185
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

palestra, vídeo, sala de exposições, lojinha de souvenirs e retorno ao Rio de Janeiro no


final da tarde. Posteriormente, foi incluído o almoço opcional na RPPN Fazenda Bom
Retiro, que atualmente dispõe de infra-estrutura para hospedagem de até 24 pessoas.
O levantamento dos custos operacionais incluiu o tempo dos assistentes de pesquisa
e de educação envolvidos, os equipamentos utilizados, a taxa do fazendeiro e uma
doação compulsória individual para o PCMLD, como forma de fazer do ecoturismo uma
atividade que contribui para a conservação da natureza. O roteiro é operado com no
3 máximo 20 pessoas. Toda promoção ficou sob a responsabilidade das operadoras e
diversos famtours foram realizados. Ao final do roteiro, os visitantes são convidados a
avaliar o programa por meio de um breve questionário (“tour comments”). A operação
teve início em 1992 com o recebimento de diversas delegações internacionais que par-
ticiparam da “Rio 92”. Desde então, os grupos são freqüentes e foram recebidos mais de
50 grupos de ecoturistas, a maioria procedente do exterior.
Essa iniciativa despertou a região para o seu potencial ecoturístico. Prefeituras locais
têm adotado políticas e programas públicos de apoio e incentivo ao ecoturismo,
que também passou a ser um incentivo adicional à reintrodução dos micos em fazendas
particulares. Com o apoio técnico da AMLD para a implementação do ecoturismo em
propriedades particulares, algumas estão transformando a atividade na principal fonte de
arrecadação das fazendas e tem sido também observado um aumento no número de
proprietários interessados na criação de RPPN (Reserva Particular do Patrimônio Natural)
como forma de viabilizar o ecoturismo. Em última análise, o ecoturismo tem provocado
um incremento na área legalmente protegida, contribuindo diretamente para a conservação
da Mata Atlântica de baixada costeira do Estado do Rio de Janeiro, habitat natural do
mico-leão-dourado.
As dificuldades encontradas referem-se à utilização dos assistentes de pesquisas como
guias locais, atividade que, mesmo indiretamente, acaba interferindo na coleta de dados.
Os custos de contratação e capacitação de um assistente para atuar exclusivamente como
guia ainda não se justificam. Outra dificuldade de ordem operacional é o deficiente
sistema de comunicação externa, feito por meio de rádio-telefonia, uma vez que a região
ainda não conta com sistema de telefonia tradicional. Esta limitação acaba por dificultar
a comunicação com operadoras, resultando, em alguns casos, na perda de potenciais
grupos de visitantes.
A experiência positiva com o mico-leão-dourado vem reforçar o grande potencial
atrativo das espécies ameaçadas de extinção, especialmente aquelas que já têm projetos
voltados para a sua conservação. O ecoturismo deve ser associado a esses projetos, pois
a divulgação de sua missão possibilita o envolvimento direto das comunidades locais e
ainda assegura retorno financeiro para os envolvidos. No entanto, qualquer empreendimento
ecoturístico deve ser objeto de estudo prévio de viabilidade econômica, essencial para
nortear os investimentos. E, finalmente, pesquisadores, organizações comunitárias, com-
erciantes e proprietários dos atrativos devem ser envolvidos desde a concepção e plane-
jamento até a operação do ecoturismo, legitimando e validando todo o processo.
O Programa de Ecoturismo da Associação Mico-Leão-Dourado contou com o apoio
inicial das duas operadoras mencionadas e do Consulado Geral dos Estados Unidos
no Brasil. Atualmente, tem apoio financeiro do WWF-Brasil, do International
Environmental Studies Program / Smithsonian Institute e da Frankfurt Zoological Society.

186
Elaboração do produto – P LANEJAMENTO ESTRATÉGICO

VI. RISCOS E RECOMENDAÇÕES ❐ Quais clientes (agências) mandam o


maior número de turistas e por quê? Elas
_ Não se deixe enganar participaram do Famtour?
por números gerais ❐ Quem são os meus clientes?
Prever a demanda para produtos eco- Além disso, outros itens de fundamental
turísticos é difícil. As estatísticas só abordam importância para garantir a eficiência dos
grandes números, que não são muito bem produtos e o cumprimento de seus objetivos
definidos. É muito comum a informação de são detalhados a seguir.
que o ecoturismo cresce a taxas acima de a) Qualidade do produto
15% ao ano e representa de 7% a 10% da A forma mais comum utilizada para
movimentação turística. medir a satisfação do cliente é o tour com - 3
É necessário lembrar que, geralmente, se ment, um pequeno questionário de 1 ou 2
a demanda cresce rápido, a oferta também páginas com perguntas sobre os pontos
cresce e um maior número de turistas é dis- chaves do programa (atrativos, transporte,
putado por um maior número de destinos. hospedagem, guia, alimentação, conteúdo,
Então, mesmo que o mercado cresça à razão preço, etc.), entregue aos turistas em algum
de 20% ao ano, não significa, obrigatoria- momento durante o passeio e recolhido ao
mente, que a visitação a um destino especí- final. Entretanto, nada substitui o contato
fico vá crescer na mesma proporção, ou direto entre o fornecedor ou gerente do pro-
mesmo que vá crescer. duto e os turistas. Isto pode ser feito ao final
Para avaliar a demanda por seu produto, do roteiro, antes da partida do turista, ou
é importante comparar os números gerais então por meio de contato telefônico, por
com parâmetros regionais ou com produtos carta ou correio eletrônico após o retorno
semelhantes. do turista à sua cidade de origem.
b) Verificação da operação do tour
_ Fique de olho e implante O guia deve entregar sempre um
um sistema de monitoramento relatório resumido sobre a logística ("o
Dificilmente o produto será perfeito ônibus chegou no horário?"; "o hotel aten-
desde o início; ainda mais difícil será não deu bem?" etc.), o aproveitamento do tempo
encontrar obstáculos para conquistar os tu- durante o passeio, observações sobre o
ristas. É necessário monitorar o desempenho grupo, o que foi visto e possíveis impactos
do produto e o plano de marketing para na natureza. Este relatório ajuda a entender
saber identificar por que o produto é ou não os comentários dos turistas.
é um sucesso e se necessita de ajustes. Não c) Satisfação dos intermediários
custa muito para incorporar o monitoramen- Vale a pena telefonar para as operadoras
to ao dia-a-dia. O objetivo do monitora- e agências de turismo para saber se tudo cor-
mento (de marketing) é responder rapida- reu bem do ponto de vista deles, se gostaram
mente a perguntas tais como: do tour, se vão mandar mais grupos, etc.
❐ Quais são os melhores produtos em ter- d) Resultado comercial
mos de satisfação? Para avaliar o resultado comercial é
❐ Quais são os melhores guias? essencial:
❐ Quais são os custos reais dos produtos u Uma contabilidade transparente. Isso
(em comparação com os custos orçados)? quer dizer: alocar os custos tanto por
❐ Quais são os produtos mais lucrativos? tipo de custo (telefone, viagem etc.)
❐ Quais meios de promoção são mais efi- quanto por produto (desenvolvimento,
cazes? Pode ser que um artigo no jornal promoção, operação etc.).
resulte em muitos pedidos de infor- u Sistema para medir resposta às ações de
mação mas em poucas reservas, porque marketing. Deve fazer parte da rotina de
não atingiu o público alvo. trabalho perguntar ao cliente como
187
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

soube do programa e/ou da operadora HIGGINS, B. R. 1996. Global Structure of


(artigo no jornal X, mala direta Y etc.). the Nature Tourism Industry. In: Journal
of Travel Research, Vol. 35, No. 2, pp.
_ Quem é meu cliente 11-18.
Quem recebe grupos e/ou turistas indi- JANÉR, A. Análise de Ecoturismo no Brasil.
viduais diretamente pode coletar infor- s.d., s.l, s.ed.
mações por meio de uma breve pesquisa de KOTLER, P. 1994. Administração de
demanda junto ao formulário de inscrição Marketing. São Paulo: Atlas. 4
conforme orientado na Caixa de Ferramentas KUTAY, K. 1993. Ecotourism Marketing:
- Público-alvo: conheça o seu cliente. Quem capturing the demand for special interest
3 recebe grupos encaminhados por um inter- nature and culture tourism to support
mediário fica dependente das informações conservation and sustainable develop -
passadas por ele, ou tem que pedir aos turis- ment. Paper prepared to the First
tas que preencham um livro de visitas. Venezuelan Ecotourism Seminar,
Ver também o capítulo Administração e October. Mimeo.
Praticas Contábeis para mais detalhes. SILLS, E. 1993. Report on the Survey of
Brazilian Travel Agents. Durham, NC:
V. BIBLIOGRAFIA Duke University
WHELAN, T. (ed.). 1991. Nature Tourism.
BRACKENBURY, M. 1993. Responsible mar - Washington, DC: Island Press. 5
keting of ecotourism destinations and WIGHT, P. 1996. North American
attractions. Revue de Tourisme, 3/1993. Ecotourists: Market Profile and Trip
CEBALLUS-LASCURÁIN, H. 1996. Tourism, Characteristics. In: Journal of Travel
Ecotourism and Protected Areas: the state Research, Vol. 34, No. 4, pp. 2-10.
of nature-based tourism around the WIGHT, P. 1996. North American
world and guidelines for its develop - Ecotourism Markets: motivations, prefer -
ment. Gland, Switzerland: IUCN. ences and destinations. In: Journal of
DRAFFEN et al. 2002. Lonely Planet Brazil. Travel Research, Vol. 35, No. 1, pp. 3-10.
Oakland, CA: Lonely Planet WOOD, Megan E. 2002. Ecotourism, princi -
Publications. 5ª.ed. 3 ples, practices and policies for sustain -
BRASIL. Embratur – Instituto Brasileiro de ability. Paris: UNEP.
Turismo. 2002. Pesquisa de Demanda ❐ Outras Fontes
Turística Internacional. Brasília: EMBRATUR Anuário Estatístico – 1987 –
Embratur. 2001 – Estudo de Demanda Turística
FIPE – Fundação Instituto de Pesquisas 1991 – 2001
Econômicas. 2001. Caracterização e 4 Rodas Guia Brasil 2000 - WTO -
Dimensionamento do Turismo Domés - Yearbook of Tourism Statistics 1997 - 2001
tico no Brasil. Brasília: Embratur.

3 Este é um dos mais usados guias de viagens para estrangeiros.


4 Esta é a bíblia de marketing, muito bem escrito e cheio de exemplos práticos.
5 Este livro dá um bom panorama do mercado de ecoturismo incluindo marketing.
188
PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

4.Viabilidade econômica
Ariane Janér

4
I. OBJETIVO ca: a geração de lucros – como toda ativi-
dade comercial ou empresarial.
ma análise cuidadosa sob o ponto

U de vista de sua viabilidade econômi-


ca é fundamental para um projeto
de ecoturismo de base comunitária. Para
Para facilitar o acompanhamento e a
compreensão dos diferentes passos (ou me-
lhor, cálculos) necessários, será usado um
único exemplo, simples, ao longo do capí-
contribuir para o desenvolvimento susten- tulo: um roteiro (ou tour) de 2 dias (2D) e 1
tável, com geração de benefícios para as noite (1N).
comunidades e para a conservação da
natureza, investimentos em ecoturismo de- II. INTRODUÇÃO CONCEITUAL
verão dar um retorno adequado. Como o
assunto é complexo, o objetivo deste capí- É importante distinguir o Plano de Ne -
tulo não é formar economistas, mas apenas gócios do Estudo de Viabilidade Econômica.
oferecer um panorama para leigos.
O estudo de viabilidade econômica é 1. O Plano de Negócios
feito com o objetivo final de elaborar o
Plano de Negócios de um investimento. primeira pergunta de um potencial
Porém, para que este objetivo seja alcança-
do é necessário também que seja desen-
A investidor interessado em um projeto é
saber se já foi elaborado um plano de negó-
volvido o Produto, ou seja, aquilo que se cios. O plano de negócios (em inglês: busi -
deseja comercializar. O usuário do Manual ness plan) deve mostrar, de forma qualitati-
perceberá que o capítulo Viabilidade va e quantitativa, por que vale a pena inve-
Econômica está interligado ao capítulo ante- stir nesse projeto. Mesmo se o investidor é o
rior: Elaboração do Produto de Ecoturismo. próprio empreendedor, a experiência de
Neste capítulo serão discutidos conceitos passar pelos passos metódicos da elabo-
básicos para a avaliação de investimentos, ração de um plano de negócios vai ajudá-lo
assunto geralmente ausente no dia-a-dia de a sair da “idéia” para uma proposta prática,
pessoas ou instituições que não são profis- bem detalhada. Mais importante, por este
sionais na área de administração, economia processo o investidor poderá ponderar se
ou contabilidade. Há muitos termos técnicos vale realmente a pena proceder ao investi-
que poderão ser “traduzidos” apenas até mento.
certo ponto. Ao decidir empenhar-se no
desenvolvimento de programas de ecoturis- Um plano de negócios deve responder
mo, o indivíduo ou instituição deve empe- às seguintes perguntas:
nhar-se também no entendimento dos aspec-
tos empresariais da atividade. Caso contrário, • O produto é bom? Por quê?
correrá o risco de não atingir o sucesso num • Existe mercado para esse produto e
aspecto fundamental da atividade ecoturísti- é suficientemente grande?
189
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

• A estratégia de marketing é coe- ❒ Planilha de Custos e Cálculo de


rente? Preços.
• A empresa terá administração com- ❒ Conta de Resultados (o Faturamento
petente? menos os Custos).
• A rentabilidade do negócio com- ❒ Especificação do Investimento.
pensa os riscos? ❒ Fluxo de Caixa (entrada e saída físi-
ca de dinheiro, incluindo investi-
O conteúdo do plano deve convencer os mento, depreciação, amortização de
investidores ou patrocinadores de que o dívidas, etc.).
produto ou projeto responde a essas dúvi- ❒ Balanço Patrimonial (Raio-X do
4 das. O plano de negócios também serve negócio no final de cada ano).
como ponto de partida para o futuro geren-
ciamento do projeto de ecoturismo. O for- III. CAIXA DE FERRAMENTAS
mato de um plano de negócios varia de
acordo com o tipo de empreendimento e Como foi dito anteriormente, é impossí-
eventuais exigências de investidores, mas vel apresentar neste Manual um guia com-
existem alguns elementos mínimos, que pleto para o cálculo de cada elemento de
apresentamos na Tabela 1 (pág.191). Como um estudo de viabilidade econômica.
foi mencionado anteriormente, o Plano de Assim, apresentaremos alguns elementos
Negócios é o resultado final dos trabalhos mais críticos:
desenvolvidos não só neste capítulo, como
também no de Elaboração do Produto de 1. Planilha de demanda para calcular
Ecoturismo. Assim, apesar de apresentados o faturamento do negócio.
separadamente, para se chegar ao Plano de 2. Planilha de custos.
Negócios é necessário realizar os trabalhos 3. Conta de resultados.
descritos em ambos os capítulos. A Tabela 1 4. Balanço patrimonial.
aponta em que capítulo cada sessão do 5. Fluxo de caixa.
Plano de Negócios é tratada. 6. Especificações do investimento.
7. Cálculo de viabilidade.
2. Estudo de Viabilidade Econômica: O 8. Benefícios sociais e ambientais
Modelo Financeiro locais.

estudo de viabilidade econômica deve


O responder à seguinte pergunta: 1. Planilha de demanda para calcular
o faturamento do negócio
A rentabilidade do negócio
compensa os riscos? seguir são descritos os dados que

Para responder a esta pergunta, é


A devem ser levados em consideração ao
elaborar uma planilha de demanda. Um
necessário quantificar as suas idéias para o exemplo é apresentado na Tabela 2 (pág.
negócio. Os dados e premissas do plano de 193) após a descrição dos dados. As letras
negócios fomentam o modelo financeiro do maiúsculas entre parênteses referem-se à
projeto. Esse modelo pode ser montado identificação do dado na tabela.
numa planilha eletrônica. O grau de com-
plexidade e o número de planilhas ne- ❒ Nº total de turistas 4 Trata-se do nú-
cessárias dependem do tipo de projeto. Os mero total de turistas no mercado. Este
módulos principais são os seguintes: dado é disponibilizado pelas secretarias
de turismo municipal, estadual ou pela
❒ Planilha de Demanda / Faturamento. EMBRATUR. Pode ser necessário adaptar
190
Viabilidade econômica – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

TABELA 1

FORMATO BÁSICO DE UM PLANO DE NEGÓCIOS

SESSÕES DO PLANO ASSUNTO CAPÍTULO ONDE


DE NEGÓCIOS ABORDADO O ASSUNTO É TRATADO

1 Resumo Executivo Principais pontos do plano apresentados


de forma resumida em uma página.
2 Descrição do Produto Explicação detalhada do produto, seu Elaboração do Produto 4
funcionamento e vantagens competitivas. de Ecoturismo (ou
apenas “Produto”)
3 Mercado e Competição Análise detalhada de mercado e Produto
possível concorrência, inclusive
quantificação de vendas.
4 Custo de Investimento Especificação e justificativa do Viabilidade Econômica
investimento. Eventuais investimentos já (ou apenas
feitos, formas e valores de investimento “Viabilidade”)
necessários (financiamento vs. capital).
5 Custo Operacional Especificação de todos os custos ligados Viabilidade
à operação do empreendimento e fontes

6 Estratégia de Marketing Elaboração da estratégia de marketing Exemplo apresentado


com base na análise de mercado, nos em Produto
custos de investimento e operacional.
7 Viabilidade Econômica Quantifica todas as premissas de venda, Viabilidade
investimentos e custos operacionais;
cálculo da atratividade do negócio
por meio de um Modelo Financeiro.
8 Alternativas Se apropriado, vale a pena considerar Viabilidade
consideradas alternativas e calcular o retorno.
9 Administração Em qualquer negócio a qualidade da Viabilidade
administração é um fator decisivo para
o sucesso. Detalhar o tipo de gestão,
divisão de tarefas e experiência.
10 Cronograma Da implantação do negócio e da Produto e Viabilidade
necessidade de recursos.

este dado para refletir o mercado real do ❒ Crescimento do mercado 4 Taxa de


produto. Para assegurar a transparência crescimento estimada para o mercado
das informações, é importante registrar a total. Esta estimativa também é calculada
fonte e a data de publicação dos dados. por órgãos governamentais de turismo.
Exemplo: estima-se que durante o primeiro Como no caso anterior, deve-se registrar
ano de operação do tour, o número total de a fonte e data de publicação dos dados.
turistas – ou seja, o mercado total para o Exemplo: estima-se que o mercado crescerá
tour – é de 100.000 (M, ano 1). a uma taxa anual de 5% (T), gerando no ano
191
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

2 um total de 105.000 turistas, no ano 3 um Exemplo: preço de R$ 290 por pessoa é cal-
total de 110.250 turistas e assim por diante culado na planilha de custos com base
até o ano 5 (M, anos 2 a 5). numa média de 10 pax (ou seja, 10 pas-
sageiros) por grupo (B).
❒ Clientes 4 Número de turistas espera-
dos no período para o seu tour. Geral- ❒ Faturamento bruto 4 Trata-se do total
mente o período é um ano, mas espe- que será recebido dos turistas ou que a
cialmente no primeiro ano pode ser útil operadora passará para você.
especificar por mês. Exemplo: seu faturamento bruto então é pre-
Exemplo: são esperados 100 turistas, ou ço x número de turistas (A x B), ou seja R$ 290
4 seja, 10 grupos de 10 turistas (A). Para nosso x 100 turistas = R$ 29.000 no ano 1 (C).
exemplo serão considerados grupos de 10
turistas. ❒ Faturamento ligado/associado 4 É o
faturamento proveniente de serviços
❒ Participação no mercado 4 Taxa de adicionais oferecidos ao turista, não
participação do seu tour no mercado. incluídos no preço do tour (ex.: vendas
Ou seja, o crescimento esperado ou de souvenirs).
estimativas de número de turistas nos Exemplo: se cada turista comprasse lem-
períodos seguintes com base na relação branças no valor médio de R$ 5, o fatura-
entre turistas esperados para cada ano mento associado seria de R$ 500 no
(A) e mercado total (M). primeiro ano. Esta categoria não aparece no
Exemplo: estima-se que a participação do exemplo porque estamos considerando que
seu tour no mercado crescerá de 0,1% no não há nenhum serviço extra, associado ao
primeiro ano para 0,9% no quinto ano (P). seu tour, disponível para os turistas.

❒ Capacidade máxima 4 Trata-se da ❒ Impostos sobre o faturamento 4 deve-


capacidade máxima do seu negócio de se consultar um contador, porque os
receber turistas. Isso pode limitar o impostos dependem do tipo de
crescimento ou indicar novos investi- empreendimento, tipo de empresa e
mentos para expandir. região do Brasil – ver no capítulo
Exemplo: se a capacidade máxima fosse de Administração e Práticas Contábeis al-
880 turistas, o número de turistas pararia de guns tributos comuns.
crescer após o ano 3. Esta categoria não Exemplo: os impostos que incidem sobre o
consta da tabela porque estamos con- faturamento bruto do seu tour são de 7% ou
siderando que a capacidade máxima não R$ 2.030 no ano 1 (D).
será atingida nos 5 anos.
❒ Faturamento líquido 4 Trata-se do fatu-
❒ Preço Net do Produto 4 Trata-se do ramento total do tour uma vez que ten-
preço do tour, que é calculado na ham sido somados o faturamento bruto,
planilha de custos, apresentada no o faturamento associado e descontados
próximo passo. O preço net é individ- os impostos.
ual, ou seja, mesmo que calculado com Exemplo: Para o primeiro ano o faturamento
base em um grupo de turistas, o valor é líquido é de R$ 29.000 – R$ 2.030 =
o que deverá ser pago por cada inte- R$ 26.970 (E).
grante do grupo. A partir desta catego-
ria, os valores precisam ser calculados O resultado é uma planilha de demanda
seguindo as instruções dos passos apre- e faturamento, que é o ponto de partida para
sentados a seguir neste capítulo, que saber se o seu negócio vai dar certo. A mon-
mostram como o valor utilizado na tagem de um modelo financeiro é um
Tabela 2 foi calculado. processo interativo, ou seja, na primeira vez
192
Viabilidade econômica – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

que você monta a sua planilha alguns dados preço mais alto a demanda por seu produto
ainda não são definitivos e passarão por vai ser menor. Este assunto é abordado na
vários ajustes. Por exemplo, existe uma sessão sobre custos e formação de preço.
relação entre preço e demanda. Com um
TABELA 2
EXEMPLO DE PLANILHA DE DEMANDA:
CALCULANDO O FATURAMENTO DE UM TOUR 2D – 1N

ANO

CATEGORIA CÓDIGO 1 2 3 4 5 4
Nº total de turistas M 100.000 105.000 110.250 115.763 121.551
Crescimento T --- 5% 5% 5% 5%
Participação Mercado P=A/M 0,1% 0,8% 0,8% 0,8% 0,9%
Clientes A 100 800 880 968 1.065
Número de Grupos 10 80 88 97 106
Preço Net Produto 1 * B *290 *290 *290 *290 *290
Faturamento Bruto * C=AxB *29.000 *232.000 *255.200 *280.720 *308.792
Impostos * D = 7% x C * 2.030 *16.240 *17.864 *19.650 *21.615
Faturamento Líquido * E=C-D *26.970 *215.760 *237.336 *261.070 *287.177

( NOTA * Valores em R$
2. Planilha de Custos podem ser atribuídos diretamente à venda
do produto. Também são chamados de
importante distinguir entre vários tipos “overhead”. Por exemplo, aluguel de
É de custos: diretos e indiretos. escritório: você paga mesmo sem vender
nenhum pacote.
Custos Diretos: são custos feitos em
função da venda do produto. Se não tem Para montar a planilha é necessário co-
venda, o custo é zero. Podem ser subdivi- nhecer todos os itens que representam cus-
didos em duas categorias: tos na operação do seu produto e entender
a) Diretos variáveis que mudam em como eles se comportam. Por exemplo, um
função do número de turistas. Por hotel precisa definir seu quadro físico de
exemplo, o custo de um almoço, funcionários com base no número de quar-
cada turista a mais significa um tos e no nível de serviços que quer oferecer
almoço a mais. aos clientes. Assim, ele determina os custos
b) Diretos fixos são custos que não com a folha de pagamento.
variam em função do número de tu - Para ilustrar a elaboração de uma plani-
ristas. Por exemplo, no aluguel de lha de custos, vamos ver a montagem de
ônibus o valor de aluguel não varia preço de um produto em detalhes, usando o
até a capacidade máxima do tour fictício de 2D e 1N. O exemplo tam-
ônibus. bém mostra a importância do conhecimen-
to do negócio para identificar o “comporta-
Custos Indiretos: são custos que não mento” dos custos.
193
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

❒ Custos Diretos Variáveis b) Hospedagem


Hotéis ou pousadas geralmente dão um
Os custos que variam diretamente em pequeno desconto (10%) no Preço Balcão (o
função do número de turistas são alimen- preço final pago pelo turista) para agências e
tação, hospedagem, ingressos e taxas, operadoras. Descontos acima disso depen-
equipamentos e materiais. No caso de ali- dem do poder de negociação: se é baixa
mentação e hospedagem deve-se ficar aten- temporada, se a agência ou operadora costu-
to pois, dependendo do tamanho do grupo, ma trazer grupos com freqüência etc..
cortesias para guias e motoristas são comuns Ecoturistas estrangeiros geralmente divi-
e devem ser considerados na conta. dem o quarto. No caso de brasileiros, existe
4 uma tendência à privacidade, mesmo com
a) Alimentação custo adicional. Quem quer ficar sozinho
O ideal é oferecer uma escolha entre deverá pagar uma taxa extra, o Single
pratos com preços similares e combinar um Supplement (a diferença entre a metade do
preço por pessoa com o restaurante. Verifique quarto duplo e um quarto Single – ou quar-
o tamanho das porções: um ecoturista não to de solteiro).
gosta de ver comida desperdiçada. Entretanto,
o público brasileiro está acostumado a uma c) Ingressos/Taxas
certa variedade de pratos (não necessaria- Este item considera os ingressos para
mente uma grande variedade). Sobremesas e entrada em Parques Nacionais e Reservas
bebidas, especialmente alcóolicas, geral- Particulares do Patrimônio Natural (RPPN) e
mente são cobradas à parte. Às vezes, quando as taxas de permanência, como as que são
há este tipo de serviço disponível sem que cobradas em Fernando de Noronha. No caso
haja necessidade de prévia “encomenda” das de projetos de base comunitária, é comum se
refeições, o programa deixa o turista livre para estipular um valor para doação direta ao pro-
comer por conta própria. Isso geralmente jeto, criando-se um fundo para conservação
ocorre em cidades maiores. de ambientes ou para as comunidades.

TABELA 3
EXEMPLO DE CÁLCULO DE CUSTOS DIRETOS VARIÁVEIS

CUSTO POR PAX (PASSAGEIRO) QUANDO A AGÊNCIA


OU OPERADORA TROUXER, AO MESMO TEMPO:

ITEM 4 PAX 8 PAX 12 PAX

Hospedagem 1 N 1/2 DBL * R$ 50,00 R$ 50,00 R$ 50,00

Refeições:
um jantar, 2 almoços, lanches R$ 45,00 R$ 45,00 R$ 45,00

Equipamentos R$ 5,00 R$ 5,00 R$ 5,00

Ingressos R$ 20,00 R$ 20,00 R$ 20,00

Total Variável R$ 120,00 R$ 120,00 R$ 120,00

( NOTA * DBL é a sigla utilizada para referir-se ao quarto duplo, ou para duas pessoas se hospedando
no mesmo quarto. O quarto de solteiro, ou single, é muitas vezes indicado pela sigla SGL.
194
Viabilidade econômica – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

d) Equipamentos/Materiais mente porque variam bastante de um


Os equipamentos (ex.: snorkel – equipa- fornecedor para outro. Para os fornecedores
mento de mergulho livre sem tanque de ar de transporte, os custos fixos são altos, por
comprimido; cordas e capacetes de escala- isso na baixa temporada eles estão mais
da; bóias para acquaraid) fornecidos ao tu- dispostos a dar descontos. Por exemplo,
rista têm um custo de uso, manutenção ou uma locadora de carros terá muitas despe-
de aluguel que precisa ser calculado. sas, alugando carros ou não. Assim, mesmo
Material impresso, como apostilas, também que não tenha grande margem de lucro, a
tem um custo que precisa ser contabilizado. locadora poderá alugar os carros a preços
mais baixos durante a baixa temporada,
❒ Custos Diretos Fixos para pagar parte dos custos fixos. 4
Os custos diretos fixos desse exemplo Na escolha do transporte, preço não é o
incluem o guia e o transporte. único critério. Deve-se pensar no conforto
(ar-condicionado, banheiros, espaço para
a) Guia bagagem etc.), na segurança (idade e estado
O guia do grupo ganha uma diária que de manutenção do veículo, perfil do
varia de acordo com sua classificação como motorista) e também no menor nível de emis-
guia. Um guia local geralmente ganha são de poluentes (atmosféricos e sonoros).
menos (R$ 30,00 a 50,00 / dia) que um guia O tipo de transporte tem que ser adequado
de ecoturismo contratado no Rio de Janeiro ao tamanho do grupo. Evite chegar à lotação
ou São Paulo (R$ 60,00 a 100,00 / dia). Um máxima de um meio de transporte. O grupo
guia especialista (ornitólogo) pode ganhar pode vir com muita bagagem ou seus inte-
muito mais (R$ 100,00 a R$ 150,00 / dia). grantes podem ter 2 metros de altura e pesar
Um guia pode acompanhar grupos de no 120 quilos. No caso de transporte rodoviário,
máximo 10 pessoas. Se o programa tem um são sugeridos os seguintes critérios:
alto grau de dificuldade, deve-se pensar em
usar mais de um guia por razões de segurança. • Até 3 Pax: alugar carro
Também podem ser usados mais de um guia ou van pequena
para dar mais conteúdo ao programa. Por • 4 a 10 Pax: van até 12 –14 lugares
exemplo, um guia local que conte sobre as • 11 ou mais: microônibus
lendas e crenças do lugar e um guia naturalista
que dá um pano de fundo mais científico. Em geral, é possível hospedar e alimen-
tar o motorista sem custo extra. Mediante
b) Guia – Custos Adicionais acordo prévio, os hotéis costumam dar
Se o grupo é pequeno, pode ser difícil desconto para pacotes ou agências que
conseguir hospedagem e refeições de corte- enviam turistas com freqüência. Por medida
sia e, nesse caso, os custos adicionais do guia de segurança, convém verificar com ante-
devem ser embutidos no preço para o turista. cedência e, se não for o caso, esses custos
Se o grupo já vem acompanhado por seu devem ser incluídos nos cálculos. Assim
próprio guia, costuma-se pedir aos fornece- como deve-se atentar para outros custos
dores do produto uma cortesia para o guia. É diretos fixos, tais como taxas de estaciona-
preciso verificar se isso não traz custos extras, mento de veículos, pedágios e balsas, ou
o que depende do tamanho do grupo. ainda taxas turísticas municipais.
No nosso exemplo, o guia recebe corte-
c) Transporte (veículos, barcos, aviões, sia no hotel e refeições se acompanhar gru-
cavalos, bicicletas etc.) pos acima de 6 pax. O tipo de transporte
O transporte alugado é geralmente o varia em função do tamanho do grupo: uma
item que mais pesa no custo fixo. Por isso van para grupos de até 10 turistas; acima
vale a pena pesquisar os preços, especial- disso um microônibus. Observe o efeito da
195
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

economia de escala: o custo (fixo) de guia e grupos de 4 pax, comparado com grupos
transporte é quase o dobro por pessoa para maiores.

TABELA 4

EXEMPLO DE CÁLCULO DOS CUSTOS DIRETOS FIXOS

CUSTO POR PAX (PASSAGEIRO) QUANDO A AGÊNCIA


OU OPERADORA TROUXER, AO MESMO TEMPO: *
ITEM TOTAL
4 4 PAX 8 PAX 12 PAX

Guia (2 diárias) R$ 120,00 R$ 30,00 R$ 15,00 R$ 10,00


Adicional de guia R$ 48,00 ** R$ 12,00 R$ 0 R$ 0
até 4 pax
Transporte R$ 200,00 R$ 50,00 R$ 25,00 R$ 25,00
até 10 pax;
R$ 300,00
mais de 10 pax
Total Fixo R$ 320,00 R$ 368,00 R$ 320,00 R$ 420,00
a R$ 420,00 ou R$ 92,00 R$ 40,00 ou R$ 35,00
p/pax p/pax p/pax

( NOTAS * Isto quer dizer que o valor total do custo fixo será dividido entre o número de passageiros.
Assim, o custo do guia para um grupo de 4 passageiros será de R$ 30,00 por pessoa.
** Neste exemplo estamos estimando que para grupos de até 4 passageiros o custo das
refeições do guia deverá ser incluído no preço do tour. Para seguir a lógica da tabela anterior,
este valor deveria ser de R$ 45,00, mas para efeitos de facilitação de conta, optamos por
utilizar o valor de R$ 48,00, que ao ser dividido por 4, dá um valor inteiro.

❒ Custos Diretos Totais tour de 2 dias/1 noite, por passageiro, para


Consolidando as duas tabelas, custos grupos de 4, 8 ou 12 passageiros.
variáveis e fixos, chegamos ao custo total do

TABELA 5

EXEMPLO DE CÁLCULO DOS CUSTOS DIRETOS TOTAIS

POR PAX 4 PAX 8 PAX 12 PAX

Custo direto fixo R$ 92,00 R$ 40,00 R$ 35,00

Custo direto variável R$ 120,00 R$ 120,00 $ 120,00

Custo Direto Total R$ 212,00 R$ 160,00 R$ 155,00

196
Viabilidade econômica – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

❒ Custos Indiretos total de R$ 13.000 por ano. Assim, o custo


Para determinar o preço que você deve total do empresário com remuneração de
cobrar, é preciso também estimar seus cus- pessoal (pro-labore, salários e encargos) se
tos indiretos ou overhead. Novamente é im- rá de R$ 26.000 no ano 1, R$ 39.000 no
portante lembrar que esta análise é interativa, ano 2, e R$ 52.000 a partir do ano 3. Para
ou seja, o resultado pode levar à necessi- facilitar nossos cálculos, não estamos
dade de refazer as contas. Por exemplo, incluindo a possibilidade de aumento anual
após estimativa você conclui que seus cus- de salários e benefícios. Porém, você deve
tos indiretos são altos demais, então você avaliar a necessidade de incluir uma taxa
deve checar as possibilidades de atrair mais anual de aumento para esta categoria do
turistas ou de reduzir os custos indiretos. orçamento. 4
Nos dois casos, você deve reduzir o custo [ A conta de luz fica em média
indireto por turista. R$ 100 por mês.
Vamos usar o exemplo para ilustrar isso. [ A conta de telefone sobe gradativa-
O nosso empresário levantou os seguintes mente de R$ 1.200 no ano 1 para
dados: R$ 3.600 no ano 5.
[ Aluguel de escritório (uma pequena [ Material de escritório sobe, também
sala) vai custar R$ 6.000 por ano. gradativamente, de R$ 500 no ano 1 até R$
[ Inicialmente será só ele e uma se- 1.800 nos anos 4 e 5.
cretária eletrônica, a um custo de [ Ele vai gastar em marketing (incluin-
R$ 26.000 de pro-labore para ele, já incluí- do viagens): R$ 10 mil no primeiro ano e
dos os encargos. No ano 2 ele contrata um alternando entre R$ 15 mil e R$ 10 mil nos
assistente a R$ 13.000 por ano entre salário próximos anos.
e encargos. A partir do ano 3 ele contrata [ O contador vai custar R$ 2 mil por
mais um assistente, também com um custo ano.
TABELA 6
EXEMPLO DE CÁLCULO DOS CUSTOS INDIRETOS

VALOR EM R$
ITEM
ANO 1 ANO 2 ANO 3 ANO 4 ANO 5
Aluguel de escritório 6.000,00 6.000,00 6.000,00 6.000,00 6.000,00
Eletricidade 1.200,00 1.200,00 1.200,00 1.200,00 1.200,00
Telefone 1.200,00 3.000,00 3.300,00 3.500,00 3.600,00
Pro-labore e
Remuneração
de pessoal 26.000,00 39.000,00 52.000,00 52.000,00 52.000,00
Material de escritório 500,00 1.500,00 1.600,00 1.800,00 1.800,00
Promoção 10.000,00 15.000,00 10.000,00 15.000,00 10.000,00
Contador 2.000,00 2.000,00 2.000,00 2.000,00 2.000,00
Total de custos
indiretos (ou overhead),
por ano 46.900,00 67.700,00 76.100,00 81.500,00 76.600,00

197
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

Uma vez que tenha sido calculado o o custo indireto por turista por ano, de
custo indireto por ano, deve-se calcular acordo com a seguinte fórmula:

Custo indireto turista/ano =


custo indireto por ano
número de turistas por ano

Utilizando os valores estimados na temos o seguinte cálculo para o custo indi-


Tabela 2 para o número total de turistas nos reto por turista, por ano:
4 5 primeiros anos de operação do tour,

TABELA 7

EXEMPLO DE CÁLCULO DO CUSTO INDIRETO TURISTA / ANO – 1ª TENTATIVA

VALOR R$
EM
DESCRIÇÃO
ANO 1 ANO 2 ANO 3 ANO 4 ANO 5
Custo indireto
por ano (CI-a) 46.900,00 67.700,00 76.100,00 81.500,00 76.600,00
Nº de turistas
por ano (T-a) 100 800 880 968 1.065
Total de custos indiretos
(CI-a / T-a) 469,00 84,63 86,48 84,19 76,63

Antes mesmo de calcular o custo total overhead sem prejudicar o seu produto nos
do produto (custo direto por pax + custo anos seguintes é montar o escritório em
indireto por pax/ano), é possível ver pela casa – eliminando não só o aluguel mas
tabela de custo indireto por pax/ano que o também o custo de eletricidade – e não
seu primeiro ano de operação é crítico. O pagar pro-labore para si mesmo e contratar
volume de turistas ainda é pequeno para serviços de terceiros para pequenas tarefas.
arcar com o custo indireto projetado. Após estas decisões, o empresário calcula
Assim, o empresário volta à tabela de cus- novamente o seu overhead anual, incluindo
tos indiretos e avalia suas opções de as alterações para o primeiro ano (veja que
redução. Ele chega à conclusão de que a somente a coluna referente a este ano sofre
melhor forma de garantir a redução do alterações:

198
Viabilidade econômica – P LANEJAMENTO ESTRATÉGICO

TABELA 8

EXEMPLO DE CÁLCULO DOS CUSTOS INDIRETOS – 2ª TENTATIVA

ITEM VALOR EM R$
ANO 1 ANO 2 ANO 3 ANO 4 ANO 5
Aluguel de escritório 0 6.000,00 6.000,00 6.000,00 6.000,00
Eletricidade 0 1.200,00 1.200,00 1.200,00 1.200,00
Telefone 1.200,00 3.000,00 3.300,00 3.500,00 3.600,00 4
Pro-labore e
Remuneração de pessoal 0 39.000,00 52.000,00 52.000,00 52.000,00
Material de escritório 500,00 1.500,00 1.600,00 1.800,00 1.800,00
Promoção 10.000,00 15.000,00 10.000,00 15.000,00 10.000,00
Serviços Terceiros e
Contador 12.000,00 2.000,00 2.000,00 2.000,00 2.000,00
Total de custos indiretos
(ou overhead), por ano 23.700,00 67.700,00 76.100,00 81.500,00 76.600,00

É necessário também recalcular o over - ❒ Custo total do tour


head por turista para o ano 1: O cálculo do custo total do tour é tam-
bém chamado de Ponto de Equilíbrio (em
inglês, breakeven point), ou seja, o valor do
Custo indireto turista/ano =
tour onde todos os custos são pagos pela
custo indireto por ano venda do produto: não há ganhos, mas tam-
número de turistas ano 1 pouco há perdas. O cálculo do custo total
do tour é feito de acordo com a seguinte
Custo indireto turista/ano = fórmula:
R$ 23.700,00
100 turistas
Custo total do tour =
Custo indireto turista/ano = custo direto por turista +
R$ 237,00 no ano 1 custo indireto por turista/ano

Este valor final ainda é alto comparado


com os valores para os anos 2 a 5, Seguindo o nosso exemplo, o em-
refletindo uma empresa que ainda está presário precisa calcular o custo total do
começando. Por isto, o empresário dá tour para cada ano, para cada uma das três
prosseguimento ao cálculo do preço de seu categorias de grupos que definimos ante-
produto, usando o nível de turistas pre- riormente, ou seja, 4, 8 e 12 pax.
tendido nos próximos anos. A próxima
etapa é calcular o custo total do tour.

199
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

TABELA 9
EXEMPLO DE CÁLCULO DOS CUSTOS TOTAIS DO TOUR

VALOR EM R$, ARREDONDADO PARA UNIDADE


DESCRIÇÃO
ANO 1 ANO 2 ANO 3 ANO 4 ANO 5
4 8 12 4 8 12 4 8 12 4 8 12 4 8 12
Pax Pax Pax Pax Pax Pax Pax Pax Pax Pax Pax Pax Pax Pax Pax
Custo Direto* 212 160 155 212 160 155 212 160 155 212 160 155 212 160 155
4 Custo Indireto
por turista** 237 237 237 85 85 85 86 86 86 84 84 84 77 77 77
Custo total
do tour 449 297 292 297 245 240 298 246 241 296 244 239 289 237 232

( NOTAS : * Ver Tabela 5.


** Ver Tabela 6 mais valor para ano 1 calculado após a Tabela 8.

Por ser atípico, o empresário desconsi- Comissão – Lembre-se que você recebe o
dera o ano 1 como referência para continuar Preço NET, mas o turista paga o preço
seus cálculos. balcão, que ele compara com a concor-
Além de calcular o custo total do tour rência.
por ano para cada tamanho de grupo, ana- Câmbio – Para quem vende seu produto
lisando os valores da Tabela 9, o empresário no exterior, a cotização de preço é em
percebe que apenas para grupos de até 4 dólares, que são convertidos em reais
turistas, no ano 1, o custo total do tour apre- pela taxa de câmbio de compra. Como
senta um valor mais elevado do que a média seus custos serão, na maioria, em reais e
dos outros grupos e anos. O passo seguinte sempre há o risco da flutuação do câm-
é a formação do preço. bio não ser compatível com a inflação, a
solução é ter uma margem de segurança
❒ Formação de Preço nos cálculos da conversão para dólares.
Determinar o preço a cobrar não é fácil. Impostos – Dependendo do tipo de pes-
Em termos econômicos, o preço deve ser soa jurídica e do regime fiscal, há
maior que a soma de seus custos diretos e incidência de impostos sobre o fatura-
indiretos (ou seja, maior do que o Ponto de mento (ver capítulo Administração e
Equilíbrio). Quão maior depende de 4 Práticas Contábeis).
fatores: Para efeito de simplicidade, demons-
a) Demanda esperada para o produto. traremos a formação de preço para apenas
b) Preços praticados no mercado. um ano. Assim, vamos usar as seguintes pre-
c) Valor que o turista atribui ao diferen- missas :
cial que o produto tem quando comparado
com outros. O diferencial é aquilo que o • A base de cálculo é o ano 2, com es-
produto oferece e que os demais no merca- timativa de receber 800 turistas no ano.
do não oferecem. • Não há forte concorrência no merca-
d) O lucro que se quer obter. do, mas o preço-balcão – aquele
pago pelo turista pelo pacote – não
Para calcular o preço também deve ser deve ultrapassar R$ 375,00 para gru-
considerado: pos acima de 7 pessoas.
200
Viabilidade econômica – P LANEJAMENTO ESTRATÉGICO

• O lucro líquido desejado é por volta margem de lucro que se deseja e o valor que
de 8%. será necessário pagar de impostos.
• A carga de impostos é, em média, Ao calcular este valor adicional é fun-
7% do faturamento. damental lembrar que este é baseado no
• Não há venda do produto no exterior, valor total recebido pelo empresário. Um
ou seja, não é preciso preocupar-se erro comum é adicionar uma porcentagem
com margem de câmbio. ao custo total do produto. A Tabela 10
mostra a diferença entre as duas formas de
A primeira etapa é calcular o Preço Net cálculo, usando como exemplo o cálculo
do produto. Para tanto, deve-se acrescentar do valor do lucro para um grupo de 8 pax
ao custo total do tour por passageiro a no ano 2: 4

TABELA 10

COMO CALCULAR O PREÇO NET

CÁLCULO INCORRETO CÁLCULO CORRETO


Geralmente, para se calcular um valor Para evitar o prejuízo, calcula-se o valor total
adicional com base em uma porcentagem, a ser recebido (Custo Total + Adicional)
no caso 15% (margem de lucro + impostos), pela seguinte fórmula:
calcula-se o valor real da porcentagem (Lucro),
que se adiciona ao valor inicial (Custo Total). Preço Alvo = Custo Total = Custo Total
1 – Adicional (%) 1 – 15%
Adicional (R$) = Custo Total x 15%
Adicional (R$) = 245 x 15% Preço Alvo (R$) = 245 : 0,85 = R$ 288,24
Neste caso o adicional é de R$ 36,75. O adicional neste caso foi de R$ 43,24.

Portanto: Portanto:

Custo Total + Adicional = Preço Alvo Custo Total + Adicional = Preço Alvo
R$ 245 + R$ 36,75 = R$ 281,75 R$ 245,00 + R$ 43,24 = R$ 288,24

Ao receber do turista R$ 281,75, o empresário


vai calcular a sua margem de lucro após Ao receber o valor de R$ 288,24, o empresário
deduzir os impostos. Veja o que acontece: vai calcular a sua margem de lucro após
deduzir os impostos.
Impostos (R$) = preço alvo x 7%
Impostos (R$) = 281,75 x 7% = R$19,72 Impostos (R$) = preço alvo x 7%
Impostos (R$) = 288,24 x 7% = R$ 20,18
Preço Alvo – Impostos – Custo:
R$ 281,75 – R$ 19,72 – R$ 245 = R$ 17,03 Preço Alvo – Impostos – Custo:
R$ 288,24 – R$ 20,18 – R$ 245 = R$ 23,06
Margem de Lucro = Lucro –: Preço Alvo
Margem de Lucro = R$ 17,03 –: R$ 281,75 = 6% Margem de Lucro = Lucro –: Preço Alvo
Margem de Lucro = R$ 23,06 –: R$ 288,24 = 8%
Ou seja, o lucro é menor que pretendido
Ou seja, o lucro está adequado ao pretendido.

Seguindo o procedimento correto Adicional, o empresário chega aos


acima para o cálculo do Custo Total + seguintes valores para o ano 2:

201
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

TABELA 11
EXEMPLO DE CÁLCULO DO CUSTO TOTAL + LUCRO

POR PAX 4 PAX 8 PAX 12 PAX

Custo total (A) R$ 297,00 R$ 245,00 R$ 240,00

Custo total + lucro 8% +


impostos 7% (B) R$ 349,41 R$ 288,24 R$ 282,35
4
Valor da margem para
impostos e lucro (A – B) R$ 52,41 R$ 43,24 R$ 42,35

O empresário arredonda os Preços Net A última etapa da formação de preço


do seu produto para R$ 350,00 para gru- para o produto é a inclusão da comissão
pos até 6 passageiros, R$ 290,00 para gru- que o empresário passará para a agência
pos maiores. ou operadora de turismo que vender o seu
A diferença entre o Preço Net e o custo produto. O resultado será o Preço Balcão.
direto do tour é chamada de Margem No nosso exemplo, o empresário decidiu
Bruta. Nosso empresário precisa de uma adotar 20% de comissão para agências e
margem bruta média de R$ 135,00 por tu- operadoras. Mais uma vez, o Preço Balcão
rista para cobrir seu overhead e obter o deverá ser calculado antes de se poder
lucro desejado. Este valor médio, obtido verificar o valor absoluto da comissão. A
por meio da soma dos valores das três fórmula utilizada para calcular os valores
margens brutas dividida por 3 (ver tabela apresentados na Tabela 12 é:
12), é importante como referência para o
empresário negociar preços para grupos Preço Balcão =
de diferentes tamanhos.
Preço Net = Preço Net
1 – Comissão (20%) 0,8

TABELA 12

EXEMPLO DE CÁLCULO DO PREÇO BALCÃO

ITEM 4 PAX 8 PAX 12 PAX

Custo Direto R$ 212,00 R$ 160,00 R$ 155,00


Margem Bruta R$ 138,00 R$ 130,00 R$ 135,00
Preço Net R$ 350,00 R$ 290,00 R$ 290,00
Preço Balcão* R$ 437,50 R$ 362,50 R$ 362,50
Comissão 20% R$ 87,00 R$ 72,50 R$ 72,50

( NOTA:* Os valores foram arredondados para a unidade mais próxima.

202
Viabilidade econômica – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

Interpretando os valores da Tabela 12 como lucro.


para grupos de 8 pax, temos que: • Como os preços finais foram
• Cada turista pagará o valor de arredondados para cima, os valores
R$ 362,50 pelo pacote. absolutos para pagamento de im-
• Deste valor, R$ 72,50 serão pagos à postos e margem de lucro mostram
agência ou operadora de turismo uma pequena diferença em relação
como comissão. à tabela 10.
• Dos R$ 290,00 que o empresário
receberá, R$ 160,00 serão utiliza- ❒ Programas e Produtos
dos para pagar os custos diretos
(fixos e variáveis). Com o mesmo produto podem ser 4
• Da margem bruta de R$ 130,00, o montados diferentes programas, mudando
empresário pagará imposto sobre o o número de dias e o enfoque do progra-
faturamento no valor de R$ 20,3 (= ma. Se no exemplo abaixo o programa é
7% x R$ 290) , aplicará R$ 85,00 mudado para ornitologia, o custo com
para cobrir custos indiretos (Tabela guia vai aumentar (Tabela 13). Vamos
9) e retirará o restante (R$ 24,70) supor que o programa alternativo inclui:

TABELA 13
EXEMPLO DE CÁLCULO PARA PROGRAMA ALTERNATIVO

CUSTO POR PAX (EM R$)


ITEM TOTAL 4 PAX 8 PAX 12 PAX

Custo Direto Fixo


a) Guia local (2 diárias) R$ 60,00 15,00 7,50 5,00
b) Guia ornitólogo (2 diárias) R$ 200,00 50,00 25,00 16,67
c) Adicional de guia R$ 84,00 até 4 pax 21,00 0 0
d)Transporte R$ 200,00 até 10 pax;
R$ 300,00 mais de 10 pax 50,00 25,00 25,00
Total Custo Direto Fixo (DF) R$ 460,00 a R$ 560,00 136,00 57,50 46,67
Total Custo Direto Variável (DV) 120,00 120,00 120,00
Custo Direto Total
(CD = DF + DV) 256,00 177,50 166,67
Custo Indireto (CI) 85,00 85,00 85,00
Custo Total (CT = CD + CI) 341,00 262,50 251,67
Lucro + Impostos 15% (L+I) 60,17 46,32 44,41
Preço Net (net = CT + L + I) 401,17 308,82 296,08
Comissão 20% 80,24 61,76 59,22
Preço Balcão 481,41 370,58 355,30
Preço Balcão arredondado (final) do Programa Alternativo (PA) 485,00 375,00 355,00
Preço Balcão arredondado (final) do Programa Padrão (PP) 350,00 290,00 290,00
Diferença entre o Programa Padrão e o Alternativo (PA – PP) 135,00 85,00 65,00
203
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

• Um guia local a R$ 30,00 por dia. 3. Conta de Resultados


• Um especialista em ornitologia que
custa R$ 100,00 por dia. Conta de Resultados mostra se uma
• Considerando que os 2 guias dividam
um quarto, resultando em um adicional
A empresa teve lucros ou prejuízos nas
suas operações. Juntando os dados princi-
de custos com os guias de R$ 84,00 até pais de faturamento e custos numa mesma
4 turistas. planilha, chega-se à Conta de Resultados.
• O programa é criado no ano 2. (Tabela 14). O formato básico desta conta é:

TABELA 14
4
EXEMPLO DE CONTA DE RESULTADOS

ITEM CÁLCULO EXEMPLO PARA ANO


1 PARA 8 PAX (em R$)

Faturamento Bruto (FB) Preço net x nº de turistas 29.000


Impostos (I) 7% x FB 2.030
Faturamento Líquido (FL) FB – I 26.970
Custos Diretos (CD) custo direto x nº de turistas 16.000
Margem Bruta (MB) FL – CD 10.970
Custos Indiretos (CI) 23.700
Lucro Bruto (LB) MB – CI – 12.730
Lucro Líquido (LI) LB – IL – 12.730

Nosso empreendedor vai ter prejuízo no terrenos, construções, veículos, etc.).


primeiro ano. Por meio desta análise ele O passivo mostra como a empresa
sabe que deve ter uma reserva de Capital de financia essas coisas: por meio de
Giro de, no mínimo, R$ 12.730 para sobre- financiamentos (do banco ou de
viver ao primeiro ano. fornecedores) ou recursos próprios
(o patrimônio líquido).
4. Balanço Patrimonial
Tanto o ativo quanto o passivo são divi-
conta de resultados mostra se uma didos em curto prazo (menos que um ano) e
A empresa teve lucros ou prejuízos, mas
não se ela tem dinheiro em caixa. Para saber,
longo prazo. Essa distinção é importante
para verificar a liquidez, ou seja a rapidez
precisamos examinar o Balanço Patrimonial. com que a empresa pode cumprir suas obri-
gações. Uma empresa que tem um hotel
Balanço Patrimonial é uma radio- que vale R$ 1 milhão mas não tem dinheiro
grafia da empresa em uma certa data no banco, não tem liquidez, porque a venda
(geralmente o fim de um trimestre). do hotel leva tempo e, com a venda, a
O balanço patrimonial mostra o que empresa deixa de ter seu ativo principal.
a empresa tem (ativo) e como isso é Como o ativo e o passivo compõe dois
financiado (passivo). O que uma em- lados da mesma moeda, o valor total dos dois
presa tem é dinheiro, contas a rece- é sempre igual e qualquer operação finan-
ber, estoques e investimentos (em ceira tem reflexos nos dois lados do balanço.
204
Viabilidade econômica – P LANEJAMENTO ESTRATÉGICO

Voltando ao nosso exemplo, vamos • Ele precisa pagar R$ 5.000 para os


supor a seguinte situação: fornecedores.
• O empresário investiu R$ 22.730 de seu • Como ele teve prejuízo no primeiro ano,
próprio capital inicial no negócio (capi- o capital inicial ou patrimônio líquido foi
tal social). reduzido em R$ 12.730 e totalizou R$
• O balanço no final do ano 1 mostra que 10.000 no final do período.
sobraram R$ 10.000 em caixa.
• Ele ainda vai receber R$ 5.000 de seus
clientes.
TABELA 15
4
EXEMPLO SIMPLES DE BALANÇO PATRIMONIAL

ATIVO R$ PASSIVO R$
Curto prazo Curto prazo
4 Caixa e depósitos no banco 10.000 4 Contas a pagar 5.000
4 Antecipações de pagamentos 0 4 Juros a pagar 0
4 Contas a receber 5.000 4 Impostos a pagar 0
4 (– provisões contra 4 Financiamentos 0
maus pagadores) 0
4 Estoques 0 Longo prazo
4 Financiamentos 0

Longo prazo Patrimônio Líquido (capital social –


4 Investimentos 0 prejuízos acumulados) 10.000
4 (– depreciação) 0 4 Capital Social 22.730
4 Prejuízos Acumulados – 12.730

TOTAL 15.000 TOTAL 15.000

Observe que os itens investimentos, a) Compra e depreciação de bens


financiamentos e provisões estão sem va-
lores. Eles serão discutidos no item sobre Quando você compra um bem (terreno,
Fluxo de Caixa, abaixo. imóvel, móvel, equipamento, veículo etc.),
esse dinheiro sai de seu caixa no momento
5. Fluxo de Caixa da compra, mas não é mostrado como
despesa na sua demonstração de resultados.
Fluxo de Caixa é o ponto de partida O que aparece lá é a depreciação, que é um
O para a avaliação de investimentos.
Muitos negócios entram em falência nos
custo anual determinado pela vida útil do
bem. Depreciação é a desvalorização
primeiros anos devido ao planejamento (perda de valor) de um bem pelo seu uso ao
inadequado do Fluxo de Caixa. O Fluxo de longo dos anos. O bem pode simplesmente
Caixa mostra as saídas e entradas físicas de se acabar e necessitar de substituição (p. ex.
dinheiro na caixa, que geralmente não são um barco), ou tem que passar por consertos
iguais à Conta de Resultados. Isto porque ou reformas (p. ex. uma construção). A
existem regras determinadas pela Receita depreciação não é um custo que sai fisica-
Federal de como as saídas e entradas de din- mente do caixa. Na realidade, ao incluir a
heiro devem ser contabilizadas. Veja a razão depreciação de bens no Fluxo de Caixa
das principais diferenças: você está criando uma reserva futura para o
205
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

momento que precisar substituir ou reformar Conta de Resultados.


o bem.
Para calcular o valor da depreciação de Depreciação é o custo que aparece na
um bem, utiliza-se a seguinte fórmula: Conta de Resultados. Ela reduz o lucro e,
consequentemente, os impostos que inci-
% Depreciação anual = dem sobre o lucro. Por isso, a Receita
100% (valor do bem) Federal determina como calcular a depreci-
nº anos de vida útil do bem ação de um bem de acordo com o seu tipo.
Por ser um custo contabilizado na Conta
Este cálculo indica o percentual de de Resultados, e o valor de depreciação ser
4 depreciação anual. Porém, o valor absoluto alto, uma empresa pode ter prejuízos, mas
da depreciação anual é calculada da mesma ter um fluxo de caixa positivo (porque o
forma. Basta substituir 100% pelo valor valor de depreciação efetivamente não saiu
absoluto do bem: da caixa). Isto permite que a empresa sobre-
viva.
Um prédio de R$ 1 milhão com vida No exemplo a seguir, observe que a
útil de 20 anos, tem um custo de empresa com custo de depreciação tem um
depreciação anual de 5% (100% do custo mais alto e, conseqüentemente, um
valor / 20 anos) ou R$ 50 mil (R$ lucro mais baixo (neste caso, zero). Mas
1.000.000/20). O valor absoluto da como a empresa paga menos impostos, tem
depreciação, ou seja R$ 50.000, é o mais dinheiro em caixa que a empresa que
valor que aparece como despesa na não tem custo de depreciação.

TABELA 16
EXEMPLO DO EFEITO DA DEPRECIAÇÃO NO FLUXO DE CAIXA

ITEM SEM DEPRECIAÇÃO COM DEPRECIAÇÃO


Faturamento Liquido R$ 100.000 R$ 100.000
Custos R$ 50.000 R$ 50.000
Depreciação (não sai do caixa) 0 R$ 50.000
Lucro R$ 50.000 R$ 0
Impostos (20% do lucro) R$ 10.000 R$ 0
Lucro Líquido R$ 40.000 R$ 0
Em caixa R$ 40.000 R$ 50.000

b) Provisões e reversões acarreta diminuição do lucro contábil e dos


Em vários casos é permitido fazer pro- impostos pagos. No entanto, como não sai
visões, que são reservas para despesas do caixa da empresa, não tem efeito no
futuras, como por exemplo 13º salário, Fluxo de Caixa. Em caso de reversão acon-
devedores duvidosos, ações trabalhistas ou tece o contrário.
impostos. Se a despesa prevista não ocorrer
(o devedor duvidoso acaba pagando a dívi- c) Financiamento, juros e amortização
da) deve-se fazer uma reversão. Quando se contrata um financiamento
Por ser uma despesa contábil, a provisão são estabelecidas taxas de juros e a forma
206
Viabilidade econômica – P LANEJAMENTO ESTRATÉGICO

da amortização (prazo, valor e data de cem no passivo do Balanço. Só o paga-


vencimento das parcelas) do empréstimo. mento de juros aparece na Conta de
O financiamento e a amortização não Resultados como despesa. A tabela a seguir
aparecem na Conta de Resultados porque mostra como esses itens discutidos são
não são despesas, mas recursos que apare- contabilizados:

TABELA 17
COMO CONTABILIZAR OS BENS, FINANCIAMENTOS E PROVISÕES

EFEITO BALANÇO CONTA DE


AÇÃO NO CAIXA PATRIMONIAL RESULTADOS 4
Compra de bens Saída Aumenta ativo de longo prazo Não aparece
Depreciação de bens Não sai Reduz ativo de longo prazo Sim, despesa
Financiamento Entrada Aumenta passivo Não aparece
Juros sobre financiamento Saída Não aparece Sim, despesa
Amortização financiamento Saída Reduz passivo Não aparece
Provisão Não sai Depende Sim, despesa
Reversão (de provisão) Não entra Depende Sim, receita

A montagem do Fluxo de Caixa deve dade não saíram ou entraram no caixa.


considerar, além do lucro líquido, todos os • Depreciação
elementos que: • Provisões e reversões
a) Não entraram na conta de resultados:
• Investimento Para ilustrar usaremos um exemplo,
• Financiamento / amortização porém, neste caso, diferente do exemplo
padrão. Vamos supor que um empresário
b) Foram contabilizados no lucro líqui- que possui um hotel já em operação esteja
do como despesa ou receita, mas na reali- na seguinte situação:

TABELA 18
EXEMPLO DE MONTAGEM DE FLUXO DE CAIXA

O empresário teve um lucro líquido de R$ 100.000 + R$ 100.000


A depreciação anual dos bens é R$ 50.000 + R$ 50.000
Ele investiu num anexo de R$ 100.000 - R$100.000
Ele obteve um financiamento de R$ 25.000 (carência de 1 ano) + R$ 25.000
Ele fez uma provisão contra devedores duvidosos de R$ 5.000 + R$ 5.000
Ele fez uma reversão de provisão referente a ações trabalhistas de R$ 10.000 - R$10.000
TOTAL +R$ 70.000

Ou seja, o fluxo de caixa é R$ 30 mil a


menos que o lucro líquido neste exemplo.
207
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

6. Especificação do Investimento R$ 50.000, o empresário dessa pousada


passará a precisar de um total de
investimento deve ser especificado em R$ 667.750 para ter sucesso (v. Tabela 19).
O detalhes. Esta nem sempre é uma tare-
fa fácil, mas é essencial porque a primeira 7. Cálculo de Viabilidade Econômica
pergunta do investidor é: como podemos
cálculo de viabilidade econômica é uti-
reduzir o investimento?
Como o investimento é pequeno no
exemplo da operadora de um tour, vamos
O lizado para conciliar o risco de um
empreendimento com o retorno esperado. O
demonstrar o exemplo de uma pousada. cálculo é sempre feito com base no Fluxo de
4 Primeiro temos o custo do projeto, construção Caixa, que considera: a) investimento inicial
e decoração da pousada. A pousada vai ter 20 e b) fluxo de caixa da empresa em operação.
quartos com 3 camas cada, e ocupar 1.000 Voltando ao exemplo da operadora de
m2. Além disso vai ter um restaurante. Na um tour de 2D e 1N, o investimento dele foi:
tabela abaixo é mostrado o cálculo do inves- • Computador / Fax 4 R$ 6.000
timento. Na última coluna tem-se a percent- • Móveis / Material 4 R$ 5.000
agem de depreciação anual. No caso da con- • Dinheiro / tempo 4 R$ 29.000
strução, estamos falando de um custo anual • Total R$ 40.000
de 5% X R$ 500.000 = R$ 25.000 por ano.
Observe que a maior parte do investi- O item dinheiro / tempo deve-se ao fato
mento está na construção (R$ 500.000 de de que, no primeiro ano, o empresário não
R$ 567.750). Uma redução de 10% no recebeu remuneração por seu trabalho,
preço da construção paga quase todo o então fez um investimento pessoal, neste
resto do investimento. O empreendedor caso um pouco mais baixo do que o pro-
deve saber negociar bem esta parte. labore planejado a partir do ano 2.
Os três critérios de viabilidade geral-
Além do custo para montar a pousada mente usados são:
(ou qualquer outro projeto), • Recuperação do investimento (Payback).
deve-se verificar se há despesas • Valor presente.
pré-operacionais. No exemplo • Taxa interna de retorno.
da pousada, precisa-se contratar e treinar A seguir apresentaremos cada um deles.
empregados (e pagar salários antes
❒ Recuperação do investimento
da abertura), organizar um famtour para
(Payback). Payback ou recuperação do
agências (ver capítulo Elaboração do investimento é o número de anos e
Produto de Ecoturismo), etc.. meses para recuperar o investimento.
No caso de nosso exemplo, o investi-
O Fluxo de Caixa provisório também mento inicial foi de R$ 40.000 e igno-
vai mostrar a necessidade de capital de ramos a depreciação do computador e
giro. Se a empresa terá prejuízos nos dos móveis. No Fluxo de Caixa observe
primeiros anos de existência, o que é bas- que nosso empreendedor só irá recu-
tante comum, isso deve ser previsto. Por perar o investimento no quarto ano. O
isso é necessário uma reserva de capital, método payback de recuperação do
caso contrário o empresário irá à falência. investimento é um cálculo rápido para
Supondo que as despesas pré-opera- pequenos investimentos, mas não serve
cionais serão de R$ 50.000 e o capital de para investimentos maiores porque não
giro necessário para sobreviver nos considera o Fluxo de Caixa depois da
primeiros dois anos também é de recuperação do investimento.
208
Viabilidade econômica – P LANEJAMENTO ESTRATÉGICO

TABELA 19
EXEMPLO DE ESPECIFICAÇÃO DO INVESTIMENTO

ITEM UN. QTDE. VALOR/UN. VALOR VIDA ÚTIL DEPRECIAÇÃO


EM R$ TOTAL ANOS ANUAL
EM R$
Construção
4 Projeto Arquitetônico 1 10.000 10.000
4 Construção m2 1000 500 500.000 20 5%
4 Paisagismo m2 500 20 10.000 4
Móveis
4 Camas, colchões 60 250 15.000 10 10%
4 Armários 20 300 6.000 10 10%
4 Mesas, cadeiras 6/24 350 2.100 10 10%
4 Sofás, poltronas 4 300 1.200 10 10%
4 Balcão recepção 1 500 500 10 10%
Equipamentos
4 Computador, Impressora 1 3.000 3.000 5 20%
4 Telefone (2 linhas), fax 2 1.500 3.000 5 20%
4 Microondas 1 300 300 5 20%
4 Geladeira, freezer 2 1.000 2.000 5 20%
4 Fogão 1 500 500 5 20%
4 Televisão, som 2 600 1.200 5 20%
4 Ventilador teto 22 150 3.300 5 20%
4 Chuveiros 22 50 1.100 5 20%
Outros
4 Cama, mesa, banho 80 60 4.800
4 Louças, talheres 50 15 750
4 Decoração 3.000 3.000
TOTAL 567.750

TABELA 20
EXEMPLO DE CÁLCULO DE PAYBACK

ANO 0 ANO 1 ANO 2 ANO 3 ANO 4 ANO 5

Lucro líquido* -12.730 20.060 20.436 24.690 35.209

Fluxo de caixa -40.000 -12.730 20.060 20.436 24.690 35.209

Cumulativo -40.000 -52.730 -32.670 -12.234 12.456 47.664

( NOTA * Estes valores foram calculados de acordo com a Tabela 14.

209
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

O método payback de recuperação do – em que se quer verificar o Valor Presente.


investimento é um cálculo rápido para Isto quer dizer que a taxa de desconto é
pequenos investimentos, mas não serve cumulativa a cada ano. A uma taxa de 15%,
para investimentos maiores porque não a fórmula fica assim:
considera o Fluxo de Caixa depois da
recuperação do investimento. Valor Presente Ano 1 =
Valor do fluxo do período 1 = Valor
❒ Valor Presente O Valor Presente parte
do princípio que há um custo de oportu- (1 + 15%) 115%
nidade ao se investir num empreendi-
4 mento. Quando você decide fazer um
investimento, há uma variedade de Valor Presente Ano 2 =
opções no mercado: você pode depositar Valor do fluxo do período = Valor
seu dinheiro em renda fixa, num fundo (1 + 15%) x (1 + 15%) 132%
de ações ou em outro empreendimento.
Se nosso empreendedor tivesse investido
R$ 40.000 em renda fixa, poderia ter Valor Presente Ano 3 =
ganho 15% por ano. Valor do fluxo do período = Valor
(1+15%) x (1+15%) x (1+15%) 152%
Para fazer a escolha certa, precisa-se
descontar do valor do fluxo de dinheiro
futuro a taxa de rendimento que se poderia Assim, é preciso definir um horizonte, ou
ter em outro investimento. Geralmente a seja, o Valor Presente do fluxo de caixa
taxa de desconto usada é a da renda fixa futuro durante um período de 5 anos, 10
(risco mínimo). A fórmula usada é: anos, e assim por diante. Veja como nosso
Ou seja, (1 + taxa de desconto) expo- exemplo, descontado a 15% por ano,
nenciado ao número de períodos – ou anos durante 5 anos, chega a um Valor Presente
Cumulativo de R$ 9.157. Isso significa que
o investimento do empreendedor rendeu
Valor Presente = R$ 9.157 a mais que um investimento no
Valor do Fluxo do Período mesmo prazo em renda fixa com taxa de
(1 + taxa desconto) número de períodos 15%.

TABELA 21
EXEMPLO DE CÁLCULO DE VALOR PRESENTE

ANO 0 ANO 1 ANO 2 ANO 3 ANO 4 ANO 5

Fluxo sem desconto -40.000 -12.730 20.060 20.436 24.690 35.209


Fluxo Cumulativo
sem desconto -40.000 -52.730 -32.670 -12.234 12.456 47.664
Valor Presente Fluxo
com 15% de desconto* -40.000 -11.070 15.168 13.437 14.116 17.505
Fluxo Cumulativo com
15% desconto -40.000 -51.070 -35.901 -22.464 -8.348 9.157

( NOTA: * Valores arredondados para a unidade.


210
Viabilidade econômica – P LANEJAMENTO ESTRATÉGICO

❒ Taxa Interna de Retorno – Para saber seja, aplica-se uma taxa de desconto e
a rentabilidade do investimento, verifica-se o resultado: se o Va l o r
usa-se a Taxa Interna de Retorno Presente cumulativo é maior que zero, é
(TIR). Na tabela acima pudemos preciso aumentar a taxa de desconto; se o
verificar que o rendimento é maior Valor Presente cumulativo é menor que
do que 15% ao ano em 5 anos, pois zero, é preciso diminuir a taxa até que o
o Valor Presente indicou que meu resultado aproxime-se de zero. Fe l i z-
rendimento foi de R$ 9.157. A Taxa mente, no programa Excel do Microsoft
Interna de Retorno diz quanto é este Office existe uma formula para fazer isto
rendimento e, por isto, é igual à taxa (Fórmulas Financeiras TIR).
de desconto que faz o valor presente Veja na Tabela 22, usando o exemplo da 4
cumulativo chegar a zero. Tabela 21, que, para se atingir o Valor Presente
O cálculo é um processo interativo, ou Cumulativo a zero, esta taxa é de 20,9%.

TABELA 22
EXEMPLO DE CÁLCULO DA TAXA INTERNA DE RETORNO

ANO 0 ANO 1 ANO 2 ANO 3 ANO 4 ANO 5

Fluxo sem desconto -40.000 -12.730 20.060 20.436 24.690 35.209


Valor Presente do Fluxo
com 20,9% de desconto -40.000 -10.533 13.733 11.576 11.571 13.653
Cumulativo -40.000 -50.533 -36.800 -25.224 -13.653 0

8. Benefícios Sociais e Ambientais Locais economia local. Para estimar o impacto


econômico do negócio na comunidade,
m investimento em ecoturismo de base deve-se:
U comunitária visa beneficiar social e
economicamente a comunidade local, a) Identificar e calcular as fontes de
assim como garantir melhor uso e conser- renda para a comunidade,
vação dos recursos naturais, principalmente tais como:
áreas protegidas. Para se acompanhar se os
benefícios de fato possuem impacto na • Salários locais (direto da Conta de Resul-
comunidade, deve-se partir do ponto do tados).
diagnóstico. Ou seja, no momento do • Fornecedor de refeições (% do custo de
inventário (Ver capítulo Levantamento do alimentação na Conta de Resultados).
Potencial do Ecoturismo) tem-se o ponto • Fornecedor de transporte.
zero, antes do investimento econômico do • Fornecedor de artesanato e outros produ-
ecoturismo. Ao passar por exemplo 5 anos, tos típicos locais e também equipamen-
pode-se fazer um novo levantamento que tos diversos.
dirá, em quantidade e qualidade, os benefí- • Participação no lucro.
cios introduzidos por esta atividade em ter-
mos ambientais, sociais e econômicos. b) Estimar a renda per capita
Economicamente, ao analisar um projeto da comunidade.
deve-se fazer uma estimativa da renda adi-
cional gerada pelo ecoturismo. O ecoturis- O impacto econômico do projeto de
mo pode diversificar e ativar sobremaneira a ecoturismo pode ser deduzido calculando-
211
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

se o quanto a renda gerada pelo ecoturismo lidade econômica, ou em uma macro


aumenta a renda per capita atual da comu- região, como é o caso do Mercosul. Deve-se
nidade. Para tanto deve-se estabelecer o também considerar eventos inesperados
ponto zero da situação sócio econômicapor como incidentes políticos internacionais
meio de um diagnóstico específico. que refletem nos fluxos de turistas.
Os benefícios sociais da atividade Além de considerar os riscos, há que se
podem também ser diversos. Como o eco- ponderar as diferentes opções de investi-
turismo demanda melhorias na infra-estrutu- mento. A princípio, ninguém investe num
ra local, há geração de benefícios adicionais projeto que dá retorno menor que uma apli-
para a comunidade tais como: cação em renda fixa (antes do pacote fiscal
4 de novembro de 1998, estava em 10% real
• Postos de saúde. ao ano; em 1999 estava em 15%; em 2000
• Melhorias no transporte e vias de acesso. continuou em torno de 15%). Para investi-
• Acesso a novas tecnologias (por exem- mentos de risco no Brasil, as taxas de
plo, sanitário seco). retorno desejadas são de, no mínimo, 25%
• Treinamento (diversificação do emprego). para empresas com experiência no ramo.
Para projetos de ecoturismo de base
Em termos ambientais, o ecoturismo comunitária, a análise de viabilidade deve
pode vir a gerar mais recursos para a con- reconhecer que:
servação de áreas naturais, tais como:
• O investidor, na realidade, é um incenti-
• Divisas (ingressos) nos parques públicos vador e nem sempre busca a mais alta
e reservas particulares rentabilidade para seu dinheiro.
• Gerar recursos para fundo de conservação • O projeto de ecoturismo pode (e deve)
ou fundo para demandas da comunidade. ter outros efeitos, como um aumento na
• Diminuir a pressão por extração de pro- renda da comunidade ou a conservação
dutos naturais. de áreas naturais prioritárias.

IV. RISCOS E RECOMENDAÇÕES Por essas razões, a taxa interna de


retorno exigida pode ser mais baixa que
A decisão de investir ou não num proje- para um projeto puramente comercial, mas
to depende da avaliação do risco desse pro- de preferência deve ser maior que o rendi-
jeto e das outras opções de investimento. Os mento da renda fixa. De qualquer forma,
riscos percebidos são ligados às perguntas vale a pena considerar outras alternativas de
do início do capítulo: investimentos para escolher aquela com
melhor relação risco / retorno. Nem sempre
• Um produto novo tem risco maior que o ecoturismo é o melhor investimento. Este
um produto já conhecido. momento de decisão é extremamente
• Um mercado novo tem risco maior que importante pois deve-se levar em conta ou-
um mercado já conhecido. tros pontos abordados neste Manual, como
• Gerentes sem experiência no ramo sig- por exemplo, o inventário de oferta turística,
nificam risco maior. a geração de impactos ambientais ou a me-
• Um empreendimento com altos custos lhor vocação profissional e estratégica da
indiretos tem menos flexibilidade e, por- comunidade e da região. Por exemplo pode-
tanto, maior risco que um empreendi- se preferir investir em um manejo florestal
mento com baixos custos indiretos. comunitário, visando desenvolver produtos
certificados, pois atende à vocação da
Além disso, há um risco geral próprio do comunidade, possui mais fácil acesso aos
país – Brasil – com seu histórico de instabi- mercados, possui variada oferta de áreas
212
Viabilidade econômica – P LANEJAMENTO ESTRATÉGICO

para serem exploradas e melhor acesso a possa acompanhar o trabalho de um profis-


treinamentos. sional e assegurar-se de que seus cálculos
Como foi dito no começo deste capítulo, estão corretos.
nosso objetivo não é o de formar economis- V. MAIS INFORMAÇÕES
tas. O estudo de viabilidade econômica é
complexo, tornando-se mais complexo de As mais importantes fontes de apoio para
acordo com o tamanho do negócio ou à empreendedores de turismo no Brasil são:
medida em que ele cresce (mais produtos,
mais clientes, maiores investimentos, mais • Serviço Brasileiro de Apoio à Micro e
pessoal, infra-estrutura etc.). Portanto, Pequena Empresa - SEBRAE -
recomenda-se enfaticamente que uma pes- http://www.sebrae.com.br 4
soa com conhecimento específico na área (cada estado tem um SEBRAE cujo ende-
econômica seja encarregada da elaboração reço na Internet é o mesmo acima acres-
do estudo de viabilidade econômica ou cido da UF ao nome “sebrae”, antes do
pelo menos acompanhe regularmente seu ponto, por exemplo, www.sebraedf.
desenvolvimento enquanto o negócio é com.br)
planejado, implementado e gerenciado nos • Instituto Brasileiro de Turismo - Embratur
seus primeiros anos. Os tópicos tratados http://www.embratur.com.br
neste capítulo ajudam o leitor do Manual a • Serviço Nacional de Aprendizagem Co-
entender como se calcula a viabilidade mercial - SENAC -
econômica e lhe dão instrumentos para que http://www.senac-nacional.br/

213
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

✑ TOME NOTA:

214
IMPLEMENTAÇÃO RESPONSÁVEL

5. Infra-estrutura
de apoio ao ecoturismo
Waldir Joel de Andrade
Johan van Lengen
Anna Paula Costa Santos

I. OBJETIVO aproveitamento das condições físicas e da


mão-de-obra local, entre outros.
objetivo deste capítulo é prestar ori- Assim, as estruturas e equipamentos de

O entação a projetos de ecoturismo


para a adoção de tecnologias alter-
nativas na implantação de infra-estrutura e
apoio para a adequada implantação do eco-
turismo, tais como edificações em hospe-
dagem, recepção ao visitante e áreas de
camping e suas respectivas construções para
5

equipamentos. São abordadas também


questões como geração de energia, trata- tratamento de resíduos líquidos e sólidos,
mento de detritos e aproveitamento de geração de energia e captação e tratamento
recursos e paisagem naturais . de água, devem demonstrar uma filosofia e
se inspirar numa conduta ecologicamente
II. INTRODUÇÃO CONCEITUAL corretas. O aproveitamento equilibrado dos
espaços e a integração com o ambiente do
Nas últimas décadas, tem-se observado entorno, além de proporcionar ao hóspede
que o consumidor está mais atento para ou cliente uma sensação de bem-estar,
negócios que respeitam o meio ambiente. demonstram as intenções e atitudes das pes-
Assim, produtos que apresentam soluções soas envolvidas com o empreendimento. Da
tecnológicas socialmente e ambientalmente mesma forma, as questões ligadas ao sanea-
adequadas tendem a agregar valor à sua mento podem demonstrar mais do que uma
qualidade e conquistar maiores faixas de preocupação imediatista com a saúde, mas
mercado. No caso do turismo, um número uma visão mais abrangente de qualidade
crescente de viajantes tem procurado ambi- ambiental e de vida.
entes menos alterados, em busca de contato Este capítulo aponta o emprego de algu-
mais direto com paisagens naturais ou mani- mas técnicas e ecotécnicas (aquelas que
festações culturais representativas. minimizam o impacto ambiental negativo)
O ecoturismo reflete essa nova reali- no planejamento e implantação de infra-
dade. Para atender a tal público, o estrutura e equipamentos para as atividades
empreendedor deve estar atento não só ao ecoturísticas. O emprego das mesmas no
lugar onde irá instalar-se, à forma de rece- planejamento arquitetônico de estruturas,
ber, hospedar ou conduzir seus clientes, na construção, geração de energia e sanea-
mas principalmente deve proporcionar a mento básico contribui para um melhor
maior interação e integração possíveis entre aproveitamento dos recursos naturais e para
os visitantes e entre esses e a natureza. a manutenção da qualidade ambiental.
Para isso, pode-se valer de atividades Muitas dessas técnicas também contribuem
contemplativas, esportivas e educativas que para a economia nos custos mensais de
proporcionam maior contato com a operação do empreendimento, tornando-se
natureza, além de investir no uso equilibra- um ponto importante no plano de viabili-
do e adequado dos espaços e materiais, no dade econômica.
217
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

Na Caixa de Ferramentas a seguir, são 3. Uso de material local e geração


abordadas formas práticas de proporcionar de empregos.
maior interação entre homem e ambiente 4. Saneamento adequado.
natural, por meio do uso adequado de 5. Sistemas alternativos de geração
ecotécnicas. Também será apresentado o de energia.
conceito de ecopousada (Ecolodge – ou re- 6. Áreas de acampamento.
fúgio ecológico), as várias formas de cam - 7. Equipamentos complementares.
ping e outras estruturas necessárias às ativi-
dades ecoturísticas. 1. Critérios sustentáveis
para ecopousadas (Ecolodges)
III. CAIXA DE FERRAMENTAS

Nesta seção serão apresentadas breve-


mente diversas técnicas alternativas que
C onsideramos que o principal tipo de
construção gerado para fins de ecotu-
rismo é a ecopousada e, assim, apresenta-
5 podem ser aplicadas na construção de infra- mos algumas considerações específicas para
estrutura voltada para o ecoturismo. Um este tipo de estrutura. Uma ecopousada
detalhamento mais aprofundado da apli- pode ser definida como um estabelecimen-
cação de cada técnica escapa à abrangência to turístico de pequeno porte, localizado em
deste capítulo, mas são indicativos na toma- ambientes naturais privilegiados, e que
da de decisão neste campo. E como com- adota os princípios ecoturísticos.
plemento, sugere-se a contratação de A qualidade ambiental, a valorização da
especialistas em seus diversos assuntos. cultura e da mão-de-obra local são questões
Neste capítulo serão abordados os sempre vinculadas a esse tipo de em-
seguintes tópicos: preendimento.
1. Critérios sustentáveis para Para efeito de ilustração, apresentamos
ecopousadas (Ecolodges). algumas diferenças entre uma ecopousada e
2. Integração casa, pessoa e ambiente. uma pousada ou hotel convencionais,
observadas no quadro a seguir:

1 QUADRO 1
DIFERENÇAS ENTRE ECOPOUSADAS E POUSADAS/HOTÉIS

ECOPOUSADA POUSADA/HOTEL

Pequena área construída Pode ter praticamente


em relação à área verde. toda a área construída.

Incentiva a culinária local. Não incentiva, necessariamente,


a culinária local.
Valoriza mão-de-obra local. Mão-de-obra especializada
ou de grandes centros.

Proporciona lazer e educação. Proporciona lazer.

Construção mais rústica. Construção mais luxuosa.

Estabelecida necessariamente em local Maior flexibilidade para a localização.


com atrativos naturais e/ou culturais.
218
Infra-estrutura de apoio ao ecoturismo – IMPLEMENTAÇÃO RESPONSÁVEL

Os princípios de sustentabilidade que materiais, equipamentos e mão-de-obra, for-


devem ser aplicados em uma ecopousada mando um sistema funcional que minimiza o
podem ser sintetizados como "estruturas impacto ambiental na implantação e no con-
construtivas que otimizam espaço, paisagens, sumo de recursos naturais na sua operação".
1 QUADRO 2
DIRETRIZES PARA A SUSTENTABILIDADE DE UMA ECOPOUSADA (1)

DURANTE O PLANEJAMENTO

❐ Definir um zoneamento do terreno e da ❐ Valorizar a cultura local / regional na


área de uso intensivo (estacionamento, arquitetura, gastronomia, artesanato, fol-
construções etc) e das áreas de proteção, clore, produtos de consumo etc;
procurando estabelecer reservas naturais
próprias protegidas sob a forma de Reserva DURANTE A IMPLANTAÇÃO
5
Particular do Patrimônio Natural (RPPN);
❐ Respeitar os locais legalmente protegidos, ❐ Adotar práticas de mínimo impacto
tais como Áreas de Preservação Permanente ambiental durante sua construção;
(APP's) (p. ex. ninhais e beira de rios e lagos, ❐ Utilizar mão-de-obra local e mutirão
encostas de morros) e Reserva Legal; comunitário;
❐ Ter atenção especial para o uso de áreas ❐ Adotar o uso de tecnologias tradicionais
extrativistas, recreativas e agrícolas da locais;
comunidade local e, principalmente, de ❐ Utilizar materiais locais, porém de fontes
áreas indígenas ou protegidas; sustentáveis ou reciclados;
❐ Planejar as edificações e os equipamentos
para que tenham identidade com a DURANTE A GESTÃO / OPERAÇÃO
arquitetura e estilos regionais;
❐ Planejar as construções para melhor apro- ❐ Buscar a eficiência na conservação e
veitamento das condições solar e eólica, de administração de água e energia;
forma a propiciar conforto aos visitantes; ❐ Orientar os funcionários e clientes para a
❐ Usar fontes alternativas de produção de redução da demanda de água e energia;
energia (solar, eólica etc) e de água; ❐ Reduzir o consumo de qualquer material
❐ Proteger a qualidade dos recursos hídri- evitando o desperdício, e quando possí-
cos, planejando os sistemas de abasteci- vel, implantar métodos de reutilização e
mento e de tratamento e lançamento ade- reciclagem;
quado de efluentes líquidos; ❐ Disponibilizar informações e recomen-
❐ Possuir tratamento de resíduos sólidos (cole- dações ambientais aos clientes por meio
ta seletiva, reciclagem, disposição adequa- de guias e cartilhas;
da, produção de composto orgânico etc); ❐ Treinar funcionários com atividades de
❐ Ter inventários de flora e fauna e também educação ambiental;
dos recursos culturais atrativos, proporcio- ❐ Promover a integração e interação entre
nando trilhas e equipamentos para ativida- os visitantes e as comunidades locais
des tais como: caminhadas, cavalgadas etc. receptoras;
❐ Envolver a comunidade local, tornando-se ❐ Monitorar todas as atividades do empre-
uma alternativa econômica local e/ou endimento para controle de eventuais
regional; impactos ambientais e/ou culturais.
(1) – Compilado pelo editor, com base em Salvati, 2002
219
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

Uma ecopousada deve estar, obrigatoria- pesquisa de mercado, a análise de legis-


mente, localizada em ambiente que propor- lação restritiva e um plano de viabilidade
cione maior contato dos hóspedes com a econômica, entre outros pontos abordados
natureza, ou com os aspectos culturais de em capítulos específicos neste Manual,
uma comunidade e, para tanto, pode: devem ser atentamente considerados.
Os elementos tratados nos tópicos
❐ Buscar cenários de beleza natural, abaixo também são aplicáveis a qualquer
❐ Buscar regiões com atrativos naturais e construção, particular (casas, edifícios, etc.),
culturais, ou comercial (restaurantes, hotéis, lojas, etc.)
❐ Buscar locais com potencial para o ou comunitária (escola, centro social, etc.).
desenvolvimento de atividades ecoturís-
ticas (caminhadas, contemplação da 2. Integração casa,
natureza, esportes radicais, entre outras). pessoa e ambiente

5 A arquitetura de uma ecopousada deve ❐ ZONEAMENTO E LOCALIZAÇÃO


valorizar as belezas naturais e as carac-
terísticas culturais do local onde está insta- O zoneamento inclui o planejamento de
lada. Além disso, outras questões impor- todas as áreas de uso, de acordo com a uti-
tantes a serem destacadas são: lização a que se destinam: área de chegada,
estacionamento, hospedagem, refeições,
❐ Identificar espécies vegetais nativas, para serviço e manutenção. Não menos impor-
a recomposição de áreas alteradas e para tantes são as áreas de lazer, que devem
o projeto de paisagismo; incluir trilhas, locais para a prática de
❐ Pesquisar o patrimônio histórico do lugar, esportes de aventura, mirantes e outros, de
buscando referências técnicas e artísticas; acordo com o potencial da área.
❐ Buscar equilíbrio entre a paisagem de Na escolha do local devem ser conside-
entorno e a instalação; radas o tamanho e a declividade do terreno,
❐ Garantir a segurança de hóspedes e fun- procurando observar a drenagem da água em
cionários; dias de chuva. Deve-se evitar grandes movi-
❐ Priorizar o conforto ambiental (apro- mentações de terra (aterro e corte), aprovei-
veitamento da luz, ventilação e calor tando a declividade natural do terreno para
naturais); criar níveis no projeto das edificações.
❐ Pensar na proporção entre o volume da Observar uma distância adequada de
obra e seu entorno; locais de uso tradicional das comunidades,
❐ Refletir na infra-estrutura a filosofia de assim como dos pontos de atração, evitando
conservação ambiental presente no turis- conflitos de usos (ruídos, impacto visual etc.).
mo ecológico. Por fim, deve-se planejar as facilidades
de acesso e estacionamento, procurando
A adoção de alguns destes procedimen- evitar distâncias consideráveis do ponto
tos permitirá ao produto de ecoturismo, no atrativo principal.
caso a ecopousada, adquirir maior confia-
bilidade e competitividade no mercado e ❐ ORIENTAÇÃO
garantirá o seu comprometimento com a
conservação ambiental, enquanto reduz Durante a fase de projeto, deve-se pen-
custos, principalmente nos gastos com ener- sar que a orientação dos cômodos deve pro-
gia e na geração de resíduos poluentes. porcionar conforto climático aos seus
Mas estes aspectos não são únicos usuários. Na visita ao local observar atenta-
fatores determinantes para a decisão de se mente a origem predominante dos ventos e
investir em uma ecopousada. Assim, uma a posição do sol. Geralmente os povos
220
Infra-estrutura de apoio ao ecoturismo – IMPLEMENTAÇÃO RESPONSÁVEL

locais conhecem muito bem essas orien- topografia, vegetação e direção predomi-
tações. Por exemplo, a posição dos ventos nante dos ventos pode tornar qualquer
fortes e das chuvas devem ser considerados espaço interno confortável. Terraços e
para orientar a casa (ou os quartos) em uma varandas proporcionam abrigo confortável
posição mais abrigada. sem isolar o hóspede da paisagem. No eco-
Nas regiões abaixo da linha do Equador, turismo, recomenda-se o projeto passivo,
a face sul é a que recebe menor insolação, pois prioriza a interação harmoniosa entre o
permanecendo mais fria e úmida. A face ambiente e a área construída.
leste recebe os primeiros raios do sol e a
face norte o maior número de horas de inso- ❐ PAISAGISMO
lação por dia. Por exemplo, dormitórios
orientados para a face leste recebem os A atenta observação da paisagem do ter-
primeiros raios de sol, fator importante nas reno onde será construída a ecopousada, e
regiões mais frias, como nas montanhas. Em da região onde se insere, permite identificar
lugares mais quentes, os dormitórios podem o conceito a ser aplicado no paisagismo do 5
estar voltados para a face sudoeste, evitando entorno da construção. O aproveitamento
o calor excessivo pela manhã ou o sol dire- natural de pedras, riachos, árvores frutíferas,
to da tarde. ornamentais ou de sombra são o primeiro
Áreas de lazer devem ser orientadas de passo para um projeto integrado à natureza.
acordo com sua função. Uma piscina deve Para o paisagismo de entorno, busque na
estar localizada entre as faces leste e norte, comunidade pessoas com vocação em jardi-
aproveitando o maior número de horas de nagem e que conhecem os exemplares da
insolação possível. Quando a intenção for flora local melhor adequados para seu pro-
aproveitar a beleza do pôr-do-sol, o jardim jeto. E procure não fugir dos padrões da
ou o mirante devem ser orientados preferen- natureza existentes no ecossistema local.
cialmente para a face oeste. Áreas que
geram calor (cozinha, lavanderia) devem ser
orientadas para a face sul, evitando o acú- 3. Uso de material local
mulo de calor. A face sul pode ser e geração de empregos
aproveitada também para jardins ou para
algumas aberturas da construção que ve-
nham a refrescar o ambiente da pousada. O ecoturismo desenvolve-se principal-
mente em lugares afastados dos
grandes centros urbanos, onde as comu-
❐ CLIMA E CONFORTO nidades são pouco populosas e conservam
valores e tradições importantes para a
Em arquitetura existem duas formas de manutenção do equilíbrio sócio-econômi-
projetar: uma passiva e outra ativa (Lengen, co. Nesse cenário, a implantação de qual-
1996). Projeto ativo é aquele que, con- quer empreendimento, mesmo pequeno,
siderando funcionamento e estética, propõe apresenta um forte potencial de interação,
a instalação de equipamentos mecânicos negativa ou positiva, com a comunidade e
que proporcionem conforto ambiental aos com o meio ambiente.
ocupantes dos prédios (aquecimento, venti- Algumas ações podem potencializar os
lação etc.). impactos sócio-ambientais positivos e miti-
O projeto passivo considera as gar os negativos advindos dessa nova ativi-
condições climáticas locais, proporcionan- dade. Por exemplo, uma ecopousada pode
do conforto por meio de ventilação natural, gerar novos empregos para a população
materiais apropriados e escolha atenta das local, não somente na fase de construção,
plantas que darão abrigo do calor e da mas também na operação. E para minimizar
chuva. A localização correta em relação à os custos de implementação pode-se utilizar
221
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

dos métodos de mutirão comunitário, onde tária). Quando um dos objetivos é envolver
todos se beneficiam com a economia de mão-de-obra e comunidades locais e, mais
recursos. que isso, contribuir para melhorar a quali-
Um programa de educação para o tra- dade de vida local, o método de construção
balho comunitário pode, e deve, ser parte e os materiais devem ser escolhidos cuida-
do processo de implantação de um dosamente.
empreendimento ecoturístico. Para tanto,
todas as etapas do processo de implantação ❐ SELEÇÃO DO MÉTODO DE CONSTRUÇÃO
e operação devem contar com o envolvi-
mento da comunidade. A valorização da Todo desenvolvimento de infra-estrutura
mão-de-obra local estimula os moradores a voltada para a prática do ecoturismo deve
aprender novas técnicas e ofícios (ver capí- considerar a possibilidade de uso de ecotéc-
tulo Programa de Capacitação Comuni - nicas, principalmente porque em grande
parte não são técnicas
5 muito complicadas. Pode-
COMO IDENTIFICAR ECOTÉCNICAS: se identificar se uma técni-
ca de construção é uma
ecotécnica por meio da
Para reconhecer uma ecotécnica, verificação de algumas ca-
é preciso responder afirmativamente racterísticas.
às seguintes questões: Para cada fase da obra,
fundação, estrutura e veda-
ção, deve-se escolher a me-
❑ A nova técnica auxilia na redução de consumo de
lhor técnica em função da
insumos? realidade local (técnicas e
materiais existentes e con-
❑ A nova técnica vai satisfazer às necessidades básicas
dições do terreno). Por
das pessoas, tais como abrigo, alimentação,
exemplo, casas totalmente
saúde e educação? de pedras são comuns em
algumas regiões e apresen-
❑ A construção vai empregar mão-de-obra e materiais
tam uma estética atraente
da região? para o turismo.
Para a construção dos
❑ Na aplicação desta técnica, as pessoas da região têm
diversos componentes de
iniciativa própria e são orientadas por pessoal local?
uma edificação deve-se
❑ A nova técnica leva em conta os valores tradicionais levar em conta as suas
diferentes funções. As fun-
da comunidade?
dações suportam a con-
❑ A técnica é simples e permite a participação criativa strução e devem ser elabo-
radas com materiais bem
das pessoas?
resistentes, tais como pe-
❑ A técnica prevê uso racional de materiais, originários dras e madeiras. As estru-
de fontes sustentáveis e de baixo impacto no ambi- turas (ou colunas) supor-
tam o peso das paredes e
ente?
telhados e podem ser feitas
❑ Essa técnica melhora a estética das edificações de madeira. As paredes são
e valoriza a paisagem do ambiente ao seu redor? necessárias para vedar
espaços e, assim como os
telhados que cobrem a
222
Infra-estrutura de apoio ao ecoturismo – IMPLEMENTAÇÃO RESPONSÁVEL

construção, pode-se utilizar as mais varia- sacos de laranja) para a produção do tijolo.
das técnicas e materiais. As peças são montadas a partir de placas
Ambientes específicos como a várzea delgadas, podendo ser montadas para pro-
amazônica, onde o regime de cheias duzir diversos elementos comuns às mora-
impede a construção direto no solo, devem dias como por exemplo caixas d’água, fil-
ser, efetivamente, objeto de uso de técnicas tros, lajes e escadas pré-moldadas, painéis
locais. para tetos, lavatórios, pias, tanques,
prateleiras e sanitários secos (Lengen, 1996).
❐ SELEÇÃO DE MATERIAIS Uma outra opção é a extração local de
material, desde que observadas as normas
Sempre que possível, deve-se privilegiar o legais. A madeira é um dos exemplos mais
uso de materiais locais, reduzindo itens exter- comuns. Apesar de oferecer menor durabili-
nos ou industrializados ao mínimo indispen- dade, a economia na compra e fretamento
sável. Por exemplo, atualmente existem de materiais pode justificar o seu uso. Além
novos métodos de construção que barateiam disso, o emprego de madeira em cons-
5
e reduzem o uso de cimento sem comprom- truções pode ser mais adequado à arquitetu-
eter a segurança e a estética. A mistura de ra e tradição locais, proporcionando ambi-
cimento com terra, chamado de solo cimen- entes mais “naturais”, e pode facilitar a con-
to, é uma técnica eficiente. No caso do uso tratação de mão-de-obra local.
de madeiras uma opção é obtê-las a partir de O uso ou produção local de materiais
reflorestamentos (Pinus e Eucaliptus são bons proporciona uma série de vantagens:
materiais para construção) ou, melhor ainda,
de florestas certificadas pelo selo FSC (Forest a) Possibilita construções a um custo mais
Stewardship Council). reduzido.
O uso de materiais tradicionais ou abun- b) Permite que os construtores sejam os
dantes da região, como bambus, madeiras, próprios proprietários.
pedras ou materiais construídos por técnicas c) Permite o aprendizado de novos ofícios.
locais, como tijolo adobe, assim como o uso d) Promove a geração de novos empregos.
de materiais devolutos de outras cons- e) Reduz impactos ambientais negativos.
truções ou demolições, são exemplos de f) Colabora para o aumento de auto-estima
como minimizar o uso de recursos na cons- e cidadania entre os membros da comu-
trução ou de como otimizar a reciclagem de nidade.
materiais.
❐ GERAÇÃO DE EMPREGOS
❐ PRODUÇÃO OU EXTRAÇÃO LOCAL
DE COMPONENTES – PARTICIPAÇÃO DA Nas técnicas indicadas, a comunidade se
POPULAÇÃO LOCAL E SEU TREINAMENTO beneficia diretamente com o uso de mão-
de-obra e materiais locais e aprimoramento
A maior parte dos componentes e materi- de tecnologias construtivas, que podem ser
ais usados na construção em geral são pro- posteriormente empregadas para benefício
duzidos em outras regiões e trazidos para o próprio ou como ofício.
canteiro de obras. Esta prática está começan-
do a ser alterada. Por exemplo, já se adota a 4. Saneamento adequado
prática da produção local de tijolos, uti-
lizando-se prensas manuais. Outro exemplo ❐ ÁGUA: CAPTAÇÃO, TRATAMENTO
é o "plasmo", que é o desenvolvimento da E ARMAZENAMENTO
argamassa armada ou ferrocimento. No plas-
mo se usa cimento, areia e bolsa ou rede de Nascentes ou minas são formadas por
plástico (como por exemplo as utilizadas em águas subterrâneas que em determinado
223
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

ponto do terreno afloram à superfície. Pelo a) Captação:


fato de se infiltrarem pelo terreno, as águas Quando a nascente está em terreno incli-
passam por um processo natural de purifi- nado a captação torna-se mais fácil. O cor-
cação. Mas aquelas armazenadas no subso- reto é fazê-la em um sistema fechado, ou
lo sujeitam-se à contaminação e poluição seja, captar a água antes que ela apareça na
ao brotarem à superfície. Assim, o principal superfície. Caso não seja possível, deve-se
cuidado com relação às nascentes é um procurar uma forma que atenda às necessi-
bom sistema de captação. dades de abastecimento, de qualidade da
água e de mínimo impacto.

1 QUADRO 3
CAPTAÇÃO DE ÁGUA EM NASCENTES
5
Como fazer a captação de água em uma nascente:

➘ remove-se o lodo e a terra até encontrar a camada impermeável;


➘ constrói-se uma caixa com paredes de argamassa e um revestimento de cimento
e areia;
➘ coloca-se um cano de saída;
➘ a caixa deve ser coberta com uma tampa;
➘ cava-se um canal de drenagem para desviar a água da chuva;
➘ cobre-se a tampa e o cano com terra. Na saída do tubo faz-se um muro para apoiá-lo.

✑ FIG. 1 – PROTEÇÃO DE NASCENTES


Canal de desvio
Terra
Tampa

Cano condutor
Camada impermeável

Caixa
Água
Muro

Manancial

224
Infra-estrutura de apoio ao ecoturismo – IMPLEMENTAÇÃO RESPONSÁVEL

1 QUADRO 4
FUNCIONAMENTO DE BOMBA CARNEIRO

Para adução de água com sua própria energia


– quando o rio apresenta pouca queda – pode-se construir uma bomba
para elevar a água por força mecânica denominada bomba carneiro.

➘ Como funciona uma bomba carneiro:


Por exemplo, com uma queda d’água de 2 metros, o carneiro terá um cano de entrada
de 8 metros. Com esta queda pode-se subir água a uma distância de 20 metros, numa
quantidade de 200 litros por dia. Se quisermos subir mais alto, por exemplo, 40 metros,
só chegarão 80 litros por dia. Deve-se ajustar o batimento para que trabalhe bem lenta-
mente, e o nível do rio dever estar sempre acima do cano de entrada, para que nunca
entre ar nele. A água que sobe pelo cano, depois de passar por algumas válvulas, é
5
impulsionada até o tanque de armazenamento. A pressão da água no cano de entrada
faz a primeira válvula bater, forçando a água a subir.

✑ FIG. 2 – ADUÇÃO DE ÁGUA

Cisterna

Cano de saída
Carneiro

Peneira
Rio Cano de entrada

b) Armazenamento nas, estábulos e fossas. Deve ainda ser


Nas regiões com longos períodos de coberta para evitar a entrada de poeira e
seca, recomenda-se a construção de cister- insetos. O tamanho da cisterna depende da
nas para armazenar a água da chuva, cole- duração da seca e do consumo diário de
tada pelas calhas do telhado. A cisterna água. Uma cisterna é composta basica-
deve estar próxima da casa e longe de mente de 3 elementos (veja quadro na pági -
potenciais fontes de poluição, como latri- na seguinte):
225
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

1 QUADRO 5
COMPOSIÇÃO DE UMA CISTERNA

➘ Área de captação:
Corresponde à cobertura das construções rurais, podendo ser de diferentes tipos
de materiais, como telhas, laje de concreto, sapé e outros.
➘ Sistema de filtragem:
Para garantir a boa qualidade da água, as cisternas devem ser dotadas de filtros
e de um tanque de sedimentação, que deve ser limpo de vez em quando para retirar o
lodo do fundo. Os filtros são compostos de camadas de pedras (brita ou seixo rolado),
carvão vegetal, areia grossa e fina, superpostas nessa ordem, de baixo para cima.
➘ Tanque de armazenamento:
Construído sobre o solo, semi enterrado ou totalmente subterrâneo. Em sua construção,
5 a alvenaria pode se substituída por outros materiais, como lona plástica, tela de arame
e argamassa de cimento e areia e sika (produto líquido impermeabilizante).

✑ FIG. 3 – ELEMENTOS DE UMA CISTERNA

ABERTURAS COM TAMPAS


para facilitar a limpeza

B T
BOMBA
D’ÁGUA

NÍVEL
DA ÁGUA

A
PENEIRA
A água passa de C a B
por um tubo “T”

226
Infra-estrutura de apoio ao ecoturismo – IMPLEMENTAÇÃO RESPONSÁVEL

c) Tratamento e das condições do clima, um destilador


com uma bandeja de um metro quadrado
Existem sistemas simples para a purifi- purifica entre quatro e nove litros de água
cação da água. O destilador solar é reco- por dia. Sistemas montados na cisterna –
mendado para regiões com pouca água e gotejamento automático de cloro e sistema
muito sol, pois purifica a água salgada ou de filtro de carvão ativado – também são efi-
poluída. Dependendo do tipo de construção cientes na purificação da água.

1 QUADRO 6
FUNCIONAMENTO DE DESTILADOR SIMPLES

➘ Um destilador simples pode ser feito com uma bandeja ou um tabuleiro dentro de uma
caixa de madeira com tampa de vidro. 5
➘ A caixa é mais alta de um lado para que as gotas possam correr para o lado mais
baixo.
➘ A caixa deve ser bem vedada em volta da bandeja.
➘ Dependendo do tipo de construção e das condições do clima, um destilador com uma
bandeja de um metro quadrado purifica entre quatro e nove litros de água por dia.
➘ Os raios do sol esquentam a água que evapora, quando o vapor chega ao vidro ele
condensa e as gotas d’água escorrem pelo vidro (por causa da inclinação) até um tubo,
cortado pelo meio.
➘ As gotas correm por este tubo, que deve estar inclinado até uma jarra, do lado de fora
da caixa.

✑ FIG. 4 – FUNCIONAMENTO DO DESTILADOR SOLAR

CAIXA DE MADEIRA TUBO


VIDRO CORTADO

3
ÁGUA
1

BANDEJA

227
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um Planejamento Responsável

1 QUADRO 7
MONTAGEM DO DESTILADOR SOLAR

Como fazer um destilador solar:

A BANDEJA é feita com uma chapa metálica de 130 x 90 cm.


➘ Fazer as bordas com 5 cm e soldar bem os cantos.
➘ Pintar a bandeja por dentro de preto fosco e envolvê-la por fora com material isolante.
Pode ser isopor (1 polegada de espessura), fibra de coco ou serragem.

Fazer uma CAIXA COM COMPENSADO. O lado mais baixo da caixa tem um cano
cortado ao meio (de comprido) que sai por um dos lados da caixa. Por dentro a caixa
8 deve ser pintada de branco.
➘ Coloca-se um outro cano para a entrada da água não potável.
➘ Por cima, coloca-se o vidro (bastante limpo) com massa de vidraceiro.

✑ FIG. 5.1 ✑ FIG. 5.2


DESTILADOR SOLAR DESTILADOR SOLAR

BANDEJA CAIXA DE COMPENSADO

Dobrar e soldar os cantos Todas as uniões devem ser


bem vedadas, para não deixar Vidro
escapar o ar quente

90 Massa de vidraceiro
cm

130 cm

Compensado

Bandeja

Cano cortado
228
Programa de capacitação comunitária – IMPLEMENTAÇÃO RESPONSÁVEL

✑ FIG. 5.3
DESTILADOR SOLAR

MONTAGEM DAS PARTES

Vidro

Caixa
Compensado 8

Registro

Cano cortado Fundo de


material
isolante

Jarra Bandeja

ATENÇÃO: Todas as emendas do destilador devem ser bem unidas para que o ar quente
não escape.
ERROS MAIS COMUNS: nível da água muito alto (+ que 5 cm) / vidro muito alto / vidro
com pouca inclinação / poeira no vidro / destilador na sombra.

229
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

d) Tratamento de efluentes Para escolher qual tipo de sanitário utilizar,


deve-se considerar:
A necessidade de uma fossa provém da 2 A quantidade de água disponível e;
falta de esgotamento sanitário que requer 2 Se os dejetos serão usados como
suprimento de água encanada nas residên- adubo.
cias. Uma das inconveniências do esgoto é
a falta de destinação correta do efluente e A seguir são descritas algumas formas de
do lodo (ambos contaminados), comprome- tratamento de efluentes.
tendo os lençóis freáticos e a saúde pública.

1 QUADRO 8a:
FORMAS DE TRATAMENTO DE EFLUENTES

5 Situações em que há transporte hídrico

➘ Utilização de Aguapé
Trata-se de planta aquática que em tanques artificiais isolados, funciona como
filtro biológico, recuperador de nutrientes lixiviados, matéria-prima para composto
orgânico e até para a alimentação animal. Não deve ser utilizada em corpos abertos
de água ou mesmo lagos que não sejam exclusivamente destinados ao tratamento
de efluentes visto sua rápida proliferação (quanto mais sujo o ambiente, maior
a proliferação). Em caso dos componentes poluidores possuírem alto teor tóxico,
deve-se evitar o uso do excesso de biomassa da planta para adubo ou alimentação
animal.
➘ Fossa Absorvente
É utilizada em locais servidos de água encanada, mas que não possuem sistemas de
esgotos. Sua utilização é de curta duração, pois as paredes se contaminam facilmente.
➘ Tanque Imnoff
É composto de dois tanques: um para sedimentação e outro para digestão.
A comunicação entre os dois é feita por uma fenda que dá passagem ao lodo.
➘ Fossa Séptica
É um tanque enterrado, fechado e impermeável, que recebe todo material procedente
de sanitários, bem como água de banheiros, lavatórios, tanques e pias. É um tanque
de sedimentação e digestão. O líquido escoa continuamente no sentido horizontal,
permitindo que os materiais em suspensão se depositem no fundo. Dessa forma,
o material recebe um tratamento compatível com a simplicidade e custo da fossa.
Deve-se lembrar que esse sistema não purifica o esgoto, apenas reduz a carga
orgânica a um grau de tratamento aceitável em determinadas condições.

Existem basicamente três tipos de fossa ja um efluente com baixo teor de sólidos
séptica: câmara única, câmaras em série, suspensos. As fossas de câmaras sobrepostas
câmaras sobrepostas. As de câmara única e são recomendadas para melhorar a digestão
em série apresentam a mesma eficiência de do lodo, fornecer maior flexibilidade opera-
remoção de matéria orgânica, porém a cional ao sistema e aumentar a eficiência de
câmara em série é utilizada quando se dese- remoção da matéria orgânica.
230
Infra-estrutura de apoio ao ecoturismo – IMPLEMENTAÇÃO RESPONSÁVEL

✑ FIG. 6
FOSSA SÉPTICA

(de duas câmaras)

Laje com Tubo de saída


tampa de acesso
(para limpar)

Nível da água

2
Tubo de entrada Espuma (sujeira)

Passagem
de água
1 + 24 cms

A água suja entra em 1 e passa para a câmara 2 , deixando a sujeira flutuando na câmara
de entrada.
Dimensões (aproximadas) da fossa: 1,00 m X 2,00 m X 1,20 de altura, para residência.

231
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

1 QUADRO 8b
FORMAS DE TRATAMENTO DE EFLUENTES

Situações em que não há transporte hídrico (fossa seca)

➘ Fossa Seca ou Privada Higiênica


Consiste em uma escavação aberta no solo, devidamente protegida, distante do lençol
freático pelo menos 1,5 m, com plataforma de piso e abrigo ou casinha, situada a pelo
menos 15 metros do poço de abastecimento e na parte mais baixa do terreno.
➘ Fossa Negra
É a fossa seca que está a menos de 1,5 metro do lençol freático. É uma solução
condenável, por contaminar o solo e a água, apesar de ser a fossa mais encontrada
no meio rural. Só pode ser tolerada se o abastecimento não for do próprio lençol
5 que está sendo contaminado e, quando construída, deve estar a mais de 45 metros
de distância dos suprimentos de água. Também deve estar localizada na parte mais
baixa do terreno.
➘ Fossa Tubular
É a fossa seca com diâmetro menor (ao invés de 0,90 m, mede cerca de 0,40 m).
➘ Bason
O princípio de funcionamento deste sanitário seco é o mesmo da compostagem, onde
os dejetos animais são misturados ao lixo orgânico, sendo então decompostos por
bactérias aeróbicas que trabalharão transformando toda a mistura em adubo.
No Bason, a câmara de compostagem, completamente impermeável em toda sua
volta, fica sob o assento. O material decomposto após certo período de tempo,
apresenta redução de 90% em seu volume total. Assim periodicamente, uma ou duas
vezes ao ano, se esvazia o compartimento inferior do Bason, podendo seu
conteúdo ser incorporado ao solo, pois já está transformado em adubo de excelente
qualidade. Vantagens: grande redução no uso de água potável, eliminando-se
a necessidade de um sistema de tratamento de esgoto. (Ilustração na página seguinte )

e) Tratamento de resíduos sólidos duos gerados tenham tratamento e/ou desti-


no adequado.
No turismo, o setor de hospedagem é o Do ponto de vista ambiental, lixo e reci-
maior consumidor de recursos naturais e clagem devem ser palavras sempre associ-
materiais diversos, e também o maior gera- adas. Portanto, o primeiro passo é implantar
dor de resíduos. No ecoturismo, principal- a coleta seletiva, facilitando a reciclagem e
mente os pequenos empreendimentos do a compostagem (ver quadro a seguir). A
ramo hoteleiro, geram resíduos equiva- coleta deve ser feita da seguinte maneira:
lentes aos domiciliares, porém em maior plásticos, papéis, alumínio, vidro e restos de
escala. São resíduos orgânicos e inorgâni- alimento são coletados em recipientes sepa-
cos não perigosos. O dono de uma pousa- rados. A partir daí, pode-se até pensar em
da, ou ecopousada, consciente dos proble- um programa de educação ambiental, que
mas ambientais gerados pela disposição envolva não somente o seu negócio, mas
inadequada dos resíduos sólidos, pode, e também a comunidade de entorno ou ou-
deve, buscar alternativas para que os resí- tros empreendedores locais. A coleta seleti-
232
Infra-estrutura de apoio ao ecoturismo – IMPLEMENTAÇÃO RESPONSÁVEL

✑ FIG. 7

O SANITÁRIO BASON

O mesmo princípio de funcionamento Não há odores


da compostagem usada na agricultura:
mistura de dejetos e lixo orgânico.

Entram dejetos

Sai adubo
Não
precisa de
água

Sem conexões Não polui

va pressupõe um programa de tratamento e não aproveitados devem seguir para um


reaproveitamento dos resíduos. Então, o lixo aterro sanitário.
terá três possíveis destinos: 2 Disposição em aterro sanitário.

2 Compostagem - Os restos de alimentos Na página seguinte apresentamos de


coletados podem passar pelo processo forma resumida as características das prin-
de compostagem, produzindo adubo cipais formas de tratamento de resíduos
orgânico a ser vendido, cedido para sólidos.
a comunidade ou utilizado na pro-
priedade. Existem técnicas apropriadas 5. Sistemas alternativos
para obter um composto de boa quali- de geração de energia
dade. Portanto, para empregar essas téc-
nicas torna-se necessária a orientação de ❐ FOTOVOLTÁICO
técnico especializado.
2 Reciclagem - Plásticos, alumínios, O sol é a fonte primordial de energia,
metais, papéis e vidros são reciclados ou responsável por todas as formas de vida na
mesmo reutilizados. Todos os materiais terra. A transformação dessa energia gratui-
233
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

1 QUADRO 9
FORMAS DE TRATAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS

➘ Aterro Sanitário
Local onde são dispostos os resíduos sólidos, após tratamento adequado do solo, que
deve ser impermeabilizado com sistema de drenagem para o chorume, evitando a con-
taminação do lençol freático. Nele podem ser depositados os resíduos inertes e não
inertes. Os resíduos perigosos, como químicos (baterias), só podem ser dispostos em
locais ou aterros específicos. Importante destacar que os aterros controlados devem s
er o destino final da maioria dos resíduos, pois os outros métodos freqüentemente
apresentam alguma escória.

5 ➘ Incinerador
Local onde é feita a queima controlada dos resíduos sólidos. Esse processo transforma
a maioria dos resíduos orgânicos e dos resíduos perigosos que não podem ser
depositados nos aterros, como por exemplo os resíduos hospitalares. Porém, a incineração
libera gases poluidores, e alguns tóxicos, devendo-se usar com ponderação.

➘ Usina de Compostagem
Local onde o lixo orgânico é separado do inorgânico e transformado em composto que
pode ser usado como adubo ou ração. Esse método, além de proporcionar o
reaproveitamento de material orgânico, reduz a quantidade de lixo depositado nos
aterros e, pelo processo de separação dos resíduos, acaba por induzir o processo de
reciclagem. Os resíduos são dispostos em pequenas pilhas, periodicamente mexidas,
para que haja aeração do material, evitando a decomposição anaeróbica e produtos
indesejáveis. Após dois ou três meses obtém-se o composto, material escuro, solto e
leve, que é utilizado como adubo, fornecendo nutrientes (matéria orgânica) ao solo.

➘ Reciclagem
Método que promove a reutilização e transformação dos resíduos sólidos inertes, como
alumínio, plástico, vidro e papel. A reciclagem, assim como a compostagem, pode
diminuir significativamente o volume de resíduos nos aterros sanitários. Além disso,
reaproveita matéria-prima, muitas vezes derivada do petróleo, e reduz o consumo de
matéria-prima, energia elétrica e água dos seus processos produtivos, contribuindo
para um melhor aproveitamento e conservação dos recursos naturais.

ta, não poluente e inesgotável em energia na maioria dos eletrodomésticos. Entretanto,


elétrica está ao alcance de todos. As placas não deve ser utilizada para refrigeração,
solares de silício convertem diretamente luz pois a quantidade de energia necessária é
do sol em eletricidade, que é armazenada bastante elevada e conseqüentemente o
em baterias para manter o sistema funcio- custo de produção da energia fica muito
nando à noite ou em dias nublados. alto. Enquanto o acesso à tecnologia e seus
A energia é utilizada para iluminação, altos custos não permitirem a ampla utiliza-
telecomunicação, bombeamento d’água e ção do sistema fotovoltáico, para total pro-
234
Infra-estrutura de apoio ao ecoturismo – IMPLEMENTAÇÃO RESPONSÁVEL

dução de energia com adequada relação


custo-benefício, é sugerida a utilização de INFORMAÇÕES IMPORTANTES SOBRE
energia fotovoltáica combinada com outro PRODUÇÃO DE ENERGIA POR PLACAS
tipo, formando um sistema híbrido (foto- FOTOVOLTÁICAS E CONSUMO
voltáica mais eólica ou hidráulica).
DE ENERGIA ELÉTRICA:
Um sistema fotovoltáico é composto de
placas solares, baterias, regulador de carga e,
quando necessário, um conversor de 12 para A eletricidade produzida pelas
110 Volts. A sua vida útil é comprovadamente placas é de 12 Volts em corrente
de 25 anos, exceto o sistema de baterias que
contínua, que pode ser convertida
tem vida útil bem menor. Não possui peças
móveis, é de fácil e imediata instalação e dis- para 110/220 Volts em corrente
pensa manutenção. Garante total inde- alternada.
pendência de cortes, racionamento, aumen- Para utilização em iluminação
tos de preços, elimina riscos de falta de ener-
5
calcula-se uma placa para cada
gia elétrica e dispensa a utilização de com-
lâmpada tipo PL de 9 watts, que é
bustíveis fósseis (diesel ou gasolina).
Uma placa fotovoltáica não deve ser suficiente para iluminar durante
usada para aquecer a água. É muito comum 15 horas.
confundir um coletor solar térmico (placa O custo de uma placa é de
solar – ver item a seguir), que aproveita o sol R$ 600,00*. Cada placa tem
para aquecimento de água, e uma placa
fotovoltáica, que transforma a luz solar em 36 células, que vão alimentar as
eletricidade. É muito mais simples e barato baterias de 12 Volts. Para
aquecer a água usando diretamente um dimensionamento das placas,
coletor térmico, ao invés de usar uma placa deve-se medir o consumo total em
fotovoltáica para produzir eletricidade e
Ampères por dia. Geralmente os
depois transformá-la em calor.
aparelhos trazem em suas
❐ PLACA SOLAR PARA AQUECIMENTO DE ÁGUA
especificações o consumo
em Ampères.
Esse sistema consiste em placas solares Para utilização em aparelhos
com tubulações de cobre em seu interior, de baixo consumo ampère/hora
por onde circula a água a ser aquecida. O
(iluminação, televisão, computador
ideal é que as placas sejam fixadas sobre o
telhado. O calor das placas expostas ao sol e rádio), o custo aproximado em
é transmitido para a água que circula em seu células e acumuladores é de
interior. R$ 5.000,00*.
* VALORES EM MEADOS DE 2000.
❐ EÓLICO

A energia eólica é proveniente do


aproveitamento do vento, que deve ser forte uma quantidade razoável de energia. Em
e constante para movimentar os moinhos. locais voltados para o ecoturismo, deve-se
Embora não cause dano ambiental, tem o considerar também o impacto visual que as
inconveniente de alto custo de instalação e grandes estruturas causam na paisagem.
apresentar baixo rendimento, sendo Assim como no caso dos sistemas foto-
necessárias grandes estruturas para produzir voltáicos, as grandes vantagens dos sistemas
235
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

1 QUADRO 10
EFICIÊNCIA DOS COLETORES SOLARES

Cada pessoa utilizaria 100 litros de água por dia e cada coletor tem capacidade para
aquecer 100 litros de água por dia, ou seja, para cada pessoa são 100 litros por dia
e 1 coletor para cada pessoa. O coletor deverá ser direcionado ao norte magnético,
ou no máximo a 34 º à direita, que seria o norte geográfico. Existem dois sistemas
disponíveis no mercado:

➘ Termossifão – depende da altura do telhado. Quanto mais alto, maior a eficiência.


➘ Circulação forçada – para utilização em casos de telhados mais baixos.

Para uma casa com 4 pessoas seriam utilizados 400 litros de água
5 e o custo por sistema seria:
➘Termossifão – R$1.700,00
➘Circulação forçada – R$1.900,00

Em locais onde a incidência do sol é limitada, é aconselhável providenciar


uma opção alternativa, que poderia ser a gás.

eólicos são não gastar combustível e não ❐ FORNOS, FORNALHAS E LAREIRAS


poluir fisicamente o ambiente.
O uso de fornos e lareiras para geração
❐ HIDRÁULICO de calor também é um item a ser observado,
pois quando mal dimensionados podem
A roda d’água é uma opção barata e útil gerar desperdício de recursos, além de
para produzir energia. Numa pequena pro- causarem poluição dos ambientes internos.
priedade a roda d’água é suficiente para
manter a iluminação da casa e o uso de COMO FAZER UM FORNO
eletrodomésticos. Este equipamento pode Por baixo das varetas do forno colo-
ainda acionar uma bomba de sucção, um ca-se carvão, retirado do fogo. O
moinho, um monjolo ou um picador. túnel entre o forno e a chaminé
mede, em geral, 5 cm de diâmetro.
❐ BIODIGESTORES Pode-se fazer um forno em conjunto
com um fogão.
Um biodigestor é um depósito fechado
onde se põe esterco e lixo com água. Seu Cuidados:
funcionamento é um tanto trabalhoso, por • Depois de fazer os acabamentos,
isso, recomenda-se que só seja usado se a deve-se esperar mais dois dias para
região não possuir fonte de energia elétrica acender o forno.
ou a gás. Além disso, é preciso contar com • O cano da chaminé (ou cano de
um rebanho de animais para grande pro- ventilação) não deve estar em conta-
dução do esterco, usado para alimentar o to com o madeiramento do teto.
biodigestor. A chaminé deve ser limpa a cada seis
meses, quando retiramos a brasa,
para evitar incêndios.
236
Infra-estrutura de apoio ao ecoturismo – IMPLEMENTAÇÃO RESPONSÁVEL

1 QUADRO 11
CONSTRUÇÃO DE UMA R0DA D’ÁGUA

Como fazer uma roda d’água


MATERIAL NECESSÁRIO:
❐ 32 retângulos de madeira de 2 cm de espessura com 40 cm de comprimento por 23 cm
de largura
❐ 32 sarrafos com 3 cm de espessura , 175 cm de comprimento e 5 cm de largura
❐ 2 chapas de ferro com 3 mm de espessura
❐ 32 parafusos zincados de 8 cm por 0,5 cm de espessura
❐ 32 parafusos zincados de 6 cm por 0,5 cm de espessura
❐ 1 eixo central de ferro maciço de 1,5 polegada com 3 m de comprimento
❐ 1 dínamo de caminhão
❐ 1 conjunto de polias 5
É aconselhável usar sempre madeira resistente, como a peroba, em qualquer parte da
construção. Isso, bem como a pintura, aumenta a durabilidade da roda d’água. É preciso
manter uma uniformidade nas dimensões das peças, para não criar um desequilíbrio
no conjunto, principalmente nas pás. Você pode utilizar polias e correias trapezoidais
mais baratas e fáceis de encontrar.
MANEIRA DE FAZER:
Instalar firmemente no solo os troncos de eucalipto enterrados até 2 m de profundidade.
Calcular um altura de 1,70 m a partir de um ponto dentro d’água do córrego, onde as pás
tocarão a água. Medir uma distância de 2,70 m a partir de um ponto no centro dos troncos.
O eixo da roda d’água será encaixado entre os dois e sobre as canaletas ou o córrego.
Após cortar os 32 retângulos de madeira e os 32 sarrafos, para formar as pás da roda d’água
fixar os retângulos nos sarrafos com os parafusos zincados de 6 cm por 0,5 cm de espessura.
Prender as pás nas chapas de ferro com parafusos zincados de 8 cm por 0,5 cm
de espessura, fazendo os furos para os parafusos na chapa de forma circular.
Fixar com solda o eixo central às chapas, com as pás já presas, calculando uma distância
de 1 m num lado a partir do ponto de fixação. Nesse lado maior do eixo irão presas as
barras de ferro e a polia.
Ajustar a cada três pás um reforço de sarrafos (iguais aos das pás). Esses reforços também
fixarão, com parafusos, ferros colocados no lado maior do eixo (mãos francesas) que
estarão soldados no eixo.
Fixar a polia depois da solda e antes do limite do tronco.
Apoiar o eixo nos troncos de eucalipto com rolamentos acoplados a mancais que deverão
ser engraxados para que não haja fadiga precoce.
Fixar dois parafusos, 1 de cada lado dos rolamentos, para não haver deslizamento do eixo
na horizontal.
A velocidade da roda d’água será a mesma do fluxo da água que a faz girar. Para a produção
e armazenamento de eletricidade pode ser usado um dínamo de caminhão, que ligado
ao conjunto das polias poderá carregar uma bateria de 12 Volts. Isso pode ser calculado
a partir de uma velocidade de 14 rotações por minuto (rpm) na roda d’água, que seria
transformada em 373 rpm no dínamo (0,5 HP-10 Volts). Desse modo a bateria seria
carregada em menos de um dia e sua energia acumulada seria suficiente para a iluminação
da casa e consumo de eletrodomésticos.
237
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

1 QUADRO 12
CONSTRUÇÃO DE UM BIODIGESTOR DE BARRIL

Como fazer um biodigestor de barril


Pode-se fazer um depósito com dois barris. Depois de algumas semanas colocando
esterco e lixo orgânico, já haverá gás metano, que poderá ser utilizado para cozinhar.
Um biodigestor de barril é composto por:
a) barril de 200 litros (sem a tampa)
b) barril de 120 litros (s/ o fundo)
c) válvula de uma polegada
d) mangueira
e) coletor de sujeira
f) válvula de escape da pressão
5 g) queimador de gás
O coletor de dejetos é feito com uma lata de metal com tampa. No fundo da lata
são soldados dois canos, um de uma polegada e outro de 1/4. O lodo é recolhido por
baixo e, de vez em quando, é retirado por cima.
A válvula de escape da pressão impede que ocorra uma explosão no barril, ela é feita
com um frasco ou garrafa, de 20 cm de altura. Dentro, coloca-se um cano de 1/4 de
polegada, em forma de T; enche-se o frasco com 20 cm de água e liga-se a mangueira
em “T’” às duas mangueiras de 1/4 de polegada.
O queimador é feito com um cano de 1/2 polegada e 50 cm de comprimento.
Em um extremo, solda-se um pedaço de cano de 1/4 de polegada para ligar a mangueira.
Deve-se colocar um parafuso com braçadeira na mangueira, para regular a chama.
O cano passa por um bloco de argila, para que permaneça fixo.

FUNCIONAMENTO DE UM BIODIGESTOR DE BARRIL

Para fazer o biodigestor funcionar, siga estes procedimentos:


➘ Encha uma parte do barril com a mistura de algum composto em funcionamento. Sem
essa mistura, o processo de decomposição levará vários meses. Encha o resto do barril
com esterco e água quente;
➘ Abra a válvula e empurre o barril pequeno para baixo até o fim. Feche a válvula.
Já não haverá ar no barril;
➘ Depois de algumas semanas o barril começará a ficar cheio de gás e subirá pouco a pouco;
➘ CUIDADO! Nunca queime a primeira quantidade de gás, pois se houver ar misturado
haverá uma explosão. Então deixe escapar um pouco do primeiro gás. Empurre
novamente o barril menor para baixo, feche a válvula e espere que suba novamente.
Agora sim, estamos certos de que não há ar misturado ao gás;
➘ Para queimar o gás, abra o parafuso um pouquinho e acenda um fósforo perto do cano
de saída. Pode ser que não acenda logo. Deixe escapar o gás e espere mais uma
semana para acumular mais.

238
Infra-estrutura de apoio ao ecoturismo – IMPLEMENTAÇÃO RESPONSÁVEL

✑ FIG. 7 – UM BIODIGESTOR DE BARRIL

Descrição das partes:


A. barril de 200 litros (sem tampa)
B. barril de 120 litros (sem fundo)
C. válvula de 1 polegada
D. mangueira
E. coletor de sujeira
C F. válvula de escape da pressão
G. queimador de gás

B
5

A G

E F

COMO FAZER UMA LAREIRA cê-lo melhor.


Para que a fumaça saia pela chaminé
Uma lareira é composta por: caixa ou e não se espalhe pelo ambiente, faze-
câmara de fogo, coifa, duto e chami- mos uma “prateleira” na base da
né. A lareira deve ficar numa parede chaminé.
interna, para não perder o calor. Se
for bastante usada, pode ser embutida Outros modelos de lareira, mais alterna-
uma serpentina na chaminé para tivos, também podem ser utilizados. As
esquentar a água. lareiras de barro, por exemplo, produzem
Importante salientar que as dimen- muito calor usando pouca lenha. São feitas
sões da lareira devem ser definidas de de barro misturado com pedaços de cerâmi-
acordo com o volume do ambiente a ca triturada.
ser aquecido. As laterais e os fundos Também pode-se fazer uma lareira de
devem ser ligeiramente inclinados, barril, onde em um barril de 120 litros faz-
para que o calor do fogo não suba se uma porta para colocar a lenha e retirar
todo pela chaminé e seja refletido as cinzas e uma abertura para a fumaça,
para o espaço do cômodo para aque- onde deve-se soldar um cano de lata.
239
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

Os erros mais comuns na construção de estar localizada o mais eqüidistante possível


uma lareira: dos diversos atrativos da região e também
➘ escolha do material a ser utilizado; satisfazer necessidades como banho,
➘ fumaça espalhada por falta de câmara lavagem de roupas, alimentação, aquisição
de fogo; de mercadorias (por exemplo, deve possuir
➘ chaminés mal dimensionadas. um mini-mercado). Ao mesmo tempo que
há necessidade de um desenvolvimento físi-
6. Áreas de Acampamento co razoável do local, deve-se manter o má-
ximo possível suas características naturais
segundo tipo principal de infra-estrutu- originais.
O ra de apoio ao ecoturismo que merece
atenção especial é a área de acampamento c) Área de camping de Longo Prazo:
ou camping. A principal finalidade de uma Assim como o camping central, este tam-
área de acampamento é criar uma atmosfera bém é planejado para oferecer uma gama
5 que possibilite experiências positivas para o de serviços para acomodar visitantes, só que
turista, no que se refere aos aspectos físicos, por períodos de tempo mais extensos. A
sociais e psicológicos. Para tanto, deve-se ênfase desse tipo de camping está centrada
levar em conta a capacidade da área para nas atividades inerentes ou associadas à
sustentar o uso planejado com mínimo área, tais como pesca, contemplação,
desequilíbrio e degradação do ambiente. natação, caminhadas curtas, escaladas,
práticas esportivas, atividades lúdicas, etc..
❐ CLASSIFICAÇÃO DAS ÁREAS DE CAMPING O camping e suas proximidades são o cen-
tro das atividades. Como no camping cen-
Com base no trabalho de J. A. Wagar, tral, a manutenção de um ambiente natural
elaborou-se uma classificação de acordo é bastante desejável.
com a realidade brasileira, baseada nos
padrões de uso pelos visitantes: d) Área de camping Selvagem :
Este tipo de camping é desenvolvido para
a) Área de camping para Viajantes oferecer um mínimo de facilidades básicas,
em Trânsito: pode ser planejado para permitir o acesso de
Área planejada para o visitante de uma veículos motorizados, muito embora na
noite. Deve satisfazer necessidades como maioria das vezes seja localizado em áreas
banho, lavagem de roupa, depósito de lixo e desprovidas de estradas para atrair os aven-
alimentação. Como geralmente o visitante tureiros praticantes de caminhadas, caval-
faz uso de um veículo, a localização deste gadas, canoagem, ciclismo de aventura, etc..
tipo de área de camping deve ser próxima à O planejamento é baseado em mínima alter-
rodovia principal. Não há preocupação com ação do local e baixos custos de manutenção
planejamento de atividades ou programas, e proteção. As facilidades devem limitar-se
uma vez que a intenção do viajante é ape- ao preparo de locais para barracas, mesas e
nas se hospedar de maneira simples, em bancos rústicos para piquenique, local para
íntimo contato com a natureza, com confor- fogueira protegido por um círculo de pedras,
to e segurança. banheiros rústicos com fossas adequadas e
abastecimento de água potável. Este é o
b) Área de camping Central: chamado camping de mínimo impacto.
Área planejada para oferecer uma gama
de serviços, lembrando que o visitante usa a ❐ TIPOS DE ÁREAS DE CAMPING
área como um quartel-general, daí saindo
(geralmente com o veículo) para passeios de Abaixo são apresentadas cinco sugestões
um dia, retornando para o pernoite. Deve de projetos para áreas de acampamento
240
Infra-estrutura de apoio ao ecoturismo – IMPLEMENTAÇÃO RESPONSÁVEL

(Juvenbille, 1976). As figuras correspon- b) Para viajantes em trânsito:


dentes encontram-se na seqüência. O modelo apresentado na figura 9 pres-
supõe uma expansão futura.
a) Multi-loop:
Pode ser utilizado para camping do tipo c) Selvagem para mochileiros:
central, longo prazo e para viajantes em O modelo da figura 10 é uma sugestão
trânsito (figura 8). para apoio a visitantes trilheiros (mochileiros).
✑ FIG. 8 d) Para grupos:
CAMPING TIPO MULTILOOP Apresenta-se um modelo para grupo
único e um projeto conceitual de camping
para multi-grupos (figuras 11 e 12).

e) Apresenta-se ainda uma área específica


para trailer (figura 13) e um projeto de uma 5
unidade padrão para se instalar uma barraca
e estacionar o respectivo veículo (figura 14).

✑ FIGURA 10
SELVAGEM PARA MOCHILEIROS

✑ FIG. 9
PARA VIAJANTES EM TRÂNSITO

241
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

✑ FIGURA 11 ✑ FIGURA 12
CAMPING PARA GRUPO ÚNICO CAMPING PARA MULTIGRUPOS

✑ FIGURA 13 ✑ FIGURA 13
ÁREA TIPO LOOP. PARA TRAILER UNIDADE PADRÃO PARA
ÁREAS DE CAMPING

242
Infra-estrutura de apoio ao ecoturismo – IMPLEMENTAÇÃO RESPONSÁVEL

❐ FATORES A SEREM CONSIDERADOS tipos de infra-estrutura e equipamentos que,


NA IMPLANTAÇÃO DE UM CAMPING ao serem implementados, valorizam locais
ou empreendimentos voltados ao ecoturis-
Os seguintes fatores devem ser levados mo. Abaixo apresentamos brevemente os
em consideração quando do planejamento mais comuns.
e implantação de uma área de camping.
❐ OBSERVATÓRIO
a) Seleção do local Originalmente utilizados para obser-
Deve-se observar fatores como tamanho vação do céu, são locais especialmente de-
da área, facilidade de acesso e privacidade signados por sua paisagem privilegiada e
para grupos individuais. Estima-se que para usados para observação de maneira geral,
suportar 100 campistas é necessária uma como um local estratégico em um parque,
área de 40 ha, considerando-se as cons- onde pratica-se a observação de aves.
truções administrativas (guarita, escritório,
casa do guarda-camping), acomodações ❐ MIRANTE 5
para campistas (área para estacionamento, Por definição, entende-se como mirante
barracas, banheiro e cantina), bem como um ponto elevado de onde se descortina
áreas ao ar livre para atividades recreativas e amplo horizonte, possibilitando a aprecia-
educativas. ção de vistas panorâmicas. Pode ser um
local desabrigado ou contar com pequena
b) Diversidade topográfica e ecológica edificação ou torre de observação. Atual-
A diversidade topográfica valoriza a mente, mirantes especialmente construídos
paisagem e a ecológica favorece atividades para observação de aves são bastante
educativas. Caso seja necessário algum tipo comuns. Em matas abertas ou fechadas, as
de nivelamento de terreno deve-se abdicar estruturas devem ser discretas, camufladas e
de maquinário pesado e optar-se por ferra- possuir pequenas janelas de observação.
mentas convencionais.
❐ QUIOSQUES
c) Inclusão ou proximidade de atrativo Qualquer tipo de edificação, em locais
natural e ou cultural. públicos ou privados, utilizados como abri-
go, apoio às atividades recreativas, descan-
d) Utilidades e comunicações so, alimentação ou reunião de pessoas.
Deve-se atentar para o abastecimento e
distribuição adequados de água, tratamento ❐ PASSARELAS PELA COPA DAS ÁRVORES
de efluentes, abastecimento de energia (Canopy walkway)
elétrica ou a gás, tratamento de resíduos Passarelas são pontes suspensas na altura
sólidos (lixo), madeira para fogueira etc. da copa das árvores. São utilizados diversos
Com relação à comunicação externa, deve- tipos de materiais na construção, como
se considerar a possibilidade de serviços madeira da própria região, preferencial-
telefônicos e de correio. É também impor- mente de área de reflorestamento. Esse tipo
tante observar a proximidade com pontos de de equipamento facilita a visualização de
abastecimento de hortifrutigranjeiros para pássaros, primatas e outros animais que
cantina e campistas. usam o ”andar” superior da floresta, bem
como flores e frutos de grandes árvores.
7. Equipamentos Complementares
❐ CENTRO DE VISITANTES
lém dos elementos principais de infra-
A estrutura mencionados em mais detalhes
nos pontos acima, há outros elementos, ou
O Centro de Visitantes, seja em uma
Unidade de Conservação ou em uma região
onde a visitação pública é compatível, é um
243
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

espaço que concentra a coordenação das e) Sala de monitores:


atividades de uso público. É uma estrutura Espaço de trabalho para o pessoal
de grande valor educativo, recreativo e envolvido com a condução de grupos e
informativo, capaz de orientar o ecoturista monitoria ambiental, bem como com sua
para um melhor proveito de sua visita. programação e coordenação.
Seu objetivo é receber, orientar, educar
e conduzir o público, por meio de ativi- f) Venda de suvenires:
dades de trabalho e comunicação. As ativi- É recomendado que se destine um
dades aí desenvolvidas devem despertar o pequeno local para venda de camisetas,
interesse e sensibilidade do público para o broches, bonés, adesivos, artesanato local,
trato com as questões ambientais. Um postais, fotos etc.. Inclusive como forma de
Centro de Visitantes pode possuir um con- g e rar recursos para a manutenção do
junto de componentes. Segue abaixo a Centro e para os produtores locais.
descrição de alguns:
5 g) Sala de equipamentos:
a) Sala de recepção e informação: Sala com espaço suficiente para o
Espaço onde o visitante receberá breve acondicionamento de equipamentos e
orientação sobre as atividades e serviços materiais utilizados no Centro. É recomen-
oferecidos pelo Centro ou pela unidade de dável o controle de umidade e temperatura.
conservação ou região em geral.
h) Outros:
b) Sala de exposições ou museu: D e verá também prover facilidades
Destinada a informar o visitante sobre como sanitários, bebedouros, lixeira s ,
as características da região de uma forma depósito de materiais de limpeza. Se for o
geral, sua fauna e flora, as culturas locais, caso, pode ainda ter uma pequena cozinha
por meio do uso de painéis, fotografias, p a ra facilitar a alimentação dos fun-
objetos, animais empalhados, jogos intera- cionários do Centro.
tivos e outros recursos visuais que des-
pertem o interesse do visitante. IV. RISCOS E RECOMENDAÇÕES

c) Auditório: A busca por tecnologias 100% efi-


Equipado com aparelhos audiovisuais cientes, em termos de técnicas, materiais e
(televisão, vídeo, projetor de slides, sistema mão-de-obra, é desejável mas pode se
de som etc.) para realização de palestras, tornar um tarefa impossível, principal-
conferências, apresentação de grupos mente na questão energética. Se dentro de
teatrais, musicais, cursos comunitários etc. uma lista de ecotécnicas desejadas na
Na medida do possível, essa sala deve ter implantação de seu projeto, a maior parte
tratamento acústico. Pode também ser puder ser contemplada, já será um grande
anexo ao Centro de Visitantes, ao ar livre avanço. Mesmo se esta área não for o
ou coberto por tendas. ponto forte do empreendimento, mas ou-
tros procedimentos estão sendo contem-
d) Biblioteca: plados, com amplos benefícios para a
Com um acervo mínimo sobre a região comunidade ou para a conservação de
e seu ecossistema, dispondo de serviços de áreas protegidas, seu projeto poderá ter sta-
consulta e empréstimo de livros, a bibliote- tus de sustentável.
ca deve beneficiar principalmente as É importante, então, enaltecer suas
comunidades locais. Se possível, pode ter qualidades para os visitantes. Por exemplo,
um arquivo de fotos e slides. um pequeno quadro em lugar de destaque,
demonstrando todas as suas ações na área,
244
Infra-estrutura de apoio ao ecoturismo – IMPLEMENTAÇÃO RESPONSÁVEL

com fotos e textos, pode vir a ser um ele- Guarda-Parque para Unidades de Con-
mento de educação do visitante e de va- servação. São Paulo: SENAC.
lorização de seu projeto perante os con- BATALHA, B. H. L. 1989. Fossa Séptica.
correntes. CETESB, 2ª Ed. Série Manuais. São
Por fim, o rápido avanço da tecnologia Paulo: Secretaria do Meio Ambiente de
na área de ecotécnicas tende a reduzir os São Paulo.
custos de materiais e de implantação. BORGES, J.M & SANTOS, O dos. 1979.
Programa de Construções em áreas Sil-
❐ ENTIDADES DE REFERÊNCIA: vestres. Mimeo.
O Instituto de Tecnologias Intuitivas e CARUANA, R. s.d. Critérios de Arquitetura
B i o - A r q u i t e t u ra (TIBA), o Instituto de para o Turismo Ecológico no Brasil.
Permacultura e Ecovilas do Cerrado (IPEC), Trabalho apresentado no curso de Pós-
o Instituto de Permacultura da Bahia e o Graduação em Ecoturismo do SENAC.
Instituto DOMO são entidades conceitua- São Paulo: s.ed.
das, formuladoras e aplicadoras de técni- CEDEC. 1997. Consumo, Lixo e Meio 5
cas alternativas para construção de infra- Ambiente. Edição especial. São Paulo:
e s t r u t u ra e equipamentos de baixo CETESB.
impacto. CETESB. 1991. Tratamento de Resíduos
Sólidos. Compêndio de Publicações.
TIBA – Instituto de Tecnologias Intuitivas e São Paulo: CETESB.
Bio-Arquitetura FERNANDES, J.R.C & PANZARINI, L.V..
Rua Roquete Pinto, 20 A – Urca – 1998. Pousadas. Trabalho apresentado
Rio de Janeiro / RJ – 22.291-210 no Curso de Formação de Guarda
Fones: (21) 2244-5930 Parque/SENAC. São Paulo: s.ed.
E-mail: tiba@tiba.org.br IBDF-MA/FBCN. 1982. Plano de Uso
Home-page: www.tiba.org.br Público do Parque Nacional do Iguaçu.
Instituto Brasileiro de Desenvolvimento
IPEC – Instituto de Permacultura e Ecovilas Florestal/Fundação Brasileira para Con-
do Cerrado servação da Natureza: Brasília, DF.
Fones: (62) 331 1529 ou JUBENVILLE, A.. 1976. Campground plan-
(61) 353-2080 ning. In Outdoor recreation planning.
E-mails: ipec1@terra.com.br e University of Wyoming. W.B. Saunders
recicle13@hotmail.com Company: Philadelphia, USA.
LENGEN, JOHAN VAN. 1996. Manual do
Instituto de Permacultura da Bahia arquiteto descaço. Rio de Janeiro: Tibá e
Contato: Marsha Hanzi Papéis e Cópias.
E-mail: hanzibra@svn.com.br PALEY, M.C & CARMO, P.M et alli. 1997.
Proposta de Implementação da Agenda
Instituto DOMO de Tecnologias 21 para o Município de São Paulo *
Sustentáveis Resíduos Sólidos. Trabalho apresentado
Contato: Maurício Lima no curso de Especialização em Enge-
E-mail: nharia de Controle da Po l u i ç ã o
institutodomo@yahoo.com.br Ambiental da Faculdade de Saúde
Fone: (61) 9975-7075 Pública/USP. São Paulo: faculdade de
Saúde Pública.
V. BIBLIOGRAFIA EDITORES. 1998. Não deixe o calor da
l a r e i ra escapar. In A r q u i t e t u ra &
ANDRADE, Waldir Joel de, et al.. 1998. Construção. Revista mensal. São Paulo:
Eco-Técnicas. In Curso de Formação de Editora Abril, julho, 56-59p.
245
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

EDITORES. 1994. Por dentro das lareiras. S A LVATI, S. S. 2002. Ecoturismo no


In Arquitetura & Construção. Revista Pantanal Brasileiro e Boliviano: estudos
mensal. São Paulo: Editora Abril, 86- de políticas e alternativas sustentáveis.
93p. São Paulo: Prolam / USP, 139 p.
[Dissertação de Mestrado]

✑ TOME NOTA:

246
GESTÃO INTEGRADA

6. Implantação
e manejo de trilhas
Waldir Joel de Andrade

I. OBJETIVO trilhas em unidades de conservação devida-


mente implantado.
objetivo deste capítulo é apresentar As trilhas existentes, principalmente de

O subsídios para a capacitação em


técnicas de levantamento, mapea-
mento, implantação e manutenção de tri-
longa distância, não recebem manutenção
adequada, quase todas sofrem o problema
de erosão e há pontos críticos com relação
6

lhas, observando-se as peculiaridades do à segurança. Surgem não se sabe de onde e


ecossistema e da cultura local. freqüentemente desaparecem, tomadas pelo
mato, devido ao desuso. Algumas ainda
apresentam bifurcações que não levam a
II. INTRODUÇÃO CONCEITUAL lugar algum. Some-se a isso a constante
ausência de mapas, sinalização e meios
A principal função das trilhas sempre foi interpretativos.
a de suprir a necessidade de deslocamento. Este capítulo oferece orientações para
No entanto, pode-se verificar que ao longo auxiliar técnicos, proprietários e gestores de
dos anos houve uma alteração de valores unidades de conservação de todos os tipos a
em relação às trilhas. não incorrerem na mesma falha.
De simples meio de deslocamento, as Com o desenvolvimento adequado de
trilhas surgem como novo meio de contato trilhas e o aumento da consciência de que
com a natureza. A caminhada incorpora um trilhas em unidades de conservação ou ou-
novo sentido e recebe um grande número tras áreas onde se pratica o ecoturismo não
de adeptos. são apenas picadas improvisadas, espera-se
Atualmente uma das principais ativi- que não só novas áreas sejam abertas de
dades em ecoturismo é a caminhada em tri- forma correta, mas também que seja reme-
lhas e suas variantes. As trilhas oferecem diada a situação das áreas desenvolvidas de
aos visitantes a oportunidade de desfrutar forma incorreta.
de uma área de maneira tranqüila e
alcançar maior familiaridade com o meio
natural. Trilhas bem construídas e devida- III. CAIXA DE FERRAMENTAS
mente mantidas protegem o ambiente do
impacto do uso, e ainda asseguram aos visi- Esta seção tratará dos seguintes tópicos:
tantes maior conforto, segurança e satis-
fação. Terão papel significativo na im- 1. Classificação de trilhas.
pressão que o visitante levará sobre a área e 2. Impactos ambientais decorrentes
a instituição que a gerencia. da implantação e uso de trilhas.
Após mais de 50 anos de criação do 3. Planejamento de trilhas.
primeiro Parque Nacional, o Brasil não tem 4. Implantação.
ainda um sistema nacional ou estadual de 5. Manutenção.
247
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

1. Classificação de trilhas ✑ FIG. 1– Trilha circular

odemos classificar as trilhas quanto à


P função, forma e grau de dificuldade.
Trilha

❒ Quanto à função
As trilhas são utilizadas em serviços
administrativos – normalmente por guardas
ou vigias, em atividades de patrulhamento
(a pé ou a cavalo) – ou pelo público visi-
tante, em atividades educativas e/ou recrea-
Estrada
tivas. Nestes casos, podem ser divididas em
trilhas de curta distância, as chamadas "tri-
lhas interpretativas" (Nature Trails) ou de tri- ✑ FIG. 2 – Trilha em oito
6 lhas selvagens e de longa distância
(Wilderness Trails).
Trilhas de curta distância apresentam Trilha
caráter recreativo e educativo, com progra-
mação desenvolvida para interpretação do
ambiente natural. Já as de longa distância
valorizam a experiência do visitante que
busca deslocar-se por grandes espaços sel-
vagens, como as viagens de travessia pela
região. Um exemplo clássico em nosso país
é a travessia Petrópolis – Teresópolis, através Estrada
do Parque Nacional de Serra dos Órgãos, no
Rio de Janeiro. Lembra-se que a interpre- ✑ FIG. 3 – Trilha linear
tação ambiental deve ocorrer nos dois tipos
acima citados, mudando-se apenas os meios Pico, caverna, etc
(ver capítulo Interpretação Ambiental).
Lago
❒ Quanto à forma
a) Trilha Circular Trilha
A trilha circular oferece a possibilidade
de se voltar ao ponto de partida sem repetir
o percurso no retorno. Pode-se também
definir um sentido único de uso da trilha, o
Estrada
que permite que o visitante faça o percurso
sem passar por outros visitantes no sentido
contrário (FIG. 1). o caminho principal, quando já não é o
próprio, a algum destino como lagos,
b) Trilha em Oito clareiras, cavernas, picos etc.. Apresenta as
Essas trilhas são muito eficientes em desvantagens do caminho de volta ser igual
áreas limitadas, pois aumentam a possibili- ao de ida e a possibilidade de passar por ou-
dade de uso desses espaços (FIG. 2). tros visitantes no sentido contrário (FIG. 3).

b) Trilha Linear d) Trilha em Atalho


Esse é o formato de trilha mais simples e Esse tipo de trilha tem início e fim em
comum. Geralmente seu objetivo é conectar diferentes pontos de uma trilha ou caminho
248
Implantação e manejo de trilhas – IMPLEMENTAÇÃO RESPONSÁVEL

B Regular
✑ FIG. 4 – Trilha em atalho C Semi-pesada

Trilha • Quanto ao nível técnico:


1 Fácil
2 Com obstáculos naturais
3 Exige habilidade específica

Nos Estados Unidos, o Mountain Travel


(1985) considera o seguinte:

Estrada • Quanto à intensidade:


1 Fácil
2 Moderada
principal. Apesar do nome, o objetivo na 3 Difícil 6
trilha em atalho não é “cortar caminho”,
mas sim mostrar uma área alternativa à tri- • Quanto ao nível técnico:
lha ou caminho principal (FIG. 4). A Fácil, é necessário apenas
boa saúde.
❒ Quanto ao grau de dificuldade B Requer atividade física como
Esse tipo de classificação é subjetivo, caminhada de 3 a 7 horas ao dia.
pois independentemente da presença de C Caminhadas equivalentes a B
acidentes geográficos, de desníveis de alti- só que acima de 4.500m, o que
tude e da qualidade topográfica do terreno, requer melhor condicionamento
o grau de dificuldade varia de pessoa para físico.
pessoa, dependendo do condicionamento D Grande condicionamento físico,
físico e peso da bagagem (mochila) carrega- com experiência básica
da. A classificação do grau de dificuldade de montanhismo.
de trilhas é distinto para trilhas guiadas e E É necessária comprovada
trilhas auto-guiadas (ver capítulo Inter - experiência de pelo menos
pretação Ambiental). três anos no tipo de expedição.

a) Trilhas guiadas Como se pode ver, apesar de em ambos


Geralmente a classificação para trilhas os casos se utilizar tanto letras quanto
guiadas é elaborada utilizando-se combi- números para a classificação, a interpre-
nações de letras (variando de A a E) e tação atribuída a cada um varia. Assim, é
números (de 1 a 3), aquelas referindo-se ao importante que ao adotar uma escala de
nível técnico e estes à intensidade, não ne- classificação das trilhas quanto ao grau de
cessariamente nessa ordem. dificuldade, anote-se os padrões adotados
Atualmente, no Brasil, esse tipo de clas- para cada nível da escala.
sificação é usado por empresas especiali-
zadas em turismo de aventura, onde a maior b) Trilhas auto-guiadas
parte dos programas dizem respeito às cami- Nos casos apresentados acima, deve-se
nhadas. Em 1997 a Free Way Adventures, considerar sempre a presença do guia.
uma das maiores operadoras do Brasil, ado- Quando isso não ocorre, nas caminhadas
tava a seguinte classificação: auto-guiadas, o grau relativo de dificuldade
é outro. Tendo em vista essa possibilidade,
• Quanto à intensidade: apresenta-se uma classificação baseada na
A Leve experiência e vivência deste autor junto a
249
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

grupos excursionistas nacionais: a) Solo


Há pelo menos dois fatores de alteração
1 Caminhada leve.
do solo decorrentes da utilização de trilhas:
2 Caminhada semi-pesada.
compactação e erosão. O efeito do pisoteio
3 Caminhada pesada.
produz um impacto mecânico direto, que
Nessa classificação leva-se em conta o resulta na exposição das raízes das árvores,
comprimento da trilha, características do causando riscos de doenças e quedas, e na
relevo, necessidade ou não de acampar, diminuição da capacidade de retenção de
características de sinalização e a existência ar e absorção de água, alterando a capaci-
de mapas ou roteiros. dade do solo de sustentar a vida vegetal e
animal associada.
Erosão é um processo natural que causa
graves problemas em áreas onde existem
É importante indicar o grau de dificuldade
trilhas, principalmente em regiões monta-
6 das trilhas antes do início do passeio. nhosas. A erosão depende do tipo de solo,
No ato da venda deve-se deixar claro da topografia e do padrão de drenagem da
a indicação do grau de dificuldade. área. A alteração e eliminação da vegetação
É possível também se demonstrar e o pisoteio facilitam o processo de erosão.
As trilhas alteram ainda o padrão de
em um painel já no início da trilha e nos
escoamento da água na região. Por estar
materiais de divulgação, como folhetos. com a superfície limpa, o solo absorve
Deve-se elaborar um croqui do percurso, menor quantidade de água, por isto escorre
do comprimento e do tempo para com maior velocidade devido à ausência de
percorrê-la e o perfil das variações obstáculos. A água provoca o deslocamento
de partículas, aumentando a erosão. Quanto
de altitude, para que o ecoturista saiba, maior a inclinação do terreno, maior a
além da distância a percorrer, o quanto vai velocidade da água e maior a quantidade de
subir e descer durante a caminhada. partículas deslocadas.

b) Vegetação
A presença de uma trilha provoca
mudanças na composição da vegetação ao
2. Impactos ambientais decorrentes da
redor. Quando uma trilha é aberta há alte-
implantação e uso de trilhas
ração da luminosidade disponível, o que
s trilhas representam uma interferência facilita o crescimento de plantas tolerantes à
A do homem na natureza. Provocam tanto
impacto físico como visual, sonoro e de
luz. O constante pisoteio na trilha acaba
destruindo as plantas por choque mecânico
cheiro. Ao mesmo tempo, restringem essa direto e pela compactação do solo. A erosão
interferência a um único e delimitado itine- do solo expõe as raízes das plantas, dificul-
rário. Usualmente, as trilhas para ecoturis- tando sua sustentação e facilitando a conta-
mo passam por ambientes naturais frágeis minação por pragas. Os caminhantes tam-
ou carentes de proteção. Os efeitos que uma bém trazem novas espécies para dentro do
trilha causa no ambiente ocorrem principal- ecossistema, principalmente gramíneas e
mente na superfície da trilha propriamente plantas daninhas em geral.
dita, mas a área afetada pode ser de um
metro a partir de cada lado. c) Fauna
Há quatro elementos ambientais sob O impacto de trilhas em relação à fauna
influência direta do uso de trilhas: ainda não é bem conhecido. Provavelmente
deve haver uma alteração no número de
250
Implantação e manejo de trilhas – IMPLEMENTAÇÃO RESPONSÁVEL

indivíduos de cada espécie, isto é, um direção e sinalização. Obstáculos como


aumento no caso de espécies tolerantes à pedras, árvores caídas e poças de lama
presença humana e uma diminuição para devem ser prontamente corrigidos ou adap-
aquelas mais sensíveis. Quando é detectado tados, pois provocam a abertura de desvios.
um grave distúrbio potencial na fauna, tais O planejamento de trilhas deve levar em
como em refúgios ou áreas de ninhais, em consideração fatores como variação climáti-
decorrência do uso de trilhas, pode-se alte- ca, em função das estações do ano; infor-
rar o traçado ou mesmo fechar a trilha (ver mações técnicas (levantamentos, mapas,
capítulo Monitoramento e Controle de fotografias, etc.) disponíveis sobre a região; a
Impactos de Visitação). O fechamento pode probabilidade de volume de uso futuro; e as
ser total (a trilha deixa de ser usada) ou par- características de drenagem, solo, vege-
cial (a trilha deixa de ser usada somente em tação, hábitat, topografia, uso e exeqüibili-
períodos críticos, como épocas de repro- dade do projeto. Características históricas e
dução). A multiplicação de trilhas pode culturais devem ser pesquisadas e ressal-
ainda fragmentar a área, interferindo direta- tadas, a fim de otimizar as informações e dar 6
mente no deslocamento e na dinâmica das dimensão educacional às trilhas.
populações animais. A concepção e desenho de uma trilha
dependem também do acesso (como se
d) Outros fatores antrópicos chega até a trilha), necessidade de esta-
Lixo, incêndios, vandalismos e coleta de cionamento (existência ou não e tamanho
materiais são problemas comuns associados dos estacionamentos) e do tipo de uso que
à utilização das trilhas. Os ecoturistas ela suportará (caminhada apenas, passeio a
devem ser orientados a trazer de volta o lixo cavalo, bicicleta, grupos escolares, etc.).
produzido durante a caminhada, evitar Antes de uma trilha ser traçada, o tipo de
qualquer prática que possa provocar incên- público-alvo preferencial deverá ser identifi-
dios, bem como não coletar materiais natu- cado (este aspecto deve ser refletido dentro
rais durante a caminhada e muito menos do contexto de planejamento maior da área
depredá-los. – ver capítulo Planejamento Integrado – e de
O capítulo Monitoramento e Controle de planejamento para a interpretação ambien-
Impactos de Visitação apresenta um método tal – ver capítulo de mesmo nome).
para manter os impactos causados pelo uso Todos estes fatores influenciarão na
de trilhas em áreas naturais dentro de limites capacidade de carga da trilha, que deverá
aceitáveis. ser definida para averiguar a viabilidade de
se desenvolver a trilha. A capacidade de
3. Planejamento de trilhas carga de uma trilha é a quantidade de visi-
tas que ela pode suportar sem que isso gere
❒ Traçado impactos inaceitáveis ao meio ambiente (ver
Um dos objetivos de trilhas de uso públi- capítulo Monitoramento e Controle de
co em áreas naturais é manter o ambiente Impactos de Visitação).
estável e proporcionar ao visitante a oportu- Tanto quanto possível, as áreas atraves-
nidade educativa e recreativa, com segu- sadas pelas trilhas devem apresentar grande
rança e conforto. diversidade biológica, climática e topográfi-
As trilhas devem encorajar o visitante a ca. Um dos problemas do desenho de trilhas
percorrê-las por serem reconhecidas como é a variação de nível, pois as subidas são
caminho mais fácil, que evita obstáculos e prejudicadas pela erosão causada pela
minimiza o dispêndio de energia. Para tanto, água. O sistema de drenagem deve assegu-
devem manter uma regularidade e con- rar que a água escoe pelas laterais da trilha,
tinuidade de seu trajeto, porém sem mono- evitando que a direção da água seja a
tonia, evitando ainda mudanças bruscas de mesma da trilha.
251
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

Uma ascensão moderada pode ser con- de mata, e pense se nestas circuntâncias
seguida por meio de um traçado em ainda poderia ver B.
ziguezague, com curvas espaçadas, para
que uma não seja visível de outra, de modo ❒ Haja uma mudança acentuada de
a evitar que as pessoas cortem caminho. declividade (inclinação) na trilha, tanto
ascendente (termina uma descida e
PLANEJAMENTO DE UM SISTEMA começa uma subida; ou a trilha de
DETRILHAS EM UMA MESMA ÁREA ligeiramente inclinada passa a forte-
mente inclinada; ou ainda de fortemente
Nos casos de unidades de conservação inclinada passa a levemente inclinada)
como parques, geralmente há potencial quanto descendente (termina uma subi-
e necessidade de mais de uma trilha. da e começa uma descida).
Mesmo que já haja várias trilhas em uso,
Quando uma ou ambas as condições
a adequação e melhoria de trilhas
6 acima ocorrerem, B interrompe a caminha-
existentes, e especialmente a abertura da e A e B começam, no trecho delimitado,
de novas trilhas, devem ser precedidas o levantamento das variáveis apresentadas
de um planejamento conjunto de toda abaixo. Ao terminar o levantamento do tre-
a área, como um sistema de trilhas. cho, A coloca-se no ponto onde B estava, e
este último caminha até a identificação de
Assim, é possível propiciar o acesso a uma
um novo trecho.
diversidade de públicos-alvo e a maior Este processo é seguido até que toda a
variedade de ambientes e atrativos da área, trilha tenha sido percorrida e suas medidas
com possibilidade de realizar atividades levantadas. O levantamento envolve a
diferentes sem que haja sobrecarga medição das seguintes variáveis em cada
trecho da trilha:
do ambiente ou conflitos entre visitantes
devido aos objetivos de uso diversos a) Metragem
(ver capítulo Planejamento Integrado). Trata-se da distância entre os dois pontos A
e B, medida com roda métrica (ver quadro a
seguir), por vezes cinta métrica, e ainda em
p Levantamento de trilhas dois casos por estimativa no mapa. A
Uma vez definido o traçado, deve-se metragem é necessária não só para conheci-
realizar o levantamento da trilha, ou seja, a mento da extensão total da trilha, mas também
medição de diversas variáveis para toda a para identificação e marcação de trechos de
extensão da trilha. Os resultados do levanta-
mento podem, por vezes, levar à necessi-
dade de alteração do traçado da trilha. O QUE É RODA MÉTRICA?
O levantamento é feito por trechos da
trilha, e geralmente envolve o trabalho de Roda métrica é um instrumento que facilita
duas pessoas. Para definir o tamanho do tre-
cho, uma das pessoas (A) coloca-se no muito medições de distância. Constitui-se
começo da trilha e a outra (B) vai cami- de uma roda com um odômetro e um cabo
nhando pela trilha até que: para ser empurrada pela pessoa que realiza
a medida (como um carrinho). É adequada
❒ Haja uma mudança acentuada de dire-
para este tipo de trabalho que não exige
ção na trilha, de forma a que A não mais
possa ver B. Em locais descampados, é precisão absoluta das medidas de distância.
necessário que A imagine um ambiente Pode ser eletrônica ou mecânica.
252
Implantação e manejo de trilhas – IMPLEMENTAÇÃO RESPONSÁVEL

trilha com características específicas, localiza-


ção de necessidades de sinalização, de trabal- O ESTAQUEAMENTO É NECESSÁRIO
hos de manutenção e marcação de pontos de PARA O PLANEJAMENTO
parada para interpretação ambiental. E MANUTENÇÃO DAS TRILHAS.

b) Direção O estaqueamento facilita as etapas


A direção de cada trecho é medida com
posteriores do trabalho, como
uma bússola. Esta variável é de especial
importância para a posterior plotagem da o planejamento de intervenções
trilha (ou seja, para fazer o traçado da trilha corretivas de engenharia,
em escala, geralmente necessário para uso postura da sinalização, montagem
em mapas, placas, etc.). do sistema de monitoramento
c) Declividade de impactos de visitação
A declividade (ou inclinação) de cada (ver capítulo Monitoramento 6
trecho é medida com um clinômetro, apa- e Controle de Impactos de Visitação),
relho específico para se tomar este tipo de marcação de pontos de parada
medida.
para interpretação ambiental
Esta variável é essencial para a determi-
nação de vulnerabilidade à erosão, grau de (ver capítulo Interpretação Ambiental).
dificuldade da trilha (ver tabela de relação Nos casos de trilhas intepretativas
entre declividade e vulnerabilidade a (de curta distância),
erosão, e entre declividade e grau de difi- o estaqueamento inicial, caso feito
culdade, na Seção III.6.b – Determinação da
com material não resistente ao tempo
Capacidade de Carga Real – do capítulo
Monitoramento e Controle de Impactos de e às condições locais de uso
Visitação) e descrição de trabalhos de cor- (por exemplo, passagem de veículos,
reção na trilha (por exemplo, de acordo animais domésticos, vandalismo, etc.)
com a declividade de um trecho, deverão deve ser substituído por permanente
ser escolhidos determinados métodos de
drenagem). a cada 100m, para facilitar o trabalho
Em casos de extrema declividade (mais de manutenção das trilhas.
de 20%) deve-se estudar cuidadosamente a Geralmente é suficiente utilizar
possibilidade de alterar o traçado proposto estacas grossas de madeira
para a trilha ou adequá-la com soluções téc-
(5cm de diâmetro),
nicas construtivas.
colocadas com boa profundidade
d) Observações gerais no solo (com a base enterrada
Este campo é dedicado a anotações aproximadamente 15cm),
sobre condições de solo, pontos de interesse com os números pintados com
para a interpretação ambiental, conflitos de
uso no local, necessidades de trabalhos de tinta óleo e envernizados.
manutenção e outras informações que pos- A utilização de materiais
sam assessorar o diagnóstico da trilha. de boa durabilidade para
Durante as medições deve ser feito o as estacas evita a necessidade
estaqueamento das trilhas a cada 100 me-
de substituição freqüente
tros e também a cada variação significativa
de direção ou declividade na trilha (ou seja, das mesmas.
a cada trecho medido).
253
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

EXEMPLO:
FORMULÁRIO PARA LEVANTAMENTO DE TRILHA

Trilha do Vale da Lua – Projeto Veadeiros

TRECHO DIR. DEC. MET. DIS. OBSERVAÇÕES


0-1 195º -10% 25,85 25,85 P-0: Painel; croqui da trilha; legenda/
regularizar o piso; 4 drenagens.
1-2 205º -8% 63,68 89,53 Cancelar antiga trilha; replantar;
bizel indicativo.
2-3 184º -7% 11,49 101,02 Drenagem; regularizar o piso.
6 3-4 162º -7% 16,81 117,83 Barreira no P-4.
4-5 193º -5% 10,62 128,45 Barreira no P-5; drenagem antes do P-5.
5-6 158º -7% 4,26 132,71 P-6: Cancelar bifurcação e replantar.
6-7 141º -6% 28,20 160,91 Eliminar 20 m de trilha duplicada.
7-8 181º -8% 20,72 181,63 Canaleta e drenagem; cancelar
atalho à direita.
8-9 132º -6% 7,84 189.47 Mureta (cimentar e replantar);
canaleta de drenagem.
9-10 ... ... ... ... ...
... ... ... ... ... ...

Para se realizar o levantamento pode-se Uma vez realizado o levantamento da


utilizar uma tabela conforme a apresentada trilha, de volta ao escritório, com auxílio de
acima, feita para a Trilha do Vale da Lua régua, transferidor e lápis, deve-se plotar o
por participantes do Projeto Veadeiros, traçado da trilha em papel milimetrado. O
onde: produto final será o croqui da trilha, que é a
base para seu monitoramento e divulgação.
• TRECHO ] Identificação da parte da
trilha medida, definido pela distân- 2 Obras
cia entre duas estacas. A numeração Devem ser consideradas como inter-
é a das estacas. venções construtivas simples e de fácil
• DIR. ] Direção manutenção que evitam o desgaste precoce
• DEC. ] Declividade da trilha. Madeiras caídas na própria região
• MET. ] Metragem do trecho em são materiais suficientes para sua implan-
específico (p. ex. entre A e B) tação. Geralmente são três os fatores gera-
• DIS. ] Distância total desde o iní- dores de obras em trilhas: drenagem,
cio da trilha sobreposição de corpos d’água e contenção
• OBSERVAÇÕES ] Anotações sobre de erosão, tratado em detalhes mais abaixo.
as características do solo, necessi- Porém, outras obras podem vir a ser
dades de intervenção corretiva na necessárias para garantir a segurança do vi-
trilha, fragilidade ambiental etc.. sitante (corrimões e guarda-corpos) ou para
254
Implantação e manejo de trilhas – IMPLEMENTAÇÃO RESPONSÁVEL

os meios interpretativos utilizados (canopy- ✑ FIG. 6 – Pedras ou troncos e tablados ou


walkway, passarelas, quiosques e mirantes). estrados para ultrapassagem de alagados
Trilha Trilha
a) Drenagem
Como a trilha altera o padrão de circu-
lação de água no solo, algumas obras de Pedras ou
reorganização da drenagem são necessárias. fatias de tronco
Podem-se construir canais laterais de
escoamento, canais que cruzam perpendi-
cularmente ou diagonalmente a trilha (tanto Estrado
em nível quanto por baixo da mesma) e valas
ou barreiras oblíquas à superfície da trilha,
para facilitar o escoamento da água (FIG. 5). ✑ FIG. 7 – Tipos de degraus utilizados
em trilhas
✑ FIG. 5 – Canais, valas e barreiras 6
DEGRAU
DRENAGEM Vala
Com pedras
Trilha

Canais
perpendiculares Com tábuas
isoladas
Barreira

Canal lateral Com troncos


de escoamento
Trilha

b) Sobreposição de corpos d’água Em escada


Inclui a sobreposição de rios e riachos,
bem como de locais alagados. No primeiro
caso, as obras são basicamente de cons-
trução de ponte.
Para a ultrapassagem de alagados (FIG. se evitar longos trechos de degraus em linhas
6) podem ser usados blocos de pedra e/ou retas, e em terrenos ao lado de quedas abrup-
“fatias” de troncos dispostos seqüencial- tas (terrenos normalmente instáveis). É impor-
mente. Outra opção são os tablados ou tante analisar o local da obra sob o ponto de
estrados, que permitem uma caminhada vista de quem desce e de quem sobe.
fácil e segura, transferindo a superfície de Os degraus podem ser feitos com pedras,
uso direto do solo para a madeira. troncos e pranchas de madeira.
A construção de paredes de contenção
c) Contenção de erosão em declives (FIGURA 8) tanto previne a
Dois tipos de obras podem ser aplicados erosão da trilha quanto a deposição de
na contenção de erosão: degraus e paredes, material carreado da encosta. Pode também
lembrando que elas devem ser implemen- ser feita de pedras, troncos ou com os dois.
tadas junto com as obras de drenagem.
A construção de degraus é uma das mais 2 Sinalização
difíceis obras em trilhas, e é solução somente A sinalização de trilhas visa a segurança
quando não houver outra alternativa. Deve- do excursionista e dos recursos da área. Isto
255
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

✑ FIG. 8 – Paredes de contenção

Contenção de erosão “acima”


da trilha com uso de madeira

Trilha

Trilha

Contenção de erosão
Contenção de erosão “acima” “abaixo” da trilha
da trilha com uso Trilha com o uso de pedras
de mais de um material
6
é especialmente importante em trilhas lon- losos. Na escolha do tipo de madeira deve-
gas, que geralmente não recebem sinaliza- se levar em conta a durabilidade, facilidade
ção interpretativa (ver capítulo Interpretação de ser trabalhada, disponibilidade e custo.
Ambiental) ou mesmo estaqueamento. A Uma placa de madeira de boa qualidade
sinalização deve ser sistemática, compreen- não possui nós e não empena.
sível e à prova de vandalismo. As dimensões das placas são variáveis.
As placas do início da trilha, por conterem
a) Marcação a tinta mais informações, tais como mapas e orien-
Marca padronizada, utilizada para tações gerais, devem ser maiores. Forma,
demarcar a trilha, colocada estrategica- cor e tipo de letra devem ser padronizados.
mente numa árvore ou pedra. Deve-se As letras podem ser entalhadas na madeira e
definir a forma e cor padrão para a trilha. As a pintura deve distinguir o fundo, que pode
melhores cores são o azul, vermelho, ser pintado ou natural; nesse caso, deve-se
amarelo, branco e laranja. É interessante aplicar verniz náutico ou automotivo, para
adotar as cores primárias para a trilha prin- proteger das intempéries.
cipal e uma cor secundária para as trilhas Para a instalação, utiliza-se poste de
secundárias. Tinta látex se presta bem a isso. madeira tratada ou totem (pilhas de pedra).
Os pontos a serem marcados – troncos de Não se deve fixar placas diretamente em
árvores ou pedras – devem ser raspados com tronco de árvores com o uso de pregos.
escova de aço ou raspador de metal.
Quando o traçado da trilha sofrer alterações, c) Montes de pedras (Totem)
as marcações antigas devem ser eliminadas, Para se marcar as orientações de direção
para não confundir os excursionistas. em trilhas que não possuem árvores, podem
ser usadas pilhas de pedras, que são de fácil
b) Placas visualização. Também conhecidas como
As placas devem ser dispostas ao longo totens (FIGURA 9).
da trilha, e informar sobre o nome da trilha, A distância entre os totens deve ser tal
a direção, os pontos importantes, a distân- que o excursionista ao lado de um totem
cia, o destino etc. Podem ser confec- possa visualizar outros dois – o da frente e o
cionadas em pedra, metal ou madeira. Esta de trás. Em locais sujeitos à neblina,
última é a mais popular e atrativa e, se devi- recomenda-se a pintura das pedras do topo
damente afixada, dificilmente será levada do totem para facilitar a visualização.
como souvenir por visitantes inescrupu-
256
Implantação e manejo de trilhas – IMPLEMENTAÇÃO RESPONSÁVEL

✑ FIG. 9 – Monte de pedra (Totem). d) Fitas


Outra forma de se marcar o caminho são
as fitas coloridas (plásticos são duráveis e
não perdem a cor) amarradas nos galhos,
em troncos de árvores ou arbustos, ou no
alto de uma estaca de madeira ou ferro.

4. Implantação

❒ REVISÃO DO TRAÇADO PROPOSTO


O mais importante trabalho de insta-
lação de uma trilha é feito em campo e deve
contar com a assistência de técnicos para o
desenho – como engenheiros civis – e de
pessoas da região familiarizadas com as 6
condições da área. Por vezes, as necessi-
dades de intervenção física na área tornam
A SINALIZAÇÃO DEVE SER INTEGRADA inviável o traçado inicialmente proposto
VISUALMENTE AO MÉTODO INTERPRETATIVO
(por exemplo, quando exige a construção
de estruturas demasiadamente caras),
ESCOLHIDO PARA A TRILHA.
exigindo sua modificação.
O trabalho de instalação de trilhas
A escolha do método de sinalização deve pode ser feito pelos próprios responsáveis
ser feita levando-se em consideração pela área desde que recebam treinamento
a escolha de método interpretativo para adequado e assistência técnica para o
desenho de soluções complexas, quando
a trilha. Por exemplo, em uma trilha necessário.
auto-guiada, com placas, a sinalização da
trilha em si pode ser também em placas. ❒ FERRAMENTAS E ACESSÓRIOS
Por outro lado, em trilha auto-guiada As ferramentas usadas variam de acordo
com a área e o tipo de trabalho necessário.
com folheto, que exige a marcação
Deve-se sempre ter a ferramenta adequada
clara de pontos na trilha onde o visitante para cada tipo de tarefa. As ferramentas
deve parar e ler o folheto, a adoção mais comuns estão listadas abaixo. Também
do método de sinalização da trilha a tinta é recomendável ter à mão um kit de
deve ser feita de forma a não conflitar primeiros socorros.
com a marcação interpretativa. a) Foice e penado: utilizados para aber-
Também é indispensável que tura ou clareamento da trilha (roçada).
os dois tipos de sinalização sejam
integrados quanto a tamanho, estilo, b) Enxada e enxadão: utilizados para
regularizar o piso da trilha e abrir valetas de
cor, padrão de letra, materiais,
drenagem.
modo de fixação. Os dois tipos
de sinalização devem ser percebidos c) Cavadeira: para cavar buracos;
como um conjunto visual e gráfico únicos. podem ser de haste simples ou dupla.

c) Machados: são muito utilizados para


cortar árvores e grandes galhos caídos e
257
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

para preparar mourões ou dormentes usados A limpeza de trilhas, com a retirada de


em degraus ou na contenção de paredes. pedras, árvores e galhos caídos, permite que
as mesmas sejam fáceis de seguir e
e) Pé-de-cabra: essencial no desloca- agradáveis de usar. Pequenos obstáculos,
mento de grandes pedras ou troncos. como pedras, raízes e troncos caídos podem
ser deixados pelo percurso, pois permitem
f) Serras: são utilizadas para cortar ga- ao visitante ter a sensação de dificuldade e
lhos e árvores. de vencer obstáculos naturais, mantendo
um aspecto de ambiente selvagem.
g) Chibanca: ferramenta para destocar O material orgânico no solo não deve
os terrenos, com um lado para cavar a terra ser retirado, pois diminui o impacto me-
e outro para cortar as raízes e o tronco das cânico e desagregador da chuva e impede a
árvores. erosão, por evitar um rápido escoamento
da água pela superfície. Manter a qualidade
6 h) Pá comum. das trilhas facilita seu uso e dificulta seu
fechamento.
i) Pá reta ou vanga: muito utilizada na A largura da trilha é variável, dependen-
construção de degraus. do diretamente do terreno, da vegetação e
do próprio uso. Deve-se sempre pensar que
j) Baldes e carrinhos: utilizados para quanto menor a largura, menor será o
transportes da terra, areia, etc.. pisoteio, conseqüentemente, menor o
impacto ambiental.
c) Kit com martelo, prego, arame, bar- Por ser um trabalho permanente, a
bante, pano (para secar os cabos das ferra- manutenção de trilhas deve ser feita por
mentas em tempos úmidos e para limpar pla- equipe local, envolvida com o manejo da
cas de sinalização), etc. área visitada e devidamente treinada. O
treinamento deve envolver todas as fases de
Deve-se salientar a necessidade de equipa- planejamento e implantação de trilhas (ver
mentos de segurança dos trabalhadores, como capítulo Programa de Capacitação
óculos para a proteção dos olhos, luvas, capa- Comunitária).
cetes, botas e roupas adequadas.
IV. RISCOS E RECOMENDAÇÕES
5. Manutenção
Um dos principais cuidados que se
manutenção de trilhas é extremamente
A necessária para prevenir e corrigir pro-
blemas como locais escorregadios e com
deve ter ao desenvolver uma trilha é o de
desenvolvê-la com base em um público-
alvo já identificado ou estabelecido. Ou
lama, erosão, aparecimento de caminhos seja, não só o traçado e os trabalhos
múltiplos e outros (ver capítulo Monito - desenvolvidos na trilha devem ser adequa-
ramento de Impactos de Visitação) dos para garantir a proteção ambiental e a
Neste tópico estão a construção de me- valorização dos atrativos locais, como
lhorias, substituição periódica das placas de também devem buscar favorecer o acesso
sinalização danificadas e “limpeza” ou ao público identificado. Se durante o
“clareamento” de trilhas. planejamento da área e da trilha – ver
Uma trilha “limpa” é aquela onde um capítulo Planejamento Integra d o – for
excursionista alto, com uma grande mochi- constatada a necessidade de sua ade-
la, pode andar sem tocar folhas, árvores ou quação para o uso por pessoas de terceira
galhos. A trilha é fácil de ser seguida, pois o idade, o solo da mesma deverá ser limpo,
caminho é aberto e desobstruído. nivelado e preparado, de forma a diminuir
258
Implantação e manejo de trilhas – IMPLEMENTAÇÃO RESPONSÁVEL

as possibilidades de escorregamento, Floresta, nº 14, Vol 2, pp. 15-21.


tropeço ou torção de pés. Curitiba, PR.
As obras e sua implementação podem GUILLAUMON, J. R. et alii. 1977. Análise
ser executadas utilizando-se materiais e das trilhas de interpretação. Instituto
mão-de-obra locais. Quanto menor o uso de Florestal de São Paulo, Boletim Técnico,
materiais não naturais, menor a alteração do nº 25. São Paulo, SP.
padrão visual dos elementos naturais. PROUDMAN, R.D. 1977. AMC field guide
Visitantes educados e informados con- to trail building and maintenance.
tribuem para a manutenção de trilhas bem Apallachian Mountain Club, S.L.P.
conservadas. Visite o site da Campanha Pega SCHELHAS, J, 1986. Construção e
Leve! – Conduta Consciente em Ambientes manutenção de trilhas. In: Curso de
Naturais para obter mais informações sobre Treinamento e Capacitação em
como trabalhar com o visitante para este ser Gerenciamento de Parques e Outras
um agente contribuidor na conservação de Áreas. São Paulo, 22 nov. a 14 Dez.,
trilhas (www.pegaleve.org.br). 1986. Instituto Florestal de São Paulo. 6
São Paulo, SP.
SIMAS, E. 1983. Montanha e vida natural.
V. B IBLIOGRAFIA Clube Excursionista Rio de Janeiro
(Divulgação CERJ, 3). Rio de Janeiro, RJ.
AGATE, E. 1983. Footpaths; a practical con- USDA Forest Service. 1997. Trail
servation handbook. Wembley Press. Construction and Maintenance
Berkshire, Inglaterra. Notebook. Project Leader: VACHOWSKI,
BELART, J. L. 1978. Trilhas para o Brasil. Brian. USDA Forest Service, Missoula
FBCN, Boletim nº 13, Vol 1, pp. 49-51. Technology and Development Program.
Rio de Janeiro, RJ. Billings, MT, USA.
GRIFFITH, J. J., e VALENTE, O. F. 1979. WWF-Brasil. 2001. Uso Recreativo no
Aplicação da técnica de estudos visuais Parque Nacional Marinho de Fernando
no planejamento da paisagem brasileira. de Noronha: um exemplo de planeja-
Brasil Florestal, nº 10, Vol 37, pp 6-14, mento e implementação. [Coordenação:
jan/mar 1979. Brasília, DF. Sylvia F. Mitraud] WWF-Brasil, vol. 8.
GRIFFITH, J. J. 1983. Análise dos recursos Brasília, DF.
visuais do Parque Nacional do Caparaó.

259
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

✑ TOME NOTA:

260
IMPLEMENTAÇÃO RESPONSÁVEL

7. Interpretação ambiental
Jane Maria de Oliveira Vasconcelos

I. OBJETIVO II. INTRODUÇÃO CONCEITUAL

ste capítulo tem o objetivo de orientar O ecoturismo surgiu com a crescente

E o desenvolvimento de programas
educativos baseados na interpretação
ambiental, conceito que estabelece critérios
demanda das pessoas por maior contato
com os ambientes naturais, buscando nesses
locais uma oportunidade de relaxamento,
7

para uma ampla compreensão do ambiente beleza e interação. Essa demanda, porém,
natural. A partir desse conceito, busca a ao mesmo tempo que representa uma
conciliação entre a satisfação do ecoturista e reação positiva da sociedade à crescente
a conservação ambiental e cultural das áreas concentração e turbulência das cidades,
visitadas. Visa também promover mudanças vem sendo fonte de alguns conflitos:
positivas de comportamento dos turistas.
Além de propor o desenvolvimento de ❒ De um lado, as áreas naturais con-
programas de interpretação ambiental em têm recursos raros ou únicos, geral-
geral, o capítulo também orienta a interpre- mente frágeis e suscetíveis de perdas
tação ambiental em trilhas naturais. irreparáveis; não possuem estrutura
Caminhadas em trilhas são atividades das e manejo adequados para o uso
mais procuradas no ecoturismo e a existên- público recreativo.
cia de programas educativos por meio da ❒ De outro lado, os visitantes encon-
interpretação ambiental torna-se muito tram-se desvinculados e distancia-
importante. dos dos ambientes naturais, desco-
Apesar deste capítulo apresentar-se mais nhecendo até seus mais simples
direcionado para a interpretação da processos, e não se dão conta de
natureza, os conceitos e técnicas aqui que cada uma de suas ações corres-
desenvolvidos podem perfeitamente ser ponde a um efeito ambiental. Não
adaptados para ambientes e sítios histórico- se sentindo como parte integrante
culturais. Mesmo para locais onde se desen- do ambiente natural, o homem não
volvem principalmente atividades de aven- percebe os efeitos de suas atitudes,
tura e esportes radicais, programas educa- ou, se percebe, não os avalia.
tivos podem ser elaborados, conferindo ao
projeto maior consistência e contribuindo O ecoturismo, tendo como princípio o
para a compreensão da natureza. Na ver- equilíbrio entre a utilização e a conservação
dade, considera-se importante que toda e das áreas naturais visitadas e consequente-
qualquer atividade turística empreenda pro- mente o desenvolvimento sócio-econômico
gramas educativos e informacionais, que local, deve buscar alternativas para a
valorizem a integração cultural dos povos, solução desses conflitos. O sucesso de um
em vez de ações estéreis do ponto de vista projeto ecoturístico depende de sua eficiên-
do conhecimento. cia para conciliar a satisfação do visitante e
261
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

a conservação das áreas visitadas. Para 1. A Interpretação Ambiental


tanto, o ecoturismo precisa influenciar ati- como Instrumento de Educação
tudes e comportamentos, não podendo
prescindir de atividades educativas. Interpretação Ambiental ou da
A Natureza é uma forma estimulante de
fazer com que as pessoas entendam o seu
Educação Ambiental, conforme entorno ecológico. É bastante antiga e está
definição da UNESCO, 1987, “é um intimamente ligada à história dos Parques
processo permanente no qual os Nacionais norte-americanos. Alguns desses
indivíduos e a comunidade tomam Parques, no final do século passado, já
consciência do seu meio ambiente e estavam legalmente protegidos e contavam
adquirem conhecimentos, habili- com os chamados naturalistas, “pessoas
dades, experiências, valores e a conhecedoras dos valores naturais do lugar
determinação que os tornam capazes e que acompanhavam grupos de excursio-
7 de agir, individual ou coletivamente, nistas por trilhas e rotas, fazendo, com o seu
na busca de soluções para os proble- entusiasmo, que o visitante vibrasse com
mas ambientais, presentes e futuros.” suas mensagens” (Morales, 1989).

Isso significa que os objetivos da edu- Interpretação Ambiental é uma


cação ambiental estão diretamente rela- tradução da linguagem da natureza
cionados com mudanças de valores e de ati- para a linguagem comum dos visi-
tudes, as quais necessariamente devem pas- tantes, fazendo com que os ecoturis-
sar por reflexões a respeito da visão do ser tas sejam informados em vez de
humano sobre si mesmo, sobre seu ambi- distraídos, e educados, além de
ente e as relações entre o ambiente humano divertidos.
construído e o ambiente natural.

As bases e a filosofia da interpretação só


Áreas naturais protegidas são locais foram estabelecidas em 1957 por um dra-
ideais para implantação de progra- maturgo e filósofo norte-americano, Freeman
mas educativos, uma vez que cons- Tilden, através dos seguintes princípios:
tituem fonte inesgotável de meios
que facilitam o re-ligar do homem a • A interpretação deve relacionar os obje-
seu ambiente. tos de divulgação ou interpretação com
a personalidade ou experiência das pes-
soas a quem se dirige.
Atividades de Educação Ambiental, • A informação, como tal, não é interpre-
como parte dos programas de ecoturismo, tação. A interpretação é uma forma de
devem levar os visitantes a uma compreen- comunicação que vai além da infor-
são e apreciação mais profunda dos recursos mação, tratando dos significados, inter-
naturais e culturais das áreas visitadas, possi- relações e questionamentos. Porém, toda
bilitando comportamento mais consciente. interpretação inclui informação.
Porém, os ecoturistas buscam recreação • A interpretação é uma arte que combina
saudável, relaxamento, inspiração... e não muitas artes (sejam científicas, históricas,
leituras e ensinamentos. Para conciliar a arquitetônicas) para explicar os temas,
recreação e a educação, vem sendo desen- utilizando todos os sentidos para cons-
volvida desde o final do século passado a truir conceitos e provocar reações no
arte e a técnica da interpretação ambiental. indivíduo.
262
Interpretação ambiental – IMPLEMENTAÇÃO RESPONSÁVEL

• O objetivo fundamental da interpretação temas devem estar interrelacionados.


não é a instrução, mas a provocação; • A interpretação deve ser dirigida para
deve despertar curiosidade, ressaltando públicos e interesses determinados: gru-
o que parece, a princípio, insignificante. pos de escolas, adultos em férias etc.
• A interpretação deve tratar do todo em • A linguagem interpretativa adota os com-
conjunto e não de partes isoladas; os ponentes fundamentais da comunicação:

1 QUADRO 1
COMPONENTES DA COMUNICAÇÃO

MEIO

7
EMISSOR MENSAGEM RECEPTOR

RESPOSTA

O que diferencia a interpretação da sim- b) Pertinente (a abordagem tem


ples comunicação de informações é justa- significado e é pessoal)
mente a forma como a comunicação é feita.
Baseada em técnicas especiais de comuni- Para ser significativa, uma informação
cação, a abordagem interpretativa provoca, tem que relacionar-se com algo que já é
cativa e estimula o visitante a observar obje- conhecido, tem que fazer parte de um con-
tivamente, pensar criticamente e agir cons- texto já formado. Quando ouvimos ou
cientemente. vemos algo que não nos recorda nada, não
encontramos sentido para essa informação.
❒ A abordagem Interpretativa Para que informações novas façam sentido,
A abordagem ou linguagem interpretati- ou tenham significado, utilizam-se exem-
va caracteriza-se por possuir quatro carac- plos, comparações, analogias, as quais
terísticas essenciais. servem de “ponte” com um conteúdo já
conhecido ou com o cotidiano.
a) Amena (a abordagem entretém) Uma informação é pessoal quando se
relaciona com algo que é do interesse do
Entreter é manter a atenção da audiência. indivíduo. As coisas mais interessantes são
Consegue-se isso de variadas formas, con- sempre as que envolvem o próprio indiví-
forme o meio utilizado. Uma exposição duo, sua família, sua saúde, seu bem-estar,
amena tem qualidades diferentes de uma sua qualidade de vida, seus valores, suas
palestra também amena. De um modo geral crenças, seus princípios e suas convicções.
utiliza-se a informalidade, tom de voz amis- Para que uma informação se torne perti-
toso, movimento, cores vivas, humor, música, nente, é preciso tanto que tenha significado
interação. Mesmo não sendo um comuni- quanto que seja interessante. Porém, uma
cador talentoso, o intérprete pode ser ameno. informação pode ser significativa e não ser
263
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

interessante. Por isso é difícil, por exemplo, mi-la em uma só oração. Esta oração será
manter a atenção em um filme já visto ou o tema ou a mensagem que se pretende
num livro já lido. Uma boa técnica para transmitir.
tornar a informação mais pessoal é referen- Muitas vezes, tópicos e temas são confun-
ciá-la a situações já vividas pela audiência, didos e isto dificulta tanto a elaboração dos
como por exemplo: conteúdos como a sua compreensão pelo
público. Um tópico é o assunto que se quer
2 Pense na última vez que você... tratar, como por exemplo: “A contaminação
2 Alguma vez você já... da água.” O tema será a mensagem que se
2 Em um momento ou outro a maioria deseja passar, também chamada de moral da
de vocês já... história, frase chave, idéia principal.
2 Nós, que entendemos o valor de A mensagem pode ser simples como: “A
uma floresta, sabemos que... contaminação da água está se transforman-
2 Os pais que se preocupam com... do em um problema sério.” Ou mais com-
7 plexa, como: “A contaminação da água
c) Organizada (a abordagem não ameaça tanto a nossa saúde como nossa
requer muito trabalho da audiência) economia e há algo que todos podemos
fazer com relação a isso”.
A informação organizada não requer Cada um desses temas trata de fatos e
muito esforço da audiência, é fácil de ser conceitos próprios e terão diferentes abor-
acompanhada. É mais fácil seguir uma infor- dagens, mas os dois partiram de um mesmo
mação se ela estiver organizada em catego- tópico.
rias lógicas, como títulos e subtítulos, início, Muitas interpretações não alcançam os
meio e fim. resultados esperados, porque são elabo-
Resultados de pesquisas demonstram radas e organizadas no nível do tópico e
que as pessoas têm capacidade para reter, não do tema. Os tópicos, por serem muito
em média, somente sete idéias novas de amplos, não estabelecem um enfoque, uma
cada vez. Esse número pode variar entre direção. As apresentações baseadas em
cinco e nove, o que significa que alguns só tópicos tendem a dizer tudo e nada ao
podem manejar até cinco idéias novas. mesmo tempo. No final ficam as perguntas
Portanto, as palestras, exposições, audiovi- “E daí? O que importa?”.
suais etc., serão mais interessantes e O tema deve ser pensado em forma de
inteligíveis se forem organizadas em no uma oração completa, que expresse a men-
máximo cinco idéias principais. Também é sagem que se deseja que o público entenda.
importante que a audiência possa facil- As pessoas normalmente expressam-se de
mente distinguir os pontos principais e as forma temática quando falam ao telefone ou
informações secundárias. contam uma piada.
Essas regras se aplicam a todos os tipos
de apresentações, sejam faladas ou escritas, O tema funciona como um fio con-
auditivas ou visuais. dutor, tanto para o planejador como
para o público.
d) Temática (a abordagem tem uma
mensagem a ser comunicada) Para o planejador, um tema bem definido
por si só já indica as diferentes classes de
O tema é a idéia principal ou chave de informações necessárias, facilitando a inves-
qualquer informação. Quando uma apre- tigação e busca destas informações (cinco
sentação tem um tema ela contém uma idéias principais e informações de apoio).
mensagem. Ao final de uma boa atividade Para o público, uma apresentação
de interpretação o público deve poder resu- temática é mais fácil de ser compreendida,
264
Interpretação ambiental – IMPLEMENTAÇÃO RESPONSÁVEL

principalmente quando o tema e as cinco organização das idéias.


idéias principais são explicitados desde o Temas interessantes e motivadores
princípio. Isso confere um propósito, um devem estimular a observação, a ação e a
sentido para a apresentação, facilitando a reflexão.

EXEMPLO:
COMO IDENTIFICAR E FORMULAR UM TEMA

1) Pense nos tópicos gerais relacionados aos seus objetivos:

Alguns exemplos de tópicos gerais podem ser: Aves, Florestas, Rios, Erosão.
Assim, o tópico principal pode ser:

“Quero que minha apresentação (palestra, exposição etc.) seja sobre aves”. 7
2) Formule seu tópico em termos mais específicos:

Alguns exemplos de tópicos específicos podem ser: Adaptações das aves para o vôo; As
aves da floresta; A importância dos falcões e das águias. Por exemplo:

“Mais especificamente, eu quero falar sobre as espécies de aves que estão desaparecendo”.

3) Agora expresse seu tema, completando a seguinte oração: “Depois da minha apre -
sentação, quero que minha audiência compreenda que...”:

Para o tópico "aves" alguns exemplos de temas podem ser: As aves formam um grupo
muito interessante de animais devido às suas adaptações para o voar; As aves exercem
importante papel na dispersão das sementes florestais; As águias e os falcões ajudam a
controlar os roedores. Desse modo a formulação do tema pode ficar assim:

“Depois da minha apresentação, quero que minha audiência compreenda que ‘as aves
nativas de nossa região estão desaparecendo rapidamente’.”

(Adaptado de Ham, 1992: p.37-40).

II. CAIXA DE FERRAMENTAS ❒ Planejamento.


❒ Implementação.
Considerando que este capítulo apresen- ❒ Avaliação.
ta orientações tanto para o desenvolvimento
e realização de programas de interpretação 2. Trilhas interpretativas:
ambiental em geral, como também para o ❒ Tipos de Trilhas Interpretativas.
desenvolvimento da interpretação ambien- ❒ Como preparar a interpretação de
tal em trilhas, esta seção do capítulo está uma trilha guiada.
organizada da seguinte forma: ❒ Como preparar a interpretação de
uma trilha autoguiada.
1. Como elaborar Programas ❒ Modelos que se complementam.
Interpretativos para o Ecoturismo:
265
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

1. Como elaborar Programas ❒ O PLANEJAMENTO


Interpretativos para o Ecoturismo
O planejamento é um processo que
Todo programa educativo / interpretativo define objetivos, examina diversas opções e
deve passar por 3 fases distintas: alternativas e considera as conseqüências
❒ Planejamento. das propostas.
❒ Implementação. Para que os Programas (ou projetos) de
❒ Avaliação. Educação e Interpretação Ambiental sejam

1 QUADRO 2
PASSOS DO PLANEJAMENTO

POR
POR QUÊ
QUÊ ee PARA
PARA QUÊ?
QUÊ?
7

O
O QUÊ
QUÊ ee PARA
PARA QUEM?
QUEM?
O PLANEJAMENTO RESPONDE
ÀS SEGUINTES PERGUNTAS:
COMO?
COMO? QUEM?
QUEM?
QUANDO?
QUANDO? ee ONDE?
ONDE?

QUANTO?
QUANTO?

eficazes, recomenda-se que o planejamento ceiros necessários e distribuição de


seja fundamentado em sete passos básicos responsabilidades (Quem? Quanto?).
na sua elaboração:
É bom lembrar que o planejamento é
1) Identificação das questões específicas a uma atividade multi e interdisciplinar.
serem tratadas em cada local (Por quê?). Para responder satisfatoriamente a todas
2) Identificação do público-alvo e suas as questões e, como conseqüência, obter
necessidades (Para quem?). um bom plano educativo e interpretativo,
3) Identificação dos objetivos ou resultados é necessário contar com uma equipe de
esperados para cada público-alvo (Para t rabalho integrada e, sempre que
quê?). necessário, buscar ajuda (apoio, infor-
4) Elaboração das mensagens a serem trans- mações, críticas) em outras instituições –
mitidas para o público-alvo (O quê?). ONGs, associações, universidades ou
5) Seleção das atividades, recursos, meios e sindicatos. É importante que na equipe
métodos a serem utilizados na transmis- haja a participação de representantes da
são de cada mensagem (Como? Quem? área natural e/ou cultural protegida, uma
Quando? Onde?). vez que os principais atrativos ecoturísti-
6) Decisão sobre a possível integração de cos a serem interpretados se encontram
algumas atividades e prazos de execução nesses locais.
(Quando?). A montagem de uma equipe especializa-
7) Avaliação dos recursos humanos e finan- da multidisciplinar pode representar um
266
Interpretação ambiental – IMPLEMENTAÇÃO RESPONSÁVEL

grande investimento de recursos financeiros. c) O que seria mais importante que o


As parcerias institucionais e a busca de vo- público soubesse ou conhecesse?
luntários são muitas vezes fundamentais d) Quais atividades podem ser reali-
para viabilizar a montagem de uma boa zadas pelo público durante a visita?
equipe. Também é possível valer-se de uma e) O que faria as pessoas sentirem-se
equipe “virtual”, ou seja, que pode ser con- mais envolvidas e conectadas?
sultada à distância. Neste caso, o principal f) Quais os principais obstáculos à
cuidado de quem organiza a equipe é pro- conservação e proteção dos atra-
mover a real interdisciplinaridade do pro- tivos?
grama. Isto é, não basta ter informações de g) Quais os principais problemas
diferentes disciplinas, é preciso que elas ambientais da região?
sejam apresentadas de forma integrada. As h) Quais as causas desses problemas?
salas de conversa (chats de bate-papo) da i) Existem soluções técnicas viáveis?
internet ou as listas de discussão em grupos j) Quais os comportamentos e atitudes
por e-mails (mensagens eletrônicas), ofere- impactantes por parte dos visitantes? 7
cem uma real possibilidade de trabalhar k) E por parte dos visitados?
integradamente à distância com uma equipe
multidisciplinar. Porém, para que isto seja
possível, é indispensável que os integrantes Algumas vezes as oportunidades
da equipe “virtual” possuam algum conhe- educativas e interpretativas surgem
cimento prévio sobre a área. a partir da identificação de problemas
ambientais locais. É bom lembrar que
Passo 1 – Identificando as questões
as pessoas podem causar problemas
a serem tratadas (Por quê?)
De modo geral, numa região com atra- por ações ou por omissões.
tivos para o ecoturismo, as questões a serem
tratadas em programas educativos são muito
amplas e variáveis, mas devem sempre bus- A escolha das questões-chave determi-
car a conexão das pessoas com o lugar. nará as demais etapas do planejamento, ou
Podem estar mais diretamente voltadas para seja: o público, o conteúdo, os métodos e os
os visitantes, relacionando-se principal- critérios de avaliação. Nessa fase, os plane-
mente com o que se pretende (oportu- jadores devem reunir e compilar todas as
nidades) que estes usufruam, apreciem, informações já existentes sobre a região:
conheçam e respeitem, ou direcionados inventários de atrativos e de recursos, levan-
para as comunidades visitadas, as quais pre- tamentos de flora, fauna, solos, hidrografia e
cisam estar integradas no processo, inclu- outros, levantamentos sócio-econômicos,
sive nos esforços de conservação ambiental cadastros, avaliações e caracterizações,
e cultural local. publicações científicas, teses, planos de
Nem todas as oportunidades e questões manejo, plano diretor, lei orgânica etc..
ambientais e culturais poderão ser tratadas Sempre que o atrativo ecoturístico estiver
em programas educativos. Prioridades terão em uma área protegida, como um parque,
que ser estabelecidas de acordo com as um refúgio, uma APA ou uma RPPN, é fun-
necessidades do público e do ambiente, damental saber quais são os objetivos de
buscando-se a identificação de questões- conservação da área e quais as suas pro-
chave. Algumas perguntas podem auxiliar postas de manejo para uso sustentável. Se a
nesse processo: área não tiver um plano de manejo, os obje-
a) Por que a área está sendo especial- tivos que constam no instrumento legal de
mente protegida? sua criação (lei, decreto, portaria), serão os
b) Quais os seus principais atrativos? seus objetivos de conservação.
267
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

Passo 2 – Conhecendo o público i) Comunidades locais (urbanas e


(Para quem?) rurais);
Após a definição das questões-chave a j) Líderes locais, associações etc...
serem tratadas, deverão ser identificadas as
pessoas ou grupos para quem o programa Quando se está planejando para o eco-
será desenvolvido, que constituirão o públi- turismo, há uma tendência em eleger como
co-alvo do programa. público-alvo apenas os visitantes. Porém, os
Quanto mais o público for conhecido, programas educativos que visam o desen-
maior a possibilidade de ser desenvolvido volvimento do ecoturismo de base comu-
um programa pertinente e envolvente. Esse nitária devem tentar atingir a toda a comu-
conhecimento prévio facilita todas as nidade envolvida, incluindo os vários tipos
demais etapas do planejamento, pois cada de visitantes, os vários grupos de visitados,
público terá características próprias e neces- os funcionários e administradores das áreas
sidades e interesses especiais. Um grupo de naturais/culturais atrativas e as comunidades
7 idosos, por exemplo, possui mais tempo do seu entorno.
livre, geralmente aprecia a oportunidade de É evidente que um único programa não
interação e troca de experiências, mas pode poderá atender às necessidades desses dife-
ter menos mobilidade, audição e visão, rentes públicos, pois cada um tem suas
necessitando de programas especiais. próprias características e peculiaridades.
Pode-se caracterizar o público quanto ao Mas, em alguns casos, bastam pequenas
seu nível cultural, idade, procedência, moti- adaptações para que um mesmo programa
vação, atividades que deseja realizar na área possa ser dirigido aos vários tipos de públi-
e tempo disponível. Para identificar quais as cos, tornando-o mais eficaz.
características do público que visita uma
área são utilizados registros já existentes, Passo 3 – Estabelecendo objetivos
observações, entrevistas e questionários (ver (Para quê?)
capítulo Levantamento do Potencial Eco - Nesta etapa é preciso estabelecer com
turístico – Inventário). clareza quais são os resultados esperados
Públicos específicos podem ser atraídos no final do programa educativo e interpre-
por meio de convites, eventos direcionados tativo. Para cada público esperam-se deter-
e divulgação de programas especiais. minados resultados ou objetivos que devem
Exemplos dos tipos de público a que os ser estabelecidos desde o primeiro momen-
programas educativos e interpretativos to, logo após a definição dos públicos.
podem destinar-se são: Para que as pessoas sintam-se conec-
tadas com o ambiente, percebendo as con-
a) Visitantes em geral, crianças, idosos, seqüências de suas atitudes (ou falta de ati-
estrangeiros; tudes) sobre este ambiente, os objetivos do
b) Montanhistas e praticantes de programa educativo poderão ser o aporte de
esportes radicais; novos conhecimentos, a sensibilização,
c) Professores de diferentes níveis; motivação, desenvolvimento de habilidades
d) Estudantes de vários níveis e disci- e conscientização. Os objetivos devem rep-
plinas; resentar alternativas viáveis (dentro do con-
e) Extensionistas e outros técnicos da texto específico de uma área) a serem ado-
região; tadas para que os resultados esperados do
f) Cientistas e pesquisadores; programa educativo e interpretativo sejam
g) Comunicadores (rádios, TVs, alcançados.
jornais, ...); Objetivos verificáveis facilitam o plano,
h) Administradores e funcionários da organizam as ações e produzem resultados
área protegida; tangíveis.
268
Interpretação ambiental – IMPLEMENTAÇÃO RESPONSÁVEL

EXEMPLO:
A FORMULAÇÃO DE OBJETIVOS PARA PROGRAMAS EDUCATIVOS E INTERPRETATIVOS

Um problema-chave identificado em determinada região foi a caça e captura de espécies


ameaçadas de extinção e protegidas no parque. O público-alvo, diretamente envolvido
com o problema (caçadores), foi identificado na comunidade do entorno. Poderiam tam-
bém ser envolvidos no programa educativo públicos multiplicadores e formadores de
opinião.

Os objetivos formulados foram:


1. Conscientizar o público sobre espécies ameaçadas.
2. Possibilitar à comunidade do entorno do parque amplo reconhecimento
das espécies da fauna regional ameaçadas e protegidas, bem como conhecimento
da legislação protetora e das penalidades previstas. 7
O objetivo 1 é de difícil verificação. O que se entende por “conscientizar” e como pode-
ria ser medido? Espera-se só conscientizar ou melhorar a conservação das espécies
ameaçadas com mudanças de comportamento? Quem é o público? As espécies
ameaçadas são da flora e da fauna?
O objetivo 2 é mais específico e pode ser facilmente verificável. O reconhecimento pode
ser medido antes e depois do programa. O público foi definido, podendo ser nomeado e
qualificado. "Espécies da fauna regional ameaçadas e protegidas" estabelece o foco e
torna o objetivo mais prático e viável. A informação sobre a legislação e penalidades é
adicional e visa tornar a proteção mais efetiva.

(Adaptado de Berkmüller, 1984: p.120)

Passo 4 – Escolhendo as mensagens gos e atuais, revistas especializadas, ONGs,


(O quê?) pesquisadores ou especialistas, moradores
A escolha das mensagens a serem trans- da região, entre outros.
mitidas reveste-se de grande importância. É Também é preciso ouvir o público-alvo
aqui que o Programa começa a ter conteú- antes de decidir sobre a escolha das men-
do. Conhecendo o público-alvo e os resul- sagens. Saber o que as pessoas pensam, no
tados esperados decide-se o que será incluí- que acreditam e o que valorizam pode ser
do ou excluído do Programa. Ou seja, quais surpreendente e decisivo na escolha das
mensagens farão com que os resultados mensagens (temas) e conteúdos mais ade-
esperados sejam mais facilmente alcança- quados.
dos. Torna-se necessário um profundo co- Uma boa forma de conhecer o que pen-
nhecimento da área a ser trabalhada e seus sam as pessoas sobre determinados assuntos
recursos. é a aplicação de questionários ou entrevis-
A pesquisa é fundamental nesta fase do tas, além da convivência.
planejamento e nada pode substituí-la, por De um modo geral, o conteúdo deve
mais difícil e cansativa que possa parecer. responder à pergunta “o que o público-alvo
Pode-se pesquisar em bibliotecas, arquivos, precisa saber, compreender e acreditar para
instituições públicas, museus, jornais anti- mudar seu comportamento?”
269
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

EXEMPLO:
ESCOLHENDO AS MENSAGENS DO PROGRAMA EDUCATIVO E INTERPRETATIVO

Se belas paisagens e espécies raras de pássaros constituem-se no principal atrativo


ecoturístico de uma região e estão desaparecendo em conseqüência do desmatamento
praticado por moradores locais pelo sistema de corte e queima, essa é a questão-chave
a ser tratada, tendo como principal público-alvo a população local.
Para que o objetivo – diminuir ou eliminar o desmatamento – seja alcançado,
a mensagem precisa ser assimilada por esse público-alvo, envolvendo questões
do seu interesse.
Nesse caso, seria mais fácil produzir a mudança de comportamento esperada
utilizando uma mensagem que relacionasse, por exemplo, a inundação de áreas
residenciais, como conseqüência do desmatamento da bacia hidrográfica.
7 O desaparecimento de espécies raras e a perda de belas paisagens podem ser menos
importantes para este público e não deveriam ser o foco da mensagem.

(Adaptado de Wood e Wood, 1990: p. 18-19)

A escolha e o desenvolvimento do tema PERGUNTAS QUE AUXILIAM


podem ser facilitados pelo uso de algumas A DEFINIÇÃO DE UM TEMA
técnicas:
4 O tema está formulado como uma
a) Tempestade de idéias.
b) Tempestade de metáforas e analogias. oração completa?
c) Tempestade de comparações. 4 O tema conta uma história importante
sobre o local,podendo enriquecer
Essas técnicas auxiliam a remover a a experiência do visitante? Ele tem
”blindagem cultural” que costuma envolver
os objetos do dia-a-dia, criando novas pos- significância ecológica ou histórico-
sibilidades na forma de vê-los e de tratá-los. cultural?
Para que sejam efetivas, é necessário que 4Este é um tema com significado
todas as idéias formuladas sejam registradas, (pertinente) para o público ao qual
sem julgamento prévio. Só depois é que se
se destina?
estabelecerão relações, fazendo-se então
uma seleção. 4Este é um tema de meu interesse? Tenho
Mesmo assim, muitas idéias poderão vontade de pesquisá-lo? (Entusiasmo é
ficar em ebulição até serem destiladas aque- contagioso!)
las que serão pesquisadas. Com base nessas 4No final da atividade, o público poderá,
informações, as idéias vão sendo elaboradas
com facilidade, identificar o tema
e o desenvolvimento do tema vai sendo
delineado e ajustado. desenvolvido?
(Adaptado de Regnier, Gross e Zimmerman,
Passo 5 – Selecionando estratégias 1994: p.12)
(Como? Quem? Quando?
Onde?) interpretativas: a escolha das estratégias
Nesta etapa escolhem-se os meios, os interpretativas. A estratégia será a forma de
métodos e as técnicas mais adequados para chegar até o público-alvo e eficazmente
a transmissão das mensagens educativas e comunicar a mensagem do programa.
270
Interpretação ambiental – IMPLEMENTAÇÃO RESPONSÁVEL

A seleção dos meios, métodos e técni- mações disponíveis foram aprendidas com a
cas, local e momento apropriados será feita experiência prática em determinados locais
de acordo com os tipos de mensagens e circunstâncias.
(temas) que se quer transmitir e os tipos de Resta ainda um largo campo para o uso
público que se deseja atingir. combinado da técnica e da arte. O impor-
Respondendo à pergunta “onde e quan- tante é encontrar a forma de comunicação
do interpretar”, pensa-se logo nos locais ou mais clara, objetiva e adequada ao público
áreas com os principais atrativos ecoturísti- que já se escolheu.
cos. São locais que oferecem excelentes É sempre bom que se faça um levanta-
oportunidades para observar interações mento prévio do que já existe na região em
ecológicas e culturais, e devem ser utiliza- termos de estruturas, equipamentos, materi-
dos pelo programa. Não se pode esquecer, ais, além de experiências anteriores.
porém, que a interpretação, como instru- Na escolha, devem também ser consid-
mento educativo, pode ser utilizada em erados os fatores limitantes como espaço,
inúmeros ambientes (auditórios, salas de tempo de utilização e custos. Mas o mais 7
aula, hotéis, pousadas, centros de infor- importante é aliar a técnica com a imagi-
mação, ônibus e outros) e para todos os nação, criando novas alternativas de utiliza-
tipos de público, atendendo às variadas ção para as potencialidades do local que, ao
necessidades e oportunidades. mesmo tempo, atendam às necessidades do
Quando se decide “como fazer a inter- público, aumentando a sua satisfação.
pretação”, muitos aspectos devem ser con-
siderados. Por parte do público, é impor- a) Meios lnterpretativos
tante considerar suas limitações de tempo, comumente utilizados
de interesses e motivações.
Há também que se considerar diferentes Os meios interpretativos podem ser clas-
capacidades: há pessoas que captam melhor sificados em personalizados e não personal-
as informações pela visualização, outras izados. Os meios personalizados propor-
pela audição, algumas precisam ”tocar”; cionam uma interação entre o público e
mas de um modo geral, captam e retêm uma pessoa que é guia ou intérprete. São
mais a informação quanto mais puderem vantagens dos meios personalizados:
utilizar seus sentidos. 2 Possibilitam comunicação efetiva
Independente de suas características entre visitante e intérprete.
específicas, as pessoas demonstram gostar 2 A presença e atuação do intérprete
mais, em ordem de importância, de: despertam maior interesse.
• Envolvimento sensorial. 2 A mensagem pode ser adaptada
• Humor. para diferentes públicos.
• Novas informações inteligíveis.
• Intérprete entusiasmado. São desvantagens:
2 Requerem o treinamento e a
E desgostam de: presença do intérprete.
• Leituras. 2 Sua efetividade depende
• Intérprete que fala muito. da habilidade do intérprete.
• Programas técnicos. 2 Atendem pequenos grupos.
• Apresentações longas e sem d) Geralmente têm de médio
entusiasmo. a alto custo, a longo prazo.

Quanto aos meios interpretativos, não Os meios não personalizados são os que
existem fórmulas ou receitas para a sua não utilizam pessoas diretamente, apenas
escolha, nem para a sua utilização. As infor- objetos ou aparatos.
271
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

EXEMPLO:
MEIOS INTERPRETATIVOS PERSONALIZADOS

Os exemplos mais comuns de meios interpretativos personalizados são:

❒ Trilhas Guiadas – passeios conduzidos por um guia ou intérprete, em caminhos


preestabelecidos.

❒ Audiovisuais com Atendimento Pessoal – filmes, projeções, amplificação de sons


em que o intérprete está presente para explicar e responder perguntas, ou é o
palestrante.

❒ Palestras ou Conferências – em diversos estilos, onde o especialista traduz seus


7 conhecimentos em linguagem compreensível para o público.

❒ Animação Passiva – representação em forma teatral, sem contar com a participação


direta do público: pode passar uma mensagem complexa, criando um clima de
realismo, que torna a visita memorável e facilita a apreciação e a conscientização;
os animadores precisam ser bons para conquistar o interesse do público; reconstruir
cenários, roupas e objetos pode ser caro.

❒ Animação Ativa – simulações, jogos, representações teatrais, utilização de instru-


mentos em que o público participa utilizando conhecimentos prévios ou adquiri-
dos durante a visita à área: aprender fazendo é mais efetivo, é provocativo, estimu-
la a exploração de várias facetas individuais, permite que o intérprete esclareça
conceitos; o êxito depende, em grande parte, da reação das pessoas e requer tempo
e pessoal treinado, sendo aplicável somente a grupos reduzidos.

EXEMPLO:
MEIOS INTERPRETATIVOS NÃO PERSONALIZADOS

Os exemplos mais comuns de meios interpretativos não personalizados são:

❒ Trilhas Autoguiadas – caminhos preestabelecidos onde se utilizam folhetos, placas,


painéis e gravações sonoras.

❒ Audiovisuais Automáticos – podem fornecer informação de alta qualidade, criam


uma atmosfera especial, com aumento da receptividade; são geralmente caros,
requerem fonte de energia e controle permanente.

❒ Exposições – objetos ou coleções que ilustram ou explicam um tema, tanto em inte-


riores, em centro de visitantes, como em exteriores.

272
Interpretação ambiental – IMPLEMENTAÇÃO RESPONSÁVEL

São vantagens dos meios não persona- ajustes provavelmente se farão necessários.
lizados: Prevendo, por exemplo, o desenvolvimento
2 São auto-explicativos. das várias atividades semelhantes para
2 Estão sempre disponíveis. públicos diferentes, pode-se pensar em jun-
2 Garantem a transmissão da mensagem tar esses públicos, integrando as atividades,
planejada. aproveitando tempo e pessoal. Pode-se tam-
2 Atendem grande número de visitantes. bém decidir pela integração de atividades a
2 Constituem forma rápida de educação. outros programas já em andamento.
Essas decisões, porém, precisam ser bem
São desvantagens: analisadas para que não se perca qualidade,
2 Não possibilitam o esclarecimento dificultando os resultados. Algumas ativi-
de dúvidas. dades, principalmente aquelas dirigidas a
2 A mensagem é dirigida para um um público muito específico, ou que tratam
público médio. de questões muito localizadas, requerem
2 É difícil manter o interesse do visitante. um desenvolvimento especial e devem ser 7
2 Estão sujeitos a vandalismo. mantidas separadas das demais.
Depois dos ajustes feitos, torna-se então
Uma análise sobre os meios interpreta- possível estabelecer um cronograma de
tivos mais utilizados nos Parques da atividades que conterá uma previsão para os
América Latina (Morales, 1992) apresentou prazos de desenvolvimento do programa,
os seguintes resultados: estabelecendo o início e o fim de cada uma
4 Meios mais utilizados – Centros de inter- das atividades. Se o programa estender-se
pretação (ou de visitantes), palestras, por mais de um ano, é aconselhável montar
publicações, painéis, exposições, mi- um cronograma para cada ano.
rantes, excursões com guias, trilhas auto- A elaboração desse cronograma, além de
guiadas e audiovisuais. facilitar a organização das tarefas, facilitará
4 Meios menos utilizados – Jogos ecológi- o planejamento do passo seguinte, que trata
cos, saídas noturnas e museus. da previsão dos recursos necessários, e será
4 Meios mais eficazes – Os personalizados, fundamental para a posterior avaliação.
como as trilhas guiadas e as palestras.
4 Meios de maior alcance – Os não persona- Passo 7 – Prevendo as necessidades,
lizados, como as trilhas autoguiadas e os distribuindo responsabilidades
centros de visitantes ou de informações. (Quem? Quanto?)
4 Meios que precisam ser mais desen- A previsão dos recursos necessários deve
volvidos – Trilhas autoguiadas, atividades ser feita de forma bem realista. Um planeja-
lúdicas (conhecimentos básicos de psi- mento mal feito, nesse sentido, leva a
cologia infantil), arquitetura em harmo- improvisações que colocarão em risco o
nia com o meio natural, técnicas de sucesso de todo o programa.
comunicação inovadoras, como teatro e Dois fatores poderão ser limitantes e pre-
representações, a participação por meio cisam ser seriamente considerados: os
do uso dos sentidos, o planejamento e a recursos humanos e os recursos financeiros.
regularização do ecoturismo, e as As atividades educativas de interpre-
exposições temporárias. tação requerem pessoal treinado e capaz,
além da implantação dos meios interpreta-
Passo 6 – Integrando algumas tivos. Um bom educador/intérprete precisa
atividades, estabelecendo ser inteligente, ter a capacidade e a vontade
prazos (Quando?) de relacionar-se com o público e requer
Nesta etapa do planejamento o quadro capacitação especializada. Na execução de
geral do plano já está montado e alguns um programa desse tipo, normalmente são
273
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

necessárias várias pessoas (recursos ma total ou parcialmente auto-sustentável,


humanos), sendo importante que se faça tanto em termos financeiros, como organiza-
uma real previsão, deixando bem claro cionais e operacionais.
quem fará o quê, organizando as ações e a
divisão de responsabilidades. ❒ IMPLEMENTANDO O PROGRAMA

a) Como fazer previsões realistas? Com o planejamento concluído e os


Pode-se iniciar imaginando cada uma recursos assegurados, chega o momento da
das atividades como se elas já estivessem execução do programa. A implementação é
em desenvolvimento, prevendo em detalhes o planejamento posto em prática, é o
(e anotando) tudo o que envolvem: pessoal momento em que as idéias saem do papel e
(inclusive de apoio), transporte, alimen- passam a ser testadas na prática. Uma das
tação, hospedagem, materiais de consumo e causas de problemas nessa fase é que geral-
permanente, serviços, estruturas locais, mente a equipe que planeja não é a mesma
7 construções etc. que implanta.
Após montar essa lista para cada ativi- Nesse processo é necessário muita sensi-
dade, monta-se uma única lista final na qual bilidade por parte da equipe, para que os
todos os itens semelhantes devem ser agru- erros e os acertos sejam percebidos e os
pados, e cada item quantificado e orçado. ajustes possam ser adotados. Também é
Essa listagem final pode ser estruturada em importante perceber e saber aproveitar as
forma de um cronograma financeiro, com novas oportunidades que surgem no proces-
base no cronograma de atividades. Muitas so. Uma boa estratégia é manter um registro
vezes o orçamento final extrapola todas as de tudo o que acontece. Esse registro facili-
previsões e são necessários ajustes. tará a análise, a reflexão, a avaliação e a
tomada de decisões.
b) Como enfrentar as limitações
financeiras e de pessoal? ❒ AVALIANDO OS RESULTADOS ALCANÇADOS
Diante da escassez de recursos, tanto
humanos como financeiros, é provável que o Esta última fase do programa interpretati-
programa tenha que ser multi-institucional. vo é, na realidade, um processo contínuo,
Sendo assim, é importante que se esta- que tem seu início já na fase do planeja-
beleçam claramente as responsabilidades de mento. É por meio da avaliação que o plano
cada um dos parceiros. Algumas agências, poderá ser ajustado – reflexão na ação.
instituições e ONGs poderão participar só O processo de avaliação é um instru-
com apoio de pessoal, outras com material mento de controle que vai demonstrar se
e/ou recursos financeiros, outras com o o tempo, o pessoal e os recursos estão
local. Todos os parceiros devem ser bem-vin- sendo utilizados de forma produtiva, se os
dos, desde que assumam um real compro- objetivos estão sendo alcançados, e tam-
metimento na viabilização da sua parte. bém se o educador escuta e aprende com
Para suprir a necessidade de pessoal seria o público.
interessante vincular o programa de interpre- Um programa educativo e interpretativo,
tação a um programa de capacitação (ver mesmo bem elaborado, não terá valor se
capítulo Programa de Capacitação não alcançar os resultados esperados. A
Comunitária). Atualmente, existem muitas avaliação possibilitará ainda conhecer e
possibilidades de financiamento para um quantificar os resultados alcançados, previs-
bom programa de educação ambiental, tos ou não no planejamento.
como o Fundo Nacional do Meio Ambiente. O modelo de avaliação denominado
(FNMA) Sempre é importante que se Planejamento-Processo-Produto (PPP) tem
busquem alternativas que tornem o progra- sido aplicado com sucesso em programas de
274
Interpretação ambiental – IMPLEMENTAÇÃO RESPONSÁVEL

educação ambiental. Esse modelo envolve ser avaliado e os tipos de decisões possíveis
três etapas integradas, nas quais a avaliação em cada uma das etapas. Quando os obje-
é um processo permanente. tivos do programa forem claros e veri-
O Quadro 3 dá uma idéia desse proces- ficáveis, avaliar o seu produto fica bem mais
so de avaliação, exemplificando o que pode fácil.

1 QUADRO 3
MODELO DE AVALIAÇÃO (Pádua e Jacobson, 1993)

PLANEJAMENTO PROCESSO PRODUTO


• Necessidades • Métodos • Metas e objetivos
• Participação • “Design” e escolha atingidos
7
da comunidade das atividades • Resultados esperados
• Metas e objetivos • Estratégias • Resultados não
• Avaliação dos recursos (antes da visita; no local; esperados
(humanos e materiais) após visita) • Uso dos dados para
• Suporte institucional • Treinamento de pessoal modificar ou reforçar
• Orçamento • Administração o programa
• Divulgação
dos resultados

Decisões: Decisões: Decisões:


Estruturação do programa Mudanças Mudanças
e do “design” e aperfeiçoamentos e melhorias futuras

RETROALIMENTAÇÃO

Os produtos ou resultados alcançados, de b) Questionários abertos ou fechados, com


um modo geral, estarão relacionados com: pré e pós-testes.
a) A conservação da área visitada. c) Entrevistas.
b) O nível dos impactos ambientais e/ou d) Depoimentos.
culturais e das mudanças de comporta- e) Registros fotográficos.
mento dos visitantes, visitados e comu- f) Filmagens.
nidades do entorno. g) Gravações.
c) O grau de satisfação dos visitantes. h) Análises de impactos.
d) A qualidade de vida dos visitados.
Testes piloto, especialmente planejados
As técnicas de avaliação mais comu- e monitorados, podem medir e demonstrar a
mente utilizadas têm sido: eficiência do Programa.
a) Observações sistemáticas.
275
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

1 QUADRO 4
ELEMENTOS DE UM PROGRAMA DE EDUCAÇÃO/INTERPRETAÇÃO AMBIENTAL
QUE CONDUZEM AO SUCESSO

PLANEJAMENTO
❒ Tem metas claras.
❒ Apresenta objetivos mensuráveis e realistas.
❒ Adota abordagem interdisciplinar.
❒ Identifica os públicos-alvo e os envolve no processo.
❒ Avalia as características sócio-educativas e econômicas dos públicos.
❒ Proporciona programas relevantes para a população local.
❒ Desenvolve o necessário suporte comunitário, organizacional, governamental
7 e empresarial.
❒ Possui um plano orçamentário.
❒ Desenvolve um plano sustentável interno/organizacional.
❒ Desenvolve estratégias para problemas potenciais e resolução de conflitos.

IMPLEMENTAÇÃO
❒ Adota uma abordagem integrada.
❒ Usa efetivamente as organizações e associações existentes.
❒ Estimula a participação ativa e voluntária.
❒ Envolve criativamente participantes relutantes.
❒ É sensível à audiência.
❒ Proporciona contato direto com o ambiente natural e/ou cultural.
❒ Utiliza efetivamente ecossistemas/recursos/espécies chaves/sítios...
❒ Seleciona meios educativos apropriados.
❒ Utiliza eficientemente a mídia.
❒ Focaliza valores econômicos e culturais.
❒ Prevê incentivos para a conservação.
❒ Mantém a qualidade do programa prazerosa e informal.
❒ É flexível.

PRODUTO (AVALIAÇÃO)
❒ Avalia continuamente os componentes do programa.
❒ Utiliza mais de um método de avaliação.
❒ Utiliza efetivamente a retroalimentação para modificação do programa e criação
de novos programas.
❒ Liga o programa com outros componentes da conservação, por exemplo,
incentivos econômicos e culturais.
❒ Transfere o programa para o controle e suporte local.
❒ Desenvolve planos para a sustentabilidade a longo prazo.
❒ Dissemina amplamente seus resultados.

(Jacobson, 1995)

276
Interpretação ambiental – IMPLEMENTAÇÃO RESPONSÁVEL

2. Trilhas Interpretativas visitantes na caminhada, levando-os a obser-


var, sentir, experimentar, questionar e desco-
aminhar, passear, escalar, excursionar brir os fatos relacionados ao tema estabele-
C longe do atropelo, da aglomeração e do
tráfego de veículos é hoje em dia um dos
cido. A sua eficiência é influenciada pela
capacidade do guia. Os temas podem variar
passatempos favoritos de um grande número conforme interesses e objetivos diversos.
de pessoas. Muitas destas atividades são b) Trilhas autoguiadas
realizadas em trilhas em meio natural, prin- São trilhas com pontos de parada marca-
cipalmente em áreas protegidas. Trilhas são, dos onde o visitante, auxiliado por placas,
além de tradicional meio de deslocamento, painéis ou por folhetos contendo infor-
caminhos através do espaço geográfico, mações em cada ponto, explora o percurso
histórico e cultural que, atualmente, vêm sem o acompanhamento de um guia.
sendo utilizadas como meio de contato das 2 Trilhas autoguiadas com placas
pessoas com o ambiente. E as trilhas inter- ou painéis interpretativos
pretativas constituem-se num dos instru- O tema é desenvolvido por meio de 7
mentos educativos mais facilmente utiliza- mensagens (textos, imagens, gravuras)
dos em programas de ecoturismo. gravadas em placas ou painéis, colocados
Diferentes estratégias estão sendo uti- em pontos estratégicos (pontos de interesse).
lizadas para transformar a recreação em tri- 2 Trilhas autoguiadas com folhetos
lhas em oportunidades prazerosas de edu- interpretativos
cação, traduzindo para o visitante os fatos O tema é desenvolvido em um folheto
que estão além das aparências, tais como explicativo, contendo referência aos pontos
leis naturais, interações, funcionamentos, de parada na trilha. Os folhetos podem con-
história ou fatos que, mesmo aparentes, não ter mensagens mais detalhadas do que as
são comumente percebidos. Têm o propósi- placas. Esse tipo de trilha comporta temas
to de desenvolver nos usuários um novo diferentes a serem utilizados nos mesmos
campo de percepções, levando-os a desco- pontos de parada, de acordo com o perfil e
brir um mundo ainda não conhecido. interesse do usuário/visitante.
Mesmo para visitantes já experientes em
caminhadas por trilhas em diversos am- ❒ Como preparar a interpretação
bientes e ecossistemas, como os monta- de uma trilha guiada
nhistas, programas interpretativos criativos O planejamento de uma trilha guiada
e, de fato, focados na realidade local, serão começará sempre com o reconhecimento e
apreciados. pesquisa da área a ser interpretada, seja em
Uma trilha interpretativa é um meio e que ambiente for. Conhecer bem a área,
não um fim. Deve ser planejada de acordo percorrendo muitas vezes o caminho, facili-
com os objetivos do programa interpretativo ta a escolha dos possíveis temas, prepara
e as características e valores intrínsecos que para as possíveis perguntas e possibilita o
o local oferece. O capítulo Manejo de melhor aproveitamento de fatos novos.
Trilhas trata do planejamento, construção e Durante este reconhecimento é sempre
manutenção de trilhas. A abordagem neste bom ir pensando tematicamente: “Quando
capítulo é voltada para a interpretação as pessoas terminarem a caminhada gostaria
ambiental de trilhas. que soubessem que...”.
Com base no conhecimento da área e do
❒ TIPOS DE TRILHAS INTERPRETATIVAS público e diante dos objetivos do programa,
a planificação seguirá a regra 2-3-1
a) Trilhas guiadas (prepara-se primeiro o corpo da apresen-
São trilhas que requerem a presença de tação, depois a conclusão, e por último a
um intérprete treinado, que acompanha os introdução), com cinco ou menos idéias
277
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

principais e uma abordagem interpretativa A interpretação guiada pode ocorrer


(amena, pertinente, organizada e temática). ainda em edifícios e instalações, centros de
As possibilidades de interpretação guia- visitantes, museus, centros históricos, caver-
da variam de acordo com o local, o público nas, zoológicos, jardins botânicos, cemi-
e os objetivos propostos. Por exemplo: térios, lavouras, parcelas experimentais de
a) Um biólogo pode conduzir um grupo em cultivo, estradas, rios, monumentos etc.
uma trilha no interior de uma floresta e Mesmo com objetivos e conteúdos dife-
mostrar como as diferentes partes do ecos- rentes, todas essas caminhadas representam
sistema estão relacionadas. o mesmo tipo de desafio para quem as
b) Um extensionista pode levar um grupo planeja e guia: criar consciência, incorporar
de agricultores a um campo demonstrativo, apreciação e/ou sugerir uma nova maneira
mostrando como a conservação do solo de pensar ou encarar algo. A organização da
aumenta a colheita. caminhada em etapas, com propósitos
c) Um guia pode demonstrar aos visitantes definidos (início, meio e fim), facilita a supe-
7 como funcionava uma antiga aldeia. ração do desafio.

1 QUADRO 5
PARTES DE UMA CAMINHADA GUIADA
E SEUS PROPÓSITOS

❒ Preparação para a saída:


u Apresentação do guia e saudação aos participantes.
u Informação sobre a duração e grau de dificuldade da caminhada.
u Informação e verificação sobre qualquer roupa ou equipamento necessários.
u Recomendações sobre normas de conduta e de segurança.
u No caso de trilhas extensas, abordagens sobre condicionamento físico e prática de
exercícios de aquecimento e alongamento muscular.
u Busca de cordialidade e clima amistoso.

❒ Introdução (no local de saída ou próximo da primeira parada):


u Introdução ao ambiente (ecossistema) visitado.
u Orientação sobre o tópico e o tema da caminhada.
u Orientação sobre a organização do tema nas paradas, dando idéia de unidade (uma
história em vários capítulos e não várias histórias).
u Motivação para a participação.
u Criação de expectativa e curiosidade.

❒ Corpo (ao longo das paradas):


u Apresentação do tema em cada uma das paradas.
u Transmissão de informações pertinentes ao tema, sem fugir das idéias principais;
u Resposta às perguntas.
u Transição de uma parada a outra sem cortes, mantendo a unidade e a expectativa.

❒ Conclusão (última parada):


u Reforço da mensagem.
u Relação entre o tema e as coisas vistas e discutidas ao longo do caminho.
u Finalização, com agradecimentos do guia e da instituição pela participação.
278
Interpretação ambiental – IMPLEMENTAÇÃO RESPONSÁVEL

2 O guia-intérprete que sabe sobre aquele tópico e mais


e o sucesso das caminhadas ainda.
A imagem e o comportamento do guia- r O anfitrião – Recebe sua audiência mais
intérprete pode influir diretamente na respos- como convidados a participar de um
ta da audiência durante a atividade. De um evento especial, do que como ouvintes
modo geral, os guias podem ser enquadrados passivos, ouvintes insaciáveis ou amea-
em quatro tipos de personalidades: ças ambientais. É o tipo de guia com
r O policial – Preocupa-se bem mais com maior êxito.
a proteção do ambiente local do que
com a interpretação, não confia na au- Independente de suas características de
diência e está sempre recordando as personalidade, um guia-intérprete é sempre
regras e fazendo recomendações. um educador. Seu compromisso é fazer com
r A máquina – Comporta-se como repeti- que as pessoas conheçam, aprendam, se
dor humano da mensagem, dizendo de interessem e participem ativamente da con-
memória todo o conteúdo da excursão, servação de seu ambiente natural e cultural. 7
quase sem respirar. O melhor dos planos poderá não ter suces-
r O sabe-tudo – É o recitador de dados e so se o guia não atuar como um profissional
informações técnico-científicas, que apro- intérprete.
veita a excursão para demonstrar tudo o

1 QUADRO 6
COMO TORNAR UMA CAMINHADA MAIS DINÂMICA

❒ Tenha à mão ajuda visual e material de apoio à comunicação para usar tanto
nas paradas previstas como em oportunidades inesperadas (guias de campo, binóculo,
lentes manuais, termômetro, trena, corda, mapas, fotos, desenhos, gravador, gravações,
argila, amostra de solos, partes de animais e de plantas, fantoches, bonecos, artefatos)
conforme o tema e o local a ser percorrido.

❒ Faça uso das prefigurações e do mistério, principalmente na transição entre as paradas.

❒ Incorpore atividades curtas em suas paradas, como medições, uso dos sentidos, jogos,
adivinhações.

❒ Faça perguntas para envolver intelectualmente as pessoas no que você está fazendo.
Elas servem para aumentar a atenção e podem ajudar em comparações, deduções,
resoluções de problemas, demonstrações, avaliações.

❒ Envolva seu grupo na caminhada, estimulando cada um a usar todos os sentidos


na busca de coisas que você possa não estar percebendo ou que lhes interesse.

❒ Se a sua caminhada for em um ambiente natural, não esqueça que esta é uma
oportunidade para que as pessoas redescubram o seu lugar no mundo e aprendam
sobre si mesmas. O papel do intérprete é o de assisti-las nessa descoberta.

(Adaptado e ampliado de Ham, 1992: p. 147-149)


279
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

❒ Como preparar a interpretação mas, tamanhos, texturas e cores, importân-


de uma trilha autoguiada cia da água e muitos outros. Para um mesmo
tema podem ser feitos folhetos adaptados
planejamento de uma trilha autoguiada para diferentes públicos, diferentes estações
O também inicia-se pelo reconhecimento
exaustivo da área: seus recursos, potenciali-
do ano, diferentes idiomas.
Os painéis ou placas apresentam direta-
dades, usos, limitações, problemas. mente o tema a ser lido em cada local, o
A interpretação autoguiada também que limita a quantidade de informação,
pode ser feita em variados locais, devendo- geralmente muito resumida. A opção por
se levar sempre em conta que as pessoas essa forma de interpretação é mais adequa-
farão sua caminhada sem o acompanha- da para locais que recebem grande número
mento de um guia. Portanto devem ser evi- de visitantes, devendo ser evitada em zonas
tados locais naturalmente frágeis, susce- ou áreas consideradas mais primitivas, onde
tíveis a impactos e locais que possam repre- o guia tem papel fundamental.
7 sentar riscos à segurança do público, como O desenvolvimento do tema ao longo
beiras de precipícios, autopistas, locais com das paradas, tanto em forma de folhetos
plantas venenosas ou animais perigosos. como em painéis, deve seguir os princípios
A opção pelo método autoguiado é uma da interpretação, adotando uma linguagem
alternativa interessante à medida que man- amena, pertinente (com significado e pes-
tém as informações sempre disponíveis para soal), organizada (não pode requerer muito
o público, todos os dias e a qualquer hora. trabalho da audiência) e temática (tem uma
Não necessitando de um guia intérprete, mensagem organizada a ser comunicada).
torna-se mais barata que as atividades Deve também ser estruturada de forma a
guiadas, apesar dos maiores custos iniciais. apresentar uma introdução, um corpo e
Também atende às necessidades de quem uma conclusão, de forma resumida e
prefere usufruir de uma caminhada atraente, contando em capítulos uma
desacompanhado. história que tenha mensagem, com início,
A caminhada autoguiada representa sem- meio e fim. Isso é o que distingue uma cami-
pre um desafio para quem a planeja e im- nhada autoguiada interpretativa daquelas
planta: atingir os objetivos recreativos-educa- que só identificam uma miscelânea de
tivos, capturando a atenção e a imaginação coisas isoladas.
da audiência, sem o auxilio de um guia. As informações de cada parada devem
Para a apresentação do tema (conteúdo, conter, em primeiro lugar, um título-tema,
mensagens), em cada parada são geral- que expresse a idéia central da parada; já que
mente utilizados dois tipos de meios: fo- a maioria das pessoas só lê os títulos. Se estes
lhetos interpretativos ou painéis. enfocarem apenas o tópico – “A agricultura”;
O folheto interpretativo apresenta um “Erosão do Solo”; “Plantas Medicinais” –
conteúdo para cada um dos pontos de para- transmitirão bem menos do que títulos-
da, os quais são marcados por discretas e temas, tais como: “Nossas Vidas Dependem
pequenas placas numeradas ao longo da da Agricultura”; “Estamos Perdendo o Nosso
trilha. Os visitantes param em cada um dos Solo”; “A Floresta é Sua Farmácia”.
locais numerados e lêem no folheto o texto Assim, as informações devem ser organi-
respectivo. Esses folhetos devem ser visual- zadas para:
mente atrativos, de preferência bem ilustra-
dos, e com textos curtos e de fácil leitura. a) Enfocar a atenção da audiência no deta-
Para uma mesma trilha podem ser elabo- lhe que está sendo interpretado.
rados folhetos com diferentes temas, como
história, cooperação entre seres vivos, b) Explicar o que é significativo ou impor-
relações animal-planta, diversidade de for- tante de observar no detalhe.
280
Interpretação ambiental – IMPLEMENTAÇÃO RESPONSÁVEL

c) Amarrar a explicação ao tema ou men- que 12 é um número ótimo. A prática


sagem. demonstra que não se deve exceder 15
paradas, sendo 10 ou 12 um bom número.
A planificação também deve ser cuida- Mais importante do que o número é fazer
dosa quanto às relações existentes entre o com que cada parada seja clara, curta e
conteúdo tratado em cada parada e o que envolvente. Obviamente que a definição do
pode ali ser observado. Quanto ao número número de paradas envolve também os ele-
de paradas, não existe um consenso. Alguns mentos da natureza a serem observados e
recomendam 15 a 18 paradas em 1 km, ou- quanto mais rica a biodiversidade, maiores
tros sugerem entre 20 a 30, e outros dizem as oportunidades de interpretação.

1 QUADRO 7
DEZ CARACTERÍSTICAS DE UMA PARADA TEMÁTICA EFETIVA
1. Tem um título-tema (não só um título-tópico). 7
2. Enfoca diretamente um fato visível e de interesse.
3. Explica os fatos de forma rápida e interessante.
4. Relaciona o tema da parada com o tema geral da caminhada.
5. Contém menos de 65 palavras.
6. Tem orações curtas, com menos de 20 palavras cada uma.
7. Usa verbos simples e na voz ativa, sempre que possível.
8. Apresenta uma linguagem familiar, sem utilizar termos técnicos.
9. Utiliza recursos visuais para ilustrar a mensagem.
10. Estimula a participação da audiência, sempre que possível (com perguntas ou
sugestões de atividades ou buscas).
(Ham, 1992: p.314)

w Utilizando algumas Técnicas O equilíbrio está associado à dis-


da Comunicação Visual tribuição espacial dos diferentes ‘pesos’
visuais com a qual se obtêm simetrias ou
Um texto que seja realmente interpretati- assimetrias.
vo é sempre resultado de inspiração, bem Não existem critérios para a escolha das
mais do que de técnica. Porém, algumas cores, mas de um modo geral utiliza-se um
técnicas de comunicação visual podem esquema cromático, formado por uma cor
torná-lo mais atrativo e interessante. predominante e outras cores (uma, duas,
Tanto os folhetos como os painéis devem raramente três) que ressaltam a predomi-
ter: unidade, ênfase, equilíbrio e cor. nante, harmonizando-se com ela. Deve-se
Para que se tenha unidade, todos os ele- atentar para não se utilizar cores fortes que
mentos (moldura, tipos de letra, cores, for- agridem a paisagem de entorno.
mas, linhas, ângulos, ilustrações) devem ser Cuidado especial deve ser dispensado à
consistentes entre si, formando um conjunto escolha da forma e distância das letras, de
harmônico. símbolos e uso de gráficos. De um modo
Quando se deseja atrair a atenção para geral é recomendado o uso de letras minús-
um título, uma idéia, uma ilustração, estes culas. Letras maiúsculas só devem ser uti-
podem ser enfatizados ou salientados dentro lizadas em títulos com poucas palavras. A
do conjunto por meio de tamanhos, formas variação do tamanho das letras – alturas e
ou cores diferenciadas. larguras – facilita o reconhecimento e a
281
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

memorização das palavras em forma de tex- envolvidos, de forma que cada vez mais pes-
tos. Também os espaçamentos entre as soas se re-liguem ao seu ambiente, apren-
letras, palavras e linhas, podem facilitar ou dam a avaliar as conseqüências das suas
dificultar a leitura. ações e possam tomar decisões conscientes.
Quanto ao material a ser utilizado na É importante lembrar que abordagens de
montagem dos painéis, devem ser conside- educação ambiental em projetos de ecotu-
radas basicamente as relações entre a dura- rismo iniciam-se com programas voltados
bilidade, o custo e a estética. para a comunidade local, inserem-se no
O tamanho dos painéis (incluindo seu planejamento dos produtos, executam-se na
suporte) e a sua localização precisam estar venda aos ecoturistas e consomem-se
adaptados ao ambiente, formando um con- durante os programas de visitação.
junto harmônico.
Para as áreas naturais protegidas V. BIBLIOGRAFIA
como unidades de conservação federais, o
7 IBAMA editou um manual que estabelece as Muitos textos, dados e exemplos utiliza-
normas e padrões a serem seguidos nas pla- dos no capítulo foram retirados das publi-
cas de sinalização e de interpretação. cações a seguir, as quais também são
recomendadas como leituras comple-
w Métodos que se complementam mentares.

Os diferentes tipos de trilhas interpretati- BOO, Elizabeth. 1992. The Ecotourism


vas apresentam vantagens e desvantagens. Boom: Planning for Development and
O ideal seria poder contar, no mínimo, com Management. WWF and WHN.
os três tipos básicos de interpretação para Technical Paper Series. Washington, DC,
cada trilha. Os painéis oferecem permanen- USA.
temente uma orientação resumida para as BERKMÜLLER, Klaus. 1984. Environmental
descobertas do público. Os folhetos, já com Education about the Rain Forest.
maiores detalhes, podem ser distribuídos University of Michigan Press. Ann Arbor,
para grupos ou pessoas interessadas. Em MI, USA.
datas e horários preestabelecidos um guia- ________. 1981. Guidelines and Techniques
intérprete poderá estar à disposição para o for Environmental lnterpretation.
acompanhamento de grupos previamente University of Michigan Press. Ann Arbor,
inscritos. MI, USA.
CORNELL, Joseph. 1996. Brincar e aprender
IV. RISCOS E RECOMENDAÇÕES com a natureza: um guia sobre a
natureza para pais e professores. SENAC.
A interpretação ambiental oferece cami- São Paulo
nhos que facilitam a conexão entre as pes- SERRANO, Célia [org]. 2000. Educação
soas e seus ambientes. Utilizada de forma pelas Pedras: ecoturismo e educação
eficiente, viabiliza os objetivos educativos ambiental. Chronos. São Paulo.
do ecoturismo de forma prazerosa, conci- FAO. 1989. Informe del Taller lntemational
liando a recreação com a educação. Sobre lnterpretacion Ambiental en Áreas
Porém, não existem fórmulas mágicas. Silvestres Protegidas. Anais, 6 a 12 de
Todas as orientações existentes auxiliam muito Deciembre de 1988. FAO/PNUMA.
na tomada de decisão, mas é fazendo que Santiago, Chile.
realmente se aprende. Mesmo porque cada HAM, Sam H. 1992. lnterpretacion
local é único e requer soluções apropriadas. Ambiental. Una Guia Practica para
O grande objetivo é fazer com que o eco- Gente con Grandes Ideas y Presupuestos
turismo resulte em benefícios para todos os Pequeños. North American Press.
282
Interpretação ambiental – IMPLEMENTAÇÃO RESPONSÁVEL

Golden, , CO, USA. Programme ln the Atlantic Forest. In


IBAMA. 1994. Programa Nacional de Brazil Environmental Conservation. nº
Educação Ambiental - 1994 a 2000. 21, Vol. 2, pp. 145-152.
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e PIRES, Paulo.S. l993. Turismo em Áreas
dos Recursos Naturais Renováveis Naturais Protegidas. ln Manejo de Áreas
(IBAMA), versão preliminar. Brasília, DF. Naturais Protegidas. Curso, 24 a 28 de
JACOBSON, Suzan.K. 1991. Evaluation maio de 1993. UNILIVRE. Curitiba, PR.
Model for Developing, and Assessing SHARPE, G. W. 1976. Interpreting the
Conservation Education Programs: Environment Outdoor Recreation, John
Examples from Belize and Costa Rica. In Wiley and Sons. New York, NY, USA.
Environmenlal Management, nº 15, Vol. SPANGLE, P., e PUTNEY, A. D. 1974.
2, pp. 143-150. Planification de Programas Interativos.
________. 1995. Conserving Wildlife FAO. Santiago, Chile.
lntemafional Education and TABANEZ, Marlene. F., e CONSTANTINO,
Communication Approaches. Columbia E.P. 1986. Análise da Freqüência à 7
University Press. New York, NY, USA. Floresta de Recreação e Educação
MILANO, Miguel S. 1993. Unidades de Ambiental de Assis. Boletim Técnico do
Conservação: Conceitos Básicos e Instituto Florestal. São Paulo, nº 40: 54
Princípios Gerais de Planejamento, –76, edição especial.
Manejo e Administração. In Manejo de ________, e MACHADO, S.I.P. 1992.
Áreas Naturais Protegidas. Curso, 24 a Percepções da Comunidade sobre a
28 de maio de 1993. UNILIVRE. Estação Experimental de Assis. Revista
Curitiba, PR. do Instituto Florestal. São Paulo, no 4:
MILLER, Kenton. 1980. Planificación de 1144 -1152.
Parques Nacionales para el TAKAHASHI, Leide. 1995. Estabilidade do
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MORALES, Jose. 1989. Un Recorrido por Ia TRAPP, S., GROSS, Michael., e ZIMMER-
lnterpretación. In Informe del Taller lnter- MAN, . 1994. Signs, Trails and Wayside
nacional sobre lnterpretación Ambiental Exhibits.- Connecting People and Places.
en Áreas Silvestres Protegidas.6 a 12 de UW-SP Foundation Press. University of
deciembre de 1988. FAO/PNUMA, série Wisconsin , USA.
Informes. Santiago, Chile ,p.54 a 60. UNEP. 1988. People, Parks and Wildlife -
NATIONAL PARKS AND CONSERVATION Guidlines for Public Participation ín
ASSOCIATION. 1988. lnterpretation: Wildlife Conservation. Case Studies in
Key to the Park Experience. NPCA. Kenia. UNEP. Nairobi, Kênia.
Washington, DC, USA. VALADARES-PÁDUA, C. e PÁDUA,
O'DONOGHUE, R.B. e TAYLOR, J. l988. A Suzana. Um Programa Integrado de
Handbook of Evaluation Techniques for Conservação da Natureza: Pesquisa,
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PÁDUA, Suzana M. l99l. Conservation VASCONCELLOS, Jane Maria de O. 1996.
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Education School Program at Morro do Interpretação da Natureza. In: Manejo
Diabo State Park, São Paulo, Brazil. de Áreas Naturais Protegidas: Teoria e
Dissertação de Mestrado. University of Prática. Curso, 19 de maio a 02 de junho
Florida, USA. de 1996. UNILIVRE. Curitiba e
________. 1994. Conservation Awareness Guaraqueçaba, PR.
through an Environmental Education _________. 1998. Avaliação da Visitação
283
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

Pública e da Eficiência de Diferentes Como Planifícar Un Programa de


Tipos de Trilhas Interpretativas no Parque Educacíon Ambiental. WRI. Washington,
Estadual Pico do Marumbi e Reserva DC, USA.
Natural Salto Morato. Tese de Doutorado ZABALETA, P. de B., MOLINO, C. H. e
em Ciências Florestais, Universidade DIAZ, A. P. 1991. Resposta Educatíva a
Federal do Paraná. Curitiba, PR. Ia Crisis Ambiental. CIDE. Madrid,
WOOD, David S. e Wood, Diane W. 1990. Espanha.

MATERIAIS DE INTERPRETAÇÃO AMBIENTAL


DO PARNAMAR FERNANDO DE NORONHA

Abaixo apresentamos dois dos diversos materiais interpretativos elaborados pela parceria
7 entre o WWF-Brasil e IBAMA para o projeto de Uso Recreativo do Parque Nacional Marinho
de Fernando de Noronha.
O primeiro refere-se aos textos contidos nas placas na Trilha dos Golfinhos, auto-guiada.
O segundo diz respeito aos textos que compõem o folheto Ecossistema Marinho, com abor-
dagem interpretativa da riqueza da vida marinha e também destacando as espécies de golfi-
nhos e tartarugas, dois dos projetos conservacionistas lá executados.
Esses textos serviram de base para elaboração final de folhetos e placas e são apenas um
indicativo de como foi preparado o material.
Os textos das placas e do guia temático marinho foram depois modificados em sucessivos
processos de edição, seja para adequação ao tamanho dos materiais, seja por questões de lin-
guagem, seja por necessidade de complementar ou eliminar informações.

SISTEMA DE PLACAS INTERPRETRATIVAS

TRILHA DOS GOLFINHOS


Trilha auto-guiada com placas de interpretação, sinalização, advertência e segurança

PLACA 1: VOCÊ ESTÁ AQUI


Seja bem-vindo
PLACA 1:
VOCÊ ESTÁ AQUI
Aqui começa a Trilha dos Golfinhos
Características:
r caminhada guiada das 5:00 às 8:00 horas
r caminhada livre das 8:00 às 17:00 horas
r percurso circular com 2,2 km de extensão
r baixo nível de dificuldade
Principais atrativos:
r observação dos golfinhos, aves e outros animais;
r acesso à Praia do Sancho, com banho e mergulho livres
r acesso à trilha Sancho-Porcos
Lendo as placas, ao longo do caminho, você terá oportunidade de conhecer um pouco
mais sobre os animais que vivem neste Parque. São mamíferos, répteis e muitas aves, ter-
restres e marinhas. Para conhecê-los melhor preste atenção em todas as características do
ambiente, pois tudo está relacionado, nada existe de forma isolada.
Durante sua caminhada observe as normas do Parque, principalmente:
❐ caminhe somente na trilha
284
Interpretação ambiental – IMPLEMENTAÇÃO RESPONSÁVEL

MATERIAIS DE INTERPRETAÇÃO AMBIENTAL


DO PARNAMAR FERNANDO DE NORONHA
❐ respeite o ambiente e todas as formas de vida
❐ não perturbe os animais, caminhe em silêncio
❐ não alimente os animais
❐ não danifique a vegetação
❐ não retire nada do ambiente
❐ ajude a manter o Parque limpo

PLACA 2: EM TEMPO DE GUERRA (à direita da atual área


PLACA 2: de estacionamento do Sancho, atrás da cerca)
EM TEMPO Esta edificação era uma bateria, de artilharia de costa, durante a II
DE GUERRA Guerra Mundial. Esta bateria foi construída com pedras em grande
parte retiradas do Forte São João Batista dos Dois Irmãos. Durante a 7
guerra, esta região da ilha, chamada de Quixaba, era habitada por
cerca de 3.000 soldados, entre brasileiros e americanos.

PLACA 3: AS AVES TERRESTRES (na trilha dos Golfinhos)


Neste caminho você poderá ir conhecendo as aves terrestres que
PLACA 3: habitam a ilha: arribaçãs (Zenaida auriculata noronha), cocorutas
AS AVES TERRESTRES
(Elaenia spectabilis); cebitos (Vireo gracilirostris).
As arribaçãs constroem seus ninhos nos galhos das árvores mais altas,
como o mulungu e a gameleira. Isto parece ser uma adaptação local
para proteger os ovos contra os ataques do lagarto-teju, pois no con–
tinente seus ninhos são feitos no chão.

PLACA 4: ÁREA DE RECUPERAÇÃO FLORESTAL (+ ou - 160m)


PLACA 4: Aqui já existiu uma densa Floresta Atlântica Insular. Agora ela está
ÁREA DE
RECUPERAÇÃO
sendo recuperada com o plantio das espécies de árvores mais ca-
FLORESTAL racterísticas da floresta original. Por ser uma floresta insular, isolada
do continente, sua recuperação natural, sem o auxílio de uma inter-
venção humana, seria bastante difícil. Participe deste esforço respei-
tando este berçário natural.

PLACA 5: ÁREA DE RECUPERAÇÃO FLORESTAL (400m)


PLACA 5: Um dos objetivos deste Parque Nacional Marinho é a conservação
ÁREA DE
RECUPERAÇÃO
da sua vegetação. É por isso que as áreas alteradas precisam ser
FLORESTAL recuperadas. Mesmo sendo impossível reproduzir a floresta original,
com o plantio e a proteção destas novas árvores, um dia toda esta
região será novamente uma floresta repleta de vida. As árvores aqui
plantadas são o joão-mole, o jitó, a quixabeira, o mulungu e o ipê.

PLACA 6: UM LOCAL PREPARADO PARA A GUERRA


PLACA 6: Devido à sua localização estratégica, Fernando de Noronha foi
UM LOCAL PREPARADO transformada em posto avançado de defesa contra o eixo - Alemanha,
PARA A GUERRA Itália e Japão. Nesta ocasião a ilha foi ocupada por cerca de 5000 mili-
tares brasileiros e, também, norte-americanos. Esta é uma BATERIA
ANTIÁEREA construída durante a 2ª Guerra Mundial (1939-1945),
como parte do sistema defensivo aqui montado pelo exército brasileiro.
285
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

MATERIAIS DE INTERPRETAÇÃO AMBIENTAL


DO PARNAMAR FERNANDO DE NORONHA

PLACA 7: PLACA 7: ÁREA DE RECUPERAÇÃO FLORESTAL (na quixabeira,


ÁREA DE entre 600 e 700m)
RECUPERAÇÃO O joão-mole e o jitó, aqui plantadas, são espécies chamadas de pio-
FLORESTAL neiras. Elas agüentam muito sol e crescem rápido, criando a sombra
necessária para o desenvolvimento das mais sensíveis ao sol. Quando
estas últimas crescerem vão criar um ambiente com muita sombra e,
então, as pioneiras vão desaparecer, ficando apenas nas beiras dos
caminhos ensolarados. Este é o processo de sucessão das espécies da
floresta que fará esta trilha voltar a ter muito mais vida e também sombra.

PLACA 8: PLACA 8: O QUE VOCÊ PODE OBSERVAR DAQUI (Próximo ao


O QUE VOCÊ PODE mirante)
7 OBSERVAR DAQUI No mar, em frente, nadam os golfinhos rotadores e, próximo da base
do penhasco, as tartarugas-de-pente juvenis se alimentam. Voando
ou abrigando-se nas árvores e nas rochas das encostas há várias
espécies de aves marinhas. Nas pedras, junto ao chão, correm mui-
tas lagartixas mabuias, enquanto os mocós escondem-se nas frestas.

PLACA 9: PLACA 9: (na beira do mirante)


OS GOLFINHOS Texto 1: OS GOLFINHOS AVISTADOS NAS ÁGUAS DA BAÍA
Os golfinhos observados nesta enseada são mamíferos marinhos da
ordem dos Cetáceos, que vivem nas regiões tropicais, subtropicais e
temperadas quentes de todos os oceanos. Seu nome científico é
Stenella longirostris, devido ao seu bico longo e fino.
Estes golfinhos podem atingir 2 metros e 75 quilos e são comumen-
te chamados de golfinhos rotadores, devido às piruetas ou giros que
executam em seus saltos. Estes saltos, facilmente observados daqui,
podem ser uma simples brincadeira, uma sinalização sonora ou
servir para desalojar parasitas e comensais, como as rêmoras, geral-
mente aderidos aos seus corpos.
Texto 2: COMO ELES VIVEM
Os golfinhos rotadores são animais sociais, que vivem em grupos. Os
grupos podem ser formados por pares ou até por mais de 100 indivíduos,
de ambos os sexos e de todas as classes de idade. Ao raiar do sol, os gru-
pos vêm para esta enseada de águas calmas para descansar, reproduzir,
criar seus filhotes e se socializar. Há registros da ocorrência dos golfinhos
neste local desde 1556. No final da tarde eles se deslocam para as
águas profundas, na face sul do arquipélago, para se alimentar. Pes-
cam de forma cooperativa para capturar pequenos peixes, lulas e
camarões.

PLACA 10: PLACA 10: OS GOLFINHOS ROTADORES SE REPRODUZEM NESTA


AQUI OS GOLFINHOS ENSEADA
ROTADORES Aqui é possível a observação do comportamento reprodutivo dos
SE REPRODUZEM golfinhos rotadores, em todas as épocas do ano. Grupos reprodu-
tivos deslocam-se rapidamente, com alguns indivíduos mantendo o
ventre branco voltado para cima, o que pode ser observado pelo tom
286
Interpretação ambiental – IMPLEMENTAÇÃO RESPONSÁVEL

MATERIAIS DE INTERPRETAÇÃO AMBIENTAL


DO PARNAMAR FERNANDO DE NORONHA

azul mais claro que isto provoca na água. O cortejo é seguido pelo
acasalamento, quando vários machos acasalam com a mesma
fêmea, para garantir a fecundação. A gestação dura de 10 a 11 meses.
Os filhotes nascem com cerca de 77 cm e mamam de 1 a 2 anos,
mantendo uma forte relação com a mãe.

PLACA 11: A LAGARTIXA MABUIA E O ROEDOR MOCÓ (no


PLACA 11:
mirante, junto às pedras)
A LAGARTIXA MABUIA
E O ROEDOR MOCÓ As mabuias (Mabuya maculata) são as pequenas lagartixas que cor-
rem sobre as rochas. Elas são muito curiosas e mansinhas, aproxi-
mam-se facilmente das pessoas, mas precisam de sossego para
sobreviver. Alimentam-se de pequenos seres vivos e qualquer outro 7
tipo de alimentação pode lhes causar distúrbios. Esta é uma espécie
característica de Fernando de Noronha, pois é endêmica destas
ilhas, só existe aqui. Observando com atenção, você também poderá
avistar os mocós (Keredon rupestris), abrigando-se nas rochas das
encostas. Este roedor é muito arisco, mas é comum nesses am-
bientes. Eles foram introduzidos na ilha por volta de 1967 e aqui se
adaptaram e se expandiram. Como toda espécie exótica (ou seja,
não natural de determinado ecossistema), os mocós causam danos à
vegetação das encostas, pois roem as raízes que dão suporte à rocha,
levando à sua derrubada.

PLACA 12: AVES (antes da saída para Sancho)


PLACA 12:
Estes locais são utilizados por um grande número de aves marinhas.
AVES
As viuvinhas, os atobás ou mumbebos, os atobás-marrom e as fra-
gatas podem ser facilmente vistos por toda parte, voando, pescando
ou recolhendo-se nos galhos das árvores. Com cuidado e silêncio,
você terá a oportunidade de vê-los, até a curta distância. Observe
também, as relações existentes entre os diversos elementos destas
paisagens: as aves, a vegetação e os demais seres vivos, visíveis ou
não, as encostas rochosas, o mar, tudo está relacionado formando
um todo chamado "ecossistema".

PLACA 13: (mirante 1)


PLACA 13: Texto 1: OS NUMEROSOS ATOBÁS
OS NUMEROSOS
Daqui já é possível avistar a Ilha Dois Irmãos, já no limite do Parque,
ATOBÁS
e uma grande quantidade de aves. Uma delas, os atobs ou mumbe-
bos (Sula sula), habitam as encostas, desde Dois Irmãos até a Ponta
da Sapata, à esquerda, formando uma das maiores populações de
aves marinhas residentes nestas ilhas.Eles alimentam-se de peixes,
lançando-se ao mar de grandes alturas. Para se proteger do impacto
da água, seu sistema respiratório se expande, funcionando como um
amortecedor.
Texto 2: COMO ELES VIVEM
Eles estão pousados nos galhos das árvores, descansando, muitas
287
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

MATERIAIS DE INTERPRETAÇÃO AMBIENTAL


DO PARNAMAR FERNANDO DE NORONHA
vezes com a cabeça e o pescoço pendentes, arrumando suas penas,
ou voando e pescando. Seu período de reprodução vai de março até
agosto. Constroem seus ninhos preferencialmente nos galhos das
árvores e as fêmeas raramente põem 2 ovos e quando isto acontece,
apenas um sobrevive. Seus excrementos tingem de branco rochas e
árvores. Ricos em fosfato e outros sais minerais estes são os maiores
responsáveis pelos depósitos de guano, adubo orgânico formado
pelos excrementos das aves e matéria orgânica. Entretanto, o exces-
so de excrementos depositados diretamente nas folhas e galhos das
árvores, como daqui se observa, pode levar à morte das árvores devi-
do às grandes concentrações de ácidos, como uréia e amônia.
7
PLACA 14: (mirante 2)
PLACA 14: Texto 1: CONHECENDO AS VIUVINHAS-NEGRAS
CONHECENDO AS
VIUVINHAS-NEGRAS
Numerosas viuvinhas (Anous minutus), com plumagem inteiramente
negra-amarronzada e fronte branca são aves pescadoras residentes per-
manentes destas encostas. Esta é a espécie de ave marinha mais co-
mum nestas ilhas, com uma população estimada em 20.000 indivíduos.
Sua principal área de reprodução e concentração de ninhos está
entre a Praia do Sancho e a Ponta da Sapata, onde já foram conta-
dos mais de 10.000 ninhos. Elas constroem os ninhos com algas,
sobre árvores, arbustos, moitas e nos paredões rochosos, sempre
protegidos dos ventos fortes. Seu principal período reprodutivo é
entre março e agosto. Seus excrementos formam manchas brancas
no solo, nas pedras e nas árvores.
Texto 2: AS FALÉSIAS DO SANCHO
Daqui avista-se a Praia do Sancho e suas imponentes falésias ou en-
costas, repletas de vida. Elas são formadas por rochas escuras, do
tipo ankaratríticas (Formação Quixaba), típicas dos últimos eventos
vulcânicos que formaram este arquipélago. Elas estão ali no mínimo
há 2 milhões de anos.

PLACA 15: AS AVES NAS ÁRVORES (logo após primeira ponte)


PLACA 15: Este é um local especial para observação das aves marinhas. Em uma
AS AVES só árvore concentram-se dezenas de indivíduos de várias espécies.
NAS ÁRVORES
Nos períodos de reprodução é possível acompanhar o namoro, a cons-
trução dos ninhos e o revezamento dos pais no cuidado dos filhotes.
Além dos numerosos mumbebos e viuvinhas-negras, você poderá
facilmente avistar as viuvinhas-marrons (Anous stolidus), com
plumagem marrom e fronte esbranquiçada, e as noivinhas (Gygis
alba), totalmente brancas, com bico, pernas e olhos negros. As noi-
vinhas constróem seus ninh-os em forquilhas de árvores altas, pre-
ferencialmente o Mulungu, sem nenhuma proteção. Os filhotes
nascem com plumagem escura que o confunde com o galho, dando-
lhe proteção.

288
Interpretação ambiental – IMPLEMENTAÇÃO RESPONSÁVEL

MATERIAIS DE INTERPRETAÇÃO AMBIENTAL


DO PARNAMAR FERNANDO DE NORONHA

PLACA 16: PLACA 16: AQUI COMEÇA UMA CACHOEIRA (na segunda ponte)
AQUI COMEÇA Aqui, na época das chuvas, passa um forte córrego que, logo adian-
UMA CACHOEIRA te, despenca na encosta íngreme, formando a Cachoeira do Sancho.
Como a maioria dos outros córregos da ilha, este também desapa-
rece durante a seca, devido ao clima e a baixa retenção de água no
subsolo.

PLACA 17: PLACA 17: A PRAIA COM VIDA CONVIDA (antes dos 1500m)
A PRAIA COM VIDA Toda esta paisagem pode ser aproveitada mais de perto. A Praia do
CONVIDA Sancho, com acesso um pouco mais adiante, é uma praia onde o
banho é agradável e seguro. O mergulho livre também é permitido,
possibilitando a observação de grande variedade de peixes, corais e 7
outros organismos. É um mergulho fácil, recomendado para iniciantes.

PLACA 18: PLACA 18: A AVE SÍMBOLO (mirante com bancos)


A AVE Nestes céus, voam também os rabos-de-junco (Phaeton lepturus),
SÍMBOLO ave símbolo de Fernando de Noronha. Podem ser facilmente identi-
ficados pela sua longa cauda, que mede até 50cm. Sua população
varia entre 100 e 300 indivíduos e este parece ser um dos seus úni-
cos locais de reprodução no Brasil. Eles constróem seus ninhos nas
fendas dos paredões rochosos das encostas, entre dezembro e mar-
ço. A fêmea põe um ovo de cada vez. Alimentam-se de peixes como
os agulhas, voadores e manjubas. Esta é uma das espécies de maior
vocalização no arquipélago, especialmente quando são perseguidos
por outras aves, como as fragatas, que tentam roubar-lhes os peixes.

PLACA 19: (no quiosque, placas maiores, com mais texto)


PLACA 19: Texto 1: UMA FENDA NATURAL NA ROCHA
UMA FENDA
A descida para a Praia do Sancho é feita através de uma profunda
NATURAL NA ROCHA
fenda natural existente no interior do paredão de rochas. Observe
bem esta fenda, sabendo que estas são rochas vulcânicas, vindas do
interior da terra para a superfície, em altas temperaturas. Esta fenda
deve ter se formado como conseqüência das tensões surgidas no
processo de resfriamento. Estas rochas formaram-se aqui entre 6 e 2
milhões de anos atrás, último período de derrame das lavas for-
madoras deste arquipélago.
Texto 2: AS INTERAÇÕES DA NATUREZA
Deste local é possível observar algumas interações entre aves, árvores,
solos, paisagem. Aqui ao lado, ocorrem 2 espécies de árvores típicas da
Floresta Atlântica Insular que no passado recobria quase toda a ilha.
A de tronco reto e 'listrado' é o mulungu (Erythrina velutina varie-
dade aurantiaca - Fam. Lugominosae - Faboideae). É uma das espé-
cies de árvores mais altas da ilha. Nos meses de agosto e setembro
colore a paisagem com suas flores vermelho-alaranjadas. Muitas
aves constróem ninhos em seus galhos, protegendo-se dos ventos. A
árvore com uma verdadeira cortina de raízes aéreas é a gameleira
(Ficus noronhae - Fam. Moraceae). As raízes aéreas ajudam a sus-
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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

MATERIAIS DE INTERPRETAÇÃO AMBIENTAL


DO PARNAMAR FERNANDO DE NORONHA
tentar os seus grandes galhos, uma vez que, neste solo raso, as raízes
subterrâneas tornam-se insuficientes. Também é uma das árvores
mais altas desta floresta e muito utilizada pelas aves, que comem
seus frutos, abrigam-se e constróem ninhos em seu galhos. As aves
também são importantes para as árvores, pois dispersam suas se-
mentes, possibilitando que nasçam árvores até sobre as rochas dos
altos paredões. Na natureza é assim, tudo está relacionado, formando
um grande ecossistema. Este Parque existe para manter estas intera-
ções em seu estado natural e precisa contar com a sua colaboração.
PLACA 20: PLACA 20: FORTE DE SÃO JOÃO BAPTISTA DOS DOIS IRMÃOS
FORTE DE (no forte)
7 SÃO JOÃO BATISTA Este forte foi construído pelos portugueses em 1737, para guardar as
DOS DOIS IRMÃOS
praias da Cacimba do Padre (à direita de Dois Irmãos) e do Sancho,
últimas praias do mar de dentro onde o desembarque era possível.
Em forma de trapézio, abrigava 6 peças de artilharia e podia cruzar
fogo com o Forte de São Pedro do Boldró.
PLACA 21:
ÁREA DE
PLACA 21: ÁREA DE REFLORESTAMENTO (no caminho PIC-Sancho)
REFLORESTAMENTO

GUIA TEMÁTICO – FOLHETO

O E COSSISTEMA MARINHO
para venda a visitantes sobre ecossistema marinho do arquipélago
complemento para interpretação de todos os pontos de mergulho

OS DOIS MARES DE NORONHA


Em Noronha, existem dois diferentes ambientes marinhos: o Mar de Dentro e o Mar de Fora.
O Mar de Dentro, mais abrigado dos ventos, é calmo durante a maior parte do ano, com
grandes áreas cobertas por corais (principalmente Montastrea cavernosa) e algas marrons.
O mar de fora, lado voltado para a África, é mais exposto aos ventos, mexido, com ondas
altas e fortes correntes. Neste mar, nas áreas rasas, próximas da praia, há formações muito
semelhantes aos recifes, comumente confundidas com estes. São as cristas algais, formadas
por algas calcárias e moluscos e não por corais, como os verdadeiros recifes. Na Praia do
Leão, as cristas algais formam os "esguichos" e na Praia do Atalaia dão origem às "piscinas".

A BIODIVERSIDADE MARINHA
A grande importância dos dois mares de Fernando de Noronha está nas suas variadas formas
de vida. São algas, esponjas, corais, moluscos, ouriços, peixes como os tubarões, moréias,
arraias e muitas outras espécies de variados tamanhos, formas e cores, além de tartarugas,
golfinhos e, ocasionalmente, até mesmo baleias.
290
Interpretação ambiental – IMPLEMENTAÇÃO RESPONSÁVEL

MATERIAIS DE INTERPRETAÇÃO AMBIENTAL


DO PARNAMAR FERNANDO DE NORONHA
OS CORAIS
Nas rochas submersas, chamam a atenção, as manchas coloridas formadas por colônias simétri -
cas de corais. São 11 as espécies de corais que formam estas manchas. Porém, apesar de 9
destas espécies serem de corais construtores, aqueles que normalmente formam recifes, não
existem, em volta de todo o arquipélago, formações verdadeiras de recifes de coral. Talvez isto
ocorra devido à forte ação das ondas e ao tipo de substrato, formado por rochas vulcânicas.
OS OURIÇOS (texto pequeno ao lado da foto)
Os ouriços são herbívoros que se alimentam de pequenas algas. Eles buscam seu alimento
durante a noite, raspando o substrato onde vivem. Aqui na ilha vivem três espécies de ouriços:
ouriço branco (Tripneustes sp.), mais abundante no arquipélago , ouriço preto (Diadema sp.)
e Eucidaris sp.
7
AS MINHOCAS DO MAR (texto pequeno ao lado da foto)
As poliquetas (Spirobranchus) são um tipo de minhocas do mar, muito atrativas, com seus
tufos de pelos e suas variadas cores (vermelho, amarelo, marrom). Elas costumam perfurar
algumas espécies de corais, principalmente os Porites astreoides.

A COMUNIDADE DE PEIXES
A comunidade de peixes é semelhante à do Caribe, porém menos diversa, com mais de 100
espécies registradas. Algumas são muito abundantes e freqüentes, como a donzelinha de
rocas (Stegastes rocasensis), a garoupinha (Cephalopolis fulva) e o sargentinho (Abudefduf
saxatilis).

CADA UM NO SEU LUGAR


Em cada ambiente vivem grupos diferentes de peixes. Fuçando o fundo, em busca de ali -
mento, estão os peixes carnívoros. Os carnívoros, como os bodiões (Halichoeres radiatus) e
as duas espécies de saramunetes (Pseudopeneus maculatus e Mulloidichthys martinicus), ali -
mentam-se de pequenas poliquetas, moluscos e crustáceos. As garoupinhas (Cephalopolis
fulva) e as barracudas (Sphyraena barracuda), podem ser vistas alimentando-se das papudi -
nhas. Os cardumes de peixes cirurgião (Acanthurus spp.) e os peixes papagaio (Sparissoma
spp.), são herbívoros que ficam pastando sobre as algas.
No meio da coluna d'água, vivem os peixes que se alimentam de plancton, tais como o sar -
gentinho ou saberé (Abudefduf saxatilis) e os cangulos (Melichthys niger). Nas sombras ou nas
fendas, descansam os peixes de hábitos noturnos, como as mariquitas (Holocentrus ascen-
siones e Myripristis jacobus) e os cardumes de papudinhas (Pempheris schomburgki). Ali per -
manecem até o anoitecer, quando saem para se alimentar em águas abertas.
Na areia, podem ser vistos alguns montes de cascalho grosso. São tocas construídas pelo
peixe aipim (Malacanthus plumieri), onde também se abrigam camarões e outros peixes,
como a donzelinha (Stegastes pictus).

PEIXES COOPERATIVOS
Os pequenos peixes néon, da família Gobiidae, apresentam um comportamento dos mais
interessantes, alimentando-se dos parasitas, tecido doente e muco do corpo de outros peixes.
Os peixes aproximam-se e solicitam o seu serviço de limpeza, através de movimentos especí -
ficos, que podem aqui ser observados. Em troca, os neon conseguem alimento. Esta relação de
troca acontece com peixes de variados tamanhos, inclusive com tubarões, arraias e barracudas.
291
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

MATERIAIS DE INTERPRETAÇÃO AMBIENTAL


DO PARNAMAR FERNANDO DE NORONHA

MACHOS GUARDIÃES
Na família de peixes Pomacentridae, são os machos que cuidam dos ovos, após o acasala -
mento. O sabaré ou sargentinho (Abudefduf saxatilis), facilmente observado nos costões, após
o acasalamento muda a sua cor de branco com faixas amarelas e pretas azul escuro, per -
manecendo sempre perto da parede onde os ovos estão grudados.
Outra espécie desta família é a donzelinha de rocas (Stegastes rocasensis), que é endêmica,
ou seja, só existe em Fernando de Noronha e no Atol das Rocas.

AS TARTARUGAS
As águas tropicais do arquipélago de Fernando de Noronha são uma das principais áreas de
reprodução da tartaruga verde (Chelonia mydas), no Atlântico Sul. Servem também, como
7 importante área de alimentação para os jovens desta espécie e para a tartaruga de pente
(Erotmochelys imbricata). As tartarugas verdes quase foram extintas devido à matança de fê -
meas e captura de seus ovos, durante séculos. Desde 1984, quando o Projeto TAMAR/IBAMA
instalou-se na ilha para proteger e pesquisar as tartarugas, vem aumentando o número das tar -
tarugas que chegam nas praias para desovar.
Elas chegam sempre no início da noite, principalmente na Praia do Leão, de dezembro a
junho e, com seus 300 kg, levam cerca de 2 horas no trabalho de construção do ninho, pos -
tura dos ovos, camuflagem do ninho e retorno para o mar. As tartaruguinhas nascem entre 50
e 60 dias depois e correm rápido para o mar. No processo natural, de cada 1000 filhotes ape -
nas 1 ou 2 chegam à fase adulta. Quando isto acontece, 20 anos depois, elas voltam para pôr
seus ovos no mesmo lugar onde nasceram.

OS GOLFINHOS E OUTROS MAMÍFEROS


Várias espécies de mamíferos marinhos utilizam os mares de Fernando de Noronha, como as
baleias jubarte (Megaptera novaeangliae) e bicuda (Ziphius cavirostris), o cachalote-pigmeu
(Kogia breviceps) e os golfinhos cabeça-de-melão (Peponocephala electra), pintado-pantro -
pical (Stenella attenuata) e rotador (Stenella longirostris).
A baleia-jubarte pode ser observada no seu período migratório na costa brasileira, de julho a
dezembro, quando pode inclusive, formar grupos mistos com o golfinho-pintado-pantropical
e o golfinho-rotador.
As outras espécies ocorrem mais para fora do arquipélago, sendo raramente avistadas.
Os golfinhos-rotadores merecem destaque especial por constituírem uma população resi -
dente nas águas protegidas do Parque. Quase que diariamente (80% dos dias do ano),
reúnem-se em numerosos grupos na Baía dos Golfinhos, onde chegam ao nascer do sol para
passar boa parte do dia descansando, procriando, cuidando das crias ou se socializando. No
final da tarde, retiram-se para as águas profundas do mar de fora, com o objetivo de pescar
durante a noite. Geralmente chegam todos juntos na baía, mas não saem todos ao mesmo
tempo. Dentro da baía o bando se divide em vários grupos que podem variar de 2 a 80 indi -
víduos. O número de golfinhos e o seu tempo de permanência na baía variam com os perío -
dos de clima seco e chuvoso, condicionados a fatores oceanográficos, meteorológicos e
biológicos.
Por serem muito vulneráveis às perturbações em seu ambiente, necessitam de tranqüilidade
para manter o seu comportamento e permanecer residindo nesta área. Como medidas de pro -
teção, desde 1986, estão proibidos a circulação de embarcações e o mergulho dentro da baía
e a Portaria 05 de 25/01/95 proíbe tocar, alimentar e perseguir os golfinhos, bem como per -
292
Interpretação ambiental – IMPLEMENTAÇÃO RESPONSÁVEL

MATERIAIS DE INTERPRETAÇÃO AMBIENTAL


DO PARNAMAR FERNANDO DE NORONHA

turbá-los com instrumentos sonoros ou algazarras, e estabelece normas para o deslocamento


de embarcações além das bóias de sinalização que protegem a baía.

RECOMENDAÇÕES PARA UM MERGULHO CONSCIENTE

Sinta-se confortável!
❐ ajustando bem seus equipamentos, você evita que eles toquem ou se prendam nos corais;
❐ controlando bem a sua flutuabilidade você impede que o seu corpo e seus equipamentos
toquem os corais e outros organismos frágeis, contribuindo para a manutenção da quali-
dade do ambiente;
❐ mantenha-se atento às recomendações do guia e siga sempre o plano de mergulho. 7
Você é o convidado!
O local de mergulho é a casa de milhares de seres submarinos,
onde você deve se comportar como um convidado:
❐ respeite todos os tipos de organismos como você espera ser respeitado;
❐ entenda que cada organismo, mesmo um fragmento de concha, é parte importante deste
ecossistema e deve permanecer no local;
❐ observe, fotografe e filme, mas entenda que os animais não devem ser perturbados pela
sua presença, interrompendo sua alimentação, acasalamento e descanso;
❐ aumente sua satisfação ao mergulhar, conhecendo mais sobre a vida marinha e anote as
curiosidades que encontrar - você passará a enxergar muito mais.

FONTE::
VASCONCELLOS, J. M. 1997. Método de desenvolvimento da interpretação ambiental e tex-
tos de base para elaboração de programação visual. Relatório de Interpretação Ambiental
para o Convênio IBAMA / WWF-Brasil. WWF-Brasil, Brasília. (não publicado).

293
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

✑ TOME NOTA:

294
Capacitação comunitária – IMPLEMENTAÇÃO RESPONSÁVEL

8. Capacitação comunitária
Marcos Martins Borges

I. OBJETIVO De acordo com os objetivos deste


Manual, o processo de capacitação aqui
objetivo deste capítulo – tendo

O como base o princípio de partici-


pação comunitária – é propiciar
metodologia e informações básicas para a
proposto extrapola a simples realização de
cursos padronizados e profissionalizantes,
sendo fundamental o estímulo à partici-
pação de proprietários, funcionários e ou-
8

identificação de cursos de treinamento tros interessados, desde a definição dos cur-


dirigidos a membros ou setores de comu- sos até a replicagem (ou multiplicação) dos
nidades para fins de atividades de ecoturis- mesmos.
mo. O capítulo também visa orientar sobre É importante destacar que, no ecoturis-
a adequação de cursos à realidade da mo, manter a originalidade e a autenticidade
comunidade local, sobre a valorização e dos comunitários, considerando seu ritmo e
capacitação de instrutores e monitores suas técnicas de trabalho, pode vir a se
locais e sobre a identificação de possíveis tornar um diferencial no mercado. Assim, o
parceiros. programa de capacitação (método, técnicas,
conteúdo e instrutores) deve adaptar-se à
II. INTRODUÇÃO CONCEITUAL realidade e originalidade locais, sem perder
o foco nas competências e habilidades
O ecoturismo, como qualquer outra ativi- necessárias para a satisfação do visitante.
dade moderna, gera competitividade local e
regional. O turista é um cliente e está dis- III. CAIXA DE FERRAMENTAS
posto a consumir, mas quer qualidade em
serviço e preço justo. Além disso, um dos Os seguintes tópicos serão aborda-
princípios básicos do ecoturismo é fazer dos nesta seção:
com que as comunidades se beneficiem eco-
nomicamente da atividade turística. Para se 1. Identificando potencialidades
alcançar eficiência, qualidade e diversidade e necessidades de capacitação.
nos produtos oferecidos, a comunidade tem 2. Definição de metodologia
que se capacitar, profissionalizando seus ser- para cursos.
viços e produtos. 3. Áreas prioritárias para capacitação.
Capacitar significa fornecer às pessoas 4. Monitoramento e avaliação.
ou grupos competências e habilidades
específicas, por meio de métodos de treina- 1. Identificando potencialidades
mento diversos. Cursos técnicos com instru- e necessidades de capacitação
tores e aulas téorico-práticas são os métodos
mais comuns, mas pode-se preparar mode- primeiro momento da capacitação é
los alternativos como, por exemplo, com o
uso de vídeo e internet.
O identificar as potencialidades e neces-
sidades do município e/ou comunidade.
295
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

Parte desse trabalho já é feito na fase de para que realmente se atenda de forma
Inventário, ao se pesquisar as estruturas e plena às necessidades da comunidade e do
serviços existentes, a demanda profissional ecoturismo, os processos de identificação
e, em caso de já existir visitação, o perfil e dos cursos prioritários e de definição da
percepções dos turistas (ver capítulo forma como serão planejados e oferecidos
Levantamento de Potencial Ecoturístico devem ser feitos de forma participativa
(Inventário). Outra parte é feita quando se desde o início.
faz a avaliação do perfil do público-alvo (ver
capítulo Elaboração do Produto de
Ecoturismo), seja ele para um empreendi-
mento ou unidade de conservação. O MOTIVANDO A PARTICIPAÇÃO

cruzamento das informações entre o que


existe e o que o público demanda ou Neste Manual,os capítulos Participação
demandará, fornecerá uma visão mais rea- Comunitária e Parcerias e Levantamento
8 lista das necessidades imediatas e futuras de
de Potencial Ecoturístico (Inventário)
capacitação na região.
Pesquisar a impressão dos visitantes sugerem métodos e técnicas para
pode apontar eventuais descontentamentos. se motivar a participação. A necessidade
Reclamações quanto ao atendimento nos de aprimoramento profissional
estabelecimentos podem ser indícios da e de intervenção no processo decisório
necessidade de um curso de hospitalidade
em relação aos tipos de cursos a serem
ou qualidade no atendimento. Se a crítica é
em relação à pouca diversidade de ativi- promovidos,bem como a metodologia
dades, o problema pode ser a deficiência na a ser utilizada na sua realização,devem
identificação e/ou elaboração de produtos. fazer parte do processo de discussão do
Pode ser também ausência ou baixa criativi- projeto de ecoturismo com a comunidade.
dade dos guias. Ou seja, uma deficiência
pode gerar a necessidade de diferentes cur- Uma das sugestões é aproveitar
sos. Por exemplo, na situação aqui exposta, o trabalho de campo feito durante
os cursos poderiam ser voltados à elabo- o inventário para a sensibilização
ração de produtos, à formação ou à reci- e esclarecimento de empresários,
clagem de guias.
funcionários,proprietários de atrativos
Por outro lado, o estudo de mercado
pode indicar como público-alvo turistas (visitados ou não) e outros membros
com características de consumo e compor- da comunidade sobre a importância
tamento aos quais os empreendimentos da do ecoturismo e da capacitação profissional
comunidade não estão preparados para e da participação,tanto na definição
atender. Se o público definido pela pesquisa
de cursos como,em alguns casos,
de mercado é fundamental para o projeto de
ecoturismo, será importante capacitar a na disseminação de conhecimentos
comunidade para satisfazer esse público. Se e técnicas já existentes na região.
os estudos indicam que o turista desejável (e
necessário) é de um nível de renda superior,
as estruturas e serviços têm que se adequar A seguir, são indicadas algumas vanta-
às demandas associadas a esse tipo de gens que podem ser relatadas para comu-
cliente. nidade e empresários com o objetivo de
Portanto, os estudos técnicos e levanta- motivá-los a participar da definição e rea-
mentos iniciais indicam uma boa parte da lização dos cursos, apresentadas por meio
demanda de cursos e treinamentos. Mas, de alguns exemplos e seus benefícios.
296
Capacitação comunitária – IMPLEMENTAÇÃO RESPONSÁVEL

❐ BENEFÍCIOS DA CAPACITAÇÃO alto poder aquisitivo a fazendas de entorno


da Reserva Biológica, onde há micos-leões,
a) Melhoria dos Produtos para assim aumentar a receita do projeto e a
e Serviços Existentes consciência ambiental sobre as dificuldades
Exemplo: O restaurante da Pousada para a conservação da floresta. Entretanto,
Ecológica Aldeia dos Lagos em Silves, no esta atividade é restrita à Associação Mico-
Amazonas, vinha servindo um prato típico, Leão-Dourado e a uns poucos proprietários.
saboroso, com alimentos de boa origem e Benefício: A realização de cursos pode gerar
qualidade. No entanto, utilizavam-se vasi- dois tipos de benefícios na diversificação de
lhas de má aparência ou que não formavam produtos na região. Por um lado, pode moti-
um conjunto harmônico, prejudicando a var diversos setores já envolvidos no turismo
apresentação do produto. Além disso, per- a lidar também com ecoturismo na área
dia-se muita comida no armazenamento rural da Região dos Lagos.
inadequado e manuseio dos alimentos. Além disso, a compreensão do potencial
Benefício: Um curso na área de manipulação de mercado de ecoturismo da região e a 8
de alimentos, centrado nas questões de capacitação para explorá-lo, podem estimu-
higiene, armazenamento, decoração e dis- lar proprietários de terras a diversificar suas
posição de pratos, promoveu uma melhoria atividades. A mudança do eixo e da filosofia
substancial na aparência da alimentação de desenvolvimento de muitas dessas fazen-
servida, favorecendo uma boa impressão por das valorizariam a preservação das suas flo-
parte do cliente e valorização do alimento restas. A Associação Mico-Leão-Dourado e
servido. Diante da estrutura já existente em demais entidades ambientalistas da região
Silves, o investimento para se fazer essas mel- (juntamente com outros parceiros institu-
horias foi mínimo. cionais) estão promovendo essa compreen-
Ao se aprimorar as técnicas de estoque, são por meio de cursos e assessoria na cri-
apresentação e manipulação, ganha-se na ação de RPPNs, introdução ao turismo,
economia na utilização de matéria prima, estudo de viabilidade, identificação de li-
na otimização do tempo e da mão-de-obra, nhas de financiamento para projetos turísti-
na valorização do produto e, consequente- cos, hotelaria, receptivo, interpretação e
mente, em maior satisfação do cliente. elaboração de produtos.

b) Diversificação dos produtos c) Aproveitamento de produtos locais,


e serviços existentes promovendo a verticalização
Exemplo: O Projeto Mico-Leão-Dourado da produção
necessita de áreas preservadas no entorno Exemplo: Na comunidade extrativista da
da Reserva Biológica de Poço das Antas para RESEX de Pedras Negras, em Rondônia, fru-
o repovoamento de micos. No entanto, as tas nativas e plantadas sob regime agro-
práticas tradicionais de agropecuária con- florestal são abundantes somente em deter-
tinuam a provocar a redução das florestas na minadas épocas do ano, impossibilitando
região. A região maior onde se encontra a oferecê-las aos turistas fora da estação pro-
reserva, Região dos Lagos do estado do Rio dutiva. No pique da produção, grandes
de Janeiro, é um dos maiores destinos turís- quantidades são perdidas, pois é muito difí-
ticos do litoral fluminense. cil o transporte para os centros consumi-
Apesar do grande fluxo de turistas, o dores e de maior visitação turística. Além
potencial de ecoturismo na região de flores- disso, por se vender a fruta na temporada de
ta não é aproveitado, seja para o mercado produção, o preço é muito baixo.
nacional, seja para o internacional. Há Benefício: Um curso de doces e compotas
alguns anos o Projeto Mico-Leão-Dourado aplicado às frutas da região e ensinando téc-
começou a levar turistas selecionados e de nicas de conservação e embalagem artesanal
297
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

de alimentos, propiciou a oferta de um pro- Exemplo: A ampliação do Parque Nacional


duto de qualidade, com valor agregado e de Superagui, no Paraná, afetou cerca de
durante todo o ano. Com isto, aproveitam-se 1.200 pessoas. Como muitos utilizavam a
os recursos locais na composição da alimen- área agora transformada em parque para
tação diária dos turistas (café-da-manhã, algum tipo de exploração econômica, criou-
sobremesas, lanches, etc.), criam-se vários se um problema social.
produtos para comercialização e ainda Benefício: O projeto de ecoturismo tem entre
facilita-se o transporte e venda dos produtos seus objetivos motivar o turismo na região e
nos mercados de maior consumo. inserir essa população neste novo mercado
de trabalho. Por ser uma nova atividade,
d) Maior capacitação das pessoas muitos iniciarão um novo processo profis-
implica melhores condições salariais sional por meio dos diversos cursos e ativi-
Exemplo: Em muitos lugares, o guia é aque- dades relacionados neste manual. Outros,
le que leva as pessoas de um ponto a outro, como proprietários de pequenos hotéis, se
8 padronizando serviço e o preço de guiagem. capacitarão para adequar o estabelecimento
Benefício: Cursos de guia, de interpretação, e os serviços a um novo tipo de visitante.
de história natural e outros podem transfor-
mar o guia em uma atração a mais, va- g) O ecoturismo valoriza
lorizando o produto turístico e, conse- ofícios tradicionais
quentemente, a remuneração deste guia. Na O programa de capacitação pode vir a
Chapada dos Veadeiros, em Goiás, a ACV- identificar ofícios tradicionais, alguns até
CV (Associação dos Condutores de Visitantes mesmo esquecidos, principalmente aqueles
da Chapada dos Veadeiros) tem uma taxa ligados ao extrativismo e ao artesanato, para
mínima de guiagem, respeitada por seus acomodá-los dentro da gama de serviços
associados que só são credenciados após ofertados ao visitante. A pesca por meios
alguns cursos. No entanto, guias mais expe- tradicionais, por exemplo, pode continuar
rientes e oferecendo um serviço mais elabo- tendo sua importância de subsistência,
rado cobram preços mais altos e, o que é assim como oferecer ao visitante uma ativi-
melhor, o cliente paga com satisfação. dade singular, por acompanhar as técnicas
de captura do peixe e depois degustá-lo.
e) Aumento da renda familiar e
ampliação do número de beneficiários h) O aprendizado dos cursos
Exemplo: No projeto Pantanal, centros de pode também ser útil em casa
atendimento ao turista serão criados ao longo Entre outros, os cursos de doces e com-
da Estrada-Parque. Nesses locais é comum a potas, manuseio e fornecimento de alimen-
venda de suvenires e produtos de uso imedi- tos podem gerar economia, maior qualidade
ato, geralmente de custo mais baixo. e mais higiene nas refeições feitas em casa.
Benefício: Além do curso de doces e com-
potas já mencionado, cursos de artesanato e i) Melhores condições de competitividade
de produção de iscas para a pesca esportiva no mercado turístico
(devidamente monitorada para respeitar a Como dito anteriormente, o ecoturismo
legislação) podem capacitar pessoas não é uma atividade comercial que apresenta as
diretamente associadas ao produto turístico mesmas características de competição de
a utilizarem o próprio quintal e produtos da outras atividades. Estruturas adequadas, pro-
região para desenvolver uma nova fonte de dutos melhor elaborados, serviços de quali-
renda complementar. dade e preço justo fazem a diferença em
qualquer lugar. Vale lembrar que uma das
f) Uma nova profissão ou maiores formas de divulgação dos locais
aprimoramento da atual profissão turísticos é o boca-a-boca. Portanto, turista
298
Capacitação comunitária – IMPLEMENTAÇÃO RESPONSÁVEL

satisfeito volta e traz mais turistas. O insatis- c) Gera informações para subsidiar
feito não só não volta como também faz a estrutura dos cursos de forma
propaganda negativa. mais adequada à realidade da
comunidade
j) Maiores benefícios econômicos O Curso de Guias na Chapada dos
Todos os fatores acima implicam maiores Veadeiros tem como uma de suas priori-
benefícios econômicos. Maior competitivi- dades a abordagem sobre o perigo das
dade, qualidade, diversidade de produtos, cabeças-d'água (imensa corrente de água
verticalização da produção e outros fatores em rios de fundo de vale) na época das chu-
mencionados asseguram mais renda, seja no vas, com treinamento em prevenção e res-
âmbito de um empreendimento ou de um gate. Já em Fernando de Noronha, o mesmo
pólo turístico comunitário. curso concentrou-se nos riscos e cuidados
na prática do mergulho.
❐ VANTAGENS DO PROCESSO PARTICIPATIVO
PARA O PLANEJAMENTO E REALIZAÇÃO d) Favorece a escolha/indicação de pessoas 8
DE CURSOS da comunidade com conhecimento e
capacidade para ministrar cursos
a) Possibilita a escolha de cursos que Muitas vezes há pessoas na comunidade
realmente atendam às necessidades com conhecimento em áreas indicadas para
do projeto de ecoturismo capacitação. Por exemplo, para um curso de
Atualmente existe uma profusão de ofer- artesanato pode-se trazer um técnico com
ta de cursos e oficinas na área de ecoturis- especialidade em adequação de produtos
mo. Não adianta fazer um curso de ao mercado (design, dimensão, preço, etc.).
camareiro(a), se ainda não existe uma pou- Já as técnicas de produção do artesanato
sada ou hotel no local. Mesmo que haja podem ser ensinadas por algum artesão da
pousada ou hotel, fazer o curso de própria região, mesmo que sob orientação
camareiro(a) quando não há percepção sufi- didática de instrutores de fora.
ciente da comunidade – especialmente
dos(as) donos(as) de pousada e dos(as) e) Favorece a escolha/indicação de pessoas
camareiros(as) – de que tais cursos real- da comunidade para serem monitores
mente são necessários e vantajosos para dos cursos
eles, tampouco leva ao resultado desejado Muitas vezes a demanda é maior do que
de melhora dos serviços: faz-se o curso, mas um único curso pode atender. Neste sentido, a
não se altera o serviço. Devem-se priorizar capacitação de pessoas da comunidade, prin-
as necessidades imediatas, de curto e médio cipalmente as que já têm algum conhecimen-
prazo, ou corre-se o risco de desgaste e des- to prático do que se está ensinando (como no
perdício de recursos humanos e financeiros caso do artesanato), pode favorecer a multipli-
ao se capacitar pessoas para atividades que cação e reciclagem dos cursos, pois custa
o mercado ainda não absorve. menos que trazer um instrutor de outra região.

b) Possibilita a escolha de cronograma ❐ COMPETITIVIDADE E A IMPORTÂNCIA


mais adequado à realidade local DOS SERVIÇOS NO TURISMO
e à maioria dos futuros alunos
Cursos em épocas de pique de trabalho a) O mercado de ecoturismo
geralmente têm pouca participação. Um tem concorrência
curso na época do corte da seringa em O ecoturismo é uma atividade como
Rondônia vai dificultar ou inviabilizar a par- outra qualquer, portanto uma região com-
ticipação da comunidade extrativista do pete com outra, o que também ocorre entre
projeto ecoturístico de Pedras Negras. empreendimentos e produtos da mesma
299
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

natureza. Quem estiver mais capacitado Passo 2 – Discutir os cursos com


para atender às demandas do turismo, e/ou proprietários e funcionários de estabe-
possuir serviços diferenciados da concor- lecimentos comerciais diversos, associ-
rência, terá maiores chances de atrair, man- ações classistas, empresariais, ONGs,
ter e aumentar a clientela. funcionários da prefeitura, proprietários
rurais e outras pessoas interessadas ou
b) A qualidade do serviço é crucial para que possam se interessar pelo projeto
a sobrevivência do empreendimento de ecoturismo e pelos cursos. Como
em um mercado competitivo estratégia para este item, pode-se insti-
No ecoturismo, como no turismo con- tuir um comitê local de capacitação,
vencional, a qualidade dos serviços é muito envolvendo os principais atores e inte-
importante. Pesquisas de demanda com tu- ressados no ecoturismo, para o planeja-
ristas indicam o boca-a-boca como uma das mento participativo.
formas mais eficientes de propaganda, posi-
8 tiva ou negativa. Portanto, quanto melhor o O PROGRAMA DE CAPACITAÇÃO
serviço mais chances de agradar, e manter, o
DEVE SER ADEQUADO AO ECOTURISMO
cliente visitante.
E NÃO AO TURISMO CONVENCIONAL.
❐ OS PRINCÍPIOS DO ECOTURISMO
É importante ter em mente
O capítulo de Planejamento Integrado
que se está trabalhando em um programa
faz uma abordagem sobre os princípios do
ecoturismo e mostra uma série de fatores de capacitação para ecoturismo
que devem ser observados para que se pos- e não turismo convencional. Não é preciso
sam classificar como ecoturismo as ativi- um guia que fale sobre a história natural
dades relacionadas a um empreendimento do Brasil, mas que saiba interpretar
ou pólo turístico. Priorização do benefício
sua região, mesmo que por meio
geral sobre o individual, monitoramento de
impactos positivos e negativos, educação de de sua própria compreensão da natureza
comunidade e turistas, qualidade de vida e e das transformações do ambiente.
outros princípios só podem ser alcançados O ecoturista quer o diferente,
mediante um processo participativo de o inusitado e, principalmente,
capacitação da comunidade.
autenticidade. Ele não quer comida
a) Identificação de prioridades francesa, quer o prato típico,
Da mesma forma que o projeto de eco- mas bem apresentado
turismo, o programa de capacitação tam- e preparado de forma higiênica.
bém deve passar por uma etapa de planeja-
mento. A primeira fase consiste em identi-
ficar as maiores necessidades de capaci- Passo 3 – Mostrar e explicar aos interes-
tação da comunidade ou empreendimento. sados as áreas mais comumente enfo-
Um processo para identificar essas priori- cadas como prioritárias em programas
dades consiste nos seguintes passos: de capacitação para o ecoturismo (ver
item 3 desta seção).
Passo 1 – Utilizar dados do Inventário Passo 4 – Perguntar em quais áreas as
para fazer uma análise sobre os serviços pessoas gostariam e/ou têm maior neces-
e estruturas existentes, suas deficiências e sidade de treinamento/aprendizado.
maiores necessidades de mão-de-obra. Passo 5 – Relacionar todos os cursos
Discutir isto com as pessoas interessadas. sugeridos e fazer um quadro de priori-
300
Capacitação comunitária – IMPLEMENTAÇÃO RESPONSÁVEL

dades. É sempre bom lembrar que a mesmos. Provavelmente várias pessoas


capacitação é um processo contínuo e desejarão fazer diferentes cursos, por isto é
que não se pode, nem se deve, tentar aconselhável se elaborar um cronograma
aprender tudo de uma só vez. Uma pro- que evite cursos simultâneos ou em seqüên-
posta de hierarquização de prioridades cia muito próxima.
pode basear-se em três grupos distintos: Ao se elaborar este cronograma, é muito
1) o que é necessário aprender, buscan- importante realizar primeiro os cursos moti-
do atender às deficiências em áreas vadores. Se o primeiro curso não “pegar”,
básicas do turismo, como hospedagem, corre-se sério risco de baixa participação nos
alimentação e guias; 2) o que se deve demais. Pela lógica, o primeiro deve ser o
aprender, ou seja, carências de qualifi- curso de introdução ao turismo e hospitali-
cação que são importantes, porém não dade, justamente por trazer uma série de
tão urgentes como as do grupo anterior; informações novas, apresentar um panorama
3) e o que seria bom aprender, com- da atividade, inclusive a crescente demanda
preendendo, por exemplo, cursos em por produtos ecoturísticos, e introduzir a 8
áreas complementares às principais hospitalidade como uma necessidade co-
demandas do turismo ou módulos mercial. Os cursos seguintes devem ser
avançados de cursos já oferecidos. Os aqueles que propiciam a geração quase que
exemplos listados abaixo fornecem imediata de trabalho e renda, como os cur-
alguns princípios para facilitar o proces- sos de Guias e Produção e Comercialização
so de se estabelecer prioridades de acor- de Produtos Locais (ver item 3 a seguir).
do com as características do projeto de
ecoturismo. b) Identificação de participantes,
instrutores e monitores locais
2 Melhorar o que já existe
Por exemplo, em Superagui já existem 2 Participantes
moradores que podem trabalhar como guias Justamente por ser uma nova atividade e de
locais. Cursos de primeiros socorros, de in- demanda crescente, a oferta de cursos de
terpretação e introdução ao turismo podem capacitação na área de ecoturismo tem des-
capacitar esses moradores a se tornarem pertado grande procura, principalmente quan-
guias de ecoturismo. do gratuitos. Como sempre há um limite de
vagas e de recursos, é aconselhável o estabe-
2 Oferecer o que é extremamente lecimento de critérios para seleção dos parti-
necessário cipantes, como descrito a seguir:
Por exemplo, curso de guias, quando
não existirem guias. w Realizar teste de conhecimento sobre
município/região e motivação – pode ser
2 Oferecer o que puder colaborar escrito ou oral, já que em muitos projetos o
na diversificação dos serviços analfabetismo é uma realidade.
Por exemplo, curso de produção de w Priorizar proprietários e prestadores
doces e compotas, artesanato, marcenaria, de serviços, principalmente no início, quan-
marchetaria etc. do se busca resultados para motivar. O eco-
turismo trabalha, na maioria dos casos, com
2 Estabelecimento de cronograma microempresas familiares – funcionários
de execução dos cursos são, geralmente, flutuantes.
Fazer uma lista com cursos desejados e w Realizar teste de aptidão. Por exemp-
prioritários é muito importante para a ela- lo, um guia em Fernando de Noronha tem
boração do cronograma dos cursos, busca que saber nadar para o caso de precisar au-
de recursos e a conseqüente efetivação dos xiliar no salvamento de algum turista.
301
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

w Estabelecer idade mínima para os miza os custos e facilita o processo de


participantes. assistência aos alunos após o fim do curso.
w Priorizar do pretendente tempo mí -
nimo de residência no município/região. 2 Monitores locais
Monitores são parceiros dos instrutores
Mais importante do que testar conheci- no processo de treinamento, auxiliando na
mentos, esses procedimentos aumentam a condução dos cursos e na execução de tare-
seriedade e valorizam o compromisso para fas por parte dos alunos, recebendo, para
com o curso. Deixa de ser algo “dado” para tanto, instrução adequada e conhecimentos
se tornar algo conquistado. Portanto, os específicos sobre o tema explorado. O
critérios e processos de seleção são indica- processo de identificação de monitores
dos mesmo em situações onde há vagas locais ocorre simultaneamente à identifi-
para todos. cação de instrutores locais, sendo impor-
O processo de seleção dos que se tante o desejo e capacidade de aprender
8 inscreverem para os cursos vai possibilitar a para replicar.
identificação daqueles que já trabalham ou Preferencialmente, os monitores devem
têm as condições necessárias para iniciar a ter algum conhecimento sobre a atividade
atividade a ser ensinada pelos cursos. Mas ou área de conhecimento dos cursos que
também vão se inscrever muitos que não irão assessorar. Os monitores também são
desempenham uma atividade relacionada, fundamentais para assessorar os alunos após
embora tenham interesse no conhecimento o término do curso, além de, em muitos
e na possibilidade de uma nova profissão. casos, se capacitarem para replicar o curso
Havendo condições, e em se optando por posteriormente. O aconselhável é que em
capacitar esses dois grupos, pode-se separá- cada curso pelo menos dois monitores
los, formando turmas diferentes, facilitando sejam capacitados.
o trabalho do instrutor e otimizando o Ao se definir quem vai ser monitor é bom
aprendizado de ambos os grupos. também estabelecer a forma de trabalho dos
mesmos, se serão remunerados ou não e
2 Instrutores locais como aplicarão na comunidade os conhe-
Ao mesmo tempo em que são levantadas cimentos adquiridos. Neste caso, monitores
as necessidades e prioridades, deve-se tam- remunerados, mesmo com uma pequena
bém identificar possíveis instrutores locais. quantia, trabalham mais motivados durante
Por exemplo, alguém da própria comu- o curso e depois, na assistência aos alunos
nidade pode ser hábil na produção de doces ou ministrando cursos semelhantes. Da
com frutas regionais e exóticas, com prática mesma forma, é possível fazer acordos: por
na conservação desses doces. Essa pessoa ser monitora a pessoa aprende mais do que
pode ser instrutora de um curso de doces e os outros e recebe uma remuneração; em
compotas. troca tem que dar assistência durante um
Caso não tenha habilidades para elabo- período, visitar estabelecimentos e orientar
rar um curso, o projeto pode se propor a proprietários, ou ministrar cursos gratuitos à
ajudar na preparação. Da mesma forma, comunidade.
pode-se indicar essa pessoa como monitora O importante é escolher bem os moni-
de um curso de doces e compotas ministra- tores e negociar tudo antes de começarem os
do por alguém com mais experiência. Dessa cursos. Por fim, atentar para que não haja um
forma, o curso faria dupla capacitação: dos “monopólio da monitoria”, ou seja, ampliar
alunos e de um monitor para transformá-lo as oportunidades ao evitar que algumas pes-
em instrutor. soas sejam monitores de vários cursos.
A identificação de instrutores regionais
valoriza pessoas e produtos da região, mini-
302
Capacitação comunitária – IMPLEMENTAÇÃO RESPONSÁVEL

❐ CRITÉRIOS PARA SELEÇÃO DE INSTRUTORES


ESPECIALIZADOS E/OU DE FORA DA REGIÃO
A ESCOLHA DE INSTRUTORES O ecoturismo é uma atividade nova que
E MONITORES DEVE SER CUIDADOSA.
demanda conhecimento técnico e profis-
sionalismo. Portanto, instrutores, consul-
A escolha de instrutores e monitores tores e técnicos serão sempre necessários
em determinadas fases de um programa de
locais, sua remuneração e atividades
ecoturismo. Isso deve ficar bem claro desde
a serem desempenhadas devem ser o início do processo, pois quando a comu-
sempre bem discutidas e feitas sob nidade já tem uma certa organização social
critérios preestabelecidos. Além disso, e política, é comum haver questionamentos
procedimentos de acompanhamento quanto à necessidade de se trazer técnicos
de fora, principalmente devido ao valor da
e monitoria devem ser estabelecidos.
remuneração, que com certeza é bem maior
Apesar de haver o interesse e demanda do que a média salarial da região. 8
para que sejam contratadas pessoas Os motivos enumerados neste capítulo
da região, sempre há certa resistência demonstram que os cursos de capacitação
em ter alguém de casa ensinando algo. em ecoturismo não podem ser similares aos
cursos realizados em grandes centros. Este
Em suma, fato faz com que seja limitado o número de
“santo de casa não faz milagre”. profissionais disponíveis no mercado para
cursos dessa natureza. De qualquer forma,
alguns critérios devem ser estabelecidos
para a contratação desses instrutores:
2. Definição de metodologia
para cursos a) Experiência na área temática em
questão (inclusive com trabalhos de
xistem muitos órgãos, empresas e profis-
E sionais que ministram cursos na área de
turismo. No entanto, a maior parte desses
b)
campo).
Experiência em trabalhos com comu-
nidades (de preferência com ecotu-
cursos contempla realidades muito distintas rismo).
das comunidades rurais que vivem os c) Apresentação de proposta prelimi-
momentos iniciais da atividade turística, nar, contendo metodologia e con-
especialmente do ecoturismo. teúdo do curso. Propostas dinâmicas
A necessidade de cursos motivadores, a e que envolvam experiências práti-
importância dos primeiros cursos, o fato de cas são as mais adequadas.
que pessoas de pequenas comunidades têm d) Disponibilidade para visitar a comu-
pouca ou, muitas vezes, nenhuma escolari- nidade antes da elaboração da pro-
dade, implicando dificuldade para acom- posta final do curso (quando o custo
panhar métodos didáticos tradicionais e de desta visita for mínimo).
ficar em uma sala de aula por muito tempo,
e o próprio contexto da atividade ecoturísti- ❐ REUNIÃO ENTRE CAPACITADORES,
ca demandam uma definição prévia da COORDENADORES DO PROJETO E ALUNOS
metodologia básica, ou de diretrizes a Após a identificação dos cursos e dos
serem adotadas antes, durante e após os futuros instrutores, a melhor forma de se ela-
cursos. Essa definição é fundamental para a borar programas mais próximos à realidade
seleção e orientação dos capacitadores, local é fazer com que os instrutores se reú-
favorecendo a elaboração de cursos mais nam com alunos ou possíveis alunos para
adequados à realidade da comunidade. discuti-los. Além da percepção de cada um,
303
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

das características de cada curso e da alunos e criam maior identidade com o que
metodologia do instrutor, seguem sugestões está sendo ensinado. Além da reunião com
de temas a serem discutidos na reunião os futuros participantes dos cursos, o instru-
preparatória: tor deve buscar o conhecimento prévio dos
estabelecimentos, dos atrativos ou mesmo
a) Evitar o muito em pouco tempo. das residências de seus alunos. Como
Muitos cursos são elaborados de forma exemplo, o instrutor do curso de alimen-
condensada, transmitindo muitas infor- tação deveria conhecer antecipadamente
mações em pouco tempo. Com isso, alunos algumas das cozinhas de seus alunos.
de comunidades rurais, que não têm o cos- Muitas vezes, o conhecimento da real
tume de permanecer, por exemplo, oito estrutura e funcionamento é mais impor-
horas por dia dentro de uma sala de aula tante para o instrutor do que o debate com
durante uma semana, tendem a dispersar e os participantes.
não aproveitar o curso. É mais importante
8 observar o ritmo dos alunos e transmitir o c) Assegurar, ouvir e treinar
essencial, não se preocupando com o vo- os monitores locais
lume. O ideal é um curso modular (em Apesar de que muitos instrutores prefe-
módulos de temas específicos) onde evita-se rem trabalhar com seus próprios auxiliares,
a sobrecarga de informação e permite que é importante assegurar a capacitação de
se aplique trabalhos ou exercícios de campo monitores locais, já que estes farão um
entre um módulo e outro, favorecendo o importante papel de elo entre instrutor e
aprendizado. comunidade. E é importante que monitores
sejam ouvidos por instrutores antes da ela-
b) Trabalhos práticos e em grupos boração final da estrutura do curso. Da
(aprender fazendo) mesma forma, como os monitores auxiliarão
A realização de trabalhos práticos e em na execução do curso, é interessante que
grupos é uma das melhores formas de se tenham algum tipo de treinamento antes do
ensinar e aprender, pois quebra a monoto- início dos mesmos.
nia e dá mais dinamismo ao curso. Por
exemplo, no curso de alimentação, na abor- ❐ RECURSOS DIDÁTICOS
dagem sobre formas apropriadas de estoque
de alimentos, deve-se levar os alunos aos Uma boa estratégia é a utilização de
mercados e apontar o que está certo, o que vídeos, transparências, fotos, slides, folhetos
está errado e como se pode melhorar. O uso e outros recursos que demonstrem a reali-
de desenhos representativos e construções dade do ecoturismo em outras áreas. Além
de mapas da região de interesse são uma de dinamizar o curso, tornando-o mais inter-
forma interessante de se entender o univer- essante, colabora com o processo de edu-
so do conhecimento local. O ideal é que o cação e informação em relação ao turismo.
curso tenha metade do seu tempo em ativi- Mesmo havendo alunos sem capacidade
dades práticas. de leitura, é aconselhável a produção e dis-
tribuição de apostila para todos. Dessa
c) Técnicos devem se adequar forma, evita-se o sentimento de discrimi-
às limitações e costumes dos alunos nação ou constragimento entre os alunos,
Evitar informações muito complexas ou além do fato de que as cartilhas são tidas
muito distantes da realidade local, que se como um troféu, uma prova concreta de
perdem e desestimulam os alunos. Da participação no curso. Por fim, adultos não
mesma forma, a utilização de linguajar po- alfabetizados têm sempre alguém em casa
pular, expressões e exemplos regionais ou na vizinhança que sabem ler, o que pode
facilitam a compreensão por parte dos assegurar a utilidade da cartilha.
304
Capacitação comunitária – IMPLEMENTAÇÃO RESPONSÁVEL

❐ CURSOS ITINERANTES 3. Áreas prioritárias para capacitação

ão obstante a necessidade de um
Alguns cursos podem ser um misto entre
aulas teóricas e visitas aos estabelecimentos
locais, se possível com todos os partici-
N planejamento participativo para definir
prioridades de cursos para cada comu-
pantes. Com autorização prévia dos proprie- nidade/região, o ecoturismo é um segmento
tários, o instrutor deve visitar os empreendi- bem definido do mercado de turismo. Isso
mentos e realizar uma assessoria em grupo, quer dizer que há uma série de serviços
levantando problemas, comentando pontos envolvidos na atividade, qualquer que seja
positivos e indicando soluções e melhorias o local onde se desenvolva.
necessárias. Essa prática tem uma série de A seguir apresentamos, em ordem de
vantagens: movimenta o curso, ajuda no prioridade, os cursos que em geral devem
processo de capacitação do próprio instru- compor um programa de capacitação para o
tor (realidade e práticas locais), facilita o ecoturismo em uma comunidade/região. O
processo de aprendizado do aluno e oferece planejamento participativo discutirá não só 8
subsídios diretos para melhoria dos a real necessidade de cada um desses cur-
empreendimentos locais. sos, mas também sua priorização, conteúdo
e formato adequados para a comu-
EXEMPLO: nidade/região em questão. Nesse processo,
poderão aparecer novos cursos.
CURSO ITINERANTE
❐ INTRODUÇÃO AO TURISMO E HOSPITALIDADE
No curso de doces e compotas rea- Fornece informações necessárias para
lizado por um programa de ecoturismo quem está investindo ou pensa em investir
em Alto Paraíso e outros três municípios no ecoturismo, tais como noções básicas de
goianos, o instrutor iniciava o curso com turismo e de hospitalidade, o contexto
um passeio pelos quintais nas residências regional, nacional e internacional do turis-
dos participantes. Dessa forma, tomava mo e da crescente demanda por produtos
conhecimento das frutas mais comuns ecoturísticos, a importância do bom atendi-
nos municípios e todo o curso era volta- mento e da receptividade ao turista, do
do para o processamento dessas frutas, boca-a-boca como forma eficiente de pro-
com o aprimoramento de técnicas locais paganda (a favor e contra), impactos posi-
de produção de doces e compotas. tivos e negativos do turismo, tipos de turistas.
Um curso de introdução ao turismo e
❐ REPLICAGEM DOS CURSOS hospitalidade é aplicável para todos os seg-
mentos, mesmo aqueles não envolvidos
Trata-se de um dos itens mais impor- diretamente com o turismo. Através de estu-
tantes quando se pensa na busca de finan- dos de casos, pode-se mostrar os pontos
ciamentos para o programa de capacitação. positivos e negativos, ajudando a evitar
A replicagem dos cursos ministrados é riscos e a maximizar benefícios, sendo um
necessária tanto para favorecer os que ainda curso motivador por ajudar a compreender
não os fizeram como para fixar o conheci- o conjunto da atividade e demonstrar que o
mento dos que já tiveram essa oportu- visitante tem que ser atraído e bem tratado
nidade. A melhor forma para se repetir os para se obter sucesso.
cursos é por meio dos monitores e instru- Consequentemente, estimula a busca
tores locais. Portanto, durante a fase de por mais conhecimentos, melhoria nos
planejamento, é importante assegurar recur- serviços e estruturas, favorecendo a partici-
sos financeiros para remunerar o trabalho de pação em outros cursos.
continuidade dos cursos. Como já indicado, este deve ser o
305
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

primeiro curso a ser oferecido. Considera-se empreendimentos como atrativos, hotéis e


ideal incluir seu conteúdo básico em todos os restaurantes, e por ser a pessoa que melhor
outros cursos. Pode-se também optar por criar percebe os anseios e expectativas dos visi-
um curso básico de Introdução ao Turismo e tantes, o guia atua como um agente orienta-
Hospitalidade como pré-requisito para que se dor de melhores práticas em serviços, de
possa participar dos outros cursos. educação ambiental e sanitária.
❐ GUIAS LOCAIS, GUIA MATEIRO E O curso de guias é motivador por favore-
CONDUTORES OU MONITORES DE VISITAÇÃO cer a geração quase que imediata de
Além dos conceitos básicos da atividade emprego e renda, dependendo do grau de
de guia, como orientação e condução de visitação do local. Além disso, incentiva a
grupos, o curso de guias pode abranger ou- formação de associações locais, por criar
tras áreas do conhecimento como biologia uma nova categoria de trabalhadores onde o
(fauna e flora), geologia e geomorfologia, ecoturismo se implanta e pela necessidade
história natural e de ocupação da região ou de preservação dos atrativos, que são a gali-
8 técnicas como primeiros socorros, busca e nha dos ovos de ouro da atividade. Por essas
resgate, interpretação ambiental e até razões, e pela associação quase natural
mesmo inglês, onde for necessário. entre ecoturismo e o serviço de guia local,
Portanto, um só curso não pode abranger este também deve ser um dos primeiros cur-
tudo e todos de uma só vez, sendo melhor a sos oferecidos.
organização em módulos, estabelecendo Dependendo do perfil do grupo, o curso
um processo contínuo de capacitação e de guias pode ser incrementado com ativi-
reciclagem. dades práticas tais como a execução de
Importante ressaltar que o condutor se parte do inventário ou a observação de um
encontra em uma posição privilegiada para projeto de implantação e manejo de trilhas.
sensibilizar e motivar a organização da A Associação de Condutores de
comunidade no desenvolvimento do ecotu- Visitantes da Chapada dos Veadeiros (ACV-
rismo. Por conduzir grupos por diversos CV), entidade que recebe o apoio do WWF

PROJETO VEADEIROS
UM PROJETO INTEGRADO DE CONSERVAÇÃO
E DESENVOLVIMENTO (PICD) NO CERRADO,
ALTO PARAÍSO, GO

ocalizado na região central do Brasil, o cerrado ocupa 22% do país e está sendo
devastado pela agricultura e pecuária de larga escala, sendo que menos de 2%
da área total do bioma está protegido na forma de parques ou reservas.
Uma das poucas unidades existentes é o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros,
em Goiás, a 240 quilômetros de Brasília, atualmente ampliado para 235.000 hectares
e sob a responsabilidade do IBAMA. Há um crescente e desordenado fluxo turístico
que explora a bela paisagem e as inúmeras cachoeiras existentes. A ocupação do solo
ameaça a integridade do entorno do Parque e a sua consolidação enfrenta problemas
fundiários. Dentre as diversas prioridades do Projeto Integrado de Conservação e
Desenvolvimento (PICD) está o incentivo à implementação do ecoturismo comunitário.

306
Capacitação comunitária – IMPLEMENTAÇÃO RESPONSÁVEL

ESTUDODE CASO (cont….)


A Associação dos Condutores de Visitantes da Chapada dos Veadeiros (ACVCV),
que tem mais de 200 associados, é o principal parceiro local na execução do programa
de ecoturismo. Dentro do programa de capacitação da ACVCV, uma das atividades
realizadas foi a capacitação de guias para o planejamento e execução de técnicas
de Manejo e Interpretação de Trilhas, utilizando métodos que reduzam o impacto
da visitação, promovam a segurança dos visitantes e valorizem os elementos naturais
e culturais do local.
Primeiramente, o consultor técnico capacitou dois guias para atuarem como
monitores durante o curso, definindo as trilhas a serem manejadas, selecionando
os interessados, coordenando e dando esclarecimentos técnicos durante as atividades.
Os monitores iniciaram seus trabalhos definindo a primeira trilha e avaliando
sua viabilidade dentro do contexto do ecoturismo. Depois conseguiram a autorização 8
do proprietário do local e, conforme os métodos fornecidos pelo consultor, prepararam
o material a ser utilizado durante o curso (ferramentas, mapas e planilhas da trilha,
bússola, clinômetro, etc.).
Para selecionar os guias que participariam da capacitação foram utilizados
os critérios de interesse, disposição e envolvimento com a região. Depois disso,
foi feita uma reunião para apresentação da proposta e a programação das atividades,
confirmando o interesse e o comprometimento de cada um.
Com tudo preparado, o consultor realizou o curso para o grupo, apresentando
e aplicando as técnicas de manejo. Todos participaram das atividades, vivenciando
os diferentes tipos de trabalhos que podem ser feitos em uma trilha, garantindo, assim,
um bom aproveitamento.
Com a ajuda de especialistas em flora e geologia, o grupo realizou o levantamento
dos aspectos mais significativos da trilha que deveriam ser passados aos visitantes
por meio da interpretação. De posse dessas informações, foram elaboradas placas
interpretativas e indicativas e afixadas na trilha.
Após a finalização da primeira trilha, foi planejada e executada uma segunda,
de acordo com os mesmos métodos, mas sem o acompanhamento técnico do consultor.
Este segundo trabalho serviu para reforçar e aprimorar a capacitação nas técnicas
de manejo e interpretação de trilhas.
Seguindo o método proposto no capítulo de Manejo de Trilhas e Interpretação
Ambiental, foram capacitados oito guias que formaram um grupo técnico dentro
da associação. O objetivo do grupo é fornecer assessoria técnica e acompanhamento
na execução de trabalhos de manejo e interpretação de trilhas nas áreas de visitação
da região, tanto públicas quanto particulares, incrementando os serviços da ACVCV,
promovendo sua auto-sustentabilidade e melhorando as condições e qualidade
dos atrativos, além da redução de impactos por visitação.
Uma das dificuldades para se realizar a atividade foi ocasionada pelo fato
de que o método de capacitação não estava ainda bem definido, gerando alguns
conflitos durante o processo de coordenação das atividades. Outro problema é que
os participantes não tinham o costume de trabalhar com planejamento, cronograma
e horários a serem cumpridos, provocando atrasos e contratempos nas tarefas realizadas.
Por fim, foi notada a dificuldade de alguns participantes para assimilar o conteúdo
técnico mais elaborado.

307
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

ESTUDODE CASO (cont….)


Para evitar estes e outros problemas, fazemos as seguintes recomendações:
❐ O método de capacitação deve ser definido de acordo com as características
da atividade a ser desenvolvida, do local e dos participantes, ou seja, adequar-se
ao contexto de cada projeto.
❐ O planejamento, o cronograma e os objetivos da capacitação devem
ser apresentados e discutidos no início do processo, de forma que fiquem
bem claros para todos.
❐ Os coordenadores locais devem estar bem informados e capacitados em relação
aos métodos e ao conteúdo técnico da capacitação, facilitando o trabalho
de acompanhamento e motivação.
❐ Escolher as melhores épocas para iniciar as atividades, evitando períodos
8 de interrupções prolongadas (épocas de chuva, de colheita ou alta temporada
turística, por exemplo), que podem causar demandas por outras ocupações
ou perda de interesse por parte de participantes.
❐ Fazer uma boa seleção dos interessados para garantir o aproveitamento
e a multiplicação do curso.

Finalmente, o processo de capacitação gera expectativas nos participantes, tanto


no que se refere ao seu envolvimento com as atividades na região, como com sua
própria melhoria profissional. Esta expectativa e os resultados do programa
de capacitação devem ser utilizados para gerar um maior comprometimento
dos participantes com os ideais do ecoturismo.

por meio do Projeto Veadeiros e é parceira promovidos com o objetivo de suprir falhas
no desenvolvimento dos métodos deste e evitar a fuga de recursos para outras
Manual, oferece cursos de guias locais e regiões.
pode ser contatada para uma melhor orien- Por outro lado, problemas de mercado
tação sobre este curso (ver anexo, com ou detalhes de produção podem reduzir o
endereços de participantes do PEC). consumo. Se determinado produto tem uma
apresentação ruim, ou um doce é excessiva-
❐ PRODUÇÃO, TRANSFORMAÇÃO E mente doce, sua venda pode ser prejudica-
COMERCIALIZAÇÃO DE PRODUTOS LOCAIS da. Por isso, alguns cursos devem se con-
(AGROPECUÁRIA, EXTRATIVISMO centrar na melhoria do que é feito na região,
E HORTICULTURA, DOCES E COMPOTAS, levando aos produtores a demanda do mer-
FRUTAS DESIDRATADAS, ARTESANATO, cado. Tome-se como exemplo uma cesta de
MARCENARIA E MARCHETARIA, palha, que pode ser feita de vários tama-
CONFECÇÕES ETC.) nhos, utilizando a mesma técnica. É possível
que as menores tenham melhores chances
Quanto maior e mais diversificada for a de venda, já que boa parte dos turistas dis-
produção local, mais a comunidade se be- põe de pouco espaço em suas bagagens.
neficiará do ecoturismo. Por isso o inven- Os cursos também devem abordar os
tário pode oferecer subsídios para identi- cuidados na coleta e utilização de recursos
ficar lacunas na produção local, ligados ou naturais, como o extrativismo (flores, plan-
não ao turismo, já indicando cursos a serem tas, rochas, penas etc.), pois não é objetivo
308
Capacitação comunitária – IMPLEMENTAÇÃO RESPONSÁVEL

de projetos de ecoturismo incentivar práti- ❐ OPERAÇÃO LOCAL


cas não sustentáveis. (AGÊNCIAS E OPERADORAS)
Esses cursos também devem ser ofereci-
dos no início do programa, por proporcionar Um produto de turismo é um casamento
melhoria de produtos já existentes e diversi- entre atrativos, serviços e estruturas, associ-
ficar o ganho com o ecoturismo, além de ados a um cronograma (ver capítulo
possibilitar que pessoas de diferentes níveis Elaboração de Produto de Ecoturismo). É
econômicos, idade e escolaridade desem- comum haver atrativos e serviços, sem que
penhem uma atividade produtiva, utilizando o produto seja elaborado. Apesar do ecotu-
e evitando o desperdício de produtos locais. rista ter um perfil aventureiro, a tendência é
para viagens curtas e bem planejadas. Uma
❐ ALIMENTAÇÃO determinada região pode ter atrativos e
serviços em locais isolados, necessitando de
Nos cursos na área de alimentação, a uma ponte para colocá-los no mercado.
prioridade é para conservação, estoque e Uma agência ou operadora local podem 8
manuseio de alimentos, higiene, controle fazer essa ligação, elaborar e operar os pro-
bacteriológico, decoração do estabeleci- dutos. Como o mercado turístico em comu-
mento e dos pratos, utilização de produtos e nidades rurais é pequeno e incipiente, a
pratos regionais, tendências vegetarianas, demanda por operadoras locais ainda é
naturalistas e de saúde e equipamentos bási- reduzida. Nesses casos, talvez seja mais ren-
cos. Como mencionado anteriormente, não tável para o projeto conseguir estágios e cur-
é necessário um curso de culinária francesa sos em agenciamento e operação de roteiros
– apenas aprimorar os produtos locais, ade- em centros urbanos para os interessados, o
quando-os às demandas do mercado e ofe- que facilitaria também os contatos com
recendo subsídios para maior economia e grandes agências e operadoras interessadas
higiene no manuseio de alimentos. nos produtos da região. Associações de
Por ser a alimentação um serviço básico guias devem ser consideradas prioritárias
de ecoturismo (a maioria dos estabeleci- para este curso, possibilitando um cresci-
mentos lida com alimentos) e por implicar mento profissional dentro da atividade de
benefícios também na cozinha familiar, este ecoturismo.
também é um curso que costuma motivar
bastante a participação. ❐ ADMINISTRAÇÃO E GERENCIAMENTO
(COMERCIALIZAÇÃO, CONTABILIDADE,
❐ MEIOS DE HOSPEDAGEM ESTABELECIMENTO DE CUSTOS, ETC.)

Cursos relacionados à área de Com raras exceções, nas regiões onde


hospedagem são oferecidos por diversas são implementados projetos de ecoturismo
empresas e entidades. No caso do ecoturis- vivem comunidades que trabalham com
mo, deve-se buscar orientação para o plane- atividades tradicionais, como o extrativismo
jamento e administração de pousadas, e culturas de subsistência. A realidade desse
chalés, pequenos hotéis, hospedagem resi- tipo de produção segue o seguinte padrão:
dencial (conhecido internacionalmente produzir/extrair, armazenar, vender no cen-
como Bed and Breakfast ou cama e café) e tro comprador. Já o turismo traz uma nova
campings. Mais uma vez, é preciso estar prática: o produto não é armazenável e o
atento às necessidades locais. Não são cliente tem que vir até o “produtor”. Por
necessários cursos para grandes empreendi- exemplo, um quarto de hotel é vendido na
mentos hoteleiros, mas ensinamentos bási- forma de diária. Se ele não é ocupado em
cos de administração, marketing, arquitetu- um determinado dia, é um rendimento que
ra e serviços de hospedagem. se perdeu. Além disso, o hotel se desva-
309
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

loriza dia a dia devido ao desgaste natural dando questões relativas à didática, conteú-
ou por uso. Portanto, ao contrário de um do, motivação e aprendizado. Deve ser
saco de arroz que pode ser vendido hoje ou respondido individualmente, mesmo que de
amanhã, o produto turístico não utilizado forma oral quando for o caso.
hoje não tem como ser reposto amanhã.
Da mesma forma, a maioria dos estabe- ❐ EM GRUPO, COM OS ALUNOS
lecimentos de ecoturismo tem origem e E SEM A PRESENÇA DO INSTRUTOR
administração familiar. São quintais que viram
campings e residências que viram restau- Conversa aberta discutindo os mesmos
rantes e pousadas. Portanto, diante da neces- itens do questionário individual, levantando
sidade de se cortar custos, não será fácil para e compreendendo os pontos positivos e ne -
a proprietária despedir o marido ou um filho... gativos, bem como alternativas de melhorias
Devido à diversidade de proprietários e do curso.
empreendimentos e da própria complexidade
8 de se gerenciar um estabelecimento, a su- ❐ EM GRUPO, COM ALUNOS E INSTRUTORES,
gestão é que se faça um módulo teórico bási- FAZENDO O MESMO TIPO DE AVALIAÇÃO
co e que o curso ofereça, como complemen- ANTERIOR
to, assessoria direta aos empreendimentos, ou
seja, um trabalho de assistência técnica. Os Pode ser duro para o instrutor ou inibir
capítulos Viabilidade Econômica e Admi - os alunos, mas é uma forma bem democráti-
nistração e Práticas Contábeis devem ser uti- ca e positiva de se buscar o crescimento de
lizados como orientação deste(s) curso(s). todos. Neste caso, é fundamental a presença
Além das noções e sistemas simplificados moderadora de um coordenador e seria
para se administrar um empreendimento, os bom que este tivesse conhecimento das
proprietários devem compreender os proces- avaliações individuais antes da reunião.
sos de venda que fazem um turista chegar
até seu estabelecimento. Assim, orientações ❐ REUNIÃO ENTRE INSTRUTORES, MONITORES
de marketing podem ser úteis por ensinar a E COORDENAÇÃO DO PROGRAMA
trabalhar com as altas e baixas temporadas
do turismo, a adotar práticas de incentivos Os itens da discussão são os mesmos,
para se aumentar a ocupação em época de mas com os técnicos aprofundando a dis-
baixa temporada, entre outros temas. cussão nas questões mais técnicas e outras
que devem ser discutidas somente no
4. Monitoramento e avaliação âmbito da coordenação. É sempre bom
lembrar que certas críticas ou comentários
monitoramento e a avaliação da quali- têm melhor efeito quando feitas reserva-
O dade e eficiência dos cursos devem ser
feitos constantemente, de forma a garantir a
damente.
Seguem algumas sugestões para avalia-
continuidade e o sucesso do programa de ção e monitoramento, não significando que
capacitação. todas precisam ser implementadas. O ideal
A avaliação do curso e de seu(s) é que cada projeto desenvolva a metodolo-
instrutor(es) deve ser feita imediatamente gia que melhor se adequar ao seu contexto.
após o curso e com a participação de
alunos, monitores e instrutores. Pode ser a) Avaliação de resultados
feita das seguintes formas: de curto prazo
Visita aos proprietários de empreendi-
❐ AVALIAÇÃO INDIVIDUAL mentos que fizeram os cursos, degustação e
teste de produtos e serviços (fazer uma trilha
Por meio de questionário padrão abor- com o novo guia, por exemplo) e entrevista
310
Capacitação comunitária – IMPLEMENTAÇÃO RESPONSÁVEL

com turistas, que podem refletir melhorias final de um programa de capacitação mal
ou não em praticamente todos os segmentos. planejado e desatento à realidade local
pode ser o contrário dos objetivos do pro-
b) Avaliação de resultados grama: produtos de baixa qualidade e
de médio e longo prazo menos competitivos, menor benefício
A mesma metodologia acima, fazendo econômico à comunidade, possíveis confli-
comparação com avaliações anteriores. tos entre moradores e decepção com o pro-
grama de ecoturismo.
c) Checar cronograma de execução
dos cursos e reprodução ❒ CAPACITAÇÃO GERA DEMANDA
dos mesmos por monitores, DE INVESTIMENTOS
quando for o caso. Ao objetivar mais qualidade e diversi-
Cursos de monitores devem passar pelo dade de produtos, o programa de capaci-
mesmo processo de avaliação acima sugerido. tação vai gerar a necessidade de investi-
mentos tanto de quem já está no ramo ou de 8
d) Durante todo o processo de quem quer iniciar uma atividade. O projeto
avaliação e monitoramento, de ecoturismo deve procurar se antecipar a
identificar necessidades de novos esta demanda através de ações de orien-
cursos ou mesmo da repetição tação à comunidade (por exemplo, linhas
de cursos já realizados. de financiamento existentes, cuidados ao
financiar, práticas de menor custo) e criação
Várias das sugestões acima podem ser ou gestão de fundos destinados à população
seguidas por meio do sistema de inventário de baixa renda ou programas de conser-
turístico e seu processo de monitoramento. vação ambiental.
Outras necessitam do desenvolvimento de
metodologia apropriada e de acompan- V. BIBLIOGRAFIA
hamento constante por parte do coorde-
nador ou comissão responsável pelo proje- BRUNS, D., RICHARDSON, S. & SULLIVAN
to. O importante é que se estabeleça algum T. 1994. Recreation – Tourism
sistema de monitoramento para assegurar a Community Partnerships for Sustainable
continuidade e o aprimoramento do progra- Adventure Travel. In The Fifth
ma de capacitação. International Symposium on Society and
Resource Management. Colorado State
IV. RISCOS E RECOMENDAÇÕES University, Fort Collins, Colorado, USA.
BYERS, Bruce. 2000. Understanding and
❒ RISCOS AO SE CAPACITAR ALÉM Influencing Bahavior: a Guide.
DA DEMANDA Biodiversity Support Program, USAID.
Um dos riscos de um programa de Washington, DC, USA.
capacitação é o de se capacitar um número EMBRATUR. 1994. Diretrizes Para uma
de pessoas bem maior do que a demanda de Política Nacional de Ecoturismo. BARROS
mercado. Além da má gestão de recursos II, Sílvio M. de & DE LA PENHA, Denise
humanos e financeiros, excesso de pessoas H. (Coords.). EMBRATUR: Brasília, DF.
capacitadas em uma determinada área pode GARCIA, Regina Leite (org.). 2000.
provocar a decepção com o projeto por Aprendendo com os movimentos sociais.
parte dos participantes/comunidade pela DP&A Editora. Rio de Janeio, RJ.
quebra de expectativa em relação a uma INSKEEP, Edward. 1991. Tourism Planning:
possível ocupação e favorece a concorrên- An Integrated and Sustainable
cia baseada no menor preço em detrimento Development Approach. Van Nostrand
da qualidade. Desta forma, a conseqüência Reinhold: Nova York, NY, EUA.
311
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

KEOUGH, Colleen M., FLOYD, Elisabeth, Colorado State University: Colorado,


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Community Approach. Methuen, Inc.: Methods of the Institute of Cultural
Nova York, NY, EUA,. Affairs. Kendall/Hunt Publishing
RICHARDSON, Sarah L. 1991. Colorado Company. Chicago, IL, USA.
Community Tourism Action Guide.

8
✑ TOME NOTA:

312
GESTÃO INTEGRADA

9. Monitoramento e controle
de impactos de visitação
Sylvia Mitraud

I. O BJETIVO 1. O princípio básico

desafio para se controlar o impacto de


objetivo deste capítulo é oferecer
O
O um instrumento prático e viável que
possibilite o monitoramento e con-
trole dos impactos de visitação por parte dos
visitação em áreas naturais não deve
ser menosprezado. Problemas ambientais
decorrentes da interferência humana
exigem uma postura preventiva, para equili-
responsáveis pela gestão de áreas naturais.
O método aqui proposto – Monito- brar o uso, e pró-ativa, de forma que a 9
ramento do Impacto de Visitação (MIV) – solução venha em tempo hábil.
incorpora as principais e mais conhecidas Em geral, para se resolver um problema
metodologias existentes para gestão do uso isolam-se suas causas, elaboram-se estraté-
recreativo de áreas naturais. gias para eliminá-las ou minimizá-las, esta-
belecem-se metas a serem cumpridas e
II. I NTRODUÇÃO CONCEITUAL acompanham-se os eventos de implemen-
tação, até que tenham sido atingidas as
Como foi visto na Introdução e no capí- metas ou o problema tenha sido resolvido.
tulo de Planejamento do Ecoturismo deste Esse processo, tão simples e cotidiano,
Manual, há uma série de princípios rela- torna-se complexo quando se trata de con-
cionados às questões sócio-econômicas e à trole de impactos de visitação, pois o
conservação ambiental que orientam o impacto ambiental indesejável no local visi-
desenvolvimento do ecoturismo. tado é muitas vezes difícil de ser percebido.
A visitação causa alterações ao ambiente Além disso, o conhecimento disponível
natural. É necessário adotar medidas de sobre os processos e relações entre os diver-
controle para protegê-lo, e ao mesmo tempo sos elementos de um determinado ecossis-
assegurar qualidade à visita. tema geralmente é insuficiente para se
O método proposto neste capítulo con- entender que determinada alteração é inde-
templa o princípio da viabilidade ambiental, sejada ou proveniente de causas não natu-
segundo o qual o ecoturismo deve ser rais. A alteração na população de uma
desenvolvido com o controle dos impactos, determinada espécie animal pode ser provo-
de forma a não gerar danos irreversíveis ao cada por ações antrópicas, ou pela própria
local visitado, inclusive como forma de não dinâmica populacional da espécie, ou por
comprometer o próprio negócio. outras mudanças no ecossistema (no solo,
Os dados recolhidos por meio do moni- na vegetação, nos recursos hídricos, em ou-
toramento ou acompanhamento das alte- tras espécies de fauna, no clima etc.) das
rações podem subsidiar a formulação de quais não se tem qualquer conhecimento,
medidas de proteção. ou não se é permitido conhecer.
Sem que determinada situação seja diag-
nosticada como um “problema”, como é
315
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

possível identificar causas e traçar estraté- meio do acompanhamento criterioso e sis-


gias para solucioná-la? E mais importante, se temático de alterações observáveis no ambi-
não há problema perceptível, por que se ente visitado, e seu controle, espera-se que
preocupar com a situação? problemas maiores, mais complexos e
A resposta é simples: o fato de não se pouco perceptíveis sejam detectados com
identificar um problema não significa que maior facilidade.
este não exista. Usualmente, quando se O enfoque na prevenção de problemas
percebe um problema ambiental, este já implica alterações nos procedimentos mais
atingiu tal nível de gravidade que é comum comumente seguidos para os processos de
ter se tornado irreversível, ou de solução monitoramento de projetos.
somente a longo prazo e/ou de alto custo. Para aqueles que já possuem experiência
Assim, no monitoramento e manejo de em monitoramento de projetos, a seguir
impactos de visitação, o esforço dos respon- apresentamos um quadro que contrasta as
sáveis pela gestão deve ser voltado para a duas abordagens e aponta as diferenças
antecipação e prevenção de problemas. Por entre elas.

1 QUADRO 1
9 MONITORAMENTO DE PROJETOS E DE IMPACTOS

MONITORAMENTO DE PROJETOS MONITORAMENTO DE IMPACTOS DE VISITAÇÃO

1 Identificam-se problemas 1 Planeja-se ou inicia-se a visitação


e diagnosticam-se causas em uma área natural
2 Define-se a estratégia de ação 2 Define-se a situação desejada
para resolver os problemas para uma área natural visitada
3 Definem-se metas a serem alcançadas 3 Definem-se indicadores e meios de
acompanhar o estado atual de acordo
com o desejado
4 Definem-se indicadores 4 Definem-se parâmetros máximos
de monitoramento das metas aceitáveis de alteração, os quais não
se quer alcançar
5 Monitora-se o alcance dos resultados 5 Monitoram-se as alterações
nos indicadores
6 Caso não sejam alcançados, 6 Caso sejam atingidos os parâmetros,
elaboram-se novas estratégias de ação elaboram-se estratégias de ação

2. As características do sistema modelo experimental, como o início de um


processo de construção de um método que
desenvolvimento e a aplicação de deverá ser refinado após sua implementação
O métodos de monitoramento e controle
(ou seja, o manejo) de impactos de visitação
monitorada em diversos contextos.
O método ora proposto possui duas ca-
em áreas naturais são processos ainda em racterísticas básicas:
elaboração e teste, não só no Brasil como
em todo o mundo. Dessa forma, o método ❒ É FLEXÍVEL e VERSÁTIL, podendo ser
aqui apresentado deve ser visto como um adaptado a uma diversidade de si-
316
Monitoramento e controle de impactos de visitação – GESTÃO INTEGRADA

tuações – desde o manejo de uma da, para atender às características citadas


pequena propriedade particular, acima. Por isso, optou-se pela associação de
sem pessoal ou recursos para manter quatro métodos: um desenvolvido para a
um sistema sofisticado de monitora- elaboração de planos de manejo em par-
mento e controle de impactos, até ques nacionais nos Estados Unidos; dois
um parque nacional marinho. Ao desenvolvidos especificamente para o
longo do capítulo serão utilizados manejo dos impactos de visitação em áreas
exemplos ilustrativos desses dois naturais protegidas; e um "importado" da
tipos de casos. área de acompanhamento e avaliação de
❒ Sendo um método flexível, o resulta- projetos. A esses foram acrescentadas
do de sua implementação depende, pequenas contribuições de outros métodos
em grande parte, da ABRANGÊNCIA e existentes. O quatro métodos são:
da COMPLEXIDADE do sistema definidas
por aqueles que o aplicam. A. LAC OU LIMITES DE MUDANÇA ACEITÁVEL -
desenvolvido por George Stankey, David
Independentemente da complexidade do Cole, Robert Lucas, Margaret Petersen e
sistema montado, este deve ser: Sidney Frissell, para o Serviço Florestal
dos Estados Unidos, publicado em 1985.
❒ PRÁTICO, com procedimentos e B. CAPACIDADE DE CARGA DE VISITAÇÃO 9
instrumentos de monitoramento o RECREATIVA EM ÁREAS PROTEGIDAS - desen-
mais simples possível. volvido por Miguel Cifuentes, apresenta-
❒ DINÂMICO, permitindo a fácil ade- da de forma sistemática pela primeira
quação do sistema de acordo com o vez em 1992.
aprendizado gerado pela sua apli- C. VIM OU MANEJO DE IMPACTO DE VISITAÇÃO -
cação. desenvolvido por Fred Kuss, Alan Graefe
❒ ACESSÍVEL aos proprietários, gerentes, e Jerry Vaske, para a National Parks and
ou pessoas responsáveis pela apli- Conservation Association – USA
cação do sistema. (Associação de Parques Nacionais e
❒ CONFIÁVEL, com coleta e registro de Conservação dos EUA), publicado em
dados realizados nos prazos e na 1990.
forma definida no sistema. D. MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO DE PROJETOS
❒ FOCALIZADO NO MANEJO DA VISITAÇÃO e - modelo de matriz de monitoramento de
não em pesquisa em geral. projetos utilizado pela Interamerican
❒ GERADOR DE INFORMAÇÕES CUMULATI- Foundation – IAF.
VAS, ou seja, seu objetivo é observar
mudanças em um mesmo elemento Fundamentalmente, esses métodos não
ao longo do tempo. se contrapõem. Devido às suas diferentes
❒ SISTEMATICAMENTE ORGANIZADO para abordagens, são complementares, gerando
não haver perda ou mistura de infor- subsídios para o manejo.
mações sobre os dados coletados. O LAC – LIMITES DE MUDANÇA ACEITÁVEL,
❒ DE APLICAÇÃO IMEDIATA, sem estar desenvolveu-se com base no princípio de
condicionado à realização de que qualquer ação de manejo ou uso (inclu-
pesquisas prévias, ou do alcance de sive visitação recreativa) em um ambiente
condições ótimas de gestão. natural necessariamente gera alterações no
mesmo. Portanto, o objetivo do gestor não
3. Os métodos utilizados deve ser evitar ou eliminar as alterações no
ambiente natural causadas pela ação
enhum dos métodos até agora desen-
N volvidos foi suficiente, de forma isola-
humana, mas sim mantê-las dentro de
parâmetros aceitáveis. No caso da visitação
317
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

recreativa, os gestores devem estabelecer a 5. Satisfação do visitante em sua experiên-


quantidade e o tipo admissíveis ou cia recreativa dentro da unidade.
aceitáveis. Outro ponto chave do método, é
que ele não define os limites em termos de Além de relacionar os critérios acima
quantidade e tipo de uso da área, mas sim para nortear o limite de uso recreativo de
em termos de impactos gerados pelo uso. uma determinada área, o método define que
A CAPACIDADE DE CARGA desenvolveu-se o manejo da visitação não pode ser conside-
com o objetivo de gerar um indicador quan- rado um elemento independente do restante
titativo, uma espécie de “termômetro”, para do manejo da unidade de conservação (UC),
os gestores de áreas onde nunca se fez o ou da propriedade. Ao contrário, deve ser
acompanhamento sistemático dos impactos organizado levando-se em conta todas as
de visitação: os gestores da área devem atividades ali realizadas, buscando um equi-
manter o número de visitantes em uma área líbrio de qualidade. A preocupação é de que
protegida abaixo da capacidade de carga o investimento na propriedade – de pessoal,
estabelecida, ou seja, do número máximo infra-estrutura e financeiro – não seja dire-
de visitantes que a área pode receber, esta- cionado exclusivamente para o ecoturismo,
belecido pelo método. A capacidade de evitando assim o enfraquecimento econômi-
carga garante um instrumento de controle co, social e ambiental da propriedade.
9 mínimo para iniciar a implementação do Uma outra contribuição desse método é
sistema de monitoramento e controle de a inclusão da capacidade de gestão como
impacto de visitação. A determinação da fator de manejo de impacto da visitação. É
capacidade de carga de visitação de uma um fator importante, considerando-se que
área pode também auxiliar no estudo de as propriedades com potencial ecoturístico
viabilidade econômica do ecoturismo no no Brasil, em sua maior parte, não possuem
local. Por exemplo, em um atrativo, público atividades voltadas para a pesquisa, têm
ou privado, onde a única infra-estrutura para limitados recursos humanos e financeiros
visitação é uma trilha, a capacidade de para investir no manejo de visitação e care-
carga dessa trilha será o fator limitante do cem de instalações e equipamentos sofisti-
faturamento. cados para controle de impactos.
Este método representa a busca de alter- O VIM aceita o princípio fundamental do
nativas para o manejo sustentável de visi- LAC. Sua principal contribuição para o méto-
tação em áreas protegidas, dentro de um do proposto neste capítulo é o esta-
contexto latino-americano. Dessa forma, belecimento dos mecanismos e procedimen-
baseia-se na conjunção de cinco fatores: tos para fazer do manejo de visitação um
processo dinâmico para diagnóstico de
1. Conhecimento existente sobre a biodi- impactos, subsidiando a tomada de decisões.
versidade protegida na unidade de con- Na definição das variáveis e padrões
servação, especialmente espécies para a determinação de parâmetros
endêmicas e/ou ameaçadas, e sobre os aceitáveis de mudança, os pesquisadores
processos ecológicos do ecossistema envolvidos no desenvolvimento do VIM
protegido e suas características físico- chegaram às seguintes conclusões:
ambientais.
2. Disponibilidade de pessoal em número ❒ Dentre as variáveis biológicas, sociais, físi-
adequado e capacitado para desen- cas, etc., não é possível estabelecer uma
volver atividades técnicas de manejo de única resposta previsível dos impactos do
visitação. uso recreativo. Os impactos são geral-
3. Disponibilidade de recursos financeiros. mente identificados por uma relação entre
4. Infra-estrutura e equipamentos ade- diversos fatores. Em outras palavras, é
quados. muito difícil identificar variáveis que iso-
318
Monitoramento e controle de impactos de visitação – GESTÃO INTEGRADA

ladamente indiquem a ocorrência de III. C AIXA DE FERRAMENTAS


algum dano inaceitável (ou seja, que
descaracteriza o ambiente ou alguma de Esta caixa de ferramentas apresenta as três
suas partes de forma irreversível). principais etapas do processo de desenvolvi-
❒ Para a maioria dos impactos, não se mento e implementação do MIV, quais sejam:
pode estabelecer uma relação direta e
linear com a intensidade de uso 1. Montando o Sistema de
(número de visitantes). A relação varia Monitoramento e Controle de
de acordo com diversos outros fatores, Impactos de Visitação (MIV);
podendo ser mais ou menos forte. Essa 2. Aprendendo a desenvolver
conclusão indica que os métodos de o MIV para uma área; e
aferição da capacidade de carga são 3. Ensinando outros a desenvolver o MIV.
instrumentos limitados de controle de
impactos inaceitáveis. 1. Montando o Sistema
❒ Um dos principais fatores que influen- de Monitoramento e Controle
ciam a determinação da capacidade de de Impactos de Visitação (MIV)
carga (ou limite de uso) é a tolerância
desenvolvimento do MIV envolve a
diferenciada dos elementos do ecossis-
tema (resiliência) e dos diferentes grupos
de visitantes às alterações ambientais. A
O realização de 10 passos: 9
intensidade de uso pode beneficiar 1 Montar equipe multidisciplinar, de
alguns elementos/grupos, enquanto pre- acordo com as características levan-
judica outros. tadas no planejamento e mapeamento.
❒ Algumas atividades geram impactos mais 2 Revisar a legislação e as políticas am-
rapidamente do que outras, e a forma bientais e de turismo relevantes para a
como a atividade é realizada pode ace- UC (Unidade de Conservação) ou pro-
lerar ou desacelerar esse processo. Ou priedade.
seja, dependendo do comportamento do 3 Analisar ou elaborar objetivos gerais
visitante e do tipo de atividade, um para o uso da área protegida ou pro-
único visitante pode causar mais priedade, objetivos específicos para a
impacto ao ambiente do que um grupo atividade de ecoturismo e definir obje-
com 20 ou mais pessoas. tivos específicos por trilha ou local de
❒ Os impactos do uso recreativo também visitação.
são influenciados por fatores específicos 4 Determinar indicadores para moni-
de cada local visitado, como o clima, a toramento de cada área.
topografia ou o solo. 5 Determinar parâmetros de impactos
aceitáveis para cada indicador, in-
O SISTEMA DE MONITORAMENTO DE PROJETOS cluindo as unidades de medida.
permite a sistematização da coleta e registro 6 Determinar a capacidade de carga.
de dados de forma contínua e confiável, 7 Elaborar a Matriz de Monitoramento,
sendo um instrumento que possibilita a iden- incluindo os instrumentos de coleta e
tificação de problemas potenciais ou efetivos compilação de dados.
relacionados à visitação. É constituído de uma 8 Coletar dados iniciais para o monitora-
tabela, chamada Matriz de Monitoramento, mento de todos os indicadores, ajustar
que orienta o que se deve acompanhar, onde, os instrumentos de coleta e compi-
quando, e por quem. A Matriz é complemen- lação de dados e realizar a primeira
tada por diversos formulários que auxiliam a etapa de treinamento dos responsáveis
coleta e registro dos dados, de acordo com as pelo manejo.
determinações da Matriz. 9 Analisar os usos conflituosos ou exces-
319
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

sivos observados durante a coleta de Caso seja necessário, e isto é importante


dados iniciais para o monitoramento e destacar, fazer correções nos locais de visi-
determinar ações de manejo corretivas. tação, e caso os gestores da UC ou da pro-
10 Treinar os responsáveis para imple- priedade desejem providenciá-las imediata-
mentar o MIV. mente, convém aguardar sua conclusão
antes de realizar os passos 3 a 5 da mon-
tagem do sistema de monitoramento, pois
O MIV não pode ser desenvolvido iso-
podem haver alterações em locais de coleta
ladamente dentro de uma unidade de con- de dados e no estado dos indicadores.
servação (UC) ou propriedade. Ao contrário, Deve-se levar em conta que atividades cor-
algumas ações prévias são condições para retivas que implicam melhor comportamen-
que se possa implementá-lo: to por parte do visitante (p. ex. sua edu-
cação via folhetos e placas), assim como a
❒ Planejamento da UC ou propriedade instalação de equipamentos e infra-estru-
como um todo, para definir as áreas turas na área, podem vir a alterar a capaci-
onde será desenvolvido o uso recreativo, dade de carga dessas áreas ou alterar os
tais como trilhas. indicadores. Entretanto, a análise da legis-
❒ Mapeamento da área de visitação, no lação (passo 1), a descrição de objetivos
caso de trilhas, p. ex., levantamento do (passo 2) e a capacidade de carga (passo 6)
9 comprimento, direção, declividade e devem ser desenvolvidos antes de qualquer
alteração corretiva no local de visitação.
identificação de tipos de solo predomi-
nantes ao longo da trilha (ver capítulo
Manejo de Trilhas).

1 QUADRO 2
EXEMPLOS A SEREM UTILIZADOS NESTE CAPÍTULO

OS EXEMPLOS A SEREM UTILIZADOS NESTE CAPÍTULO:

Para auxiliar na compreensão deste capítulo, os MIVs de duas áreas serão utilizados
para ilustrar os passos do método.
Um foi desenvolvido pelo Projeto Veadeiros (ver apresentação na Introdução)
durante a elaboração deste manual. O MIV foi elaborado para uma trilha de 1.500m
numa área chamada Vale da Lua, cujos proprietários possuem baixa capacidade de
investimentos financeiros e pela qual há apenas um responsável permanente.
O outro foi elaborado como parte do Planejamento e Implantação do Uso
Recreativo no Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha, projeto realizado
pelo WWF-Brasil em parceria com o MMA/IBAMA. O Parque possui oito trilhas, 20
pontos de mergulho e uma equipe de funcionários correspondente a 70% do ideal
e contou com financiamento específico para o desenvolvimento das atividades pro-
postas em caráter piloto.
Apesar das diferenças extremas entre os casos, ambos são considerados bons exemplos
de MIV, cumprindo com os critérios expostos no item II.2 (Características do Sistema). Ao
longo desta Caixa de Ferramentas, serão apresentados trechos selecionados dos trabalhos
em cada área. Como anexo, serão apresentados os resultados do MIV do Parque
Nacional Marinho de Fernando de Noronha para uma de suas trilhas. A apresentação na
íntegra do MIV de qualquer uma das áreas utilizadas como exemplos é impossível por
tratarem-se de documentos mais extensos do que este capítulo.

320
Monitoramento e controle de impactos de visitação – GESTÃO INTEGRADA

Passo 1 – Montar equipe muito extensa em ambiente frágil,


multidisciplinar, de acordo uma extensa rede de trilhas ou de
com as características locais de visitação geralmente
levantadas no planejamento indicam a necessidade de cuidados
e mapeamento maiores no controle dos impactos
causados pela visitação. A diversi-
A elaboração do MIV começa com a dade na oferta de atividades de eco-
montagem da equipe que realizará o traba- turismo, como por exemplo uma
lho. Uma equipe com especialidades varia- caminhada aliada a escalada e
das é determinante para a qualidade e pro- canyoning, também implica um sis-
fundidade de detalhamento do sistema. tema mais complexo.
Quanto mais completa for a equipe de tra- ❒ A disponibilidade de recursos finan -
balho, mais completo será o sistema. Note- ceiros. Uma equipe de especialistas
se também que essa equipe poderá, em uma pode ter alto custo, não só em hono-
mesma visita, colaborar com o desenvolvi- rários como também em transporte,
mento do programa de interpretação ambi- hospedagem e alimentação. Uma
ental (ver capítulo específico) do local. alternativa natural é conseguir a co-
Porém, uma equipe multidisciplinar com laboração de voluntários e estagiá-
conhecimentos prévios sobre a área pode rios, ou estabelecer convênios com 9
ter alto custo, e o resultado do trabalho ONG's e institutos de ensino e pes-
pode tornar-se complexo ou demorado quisas (ver capítulos Voluntariado
demais, impossibilitando sua implantação em projetos de ecoturismo e Pesquisa
pela equipe responsável pela gestão. Cabe na atividade de ecoturismo).
aos gestores da UC ou ao proprietário pon- ❒ Os recursos humanos disponíveis
derar os diversos fatores para decidir sobre o para a implementação do MIV. Caso
tamanho e nível de especialização da seja desenvolvido um sistema mais
equipe de montagem do monitoramento, complexo do que a capacidade e o
entre eles: tamanho da equipe disponível, o sis-
tema certamente não será imple-
❒ A necessidade de um trabalho mais mentado. Nesse caso, é preferível
detalhado e cuidadoso. Uma elaborar um sistema simples, dentro
Unidade de Conservação, uma área da capacidade de implementação
dos proprietários ou responsáveis.
EXEMPLO 1 - EQUIPES DE TRABALHO
Projeto Veadeiros PARNAMAR/Noronha
A equipe que elaborou o MIV A equipe do Projeto Noronha contou
do Vale da Lua era constituída por com um total de 18 técnicos, cobrindo
um técnico e pela coordenadora 14 áreas de especialidades diferentes,
do Projeto Veadeiros / WWF-Brasil. tais como história e arqueologia,
ecossistemas terrestres (flora e fauna)
e marinhos (corais, ictiofauna, golfinhos
e tartarugas), geologia, engenharia
e arquitetura (para a infra
e os equipamentos), educação
e interpretação ambiental,
comunicação visual
(para sinalização e folhetos) etc.
321
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

Passo 2 – Revisar a legislação A equipe deve concentrar-se, principal-


e as políticas ambientais mente, no estabelecimento de objetivos
e de turismo relevantes para cada trilha ou local de visitação.
para UC ou propriedade Quanto mais específicos os objetivos, mais
fáceis serão os passos seguintes e, mais
Com a equipe de tamanho e característi- importante, mais claro será para os respon-
cas adequados, o segundo passo é realizar sáveis identificar como deve ser utilizado o
uma cuidadosa revisão da legislação e políti- local visitado. Para ilustração, os objetivos
cas de conservação, de turismo e de uso do de trilhas podem referir-se a:
solo pertinentes ao local e propriedade. A
revisão deve abranger os níveis federal, ❒ Infra-estrutura e manutenção de tri -
estadual e municipal. Convém também co- lhas (largura da trilha, tipo de mate-
nhecer acordos ou práticas não-formais da riais, construção, locais de descan-
comunidade local. O objetivo é assegurar so, colocação de bancos, mirantes,
que as atividades propostas e desenvolvidas pontes etc.).
para o uso recreativo não estejam em con- ❒ Interpretação ambiental (trilha guia-
tradição com as normas vigentes ou com os da ou não, tipo, quantidade e locali-
costumes locais, e que ao mesmo tempo se zação de sinalização, materiais de
9 possa tirar melhor proveito das políticas que interpretação etc.).
favorecem e incentivam a atividade ecoturís- ❒ Experiência do visitante (tipo de
tica. Essa revisão deve ser realizada durante atividade, tipo de visitante, faixa
o diagnóstico e planejamento do ecoturismo etária, encontros com outros grupos,
(ver capítulos referentes). visitas de excursões, permanência
em mirantes, visualização de infra-
Passo 3 – Analisar ou elaborar estrutura etc.).
objetivos gerais para o uso ❒ Proteção contra usos indevidos (van-
da área protegida ou dalismo, danos aos recursos naturais,
propriedade, objetivos danos em sinalização, lixo, etc.).
específicos para a atividade ❒ Proteção biológica e/ou ecológica
de ecoturismo e definir (proteção de espécies endêmicas, de
objetivos específicos por espécies que ocorrem ao longo da
trilha ou local de visitação trilha, período de reprodução, pro-
teção da paisagem, refúgios e
A definição de objetivos específicos por ninhos etc.).
trilha ou área de visitação deve receber
cuidadosa atenção, pois todas as demais Passo 4 – Determinar indicadores
etapas do monitoramento e avaliação dos para monitoramento
impactos de visitação são feitas com base de cada área
nesses objetivos.
No caso das propriedades particulares, Os indicadores limitam a abrangência
dificilmente haverá clareza na definição de do MIV. Por meio deles, definimos os itens
objetivos. Deve-se ter o cuidado de não ou aspectos sobre os quais faremos o acom-
“inventar” objetivos que nada representam panhamento de alterações, permitindo a
para o proprietário. Em casos como este, basta prevenção de danos considerados ina-
identificar ou elaborar um objetivo que reflita ceitáveis. Os indicadores devem ser esta-
o potencial da área para receber visitantes e o belecidos a partir dos objetivos específicos
interesse do proprietário em trabalhar com o de cada trilha, pois eles são a referência
ecoturismo (evitando restringir-se à resposta para a condição desejada em cada local.
óbvia e simplista do interesse econômico).
322
Monitoramento e controle de impactos de visitação – GESTÃO INTEGRADA

EXEMPLOS DE OBJETIVOS:
Projeto Veadeiros PARNAMAR/Noronha
1) Objetivo da propriedade e de visitação: 1) Objetivo de uso recreativo do Parque:
Promover o uso adequado da área para Minimizar os impactos negativos
a sua conservação, educação ambiental resultantes do uso público.
e uso recreativo. (Há 4 outros objetivos, não citados aqui).
2) Objetivos da trilha do Vale da Lua: 2) Objetivos da Trilha dos Golfinhos:
a) orientar o visitante por um percurso a) manter a área do costão entre
que promova a interpretação das Golfinhos e Sancho como área de
características geológicas e botânicas reprodução de aves;
do local; b) propiciar experiência de visitação
b) delimitar o espaço de trânsito e de apropriada para grupos com prováveis
mirantes interpretativos, impedindo encontros com outros grupos e
o alargamento e duplicação de trilhas. compartilhamento de mirantes.
(Há 3 outros objetivos, não citados aqui). (Há 4 outros, não citados aqui).

objetivo é facilitar a percepção e controle de 9


É importante notar que, impactos indesejados que tenham relação
apesar dos indicadores serem definidos direta com a visitação recreativa.
por decisões de manejo, tendo portanto Nesse sentido, é especialmente difícil o
um nível de subjetividade, eles não são monitoramento de indicadores biológicos
ou ecossistêmicos. Como apontado pelos
aleatórios ou generalizados para qualquer
pesquisadores que desenvolveram o MIV, é
ambiente ou mesmo para todas as trilhas muito difícil estabelecer correlação direta
de uma mesma unidade. entre alterações populacionais e impactos
de visitação. Assim, além de ser difícil cole-
Como em qualquer contexto, indi- tar dados para indicadores biológicos de
cadores devem ser: forma confiável, a sua análise irá requerer
auxílio de especialistas.
❒ Claros, sendo apresentados com No entanto, sempre que possível
detalhes suficientes para não haver devem-se estabelecer alguns indicadores
dúvida sobre o que se quer moni- biológicos. Ao fazê-lo, além de observar se
torar. o mesmo está de acordo com o previsto nos
❒ Específicos, devendo tratar de ape- objetivos, outros fatores devem ser levados
nas um aspecto. em consideração:
❒ Práticos, buscando a maneira mais
simples e direta de acompanhar o ❒ Utilizar apenas espécies sobre as quais
aspecto desejado. haja conhecimento razoável em ecolo-
❒ Relevantes, tratando apenas dos gia e dinâmica de população, de prefe-
aspectos centrais apontados nos rência gerado em pesquisas no próprio
objetivos identificados ou definidos local. Se possível, deve haver alguma
no Passo 3, acima. pesquisa em andamento sobre a espé-
cie no local, de forma a poder contar
No estabelecimento dos indicadores de com a assessoria eventual de um
monitoramento, deve-se ter em mente que pesquisador especializado para a coleta
os dados serão coletados e analisados pelos e análise dos dados.
responsáveis pela gestão da área, e que o ❒ Apenas monitorar indicadores biológi-
323
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

cos caso os objetivos da propriedade e/ou ❒ Ao definir o indicador, a equipe deve se


do uso recreativo para aquele local deter- perguntar para que servirá a informação
minem explicitamente a espécie que se que este indicador gerará. Por mais
deseja estabelecer como indicador. interessante ou tentador que possa ser o
❒ Como os funcionários da propriedade acúmulo de informações sobre espécies
serão os responsáveis pela coleta, regis- de fauna ou flora, o objetivo do moni-
tro, armazenamento e análise inicial toramento é o manejo de impactos de
dos dados de monitoramento, é visitação e não a pesquisa científica.
necessário que os métodos e instrumen-
tos de coleta e registro sejam adequa- Os indicadores aos quais se deve dar
dos à capacidade do pessoal. Indi- preferência são os físicos e sociais. A seguir,
cadores que não possam ser acompa- são listadas as principais variáveis sociais,
nhados não devem ser utilizados. físicas e biológicas sobre as quais geral-
mente se elaboram indicadores:
1 QUADRO 3
VARIÁVEIS COMUMENTE UTILIZADAS PARA INDICADORES

9 SOCIAIS FÍSICOS BIOLÓGICOS


● Número de encontros com ● Compactação do solo ● Porcentagem de perda de
outros indivíduos por dia ● pH do solo cobertura do solo
● Número de encontros ● Quantidade de húmus ● Densidade de cobertura
por tipo de transporte no solo do solo
● Número de encontros ● Área de solo desnudado ● Diversidade de espécies
por tipo de atividade ● Área total de camping de plantas
realizada ● Tamanho dos restos ● Composição de espécies
● Número de encontros de fogueiras de plantas
por tamanho de grupo ● Erosão visível ● Proporção de espécies
● Número de encontros ● Drenagem do solo exóticas de plantas (com -
com outros grupos por dia ● Química do solo parado com as nativas)
● Percepção do visitante ● Profundidade ● Altura das plantas
quanto a “multidão” do húmus no solo ● Vigor de espécies de
● Número de encontros ● Número de locais plantas selecionadas
por local de encontro de fogueira ● Extensão da vegetação
● Número de reclamações ● Número de trilhas doente
feitas por visitantes paralelas ou duplicadas ● Extensão de árvores com
● Percepção do visitante (ou picadas) cicatrizes ou mutiladas
quanto a impacto ambiental ● Fauna e microflora ● Número de mudas no vas
● Quantidade do solo e árvores jovens
de lixo no local ● Raízes expostas
● Satisfação do visitante ● Abundância de espécies
● Relatos de visitantes de vida silvestre sele-
quanto a comportamento cionadas
indesejável de outros ● Presença / ausência de
visitantes espécies selecionadas
● Freqüência de avistamen-
to de fauna

324
Monitoramento e controle de impactos de visitação – GESTÃO INTEGRADA

Uma vez definidos os indicadores, a possíveis estejam além da capacidade


equipe deve descrever os meios de verifi- dos responsáveis ou então sejam muito
cação dos mesmos e a técnica a ser utiliza- dispendiosas.
da para a coleta de dados. O objetivo desta ❒ Refletir sobre a utilidade do indicador
etapa não é somente detalhar mais os indi- respondendo à seguinte pergunta:
cadores, mas sim: Quais resultados serão obtidos utilizan-
❒ Verificar a viabilidade de se utilizar o do-se este indicador, por meio desta
indicador. Talvez as únicas técnicas técnica de coleta?

EXEMPLO 3 – INDICADORES PARA MONITORAMENTO:


Projeto Veadeiros PARNAMAR/Noronha
1) Metragem da largura da trilha 1) Número médio de indivíduos por
O indicador será verificado com espécie (de aves) observados em dias de
a medição em trechos propensos a visitação comparado com dias sem
alagamentos, tomando três medidas visitação. O indicador será verificado
para cada local, sendo a segunda por meio do estabelecimento de área
medida 5 metros após a primeira controle com características similares
e a terceira 5 metros após a segunda. à área visitada.
2) Número de danos à infra-estrutura e/ou
9
2) Quantidade de lixo encontrado na trilha
O indicador será medido por meio da sinalização provocados por visitantes
coleta e contagem das unidades de em uso não adequado (depredação
lixo, verificando seu volume sem voluntária). O indicador será verificado
compactação em saco de lixo de 30 por meio de contagem absoluta
litros. O lixo encontrado deverá ser de ocorrências ao longo da trilha.
retirado do local sempre
que for observado.

Passo 5 – Determinar parâmetros de forte tendência dos membros da


impactos aceitáveis para equipe – especialmente de pesquisadores
cada indicador, incluindo especializados em flora ou fauna –
as unidades de medida
a colocar limites “zero”, ou então muito
O primeiro pressuposto básico no mane- próximos a isto. Esta atitude
jo de visitação é que, se há visitação, neces- é compreensível. Dizer que aceitamos
sariamente haverá alterações ou impactos
no ambiente. O segundo é que o ambiente a perda de “x” por cento na vegetação ao
natural possui capacidade relativa de recu- longo da trilha, ou a presença de “x” litros
perar-se (resiliência), incorporando alte- de lixo, ou alguma variação
rações, antrópicas ou não, desde que não no comportamento de determinada ave
ocorram perdas biológicas ou de processos
é uma ação contrária à que geralmente
ecológicos significativos.
os profissionais envolvidos com
NÃO EXISTE PARÂMETRO ACEITÁVEL a conservação ambiental realizam ao longo
DE MUDANÇA “ZERO”. de toda sua carreira. Caso verifique-se
algum impacto realmente inadmissível,
No momento de definir os parâmetros a área deverá ser fechada ou não deverá ser
aceitáveis de mudança, observa-se uma aberta à visitação recreativa.
325
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

Cabe aos manejadores da área determi- ❒ Estabelecer parâmetros com base no


nar, para os indicadores estabelecidos, os bom senso da equipe e testá-los por
limites ou parâmetros de impacto aceitáveis. meio de um monitoramento intensivo
Este é o ponto crucial do monitoramento durante os primeiros meses.
de impacto de visitação, onde mais se evi-
dencia a subjetividade da elaboração do
MIV. A definição de parâmetros aceitáveis de
impacto é sempre uma decisão de manejo, A aplicabilidade e efetividade
que envolve maior ou menor grau de subje- dos parâmetros definidos
tividade, dependendo dos conhecimentos deve ser avaliada no primeiro ciclo
acumulados pelos responsáveis e/ou equipe de monitoramento
sobre determinados fenômenos na área.
e avaliação dos impactos.
Deve-se evitar ao máximo a definição de
parâmetros aleatórios ou “chutados”.
Quando a equipe não estiver certa sobre os
níveis aceitáveis de mudança em determina- Para determinar os limites aceitáveis de
dos indicadores, deve: impacto, a equipe deve rever os objetivos
gerais e específicos da área e depois quan-
9 ❒ Consultar a bibliografia e estudos de tificar e/ou qualificar, dentro de um período
caso para observar os parâmetros uti- de tempo, cada indicador.
lizados em outras áreas. A quantificação deve ser feita segundo a
❒ Consultar um especialista na área mesma unidade apresentada no indicador
temática de que trata o indicador. (porcentagem, número absoluto, diferença
❒ Fazer pesquisa com visitantes para le- significativa, observações etc.).
vantar a opinião deles, especialmente Deve haver apenas um parâmetro por
no que se refere aos indicadores sociais. indicador:

EXEMPLO 4 – PARÂMETROS ACEITÁVEIS PARA IMPACTO:


Projeto Veadeiros PARNAMAR/Noronha
1) Metragem da largura da trilha 1) Número médio de indivíduos por
1,5m como trilha desenvolvida e até espécie (de aves) observados em dias
0,5m de cada lado com impactos de de visitação comparado com dias
visitação, desde que a cobertura do solo sem visitação.
(vegetação) não seja eliminada Ausência de diferença significativa
2) Quantidade de lixo encontrado na trilha entre médias de número de indivíduos
Até 30 litros por semestre por espécies principais entre áreas
(não compactado) visitadas e de controle.
2) Número de danos à infra-estrutura
e/ou sinalização provocados por
visitantes em uso não adequado
(depredação voluntária).
Até uma ocorrência por trimestre
no primeiro ano.

326
Monitoramento e controle de impactos de visitação – GESTÃO INTEGRADA

Passo 6 – Determinar necessário revê-la periodicamente de acordo


a capacidade de carga com as instruções do próprio método.
Também não é um número mágico, cujo
O passo seguinte é a determinação da cumprimento absoluto resolve e previne
capacidade de carga por área. Essa etapa irá todo e qualquer impacto inaceitável. Muitas
indicar a quantidade máxima de uso que vezes o tipo de uso e o comportamento do
uma trilha ou local visitado pode receber visitante são fatores que oferecem um risco
sem correr riscos elevados de gerar danos muito mais elevado do que a quantidade de
irreversíveis ou impactos inaceitáveis no visitantes. Soma-se a isto o fato de que o
ambiente natural. cálculo da capacidade de carga envolve a
O resultado da aplicação desta etapa do tomada de decisões de manejo, gerando
método é um número, que não se pretende assim um grau de subjetividade no resultado
estanque ou inquestionável. Como foi dito final, como no caso da definição de indi-
na introdução, a capacidade de carga de cadores e parâmetros.
uma trilha vai se alterando com as condições Assim, mesmo com o cumprimento rigo-
de infra-estrutura e gestão da área. É roso da capacidade de carga, é indispensável

9
CAPACIDADE DE CARGA DE VISITAÇÃO
EM ÁREAS DE MERGULHO NO PARQUE NACIONAL MARINHO DE FERNANDO
DE NORONHA – O PRINCÍPIO DO MANEJO CONSERVADOR DA VISITAÇÃO

urante a realização dos cálculos da capacidade de carga das áreas de mergulho, a


equipe técnica que estava desenvolvendo o MIV para o Parque observou ser bas-
tante difícil a adaptação do método para o ambiente submarino. A dificuldade foi
observada já na determinação da Capacidade de Carga Física, visto que o método, elabora-
do para trilhas no ambiente terrestre, considera apenas o solo e o ambiente às suas margens
como áreas possíveis de serem ocupadas pelos visitantes. No ambiente submarino, há tam-
bém a coluna da água. Uma segunda grande dificuldade encontrada foi a mobilidade dos
elementos no ambiente submarino, com presença abundante e diversificada de fauna.
Terceiro, como o ambiente marinho no Parque é ainda menos conhecido do que o terrestre,
mesmo a consulta aos especialistas não conseguiu resolver as dificuldades anteriores.
Finalmente, por determinação do diagnóstico e planejamento do uso recreativo no Parque,
as áreas de mergulho não possuem trilhas demarcadas.
Estas quatro características somadas levaram a equipe a adotar o princípio do manejo con-
servador da visitação, segundo o qual, em não se podendo estabelecer a capacidade de carga,
deve-se determinar um limite máximo de visitação bastante restritivo.
Assim, foi recomendado que os níveis de uso fossem pré-determinados pelas seguintes
ações de manejo: 1) limitação do número de mergulhadores presentes a qualquer momento
em um local de mergulho autônomo (com garrafa) por meio de poitas (no máximo duas por
área, com capacidade para 2 barcos cada); 2) mergulho livre (snorkel), na maioria dos locais,
feito com acompanhamento de guia, e sinalização de que há mergulhadores, por meio de
bóia. Também foi limitado o número de mergulhadores por guia (cinco).
O sistema de monitoramento deverá gerar dados que possibilitem averiguar a efetividade
dessas medidas para manter os níveis de impacto dentro de parâmetros aceitáveis e conser-
vadores.
327
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

que os responsáveis realizem ao menos um ❒ O mesmo raciocínio se aplica ao uso


monitoramento simplificado de impactos. das trilhas pelos responsáveis, por indi-
A determinação da capacidade de carga víduos a trabalho ou isentos de paga-
tem três funções importantes: mento: do ponto de vista da capacidade
de carga, todos os eventos são consi-
❒ Quando não bem manejada, a intensi- derados visitas.
dade de uso é um fator que oferece
riscos de alterações aceleradas no ambi- a) Determinação da Capacidade
ente visitado, especialmente na fauna. de Carga Física (CCF).
Portanto, é mais um fator que deve ser A CCF estima a capacidade máxima de
monitorado pelos responsáveis. uma trilha em receber visitas, baseado no seu
❒ Para as propriedades com baixa capaci- comprimento, distância entre grupos e no pe-
dade de gestão, a capacidade de carga ríodo em que a trilha fica aberta à visitação.
é um instrumento forte de controle de
impactos, apesar de não eliminar a A CCF é calculada por meio da fórmula:
necessidade do monitoramento.
❒ A capacidade de carga é um instrumen- CCF = S x T
to chave para que proprietários de áreas s.v. t.v.
9 com trilhas possam avaliar a viabilidade
econômica de sua operação. Onde:

O método adotado para determinação da Sa A superfície total da trilha, ou seja,


capacidade de carga foi originalmente desen- a distância total entre o começo e
volvido para aplicação em trilhas no ambi- o fim da trilha.
ente terrestre. Assim, sua aplicação em outros s.v.a A superfície ocupada por um visi-
ambientes exige adaptação, e pode nem ser tante (1m linear é o padrão mais
viável. No exemplo abaixo, são apresentados comumente empregado, indepen-
os resultados da tentativa de aplicação do dente da real largura da trilha),
método em um ambiente marinho. Há tam- adicionado do espaço ideal entre
bém experiências de aplicação em áreas de grupos de 10 pessoas, de forma
praia, mirantes e áreas de descanso – o exem- que um grupo não interfira na
plo mais completo é o do Parque Nacional de experiência do outro com ruídos
Galápagos, no Equador. A equipe deverá ou visualização ao longo da trilha.
adequar o método quando necessário. O intervalo entre grupos varia de
A capacidade de carga é determinada em acordo com o tamanho do grupo e
três etapas, ao final das quais chega-se ao com os objetivos relacionados à
número máximo de visitas a uma trilha por experiência do visitante em cada
dia. Uma quarta etapa refere-se à definição trilha. Por exemplo, em uma trilha
das formas de manejo desse número. Duas onde pode haver alguns encontros
observações importantes sobre o entendi- entre grupos, mas onde espera-se
mento da capacidade de carga: que seja raro um grupo ouvir a
conversa do outro, em geral esti-
❒ A capacidade de carga é definida com ma-se que a distância mínima
base no número de visitas e não de visi- entre grupos de 10 pessoas deve
tantes. Um mesmo visitante pode ser de 100m. Assim, cada pessoa
realizar mais de uma visita por dia a ocupa 1m linear adicionado de 10
uma mesma trilha. O que importa é metros referentes a 100m do grupo
quantas vezes ela foi percorrida, e não dividido pelo número de pessoas
quantas pessoas a percorreram. no grupo, ou seja, 10. Em outras
328
Monitoramento e controle de impactos de visitação – GESTÃO INTEGRADA

palavras, cada visitante ocupa 11 acordo com a experiência dos


metros lineares de trilha. mesmos no local. Geralmente, em
Ta O tempo total em que a área está uma área já utilizada para uso
aberta para visitação pública. Por recreativo há algum tempo, os
exemplo, se uma UC está aberta gestores (ou guias do local) sabem
das 8:00 às 16:00, o tempo total é dizer qual é a média aproximada
de 8 horas. Ou então, em uma de tempo que a maioria das pes-
RPPN (Reserva Particular do soas leva para percorrer a trilha.
Patrimônio Natural) o horário de
funcionamento para o público é Deve-se lembrar que a estimativa
também no período de 8:00 às considera a velocidade do público preferen-
16:00, mas há um fechamento de cial da trilha. Ou seja, se a trilha foi dese-
1 hora para almoço, das 12:00 às nhada para atender ao público de terceira
13:00, o tempo total “T” é de 7 idade, deve-se estimar a média de tempo
horas. que este público leva para percorrer a trilha.
t.v.a O tempo necessário para percorrer Por outro lado, uma trilha voltada para o
a trilha (no caso de trilhas de ida e público mais aventureiro, com muitos tre-
volta, conta-se apenas o trecho de chos difíceis ou desafiadores, deve consi-
ida porque está-se contando a derar a média de tempo que o público aven- 9
superfície total da trilha apenas tureiro leva para percorrer a trilha, mesmo
uma vez). Assim como no caso da que o público de terceira idade também uti-
s.v. (superfície ocupada pelo visi- lize a trilha. Deve-se levar em conta as pa-
tante), esta medida deverá ser esti- radas necessárias para a interpretação ambi-
mada pelos gestores da área, de ental, atividades específicas ou descanso.

EXEMPLO 5 – CÁLCULO DE CAPACIDADE DE CARGA FÍSICA


Projeto Veadeiros PARNAMAR/Noronha
1) S è 1.202m 1) S è 2.843m
2) s.v. è 6m (1m linear por pessoa mais 2) s.v. è 6m (1m linear por pessoa mais
5m referentes ao espaço entre grupos 5m referentes ao espaço entre grupos
de 50m para grupos de 10 pessoas). de 50m para grupos de 10 pessoas)
3) T è 10 hs (das 8:00 às 18:00) 3) T è 10 hs (das 8:00 às 18:00)
4) t.v è 3 hs (a trilha é curta e para todos 4) t.v è2,5 hs (a trilha foi desenhada
os públicos, mas os visitantes param para todos os tipos de público)
em média por 2 horas nas áreas de
banho ao longo da trilha).

CCF = 666 visitas por dia CCF = 1.895 visitas por dia

b) Determinação da Capacidade Onde:


de Carga Real (CCR).
A CCR reduz a CCF com base em diversos FL1 a FLn a Fatores limitantes da
fatores limitantes do ambiente ou específi- capacidade de carga física, ou se-
cos de cada área. ja, fatores que limitarão o núme-
A CCR é calculada da seguinte forma: ro de pessoas que terão acesso
a determinada trilha. Esses fato-
CCR = CCF x 100 - FL1 x 100 - FL2 x 100 - FLn res consideram o ambiente visi-
100 100 100 tado e não o visitante em si.
329
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

Podem ser: biofísicos (vulnerabilidade a pode tornar-se tão reduzida que será inviá-
erosão de acordo com declividade e tipo de vel permitir a visitação. Por outro lado, há
solo; distúrbio na fauna; dificuldade de mesmo situações de ambientes demasiada-
acesso etc.), ambientais (precipitação, mente frágeis nos quais a visitação não deve
intensidade de sol, marés etc.), e de mane- ser permitida.
jo (fechamentos para manutenção, entre Para lidar com essa questão, a equipe
outros). deve selecionar apenas aqueles fatores que
Calculam-se os fatores limitantes para cada realmente implicam uma redução da visi-
trilha, de acordo com a seguinte fórmula: tação, seja por exigirem o fechamento per-
iódico (manutenção, épocas de reprodução
FL1 = q.l. x 100 de alguma espécie muito sensível e ameaça-
Q.T. da, risco de enxurrada etc.), por tornarem a
visitação impossível (alagamento da trilha,
chuvas torrenciais, calor de mais de 40º
Onde: etc.), ou por dificultarem o acesso (alta
declividade, locais de segurança limitada
q.l. a Quantidade limitante do fator etc.). Geralmente, há entre 4 e 7 fatores li-
considerado (ex.: horas de sol mitantes.
9 intenso por mês por ano; metros A capacidade de carga real pode ser
de trilha em alta declividade com calculada para diferentes períodos do ano.
solo argiloso; período de repro- Esta é uma importante decisão de manejo
dução de pássaros etc.). que a equipe que desenvolve o MIV de
uma UC ou propriedade deverá tomar.
Q.T. a Quantidade total em que se con- Acima recomendou-se o uso do número de
sidera o fator limitante (ex.: total dias por ano como a base do cálculo da
de horas por mês e ano do par- CCR. Isto quer dizer que apesar de alguns
que aberto; total de metros da fatores limitantes serem condicionados a
trilha; total de meses etc.). A determinados períodos do ano (por exem-
mesma unidade de medida uti- plo, mêses de reprodução de fauna, perío-
lizada para estimar a quantidade dos de inundação, etc.) ou do dia (por
limitante deve ser utilizada para exemplo, horas do dia em que considera-se
a quantidade total. No caso de a intensidade do sol muito grande para vis-
medidas de tempo, tanto para a itação), o cálculo da CCR representa a
quantidade limitante quanto para média para todo o ano. Assim, deve-se
a quantidade total, utiliza-se, entender a capacidade de carga como um
preferencialmente, o número de indicador para os gestores da UC ou pro-
horas em que a área visitada está priedade do nível de visitação que a área
aberta durante o ano. pode receber, uma vez considerados os
fatores que reduzirão em alguns períodos a
O resultado é a porcentagem em que visitação recreativa.
aquele fator irá diminuir a capacidade de Esta é a forma mais fácil de aplicação e
carga física. Ao se considerar esta porcen- controle da CCR. Porém, a CCR pode ser
tagem na fórmula da CCR, observa-se que calculada de duas outras formas, de acordo
não será calculada a limitação da CCF, mas com a gravidade do fator limitante: a CCR
a quantidade não limitante. pode ser baseada no fechamento total da
Todo fator limitante incluído no cálculo, área por certos períodos de tempo, ou então
necessariamente reduz a CCF. Assim, caso a pode ser diferenciada para períodos dife-
equipe elabore uma grande quantidade de rentes do ano.
fatores limitantes, a capacidade de carga
330
Monitoramento e controle de impactos de visitação – GESTÃO INTEGRADA

1 QUADRO 4
COMO CALCULAR O NÍVEL DE VULNERABILIDADE
À EROSÃO E TRANSFORMÁ-LA EM FATOR LIMITANTE.
Uma trilha se torna mais ou menos suscetível à erosão de acordo com o tipo de solo, a
declividade do terreno e o tipo de atividade que nela se desenvolve. Para o caso de cami-
nhada, o quadro a seguir mostra o nível de vulnerabilidade considerando a relação entre
tipo de solo e declividade:

Tipo Declividade (Dec)


de Solo Dec < 10% 10% < Dec < 20% 20% < Dec
Pedregoso Baixa Baixa Alta
Argiloso Baixa Média Alta
Areno-argiloso Média Alta Alta

Usualmente, são considerados limitantes os trechos de média e alta vulnerabilidade.


Deve-se consultar o formulário de levantamento de trilha e verificar quantos trechos se
encaixam nesta categoria. A soma de todos eles será equivalente à quantidade limitante (q.l.). 9
Em alguns casos onde há curtos trechos de alta vulnerabilidade, que no entanto são sig-
nificativamente limitantes, a equipe pode optar por multiplicá-lo por um fator de 2 ou 3. Por
exemplo: um trecho de 100m muito vulnerável, dentro de uma trilha de 2.000m, seria
muito pouco representativo; para melhor representar o potencial limitante deste trecho na
CCR, pode-se multiplicá-lo por 2, considerando-o um q.l. de 200m. Esta é mais uma
decisão de manejo da equipe responsável.
A mesma relação pode ser utilizada para definir nível de dificuldade da trilha:
a declividade < 10% è sem dificuldade
a 10% £ declividade < 20% è dificuldade mediana
a declividade ≥ 20% è grande dificuldade

EXEMPLO 6 – CÁLCULO DE CAPACIDADE DE CARGA REAL


Projeto Veadeiros PARNAMAR/Noronha
1) Cálculo do fator limitante para 1) Cálculo do fator limitante para fauna
dificuldade de acesso: (período de reprodução de aves)
Q.T. = 1.202m Q.T. è 365 dias
q.l. = 210,42m q.l. è 60 dias
FL = 17,30% FL è 16,44%

2) Fatores limitantes e CCR: 2) Fatores limitantes e CCR:


Intensidade do sol = 7,39% Intensidade do sol è 17,26%
Vulnerabilidade à erosão = 11,10% Vulnerabilidade à erosão è 21,17%
Dificuldade de acesso = 17,30% Dificuldade de acesso è 4,29%
Intensidade de chuva = 16,43% Distúrbio na fauna è 16,44%
Fechamento para manutenção = 3,28% Fechamento para manutenção è 3,29%

CCR = 666 x 0,92 x 0,88 x 0,82 x 0,83 x CCR = 1.895 x 0,83 x 0,79 x 0,96 x 0,84 x
0,96 = 352 visitas por dia 0,97 è 972 visitas por dia
331
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

O cálculo da CCR tendo por base o da para o período de chuvas intensas. A


fechamento completo da área em determi- opção por esta estratégia é especialmente
nados períodos deve ser adotado quando a recomendada para os casos das UCs ou pro-
equipe que desenvolve o MIV verificar um priedades que não terão condições de
fator tão limitante em determinado período desenvolver mecanismos de monitoramento
que a melhor opção para a proteção da área de impactos (ou seja, uma matriz de moni-
é a não utilização para a visitação recreati- toramento). Ademais, para que a capaci-
va. Neste caso, o cálculo dos fatores limi- dade de carga possa ser utilizada como
tantes que envolvem unidades de tempo em principal instrumento de controle da visi-
dias ou meses passam a ser feitos com base tação de uma determinada área, devem-se
no período em que a UC ou propriedade desenvolver mecanismos para o efetivo con-
estão abertos à visitação recreativa. Por trole de acesso às áreas (por exemplo, entra-
exemplo, no Parque de Noronha, conside- da numerada por dia, funcionário disponí-
rou-se que o período de reprodução de duas vel para controle de entrada, cercamento da
espécies de aves, abundantes ao longo da área para impedir acesso por áreas não con-
Trilha dos Golfinhos, representava um fator troladas etc.).
limitante de visitação na trilha durante dois Caso a equipe que desenvolve o MIV
meses. A equipe que desenvolvia o MIV optar pelo cálculo da CCR por períodos dife-
9 considerou a possibilidade de fechamento rentes no ano, a Capacidade de Carga Efetiva
total da trilha durante estes dois meses. deverá ser calculada para cada período.
Neste caso, a base de cálculo para a CCR
anual da Trilha dos Golfinhos seria de 10 c) Determinação da Capacidade
meses ou 305 dias, e a trilha passaria a ser de Carga Efetiva (CCE).
interditada durante o período. Entretanto, a Esta etapa considera que uma área tem
especialista em aves que integrava a equipe outros objetivos e atividades além da visi-
fez alguns testes ao longo da trilha que não tação pública e que, para o cumprimento de
indicaram um nível significante de pertur- todos os objetivos e atividades com igual
bação das aves em decorrência da visitação. nível de qualidade, são necessários pessoal,
A isto somou-se o conhecimento dos infra-estrutura e equipamentos passíveis de
gestores da área, que testemunharam não serem contabilizados.
haver diminuição aparente na população Os responsáveis por uma área não
das aves ou no nível de anidação ao longo devem concentrar-se exclusivamente na
da trilha desde que o Parque começou a operação do ecoturismo em detrimento dos
receber visitantes (1988), observação par- demais objetivos da UC ou propriedade.
cialmente reforçada pelos resultados de le- Observa-se que, geralmente, os demais
vantamentos científicos da população e objetivos são gravemente afetados quando
comportamento das aves no arquipélago de uma operação rentável de visitação inicia-
Fernando de Noronha. Portanto, a equipe se, e todos os recursos humanos, físicos e
do MIV optou por manter a trilha aberta financeiros são consumidos ou orientados
todo o ano, utilizando a CCR média para o para o manejo da visitação. Um dos princí-
ano todo, sendo que a matriz de monitora- pios do ecoturismo é que o mesmo não seja
mento incorporou medidas específicas para a única atividade econômica de uma pro-
acompanhar e controlar possíveis impactos priedade, mas uma alternativa adicional na
de visitação na reprodução das aves. busca de estabilidade econômica e finan-
Outra opção para o cálculo da CCR é a ceira para a gestão sustentável da área.
adoção de níveis diferenciados por períodos Calcula-se a CCE de acordo com a
do ano. Por exemplo, uma propriedade de seguinte fórmula:
solo e topografia muito vulneráveis à
erosão, poderia adotar uma CCR diferencia-
332
Monitoramento e controle de impactos de visitação – GESTÃO INTEGRADA

CCE = CCR x CM A multiplicação por 100 aqui visa apre-


100 sentar um resultado em porcentagem. Ou
seja, o resultado final é a capacidade de
manejo como uma porcentagem da capaci-
Onde: dade adequada.
No caso de um sistema de trilhas em um
CM a Capacidade de manejo da área. determinada área, e uma vez que se deter-
Este número é encontrado por mine a CCE de cada trilha, é necessária uma
meio da elaboração de duas análise da capacidade de controle dos
listagens: primeiramente, lista- responsáveis sobre o acesso a este sistema.
gem de todos os recursos hu- Ou seja, todas as trilhas a que se tem aces-
manos, de equipamentos e de so através de uma mesma entrada devem ser
infra-estrutura necessários para a monitoradas por uma só contagem. Isso
implementação de toda a área porque uma vez que o visitante tenha pas-
protegida. A seguir, contam-se os sado pelo ponto de controle da área, não se
recursos disponíveis de acordo pode impedir que ele visite todas as trilhas
com a lista. A CM será igual à daquele sistema.
porcentagem da capacidade Pode-se pesquisar junto aos visitantes, na
instalada em relação à capaci- entrada e/ou saída da área, quais trilhas 9
dade adequada: foram visitadas, mas até que se tenha segu-
rança de que esses dados são confiáveis,
Capacidade Instalada (CI) deve-se considerar a medida conservadora,
CM = x 100 tendo como limite de uso a CCE mais restri-
Capacidade Adequada (CA) tiva de todas as trilhas.

EXEMPLO 7 – CÁLCULO DE CAPACIDADE DE CARGA EFETIVA


Projeto Veadeiros PARNAMAR/Noronha

1) Pessoal è CA = 7; CI = 6 1) Pessoal è CA = 26; CI = 18


Instalações è CA = 5; CI = 3 Instalações è CA = 8; CI = 2
Equipamentos è CA = 15; CI = 10 Equipamentos è CA = 151; CI = 71

Total : CA = 27; CI = 19 Total = CA = 197; CI = 91


CM = 70,37% CM = 46,19%
CCE da trilha = 247 visitas por dia CCE da trilha = 449 visitas por dia

EXEMPLO 8 – CÁLCULO DE CAPACIDADE DE CARGA EFETIVA POR SETOR


Projeto Veadeiros PARNAMAR/Noronha

Por ser apenas uma trilha, não há A Trilha dos Golfinhos faz parte
alterações na CCE já mencionada de 247 de um setor que possui 3 outras trilhas.
visitas por dia. A seguir a CCE de todas elas:
è Golfinhos = 449 visitas por dia
è Farol = 159 visitas por dia
è Baía dos Porcos = 87 visitas por dia
è Capim-açu = 192 visitas por dia
333
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

O setor Golfinhos, como é chamado, trolado para que o evento não se repita.
possui uma capacidade de carga de 87 visi- Nesse caso, é indispensável intensificar o
tas por dia. Em outras palavras, mesmo que monitoramento e a avaliação de impactos.
o visitante queira visitar apenas a Trilha dos A terceira maneira de utilizar a CCE refe-
Golfinhos, que possui capacidade de carga re-se aos casos onde os responsáveis
efetiva de 449 visitas ao dia, é impossível optaram pela determinação de CCR diferen-
impedir que ele visite também a trilha da ciada de acordo com o período do ano.
Baía dos Porcos uma vez que ele tenha Neste caso, a CCE deverá ser calculada para
entrado no Setor Golfinhos. Portanto, para cada período escolhido. Uma vez que isto
proteger adequadamente a trilha da Baía tenha sido feito, os responsáveis ainda deve-
dos Porcos, é necessário controlar o acesso rão determinar se o controle será feito diária
a todas as outras trilhas no nível dela. ou mensalmente dentro de cada período.
Em resumo, a ultrapassagem dos níveis
d) Como utilizar o resultado de uso estabelecidos deve ser encarada
da capacidade de carga pelos responsáveis como um alerta de que
Há três formas de utilizar o resultado da podem estar ocorrendo mudanças no ambi-
capacidade de carga. A primeira é o con- ente natural e que medidas corretivas de
trole diário de uso da área. Isso só é possível manejo são necessárias. O desenvolvimento
9 para aquelas áreas que possuem um con- da matriz de monitoramento vem comple-
trole de ingressos numerados, com registro mentar este parâmetro geral de alerta por
diário de quantos foram vendidos. meio da identificação de mudanças – que
A segunda é o controle mensal de aces- podem estar em níveis aceitáveis ou não –
so. Nesse caso, o controle de uso é cumula- nos indicadores adotados no Passo 4
tivo para o mês, podendo até mesmo, em (Determinar indicadores para monitoramen-
algumas ocasiões (dias), exceder o limite to de cada trilha).
estabelecido pela CCE diária, desde que o
limite da CCR mensal não seja excedido. A Passo 7 – Elaborar a Matriz
vantagem de fazer este tipo de controle é de Monitoramento
que relativizam-se as diferenças entre visi-
tação em dias de semana e fins de semana. A principal função da matriz é a organi-
Por outro lado, caso a visitação de fim de zação visual de todas as informações sobre
semana ou de feriados seja muito maior do a área de visitação. Em um só instrumento,
que aquela dos dias de semana, freqüente- pode-se facilmente verificar os objetivos
mente ultrapassando a CCE diária, deve-se gerais e específicos da área, indicadores,
determinar um monitoramento intensivo de parâmetros e informações sobre a coleta e
impactos e opinião de visitantes durante os análise de dados. Para cada trilha ou área de
dias de pico. É possível que seja necessário visitação, recomenda-se que seja elaborada
restringir a visitação durante esses períodos. uma matriz própria.
Em ambos os casos, uma vez que se Toda matriz de monitoramento de
comece a monitorar o número de visitas, impactos deve ter, pelo menos, os seguintes
caso se observe ligeiro excesso em compara- campos referentes à etapa de planejamento:
ção à CCE, antes de tomar decisões de mane-
jo restritivas do número de visitas é preciso ❒ Objetivos gerais.
acumular resultados ao menos durante um ❒ Objetivos específicos da trilha ou
período de duas a quatro semanas. área de visitação.
O limite estabelecido para a Capacidade ❒ Indicadores.
de Carga Real Diária da trilha, em hipótese ❒ Parâmetros aceitáveis de impacto.
alguma pode ser ultrapassado. Isso ocorren- ❒ CCR e CCE do ponto de controle
do, o acesso deve ser imediatamente con- para a trilha.
334
Monitoramento e controle de impactos de visitação – GESTÃO INTEGRADA

Outros campos são flexíveis, de acordo cadores durante o ano, deve-se atentar
com especificidades do local e da intensi- para mudanças que os indicadores, indi-
dade de monitoramento. Especialmente vidualmente, não captam:
flexível é a forma de nomear os campos, 2 Avaliar a utilidade dos indicadores
que deve ser adequada à compreensão dos que estão sendo monitorados e a
responsáveis pelo monitoramento. Geral- necessidade de se criar novos.
mente, a matriz de monitoramento possui 2 Rever a Capacidade de Carga das
também os seguintes campos: trilhas em áreas visitadas.
2 Rever os objetivos e a possibilidade
❒ Localização de pontos de monitora- de abertura ou fechamento de áreas
mento (pode ser identificado em seg- de visitação.
mentos da trilha ou na trilha inteira).
❒ Valor de início de monitoramento. Para a avaliação anual deve-se reunir o
❒ Nº da ficha de coleta (que é levada maior número possível de pessoas envolvidas
para o campo). com o manejo da área. Também recomenda-
❒ Nº da ficha de registro dos dados se que sejam convidados técnicos envolvidos
(onde se registram as informações na elaboração inicial do MIV e especialistas
trazidas nas fichas de coleta). em áreas relevantes para a área.
❒ Responsáveis envolvidos (de prefe- Geralmente a matriz é organizada como 9
rência nomear a(s) pessoa(s), ao uma tabela, onde cada campo é uma colu-
invés de apontar um segmento ou na. Como é impossível organizar a tabela
departamento). para que todas as colunas fiquem lado a
❒ Freqüência mínima de coleta (há lado, recomenda-se que seja montada uma
indicadores cujos dados devem ser tabela para os campos de planejamento e
coletados todas as vezes que os outra para os campos de monitoramento.
responsáveis visitam a área – é o A seguir, as tabelas elaboradas para o
caso do lixo; há outros que devem Parque Nacional Marinho de Fernando de
ter um período mínimo de coleta – Noronha. No Anexo deste capítulo é apre-
geralmente trimestral; entretanto, sentada na íntegra a Matriz de Monito-
todos eles podem ser coletados a ramento da Trilha dos Golfinhos.
qualquer momento se os respon- A matriz de monitoramento tem como
sáveis identificarem necessidade complemento indispensável os instrumentos
para tanto). de coleta e compilação de dados. Antes que
❒ Data de análise para ações de mane- se possa iniciar o monitoramento, estes
jo (ou de avaliação dos dados). instrumentos, geralmente chamados de
❒ Nº do documento com decisões de fichas, devem ser esboçados pela equipe
manejo. que desenvolve o MIV, com base nos indi-
cadores e parâmetros definidos.
A avaliação deve ser feita em duas Para elaborar as fichas (e também ajustá-
ocasiões: las, trabalho descrito no próximo passo),
deve-se estar atento para os seguinte aspectos:
a) Todas as vezes que, ao voltar do campo
e registrar os dados, os responsáveis a) O objetivo das fichas de coleta é levan-
observarem que algum parâmetro tar os dados especificamente apontados
aceitável de impacto foi extrapolado. nos indicadores: nem mais, nem menos!
b) Uma vez por ano, mesmo que os Como são preparadas separadamente, há
parâmetros individualmente não tenham uma tendência em incluir mais um ou
sido extrapolados. Nessa ocasião, outro detalhe nas fichas, o que pode
avaliando os dados de todos os indi- resultar em grande quantidade adicional
335
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

TABELA 1
MATRIZ DE MONITORAMENTO – PARTE 1
(objetivos, indicadores e parâmetros de impacto aceitáveis)

Identificação da trilha ou área de visitação:


CCR da trilha: CCE da trilha: CCR do ponto CCE do ponto
de controle: de controle:
Objetivos específicos de visitação na trilha:
G1 -
G2 -
Indicadores de verificação: Parâmetros de mudança aceitável:
G1.1 - G1.1.1 -
G1.2 - G1.2.1 -
G2.1 - G2.1.1 -
G2.2 - G2.2.1 -
9

TABELA 2
MATRIZ DE MONITORAMENTO – Parte 2
(Orientação para coleta e compilação dos dados)

Identificação da trilha ou área de visitação:


Monitoramento Avaliação
Nº de ficha Freqüência
Nº de ficha Respon- Nº do
Indicador Localização Valor de de coleta de
de registro sáveis Data doctº de
do ponto início de dados co leta
registro
G.1.1
G.1.2
G.2.1
G.2.2

de trabalho para coletar informações que ponsáveis. Por outro lado, as fichas de-
na prática não têm utilidade dentro da vem ser claras, de fácil leitura e interpre-
matriz de monitoramento. tação.
b) Deve-se aglutinar o máximo possível de c) As instruções de como coletar os dados
indicadores em uma mesma ficha. Uma devem ser inseridas na própria ficha de
quantidade muito grande de fichas difi- coleta ou em uma ficha exclusiva para
culta o trabalho de campo e gera tal, que possa ser levada a campo. A
impacto psicológico negativo nos res- segunda opção é mais recomendável,
336
Monitoramento e controle de impactos de visitação – GESTÃO INTEGRADA

porque, com a prática daqueles que vão EXEMPLOS DE FICHAS


coletar os dados, a ficha de instruções DE COLETA E COMPILAÇÃO
torna-se dispensável.
d) Há situações em que se pode deixar vários A seguir são apresentadas uma ficha de
campos para serem preenchidos com texto coleta e uma de compilação para cada um
durante a coleta. Entretanto, deve-se evitar dos projetos que exemplificam este capítu-
ao máximo a elaboração de fichas cujos lo. Essas fichas foram adequadas para o uso
dados dependam inteiramente da opinião exclusivo nesses projetos (esse assunto será
(observação) de quem faz a coleta, o que abordado no próximo passo). Devem ser uti-
eleva bastante o grau de subjetividade. lizadas como ponto de partida para que a
Deve-se eliminar, ao máximo e sempre que equipe elabore os materiais para a área
possível, a necessidade de escrever, privile- específica. Não se recomenda o uso direto,
giando-se números ou marcação de itens. sem revisão, de nenhuma das fichas.

EXEMPLO 9 – FICHA DE COLETA – PROJETO VEADEIROS


Ficha de Coleta de dados
Trilha: Responsável: 9
Data: Início do monitoramento:
Identifi-
Estaca Meio de
(i) Ponto Indicador cação da Medida Observações
nº coleta
medida

EXEMPLO 10 – FICHA DE COMPILAÇÃO – PROJETO VEADEIROS


Ficha de compilação de dados de monitoramento por indicador
Trilha: Indicador:
Responsável: Data:
Início do monitoramento:

Estaca
(i) Ponto __/__/__ __/__/__ __/__/__ __/__/__ __/__/__ __/__/__

337
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

EXEMPLO 11 – FICHA DE COLETA - PARNAMAR NORONHA

Ficha de coleta Formulário B _____


Nome do responsável:
Marque o problema específico
Nome da Localização
Data Dano de Comentários
Trilha do problema Vandalismo Picadas
animais

9
EXEMPLO 12 – FICHA DE COMPILAÇÃO - PARNAMAR NORONHA
Trilha:
Data do início do uso da ficha: Data de último registro nesta ficha:
nº de nº de nº de
casos em Obs. casos em casos em
Indicador Obs. Obs.
(*)
----/----/---- ----/----/---- ----/----/----
Limpeza
Conserto
Drenagem
Vandalismo
Estragos feitos
por animais

Picadas feitas por


visitantes

(*) Nesta coluna você deve indicar se na ficha de coleta foi feita alguma observação para este dia. Coloque “S”
para sim e “N” para não. Se colocar “S”, anote também o número do formulário de coleta (no canto direito, na
parte superior da ficha de coleta há um código de letra e número).

No Projeto Veadeiros, como a equipe de indicadores, e várias fichas descrevendo os


coleta de dados era de técnicos com treina- pontos ou tipos de coleta.
mento específico, foi adotada apenas uma A seguir uma das fichas com instruções
ficha de coleta, adequada para todos os de coleta:
338
Monitoramento e controle de impactos de visitação – GESTÃO INTEGRADA

1 QUADRO 5
FICHA DE DESCRIÇÃO DO PONTO DE MONITORAMENTO –
PROJETO VEADEIROS
PONTO: Início do monitoramento:
Indicadores monitorados:
Trilha:
Objetivo de monitoramento:
Número da estaca (localização do ponto):
Outras informações:

Frequência de monitoramento: Frequência de avaliação:

Meio Identificação Medida Instruções de posicionamento 9


de coleta da medida inicial para a medição

Instruções para usar a ficha 4 Marque com um “x” o tipo de problema


e coletar os dados: que você encontrou (vandalismo - de
sinalização, de infra-estrutura, de
A mesma ficha pode ser usada para todas árvores, pedras, etc.; problemas de
as trilhas e para mais de um dia. Leve-a danos de animais – pisoteio das trilhas,
junto com você todos os dias que for para as destruição de infra-estrutura ou de mar -
trilhas. cação de trilhas, etc.; picadas – trilhas ou
caminhos não planejados abertos pelos
1 Anote o seu nome no espaço reservado visitantes).
para “nome do responsável”.
5 Marque mais de uma coluna se houver
2 Ao encontrar problemas em alguma tri - mais de um problema no mesmo local.
lha, anote o nome da trilha e a data das
anotações nas colunas específicas. 6 O espaço para comentários serve para
você anotar alguma observação especial.
3 Anote onde o problema está. Procure a
marcação das estacas em metros. 7 Organize com seus colegas o trabalho de
manutenção necessário para corrigir os
problemas observados!

339
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

1 QUADRO 6
QUANDO E COMO APRESENTAR A MATRIZ DE MONITORAMENTO
E OS MATERIAIS DE COLETA E REGISTRO PARA OS RESPONSÁVEIS?

A equipe deve preparar-se para enfrentar o espanto e receio dos responsáveis quando os
mesmos virem estes materiais. Primeiro, eles imediatamente pensarão que o monitoramen-
to representará grande quantidade de trabalho extra, necessariamente uma sobrecarga para
o pessoal. Também é comum pensarem que será muito complicado fazer o trabalho, tendo
que preencher, ler e entender “aquele monte de fichas!”.
A esse receio, justificado em vista do tipo e quantidade de materiais que compõem este
e qualquer sistema de monitoramento, soma-se o fato de que, a não ser em raras ocasiões,
os responsáveis não vêem a utilidade de “fazer todo este trabalho!”. Quando muito, há uma
compreensão geral de que é preciso controlar os impactos inaceitáveis.
Recomenda-se, então, que se evite tentar explicar a matriz de monitoramento no abstra-
to. Sequer é recomendável que se mostre aos responsáveis todas as fichas iniciais pensadas
pela equipe que desenvolve o MIV antes de ter os primeiros dados concretos. Ao invés
disso, cada material deve ser apresentado na ocasião da primeira coleta de dados.
9 Especialmente importante é realizar a primeira reunião de avaliação logo após passar os
dados das fichas de coleta para as fichas de registro. Assim, os gestores da área poderão ver
na prática como o processo de monitoramento relaciona-se com o trabalho deles e, mais
importante, qual a sua utilidade.
Mostrar como na prática o monitoramento auxilia e facilita o trabalho de manutenção
da área é de responsabilidade da equipe que desenvolve o MIV.

Passo 8 – Coletar dados iniciais para chegar às fichas adequadas, a equipe do MIV
o monitoramento de todos deve adotar uma postura flexível quanto ao
os indicadores, ajustar os formato e linguagem utilizadas. Somente
instrumentos de coleta e depois de uma série de aplicações práticas e
compilação de dados e de pelo menos um evento de avaliação será
realizar a primeira etapa de possível considerar que as fichas estão prontas.
treinamento dos responsáveis A coleta inicial dos dados é feita por
membros da equipe do MIV juntamente com
A coleta de dados iniciais para o monitora- os indivíduos que serão responsáveis pela
mento é também a ocasião em que se faz a realização do monitoramento. Este é o início
adequação das fichas de coleta e compilação. efetivo do monitoramento, quando inicia-se
Este passo exige um trabalho muito próximo o levantamento de informações seguindo a
entre a equipe que desenvolve o MIV e os matriz de monitoramento. Assim, deve-se
responsáveis pela coleta e compilação dos proceder à coleta de dados da forma como se
dados. As fichas que foram esboçadas pela deverá fazer uma vez que a equipe do MIV
equipe do MIV visando apenas a geração dos tenha terminado seu trabalho. Ou seja, neste
dados necessários para o indicador, de forma passo inicia-se o treinamento prático daque-
confiável e clara, agora deverão ser ajustadas les que assumirão a responsabilidade de
para que possam ser compreendidas por aque- fazer o monitoramento da área.
les que as preencherão.
Um aspecto chave durante a adequação de O processo de coleta de dados envolve:
fichas de coleta e compilação é entender que
não há um tipo universal de ficha. Para se ❒ Consultar a matriz de monitoramento
340
Monitoramento e controle de impactos de visitação – GESTÃO INTEGRADA

para identificar quais indicadores deve-


rão ser tratados em quais trilhas. A COLETA DE DADOS INICIAIS
❒ Selecionar as fichas de coleta neces- DE MONITORAMENTO E A PRIMEIRA AVALIAÇÃO
sárias para cada indicador e cada trilha. PODEM LEVAR A ALTERAÇÕES DA MATRIZ
❒ Caso as instruções de coleta para cada DE MONITORAMENTO.
indicador não constem da ficha de cole-
ta, selecionar as instruções a serem le-
vadas para campo. No PARNAMAR Noronha,durante o trabalho
❒ Preparar os equipamentos necessários de levantamento de dados iniciais
para coletar as informações (por exem- e treinamento dos fiscais para a coleta
plo, prancheta, trena, lápiz, relógio,
dos dados, foi adicionado um novo objetivo
binóculo, máquina fotográfica, etc.). As
fichas de instruções devem conter em todas as trilhas, seguido de indicadores
informações necessárias para identificar de monitoramento. O objetivo em questão
quais equipamentos são necessários, refere-se a um uso conflitante do Parque:
podendo inclusive apresentar uma lista presença de animais domésticos nas trilhas,
de equipamentos.
especialmente vacas.Ao percorrer as trilhas,
Nesta etapa não só as fichas de coleta recém construídas, os fiscais 9
sofrem mudanças. É comum também que em treinamento apontaram para a equipe
sejam identificadas necessidades de ade- do MIV que a grande maioria dos estragos
quação dos locais de monitoramento e dos observados haviam sido feitos
procedimentos para coleta de dados – pro-
postos durante a definição dos indicadores por animais domésticos.
(passo 4) – que apresentem necessidade de Portanto, apesar de não ser um objetivo
adequação. de uso recreativo na área,decidiu-se
Após a coleta de dados, é feito também incluir o objetivo “Manter o ambiente
o primeiro evento de registro dos dados
visitado livre da presença e impactos
coletados nos instrumentos de compilação.
Há duas diferenças principais entre os de animais domésticos”na matriz
instrumentos de coleta e os de compilação. de monitoramento de cada trilha
O primeiro é que, nos instrumentos de com- do Parque.
pilação para cada indicador em cada trilha,
os dados de coleta em diferentes datas são
apresentados lado a lado, o que facilita a Passo 9 Analisar os usos
visualização sobre a ocorrência de conflituosos ou excessivos
mudanças. A segunda diferença é que as observados durante a coleta
fichas de compilação nunca são levadas a de dados iniciais para
campo. Um sistema de arquivo em pastas – o monitoramento
que pode ser bastante simplificado – deve e determinar ações
ser elaborado para guardar todos os mate- de manejo corretivas
riais referentes ao monitoramento, especial-
mente as fichas de compilação. Esta é a etapa de comparação dos dados
É no momento do registro das infor- coletados e compilados com os parâmetros
mações iniciais para monitoramento que as aceitáveis de impactos negativos. Para
fichas são ajustadas; é também nessa realizar esse trabalho, são necessários pro-
ocasião que os responsáveis pela aplicação cedimentos sistemáticos de discussão dos
do MIV fazem seu primeiro treinamento problemas, elaboração de propostas de
sobre como registrar os dados coletados. solução, decisão e planejamento de ação e
341
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

1 QUADRO 7
DISCUTINDO E DEFININDO AÇÕES PARA CORRIGIR OU PREVENIR IMPACTOS
DE VISITAÇÃO (Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha)

a) Junte as fichas de compilação de dados e as matrizes de monitoramento para cada trilha.

b) Compare os dados observados na trilha para cada indicador com os parâmetros


(ou limites) indicados como aceitáveis.

c) Caso os dados observados sejam maiores, reúna alguns colegas de trabalho para
discutir a situação, as prováveis causas e possíveis soluções.

d) Em uma folha de papel em branco, anote a data, o seu nome, o nome dos participantes
da reunião. A reunião deverá ser registrada. Comece escrevendo qual ou quais
problemas serão discutidos.

e) Apresente para seus colegas um problema de cada vez.


9
f) Juntos, pensem as possíveis soluções para o problema. Anotem na folha de registro da
reunião todas as sugestões para cada problema. As soluções podem ser de tipos diferentes:

2 Mudanças ou trabalhos físicos – infra-estrutura, consertos, mudança de caminho


da trilha, novos guarda-corpos etc..
2 Distribuição de informações – informações passadas pelos guias, campanhas
nas escolas, folhetos, novas placas etc..
2 Limitações econômicas – cobrança de taxas diferenciadas (mais caras para uns que
para outros) ou aumento geral do ingresso.
2 Limitações de uso – determinação de número máximo de pessoas que podem entrar
em um lugar a cada dia; restrição para uso acompanhado de guia etc..
2 Limitação do tipo de atividade – impedir determinados tipos de atividades ou limi-
tar o acesso; impedir o uso de cavalos ou entrada de animais; proibir o banho etc..

g) Sejam criativos: tentem pensar ao menos em duas soluções!

h) Façam uma análise de cada solução e registrem a conversa. Pensem nos seguintes
aspectos:

2 Adequação aos objetivos – esta solução está de acordo com os objetivos do


parque, de uso recreativo e da trilha (consulte a matriz de monitoramento da trilha)?
2 Custos – quanto vai custar para implementar a solução?
2 Trabalho envolvido – é uma solução fácil de se aplicar?
2 Responsabilidade – quem vai fazer? O parque mesmo ou outros?
2 Probabilidade de dar bons resultados – esta solução tem boa chance de dar certo?
2 Conseqüências ou impactos em outros indicadores – ao aplicar esta solução, vocês
estarão criando um problema em outro indicador ou lugar?
2 Provável impacto para o visitante – a solução vai ser muito desagradável para
o visitante? Será que a solução é mais radical do que o problema pede?

342
Monitoramento e controle de impactos de visitação – GESTÃO INTEGRADA

i) Uma vez escolhida a solução, planejem a sua aplicação (se houver necessidade de
pedir autorização para realizar o trabalho, o pedido será uma etapa do trabalho).
Registrem a solução escolhida e o plano de trabalho.

Guardem os papéis onde foi registrada a discussão e a escolha da solução junto


com a ficha de compilação do indicador que apresentou problemas.
Se mais de um indicador for discutido em um só dia e houver apenas um documento
de registro da discussão, tirem cópias do documento para guardar junto com as fichas
de compilação de cada indicador.

EXEMPLO 13 – RESULTADO DE REUNIÃO DE AVALIAÇÃO – PARNAMAR Noronha


Durante a primeira reunião de avaliação realizada após a coleta inicial de dados, seguin-
do as matrizes de monitoramento de todas as trilhas do Parque, os fiscais em treinamento
apresentaram ao grupo maior de fiscais do Parque um problema de conflito de uso com a
comunidade local em duas trilhas.
Tradicionalmente, as trilhas do Farol e do Capim-açu são utilizadas como vias de aces-
so de pescadores a uma das áreas de pesca de determinado tipo de peixes. Por ser um longo 9
caminho (mais de 3.000m), os pescadores geralmente usam o cavalo como meio de trans-
porte até o mirante do Capim-açu, ponto final da Trilha do Capim-açu, que por sua vez tem
seu início quase no final da Trilha do Farol. Como a coleta de dados iniciais foi realizada
durante o período das chuvas, foi possível observar o imenso dano que esta forma de trans-
porte estava causando às trilhas.
Durante a reunião, houve intensa discussão sobre os interesses da comunidade e a neces-
sidade de manutenção das trilhas (especialmente porque no caso de Fernando de Noronha
os fiscais são da própria comunidade local, por vezes também pescadores). Seguindo o
princípio de que há sempre alguma medida possível ao alcance dos próprios fiscais, chegou-
se a um acordo no qual os cavalos seriam utilizados apenas no trecho da Trilha do Farol
(aproximadamente três quartos de todo o percurso), poupando a Trilha do Capim-açu, que
apresentou danos significativamente maiores. O grupo de fiscais também definiu um proces-
so para informar os pescadores e comunidade em geral, buscando conscientizá-los de que
durante o período de chuvas, o impacto do uso de cavalo na Trilha do Farol é demasiado
grande. Os fiscais entenderam que com a demonstração de flexibilidade por parte do Parque
e o trabalho de conscientização será possível dentro de uma ou duas temporadas convencer
os pescadores a utilizar outros locais de pesca durante o período de chuvas.

registro das reuniões. A seguir, observe que, Passo 10 Treinar os responsáveis


assim como nas etapas anteriores, os passos para implementar o MIV
sugeridos devem ser desenvolvidos para se
adequar à capacidade dos responsáveis e Como foi visto, o treinamento para uti-
não o contrário. lizar os materiais, assim como a compreen-
A primeira reunião deve ser feita ainda são mínima sobre o que é o MIV, deve ser
durante o passo oito, como forma de feito nas etapas anteriores.
demonstrar na prática como o levantamento Para assegurar a continuidade do proces-
dos dados pode facilitar e gerar informações so e um formato adequado para os ajustes,
para o trabalho de gerenciamento diário que recomenda-se que seja elaborado um crono-
os responsáveis já realizam na área. grama de implementação assessorada do
343
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

MIV, com visitas periódicas ou consultas à b) Procure montar uma equipe, mesmo que
equipe que elaborou o sistema (caso não seja pequena (três a quatro técnicos além de
a mesma que o vai implementar), a partici- você), que possua conhecimentos
pação da equipe durante as avaliações deter- prévios sobre diferentes aspectos ambi-
minadas, além de eventuais cursos de treina- entais relevantes. De preferência, sele-
mento em uma ou outra técnica, de acordo cione ao menos um profissional que
com a identificação das necessidades. tenha alguma experiência prévia com
Essa implementação assessorada deve monitoramento de projetos.
durar preferencialmente um ano, para c) Este é um trabalho que deve ser feito
abranger a coleta de dados durante todas as estritamente no campo. Há que se per-
estações do ano. correr a área várias vezes, que se co-
nhecer bem cada trecho de todas as tri-
2. Aprendendo a desenvolver lhas e, de preferência, conhecer a área
o MIV para uma área em diferentes estações climáticas. Caso
você não tenha esse nível de conheci-
método proposto neste capítulo não é
O difícil de ser aplicado, mas é dividido
em diversas etapas, que por sua vez pos-
mento, assegure-se de consultar pessoas
que o tenham.
d) A escolha da primeira área de visitação
9 suem vários estágios de desenvolvimento. O para aplicação do método não deve ser
método envolve muitas decisões de manejo demasiadamente complexa. No caso de
por parte da equipe responsável por seu uma trilha, esta não deve ser nem
desenvolvimento. Há duas formas de asse- demasiadamente longa, nem demasiada-
gurar que o resultado do MIV de uma área mente curta (entre 1.000m e 2.500m é
não seja demasiado subjetivo: uma boa margem).
e) Participe diretamente da realização de
❒ Conhecimentos prévios variados sobre todas as etapas, desde as prévias ao MIV
os aspectos ambientais da área. (levantamento de trilha) até a coleta,
❒ Experiência acumulada no compilação e avaliação de dados. Assim
desenvolvimento de MIV. você poderá ter noção do tipo de traba-
lho envolvido, possibilitando a melhor
Na primeira vez em que um indivíduo adequação do MIV às condições locais.
ou equipe realiza esse tipo de trabalho f) Faça, juntamente com os membros da
surgem várias dúvidas. Há um grande receio equipe e os responsáveis pela gestão da
de não se estar tomando a decisão apropri- área, uma avaliação geral sobre todo o
ada. Esta é uma reação saudável, já que o processo.
método é muito dependente das decisões de
quem o implementa. Recomendam-se as 3. Ensinando outros
seguintes precauções na primeira vez em a desenvolver o MIV
que se usa o método:
ara ensinar outras pessoas a aplicar o
a) Selecione uma propriedade, particular
ou pública, que possua um programa de
P método do MIV, são feitas as seguintes
recomendações:
visitação não muito complexo. Caso não
seja possível, selecione uma área parcial ❒ É necessário, primeiro, que o técnico
da UC ou propriedade para começar o esteja bastante familiarizado com todas
trabalho. Em outras palavras, evite iniciar as etapas, limites e possibilidades do mé-
o aprendizado com um projeto como o todo. Isso implica não só conhecer bem
do Parque Nacional Marinho de Fer- todas as etapas e a bibliografia referente
nando de Noronha. ao assunto, mas principalmente ter apli-
344
Monitoramento e controle de impactos de visitação – GESTÃO INTEGRADA

cado o método pelo menos duas vezes. mais importante, de avaliações metodológi-
❒ Antes de iniciar o treinamento, o técnico cas baseadas em pelo menos dois anos de
deve selecionar cuidadosamente o local aplicação dos sistemas implantados.
que será utilizado para tal. Após a O processo proposto baseia-se em
seleção, o técnico deve procurar conhe- grande parte na visão e entendimento da
cer bem a área, se necessário fazendo equipe que desenvolve o MIV e dos respon-
consultas bibliográficas, consultas a es- sáveis pela gestão da área. As decisões de
pecialistas e à comunidade local. manejo que os responsáveis tomarão, ape-
❒ Outro passo é a orientação para a sele- sar de embasadas em informações práticas e
ção de participantes do curso. É impor- coletadas com rigor, não deixarão de
tante que os mesmos sejam entrevista- envolver um grau de subjetividade inerente
dos, pessoalmente ou por meio de ques- ao "julgamento" de um processo de tomada
tionário, para levantamento de informa- de decisão. Assim, os desafios apresentados
ções sobre o tipo de público que será pelo processo são grandes e, de certa forma,
treinado (lembrando que o MIV pode ter imprevisíveis.
diferentes “caras”, dependendo da capa- Vários aspectos com os quais se deve ter
cidade da equipe responsável pela sua cuidado já foram abordados no corpo do
implantação), e também para se ter a capítulo. Convém, entretanto, lembrar algu-
oportunidade de falar um pouco sobre o mas questões adicionais a que estão sujeitos 9
tipo de trabalho envolvido. os responsáveis pela área. Uma vez que o
❒ O curso deve ser montado em etapas, MIV é implementado, novas questões
realizadas em ocasiões diferentes. Tentar poderão ocorrer. O que fazer se o sistema
cobrir todas as etapas do método em um de monitoramento indicar impactos que fre-
só curso é demasiado ambicioso, pois a qüentemente extrapolam tanto a Capa-
quantidade de informações e novidades cidade de Carga Efetiva como os limites
é muito grande. O melhor é pensar em aceitáveis de impacto em diversos indi-
cadores, mesmo após repetidas tentativas de
três fases: 1) Passos 1 a 5; 2) Passo 6; 3)
Passos 7 a 10. Durante o intervalo entre controle? Ou, ainda, o que fazer se a
cada fase, deve ser elaborado um crono- capacidade de carga de uma área for muito
grama de trabalho prático para os partici-pequena, indicando grande fragilidade e
pantes do curso. Reconhece-se que é potencial para impactos de visitação?
muito difícil realizar um curso nesse for- No caso de uma unidade de conser-
mato ideal. Assim, caso não seja possível vação, é difícil uma resposta para essas per-
fazê-lo, o técnico deve elaborar cuida- guntas, mas é indiscutivelmente ainda mais
dosamente uma grade para o curso, difícil para um proprietário particular.
intercalando cada etapa com o trabalho Porque no caso de uma UC não há obriga-
de campo. toriedade de receber visitação, e um Parque
❒ Finalmente, vale para os participantes de Nacional não deveria ser criado em um
um curso a mesma observação feita para local que não pode suportar a visitação
quem aprende sozinho: somente a apli- recreativa (ou seja, uma outra categoria de
cação prática de todas as etapas, ao unidade de conservação seria apropriada).
menos duas vezes, poderá garantir uma Assim, em resposta às duas questões, a UC
capacitação adequada na implementação poderia, em caso extremo, ser fechada para
do método para efeitos de multiplicação. a visitação recreativa.
No caso de áreas particulares, o propri-
IV. CUIDADOS E RECOMENDAÇÕES etário geralmente desenvolve a atividade de
ecoturismo como alternativa econômica
O método proposto neste capítulo carece ambientalmente correta. A sua interrupção
ainda de testes em variados contextos e, pode gerar redução na receita, talvez até
345
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

afetando sua subsistência. Pode ainda gerar Áreas Protegidas. Série técnica. Informe
impactos socioeconômicos na comunidade técnico nº 194. Centro Agronómico de
local que presta serviços integrados à visi- Investigación y Ensenanza CATIE.
tação da área. Turrialba, Costa Rica.
Para lidar com essas questões, é preciso DRIVER, B.L., BROWN, Perry. 1978. The
basear-se no princípio definidor do ecoturis- Opportunity Spectrum Concept and
mo: essa atividade deve obrigatoriamente Behavioral Information in Outdoor
promover a conservação do local visitado e Recreation Resource Supply Inventories: a
ser realizada com controle de impacto e Rational. Paper apresentado durante a
zelo pela qualidade do ambiente. oficina "Integrated Inventories of Renew-
Assim, em última instância, o ecoturismo able Natural Resources". Anais da oficina.
deve ser descartado como atividade em um 8 a 12 de janeiro de 1978. Tucson, AZ.
local demasiado frágil ou em uma situação KUSS, Fred, GRAEFE, Alan e VASKE, Jerry.
em que não se consiga manejar os impactos 1990. Visitor Impact Management.
dentro de limites aceitáveis. Ao menos até National Parks and Conservation
que se possa atingir condições de gestão Association. Washington, DC.
adequadas. MILLER,K.1980 Planificacion de Parques
Essas considerações nos remetem a uma Nacionales para el Ecodesarrollo en
9 questão de ética na motivação para o desen- Latinoamerica, Madrid, FEPMA. 500 p.
volvimento do ecoturismo: qual é o com- WWF-Brasil. 2001. Uso Recreativo no
promisso daqueles que promovem o ecotu- Parque Nacional Marinho de Fernando
rismo com a qualidade do ambiente natural de Noronha: um exemplo de planeja -
aberto à visitação pública? Essa pergunta mento e implementação. [Coordenação:
deve ser respondida por todos os atores, Sylvia F. Mitraud] WWF-Brasil, vol. 8.
desde o proprietário, passando pelos técni- Brasília, DF.
cos envolvidos no planejamento e imple- MOORE, Roger. 1994. Conflicts on multi-
mentação das atividades, pelas agências e use trails: a survey of national park serv -
operadoras, até o ecoturista. Uma decisão ice managers. Report nº HWA-PD-94-
referente à visitação de uma área natural 031. Federal Highway Administration.
(seja em termos de quantidade ou tipo de Washington, DC.
atividade recreativa) que se manifeste con- STANKEY, George, COLE, David, LUCAS,
trária à conservação do ambiente visitado Robert, PETERSEN, Margaret, FRISSELL,
desqualifica a atividade como ecoturismo. Sidney. 1985. The Limits of Acceptable
Change (LAC) System for Wilderness
V. B IBLIOGRAFIA Planning. General Technical Report INT
– 176. United States Department of
CIFUENTES, Miguel. 1992. Determinacion Agriculture, Forest Service. Ogden, UT.
de Capacidade de Carga Turística en

346
Monitoramento e controle de impactos de visitação – GESTÃO INTEGRADA

SISTEMA DE MONITORAMENTO E CONTROLE DE IMPACTOS


DE VISITAÇÃO DA TRILHA DOS GOLFINHOS DO PARNAMAR
FERNANDO DE NORONHA
.

N este anexo apresentamos alguns dos instrumentos de monitoramento desenvolvidos


para o Sistema de Monitoramento e Controle de Impactos de Visitação – MIV da
Trilha dos Golfinhos, no Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha.
Considerando que os diversos passos para desenvolver o MIV foram suficientemente
abordados no corpo do capítulo, apresentamos a seguir a Matriz de Monitoramento e os
instrumentos de coleta e compilação de dados. Eles fazem parte do Plano de Uso Recreativo
do Parque, desenvolvido entre 1997 e 2000 pela parceria WWF-Brasil e IBAMA / MMA e
vem sendo aplicados atualmente.
É importante lembrar que, para se chegar a estes instrumentos específicos, deve-se seguir
os passos recomendados pelo MIV (ver abaixo). No caso do sistema desenvolvido para a
Trilha dos Golfinhos, os passos desenvolvidos que podem ser encontrados no documento
“Uso Recreativo no Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha: um exemplo de
planejamento e implementação” , lançado pelo WWF-Brasil em fevereiro de 2002, por
ocasião do lançamento do sistema pelo MMA. Para obter este documento, contate o WWF- 9
Brasil. Para obter os resultados integrais do MIV para o Parque, solicite ao Departamento de
Unidades de Conservação – DEUC, no IBAMA-Brasília.
Dos 10 passos propostos no MIV, os anexos do documento acima citado apresenta os
resultados do sistema aplicado na Trilha dos Golfinhos para os passos de número 3 a 6. Os
instrumentos gerados nos passos de número 7 são apresentado neste anexo, conforme segue:

1. Montar equipe multidisciplinar, de acordo com as características levantadas no plane-


jamento e mapeamento.
2. Revisar a legislação e as políticas ambientais e de turismo relevantes para a UC
(Unidade de Conservação) ou propriedade.
3. Analisar ou elaborar objetivos gerais para o uso da área protegida ou propriedade, obje-
tivos específicos para a atividade de ecoturismo e definir objetivos específicos por trilha
ou local de visitação.
4. Determinar indicadores para monitoramento de cada trilha.
5. Determinar parâmetros de impactos aceitáveis para cada indicador, incluindo as uni-
dades de medida.
6. Determinar a capacidade de carga.
7. Elaborar a Matriz de Monitoramento, incluindo os instrumentos de coleta e compilação
de dados (apresentado a seguir).
8. Coletar dados iniciais para o monitoramento de todos os indicadores, ajustar os instru-
mentos de coleta e compilação de dados e realizar a primeira etapa de treinamento dos
responsáveis pelo manejo.
9. Analisar os usos conflituosos ou excessivos observados durante a coleta de dados ini-
ciais para o monitoramento e determinar ações de manejo corretivas.
10. Treinar os responsáveis para implementar o MIV.

BIBLIOGRAFIA
CIFUENTES, Miguel. 1992. Determinacion de Capacidade de Carga Turística en Áreas
Protegidas. Série técnica. Informe técnico nº 194. Centro Agronómico de Investigación y
347
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

SISTEMA DE MONITORAMENTO E CONTROLE DE IMPACTOS…

Ensenanza CATIE. Turrialba, Costa Rica.


FUNATURA. 1990. Plano de Manejo do Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha,
IBAMA / FUNATURA. Brasília.
WWF-BRASIL. 2001. Uso Recreativo no Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha:
um exemplo de planejamento e implementação. [Coordenação: Sylvia F. Mitraud] WWF-
Brasil, vol. 8. Brasília, DF.

MATRIZ DE MONITORAMENTO - Parte 1


(Descrição de objetivos, indicadores de monitoramento
e parâmetros aceitáveis de mudança)

IDENTIFICAÇÃO DA TRILHA OU ÁREA DEVISITAÇÃO : Trilha dos Golfinhos


OBJETIVOS ESPECÍFICOS DEVISITAÇÃO NA TRILHA:
G1 - Manter a área do costão entre Golfinhos e Sancho como área de reprodução de aves;
9 G2 - Aumentar e manter a área de cobertura vegetal nativa;
G3 - Desenvolver trilha do tipo intensiva de acordo com o ROS, que favoreça a interpretação ambiental
ao longo da trilha para todas idades, com segurança e conforto para caminhadas;
G4 - Manter os ambientes visitados livres de danos ou ações danosas por parte dos visitantes.
G5 - Propiciar experiência de visitação apropriada para grupos, com prováveis encontros com outros grupos,
e compartilhamento de mirantes
G6 - Concentrar o esforço interpretativo nos temas de avifauna e golfinhos.
G7 - Manter o ambiente visitado livre da presença e impactos de animais domésticos (vacas, carneiros, cabra

INDICADORES DEVERIFICAÇÃO : PARÂMETROS DE MUDANÇA ACEITÁVEL:

G1.1 - Número de inivíduos adultos de viuvinhas G1.1.1 - Ausência de diferença significativa


(anous minutus) avistados em ponto fixo observada entre área visitada
selecionado por tempo.
G1.2 - Número de indivíduos por espécie G1.2.1 - Ausência de diferença significativa
avistados em transecto em movimento. entre médias de índices de diversidade
entre áreas visitadas e de controle.
G1.3 - Número médio de indivíduos por espécie G1.3.1 - Ausência de diferença significativa
observados em dias de visitação comparado entre médias de número de indivíduos
com dias sem visitação. por espécies principais entre áreas visitadas
e de controle.
G2.1 - Metragem da trilha com predominância G2.1.1 - Atualmente, a maior parte da trilha.
de espécies exóticas e invasoras. Procurar recuperar a área para ter até 10%
de suas bordas com predominância de
invasoras apenas.
G2.2 - Sobrevivência de mudas de árvores nativas G2.2.1 - 50% de taxa de mortalidade (máximo).
plantadas por área plantada ao longo
da trilha.
G3.1 - Metragem da largura da trilha. G3.1.1 - 1,5 a 2 m como trilha desenvolvida
e até 50 cm de cada lado como o impacto
de visitação (sendo que a vegetação/solo
podem estar danificados, mas não
eliminados ou expostos)
348
Monitoramento e controle de impactos de visitação – GESTÃO INTEGRADA

SISTEMA DE MONITORAMENTO E CONTROLE DE IMPACTOS…

MATRIZ DE MONITORAMENTO - Parte 1 (continuação)


INDICADORES DE VERIFICAÇÃO: PARÂMETROS DE MUDANÇA ACEITÁVEL:

G3.2 - Número de trechos de trilha em estado G3.2.1 - Até 3 por trimestre


inadequado, de insegurança,
ou com estruturas danificadas.
G4.1 - Número de picadas ou trilhas sociais G4.1.1 - Até 1 por trimestre
(caminhos que o visitante faz quando
sai da trilha demarcada)
G4.2 - Número de observações de vandalismo G4.2.1 - Até 1 incidente/ocorrência por trimestre
a recursos naturais, infra-estrutura
ou sinalização.
G5.1 - Número de encontros entre grupos G5.1.1 - Encontros com 5 outros grupos
de visitantes.
G5.2 - Número de grupos em um só momento G5.2.1 - Até 3 grupos ou 15 pessoas,
nos mirantes Golfinho 1 e Sancho. o que ocorrer primeiro
G5.3 - Número de reclamações referentes à trilha. G5.3.1 - Até 3 por trimestre 9
G5.4 - Quantidade de lixo encontrado G5.4.1 - Até 15 unidades por trimestre
ao longo da trilha.
G6.1- Número, tipo e descrição dos meios G6.1.1 - Materiais interpretativos sobre aves
interpretativos disponíveis. e golfinhos suficientes para no míinimo
3 meses de visitação
G7.1 - Número de observações de danos à trilha G7.1.1 -
(naturais ou infra-estrutura) causados.
G7.2 - Número de avistamentos de animais G7.2.1 -
domésticos na trilha.

MATRIZ DE MONITORAMENTO - Parte 2


(Elementos de orientação para coleta e compilação de dados)

Identificação da trilha
ou área de visitação:

I L 1 V f.CD 3 f.CO Responsáveis 4 Freqüência Data de Nº Doc


de Coleta avaliação R. A.
realizada 5
G1.1 1 - Mirante dos
José Silva e Trimestral
Golfinhos II – N/a 2
Maria Ferreira
área controle
2 - Mirante dos
N/a “
Golfinhos I
3 - Mirante IV N/a “
G1.2 “ Trimestral
G1.3 “ Trimestral

G2.1 Contagem total 650m D 2 “ Trimestral


ao longo da trilha
G2.2 “ Trimestral
G3.1 F 3 “ Trimestral
349
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

SISTEMA DE MONITORAMENTO E CONTROLE DE IMPACTOS…

MATRIZ DE MONITORAMENTO - Parte 2 (continuação)

Data de
I L1 V f.CD 3 f.CO Responsáveis 4 Freqüência
avaliação
Nº Doc
de Coleta R. A.
realizada 5
G3.2 C 5 “ Trimestral
G4.1 B 5 “ Trimestral
G4.2 B 5 “ Trimestral
Trimestral e em
G5.1 E 4 “ dias de grande
movimento
Trimestral e em
G5.2 E 1 “ dias de grande
movimento
Sempre que
9 G5.3 A 4 “ houver
ocorrência
Coleta: todos Sempre que
os funcionários houver
G5.4 A 4 Registro: ocorrência
José Silva e
Maria Ferreira
Semestralmente
G6.1 “ e a cada
ocorrência
G7.1 B 5 “ Trimestral
G7.2 A 4 “ Trimestral

ONDE:

I Indicador.
L1 L é Local da coleta de dados e 1 : no caso destas duas colunas, apresentamos apenas alguns valores
a título de ilustração. Como cada indicador é monitorado em vários locais da trilha, a parte 2 da
matriz de monitoramento fica muito extensa, tornando-se impossível a sua reprodução total neste
anexo.
2 Até a elaboração deste capítulo, os dados iniciais de monitoramento destes indicadores não haviam
sido ainda coletad os.
V Valor inicial de monitoramento.
f.CD 3 f.CD é Número da Ficha de Coleta de Dados e 3 indica que algumas das fichas ainda não haviam
sido concluídas até a elaboração deste capítulo. Aquelas que já haviam sido adequadas
são indicadas por letras do alfabeto. As fichas são apresentadas a seguir.
f.CO Número da Ficha de Compilação .
4 Dois fiscais são responsáveis pela coleta e compilação dos dados de monitoramento do MIV do
Parque. Porém, os nomes aqui apresentados foram inventados.
5 Cada vez que os dados de um indicador forem discutidos em uma avaliação, a data da avaliação
deve ser anotada nesta coluna. A cada novo evento de avaliação, a data deve ser anotada abaixo
da anterior. O mesmo procedimento vale para a coluna seguinte.

350
Monitoramento e controle de impactos de visitação – GESTÃO INTEGRADA

SISTEMA DE MONITORAMENTO E CONTROLE DE IMPACTOS…

Monitoramento a Permanente Formulário: A______


FICHA DE COLETA

Nome do responsável
Marque as unidades de cada
Data da Nome problema que encontrar na trilha
coleta da trilha Comentários
Animais
Lixo Reclamações domésticos

INSTRUÇÕES PARA USAR A FICHA E COLETAR OS DADOS:

A mesma ficha pode ser usada para todas as trilhas e para mais de um dia. Leve-a junto com você todos os
dias que for para as trilhas. Quando terminar os espaços vazios na ficha, troque-a por uma nova.

1u Anotar o seu nome no espaço reservado para “nome do responsável”.


2u Ao encontrar lixo, animais domésticos, ou receber alguma reclamação de visitante em alguma trilha,
anote a data e o nome da trilha nos espaços indicados.
3u Anote a quantidade de lixo ou animais ou reclamações nas colunas indicadas (o que importa é a
quantidade).
4u Pode usar apenas uma linha por trilha, por dia.
5u No caso de reclamações, anote na coluna de “comentários” o assunto da reclamação.
6u Use o espaço de comentários para anotar outras informações que você ache importante, como local
onde achou uma grande quantidade de lixo, ou o tipo de animal encontrado, etc.
7u Se no mesmo dia você encontrar tanto lixo quanto animais domésticos NA MESMA TRILHA, pode
usar a mesma linha para anotar.

INDICADORES u LIXO
u RECLAMAÇÕES DE VISITANTES
u PRESENÇA DE ANIMAIS DOMÉSTICOS
351
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

SISTEMA DE MONITORAMENTO E CONTROLE DE IMPACTOS…

Monitoramento a Permanente Formulário: B______


FICHA DE COLETA

Nome do responsável
Marque o problema
Data da Nome Localização específico
coleta da trilha do problema Comentários
Dano
Vandalismo Picadas
de animais

INSTRUÇÕES PARA USAR A FICHA E COLETAR OS DADOS:

A mesma ficha pode ser usada para todas as trilhas e para mais de um dia. Leve-a junto com você todos os
dias que for para as trilhas.

1u Anote o seu nome no espaço reservado para “nome do responsável”.


2u Ao encontrar problemas em alguma trilha, anote o nome da trilha e a data das anotações
nas colunas específicas.
3u Anote a localização onde o problema está. Procure a marcação das estacas em metros.
4u Marque com um “x” o tipo de problema que você encontrou (vandalismo – de sinalização,
de infra-estrutura, de árvores, pedras etc. –, problemas de danos de animais – pisoteamento
das trilhas, destruição de infra-estrutura, ou de marcação de trilhas etc. –, ou picadas – trilhas ou
caminhos não planejados abertos pelos visitantes).
5u Marque mais de uma coluna se houver mais de um problema no mesmo local.
6u O espaço para comentários serve para você anotar alguma observação especial.
7u Ao terminar a trilha, conte o total de casos de cada tipo de problema e anote na linha de TOTAL.
8u Organize com seus colegas o trabalho de manutenção necessário para corrigir os problemas observados!

INDICADORES u VANDALISMO
u ESTRAGO FEITO POR ANIMAIS DOMÉSTICOS
u PICADAS FEITAS POR VISITANTES

352
Monitoramento e controle de impactos de visitação – GESTÃO INTEGRADA

SISTEMA DE MONITORAMENTO E CONTROLE DE IMPACTOS…

Monitoramento a Permanente Formulário: C______


FICHA DE COLETA

Nome do responsável
Nome da trilha Data da coleta:

Localização Escolha um problema abaixo


do problema Comentários
Dano
Vandalismo Picadas
de animais

TOTAL

INSTRUÇÕES PARA USAR A FICHA E COLETAR OS DADOS:

Use uma ficha para cada dia e para cada trilha.


Antes de sair do escritório, verifique na ficha de registro destes indicadores se há algum local específico que
você precisa checar. Pode ser um local onde foi feita alguma correção anteriormente, pode ser um local onde
há risco de problemas de manutenção, etc. Se houver, anote na ficha a localização e marque um “x” se for
limpeza, drenagem, ou conserto.

1u Anotar o seu nome, o nome da trilha e a data das anotações nos espaços específicos.
2u Antes de sair, anote os dados de locais que devem ser monitorados.
3u Nestes locais, anote na coluna de “comentários” a situação atual (pode ser que continue o problema,
pode ser que tenha sido consertado, etc.)
4u Ao caminhar a trilha, também observe se há novos problemas. Anote a de acordo com a marcação
das estacas em metros.
5u Marque com um “x” o tipo de problema que você encontrou (limpeza de trilha, problemas
de drenagem – escoamento, erosão, alagamento –, ou necessidades de conserto – de infra-estrutura,
de estrutura de trilha).
6u O espaço para comentários serve para você anotar alguma observação especial.
7u Ao terminar a trilha, conte o total de casos de cada tipo de problema e anote na linha de TOTAL.
8u Organize com seus colegas o trabalho de manutenção necessário para corrigir os problemas observados!

INDICADORES u LIMPEZA DE TRILHA


u DRENAGEM
u CONSERTO DE INFRA-ESTRUTURA
353
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

SISTEMA DE MONITORAMENTO E CONTROLE DE IMPACTOS…

Monitoramento a Periódico Formulário: D______


(ver a data de monitoramento na matriz por trilha)

FICHA DE COLETA

Nome do responsável
Nome da trilha Data da coleta:

Localização dos pedaços total em


de trilha com invasoras -
metros de
Nome verificar localização nas estacas
da trilha cada pedaço Comentários ou espécie
da trilha
início em final em
com invasoras
metros metros

INSTRUÇÕES PARA USAR A FICHA E COLETAR OS DADOS:

Esta ficha deve ser preenchida nas datas indicadas pela matriz de monitoramento de cada trilha. Antes de ir
para a trilha, copie da matriz de monitoramento, os locais anteriores onde já foram observados estes mesmos
indicadores. Não se esqueça de levar a trena!

1u Anote o seu nome e data da coleta.


2u Nos pontos já anotados para invasoras, verifique se os locais de início e fim do trecho
marcado continuam os mesmos. Anote na coluna de “comentários” as novas medidas – maiores ou
menores. Se não houve mudança, escreva “sem mudança”.
3u No caso de novos locais com invasoras, marque o local na trilha onde elas começam
e onde terminam – procure as estacas marcadoras.
4u Quando você voltar para o escritório, calcule o tamanho em metros dos trechos anotados
(diferença entre o final e o começo da marcação do trecho).

INDICADOR u INVASORAS
354
Monitoramento e controle de impactos de visitação – GESTÃO INTEGRADA

SISTEMA DE MONITORAMENTO E CONTROLE DE IMPACTOS…

Monitoramento a Periódico Formulário: E______


(ver a data de monitoramento na matriz por trilha)

FICHA DE COLETA

Nome do responsável
Nome da trilha Data da coleta:

Encontros com grupos durante a caminhada Total

INSTRUÇÕES PARA COLETA:

Ao caminhar ao longo da trilha, marque com um “x” ou um “/” todas as vezes que cruzar com um grupo de
pessoas. O número de pessoas por grupo não interessa. Se a trilha for linear (ida e volta pelo mesmo camin-
ho) e se você encontrar com o mesmo grupo duas vezes, marque as duas vezes. Não inclua nesta parte os
encontros nos mirantes. No final do dia, anote na coluna de “TOTAL” o número de grupos que você viu
durante a caminhada. 9
NÚMERO DE GRUPOS E NÚMERO DE PESSOAS NOS MIRANTES AO MESMOTEMPO

Mirante: Mirante:

nº pessoas por grupo nº pessoas por grupo


Total Total
grp grp grp grp grp pes/grps grp grp grp grp grp pes/grps
1 2 3 4 5 1 2 3 4 5
0’a10’ / 0’a10’ /
11’a20’ / 11’a20’ /
21’a30’ / 21’a30’ /
31’a40’ / 31’a40’ /
41’a50’ / 41’a50’ /
51’a60’ / 51’a60’ /
INSTRUÇÕES PARA USAR A FICHA E COLETAR OS DADOS:
Esta ficha deve ser preenchida nas datas indicadas pela matriz de monitoramento de cada trilha. Antes de sair,
verifique na matriz de monitoramento para cada trilha os mirantes que devem ser monitorados e anote nos
espaços indicados acima. Prepare-se para ficar uma hora parado em cada mirante, coletando os dados
necessários! Leve um relógio que marque os minutos.
1u Anotar o seu nome, nome da trilha e data da coleta nos espaços reservados.
2u Ao chegar aos mirantes em que deve coletar os dados, anote o nome do mirante no local específico
e marque a hora de começo do monitoramento.
3u A cada 10 minutos, marque o número de pessoas por grupo novo que aparecer no mirante dentro
dos quadradinhos na tabela daquele mirante. A cada novo grupo que chegar, mesmo que seja mais
tarde, utilize uma outra coluna.
4u Quando o grupo sair, cruze o quadradinho na fração de hora em que eles saíram.
5u Ao final, some o número de pessoas que esteve no mirante a cada fração de hora e marque na
posição “pes” da coluna de total. Some o número de grupos e coloque na posição “grps”.
INDICADORES u ENCONTROS COM GRUPOS
u GRUPOS EM MIRANTES
355
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

SISTEMA DE MONITORAMENTO E CONTROLE DE IMPACTOS…

Monitoramento a Periódico Formulário: F______


(ver a data de monitoramento na matriz por trilha)

FICHA DE COLETA

Nome do responsável
Nome da trilha Data da coleta:

Localização Medida Instruções para pegar a medida

Total

INSTRUÇÕES PARA USAR A FICHA E COLETAR OS DADOS:

Esta ficha deve ser preenchida nas datas indicadas pela matriz de monitoramento de cada trilha. Antes de ir
para a trilha, copie da matriz de monitoramento, a localização de pontos que começaram a ser monitorados
anteriormente. Anote também as instruções para pegar as medidas de largura nestes pontos. Não se esqueça
de levar a trena!

1u Anotar o seu nome, nome da trilha e data da coleta nos espaços reservados.
2u Ao caminhar na trilha, procure os locais anotados, onde o monitoramento começou anteriormente.
Tome as medidas seguindo com precisão as instruções indicadas.
3u Preste atenção para outros locais ainda não anotados onde você acha que a trilha está se alargando.
Anote a localização de acordo com a marcação das estacas.
4u Tome ao menos duas medidas da largura da trilha, 5 ou 10 metros na frente uma da outra. Anote a
metragem da largura e descreva com precisão as instruções para que você ou um colega possam
tirar as medidas exatamente nos mesmos locais da próxima vez.
5u Ao terminar a trilha, conte o total de casos anotados onde a trilha está se alargando e coloque
na última linha, ao lado do “TOTAL”.

INDICADOR u LARGURA DE TRILHA

356
Monitoramento e controle de impactos de visitação – GESTÃO INTEGRADA

SISTEMA DE MONITORAMENTO E CONTROLE DE IMPACTOS…

357
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

SISTEMA DE MONITORAMENTO E CONTROLE DE IMPACTOS…

358
Monitoramento e controle de impactos de visitação – GESTÃO INTEGRADA

SISTEMA DE MONITORAMENTO E CONTROLE DE IMPACTOS…

359
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

SISTEMA DE MONITORAMENTO E CONTROLE DE IMPACTOS…

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Monitoramento e controle de impactos de visitação – GESTÃO INTEGRADA

SISTEMA DE MONITORAMENTO E CONTROLE DE IMPACTOS…

361
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

✑ TOME NOTA:

362
GESTÃO INTEGRADA

10.Administração
e práticas contábeis
Gilberto Fidelis
Ariane Janér

I. OBJETIVO geralmente aparecem imprevistos: o cenário


econômico geral muda; o governo muda
objetivo deste capítulo é apresentar seu regime fiscal; entram novos concor-

O mecanismos práticos para controles


administrativo e contábil de um
empreendimento de ecoturismo. Como os
rentes no mercado, e assim por diante.
Quem não tem um sistema administrativo
adequado corre o risco de tomar decisões
empreendimentos de ecoturismo em base erradas.
comunitária são, em sua maioria, de “Será que preciso aumentar o preço de 10
pequeno porte e o assunto de administração meus produtos? É melhor investir na expan-
e contabilidade muito extenso, será dada são do meu hotel ou na compra de um
ênfase aos conceitos mais importantes e às equipamento novo?” Para responder per-
práticas acessíveis para pequenas empresas. guntas como essas e tomar decisões geren-
Assim como nos capítulos de Viabilidade ciais, é preciso informação. Essa informação
Econômica e Elaboração de Produto, este só chega a tempo e com transparência se o
capítulo não pretende ser um completo guia sistema administrativo for adequado. Esse
para o desenvolvimento de sistemas admi- sistema não precisa ser complicado. Para al-
nistrativo-contábeis, mesmo para pequenas guns pequenos empreendimentos até pode
empresas. ser só no papel.
Recomenda-se que toda empresa ou O importante é a organização das infor-
associação legalizada contratem o serviço mações e a disciplina para manter o sistema
periódico ao menos de um contador. atualizado.
Entretanto, cabe ressaltar que a administra- A contabilidade é só uma das fontes de
ção de um negócio não se resume à con- dados de apoio para a administração, mas
tabilidade. existem muitas outras. É importante distin-
Este capítulo ajudará a orientar em- guir as duas atividades:
presários iniciantes sobre os elementos que
constituem uma boa prática administrativa e ❒ Administração é um conjunto de princí-
contábil. pios, normas e funções que têm por fim
ordenar os fatores de produção e contro-
II. INTRODUÇÃO CONCEITUAL lar sua produtividade e eficiência, para
se obter determinado resultado.
Uma vez constatado que um projeto de ❒ Contabilidade é o estudo e prática das
ecoturismo é viável, começa a fase de funções de orientação, controle e re-
gestão do empreendimento. O plano de gistro dos atos e fatos de uma adminis-
negócios é o ponto de partida, mas sem uma tração econômica.
boa administração as chances de sucesso
num mercado competitivo são reduzidas.
Na implantação de um plano de negócios,
363
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

III. CAIXA DE FERRAMENTAS atrair capital de investidores precisa ter


uma empresa comercial.
Neste capítulo são abordados os se-
guintes assuntos : 3) Provisões para distribuir
lucros/superávit
1. Forma Organizacional De que forma o projeto vai distribuir
2. Documentação e Legalização lucros ou superávit para a comunidade e
3. Tributação para projetos de conservação? Por exem-
4. Práticas Contábeis Básicas plo, uma ONG / OSCIP não pode dis-
5. Planejamento e Controle tribuir lucros, somente reinvestir em pro-
jetos ligados a seu objetivo social.
Os primeiros três assuntos são impor-
tantes para começar o empreendimento, 4) Custos de Administração
determinar a carga de impostos e, conse- e Cargo de Impostos
qüentemente, seus lucros. Os últimos dois Qual a carga de impostos (sobre fatura-
servem para dar maior agilidade e mento e sobre lucro) e qual o custo
transparência à administração do em- administrativo (transparência da con-
preendimento. tabilidade para fiscalização e da admi-
10 nistração para investidores e/ou patroci-
1. Forma Organizacional nadores)?

tipo de pessoa jurídica da instituição A seguir apresentamos de forma


O que vai gerir o projeto de ecoturismo é
muito importante. A decisão sobre isso deve
esquemática as principais alternativas de
pessoa jurídica. Porém, é importante lembrar
ser tomada na fase do plano de negócios, que existem mudanças freqüentes na tribu-
porque, como está demonstrado em exem- tação das diferentes formas organizacionais,
plo na seção Tributação, o tipo de pessoa que não podem ser detalhadas neste Manual
jurídica afeta diretamente a lucratividade do em função de sua complexidade. Por exem-
projeto. plo, os Estados podem estabelecer taxas
As formas organizacionais mais usadas específicas de ICMS ou regulamentar ou não
são ONG, empresa comercial e cooperativa. o SIMPLES. Um outro exemplo diz respeito à
Cada um tem vantagens e desvantagens. nova lei do Terceiro Setor, (Lei 9799 / 99) que
Para decidir qual a melhor opção para o representa um marco legal de regulação das
projeto de ecoturismo devem ser considera- atividades das ONG’s. Esta lei prevê para
dos os seguintes fatores : instituições, associações, cooperativas e fun-
dações abaixo descritas, quando reconheci-
1) Objetivo Social da Organização das pelo governo como Organização da
È um projeto comunitário? É um projeto Sociedade Civil de Interesse Público
sem fins-lucrativos? Se trata apenas de (OSCIP), a oportunidade de usufruir de boa
ecoturismo ou envolve também outras parte dos benefícios relacionados. Portanto
atividades? Existem planos de expandir? deve-se sempre consultar um contador sobre
Por exemplo, se é um projeto comu- as atualizações da legislação tributária,
nitário com fins lucrativos, a cooperativa assim como especialistas em organizações
pode ser uma boa opção. da sociedade civil (ver maiores informações
2) Fontes de financiamento no final do capítulo).
De que forma a organização vai ser
financiada? Com dinheiro de patrocínio, Institutos e Associações (ONG’s)
com empréstimos ou com capital de São pessoas jurídicas que aplicam inte-
investidores? Por exemplo, se quiser gralmente seus recursos na manutenção dos
364
Administração e práticas contábeis – GESTÃO INTEGRADA

seus objetivos institucionais, não distribuindo tério Público, tornando o processo de


quaisquer parcelas de seu patrimônio ou de legalização demorado.
sua renda a título de lucros ou participação ❒ Dificuldade de enquadrar a atividade de
em seus resultados. A aplicação dos recursos ecoturismo dentro dos seus objetivos
deve também ser feita apenas dentro do país. sociais.
Suas vantagens são:
❒ Agilidade nos processos de legalização Empresa Comercial Limitada
e/ou alterações estatutárias. Caracteriza-se pela execução de ativi-
❒ Isenção total e imediata dos seguintes dades comerciais diversas, estando sujei-
impostos e taxas: PIS (Programa de ta a tributação. É constituída por um mí-
Integração Social), ISS (Imposto Sobre nimo de dois sócios e o seu capital é
Serviços), IRPJ (Imposto de Renda de fechado, constituído em cotas.
Pessoa Jurídica), CSLL (Contribuição Suas vantagens são:
Social sobre Lucro Líquido), entre outros, ❒ Maior agilidade no processo de legaliza-
sob a forma de incentivos. ção e alterações contratuais.
❒ Facilidade na busca de patrocínios e ❒ Estrutura organizacional bem simples,
convênios para suas atividades. facilitando seu gerenciamento.
❒ Facilidade em conseguir inscrição como
entidade de Utilidade Pública. Sua desvantagem é: 10
❒ Custo tributário elevado.
Suas desvantagens são:
❒ Demora na tomada de algumas decisões Cooperativas
(é necessário reunir a assembléia geral). São associações de pessoas físicas ou
❒ Contabilidade específica, que precisa ser jurídicas, de responsabilidade limitada ou
feita por profissional com qualificação ilimitada, com interesses comuns, economi-
específica. camente organizadas de forma democrática,
contando com a participação livre de todos
Fundações (ONG) e respeitando direitos e deveres de cada um
São instituições de caráter social, criadas de seus cooperados, que lhe prestam
e mantidas por iniciativas de particulares ou serviços, sem fins lucrativos.
do Estado, com finalidades filantrópicas, Suas vantagens são:
educacionais, assistenciais, culturais, cientí- ❒ Custo tributário reduzido, além da isen-
ficas ou tecnológicas, tendo como funda- ção de alguns impostos, tais como IPRJ e
mento de sua existência um patrimônio des- COFINS em alguns casos.
tinado a um fim. ❒ Redução do custo para contratação de
Suas vantagens são: serviços.
❒ Por ter patrimônio próprio, a Fundação
fica investida de um alto grau de confia- Suas desvantagens são:
bilidade. ❒ Dificuldade na organização de sua estru-
❒ Isenção e/ou redução de impostos fede- tura, tendo em vista a necessidade de, no
rais, estaduais e/ou municipais, tais mínimo, 20 pessoas para criar uma
como: PIS, ISS, CSLL, IRPJ, dentre outros. cooperativa.
❒ Facilidade de inclusão como entidade de ❒ A forma de tomada de decisões por
Utilidade Pública, após decorrido o prazo maioria simples de todos os cooperados.
mínimo de três anos de sua constituição.
2. Documentação e Legalização
Suas desvantagens são:
❒ Necessidade de patrimônio para ser criada. ajuda de advogados e contadores é
❒ Necessidade de obter o aval do Minis- A importante para a orientação e encami-
365
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

nhamento do processo de constituição de ❒ Transferência da dotação para a fun-


uma pessoa jurídica. Como esses profissio- dação.
nais cobram pelo tempo de consultoria, é
aconselhável a preparação prévia da docu- Caso haja interesse em registrar o institu-
mentação (por exemplo, fazer um esboço to, a associação ou a fundação como insti-
do contrato social), diminuindo assim as tuição de Utilidade Pública, deve-se obser-
despesas de consultoria. Pode-se optar por var os seguintes pré-requisitos e proceder da
orientações do SEBRAE regional. seguinte forma:
Os passos a serem seguidos para 1º) O pedido de declaração de Utilidade
legalizar a pessoa jurídica e os documentos Pública será dirigido ao Secretário de Justiça
necessários são os seguintes : do Estado, acompanhado dos seguintes do -
cumentos comprobatórios:
Institutos e Associações a) Certidão de registro dos estatutos no
cartório componente.
❒ Preparação da Ata de Constituição e dos b) Atestado passado por autoridade judicial
Estatutos Sociais. da comarca onde está sediada a institu-
❒ Registro no Cartório do Registro Civil das ição requerente, sobre o seu funciona-
Pessoas Jurídicas. mento efetivo e contínuo nos 3 (três)
10 ❒ Após o registro dos Atos, pedido de re- anos imediatamente anteriores no caso
gistro de CNPJ no Ministério da Fazenda. das fundações e 3 (três) anos no caso de
❒ Com os Atos Constitutivos devidamente associações e institutos, com exata
registrados e o CNPJ, registro no órgão de observância dos princípios estatutários.
turismo estadual vinculado à Embratur. c) Atestado de bons antecedentes dos
❒ Registro na Secretaria Municipal da Fazen- membros da diretoria.
da, que dará direito ao número de Inscri- d) Demonstração do patrimônio existente,
ção Municipal e ao Alvará de localização. da receita e da despesa realizada no
❒ Compra dos livros fiscais e impressão exercício financeiro imediatamente ante-
das Notas Fiscais. rior à formulação do pedido.
❒ Custo de legalização estimado em e) Licença da autoridade policial compe-
R$1.500,00 (base do Rio de Janeiro, em tente para o funcionamento sempre que,
novembro de 2000). pela natureza da instituição, seja exigível
❒ Prazo de legalização estimado em 60 dias. pela Legislação.
f) Ata da assembléia de eleição da diretoria.
Fundações g) Outros comprovantes de registros, das
Secretarias Estaduais de Educação e
❒ Preparação da Ata da reunião que Cultura, do Ministério do Trabalho ou de
deliberou pela constituição da entidade. outro órgão em que por lei a entidade
❒ Escritura pública (Cartório de Notas), tenha que se registrar.
onde constarão os nomes dos fun- h) Relatório dos últimos três anos, em que
dadores, o patrimônio que constitui a fique demonstrado efetivo exercício das
dotação e a especificação dos objetivos atividades.
da fundação.
❒ Preparação do Estatuto que regerá a fun-
dação. A prova das condições estabelecidas acima
❒ Aprovação do Ministério Público
poderá também ser feita na Assembléia
(Curadoria de Fundações).
❒ Registro de todos os Atos acima men- Legislativa, caso se trate de lei
cionados no Cartório de Registro Civil a ser votada pela Assembléia.
das Pessoas Jurídicas.
366
Administração e práticas contábeis – GESTÃO INTEGRADA

2º) A declaração de Utilidade Pública, bem Cooperativas


como a sua manutenção, fica subordinada à
efetiva observância dos seguintes requisitos ❒ Preparação do Estatuto.
estatutários: ❒ Apresentação do Estatuto à entidade re-
a) Fim público sem qualquer discriminação presentativa das cooperativas no estado
quanto aos beneficiados. para apreciação, a fim de verificar se não
b) Ausência de finalidades lucrativas. há conflito com a legislação coopera-
c) Ausência de remuneração para seus diri- tivista vigente.
gentes ou conselheiros. ❒ Registro na Junta Comercial.
d) Ausência de distribuição de lucros ou ❒ Registro de CNPJ no Ministério da Fa-
dividendos aos sócios ou participantes. zenda, após o registro dos Atos.
e) Escrituração das receitas e despesas em ❒ Certificado do Corpo de Bombeiros.
livros revestidos de formalidades regula- ❒ Registro da Inscrição Estadual na
mentares capazes de comprovar-lhes a Secretaria de Fazenda do Estado (venda
exatidão. de produto).
f) Aplicação integral de seus recursos no ❒ Requerimento junto à Prefeitura Muni-
País, na manutenção dos objetivos cipal, do Alvará de Licença para esta-
estatutários. belecimento e da Inscrição Municipal.
❒ Registro na entidade representativa das 10
Empresa Comercial Limitada cooperativas no estado.
❒ Compra e Autenticação dos Livros
❒ Preparação dos Atos Constitutivos com Fiscais.
os objetivos específicos para a atividade ❒ Impressão das Notas Fiscais.
de ecoturismo.
❒ Registro dos Atos no Cartório do Registro 3. Tributação
Civil das Pessoas Jurídicas ou na Junta
Comercial Estadual. s impostos representam um custo
❒ Registro de CNPJ no Ministério da
Fazenda, após o registro dos Atos.
O importante em qualquer empreendi-
mento e merecem bastante atenção. Vale
❒ Registro no órgão de turismo estadual lembrar que sonegar impostos é crime e a
vinculado à Embratur. Receita Federal está cada vez melhor
❒ Registro na Secretaria Municipal da equipada para fiscalizar possíveis sone-
Fazenda, que dará direito ao número de gadores. Os impostos e tributos podem ser
Inscrição Municipal e ao Alvará de divididos em três categorias gerais: tribu-
Localização. tação sobre faturamento, sobre lucro e sobre
❒ Registro de Inscrição Estadual na folha de pagamento.
Secretaria de Fazenda do Estado (venda
de produtos). Impostos sobre Faturamento
❒ Compra dos livros fiscais e impressão
das Notas Fiscais. ❒ PIS (Programa de Integração Social) 4
❒ Custo de legalização estimado em Tributo federal sobre o faturamento bruto
R$1.500,00 (base do Rio de Janeiro, em com uma alíquota de 0,65%. Caso a
novembro de 2000). opção seja pela criação de uma ONG,
❒ Prazo de legalização estimado em 60 dias. esse imposto poderá incidir sobre a folha
de pagamento, a uma alíquota de 1%.
Caso haja necessidade de registro ❒ COFINS 4 Tributo federal, com alíquota
no regime do Simples (ver item 3, abaixo), de 2% incidente sobre o faturamento
é necessário um enquadramento específico. bruto da empresa, com exceção das
microempresas, que podem ser enqua-
367
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

dradas no regime fiscal Simples (ver item IRPJ, incidindo uma alíquota de 8%
específico após a Tabela 1). sobre o lucro líquido.
❒ ISS (Imposto Sobre Serviços) 4 Tributo LUCRO PRESUMIDO: a empresa tributada reco-
municipal, geralmente com uma alíquo- lhe 1% sobre o faturamento bruto mensal.
ta de 5%, incidente sobre o faturamento ❒ IRPJ (Imposto de Renda de Pessoa
bruto do mês. Por exemplo, venda de Jurídica) 4 Tributo federal, cobrado con-
pacotes (serviços) turísticos. forme o regime de tributação da empresa:
❒ ICMS (Imposto sobre Circulação de LUCRO REAL: alíquota de 15%, até um lucro de
Mercadorias e Serviços) 4 Tributo esta- R$ 240 mil por ano; além desse valor, a
dual, com alíquota em torno de 18%, alíquota é de 25% sobre o lucro líquido.
dependendo do Estado, incidente sobre LUCRO PRESUMIDO: alíquota de 4,8%, na
a venda de mercadorias. Por exemplo, atividade de ecoturismo.
venda de camisetas.
Incentivos fiscais
Impostos sobre o lucro
Para atrair novos empreendimentos,
❒ CSLL (Contribuição Social sobre Lucro vários estados e municípios oferecem incen-
Líquido) 4 Tributo federal, que pode ser tivos fiscais na forma de isenção (por prazo
10 cobrado conforme o lucro real ou o determinado) ou redução de impostos. A
lucro presumido: existência de incentivos deve ser verificada
LUCRO REAL: a empresa tributada só recolhe e, em caso afirmativo, as alíquotas mostradas
a Contribuição Social no momento do na Tabela 1 a seguir devem ser adequadas.

TABELA 1

IMPOSTOS INCIDENTES SOBRE A FORMA OPERACIONAL DE CADA EMPRESA

TIPOS DE IMPOSTOS
PESSOA JURÍDICA SOBRE O FATURAMENTO (%) SOBRE O LUCRO (%)
FEDERAL MUNICIPAL ESTADUAL FEDERAL
PIS COFINS ISS ICMS IRPJ CSLL
Comercial Limitada:
- Lucro Real 0,65* 2* Geralmente Sobre vendas 15*** 8***
5** de mercadorias
- Lucro Presumido 0,65* 2* 5** Sobre vendas Conforme 0,96****
de mercadorias Atividades
Instituições 1***** Isenta Isenta Isenta Isenta Isenta
e Associações
Fundações 1***** Isenta Isenta Isenta Isenta Isenta
Cooperativas 1***** Isenta 5** Sobre vendas Isenta Isenta
(A) de mercadorias

( REFERÊNCIAS: **** % sobre Receita Estimada


***** % sobre Folha de Pagamento
* % sobre o Faturamento (A) observar o disposto na legislação
** % sobre Serviços específica
*** % sobre Lucro
368
Administração e práticas contábeis – GESTÃO INTEGRADA

CPMF (Contribuição Provisória deve ser limitada e o faturamento anual não


sobre Movimentação Financeira) pode ultrapassar R$ 720 mil. Também há
restrições quanto às atividades e aos sócios.
Sobre todas as movimentações finan- Como as restrições são muitas, enquadrar no
ceiras, também incide atualmente a CPMF. Simples um empreendimento de turismo
Previsto inicialmente para desaparecer depende da interpretação da lei. Por exem-
assim que o Governo equilibrasse suas con- plo, uma agência de turismo é excluída
tas, esse imposto tende a tornar-se perma- porque revende produtos de outros, o que é
nente. A alíquota é de 0,38% sobre qual- corretagem, atividade que não pode se
quer tipo de movimentação financeira. enquadrar no Simples. Espera-se que essa lei,
que é nova, ainda sofra algumas adaptações.
A Tabela 1 apresenta um resumo dos Deve-se ficar atento para legislações
impostos sobre faturamento e lucro de acor- específicas em cada Estado que regulamen-
do com a forma organizacional. tam o SIMPLES. Alguns deles, por exemplo,
não regulamentaram e, portanto, não se per-
Enquadramento no regime fiscal mite adesões. Outros prevêem diferentes
Simples para micro empresas taxas de ICMS para empresas inscritas no
e empresas de pequeno porte SIMPLES. Consulte seu contador ou a
Secretaria da Fazenda do estado. 10
Uma forma de evitar o custo tributário Na tabela 2 apresentamos um resumo da
elevado é enquadrar o empreendimento no forma de calcular os impostos incidentes em
regime fiscal Simples. Para isso, a empresa empresas enquadradas no Simples.

TABELA 2
IMPOSTOS E ALÍQUOTAS INCIDENTES EM EMPRESAS
ENQUADRADAS NO REGIME FISCAL SIMPLES

IMPOSTO PERCENTUAIS POR FAIXA DE RECEITA BRUTA


CONTRIBUIÇÃO MICRO EMPRESA EMPRESA DE PEQUENO PORTE

I* II* III* IV* V* VI* VII* VIII*


ATÉ DE DE ATÉ DE DE DE DE
60.000,00 60.000,01 90.000,01 240.000,00 240.000,01 360.000,01 480.000,01 600.000,01
A A A A A A
90.000,00 120.000,00 360.000,00 480.000,00 600.000,00 720.000,00
IRPJ zero zero zero 0,13% 0,26% 0,39% 0,52% 0,65%
PIS/PASEP zero zero zero 0,13% 0,26% 0,39% 0,52% 0,65%
CSLL zero 0,4% 1% 1% 1% 1% 1% 1%
COFINS 1,8 % 2% 2% 2% 2% 2% 2% 2%
Contribuições
Previdenciárias
do Empregador 1,2% 1,6% 2% 2,14% 2,28% 2,42% 2,56% 2,7%
Subtotal I 3% 4% 5% 5,4% 5,8% 6,2% 6,6% 7%
IPI 0,5% 0,5% 0,5% 0,5% 0,5% 0,5% 0,5% 0,5%
Subtotal II 3,5% 4,5% 5,5% 5,9% 6,3% 6,7% 7,1% 7,5%
ICMS e/ou ISS Até 1% Até 1% Até 1% Até 2,5% Até 2,5% Até 2,5% Até 2,5% Até 2,5%
Total Geral Até 4,5% Até 5,5% Até 6,5% Até 8,4% Até 8,8% Até 9,2% Até 9,6% Até 10%

( REFERÊNCIA: *Valores em R$
369
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

Impostos sobre a Folha é 2,9%.


de Pagamento ou Encargos Sociais ❒ Outros4 Também considerados encargos
sociais mensais são as provisões de 13º
❒ PIS sobre a Folha de Pagamento4 No salário, correspondente a 8,33% do salário
caso das ONGs, recolhimento de 1% (1 salário dividido por 12 meses); férias,
sobre a folha de pagamento. correspondentes a 11,1% do salário (ou 1
❒ FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de 1/3 salário dividido por 12 meses); e aviso
Serviço) 4 Para um contrato normal são prévio, correspondentes a 8,33% (1 salário
recolhidos 8% sobre a folha de paga- dividido por 12 meses).
mento mensal. Além disso, deve ser feita
uma provisão para multa de 3,2% para Contrato Temporário
casos de rescisão de contrato. Para um Para empresas em expansão ou com ativi-
contrato temporário (ver abaixo), o reco- dades cíclicas (sazonais), a nova legislação
lhimento é de 2% sobre a folha de paga- trabalhista permite contratos temporários
mento sem necessidade de fazer pro- sobre os quais incidem os mesmos encargos
visão para rescisão de contrato. sociais, porém são necessárias provisões em
❒ INSS (Seguridade Social) 4 A con- caso de demissão ou rescisão de contrato.
tribuição é de 20%. Também é pago um Um contrato temporário pode durar, no má-
10 seguro de 2%. ximo, 2 anos, e só pode ser renovado uma
❒ Terceiros (Salário Educação, INCRA, vez. Esse contrato vai depender de anuência
SENAC, SESC, SEBRAE, etc.) 4 Para um dos sindicatos de classe para ser firmado.
contrato normal é 5,8% sobre a folha de A Tabela 3, a seguir, apresenta o resumo
pagamento; para um contrato temporário dos encargos sociais.
TABELA 3

ENCARGOS SOCIAIS E TRABALHISTAS


IMPOSTO NATUREZA DA ORGANIZAÇÃO
Empresa: Limitada Empresa: Simples Entidade: Isenta / IR Contrato Temporário
% % % %
20,00 Incidência s/total 1,20 Para faturamento 20,00 Incidência s/total 20,00 Incidência s/total
dos salários até R$ 60.000,00 dos salários dos salários
INSS anual
2,00 Incidência s/total 2,00 Incidência s/total 1,00 Incidência s/total
salários – seguro salários – seguro salários – seguro
5,80 Incidência s/total 2,70 Variação para 4,50 Incidência s/total 2,90 Incidência s/total
TERCEI- salários – terceiros faturamento até salários – terceiros salários – terceiros
ROS R$ 720.000,00
FGTS 8,00 Incidência s/ total 8,00 Incidência s/total 8,00 Incidência s/total 8,00 Incidência s/total
dos salários dos salários dos salários dos salários
PIS – – – – 1,00 Incidência s/otal – –
dos salários
PROVISÕES
13º 8,33 Incidência s/total 8,33 Incidência s/total 8,33 Incidência s/ total 8,33 Incidência s/total
Salário dos salários dos salários dos salários dos salários
Férias 11,10 Incidência s/total 11,10 Incidência s/total 11,10 Incidência s/total 11,10 Incidência s/total
dos salários dos salários dos salários dos salários
Multa – 3,20 Incidência s/total 3,20 Incidência s/total 3,20 Incidência s/total – –
FGTS dos salários dos salários dos salários
Aviso 8,33 Incidência s/total 8,33 Incidência s/total 8,33 Incidência s/total – –
Prévio dos salários dos salários dos salários
370
Administração e práticas contábeis – G ESTÃO INTEGRADA

Para ilustrar a importância da pessoa R$ 250 mil, que paga salários (excluídos os
jurídica e do regime fiscal, seguem dois encargos) de R$ 60 mil e tem outras despe-
exemplos. sas na ordem de R$ 100 mil.
Como se pode observar na Tabela 4, o
O EFEITO DA ESCOLHA melhor resultado se obtém com uma ONG
EXEMPLO 1:
DA PESSOA JURÍDICA de Utilidade Pública, e o pior com uma
empresa limitada que declara pelo lucro
Tomemos como exemplo um presumido. Cooperativas e o regime Sim-
empreendimento com faturamento bruto de ples também são vantajosos neste exemplo.
TABELA 4

ILUSTRANDO A IMPORTÂNCIA DA CUIDADOSA SELEÇÃO DA PESSOA JURÍDICA (EM R$)

TIPO DE PESSOA FAT.1 IMPOSTOS FAT. DESPESAS SALÁRIOS ENCARGOS LUCRO IMPOSTOS LUCRO
JURÍDICA BRUTO SOBRE LÍQUIDO SOCIAIS3 BRUTO SOBRE LÍQUIDO
FAT.2 LUCRO4
Ltda Lucro Real 250.000 19.125 230.875 100.000 60.000 38.195 32.680 7.516 25.163
Ltda Lucro 250.000 33.525 216.475 100.000 60.000 38.195 18.280 0 18.280
10
Presumido
Ltda Simples 250.000 15.225 234.775 100.000 60.000 19.667 55.108 0 55.108
ONG 250.000 0 250.000 100.000 60.000 38.862 51.138 0 51.138
Fundação 250.000 0 250.000 100.000 60.000 38.862 51.138 0 51.138
Cooperativa 250.000 12.500 237.500 100.000 60.000 9.000 68.500 0 68.500
Utilidade 250.000 0 250.000 100.000 60.000 16.648 73.353 0 73.353
Publica
( REFERÊNCIAS:
1 Fat. = Faturamento.
2 Aplicação das alíquotas para cada tipo de pessoa jurídica mostradas na Tabela 1 para os impostos
PIS, COFINS, ISS, ICMS. No caso da pessoa jurídica enquadrada no regime fiscal Simples,
ver alíquotas na Tabela 2.
3 Aplicação das alíquotas para cada tipo de pessoa jurídica mostradas na Tabela 3, exceto no caso
do Simples (Tabela 2).
4 Aplicação das alíquotas para cada tipo de pessoa jurídica mostrada na Tabela 1 para os impostos
IRPF e CSLL, exceto no caso do Simples (Tabela 2)

Para mostrar que tudo depende do fatu- limitada, é melhor declarar lucro presumido
ramento e estrutura de custo do empreendi- que real. O regime Simples, que no exem-
mento, vamos a outro exemplo. plo já visto deu um resultado bem parecido
ao de uma ONG, torna-se menos atrativo.
O EFEITO DO
FATURAMENTO E DA Concluindo os dois exemplos, para
EXEMPLO 2: ESTRUTURA DE CUSTOS decidir qual é a melhor pessoa jurídica para
o empreendimento de ecoturismo, devem
Tomemos um empreendimento bem ser considerados:
mais lucrativo, com faturamento de R$ 650
mil, e despesas e salários iguais aos do ❒ Objetivo do empreendimento 4 lucro
exemplo anterior. Na tabela 5 (pág. para acionistas ou função “social” para a
seguinte) observa-se que, para uma empresa comunidade.
371
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

TABELA 5
ILUSTRANDO O IMPACTO DO NÍVEL DE FATURAMENTO E DA ESTRUTURA DE CUSTOS
(EM R$)
TIPO DE PESSOA FAT.1 IMPOSTOS FAT. DESPESAS SALÁRIOS ENCARGOS LUCRO IMPOSTOS LUCRO
JURÍDICA BRUTO SOBRE LÍQUIDO SOCIAIS3 BRUTO SOBRE LÍQUIDO
FAT.2 LUCRO4
Ltda Lucro Real 650.000 49.725 600.275 100.000 60.000 38.195 402.080 92.478 309.601
Ltda Lucro 650.000 49.725 600.275 100.000 60.000 38.195 402.080 0 402.080
Presumido
Ltda Simples 650.000 33.475 616.525 100.000 60.000 19.667 436.858 0 436.858
ONG 650.000 0 650.000 100.000 60.000 38.862 451.138 0 451.138
Fundação 650.000 0 650.000 100.000 60.000 38.862 451.138 0 451.138
Cooperativa 650.000 32.500 617.500 100.000 60.000 9.000 448.500 0 448.500
Utilidade 650.000 0 650.000 100.000 60.000 16.648 473.353 0 473.353
Publica

( REFERÊNCIAS:
10 1 Fat. = Faturamento.
2 Aplicação das alíquotas para cada tipo de pessoa jurídica mostradas na Tabela 1 para os impostos
PIS, COFINS, ISS, ICMS. No caso da pessoa jurídica enquadrada no regime fiscal Simples,
ver alíquotas na Tabela 2.
3 Aplicação das alíquotas para cada tipo de pessoa jurídica mostradas na Tabela 3, exceto
no caso do Simples (Tabela 2).
4 Aplicação das alíquotas para cada tipo de pessoa jurídica mostrada na Tabela 1 para os impostos
IRPF e CSLL, exceto no caso do Simples (Tabela 2)

❒ Tamanho de empreendimento 4 se o qualquer profissional poderia fazê-lo com


faturamento for maior que R$ 720 mil, o êxito. Porém, a contabilidade também é a
regime não pode ser o Simples. principal fonte de dados para a administração
❒ Número e tipo de sócios 4 quem e quan- do empreendimento. Por isso precisa ser
tos estão envolvidos na parceria. transparente, de forma que os admi-
❒ Facilidade de vender participação nistradores possam tomar suas decisões.
4 é mais fácil no caso de empresa co- Os elementos básicos de uma contabili-
mercial. dade são :
❒ Contabilidade 4 declarando-se lucro pre-
sumido, reduz-se a burocracia. Livro caixa
Todas as entradas e saídas de caixa são
4. Práticas contábeis básicas escrituradas no livro caixa. Essa é a forma de
or exigência legal, qualquer pessoa jurídi- contabilidade mais simples. Veja o Exemplo
P ca precisa ter uma contabilidade. Essa
contabilidade é a base para apuração dos
3 na página seguinte.
O objetivo é controlar as despesas e
impostos e tributos a serem pagos, bem como receitas futuras, para que se possa planejar o
para o planejamento das contas do empre- fluxo de dinheiro no caixa.
endimento. Se a pessoa jurídica receber a visi-
ta de um fiscal da receita, precisa abrir os Contas a pagar e receber
livros contábeis, mostrar as notas fiscais, etc. O objetivo é controlar as despesas e
Se o objetivo de fazer contabilidade fosse receitas futuras, para que se possa planejar o
só para prestar informações à Receita Federal, fluxo de dinheiro no caixa.
372
Administração e práticas contábeis – GESTÃO INTEGRADA

EXEMPLO 3: LIVRO CAIXA


Item Data Entrada Saida Saldo
Saldo 30/06/98 200
Birding Brazil 15/07/98 1.499 1.699
Hotel Beija Flor 20/07/98 300 1.399
Saldo 31/07/98 1.399
Supermercado 07/08/98 90 1.309
Restaurante Ticotico 08/08/98 110 1.199
Restaurante Bem-te-vi 08/08/98 145 1.054
Ingressos 08/08/98 200 854
Restaurante Sai 09/08/98 115 739
Guia Local 10/08/98 60 679
Guia Ornitólogo 10/08/98 200 479
Hotel Beija-Flor 10/08/98 300 179 10
Gratificações 10/08/98 20 159
Birding Brazil 15/08/98 1.525 1.684
Transporte 18/08/98 280 1.404
Saldo 31/08/98 1.404

Plano de contas sas, investimentos e financiamentos em ca-


Para um maior controle das finanças da tegorias e subcategorias, de forma que
empresa, aconselha-se fazer um plano de retrate o funcionamento do empreendimen-
contas, ou seja, organizar as receitas, despe- to. É importante separar cada categoria.

MODELO DE PLANO DE CONTAS


EXEMPLO 4: E O CASO DO PROJETO SILVES

= Venda de serviços/produtos.
= Salários temporários.
= Salários fixos.
= Alimentação.
= Combustível.
= Manutenção.
= Material de consumo.
= Pagamento de água/luz.
= Telefone.

373
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

O Projeto Silves mantém uma pousada, mecanismos de controle adequados foram


Pousada Ecológica Aldeia dos Lagos, e desenvolvidos, observou-se que os preços
desenvolve projetos com a comunidade. No cobrados estavam subestimados, ou seja,
começo do Programa de Ecoturismo de Base abaixo dos custos da pousada.
Comunitária a ASPAC, entidade que imple-
menta o projeto, já registrava todos os gastos Conta Razão
e receitas num livro caixa. Dessa forma, já Esse controle visa demonstrar, de forma
era possível saber se havia dinheiro em caixa transparente, a posição de cada conta do
ou em quanto crescia ou diminuía o saldo plano de contas, seus saldos e movimen-
por mês. No entanto, não havia controle de tações diárias. O exemplo a seguir mostra
despesas com projetos com a comunidade e os custos diretos (ver capítulo Viabilidade
quanto se faturava com ecoturismo. Também Econômica) de um hotel, divididos em
não havia subsídios para avaliar se os preços pagamentos para autônomo, conta de com-
praticados eram corretos. Quando os bustível, serviços, supermercado e traslado.
CONTA RAZÃO
EXEMPLO 5: E UM EXEMPLO DE SUA UTILIDADE
ESPECIFICAÇÃO CONTA DATA MOVIMENTO
10
Arrumadeiras Autônomo 11/07/98 40
Arrumadeiras Autônomo 18/07/98 40
Arrumadeiras Autônomo 23/07/98 20
Arrumadeiras Autônomo 28/07/98 20
Auxiliar de Cozinha Autônomo 11/07/98 20
Auxiliar de Cozinha Autônomo 18/07/98 20
Auxiliar de Cozinha Autônomo 23/07/98 20
Cozinheira Autônomo 11/07/98 40
Cozinheira Autônomo 18/07/98 40
Cozinheira Autônomo 23/07/98 40
Cozinheira Autônomo 28/07/98 40
Guias Locais Autônomo 11/07/98 60
Guias Locais Autônomo 18/07/98 45
Guias Locais Autônomo 23/07/98 30
Guias Locais Autônomo 28/07/98 15
Salário de Guia Naturalista Autônomo 11/07/98 400
Salário de Guia Naturalista Autônomo 18/07/98 400
Salário de Guia Naturalista Autônomo 23/07/98 400

Autônomo Total 1.690

Combustível para Barco 1 Combustível 07/07/98 600


Combustível para Barco 1 Combustível 14/07/98 600
Combustível para Barco 1 Combustível 19/07/98 600
374
Administração e práticas contábeis – GESTÃO INTEGRADA

CONTA RAZÃO
EXEMPLO 5: E UM EXEMPLO DE SUA UTILIDADE
ESPECIFICAÇÃO CONTA DATA MOVIMENTO
Combustível para Barco 2 Combustível 07/07/98 300
Combustível para Barco 2 Combustível 24/07/98 300
Combustível Total 2400
Lavanderia Serviços 12/07/98 75
Lavanderia Serviços 19/07/98 50
Lavanderia Serviços 24/07/98 40
Lavanderia Serviços 29/07/98 25
Serviços Total 190

Supermercado Supermercado 07/07/98 500


Supermercado Supermercado 14/07/98 350
Supermercado Supermercado 19/07/98 300
10
Supermercado Supermercado 24/07/98 250
Supermercado Total 1400
Traslado terrestre Traslado 07/07/98 50
Traslado terrestre Traslado 11/07/98 50
Traslado terrestre Traslado 14/07/98 50
Traslado terrestre Traslado 18/07/98 50
Traslado terrestre Traslado 19/07/98 50
Traslado terrestre Traslado 23/07/98 50
Traslado terrestre Traslado 24/07/98 25
Traslado terrestre Traslado 28/07/98 25
Traslado Total 350
TOTAL GERAL 6.030

375
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

Sabendo-se também quantos turistas se custo direto por turista está dentro do plane-
hospedaram no hotel em determinado mês e jado. Suponha-se que o hotel recebeu 38
qual foi a receita, é possível verificar se o turistas nesse período:
EXEMPLO 6:
Custo direto por turista = R$ 6.030 : 38 = R$ 159, divididos da seguinte forma:

CONTA VALOR 7/98 % TOTAL POR TURISTA PLANO

Autônomo Total 1.690 28% 44 45


Combustível Total 2.400 40% 63 50
Serviços Total 190 3% 5 5
Supermercado Total 1.400 23% 37 40
Traslado Total 350 6% 9 10
Total 6.030 100% 159 150
10 Se no planejamento do ano tivesse sido Contas bancárias separadas
projetado um custo direto médio de R$ 150 Se um projeto tiver várias atividades dis-
por turista, o administrador saberia que a tintas, é recomendável ter contas bancárias
despesa desse mês foi excessiva, e também distintas.
poderia constatar que o problema está no
gasto com combustível.

CONTA BANCÁRIAS SEPARADAS NO PROJETO TAMAR


EXEMPLO 7: EM FERNANDO DE NORONHA

A base do Projeto TAMAR/IBAMA em Fernando de Noronha construiu um Centro de


Visitantes (um bem para ser depreciado – ver capítulo Viabilidade Econômica), com uma loja
e uma cafeteria. Também desenvolve atividades de ecoturismo. Além disso, mantém projetos
de conservação, financiados em parte pelo IBAMA. Se todas as despesas e receitas entrassem
na mesma conta, não se saberia onde (e quanto) se ganha e como se gasta o dinheiro. Seria
difícil responder perguntas simples como :
· Quanto custou construir o Centro de Visitantes?
· Os ganhos da loja e da cafeteria podem pagar as despesas de manutenção do
Centro de Visitantes, os projetos de conservação e os custos administrativos do
TAMAR/FN?
· O IBAMA nos deve dinheiro, ou vice-versa?

Ao se criar contas separadas para a construção do Centro de Visitantes, as atividades


comerciais, os projetos de conservação e a administração, transferências bancárias entre
contas tornam claras as seguintes questões:
· O investimento no Centro de Visitantes.
· O lucro (bruto) das atividades comerciais.
· Os subsídios das atividades comerciais para as atividades de conservação.

376
Administração e práticas contábeis – GESTÃO INTEGRADA

5. Planejamento e Controle exemplo, para o estabelecimento de


preços.
uem não sabe planejar não tem con- ❒ Projeção do fluxo de caixa a curto prazo.
Q trole sobre o futuro. Um plano não
protege contra tudo, mas evita erros básicos
Esta ação é útil, por exemplo, para não
entrar no vermelho, o que obrigará o
e permite reagir mais rapidamente diante da empresário a pagar altas taxas de juros
ocorrência de problemas. sobre o financiamento a que tiver neces-
sariamente que recorrer.
Ciclo de planejamento ❒ Projeção de lucros/superávit, para
Uma empresa bem administrada tem poder planejar a médio e longo prazos.
sempre um planejamento adequado às
suas atividades. O plano de negócios é seu Administração de marketing
primeiro projeto estratégico de longo prazo O marketing é um aspecto chave do
(ver capítulo Viabilidade Econômica). sucesso de um empreendimento, portanto
Recomenda-se fazer um plano anual deve estar presente nas rotinas administrati-
de atividades (por setor, se o em- vas (para toda esta seção, ver capítulo
preendimento for grande), com uma pre- Elaboração do Produto de Ecoturismo). Uma
visão de vendas e necessidades finan- das primeiras providências a se tomar, quan-
ceiras (orçamento anual). De preferên- do se pretende investir em ecoturismo, é 10
cia, esse plano deve ser detalhado mês a preparar um cadastro de contatos, de suma
mês. Periodicamente (com maior ou importância para o marketing. Esses contatos
menor freqüência, dependendo da são, além de clientes atuais e em potencial,
necessidade), discutem-se em reunião as a imprensa, patrocinadores, consultores,
diferenças entre as metas e o uso de líderes de comunidade, amigos do projeto,
recursos financeiros projetados e realiza- etc. Esse banco de dados é a base para:
dos, e se é necessário ajustar o plano a ❒ Mala direta dirigida 4 Por exemplo,
uma nova realidade. informação para a imprensa.
❒ Controle do retorno de ações de market -
Uso de contabilidade para ing 4 Este cliente é fruto de qual inicia-
monitoramento e planejamento tiva de promoção?
financeiro ❒ Ações específicas 4 Por exemplo, há
As práticas contábeis já foram discutidas problemas que podem ser resolvidos
no item 4. Resumindo, para melhor monitorar com a mobilização de pessoas com
seu desempenho financeiro, precisa-se de: influência política.
❒ Contas bancárias separadas para ativi-
dades separadas, como por exemplo, Além disso, é necessário um sistema de
vendas em loja, operação de hotel, pro- reservas que deve gerar as seguintes infor-
jeto de conservação, etc. Cabe atentar mações:
para o fato de que se o movimento de ❒ Número de turistas recebidos e sua per-
uma atividade for pouco expressivo, não manência.
é necessário criar uma nova conta. Por ❒ Taxa de cancelamento.
exemplo, se o movimento de vendas na ❒ Previsão de turistas para os próximos
loja do hotel for muito baixo, ele pode meses.
ser gerenciado pela própria conta da ❒ Fonte da reserva 4 Por exemplo, via
operação do hotel. Internet, via agência, direto com o
❒ Criação de categorias de custos, de empreendimento, etc.
forma a acompanhar custos diretos e ❒ Como o cliente soube de seu produto? 4
custos indiretos (ver capítulo Viabilidade Já era cliente, por folheto, por recomen-
Econômica). Isto é bastante útil, por dação de amigos, etc.
377
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

A satisfação dos clientes deve ser medi- a) Alimentação


da através de um tour comments, ou seja, Despesas elevadas com alimentação têm
qualquer mecanismos de avaliação dos várias causas. É possível que se esteja
serviços prestados que se estabeleça no seu jogando muita comida fora (deve-se veri-
negócio, como por exemplo, fichas de ava- ficar, a propósito, se o turista está satis-
liação (mais formal) ou telefonemas e e- feito com a comida). É necessário um
mails após o final da viagem (mais infor- controle de compras e estoque, e veri-
mal). Os comentários dos turistas devem ser ficar se o(a) cozinheiro(a) sabe dimen-
avaliados para subsidiar alterações nos sionar a quantidade de comida a ser
serviços ou instalações. Deve-se arquivar os comprada para o número de turistas.
formulários para subseqüentes avaliações. Outra causa pode ser a excessiva pulve-
Também deve-se manter um diário sim- rização das compras entre vários
ples no qual são anotados detalhes sobre o fornecedores. A não ser que isso seja
clima, acontecimentos importantes (“Vimos intencional (para distribuir benefícios
uma onça ao lado do hotel”; “Turista X que- para a comunidade), deve-se concentrar
brou a perna”). Esse diário é uma memória mais as compras e negociar descontos.
útil para consultas sobre as chances de
chuva em determinado mês, ou para evitar b) Transporte
10 imprevistos que provoquem insatisfações. Em caso de uso de transporte próprio
(barcos, veículos, etc.) deve-se adminis-
Administração Operacional trar as despesas com combustível e
Quando o desempenho financeiro reve- manutenção. A primeira providência é
lar que os gastos do empreendimento são saber a distância normalmente percorri-
muito altos, é necessário entender as causa da e quanto combustível se gasta em
para que se possa cortá-los. Deve-se ter uma média. Dessa forma se obtém um
idéia do que “fisicamente” acontece. Para parâmetro de comparação. Depois deve-
isso, é preciso prestar atenção em três itens se instituir um controle diário de uso do
especificamente: meio de transporte, ou seja, uma cader-
neta onde se anote, no mínimo, os itens
mostrados no exemplo abaixo.
CONTROLE DIÁRIO DE USO
EXEMPLO 8: DE MEIO DE TRANSPORTE PRÓPRIO
IDENTIFICAÇÃO DO MEIO DE TRANSPORTE:
Dia Hora Trajeto Motivo Responsável Gastos (Combustível, Manutenção)
Tipo Litros Custo
de gasto total R$

378
Administração e práticas contábeis – GESTÃO INTEGRADA

Assim, identifica-se o uso inadequado do ❒ Elaboração de formulários (reserva, reci-


meio de transporte, os gastos excessivos bos, vouchers, tour comments, etc.) e
com manutenção etc. No caso específico de processamento de informações dos for-
carro, van, micro-ônibus etc., pode-se mulários preenchidos automaticamente.
incluir uma coluna na tabela para colo- ❒ Desenho e produção de folhetos e apos-
cação da quilometragem no começo e no tilas.
final do trajeto. ❒ Manutenção de um banco de dados de
clientes (mala direta, melhoria de atendi-
c) Recursos Humanos mento, etc.).
O turismo é um negócio altamente ❒ Contabilidade.
dependente de recursos humanos. Muitas ❒ Internet (pesquisa e marketing).
vezes são os funcionários e contratados que
fazem a diferença entre uma empresa e Existem vários softwares no mercado que
outra. Isso começa no atendimento ao tele- podem ser usados por pequenas e médias
fone no primeiro contato e continua até empresas. Por exemplo, para um nível mais
depois do tour. simples e pessoal, o Microsoft Money e o
Os salários e encargos representam a Quicken, e para um nível mais sofisticado o
maior parte dos custos de overhead (custos Quickbooks (brasileiro).
indiretos) de uma empresa. Geralmente se 10
trabalha com funcionários e free lancers, IV. RISCOS E RECOMENDAÇÕES
estes últimos contratados temporariamente
nas épocas de maior movimento. É muito importante, no início do negócio,
Os salários no mundo do turismo são rela- apoio técnico para buscar conhecimento e
tivamente baixos e a rotatividade (turn over) de treinamento. O grande risco é o empreende-
recursos humanos é alta. O “troca-troca” de dor acreditar que não precisa se organizar, por
funcionários enfraquece a memória e o estilo estar tudo transparente dentro de sua cabeça.
de uma empresa. Talvez valha a pena pagar O que ele esquece é que se o negócio cresce
um pouquinho melhor, vincular o salário ao rápido, ele pode não conseguir acompanhar.
desempenho da empresa, ou procurar outras Se ele viajar, ficar doente ou incapacitado de
formas (treinamento, benefícios) de incentivar estar à frente do negócio, o substituto será ca-
a lealdade dos funcionários. O custo pode ser paz de assumir o empreendimento?
mais alto, mas isso pode ser compensado pela Outro risco é exagerar na administração
maior produtividade. e criar uma grande burocracia, que paralisa
O treinamento dos funcionários e con- a estrutura e eleva custo, não justificado
tratados é uma maneira de personalizar o pelos ganhos.
estilo da empresa. Deve-se, por exemplo,
levar funcionários de escritório a participar Mais informações
de um tour o que aumentará o seu envolvi- As instituições do SEBRAE e do SENAC
mento com o trabalho. possuem representações regionais e podem
ser importantes no apoio ao planejamento,
Computadores implantação e gestão do ecoturismo.
O computador é quase indispensável no Serviços como incubadoras de empresas e
dia-a-dia do turismo. Empreendimentos técnicas de empreendedorismo existem nos
pequenos, com uma operação simples, SEBRAE regionais e em algumas universi-
podem funcionar com papel, mas para a dades (p. ex. empresa júnior formada por
maioria dos empreendimentos turísticos o estudantes de turismo ou administração).
computador pode ser uma arma poderosa Por causa das freqüentes mudanças na
para facilitar o trabalho administrativo. legislação é melhor se atualizar via contador
Possíveis usos para o computador são: e sites no Internet. As mais importantes fontes
379
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

de apoio gerais para empreendedores são : Secretaria da Receita Federal – Ministério da


Fazenda
SEBRAE www.receita.fazenda.gov.br
www.sebrae.com.br Rede Governo – busca de informações
SENAC diversas
www.senac.com.br www.redegoverno.gov.br
RITS – Rede de Informações para o Terceiro Embratur
Setor www.embratur.gov.br
www.rits.org.br
Nova Lei do Terceiro Setor V. BIBLIOGRAFIA
www.comunidadesolidaria.org.br
OCB - Organização das Cooperativas do HIGUCHI H. Imposto de Renda das
Brasil Empresas – Interpretação e Prática.
www.ocb.org São Paulo, Atlas, 2001

10

380
GESTÃO INTEGRADA

11. Participação comunitária


e parceria
Verônica Toledo
Sylvia Mitraud

I. OBJETIVO em diferentes níveis ou intensidade: par-


cial, integral, periódica ou pontual.
este capítulo objetiva-se detalhar

N os elementos que compõem os


conceitos de “participação comu-
nitária” e “parcerias”, e apresentar um
❒ Para promover o crescimento individual
ou de um grupo, a participação e a parce-
ria devem ser desenvolvidas como
processos de conquista. Assim, não acon-
conjunto de métodos e estratégias para tecem quando não há motivação, inicia-
introduzir esses conceitos e processos den- tiva e empenho das partes envolvidas.
11
tro de um projeto de desenvolvimento do
ecoturismo. ❒ Ambos têm um tempo histórico,
similar a um “prazo de validade”.
II. INTRODUÇÃO CONCEITUAL Ou seja, envelhecem, o que neste caso
significa que se burocratizam. Daí que,
A implementação de programas de para lhes assegurar a atualidade, devem
ecoturismo por meio de um processo de ser vividos como um processo histórico
participação ativa da comunidade e do de reconquista diária.
estabelecimento de parcerias é uma pre-
❒ Em vista das características anteriores,
missa que permeia todo este manual.
participação e parcerias devem ser moni-
Como esses conceitos já se tornaram obri-
toradas, isto é, durante seu desenvolvi-
gatórios nos discursos relacionados ao
mento devem ocorrer avaliações, revisões
desenvolvimento socioeconômico, é ne-
e ajustes, para que os seus objetivos sejam
cessário detalhar os componentes caracte-
atingidos.
rísticos de um processo participativo e de
uma parceria. ❒ Participação e parcerias são também
Entendemos participação a atuação vo- processos de articulação, isto é, pro-
luntária, individual ou de grupo, articulado cessos que provocam, dão origem a, e
em experiências coletivas que contribuem combinam outros movimentos.
para a construção de uma sociedade Apesar desses pontos em comum, os
democrática, socialmente justa e cultural- dois processos apresentam diferenças signi-
mente conservacionista. ficativas, quanto aos seguintes aspectos:
Já a parceria é o processo de cooperação
mútua entre duas ou mais partes, acordado a) Interesses comuns:
e comprometido com a satisfação de inte-
resses comuns e/ou complementares. ❒ A participação não depende, necessaria-
Há muitas características comuns entre mente, da existência de interesses
os dois processos: comuns. Por exemplo, três pessoas par-
❒ Ambos ocorrem em diferentes formas: ticipando de um mesmo ritual religioso
individual, em grupo ou institucional. E podem estar ali com objetivos diversos:
381
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

uma o faz como parte de um procedi- Porém, participação e parceria são


mento de pesquisa; outra para se aqui- processos recentes em nossa cultura, sem
etar internamente; outra ainda para ainda integrar a identidade cultural
agradecer uma benção. brasileira, não sendo ainda componentes
❒ Na constituição de uma parceria é ne- estruturais da maneira de produzir e de ser
cessário haver interesses em comum das pessoas. Isso dificulta o desenvolvimen-
e/ou complementares. to de processos participativos em grupos de
pessoas no âmbito de comunidade.
b) Sujeito do processo:

❒ A participação é uma ação individual (de


uma instituição, de um indivíduo ou de Para o ecoturismo de base comunitária,
um grupo). a participação dos moradores
❒ A parceria pressupõe que existe
um “outro”, ou seja, um parceiro. locais é premissa para assegurar
a legitimidade, a representatividade
c) Regulamentação: e o sucesso nas ações do projeto.
Por sua vez, o estabelecimento
11 ❒ A participação, além de voluntária, de parcerias é um instrumento
não pressupõe arranjos prévios.
❒ A parceria, além de voluntária, é capaz de viabilizar ações.
regida por acordos claros, estabelecidos
previamente.

No âmbito deste Manual, sugere-se que Para que uma comunidade se sinta como
os processos de participação e parceria tal – isto é, aquela que tenha consciência de
sejam desenvolvidos com base nos sua trajetória histórica e de sua potenciali-
seguintes princípios: dade, que saiba realizar escolhas com
autonomia e que desenvolva ações para
❒ Reconhecimento dos interesses comuns; concretizar essas escolhas – é necessário
❒ Reconhecimento dos interesses divergentes; que possua suficiente identidade de grupo.
❒ Representatividade dos interesses; Sem identidade de grupo não há comu-
❒ Estabelecimento de compromissos e res- nidade, mas um aglomerado de pessoas.
ponsabilidades; Essa identidade é criada na cultura, expres-
❒ Transparência na tomada de decisões; sa nas formas de produzir e sobreviver, de
❒ Legitimidade nas relações, onde enten- refletir sobre a própria vida. As duas dimen-
de-se por relações legítimas aquelas que sões da cultura – material e simbólica –
são autênticas (que se estabelecem por refletem o que há de mais visível na identi-
iniciativa própria de todos os envolvidos, dade cultural. Por isso, a reflexão e elabo-
sem falsa representação), ou que são ração de estratégias para tornar visível a
orientadas por documento legal (por identidade cultural da comunidade, assim
exemplo, contrato); como estimular o aprofundamento dos
❒ Respeito pleno à autonomia dos par- aspectos da participação e parceria, devem
ceiros, entendendo-se por autonomia o ser preocupações daqueles que trabalham o
direito do indivíduo ou do grupo de criar ecoturismo de base comunitária.
e/ou escolher as normas e acordos que As estratégias apresentadas neste capítulo,
regem a sua conduta; que fazem parte do método de pesquisa par-
❒ Respeito pleno ao direito de ser escutado ticipativa, têm-se revelado um bom instru-
e de escutar. mento de apoio ao processo de tornar visível
382
Participação comunitária e parceria – GESTÃO INTEGRADA

a identidade cultural. Como parte deste ins- Esse mapeamento é feito por meio da
trumento, o diagnóstico participativo é elabo- coleta, organização e análise de dados
rado no interior de uma comunidade para secundários relacionados à história da área
revelar as características, causas, consequên- e da comunidade: geografia, recursos natu-
cias e atores sociais presentes no seu proble- rais, demografia, escolaridade, faixa de ren-
ma. O método estimula uma prática geradora da, condições de moradia, de saúde, ativi-
de mudança na percepção e na atitude das dades produtivas, festas locais, conflitos cul-
pessoas perante os problemas e seus fatores turais históricos ou processos de mudança
determinantes. Assim, além de tornar a identi- sociocultural em andamento, e outros
dade cultural existente, o método também aspectos relevantes.
permite que se vá gerando uma cultura – e Ao longo do levantamento, também é
uma identidade cultural – participativas. necessário identificar as instituições gover-
namentais e não-governamentais que atuam
III. Caixa de Ferramentas na região – sua missão, seus objetivos e sua
forma de atuação – listando as possibili-
Algumas estratégias consideradas essen- dades de parcerias quando seus objetivos
ciais para o desenvolvimento de processos coincidirem.
de participação e parceria são:
2. Estabelecimento de mecanismos claros 11
1. Mapeamento de dados secundários. e contínuos de informação
2. Estabelecimento de mecanismos cla- e comunicação
ros e contínuos de informação e
comunicação. estabelecimento de canais de comuni-
3. Promoção do conhecimento mútuo
entre as pessoas.
O cação e informação adequados entre as
diversas partes envolvidas é um dos maiores
4. Introdução à pesquisa participante: desafios na condução de um processo par-
construindo uma equipe de trabalho. ticipativo. Em avaliações de projetos, é
5. Diagnóstico participativo ou avalia- constante a identificação da comunicação
ção sociocultural participativa rápida. inadequada ou insuficiente como causa de
6. Apresentação do projeto para a vários problemas de participação ou confli-
comunidade. to entre parceiros.
7. Planejamento participativo. É comum a confusão entre informação e
8. Integração de ações. comunicação. Informação constitui-se de
9. Legitimidade do processo. um dado, uma mensagem transmitida de um
10. Monitoramento e avaliação. indivíduo a outro numa via de mão única. A
11. Parcerias no processo participativo. comunicação pressupõe troca de men-
sagens – ou informações – entre emissor e
1. Mapeamento de dados secundários receptor, para que seja estabelecido um
entendimento conjunto. Ou seja, a comuni-
primeiro passo de um trabalho comu- cação é uma via de mão dupla, que envolve
O nitário participativo é o levantamento
de informações sobre o lugar, o processo de
não só o transmitir, mas também o receber,
compreender e refletir.
ocupação e a organização do espaço: quem Em conseqüência, a comunicação deve
são, onde moram, como moram, quantos usar linguagem e meios adequados à com-
são, onde fazem suas preces, onde se preensão dos diferentes atores envolvidos.
reúnem e por quê; enfim, como vivem os Deve também considerar que quanto maior
membros da comunidade com a qual se o acesso às informações envolvidas no
pretende interagir num processo participati- processo de comunicação, melhor será o
vo e de parceria. potencial de compreensão mútua.
383
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

Outro fator determinante é que a neces- informalmente, a introdução dos temas rela-
sidade de mecanismos adequados de comu- cionados ao ecoturismo. É preciso identi-
nicação não se inicia com a aprovação de ficar dentro da comunidade os pontos de
um projeto ou a formalização de uma unidade e os focos de conflitos relacionados
parceria, mas já nos primeiros contatos com ao tema, direta ou indiretamente.
a comunidade. Ao abrir caminhos na comu- Nesta fase inicia-se a formação do
nidade na busca de aliados para o desen- grupo de trabalho local – comunitário –, ou
volvimento do ecoturismo de base comu- seja, o grupo fonte. Esse grupo será forma-
nitária, deve-se atentar para que a relação do pelos aliados naturais encontra d o s
seja baseada em mecanismos de comuni- durante as visitas iniciais, as pessoas sen-
cação mutuamente adequados. É impor- síveis às necessidades de mudanças, recep-
tante escutar o outro, mas também criar tivas à criação de uma alternativa conser-
condições para que a comunidade se vacionista sustentável para a geração de
escute, o pesquisador se escute, vendo-se renda (o ecoturismo de base comunitária) e
através do entendimento que os outros sensíveis à necessidade de organização
expressam. social. Valendo-se de técnicas de comuni-
Uma vez que os contatos tenham cação clara, especialmente a escuta cuida-
evoluído para o estabelecimento de parce- dosa da fala do outro e o esclarecimento
11 rias mais claras e estruturadas, até mesmo mútuo do que se escuta, os vínculos entre
formalizadas, é necessário considerar mais o pesquisador – ou equipe externa – e a
alguns fatores. Um deles é a necessidade comunidade vão sendo criados.
de compartilhamento dos resultados, difi- As associações de moradores e outras
culdades e sucessos de todas as partes da formas de organização social pré-existentes
parceria, e também de refletir coletiva- têm-se revelado boas portas de entrada para
mente sobre os interesses comuns, os obje- o início do processo de conhecimento entre
tivos de cada um, os rumos da parceria, as os atores. Nesse estágio do contato – conhe-
visões de rumos futuros. Esses fatores man- cimento mútuo – é bom aprofundar o co-
têm a comunicação atualizada e con- nhecimento sobre a identidade e linguagem
tribuem para se evitar ou mesmo resolver locais. O estabelecimento de práticas claras
eventuais conflitos. de comunicação depende de uma boa com-
Outro fator é a necessidade de mecanis- preensão desses aspectos da comunidade.
mos sistemáticos de visualização global dos Durante o contato inicial com a so-
estágios do trabalho em parceria. Esses ciedade civil organizada, os assuntos que
mecanismos devem se adequar às caracte- deverão ser foco de conhecimento mútuo
rísticas de todas as partes envolvidas e, uma são a missão, objetivos, interesses locais e
vez estabelecidos, é muito importante man- forma de atuação de cada instituição,
ter a sua continuidade. especialmente da instituição que se apro-
xima da comunidade. Ao abordar o tema
3. Promoção do conhecimento do ecoturismo, é recomendável evitar o
mútuo entre as pessoas uso de conceitos não compreensíveis para
a comunidade, ou utilizar clichês do dis-
ma vez conhecido o perfil “oficial” da curso do desenvolvimento socioeconômi-
U comunidade, deve-se conhecer sua
identidade, diversidade e dinâmica, aquilo
co. Por exemplo, ao invés da expressão
“qualidade de vida”, deve-se abordar os
que a movimenta, que a atrai, como está elementos que compõem o conceito de
organizada, quais são seus líderes formais e “qualidade de vida”: trabalho, saúde,
informais. É nesse processo, que ocorre em escola, segurança, lazer, água, expectativa
diferentes situações de encontro com a de vida, etc. Os temas abordados devem
comunidade, que se inicia, espontânea e ser facilmente identificados e contextual-
384
Participação comunitária e parceria – GESTÃO INTEGRADA

izados pela própria comunidade, sem um festas locais, que permitem o contato não
filtro conceitual externo a eles. formal entre a equipe e a comunidade, ofe-
Apesar de a sociedade civil organizada recendo a oportunidade de participação
ser uma porta de entrada eficiente e acessí- mútua em atividades relacionadas à festa.
vel, a equipe necessita abordar a comu- Na descontração do evento, a equipe tem a
nidade por outros ângulos, buscando não só oportunidade de mostrar-se como um “vi-
conhecer as diversas faces inerentes a qual- zinho” potencial. Permite também o registro
quer comunidade, como também fazer-se das pessoas e da cultura por meio de diver-
conhecer por diversos grupos em diversos sos instrumentos (fotografia, filmagem,
contextos. Neste sentido, uma outra exce- gravação, desenhos, registros escritos, etc.).
lente porta de entrada é a participação em

COMO INICIAR CONTATOS


EXEMPLO: COM UMA COMUNIDADE
11
OS EXEMPLOS E ESTRATÉGIAS ABAIXO SÃO ÚTEIS PARA TODOS OS TRABALHOS
COM A COMUNIDADE E NÃO SÓ PARA OS MOMENTOS INICIAIS.

a) Visitar a comunidade em data festiva e participar dos eventos de comemoração.


Fotografar pessoas, casas, decoração; filmar apresentações; gravar discursos.
b) Voltar à comunidade em oportunidade a mais próxima possível para trazer fotos
e outros materiais.
c) Fazer contato com associações, escolas e/ou igrejas, postos de saúde, postos da guarda
florestal e lideranças formais: professores, pastores, padres e seus representantes locais,
agentes de fiscalização, dirigentes comunitários, agentes de saúde.
d) Apresentar-se, falar do trabalho que faz, deixar material institucional, pedir espaço
para organizar uma exposição das fotos, convidar para ver.
e) Organizar a exposição com a ajuda dos que estiverem em volta e daqueles
que conheceu na primeira visita.
f) Desenvolver atividade de arte-educação com as pessoas disponíveis
e/ou interessadas (jovens, mulheres e crianças).
g) A todo momento, aprofundar o conhecimento: durante o cafezinho, visitas,
bate-papo, futebol, sala de costura, troca de receitas, etc. Conversar, perguntar,
escutar muito. Permitir que o morador, ao falar, se escute.
h) Criar um ponto de encontro, que pode ser até a varanda de onde se hospeda,
por exemplo.

385
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

UMA EXPERIÊNCIA DE ECOTURISMO


COMUNITÁRIO NA AMAZÔNIA BRASILEIRA,

SILVES, AM

PARTICIPAÇÃO E PARCERIA – UM TRABALHO COM ENTIDADES


E COMUNIDADES RIBEIRINHAS

m busca de auto-sustentabilidade para as atividades de conservação,


a Associação de Silves pela Preservação Ambiental e Cultural (ASPAC), com
o apoio do WWF-Brasil, investiu no ecoturismo, construindo o Hotel Aldeia dos
Lagos, e oferecendo um produto ecoturístico que envolvesse as comunidades de Silves
e de outras ilhas da Reserva. O projeto de preservação dos lagos envolve educação
ambiental, desenvolvimento comunitário e administração, sendo que o ecoturismo,
de um jeito ou de outro, guia todos os objetivos e ações do projeto.
11
Primeiramente, a direção da Associação apresentou a proposta de operação
de ecoturismo pela comunidade local como forma de geração de recursos tanto
para o sustento da própria comunidade quanto para a conservação dos lagos.
Logo após esse contato inicial, foi feito um trabalho de pesquisa sócio-econômica.
Ao começar o projeto de ecoturismo, realizaram-se novas visitas às localidades para
desenvolvimento de produto, com “olhos de visitante”. Foram construídos roteiros
ecoturísticos, operados pelas comunidades da forma que elas decidiram. A partir daí,
as visitas passaram a ser sistemáticas, especialmente para o programa de educação
ambiental, de conservação dos lagos e para a organização das atividades de ecoturismo.
A única experiência da comunidade com visitação era associada ao turismo tradicional.
Assim, a maior dificuldade da ASPAC foi justamente diferenciar o ecoturismo
do turismo convencional. Para facilitar a compreensão e romper preconceitos,
o ecoturismo foi apresentado como uma proposta de turismo diferente, consciente,
de valorização das pessoas, cultura e mão-de-obra regionais, e com o princípio
da participação direta das comunidades envolvidas.
Os resultados têm se mostrado positivos. A ASPAC e o projeto de ecoturismo desfrutam
de maior credibilidade junto às comunidades, passando a ter o apoio político
das mesmas. Com isso, alguns comunitários que antes não acreditavam
no ecoturismo hoje estão envolvidos nas atividades do projeto.
Para atingir os objetivos, foi muito importante ter alguém experiente e confiável
para fazer os contatos com as comunidades. Neste caso, duas pessoas da própria
comunidade, que já tinham uma boa experiência em trabalhos comunitários,
receberam treinamento específico para o projeto. Essas pessoas são fundamentais
para todo o processo.
Quando se chega a um povoado, uma família, uma comunidade, é necessário ter
firmeza sobre o projeto e as informações que serão trocadas. É importante ter a noção
da permuta, saber ouvir, querer aprender, valorizar a comunidade, o conhecimento das

386
Participação comunitária e parceria – GESTÃO INTEGRADA

pessoas e os valores regionais. Mas também deve-se ter objetividade em relação


às propostas do projeto e, principalmente, não acrescentar nada que não esteja dentro
do possível, não agir como político, fazendo promessas. É também muito importante
trabalhar as expectativas das pessoas, deixando claro que nada acontecerá
instantaneamente, que são ações de longo prazo e que é um processo de aprendizagem
para todos, inclusive técnicos e especialistas.
Finalmente, para otimizar trabalho e resultados, nas reuniões com as comunidades
deve-se buscar o máximo de participação possível, não só das lideranças de cada
comunidade. Para que isso ocorra, é importante considerar o calendário, o ritmo e os
costumes da comunidade em questão, escolhendo a melhor forma, o melhor dia, local
e hora para a reunião.

4. Introdução à pesquisa participante: b) Pedir que façam fotos temáticas da


construindo uma equipe de trabalho comunidade: pontos de beleza cênica, pon-
tos de problemas, lazer, trabalho, pessoas
urante o trabalho de conhecimento mais antigas do lugar, pessoas mais jovens 11
D mútuo, a equipe deve estar atenta para a
identificação de indivíduos da comunidade
do lugar, recém-nascidos, espaços e/ou
construções comunitárias importantes (hor-
que possam formar o grupo fonte. Depois tas, oficinas), pontos de encontro (escola,
disso, devem ser realizadas atividades que posto de saúde, barracão comunitário), etc.
acarretem e facilitem a formação do grupo,
c) Com uma filmadora e alguns
criando laços e identificação entre eles.
gravadores, pedir e fornecer orientações
Este é o início do diagnóstico participati-
básicas para que entrevistem:
vo – também chamado de avaliação socio-
cultural participativa rápida, ou ainda ❒ As autoridades e/ou lideranças do
sondagem exploratória participativa. O tra- lugar (o grupo é que decide quem
balho pode ser realizado num fim de sema- são as autoridades e/ou lideranças
na, envolvendo as seguintes atividades: comunitárias), indagando-lhes sobre
sonhos, projetos e dificuldades.
a) Distribuir máquinas fotográficas ❒ As pessoas que sabem as histórias,
descartáveis entre os moradores já amigos as lendas e os “causos” do lugar.
(sempre privilegiando jovens, mulheres e ❒ Os elementos do grupo fonte entre si,
crianças), prováveis formadores do núcleo fazendo-lhes indagações semelhantes.
de apoio local, ou o grupo fonte. d) Fotografar o grupo em ação.
e) Recolher e organizar o material,
Máquinas fotográficas descartáveis, sempre coletivamente: distribuir tarefas,
filmadora e gravador são apenas algumas estabelecer prazos e organizar/executar a
das possibilidades, de efeito ímpar, edição artesanal e cooperativa, do Livro da
mas não as únicas. O mesmo processo Comunidade.
pode ser desencadeado, por exemplo, f) Produzir mais de um exemplar do livro
via desenhos, construção de mapas, para distribuir na biblioteca da escola, nas
esculturas, painéis, entrevistas escritas, associações e nos pontos de referência
comunitária.
entre outros. Desse modo, não só a comunicação está
se processando, mas também a cooperação,
387
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

a articulação e alguns processos incons- ❒ Nutrir atenciosamente o grupo fonte: o


cientes de conquista, manifestados na pro- entusiasmo desse grupo é o referencial
dução individual e coletiva, visual e escrita local para os efeitos demonstrativos e de
do conhecimento acerca do lugar (avaliação multiplicação.
sociocultural participativa rápida ou auto- ❒ Priorizar contatos com as lideranças
diagnóstico participativo). Além da comuni- identificadas na sondagem.
cação, esses elementos são cruciais na ge- ❒ Trabalhar com palavras e conceitos que te-
ração e manutenção dos processos de par- nham significado na realidade local.
ticipação e parceria.
As etapas de mapeamento, conhecimen-
g) Realizar uma oficina comunitária de to mútuo e formação da equipe de trabalho
duas ou três horas para apresentar e entregar (grupo fonte) requerem tempo e disponibili-
o material produzido. Durante a oficina, a dade de pessoal. O pesquisador ou equipe
equipe de trabalho se apresenta, expõe e de trabalho que conduz o processo deve
entrega os materiais, e explicita a proposta buscar o equilíbrio entre a necessidade de
de trabalho do projeto. cumprir um planejamento próprio para o
desenvolvimento do projeto e o ritmo do
processo de abordagem.
11 Na proposta deste Manual a equipe
5. Diagnóstico participativo ou avaliação
de trabalho/pesquisa participante
sociocultural participativa rápida
é constituída pelos pesquisadores
do projeto e seus aliados locais, partir deste ponto, o grupo fonte
o grupo fonte, em procedimentos A provavelmente já se criou e há um
número mínimo de moradores (cinco é um
permanentes de apoio mútuo, discutindo,
bom número para começar), atraídos pelo
analisando, construindo juntos movimento do pesquisador e dispostos a se
o conhecimento sistemático acerca articular com ele. Esta é a condição para dar
do lugar. E devem ser simultaneamente seqüência aos procedimentos da pesquisa
estimulados em oficinas participante, com a elaboração do diagnós-
tico participativo ou avaliação sociocultural
de atividades de auto-descoberta
participativa rápida.
e crescimento pessoal, com técnicas O diagnóstico participativo é realizado
que facilitem a transformação por meio dos seguintes passos:
do grupo inicial em equipe de trabalho, a) Identificar as lideranças da comu-
atendendo ao conjunto das expressões nidade: munindo-se das fotos das lideranças
pré-identificadas, fazer um levantamento
emocionais presentes e em elaboração.
junto aos diversos membros da comunidade,
escolhidos aleatoriamente mas de forma a
assegurar representatividade dos segmentos
Na abordagem, é importante que o pré-diagnosticados. Mostrando as fotos, per-
pesquisador de campo sempre esteja sin- guntar aos entrevistados quem eles chama-
tonizado com aquilo que o identifica com o riam para coordenar um trabalho.
lugar e com as pessoas do lugar: b) Elaborar mapas ou esquemas, mentais
ou falados, que refletem a situação local.
❒ São percepções-chaves: como me reco- c) Realizar o levantamento de infor-
nheço no outro, como me sensibilizo e mações para a pesquisa de percepção, ati-
me envolvo com a realidade do outro e tudes e valores ambientais. A seguir, exem-
da comunidade. plo de um questionário para este fim:
388
Participação comunitária e parceria – GESTÃO INTEGRADA

FORMULÁRIO PARA PESQUISA


EXEMPLO: DE PERCEPÇÃO AMBIENTAL EM UMA COMUNIDADE

Instrumento para coleta de dados sobre percepção ambiental


DADOS PESSOAIS: Gênero: Feminino ( )
Masculino ( )
Idade ______ Há quanto tempo mora aqui ____________
Onde nasceu ______________________________________
1. Feche os olhos, pense na Ilha das Peças. Qual a primeira imagem ou palavra que vem
a sua cabeça?
2. Descreva a Ilha das Peças para alguém que ainda não conhece o lugar.
3. O que você colocaria (+) na Ilha das Peças?
4. O que retiraria (-) da Ilha das Peças?
5. O que você faz em seu tempo livre?
6. “Bem estar” é uma palavra que te lembra o quê?
7. “Progresso” é uma palavra que te lembra o quê?
11
8. Para você, é importante a existência do Parque Nacional do Superagüi?
Sim ( ) Não ( )
9. Você mora no entorno do Parque Nacional do Superagüi. Que influência tem este
fato em sua vida?
10. Uma catástrofe eliminou a comunidade e o lugar. Reconstrua-o (desenhando ou
escrevendo).

d) Realizar o levantamento de infor- que atuam no lugar: o quê faz e como faz
mações para a pesquisa sobre identidade cul- cada instituição existente, do ponto de vista
tural dos moradores do lugar. Vejam, na pági- da comunidade.
na a seguir, um exemplo de instrumento para j) Realizar levantamento da percepção
realizar esta etapa de cada instituição a respeito de si mesma e
e) Identificar e descrever o movimento das demais – o que faz, como faz e se faz
da comunidade, seus problemas ambientais, bem feito.
causas e conseqüências.
f) Identificar as necessidades de ge-
ração de renda. Todo o material produzido deve
g) Investigar alternativas ambiental- ser discutido com o grupo fonte
mente sustentáveis para a geração de renda. (que eventualmente vai crescendo),
h) Realizar um inventário participativo
de modo que tanto a produção quanto
dos recursos naturais, plotando os dados em
mapas mentais e/ou falados ou construindo a apropriação do conhecimento
maquetes (ver capítulo Levantamento de sejam coletivas e qualificadoras,
Potencial Ecoturístico / Inventário). características da pesquisa participante.
i) Realizar levantamento da percepção
da comunidade em relação às instituições
389
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

FORMULÁRIO PARA PESQUISA


EXEMPLO: DE IDENTIDADE CULTURAL

Instrumento para coleta de dados para estudos de identidade cultural


1. Nome e sobrenome:
2. Nome da mãe (nome de solteira):
3. Nome do pai:
4. Avós maternos:
5. Avós paternos:
6. Bisavós maternos:
7. Bisavós paternos:
8. Onde moro:
9. Como moro:
10. De onde vieram os meus parentes e ancestrais?
11. Qual o meu parente predileto?
12. Por quê?
11
13. Com quem eu me pareço?
14. Religião ■ De fato: ■ De direito:
15. Minha casa com o meu canto favorito (descreva, desenhe ou registre em qualquer
outra forma de expressão gráfica):
16. Profissões e/ou atividades que ocorrem na família:
17. Cantos da infância:
18. Brinquedos e brincadeiras da infância:
19. Mitos da infância:
20. Religiões existentes:
21. Danças da região:
22. Festas que comemoro:
23. Histórias que ouvia:
24. Histórias que conto:
25. Agricultura que desenvolvo em casa:
26. Comida predileta:
27. Criação de bichos e animais domésticos (quem escolheu/quem trata):

Após a organização e discussão preliminar bilitar que os moradores interessados discutam,


dos dados, o grupo fonte deve apresentar à complementem e se apropriem do conjunto do
comunidade os resultados, se possível por meio conhecimento produzido. A apresentação,
de oficinas. Oficinas aqui são entendidas como visual e oral, deve ser conjugada à distribuição
uma forma privilegiada para a produção coleti- de material gráfico, ilustrado e interativo, que
va do conhecimento, condição para o exercício possibilite a cada participante incluir sua con-
da gestão participativa. O facilitador (ou moder- tribuição. Só depois de discutidas, analisadas e
ador) deve conduzir a oficina de modo a possi- incorporadas as contribuições da oficina é que
390
Participação comunitária e parceria – GESTÃO INTEGRADA

será preparada a versão definitiva do material, responsável pela execução da atividade


em duas formas: uma em linguagem técnica, também responde pela sua concepção,
para uso institucional, e outra para divulgação e planejamento e administração. Essa forma
uso prático da comunidade. de gestão estimula uma compreensão de
Como parte final dessa oficina, deve ser sucesso que vai além da excelência do
resgatada e formalizada a proposta do pro- serviço oferecido e da fonte de receita,
jeto do ecoturismo de base comunitária, e incorporando, no conceito, bem-estar e
definidas as pessoas sensíveis ao seu desen- qualidade de vida – tanto pessoal quanto
volvimento e dispostas a trabalhar nele, jun- comunitária –, e requer mobilização e par-
tando-se ao grupo fonte. ticipação de todos os envolvidos.
O planejamento participativo é a coluna
6. Apresentando o projeto vertebral do processo de gestão participati-
para a comunidade va. Sua realização é feita com a participação
do grupo fonte e outros moradores interes-
ma vez atualizado o grupo fonte, sua sados, com base na proposta elaborada nas
U primeira tarefa deve ser produzir e
realizar uma oficina de sensibilização espe-
etapas anteriores, valendo-se do diagnóstico
participativo como subsídio.
cialmente voltada para o projeto. A oficina A partir do conhecimento da proposta
deve ser fartamente ilustrada com fotos, (passos 5 e 6), uma oficina de planejamento 11
filmes, livros e outros relatos de experiên- com o grupo fonte definirá:
cias afins – bem e mal sucedidas – para
serem dissecadas em equipe. Esta oficina ❒ Objetivos (o quê se quer).
deve ser conduzida por um facilitador, ❒ Metas (distribuição do planejamento no
tendo como pano de fundo a realidade do tempo: período a período, o produto
lugar, investigada e sistematizada no diag- intermediário esperado).
nóstico participativo. ❒ Atividades (ações desejadas e priorizadas).
Como resultado dessa oficina deve-se ❒ Indicadores (quais fatos ou situações indi-
buscar a definição e realização de uma carão que o objetivo foi atingido).
programação de intercâmbio: promover ❒ Divisão de responsabilidades (quem faz
visitas de observação e aprendizagem a o quê, quando, com quem).
lugares onde experiências semelhantes se ❒ Recursos necessários, incluindo necessi-
desenrolam e receber pessoas de outras dades de capacitação.
comunidades com atividades afins para
ouvir sugestões. Assim, inicia-se um É desejável que o planejamento seja pre-
processo participativo de tomada de cedido e acompanhado internamente por
decisões, planejamento e administração mecanismos de comunicação e informação, e
do ecoturismo na comunidade, configu- externamente por mecanismos de documen-
rando uma sistemática de gestão igual- tação e análise da sustentabilidade da ativi-
mente participativa. dade (ver capítulo Viabilidade Econômica).
O planejamento deve ser conduzido por
7. Planejamento Participativo meio de uma dinâmica de grupo onde todos
participem, valendo-se de técnicas de visua-
s processos de conhecimento mútuo, lização do andamento da oficina para faci-
O mapeamento e diagnóstico participati-
vo preparam o cenário para a gestão parti-
litar o trabalho conjunto e a elaboração de
propostas de consenso. Esse registro visual
cipativa do projeto que se pretende realizar dos trabalhos favorece a racionalização e
com a comunidade. No âmbito deste objetividade das discussões, ao mesmo
Manual, gestão participativa é um sistema tempo que possibilita o seu aprofundamen-
coletivo de gerenciamento em que o grupo to. Isso porque funciona como ajuda-
391
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

memória das afirmações, divergências e todo o desenrolar dos trabalhos, conduzin-


conclusões, que em discussões posteriores do, passo a passo, sua seqüência, estimulan-
podem ser recuperadas para evitar a do a participação, distribuindo e coordenan-
repetição dos mesmos argumentos. do tarefas, despertando as memórias, recu-
Sugere-se o uso da técnica de cartões perando as relações entre eventos e pessoas,
retangulares de papel medindo 10cm x mantendo o cumprimento dos horários.
20cm (tarjetas), apresentados por grupos de
cores, onde são registradas palavras-chaves
ou frases curtas que sintetizam o pensamen- O trabalho com tarjetas pressupõe
to expressado. As diferentes propostas fre- que o grupo que participa da oficina
qüentemente geradas por meio de “chuva de sabe ler e escrever. O uso deste meio
idéias”, são anotadas em cartões posterior-
para um grupo onde há elevado
mente fixados em painéis (com fita crepe,
ímã) para que possam ser vistos por todos os número de pessoas que não possuem essas
participantes. Além das cores diferentes, os habilidades, além de improdutivo,
cartões podem ser cortados em diferentes pode tornar-se um fator para o retraimento
formatos a partir do retângulo padrão. Estas daqueles que não conseguem acompanhar
diferenças ajudam a apresentação hierar-
o trabalho. Em grupos onde há casos
11 quizada de informações e ainda a visualiza-
ção do processo de síntese. Idéias inicial- isolados de analfabetismo, o facilitador
mente conflitantes ou que num primeiro mo- pode ajudar diretamente essas pessoas.
mento interrompem a fluência do encami- Para verificar se todos sabem ler e escrever,
nhamento vão para um canto específico pergunte a alguém do grupo fonte
(“geladeira ou estacionamento de idéias”)
para serem oportunamente retomadas. que conheça bem os demais, como por
Essa técnica é democrática em três níveis exemplo, um(a) professor(a).
essenciais:
❒ Favorece a igualdade entre participantes,
pois dá o mesmo destaque às idéias 8. Integração de ações
expressadas por todos.
❒ Estimula a participação de pessoas tími- gestão participativa requer ações articu-
das ou que têm dificuldades em expres-
sar publicamente sua opinião, pois os
A ladas e convergentes dentro da comu-
nidade: ações de escolas, igrejas, associ-
cartões podem ser escritos individual- ações de moradores e outras organizações
mente, sem identificação de quem escre- sociais existentes, instituições governamen-
veu, e geralmente são mesclados antes tais e setor produtivo organizado. Para que
de serem apresentados ao grupo maior. isso seja possível, é necessário não só que os
Em outras palavras, a técnica assegura integrantes do grupo fonte estejam atentos
relativo anonimato, por vezes essencial para as ações de outras instituições de que
em situações de resolução de conflitos. participam ou têm conhecimento, mas prin-
❒ Permite o exercício em grupo da análise cipalmente a comunicação entre os grupos,
e síntese de idéias, assim como resolução de forma a otimizar o trabalho de todas as
de conflitos, favorecendo não só a cons- instituições e evitar duplicação de esforços.
trução de um produto gerado por todos, Em casos onde esse processo de comu-
mas também a percepção pelos partici- nicação e integração entre diferentes institu-
pantes de que o produto é coletivo. ições atuantes em uma mesma região já se
encontra relativamente cristalizado, pode-se
É indispensável a presença de um facili- promover a formação de conselhos ou gru-
tador para acompanhar as atividades durante pos de trabalho em nível institucional.
392
Participação comunitária e parceria – GESTÃO INTEGRADA

RESERVAS EXTRATIVISTAS
DE PEDRAS NEGRAS E CURRALINHO
UM EXEMPLO DE PROJETO DE ECOTURISMO EM RONDÔNIA

EXPECTATIVA E MOTIVAÇÃO

uando se trabalha com comunidades, é muito difícil manter ou controlar


a fase de motivação e um trabalho mal feito pode levar rapidamente
ao desânimo e descrédito. Nas Reservas Extrativistas Estaduais de Pedras
Negras e Curralinho (RO), onde as necessidades básicas são urgentes,
tomou-se o cuidado de, junto com a comunidade, definir muito bem todas
as etapas a serem cumpridas, desde o momento de apresentação do projeto.
Sempre foi dada atenção especial ao esclarecimento das dificuldades e do tempo
necessário para avaliação, aprovação e liberação de recursos, que podem demorar
anos. Durante o período de espera, o contato com a comunidade continuou
a ser mensal ou bimestral. Algumas atividades foram realizadas, mesmo com poucos 11
recursos, para que a organização comunitária se fortalecesse, e para que a população
sentisse a seriedade do projeto e das pessoas envolvidas, evitando o desânimo.
Assim, construiu-se um pomar comunitário, uma casa teste para receber
os primeiros visitantes, uma operação turística demonstrativa e teve início
o processo de capacitação e treinamento.
Após a inauguração da Pousada Pedras Negras, foram utilizadas as mesmas estratégias,
visto que a demanda não chegou de modo satisfatório nos primeiros meses.
Dependendo do esforço de marketing disponível, a comunidade tem que estar
esclarecida de que a consolidação do produto dar-se-á em alguns meses e até anos.
No mundo dos negócios, e dentro de padrões de investimentos normais, nenhum
projeto apresenta balanço financeiro positivo antes de dois anos. No ecoturismo,
produtos novos, autênticos e originais podem ter resultados positivos mais cedo.
Porém, isso não deve ser encarado como regra.

9. Manutenção relevantes, e iniciados os trabalhos de


da legitimidade do processo planejamento e gestão do projeto, a comu-
nicação torna-se um fator crítico para a
participação efetiva dos diferentes seg- manutenção da legitimidade estabelecida.
A mentos da comunidade, por meio de
representantes por eles reconhecidos como
Um processo participativo deve contemplar
mecanismos de checagem da representativi-
tal (o reconhecimento de lideranças sugeri- dade dos indivíduos que atuam em nome de
do no diagnóstico participativo identifica grupos. Para isto, sugere-se ampla divul-
essas representações), é o que confere legi- gação na comunidade, dando aos represen-
timidade às decisões do grupo, reconhecen- tados a oportunidade de se inteirar sobre o
do sua pertinência e autoridade nos proce- andamento do projeto por meio de outras
dimentos e nas pessoas. fontes além de seus representantes. Os
Assegurada a representação dos setores mecanismos podem ser:
393
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

❒ Encontros informais ou formais periódi- g) Realizar treinamentos e exercícios


cos sobre o andamento dos trabalhos. práticos para o grupo fonte sobre como uti-
❒ Murais em pontos de encontro. lizar os resultados do monitoramento para
❒ Spots (breves mensagens) em programas avaliações em curso do projeto.
de rádio.
❒ Atividades internas de treinamento em No estabelecimento do sistema de moni-
ação (um grupo de guias conduzindo toramento, a elaboração de indicadores é
moradores do lugar pelos caminhos do provavelmente a etapa que exige maior
ecoturismo local). cuidado. No capítulo Monitoramento e
❒ Geração de benefícios para a comu- Controle de Impactos de Visitação o tema é
nidade como um todo. discutido em mais detalhes, incluindo as
❒ Oportunidades de trabalho e renda para características de um bom indicador e a
grupos cada vez maiores de pessoas. elaboração de instrumentos de coleta, re-
gistro e análise dos dados verificados.
10. Monitoramento e avaliação Entretanto, recomenda-se a consulta à bi-
bliografia especializada.
elaboração de um sistema de monitora-

11
A mento e avaliação do projeto, com a
definição de indicadores – ou seja, listagem
11. Parcerias no processo participativo

de indícios objetivos e observáveis, que pos- essoas e grupos se encontram, se sepa-


sibilitem o acompanhamento da implemen-
tação do projeto – é fundamental para corri-
P ram, se aliam e se confrontam, criam
laços, se organizam de diversas maneiras.
gir ou redirecionar ações durante o proces- Uma delas é o estabelecimento de parcerias
so de implementação. O monitoramento e a para levar adiante projetos, qualificar um
avaliação visam prevenir erros de encami- processo, realizar sonhos comuns.
nhamento ou de rumo antes que se tornem A parceria ocorre quando, no mínimo,
irreparáveis. Visa também otimizar ações duas pessoas ou grupos com interesses
positivas e atualizar o planejamento (estraté- comuns ou complementares estabelecem
gias, abordagem, parcerias, etc.). acordos de cooperação mútua e se compro-
Para montar um sistema de monitora- metem com a sua realização.
mento, é preciso: Ainda que compromissos acordados
a) Consultar os objetivos, metas, ativida- sejam pré-requisitos para a parceria, nem
des e indicadores planejados na etapa 8 acima. todas parcerias precisam ser formalizadas.
b) Definir os meios de verificação de Em cada situação é preciso analisar as van-
cada indicador, avaliando sua viabilidade tagens e desvantagens de se formalizar uma
em termos de quantidade de esforço e de parceria. Por exemplo, quando a experiên-
recursos financeiros. Indicadores inviáveis cia da ação cooperativa é apenas inicial,
devem ser eliminados. sem nitidez de perdas e ganhos ou da reci-
c) Elaborar instrumentos de coleta e procidade possível, a formalização da
registro de dados. parceria pode inibir a ação de um ou de
d) Elaborar procedimentos para a sis- outro parceiro. Isto porque acordos têm um
tematização e avaliação periódicas, respei- tempo e um ritmo para serem definidos.
tando o processo participativo. Deve-se estar atento para decidir o momen-
e) Elaborar plano de monitoramento, to ou a situação oportuna para a formaliza-
com a periodicidade de coletas, registro dos ção da relação. Por outro lado, é possível,
dados e os responsáveis. por vezes, que uma parceria longa e produ-
f) Realizar treinamentos e exercícios tiva nunca chegue a ser formalizada.
práticos para os responsáveis pela coleta e Entretanto, há situações em que a for-
registro de dados. malização é recomendada:
394
Participação comunitária e parceria – GESTÃO INTEGRADA

❒ Quando o compromisso estabelecido é 12. A constituição formal


institucional e é necessário garantir a de grupos de interesse
continuidade do processo.
❒ Quando uma das partes é governamental. o processo de desenvolvimento do
❒ Quando há recurso financeiro envolvido.
❒ Quando há produção conjunta de co-
N ecoturismo de base comunitária, é
comum que sejam formados grupos de
nhecimento técnico. interesse, seja de membros da comunidade
❒ Quando a formalização gera benefícios que trabalham em um mesmo segmento de
políticos ou institucionais mútuos, inter- serviços de ecoturismo (por exemplo, guias
nos e externos. locais, donos de pousada, restaurantes,
etc.), seja de pessoas envolvidas no geren-
Há diferentes instrumentos legais para a ciamento de um negócio de propriedade
formalização de parcerias: coletiva (por exemplo, a Pousada Ecológica
❒ Acordos de cooperação. Aldeia dos Lagos em Silves). Por vezes
❒ Convênios. podem-se também formar grupos compos-
❒ Termo de compromisso. tos dos moradores de uma determinada
❒ Contrato de prestação de serviços. região da comunidade ou município. Há
❒ Carta de intenções. uma diversidade de possíveis grupos. Em
❒ Termo de Cooperação “guarda-chuva” alguns casos, como nos dois primeiros tipos 11
(vinculado a planos de trabalho ou ter- mencionados (segmento de serviços e
mos aditivos). gerenciamento de negócio) é importante
que o grupo seja formalmente organizado e
Há diversos modelos para cada um des- juridicamente constituído, seja como uma
ses tipos de contrato. Quando uma das organização não governamental (por exem-
partes ou ambas possuem um padrão, é plo, uma associação), uma cooperativa,
importante negociar os termos e, eventual- uma microempresa, ou outra pessoa jurídica
mente, gerar um terceiro contrato que aten- da sociedade civil. Dessa forma, o grupo
da aos interesses dos parceiros. Nas parce- passa a constituir uma instância de poder
rias com o setor governamental, em que é com competência e autoridade reconheci-
obrigatório o uso do modelo oficial, é im- das (tanto internamente na comunidade
portante negociar a flexibilização das quanto externamente junto a governo e ou-
cláusulas tendo como parâmetro o histórico tras entidades da sociedade civil).
e as necessidades do grupo. Deve atentar-se, entretanto, para o
Alguns cuidados devem ser tomados na momento adequado para a formalização da
formalização de uma parceria: instituição e para o processo pelo qual isto é
❒ Definir os termos do acordo com cuida- feito. Uma instituição formal só deve ser
do para torná-los claros e práticos. constituída por iniciativa dos seus membros.
❒ Elaborar cláusulas pensando no contrato A definição de missão, objetivos, estratégias
como um instrumento de resolução de e composição de membros deve ser feita
possíveis conflitos, como por exemplo internamente ao grupo. Geralmente técni-
propriedade intelectual, aplicação de cos de instituições governamentais ou não
recursos financeiros, etc. governamentais têm orientado grupos
❒ Rever e ratificar compromissos, respon- comunitários para a formalização de institu-
sabilidades, competências, deveres e ições de forma a facilitar o acesso a crédito,
acordos de planejamento. a programas governamentais, ou para pres-
❒ Incluir cláusulas de rescisão, aditamento sionar a comunidade ao trabalho em grupo.
e prazo de vigência do contrato. Entretanto, como vimos no começo deste
capítulo, o trabalho em grupo, participativo,
só é possível quando há um amadurecimen-
395
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

to da identidade do grupo e das relações datório sobre a natureza.


existentes nele. Quando o desenvolvimento da atividade
Para a criação de instituições locais, não segue os princípios do processo partici-
especialmente associações e cooperativas, pativo, ambiente e cultura locais se transfor-
recomenda-se a consulta ao SEBRAE regio- mam em mercadorias e passam a ser con-
nal. Essa entidade não só orienta tecnica- sumidas como mais um produto descartá-
mente a criação de instituições, mas tam- vel. O ecoturismo deve, e precisa, gerar
bém oferece cursos de capacitação para o renda, mas sua condição é a conservação da
seu gerenciamento. biodiversidade e da diversidade cultural:
este é o seu diferencial em relação a outras
IV. RISCOS E RECOMENDAÇÕES modalidades de turismo.
Do ponto de vista do método, alguns
Sensibilização da comunidade e procedimentos são fundamentais para que o
preparação da equipe de trabalho são o fio trabalho resulte numa prática de escuta e
condutor de um processo que tem na par- fala, num processo de comunicação entre as
ticipação e mobilização comunitárias a pessoas da equipe, o conjunto dos mo-
chave do sucesso. radores e suas organizações:
Convém destacar que o projeto se propõe
11 a realizar um trabalho com os moradores ❒ Evitar emprestar ouvidos a disse-que-disse.
interessados e não para eles. Isso é particu- ❒ Evitar ser platéia para histórias desvita-
larmente importante no processo de desen- lizadoras.
volvimento do ecoturismo, em que a invasão ❒ Ter ciência de que tudo o que não adi-
cultural não é apenas um risco, mas quase anta o trabalho, atrasa.
uma contingência. Deve-se ter cuidado para ❒ Evitar alimentar divisões, inclusive entre
não atropelar valores e espaços constituídos organizações e instituições.
na comunidade antes de sua chegada. As ❒ Ter clareza sobre o que une e o que se-
trocas culturais sempre ocorrerão, mas de- para, e estar atento à dinâmica desse
vem ser resultado de processos de afinidades processo.
e escolhas, nunca imposições. “Respeito” é ❒ Manter o foco na ação e nos objetivos.
uma palavra-chave. ❒ Nutrir atenciosamente o grupo fonte: o
Mesmo no turismo denominado eco- entusiasmo deste grupo é o referencial
lógico, ou ecoturismo, a atividade pode local para os efeitos de “multiplicação”.
gerar o afastamento das comunidades nati- ❒ Assegurar o reconhecimento dos mora-
vas, expropriando-as e desrespeitando-as dores locais como agentes transfor-
em seus locais de residência, dando início madores e parceiros, garantindo a pro-
a um processo de marginalização e subva- teção ambiental e o desenvolvimento de
lorização. alternativas de trabalho, educação e lazer.
Apesar do discurso promovido por ❒ Comprometer-se com a cultura local de
empresas de turismo, a atividade turística modo a criar condições para que os
não tem predominantemente valorizado o moradores não sejam violentados em
que o lugar a ser visitado tem de diferente, sua essência, suas raízes e seus valores.
na sua especificidade, vegetação, hidro- ❒ Gerar encontros de integração.
grafia, relevo, seu povo e a sua cultura, a ❒ Promover intercâmbios entre os grupos
música, seus hábitos, a culinária local. das diferentes comunidades trabalhadas.
Entretanto, a cultura é a “ponte” que pode ❒ Promover intercâmbios entre os grupos,
gerar o respeito entre as populações de as instituições e os moradores (equipe
diferentes origens. Sem esse conhecimento, local funcionando como articuladora/
predomina a relação superficial com os organizadora).
moradores do lugar e o comportamento pre- ❒ Viabilizar intercâmbios técnicos de ca-
396
Participação comunitária e parceria – GESTÃO INTEGRADA

pacitação, cobrindo as demandas de Participação Popular no Manejo de Áreas


gerência e outras identificadas no pro- Protegidas: Aspectos. In RODRIGUES,
cesso de planejamento e acompanha- Adyr B.: Turismo e Ambiente: reflexões e
mento das atividades. Propostas. São Paulo: Hucitec.
HIRSCHMAN, A. 1989. O Progresso em
V. BIBLIOGRAFIA Coletividade. tradução de João Francisco
Bezerra. São Paulo: Fundação Inter
AVELINE, C. C. 1998. Apontando para o Americana.
Futuro. Revista Planeta no.9, Editora MORIN, E. & KERN, A. B. 1995.Terra Pátria.
Três. Porto Alegre: Editora Sulina.
DEMO, P. 1984. Participação e Meio NAISBITT, J. 1994. O Paradoxo Global. Rio
Ambiente – uma proposta educativa pre - de Janeiro: Ed. Campus.
liminar. Secretaria Especial do Meio Revista Good Year especial, out. nov. dez.
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DIEGUES, A. C. 1992. Desenvolvimento SPVS/CNPq/PROBIO Guaraqueçaba. 1999.
Sustentável ou Sociedades Sustentáveis: Relatório preliminar de pesquisa em
da Crítica dos Modelos aos Novos andamento, 1998/1999. Não publicado.
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no.1-2, jan/julho. Manual Latino-Americano de Educ-Ação 11
FIGUEIREDO, L. A. V. 1997. Ecoturismo e Ambiental. São Paulo: Editora Gaia.

397
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

✑ TOME NOTA:

11

398
GESTÃO INTEGRADA

12.A contribuição de voluntários


em projetos de ecoturismo
Max Dante
Mónica Corullón
Marcos Martins Borges (1)

I. OBJETIVO junto à sociedade é a ampliação das opor-


tunidades de participação de pessoas inte-
ste capítulo visa apresentar o con- ressadas em conhecer as discussões atuais

E ceito de Voluntário e dar orien-


tações básicas para que projetos de
ecoturismo possam incorporar o trabalho
acerca das questões ambientais, especial-
mente aquelas que residem em áreas
urbanas, com limitado contato direto com o
voluntário na dinâmica de sua implemen- ambiente natural.
tação. É necessário mobilizar o maior número 12
possível de cidadãos que, solidários à causa
II. INTRODUÇÃO CONCEITUAL ambiental, poderão contribuir para a multi-
plicação desta discussão, sensibilizando
A experiência de projetos de campo nas outros quanto à importância das ações de
áreas de conservação e desenvolvimento conservação e desenvolvimento sustentável.
sustentável mostra que há sempre uma A partir dessa mobilização, mais pessoas
demanda pelo trabalho voluntário, especia- poderão participar da formulação e controle
lizado ou não. Esta demanda parte tanto dos de políticas públicas que efetivamente con-
projetos quanto da população local. No servem a biodiversidade de nosso planeta e
desenvolvimento de projetos desta racionalizem o uso dos recursos naturais.
natureza, atualmente coloca-se o desafio Por outro lado, existe um número
duplo de, por um lado, estimular e envolver expressivo de pessoas dispostas a emprestar
a sociedade por meio do trabalho voluntário seu talento e doar algum tempo livre para
e, por outro, administrar adequadamente colaborar em projetos ou programas de con-
este tipo de trabalho dentro do contexto da servação e desenvolvimento sustentável.
comunidade local e do projeto em questão. São pessoas de todas as idades, com for-
Projetos de ecoturismo devem orientar- mação e/ou experiência em diversas áreas
se pelo objetivo de harmonizar a atividade de conhecimento, já sensibilizadas, que
humana, visando a conservação da natureza poderão comprometer-se com essa con-
em que todos vivemos. Um dos fatores que tribuição voluntária, cidadã e solidária. A
influenciam a capacidade de um projeto de natureza dos projetos de ecoturismo (conser-
ecoturismo de alcançar este objetivo maior vação ambiental, benefícios para as comu-
(1) – Devido à relativa novidade que este tema representa a coordenação do PEC (Programa de Ecoturismo
Comunitário), do WWF, optou por uma abordagem dupla para o desenvolvimento deste capítulo. Primeiro,
o assunto foi discutido em uma das oficinas participativas (ver a sessão Apresentação), onde elencou-se uma
série de recomendações para a abordagem do tema no Manual. Este material foi então passado a Marcos
Borges, que o sistematizou e iniciou a composição do capítulo. Em um segundo momento, o material
foi passado para dois especialistas em programas de voluntários em geral, a nível nacional,
para que estes compusessem o capítulo integrando seu conhecimento especializado às experiências práticas
dos participantes do PEC.
399
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

nidades locais, potencial educativo, entre seus objetivos específicos.


outros) e a localização em áreas naturais Em resumo, a procura pelo voluntário não
bem conservadas e dotadas de atrativos turís- deve ser motivada principal ou exclusiva-
ticos (ambientais e culturais), tornam estes mente pela escassez de recursos humanos ou
projetos especialmente atraentes para volun- financeiros. A reconceituação da palavra vo -
tários interessados na questão ambiental. luntário passa pelo entendimento de que é
Este capítulo pretende mostrar a necessário responsabilizar e qualificar a par-
importância do diagnóstico dessas necessi- ticipação de toda a sociedade nas questões
dades e potencialidades na elaboração de públicas e sociais. No contexto do ecoturis-
um eficaz programa de voluntários para o mo como alternativa econômica e de conser-
ecoturismo, além de fornecer orientações vação, assim como em outras atividades
gerais para seu planejamento de forma a alternativas, a sustentabilidade do processo
ampliar os benefícios tanto para o projeto depende da capacidade dos projetos e comu-
quanto para os voluntários. nidades locais de ampliar a participação da
sociedade no seu desenvolvimento.
❒ Um Novo Conceito de Voluntário
III. CAIXA DE FERRAMENTAS
O uso da palavra voluntário não deve
12 ser associado a termos arcaicos como Voluntários podem prestar serviços signi-
assistencialismo ou caridade. Deve, isto ficativos em praticamente todas as áreas de
sim, ser ligado à idéia de ampliação das projetos de ecoturismo, dos serviços de
oportunidades de participação social limpeza e manutenção às atividades de
responsável em questões relevantes para a planejamento e gerenciamento. A seguir,
melhoria na qualidade de vida coletiva. O uma lista das principais áreas citadas por
serviço voluntário deve ter caráter comple- técnicos dos oito projetos parceiros no
mentar às ações essenciais que uma orga- desenvolvimento deste Manual como áreas
nização social desenvolva. Não se deve em que o envolvimento de voluntários seria
confundir a disponibilidade solidária de especialmente útil:
cidadãos com uma oportunidade de explo- ❒ Diagnóstico participativo.
ração gratuita de trabalho profissional. Ou ❒ Inventário do potencial ecoturístico.
seja, um projeto não deve desenvolver um ❒ Pesquisa.
p r o g rama de voluntários como uma ❒ Capacitação e treinamento.
estratégia de suprir necessidades perma- ❒ Condução de grupos.
nentes de trabalho especializado e/ou de ❒ Interpretação ambiental.
driblar os encargos e responsabilidades tra- ❒ Manejo de trilhas.
balhistas da instituição. ❒ Implantação de infra-estrutura.
Por outro lado, é claro que uma organi-
zação de base ou de atuação local, e espe- O planejamento cuidadoso para incluir
cialmente um projeto de ecoturismo, tem o serviço voluntário nas atividades do proje-
objetivos específicos que demandam uma to manterá a qualidade das ações desen-
variedade de conhecimentos especializados volvidas. O voluntário é um profissional
e para cuja realização muitas vezes não há qualificado que empresta solidariamente
recursos financeiros ou há recursos insufi- algum talento ou experiência, que deve ser
cientes. Assim, o desenvolvimento de um otimizada profissionalmente pelo projeto.
programa de voluntários pode ser um exce- Igualmente crítico é o posterior gerencia-
lente meio de cumprir com seu objetivo mento eficiente do programa de voluntários.
social e ambiental maior de sensibilização e Ambos poderão garantir a qualidade e efe-
mobilização da sociedade em geral, tividade dos trabalhos realizados pelos vo-
enquanto também promove a realização de luntários. A relação entre o voluntário e o
400
Contribuição de voluntários em projetos de ecoturismo – GESTÃO INTEGRADA

projeto deve ser de caráter institucional, grama de voluntários – pela ótica tanto da
sendo profissionalizada não pela remune- instituição quanto do voluntário – demanda
ração financeira, mas pelo padrão de tempo, dedicação e recursos da instituição
excelência dos serviços prestados. Os vo- que o desenvolve. Por exemplo, o voluntário
luntários em uma organização não são demanda treinamento em rotinas da institui-
amadores, e jamais deverão ser vistos ou ção e supervisão na execução de atividades.
tratados como tais. Em termos de recursos financeiros, o(a) vo-
Um grupo de voluntários profissional- luntário(a) tem despesas de hospedagem,
mente gerenciado ampliará a legitimidade transporte, alimentação e etc que geralmente
da instituição ao participar da discussão de necessitam ser ao menos parcialmente cober-
políticas institucionais, de eventos de tas pela instituição que o(a) recrutou.
capacitação e formação profissional, ou ao Assim, é essencial que sejam recrutados
mobilizar outras pessoas e recursos. O vo- voluntários para atividades que sejam real-
luntário bem motivado, profissionalmente mente necessárias e que estejam claramente
capacitado e gerenciado, terá maior engaja- delineadas como funções e tarefas a serem
mento nas questões de conservação e executadas. Por outro lado, o bom planeja-
desenvolvimento sustentável. Poderá sensi- mento aumenta a garantia de que o volun-
bilizar outras pessoas de sua família, traba- tário terá uma experiência positiva, estimu-
lho ou associações de que faça parte. lando-o(a) a não apenas continuar a volun- 12
Abaixo serão apresentados os ele- tariar seu tempo e conhecimento especia-
mentos principais para a elaboração e lizado, como também a envolver outras pes-
gerenciamento de um programa de volun- soas no mesmo tipo de atividade. Em
tários que, na verdade, são orientações bási- resumo, o recrutamento, seleção, capaci-
cas e não de um detalhado passo-a-passo. tação e integração de voluntários ao projeto
São cinco os elementos tratados: devem ser realizados somente após o plane-
jamento e descrição de suas funções.
1. Planejamento.
2. Recrutamento. ❒ A Política de Voluntários
3. Monitoramento e avaliação
do Programa. O plano de trabalho com voluntários
4. O voluntariado jovem deve ser orientado estrategicamente pelos
e os estagiários. princípios, concepções e valores maiores da
5. Continuidade das atividades organização, expressos em sua missão insti-
e do Programa. tucional.
O consenso conceitual é essencial para
o sucesso no trabalho com voluntários. Para
1. Planejamento tanto, é necessário que seja formulada uma
política de voluntários que envolva desde
planejamento profissional de um progra- sua elaboração, a participação de todas as
O ma de voluntários é elaborado a partir de
um diagnóstico das potencialidades e necessi-
equipes de trabalho da instituição. Essa par-
ticipação poderá ocorrer em momentos e
dades existentes no projeto de ecoturismo e na formas distintos, para que não haja prejuízo
comunidade em que este se desenvolve. nos trabalhos realizados e se garanta o
As especificidades de cada projeto e toda entendimento e envolvimento de todos na
a diversidade de necessidades, recursos nova responsabilidade assumida, ou seja, o
potenciais e oportunidades têm que ser gerenciamento do trabalho voluntário.
cuidadosamente analisadas e cruzadas, antes É também fundamental que haja sintonia
que se definam as funções do serviço volun- entre a política de voluntários e os eixos
tário. O gerenciamento adequado de um pro- temáticos que direcionam os projetos e pro-
401
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

gramas da instituição. Isto quer dizer que a principais problemas potenciais e ter uma
política de voluntários não poderá ser muito estratégia para identificá-los e lidar com
diversa de sua política de gerenciamento de eles. Os principais problemas que um proje-
recursos humanos, sob risco da política de to ou instituição podem enfrentar na inte-
voluntários não se integrar à cultura institu- gração de voluntários à sua equipe de tra-
cional e conseqüentemente encontrar difi- balho são dois:
culdades em sua implantação. 2 Conflitos com a população local
devido a comportamento inadequa-
❒ Elementos do planejamento de um pro- do no contexto social ou cultural.
grama de voluntários
2 Baixo nível de comprometimento
a) Objetivos: do(a) voluntário(a) com os objetivos
Os objetivos de um programa de volun- maiores da instituição e do projeto.
tários devem ser estabelecidos a curto,
médio e longo prazos. É necessário ainda e) Definição de equipe de
buscar a coerência entre os objetivos e a gerenciamento do programa:
missão da organização que o implantará, A instituição deve definir um coorde-
com a verificação sistemática de sua cola- nador adequado para trabalhar com os vo-
12 boração para um objetivo geral. Isto poderá luntários. Recomenda-se também a
ser feito por meio do monitoramento e ava- definição de uma “comissão” de pelo
liação do programa de voluntários. menos três pessoas de diferentes setores da
b) Descrição de atividades: instituição para avaliar o trabalho com os
Planejar previamente as atividades que voluntários. Isto permite uma maior inte-
deverão ser realizadas pelo(a) voluntário(a) gração da instituição com os voluntários,
de maneira clara e objetiva. Preferen- aumentando o potencial de apendizado
cialmente, deve-se elaborar um termo de mútuo. Por outro lado, esta medida também
referência para cada “função“ ou duração facilita a identificação e administração de
do serviço de um(a) voluntário(a). problemas no relacionamento com o(a) vo-
c) Análise de custo e benefício luntário(a) ou no seu desempenho.
para a instituição: f) Contratação de seguro de vida
O número de voluntários tem que ser e acidentes para voluntários:
adequado às necessidades e condições do Para os casos em que os voluntários deve-
projeto. É preciso analisar o custo-benefício rão trabalhar em campo, recomenda-se que
de utilizar voluntários, levando em consi- a instituição assegure-se de que os mesmos
deração o custo financeiro e de tempo para possuam seguro de vida, acidentes e saúde.
administrar adequadamente o voluntário na O seguro pode ser provido pelos próprios
instituição em geral e nas atividades especí- voluntários ou então pela instituição. A últi-
ficas do termo de referência. ma opção pode ser mais adequada para a
d) Definição de critérios e processo instituição que opte por um programa per-
de seleção e relacionamento manente de voluntários. Neste caso, convém
com voluntários: fazer um levantamento das ofertas do merca-
Além de definir os critérios para sele- do para contratar um pacote institucional.
cionar voluntários baseado no termo de g) Conhecimento e cumprimento
referência, é preciso também definir previa- da legislação brasileira
mente as medidas que deverão ser tomadas para voluntários:
caso haja problemas durante a realização O recente crescimento do debate sobre a
do serviço. Apesar do serviço voluntário ser reconceituação do serviço voluntário no
geralmente realizado com profissionalismo Brasil motivou a criação da Lei Federal nº
e compromisso, deve-se estar ciente dos 9.608/98, reproduzida a seguir:
402
Contribuição de voluntários em projetos de ecoturismo – GESTÃO INTEGRADA

Reprodução da Lei Federal nº 9.608/98, que define e regulamenta


o serviço voluntário no Brasil.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA

Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte


Lei:

Art.1 • Considera-se serviço voluntário, para fins desta Lei, a ativi-


dade não remunerada, prestada por pessoa física a entidade pública de
qualquer natureza ou instituição privada de fins não lucrativos, que
tenha objetivos cívicos, culturais, educacionais, científicos, recreativos
ou de assistência social, inclusive, mutualidade.

Parágrafo Único - O serviço voluntário não gera vínculo empregatício


nem obrigação de natureza trabalhista, previdenciária ou afim.

Art.2 • O serviço voluntário será exercido mediante a celebração de


12
termo de adesão entre a entidade, pública ou privada, e o prestador do
serviço voluntário, dele devendo constar o objeto e as condições do
seu exercício.

Art.3 • O prestador do serviço voluntário poderá ser ressarcido pelas


despesas que comprovadamente realizar no desempenho das ativi-
dades voluntárias.

Parágrafo Único - As despesas a serem ressarcidas deverão estar expres-


samente autorizadas pela entidade a que for prestado o serviço volun-
tário.

Art.4 • Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Art.5 • Revogam-se as disposições em contrário.

Brasília, 18 de fevereiro de 1999

2. Recrutamento jeto. Se poucos voluntários são necessários,


deve-se fazer a divulgação mais pontual,
aseado no planejamento do programa menos onerosa, e voltada ao perfil especifi-
B de voluntários, a instituição ou o proje-
to pode prosseguir ao recrutamento.
cado no programa (por exemplo, para uma
pesquisa sobre fauna, divulgar junto ao
departamento de biologia de uma universi-
❒ Divulgação dade). Se são necessários vários voluntários
A intensidade e diversidade da divul- e de diferentes áreas do conhecimento,
gação dependem das necessidades do pro- então deve-se realizar uma divulgação mais
403
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

ampla, buscando os meios de comunicação ca necessariamente ausência de capa-


possíveis (internet, folhetos, mala direta, citação. Um voluntário muito capacitado
anúncios, imprensa etc.) e contatos diretos para um trabalho mais simples também
em locais de alta probabilidade de retorno tem dificuldades em se adaptar.
(universidades, cursos afins, grupos de ter- b) Verificar a disponibilidade de tempo dos
ceira idade, escoteiros etc.). voluntários. Muitos podem ter um dia da
Sem dúvida, as universidades são um semana ou algumas horas do dia para o
excelente local para a busca de voluntários. trabalho. Para resolver este problema, o
Pessoas já aposentadas, apesar de por vezes projeto tem que se planejar, distribuindo a
apresentarem limitações físicas para certos tarefa de acordo com o tempo disponibi-
tipos de trabalho ou ambientes, têm tempo, lizado ou conseguindo mais voluntários.
conhecimento e disposição para o trabalho c) Estabelecer claramente os limites de
voluntário. O site www.programavolunta - atuação (direitos e deveres) tanto do(a)
rios.org.br é destinado às entidades que voluntário(a) quanto da instituição, uma
estão precisando de trabalho voluntário vez que se tenha definido um(a) can-
(cerca de 2.000 entidades já o utilizam). didato(a). Igualmente importante é infor-
mar claramente o(a) voluntário(a) sobre
❒ Seleção as condições de trabalho do local onde
12 Independente do número de voluntários ele(a) estará realizando o trabalho.
necessários, para a seleção é importante
seguir os critérios e processo estabelecidos Voluntários podem se sentir “íntimos” do
durante o planejamento. Isto ajuda a evitar projeto, do corpo técnico ou da comu-
em grande parte os problemas mencionados nidade e interferir negativamente nos
neste capítulo. O coordenador do programa processos e relações. Isto ocorre principal-
de voluntários deve ser também o coorde- mente quando o trabalho envolve comu-
nador da seleção, e deve envolver na nidade tradicional e um colaborador com
seleção os membros das equipes que mais conhecimentos. Para evitar este tipo de
estarão trabalhando com os voluntários. interferência, deve-se deixar clara a hierar-
Assim, garante-se que as pessoas que quia do projeto, o papel do(a) voluntário(a)
estarão trabalhando com os voluntários e alertá-lo(a) para estes problemas.
estejam de acordo com o processo e pos- Recomenda-se que antes da decisão
sivelmente tornem-se co-responsáveis pelo final, como em qualquer outro processo de
bom andamento do programa. seleção de pessoal, realize-se uma entre-
Durante o processo de seleção, deve-se vista para esclarecimento e adequação do
prestar especial atenção aos seguintes plano de trabalho a ser realizado e definição
aspectos: das regras de conduta.
a) Atentar para a adequação do perfil dos
candidatos aos serviços que deverão ser ❒ Seguindo a legislação brasileira, firmar
realizados. O termo de referência ajuda a termo de adesão antes do início do tra -
instituição a definir com maior clareza o balho. O termo de adesão deve ter como
que necessita, mas o processo de seleção anexo o plano de trabalho, as respon-
envolve também a atenção ao que o can- sabilidades e direitos já discutidos. A
didato deseja, tem aptidão e qualificação seguir encontra-se um modelo do Termo
para realizar. Deve-se atentar especial- de Adesão citado no Artigo 2 da Lei
mente para o fato de que perfil inadequa- Federal nº 9.608/98.
do para determinado serviço não signifi-

404
Contribuição de voluntários em projetos de ecoturismo – GESTÃO INTEGRADA

MODELO DE TERMO DE ADESÃO


EXEMPLO:

Termo de Adesão para Voluntários

Nome da Instituição:

Endereço:
Área de atividade:
Nome do voluntário:
Documento de identidade: CPF
Referências pessoais

O trabalho voluntário a ser desempenhado junto a esta instituição, de acordo com a Lei
nº 9.608 de 18/02/98, é atividade não remunerada, com finalidades assistenciais, edu-
cacionais, científicas, cívicas, culturais, recreativas e tecnológicas, entre outras afins, e 12
não gera vínculo empregatício nem funcional, ou quaisquer obrigações trabalhistas,
previdenciárias e afins.

Trabalho voluntário na área de:


Tarefa específica:
Duração: de até Horários:

Declaro que estou ciente da legislação sobre Serviço Voluntário e que aceito atuar como
Voluntário nos termos do presente Termo de Adesão.

Cidade Data

Assinatura do voluntário, RG e CPF

Testemunhas:

Assinatura, RG e CPF Assinatura, RG e CPF

De acordo:
Superintendente/Coordenador da Instituição
405
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

3. Monitoramento e avaliação ❒ Ao término do trabalho, recomenda-se


do Programa que a instituição dê um certificado de
realização do serviço voluntário.
monitoramento e avaliação do programa
O devem seguir o plano de atividades acor-
dado. Outros capítulos deste Manual tratam
4. O voluntariado jovem
e os estagiários
em detalhe de procedimentos de moni-
toramento e avaliação (ver capítulos condição dos projetos de ecoturismo,
Participação Comunitária e Parceria, Controle
de Impactos de Visitação, Levantamento do
A no que diz respeito à conservação da
natureza e ao desenvolvimento social de
Potencial Ecoturístico (Inventário), entre ou- comunidades, além de sua privilegiada
tros). Essencialmente, deve-se acompanhar localização em áreas preservadas e de alto
periodicamente a realização dos trabalhos de interesse turístico, são elementos de forte
acordo com o plano de atividades do termo potencial motivador para o voluntariado
de referência (ou do documento de planeja- jovem e para estudantes universitários em
mento da atividade do(a) voluntário(a). Este busca de formação complementar e profis-
acompanhamento deve ser preferencial- sional por meio de estágios.
mente feito com a participação do(a) volun- Esse voluntariado latente pode ser facil-
12 tário(a).Também periodicamente deve-se mente recrutado nas universidades e se ca-
fazer a avaliação do trabalho, identificando- racteriza também pelo grande interesse de
se os pontos positivos e os pontos que neces- participação nas questões sociais. A decisão
sitam de melhoria, seja no trabalho do(a) vo- sobre um contrato de estágio ou serviço vo-
luntário(a), seja no trabalho da instituição luntário depende da natureza da atividade
para com o(a) voluntário(a) (apoio, super- planejada.
visão, treinamento etc.). Principalmente no caso de estagiários
Para um programa de voluntários cabe ou voluntários jovens, o investimento feito
apresentar algumas recomendações para o em formação e capacitação tem caráter
gerenciamento do Programa que podem determinante para manutenção da moti-
evitar problemas no desempenho dos vação inicial. É importante pensar que a
serviços voluntários e na relação entre vo- qualidade de um serviço depende direta-
luntários, instituição e comunidade local: mente do grau de motivação daqueles que
o desempenham. Portanto, é necessário ter
❒ Integrar ativamente os voluntários aos sempre presentes as expectativas que os
diferentes setores da instituição. voluntários ou estagiários trazem e, se
❒ Integrar os voluntários à comunidade ou neste caso a demanda for por educação
demais instituições onde irão desempe- ambiental, é essencial que seja satisfatoria-
nhar suas atividades. mente atendida.
❒ Prover treinamento adequado para os Pode-se afirmar ainda que estagiários e
voluntários desempenharem suas ativi- voluntários jovens, mesmo trazendo "pouca
dades no contexto da instituição e do bagagem" em experiência profissional, são
projeto. Uma vez iniciado o trabalho, o capazes de promover renovação e apri-
voluntário deve receber ao menos a moramento técnico de programas e projetos
mesma atenção e orientação que um por meio da acentuada prontidão para a
membro fixo da equipe de trabalho. ação prática e reflexiva. Portanto, havendo
❒ Não sobrecarregar os voluntários, ou o disponibilidade das equipes remuneradas,
inverso, não deixá-los desocupados. esses voluntários podem promover uma
❒ O coordenador do programa, ou super- "oxigenação" motivadora, conceitual e
visor, deve trabalhar em conjunto com a estratégica em uma organização social
“comissão” do programa de voluntários. ambientalista.
406
Contribuição de voluntários em projetos de ecoturismo – GESTÃO INTEGRADA

Porém, com este público também corre- ❒ Baixo nível de comprometimento


se maior risco de problemas, principalmente profissional
com voluntários, mas também com esta- O trabalho voluntário jovem e estágios
giários. Há dois problemas que podem ocor- em projetos de ecoturismo, quando o
rer com maior frequência com este grupo: serviço é realizado no destino ecoturístico
propriamente dito, geram por vezes o inte-
❒ Conflito com a população local resse de candidatos mais motivados pela
Às vezes por inexperiência dos jovens, o oportunidade de lazer do que de trabalho.
comportamento durante a realização do tra- Em ambos os casos, a melhor forma de
balho pode ser menos profissional do que o evitar os problemas ou de solucioná-los é
que se esperaria de um funcionário. seguir as recomendações feitas no item 3
Envolvimentos pessoais – ou a mistura de acima e não hesitar em tomar medidas mais
aspectos pessoais com profissionais – ou sérias em casos graves (como por exemplo
atividades fora do âmbito do trabalho valer-se das diretrizes elaboradas no planeja-
podem gerar conflitos que envolvem ines- mento do programa de voluntários para
peradamente a instituição. rescindir o acordo de colaboração entre e o(a)
voluntário(a) ou estagiário(a) e a instituição).

A EXPERIÊNCIA 12
DA ASSOCIAÇÃO MICO-LEÃO-DOURADO COM ESTAGIÁRIOS

Associação Mico-Leão-Dourado (AMLD) tem um programa de estágios desde 1984,


que já treinou e capacitou 120 estagiários. A busca é feita principalmente nas uni-
versidades brasileiras e, às vezes, no exterior, dependendo das necessidades. Há
dois tipos de estágios: de curta e de média duração.
Os estágios de curta duração – um mês – são destinados aos estudantes de graduação
durante o período de férias. Normalmente, são selecionados três estudantes para as férias
de verão e um para as de inverno. Nesses casos, são oferecidos ao estudante a hospedagem,
alimentação e transporte terrestre até a área de trabalho.
Na primeira semana, o estudante é apresentado às diversas equipes e passa pelo menos um
dia no campo com cada uma delas, conhecendo rapidamente as peculiaridades de cada
projeto da associação.
A partir da segunda semana, o estudante pode optar por uma equipe com a qual trabalhará
o restante do tempo. Não havendo atividade previamente programada, os fins de semana
são livres.
Ao final do estágio, o estudante produz um relatório e o entrega ao coordenador da equipe
que acompanhou. Esta é a condição para que receba o certificado. Quando a AMLD iden-
tifica uma necessidade que pode ser suprida por estagiário, a seleção é feita de acordo com
o perfil necessário. Esses estágios, normalmente, duram de três a seis meses.
Além do mencionado acima, o Projeto de Conservação do Mico-Leão-Dourado oferece
ainda uma pequena ajuda de custo para o estagiário. Este tipo de estágio é direcionado por
meio de um termo de referência e seus resultados são relatados pelo estagiário ao final do
período. Muitos estudantes produzem suas monografias de graduação por esse programa.
Em alguns casos, os estagiários foram contratados pela AMLD após terem se graduado. É
comum também o recebimento de recém-formados para esse tipo de estágio. Dos 120
estagiários treinados desde que o programa foi iniciado, muitos ainda continuam atuando
em projetos de conservação.
407
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

5. Continuidade das atividades p ECOSOLIDARIEDADE –


e do programa PROGRAMA ECOVOLUNTÁRIOS
www.programavoluntarios.org.br
m dos desafios na implementação de O site tem como objetivo angariar recur-
U um programa de voluntários é manter a
continuidade em dois níveis: sempre que
sos de empresas parceiras e patrocinadoras
por meio da escolha e voto do internauta
o(a) voluntário(a) tenha partido e/ou um(a) nos projetos de conservação de diferentes
novo(a) voluntário(a) assuma a posição; ONG’s, incluindo o WWF-Brasil, que
segundo, manter o programa em andamento julguem mais importantes. As empresas
uma vez que a primeira leva de voluntários patrocinadoras destinam recursos para a
tenha cumprido o seu termo de trabalho. vencedora. Há um link para ecovoluntários
Em ambos os casos, a continuidade onde o interessado se inscreve e aguarda o
dependerá principalmente do compromis- retorno da ONG que possui vaga disponível
so da instituição para com o programa. O para atuação em área de atuação do interes-
coordenador do programa tem papel- sado e em região próxima da sua.
chave neste processo. Porém, a instituição
pode também estabelecer convênios e p PROGRAMA VOLUNTÁRIOS DO
parcerias, tanto para garantir o “suprimen- CONSELHO DA COMUNIDADE SOLIDÁRIA
12 to” de voluntários ou estagiários (por www.programavoluntarios.org.br
exemplo, uma parceria com uma institu- Apresenta artigos e informações vari-
ição cuja principal função é a organização adas, forum de discussão, os endereços dos
de voluntários, ou com uma universidade), Centros de Voluntários no Brasil, além de
quanto para garantir a disponibilidade de uma novidade: o voluntário virtual. Já há
recursos financeiros para cobrir os gastos mais de 2.000 voluntários cadastrados que
com voluntários e até mesmo com a oferecem seu trabalho via Internet. São dia-
manutenção do programa (como por gramadores, tradutores, criadores de pági-
exemplo, o pagamento de despesas de nas na rede (webpages, ou homepages),
transporte, hospedagem e alimentação, ou publicitários, advogados, contadores, etc.
o pagamento do salário do coordenador
do programa). p PORTAL DO VOLUNTÁRIO
www.portaldovoluntario.org.br
IV. RISCOS E RECOMENDAÇÕES Possui notícias e entrevistas, ações das
empresas, relatos de experiências, além de
Ao longo do capítulo procura m o s cadastro para serviço voluntário.
ressaltar os principais riscos e apresentar
recomendações para o projeto de ecotu- p ECOVOLUNTÁRIOS
rismo ou instituição lidar com os proble- www.geocities.com/ecovoluntarios
mas mais prováveis no trabalho com vo- A Ecovoluntários é uma lista que dis-
luntários. tribui informações sobre todos os progra-
mas de voluntariados em projetos de vida
❒ Mais Informações silvestre que existem na América Latina e
Se essa argumentação for suficiente para em todo o mundo. Existem diversos tipos
promover uma reflexão mais aprofundada de voluntariados, tais como tartarugas ma-
sobre o planejamento de um programa de rinhas, primatas, aves, mamíferos marinhos
voluntários que possa efetivamente recon- e muito mais. Também há informações
ceituar e recontextualizar a palavra volun- sobre cursos, reuniões, seminários e ofici-
tário, fica a sugestão de consulta aos nas que podem ser de interesse.
endereços eletrônicos que tratam da Maiores informações no e-mail eco -
questão, em nível nacional e internacional. vol@adinet.com.uy
408
Contribuição de voluntários em projetos de ecoturismo – GESTÃO INTEGRADA

p ENERGIZE projetos com voluntários e dicas para


www.energize.com ou localizar grupos de serviço locais.
www.energizeinc.com
Dedicado a diretores de programa de p SERVENET
voluntariado, há debates sobre assuntos www.servenet.org
polêmicos na gerência e coordenação de Permite que as entidades divulguem suas
voluntários. Inclui formulários interativos oportunidades de serviço. Inclui fatos e
para pesquisas de opinião e agenda de con- dicas sobre voluntariado, uma agenda de
ferências, eventos e encontros sobre o tema. encontros e discussão on-line sobre diversos
aspectos.
p THE CONTACT CENTER NETWORK
www.contact.org p SOUND VOLUNTEER MANAGEMENT
Oferece uma base de dados que permite www.halcyon.com/penguim/svm.htm
que as entidades coloquem informação Contém duas seções: uma para volun-
sobre seus serviços, eventos especiais, opor- tários, com oferta de oportunidades de
tunidades de voluntariado. Possui links com serviço; outra para coordenadores de volun-
10.000 sites de entidades sem fins lucrativos tários, com artigos e informações sobre
na internet e outros sites de interesse. diversos tópicos, como relações entre vo-
luntários e funcionários, como recrutar e 12
p THE CORPORATION OF NATIONAL SERVICE selecionar voluntários, etc.
www.cns.gov
Serviços comunitários operados por p VOLUNTEER.POINT
agências governamentais. Sites sobre volun- www.accesspt.com/civicsys/main.html
tariado e formas de associar educação e Permite a colocação de anúncios de enti-
serviço comunitário. dades procurando voluntários. Inclui artigos
sobre voluntariado e uma lista de Centros de
p CYBERVPM – GRUPO DE DISCUSSÃO Voluntários dos EUA, por estado.
Grupo de discussão para gerentes e
coordenadores de programas de volun- p VOLUNTEER TODAY:
tários. Assinaturas pelo endereço AN ELECTRONIC GAZETTE
listserv@listserv.aol.com, colocando no www.bmi.net/mba
corpo da mensagem “Subscribe cybervpm ” Boletim on-line sobre como recrutar,
seguido de seu nome (por exemplo, treinar e manter os voluntários na insti-
“Subscribe cybervpm Maria Ferreira”), tuição.
deixando o item Assunto (ou Subject) em
branco e não colocando nenhum outro p VOLUNTEERS - Grupo de Discussão
endereço de e-mail na mensagem. Grupo de discussão on-line para volun-
tários. Assinaturas pelo endereço
p IMPACT ONLINE listserv@listserv.aol.com, colocando no
www.impactonline.org corpo da mensagem “Subscribe Volunteers”
Oportunidades de voluntariado de curto seguido de seu nome (por exemplo,
prazo, uma base de dados para que as entidades “Subscribe Volunteers José Brandão”),
incluam suas oportunidades e necessidades, e deixando o item Assunto (ou Subject) em
assessoria e conselhos para voluntários. branco e não colocando nenhum outro
endereço de e-mail na mensagem.
p PROJECT AMERICA
www.project.org Vale também consultar alguns endereços
Inclui o “Guia de Ação para o Serviço de Centros de Voluntariado que estão pro-
Comunitário”, assistência para desenvolver duzindo Banco de Dados e tecnologia na
409
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

implantação de políticas e programas de 3) BLUMENAU/SC


voluntários no Brasil. A maioria dos Centros Centro Voluntários em Ação -
de Voluntários oferece orientação, capaci- Blumenau
tação e treinamento para indivíduos e para R. XV de Novembro, 701 - Sala 101
instituições. Centro - Blumenau - SC
CEP: 89010-300
p O Voluntários Candangos, de Brasília, Contato: Martina Odebrecht
por exemplo, tem um excelente material Bornhausen
para candidatos a voluntários, onde se Tel.: (55 47) 222-1299 -
discutem questões como ética, respon- Fax: (55 47) 322-2655
sabilidade e compromisso. e-mail: volbl@zaz.com.br
p O Centro de Voluntariado de São Paulo
publicou o documento Manual de 4) BRASÍLIA/DF
Orientação com Direitos e Responsa - Voluntários Candangos -
bilidades, Atitudes e Valores dos Centro de Voluntariado do DF
Voluntários. SEPN - Q 506 - BL. C - s/s 01
p O Ação Voluntária Curitiba oferece Brasília - DF - CEP: 70740-530
capacitação de alto nível para instituições. Contato: Olivia Volker Rauter
12 p O Voluntários em Ação, de Florianó- Tel./Fax: (55 61) 340-6127/347-5560
polis, oferece cursos de gestão de volun- e-mail: volcandangos@yawl.com.br
tários para entidades. www.voluntarios.org.br

Muitos Centros foram capacitados em 5) CAMPINAS/SP


planejamento e gerenciamento de progra- Centro de Voluntariado de Campinas
mas de voluntários. A seguir, lista de R. Barão de Atibaia 890 - Guanabara
endereços de alguns Centros de Voluntários Campinas - SP - CEP: 13023-011
no Brasil: Contato: Cleuza Luiza R. Sironi
Tel./Fax: (55 19) 3232-0817/3235-1974
1) ARACAJU/SE e-mail: cvcampinas@ig.com.br
Centro de Voluntários de Sergipe -
CVSE 6) CAMPO GRANDE/MS
Travessa Adolfo Rollemberg, 63 – São Centro de Voluntariado de Campo
José - Aracaju - SE - CEP: 49015-010 Grande
Contato: Andréa Torres R. João Erovaldo de Campos, 90
Azevedo/Enrique Daniel Figueredo Campo Grande - MS - CEP 79009-250
Tel./Fax: (55 79) 214-6735 – Contato: Eliane Medeiros Brunet
Tel.: 214-7380 Tel./Fax: (55 67) 765-1986
e-mail:voluntarios@voluntariosse.org.br e-mail: voluntario@terra.com.br
www.voluntariosse.org.br e-mail: sirpha@uol.com.br

2) BELO HORIZONTE/MG 7) CASCAVEL/PR


Central de Articulação e Promoção do Centros de Voluntários Cascavel
Voluntariado de Minas Gerais R. Paraná, 2621 - Centro
R. Silva Freire, 133 - Horto Cascavel - PR - CEP 85812-001
Belo Horizonte - MG - CEP: 31035-070 Contato: Rosa Ângela/Ivanilde Coelho
Contato: Demóstenes Romano Filho Tel.: (55 45) 322-4090
Tel./Fax: ( 55 31) 3481-1188 Fax: (55 45) 322-4206
e-mail: voluntar@gold.com.br e-mail: ivanilde.coelho@caixa.gov.br

410
Contribuição de voluntários em projetos de ecoturismo – GESTÃO INTEGRADA

8) CURITIBA/PR R. XV de Novembro, 3566 - sala 20


Centro de Ação Voluntária de Curitiba Shopping Maria Antonia - Centro
R. Ébano Pereira, 359 - Centro Guarapuava - PR - CEP 85010-000
Curitiba - PR - CEP: 80410-240 Contato: Sandra Lúcia Cúnico Hyczy
Contato: Mariângela Budant Hortmann Tel/Fax: (55 42) 622-6495
Tel./Fax: (55 41) 322-8076 e-mail: lobosolidario@almix.com.br
e-mail: acao@acaovoluntaria.com.br e-mail: sandrahy@onda.com.br
www.acaovoluntaria.com.br
14) ITOBI/SP
9) FLORIANÓPOLIS/PI Núcleo "Fermento e Sal" -
Centro de Voluntários do NUCS - Desenvolvimento e Capacitação
Núcleo de Cidadania e Solidariedade Caixa Postal 05
R. Marechal Pires Ferreira, 512 - Itobi - SP - CEP 13715-970
Centro Contato: Odille Maria Sampaio
Floriano - PI - CEP 64800-000 Vianna/Josefina Lepri Morandin
Contato: Sérgio Ricardo Costa Tel.: (55 19) 671-3156/673-1246 -
Carneiro/Maria do Carmo Drummond Fax: (55 19) 647-1355
Tel./Fax: (55 86) 522-1677 e-mail: geradicb@uol.com.br
e-mail: cvnucs@bol.com.br e-mail: fermentoesal@bol.com.br 12
e-mail: carneirosergio@hotmail.com
15) LIMEIRA/SP
10) FLORIANÓPOLIS/SC Programa Voluntários de Limeira
Instituto Voluntários em Ação - SC R. Santa Cruz, 647, 1º andar, sala 4
Rua Deodoro, 226, sala 701 Limeira - SP CEP: 13480-041
Florianópolis - SC CEP: 88010-020 Contato: Maria Elizabete Mecatte Varga
Contato: Ana Maria W. do Vale Pereira Tel./fax: (55 19) 451-2600
Tel./Fax: (55 48) 222-1299 e-mail: pvl@widesoft.com.br
e-mail: voluntarios.sc@ativanet.com.br www.limeira.org.br/voluntarios/

11) FORTALEZA/CE 16) NATAL/RN


Centro Ceará Voluntários Natal Voluntários
Av. Barão de Studart, 1980 - Térreo Av. Rodrigues Alves, 871 - Tirol
Fortaleza - CE - CEP: 60120-001 Natal - RN - CEP 59020-200
Contato: Célia Costa Dantas Contato: Mônica Mac Dowell
Tel./Fax: (55 85) 244-7225/224-2058 Tel./fax: (55 84) 211-1527
e-mail: ccv@secrel.com.br e-mail: natalvoluntarios@uol.com.br
www.secrel.com.br/ccv
17) NOVO HAMBURGO/RS
12) GOIÂNIA/GO Fundação Semear
Centro Goiano de Voluntariado R. Joaquim Pedro Soares, 540
R. 87, 648 - Setor Sul Novo Hamburgo - RS - CEP: 93510-320
Goiânia - GO - CEP 74093-300 Contato: Nara Grivot Cabral
Contato: Thaís Araújo e Silva Tel.: (55 51) 594-4044 -
Tel./Fax: (55 62) 545-3002 Fax: (55 51) 595-2134
e-mail: voluntariado@ovg.org.br e-mail: voluntarios@acinh.com.br
e-mail: elainemoura@uol.com.br
18) PALMAS/TO
13) GUARAPUAVA/PR Associação do Voluntariado
Voluntários Lobo Solidário Tocantinense
411
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

104 Sul, Conjunto 01, Lote 24 23) RIBEIRÃO PRETO/SP


Palmas - TO - CEP: 77000-000 Centro de Voluntariado de Ribeirão
Contato: Olívia Coelho Macedo Preto
Tel./Fax: (55 63) 218-2218 R. Visconde de Inhaúma, 489, 5º andar
e-mail: com.s-to@uol.com.br Ribeirão Preto - SP - CEP: 14010-100
Contato: Domingos Mendes Alves
19) PORTO SEGURO/BA Tel./Fax: (55 16) 605-1563
Centro de Voluntariado do Sítio do e-mail: cvrp@netsite.com.br
Descobrimento – CVSD
R. Gaspar de Lemos, 02 – Areião 24) RIO CLARO/SP
Porto Seguro – BA – CEP 45810-000 Centro de Voluntariado de Rio Claro
Contato: Elisabete Reis Leite dos R. 8, 1600 - Rio Claro - SP - CEP
Santos 13500-210
Tel.: (55 73) 288-2739 Fax. (55 73) Contato: Maria Teresa Machado Luz
679-1090 Tel./fax: (55 19) 533-3144
e-mail: silvana.odb@portonet.com.br e-mail: machadoluz@linkway.com.br
e-mail: beteeduc@bol.com.br e-mail: cvrc@bol.com.br

12 20) PRESIDENTE PRUDENTE/SP 25) RIO DE JANEIRO/RJ


Central de Voluntários em Ação de RioVoluntáRio
Presidente Prudente Av. General Justo, 275 – Loja B –
Av. Onze de Maio, 2501 - Jardim Centro
Marupiara - Presidente Prudente - SP - Rio de Janeiro – RJ – CEP: 20021-130
CEP 19061-360 Contato: Heloísa Coelho
Contato: Júlia Terezinha da Silva santos Tel.: (55 21) 262-1110/ 533-8877 -
Tel./Fax: (55 18) 221-9040 Fax: (55 21) 533-8844
e-mail: pjjunior@uol.com.br e-mail: voluntario@alternex.com.br
www.riovoluntario.org.br
21) PORTO ALEGRE/RS
ONG Parceiros Voluntários 26) SALVADOR/BA
Largo Visconde do Cairu, 17, 8º andar Centro de Voluntários Bahia
Porto Alegre - RS - CEP: 90030-110 R. Francisco Muniz Barreto, 02, 1º
Contato: Maria Elena Pereira andar - Pelourinho
Johannpeter Salvador - BA - CEP: 40025-090
Tel.: (55 51) 227-5819 Contato: Maria das Graças Bispo dos
Fax: (55 51) 226-1066 Santos
e-mail: parceiro@nutecnet.com.br Tel/Fax.: (55 71) 322-9953/ 322-1867
e-mail: voluntariosbahia@zaz.com.br
22) RECIFE/PE
Recife Voluntário 27) SANTA FÉ DO SUL/SP
Av. Visconde de Suassuna, 255 - Boa Vista Centro de Voluntariado
Recife - PE - CEP: 50050-540 de Santa Fé do Sul
Contato: Rui Mesquita/Joaquim do Av. Navarro de Andrade, 36
Rêgo Barros Filho Santa Fé do Sul - SP - CEP: 15775-000
Tel.: (55 81) 3221-7151 Contato: Marcela Regina da Costa A.
Tel /Fax: (55 81) 3221-6911 Braga
e-mail: cvrecife@uol.com.br Tel/Fax: (55 17) 631-1388
e-mail: recife@voluntario.org.br e-mail: braga@sfsmelfinet.com.br
www.voluntario.org.br www.sfsmelfinet.com.br/voluntariado
412
Contribuição de voluntários em projetos de ecoturismo – GESTÃO INTEGRADA

28) SANTOS/SP São Paulo - SP - CEP: 01311-200


Centro de Voluntários de Santos Contato: Maria Amália Del Bel
R. Maestro Heitor Villa Lobos, 160 - Muneratti
Ponta da Praia Tel./Fax: (55 11) 284-7171/288-9056
Santos - SP - CEP: 11030-240 e-mail: cvsp@uol.com.br
Contato: Marialva Carrer da Cruz www.voluntariado.org.br
Tel./Fax: (55 13) 3261-2027/261-4890
e-mail: voluntarios@ig.com.br 32) TERESINA/PI
Centro Piauí Cidadão
29) SÃO GONÇALO/RJ Av. José dos Santos e Silva, 1769 –
CENFLUV - Central Fluminense de Centro/Sul
Voluntários Teresina - PI - CEP: 64001-300
R. Mello e Souza, 161 - Mutondo Contato: Jorge da Cunha/Kleber Gallas
São Gonçalo - RJ - CEP: 24450-290 Tel.: (55 86) 3084-3591/222-0735
Contato: Júlia Tadeu Golulart e-mail: cpcpiaui@bol.com.br
Teixeira/Ana Maria da C. Silva
Tel./Fax: (55 21) 725-5527 33) VITÓRIA/ES
e-mail: casadamulher@bol.com.br Movimento Capixaba de Voluntários
Av. Américo Buaiz, 205 - Sala 506 12
30) SÃO JOSÉ DOS CAMPOS/SP Vitória - ES - CEP: 29050-950
Centro de Voluntariado Contato: Alexandre Rampazzo/ Maria
de São José dos Campos José Quinteira
R. Coronel João Cursino, 104 - apto 71 Tel./Fax: (55 27) 382-3873
São José dos Campos - SP - e-mail: mcvolun@zaz.com.br
CEP 12243-680
Contato: Angela Meirelles da Rocha 34) VITÓRIA/ES
Tel. (55 12) 341-8291 Ação Comunitária do Espírito Santo
Fax: (55 12) 341-9394 Praça Costa Pereira, 52 – 12º andar
e-mail: ameirelles@directnet.com.br Vitória – ES
CEP 29010-080
31) SÃO PAULO/SP Tel/Fax: (0+xx+27) 222-1388
Centro de Voluntariado de São Paulo E-mail: aces@excelsa.com.br
Av. Paulista, 1313, 4º andar, sala 460

413
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

✑ TOME NOTA:

12

414
GESTÃO INTEGRADA

13. Pesquisa na atividade


de ecoturismo
Leandro Valle Ferreira
Timothy Molton

I. OBJETIVO entender o mundo. Daí vem a "pesquisa


pura". Também temos necessidades, rela-
ste capítulo tem como objetivo des- cionadas ao desenvolvimento e à sobre-

E crever a importância da pesquisa


científica no contexto do ecoturismo
e mostrar como seus resultados podem aper-
vivência, que implicam aplicação dos nos-
sos conhecimentos, e daí vem a "pesquisa
aplicada". Contudo, essa divisão é muito
questionada e subjetiva. Os avanços do co-
feiçoar essa atividade. Pretende, também,
fornecer subsídios para seu desenvolvimen- nhecimento e da tecnologia, muitas vezes 13
to na forma de orientação sobre os elemen- obtidos nas chamadas atividades de pes-
tos e fases que compõem o processo de rea- quisa aplicada, têm suas origens nas ativi-
lização da pesquisa. dades desenvolvidas pela pesquisa pura.
A pesquisa é um processo de comuni-
II. INTRODUÇÃO CONCEITUAL cação, por meio do qual uma pessoa ou gru-
pos de pessoas dialogam com o ambiente
A pesquisa é uma investigação sistemáti- usando uma linguagem comum. Contudo, a
ca, com o fim de descobrir ou estabelecer grande diferença é que esse diálogo não se
fatos ou princípios relativos a um campo desenvolve como uma conversa social ou
qualquer do conhecimento. Tanto a pesquisa cotidiana, em que ambas as partes pergun-
quanto a aplicação de seus resultados são tam e respondem. A pesquisa é um processo
importantes para o desenvolvimento hu- mais complexo. Deve-se formular uma per-
mano. Todos os ramos das ciências e do co- gunta e escolher (ou mesmo desenvolver) os
nhecimento dependem das atividades de métodos mais adequados para se encontrar
pesquisa para avançar e evoluir, e ao mesmo as respostas. Esse é o método ou procedi-
tempo para nos ajudar a compreender e me- mento científico, no qual a conversa com a
lhorar nossa convivência com o ambiente natureza ocorre por meio de perguntas
que nos circunda, usando-o sem agredi-lo. (hipóteses) e as respostas chegam por meio
As atividades de pesquisa podem ser divi- de experimentos científicos. Dessa forma, a
didas em dois grandes grupos: a pesquisa experimentação é a maneira de aquisição de
pura e a pesquisa aplicada. A pesquisa pura conhecimentos na qual o pesquisador fixa,
consiste na aquisição do conhecimento manipula e introduz variáveis no objeto de
sobre determinado assunto, sem finalidade estudo (exemplo: química, física, biologia ou
de utilização prática e/ou imediata. A ecoturismo), coletando informações quantita-
pesquisa aplicada consiste na geração de tivas e/ou qualitativas.
conhecimentos da ciência e da tecnologia A grande vantagem da pesquisa é que as
(instrumentos, meios e métodos) para se perguntas podem ser testadas, direta ou indi-
chegar às aplicações práticas. retamente, por procedimentos experimen-
A pesquisa é uma atividade intrínseca à tais. Isso é diferente das hipóteses não cien-
nossa espécie. Temos um desejo inerente de tíficas, onde a veracidade ou não das per-
415
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

guntas não pode ser posta à prova por pro- manejo. Ela é muito importante para assegu-
cedimentos experimentais, como as hipóte- rar conteúdo às informações fornecidas para
ses teológicas ou filosóficas. o ecoturista. Os resultados da pesquisa
A pesquisa é geralmente entendida como devem ser incorporados ao ecoturismo,
uma atividade exclusivamente acadêmica, implicando um diálogo constante com os
pesada e incompreensível para o público leigo pesquisadores. O conhecimento e a divul-
ou técnico. Porém, como alguns capítulos gação do ambiente natural e cultural é um
deste Manual mostram (ver capítulos dos pontos que asseguram qualidade a qual-
Monitoramento e Controle de Impactos, quer programa de ecoturismo. Por outro
Levantamento de Potencial Ecoturístico lado, a atividade ecoturística pode contribuir
(Inventário), entre outros), a pesquisa também ativamente para o processo de pesquisa.
pode ser simples e cotidiana. Isto vai depender Em qualquer programa de ecoturis-
da pergunta que se deseja responder. Por mo, o monitoramento dos impactos deve ser
exemplo, um agricultor deseja saber qual a previsto no planejamento, o que exige
profundidade adequada para colocar a desenvolvimento de pesquisa, por meio de
semente de uma determinada planta para um programa de coleta de dados, análises e
otimizar a produção de mudas. Para tanto, ele tomada de decisões. Por exemplo, o capítu-
coloca sementes em 3 níveis diferentes de solo lo Monitoramento e Controle de Impactos
13 e observa e compara seu desenvolvimento em apresenta um método sistemático para a
cada nível, atentando para diversos fatores, coleta e avaliação de informações sobre o
como por exemplo, número de mudas que ambiente visitado (no caso, trilhas). A
nascem, rapidez do brotamento, vigor da pesquisa também não se resume ao ambi-
planta, mortalidade ao longo do tempo, entre ente natural. Pesquisas de diagnóstico sócio-
outros fatores. Em suma, a pesquisa é uma econômico, importantes para se identificar,
atividade importante e fundamental para o prever e mensurar os benefícios que uma
planejamento de qualquer atividade humana. nova atividade econômica vai gerar (no
Desta forma, para que o ecoturismo contribua caso, o ecoturismo), são de extremo inte-
com a conservação dos recursos naturais, e resse para planejadores e também para
para a melhoria da condição de vida de comu- financiadores de projetos. O capítulo Parti -
nidades locais, suas atividades devem ser cipação Comunitária e Parceria sugere um
planejadas e monitoradas com auxílio de processo de coleta e avaliação de dados
pesquisas científicas. baseado no planejamento participativo da
atividade de ecoturismo em determinada
III. CAIXA DE FERRAMENTAS localidade. Ou seja, os métodos apresenta-
dos representam atividades de pesquisa.
Como foi explicado anteriormente, este Entretanto, nenhum dos dois métodos cor-
capítulo não visa formar pesquisadores, mas responde ao método científico de pesquisa
sim orientar os usuários do Manual sobre os que muitas vezes será necessário para o
elementos e processo de realização de estudo mais aprofundado sobre algum ele-
pesquisa. Isto será feito por meio dos mento crítico identificado no ambiente visi-
seguintes itens: tado, ou mesmo no processo de organiza-
ção social.
1. Pesquisa em ecoturismo
2. Passos da metodologia científica p Envolvimento comunitário na pesquisa.
A comunidade local é uma fonte impor-
1. Pesquisa em ecoturismo tante (muitas vezes a mais importante) de
conhecimentos sobre a região pesquisa-
pesquisa deve ser integrada ao ecoturis- da, conhecimentos estes que obviamente

416
A mo desde a fase de planejamento até o devem ser incorporados ao projeto.
Pesquisa na atividade de ecoturismo – GESTÃO INTEGRADA

Pessoas da comunidade que têm co- Em alguns casos, a critério do


nhecimentos sobre as áreas naturais pesquisador e se for de interesse do pro-
podem contribuir no desenvolvimento e jeto, o ecoturista pode conhecer o
na operação do produto ecoturístico. andamento da pesquisa no campo,
Podem ainda ser capacitadas para atuar como por exemplo na observação e
como guias ou assistentes de pesquisas auxílio na coleta de aves por meio de
de campo, pois ninguém conhece me- redes, ou na visita para observação de
lhor sua área do que o próprio morador. um plantio agrícola experimental.
Portanto, além de ser fonte de infor- Deve-se atentar para que as visitas não
mações, a comunidade local pode con- interfiram no experimento e que o
tribuir na busca de informações. Deve pesquisador responsável sempre esteja
ainda ser uma das maiores beneficiadas presente.
pelas pesquisas. Para isso, deve ser con- p Elaboração de roteiros e eventos cientí-
sultada e informada sobre a proposta da ficos. Se entre os objetivos do projeto
pesquisa e ter acesso aos respectivos estiver a pesquisa científica, e esta já
resultados. Em certos casos, quando o possuir experimento em andamento,
tipo de pesquisa é aplicado e o assunto dados já disponibilizados e resultados
pesquisado referente a um problema da para análise, pode-se oferecer ao merca-
comunidade (por exemplo, de organiza- do roteiros de interesse científico, desti- 13
ção social), a comunidade pode partici- nados a pesquisadores e estudantes uni-
par da elaboração do objetivo e defini- versitários. Os grupos devem ser
ção do método da pesquisa. pequenos e o responsável pelo projeto
p Envolvimento do ecoturista na pesquisa. deve ser também o responsável pela ela-
Muitas vezes é possível incluir um com- boração e condução do roteiro. Pode-se
ponente de pesquisa dentro do programa também pensar na promoção de encon-
do ecoturista. Sob orientação do guia, o tros científicos que tenham como base os
grupo de ecoturistas pode anotar obser- equipamentos e os recursos naturais e
vações de determinadas aves, borbole- culturais da região, que seriam utilizados
tas, pegadas de animais, etc. Para ser útil, como estudos de caso. Para esse fim, uti-
o programa tem que ser bem orientado e liza-se o espaço do empreendimento
vistoriado. (pousada, sítios de pesquisa), cobrando-
O extremo de envolvimento de eco- se taxas de administração, contribuindo
turistas em pesquisa tem seu exemplo para a divulgação e enriquecimento do
clássico nos programas de organizações produto. Universidades próximas à
como o Earthwatch, nos quais volun- região de influência do projeto, princi-
tários (que arcam com suas próprias palmente aquelas que possuem cursos
despesas de transporte, alimentação e na área biológica e do turismo, devem
estadia) trabalham como assistentes de ser encorajadas e convidadas a realizar
um projeto de pesquisa. visitas técnicas e pesquisas espontâneas
p Envolvimento do pesquisador no ecotu- (pequenos diagnósticos) e contribuindo
rismo. Às vezes é possível mostrar como para o fortalecimento e amadurecimento
são desenvolvidas as pesquisas. Os da atividade. Na Amazônia, um barco-
pesquisadores devem ser encorajados a escola de uma universidade local leva
fazê-lo, atuando como guias especializa- seus estudantes para conhecer experiên-
dos para demonstração de campo ou por cias de turismo, e contribui para cons-
meio de palestras e debates com o eco- trução de ferramentas úteis para o pro-
turista, sem muita formalidade. duto, tais como páginas na internet, fo-
Eventualmente, um bate-papo na hora lhetos promocionais e treinamentos de
do jantar cumpre esse papel. mão-de-obra diversos.
417
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

Algumas estruturas usadas tradicional- de uma equipe de pesquisa e necessidade


mente na pesquisa se prestam como exce- de utilização de materiais e equipamentos,
lentes facilidades para o ecoturismo. Alguns busca de apoio financeiro e parcerias insti-
exemplos: tucionais que garantam a continuidade da
pesquisa pelo período necessário. Uma vez
a) Walkways (passarelas), trilhas montada a equipe, procede-se à aplicação
ou transectos: do método científico para desenvolver a
São trilhas desenhadas de forma a causar pesquisa.
o menor impacto possível no ambiente que A metodologia científica é um conjunto
se está estudando. Podem ser feitas no nível de técnicas e processos que visam a formu-
do solo ou suspensas, no caso de áreas ala- lação e solução dos problemas de maneira
gadas ou quando se quer estudar espécies objetiva e sistemática. Desta forma, diante
de copas de árvores. de um problema os procedimentos podem
b) Blinds: ser resumidos nas etapas apresentadas a
São estruturas construídas e, preferen- seguir. Para efeito de melhor compreensão,
cialmente camufladas ou mimetizadas no daremos um exemplo prático após a apre-
ambiente, para facilitar pesquisas que sentação de todas as etapas.
envolvem a observação de fauna. São
13 pequenas casinhas de madeira ou mesmo ETAPA 1 4Formulação de uma hipótese
de lona, montadas no ambiente onde há A primeira etapa é a formu-
maior probabilidade de se encontrar ani- lação de uma hipótese (per-
mais. Nas paredes existem pequenas aber- gunta) que, de acordo com
turas em tamanho suficiente para que o certos critérios, pode ser ou
observador veja os animais a olho nu ou não rejeitada. Esse conceito é
usando binóculo. denominado "Princípio da fal-
sidade".
2. Passos da metodologia científica ETAPA 2 4Desenvolvimento do experi-
mento

E m alguns casos será necessário comple-


mentar as atividades de pesquisa simples
apresentadas em outros capítulos do
Escolher uma situação com o
objetivo de testar a hipótese
(pergunta), identificando to-
Manual com pesquisas mais rigorosas, que dos os métodos e técnicas (in-
sigam o método científico. No caso de um clusive computacionais e
projeto de ecoturismo, caso os sistemas de estatísticos) a serem usados na
monitoramento (seja de impacto de visi- pesquisa. Assim, testaremos a
tação em trilhas, seja de atividades apresen- Hipótese 1 e se ela for falsa,
tadas em outros capítulos) indiquem que há isto significa que a alternativa
algum problema mais grave ocorrendo, sem oposta (o que queremos cons-
que seja possível identificar as suas causas tatar) ganha credibilidade.
com as informações existentes (e conse- ETAPA 3 4Coleta sistemática de dados
qüentemente elaborar estratégias para solu- Coletar as informações de
cioná-lo), é necessário proceder à realiza- maneira sistemática. Nessa
ção de pesquisa seguindo o método científi- fase, os seguintes passos de-
co (especialmente no caso de impactos vem ser sempre seguidos:
biológicos e ecológicos). a Estudos observacionais
Uma vez que se tenha optado pela (estudos de campo, coleta
pesquisa científica, o primeiro passo a ser de dado, etc.).
seguido refere-se à viabilização técnica e a Estudos experimentais
financeira da pesquisa. Ou seja, montagem (manipulação das variáveis
418
Pesquisa na atividade de ecoturismo – GESTÃO INTEGRADA

de estudo, coleta de resul- ou aceita. Esta conclusão leva


tados). ao encaminhamento de pro-
a Medição e comparação de cedimentos a serem adotados.
dados de desempenho, Etapa 6 4Divulgação dos resultados
uso, impacto etc. (quando Os principais resultados e
for pesquisa metodológica). conclusões da pesquisa de-
ETAPA 4 4Análise dos dados vem ser divulgados, para que
O tipo de análise depende dos possam ser conhecidos por
tipos de variáveis coletadas, aquelas pessoas e instituições
tamanho e número de grupos, que influenciam o assunto
etc. Existem diversos manuais pesquisado, e para que as
e livros estatísticos que são recomendações possam ser
fundamentais nesta etapa e aplicadas. As formas de
diversos programas de soft- comunicação podem ser oral
ware de fácil manipulação. (palestras, seminários, con-
ETAPA 5 4Conclusões e recomendações gressos, televisão, rádio etc.)
Com base nos resultados ori- ou escrita (relatórios, artigos
undos da análise dos dados, a científicos, internet, revistas,
hipótese elaborada é rejeitada jornais etc.). 13

PESQUISA SEGUNDO O MÉTODO CIENTÍFICO


EXEMPLO:

S
uponha que você é responsável por uma área muito visitada por ecoturistas, devido
à excelente oportunidade para observação de uma espécie de pássaro, ameaçada de
extinção, que ali nidifica freqüentemente. Alguns trechos de vegetação onde as aves
nidificam são atravessados por trilhas usadas pelos ecoturistas. Suponha que o número de
ninhos ativos dessa espécie tem diminuído ao longo dos anos (ver capítulo
Monitoramento e Controle de Impactos sobre como esta informação pode ser gerada).
Logo, você tem um grande problema em suas mãos: será que essa redução é resultante
da visitação, de algum problema na dinâmica populacional natural desta espécie ou de
qualquer outra variável ambiental? Como resolver esse problema? O sistema de moni-
toramento e controle de impactos sugerido no capítulo de mesmo nome pode ser utiliza-
do para assegurar a coleta mínima de informações a este respeito; entretanto, a melhor
estratégia, neste caso, é a pesquisa, seguindo os passos descritos na caixa de ferramentas
e detalhados a seguir.
Antes de dar início ao processo da pesquisa propriamente dita, é necessário montar
uma equipe de trabalho, envolvendo minimamente membros da equipe responsável pelo
manejo do ecoturismo e/ou proteção da área (seja uma unidade de conservação ou uma
propriedade particular), e um ou mais pesquisadores especializados no assunto em
questão (aves).
A realização de pesquisa pode durar um bom tempo e consumir recursos financeiros
elevados. Assim, o ideal é desenvolver uma parceria com instituição de pesquisa que
possa garantir não só a continuidade e qualidade da pesquisa, mas também ser co-respon-
sável pelos gastos advindos da pesquisa. A parceria institucional também facilitará a
pesquisa na disponibilização de equipamentos especializados.

419
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

PESQUISA SEGUNDO O MÉTODO CIENTÍFICO (continuação)


EXEMPLO:

ETAPA 1 4Formulação de uma hipótese: Uma vez montada a equipe de pesquisa, a


primeira etapa é desenvolver uma hipótese composta por duas alternativas
opostas, sendo a primeira aquela que se vai testar, e a segunda a que real-
mente se deseja averiguar:
Hipótese 1: A visitação nas trilhas não causa impacto no número de ni-
nhos ativos da espécie.
Hipótese 2: A visitação nas trilhas causa impacto no número de ninhos
ativos da espécie.
Lembre que esta é a fase fundamental do procedimento científico. Você
deve discuti-la com a equipe de trabalho e com outras pessoas que possam
colaborar com conhecimento sobre o tema ou sobre a área, pois, se a per-
gunta for mal formulada, todas as etapas posteriores ficarão seriamente
prejudicadas. Em bom português: lixo entra, lixo sai.
ETAPA 2 4Desenvolvimento do experimento: A próxima etapa consiste em desen-
volver um experimento para a coleta dos dados necessários para testar a
hipótese, ou seja, inicia-se a construção do experimento ou "desenho
13 experimental". No nosso exemplo, vamos selecionar algumas trilhas onde
os pássaros fazem seus ninhos. Por exemplo, seis trilhas que serão posteri-
ormente divididas em dois grupos:
Grupo 1: As trilhas 1 a 3, a visita será interditada. Em pesquisa, esse
grupo é denominado "grupo controle";
Grupo 2: Nas trilhas 4 a 6, a visita será normal. Esse é o "grupo expe-
rimental".
ETAPA 3 4Coleta sistemática de dados: Em cada uma das seis trilha serão computa-
dos todos os locais de nidificação da espécie de pássaro (por exemplo, uma
árvore). A partir daí serão monitorados os ninhos ativos durante todo o
período de reprodução, nos dois grupos de trilhas.
ETAPA 4 4Análise dos dados: Nessa etapa, os dados coletados durante o experimento
serão analisados de maneira sistemática, usando-se preferencialmente testes
estatísticos para uma melhor fundamentação dos resultados do trabalho.
ETAPA 5 4Conclusões e recomendações: A rejeição da Hipótese 1 dá suporte à
Hipótese 2, de que a visitação nas trilhas causa diminuição no número de
ninhos ativos da espécie. Portanto, esse estudo mostra a necessidade de se
buscar soluções para eliminar ou minimizar o problema.
Uma vez identificado o problema, a equipe de manejo do ecoturismo na
área, juntamente com a equipe de pesquisa, deve reunir-se para definir
ações de manejo que sejam adequadas (ver capítulo Monitoramento e
Controle de Impactos ).
ETAPA 1 4Divulgação dos resultados: Para finalizar a atividade de pesquisa, devem
ser divulgados os resultados da melhor maneira possível, conforme abor-
dado na Etapa 3. Nesse caso, é muito importante que o visitante da área
seja informado dos possíveis impactos que sua visita pode causar à espécie
e sobre as regras de comportamento para melhor preveni-los.

420
Pesquisa na atividade de ecoturismo – GESTÃO INTEGRADA

V. RISCOS E RECOMENDAÇÕES ❒ Pedir ao pesquisador cópia de seu proje-


Como qualquer atividade humana, a to de pesquisa. Quando a pesquisa
pesquisa científica será prejudicada ou até envolver coleta de materiais, certificar-se
mesmo inviabilizada por uma série de pro- sobre o destino que será dado aos mes-
blemas. Entre os principais problemas mos. Além disso, o pesquisador deverá
podemos citar: comprometer-se em enviar cópia de seu
❒ Perguntas mal formuladas: lembre-se de relatório final e de quaisquer publi-
que todo processo científico é direciona- cações resultantes dessa pesquisa.
do a responder uma pergunta (hipótese). ❒ Para evitar os problemas resultantes da
Portanto, se a pergunta é mal formulada, realização incorreta da pesquisa, acon-
todas as etapas seguintes ficam compro- selha-se a formação de parcerias com
metidas. instituições de ensino (Universidades)
❒ Dados mal coletados. e/ou de Centros de Pesquisa.
❒ Análises malfeitas.
❒ Não uso dos resultados obtidos como Para finalizar, apesar de estar trabalhan-
instrumento de planejamento e gestão da do em equipe com os manejadores da área,
atividade ecoturística. deve-se lembrar que o principal agente da
pesquisa é o pesquisador especializado.
As principais recomendações para evitar Portanto, é essencial que ele tenha habili- 13
riscos no desenvolvimento da pesquisa são: dades para planejar, conduzir e concluir a
❒ As perguntas (hipóteses) devem ser for- pesquisa, levantar e conhecer a literatura
muladas de maneira clara e detalhada- científica relacionada ao tópico, utilizar os
mente discutidas entre as partes envolvi- conhecimentos e experiência adquiridos
das. Lembre-se novamente de que esta durante a realização da pesquisa e con-
fase é fundamental para que a pesquisa tribuir com o enriquecimento e a divulgação
traga benefícios, ao invés de problemas. do conhecimento.

PROJETO TAMAR
PESQUISA COMO INSTRUMENTO DE MARKETING

esde o início de suas atividades, em 1980, o Programa Brasileiro


de Conservação e Manejo das Tartarugas Marinhas (TAMAR/IBAMA) atua
em diversos sítios reprodutivos ao longo da costa brasileira, procurando
integrar ao projeto as comunidades que originalmente se beneficiavam das espécies
de tartarugas marinhas como recurso alimentar. Ao longo dos anos, o TAMAR
foi expandindo as atividades pelo litoral, criando novas frentes de trabalho
e desenvolvendo com criatividade várias estratégias para buscar a auto-sustentabilidade.
As duas atividades melhor sucedidas na geração de recursos próprios foram a venda
de produtos com a marca do Projeto TAMAR e o ecoturismo. Em ambos os casos
o Projeto TAMAR valeu-se das informações geradas pelo seu programa de pesquisa
para oferecer produtos únicos para o público.
A produção científica do TAMAR, a partir de meados da década de 90, decolou,
com a consolidação das principais estações (Coordenações Regionais) e com a criação
das Coordenações Técnicas. Vários aspectos tornaram o TAMAR pioneiro:
o envolvimento comunitário, a criação de Unidades de Conservação Marinhas

421
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

Cont…)
e Litorâneas, a idealização de Centros e Parques de Visitação Turística, passando
pela participação efetiva em discussões internacionais (Redes de conservação
de tartarugas marinhas no mundo, como o Wide Cast e MTSG-IUCN).
Muitos resultados podem ser comemorados nos últimos 20 anos: 3 milhões de filhotes
liberados, mais de 100 trabalhos científicos publicados, centenas de estudantes
e profissionais capacitados. Esses fatores, associados ao carisma e docilidade
das tartarugas, e à divulgação na mídia nacional e internacional, tornaram esse animal
uma referência brasileira de um bem-sucedido projeto de conservação, além de uma
marca de mercado extremamente forte.
Atividades em Fernando de Noronha
Em Fernando de Noronha não foi diferente. Em 1995, com o aumento do fluxo turístico
no arquipélago, o TAMAR idealizou e construiu, em parceria com o WWF, Fundação
O Boticário de Proteção à Natureza e com a Petrobrás, o Centro de Visitantes/
Museu Aberto da Tartaruga Marinha de Fernando de Noronha, mais uma iniciativa
13 pioneira na região. Vídeos, painéis, fotos, pequeno acervo de material biológico e o
quiosque do CD-ROM do TAMAR também estão disponíveis aos visitantes, além da
Lojinha, Café e serviços públicos, como telefone e caixa de coleta de correios.
A criação desse espaço proporcionou a concentração de grande parte dos turistas
que visitam o arquipélago, principalmente à noite, quando acontecem, de domingo
a domingo, palestras sobre programas diversos, que não se resumem a temas marinhos.
História, geografia, pesquisas em ecologia são alguns dos temas tratados, transformando
o Centro de Visitantes numa referência como centro educativo e informativo.
Dentro do programa de turismo participativo, algumas atividades do Projeto TAMAR
podem ser acompanhadas por visitantes. Realizado desde 1992, foi intensificado
a partir de 1994 com a campanha “Adote uma tartaruga marinha”. A partir de 1997,
foi formado o Grupo de Guias-mirins do TAMAR, com crianças entre 9 e 13 anos,
outra parceria entre o TAMAR e o WWF-Brasil, que formam hoje a linha de frente
contra a extinção das tartarugas marinhas.
Além de proporcionar atrativos e serviços aos visitantes, o Centro de Visitantes / Museu
Aberto da Tartaruga Marinha é um local aconchegante, considerado uma referência
para a educação ambiental no arquipélago. O Projeto TAMAR busca a sua
auto-sustentabilidade por meio da venda de material de divulgação, programas
de adoção e atividades participativas. Atualmente, mais de 80% dos recursos
do TAMAR em Fernando de Noronha são provenientes das atividades ligadas
ao fluxo turístico no arquipélago, que geram inúmeros empregos diretos e indiretos.

V. BIBLIOGRAFIA

REJOWSKI, Miriam.1998. Turismo e


Pesquisa Científica. Campinas. Papirus.

422
Glossário unificado
em turismo e meio ambiente
Termos e conceitos em português e inglês usados neste Manual
e comumente utilizados em turismo e meio ambiente.

Abiótico – Componente não-vivo do meio sociedades que têm por objetivo social,
ambiente, como o solo, o ar ou a água. exclusivamente, as atividades de turismo
Ação Antrópica – Tudo que resulta de inter- definidas no Decreto n° 84.934 de 1980.
ferência humana no ambiente, podendo São elas:
ser positiva ou negativa. I - venda comissionada ou intermedi-
Adaptação – Processo terminal de ajusta- ação remunerada de passagens individu-
mento fenotípico ou genético, de organ- ais ou coletivas, passeios, viagens e
ismos ou populações, às condições excursões;
ambientais particulares, que lhes permi- II - Intermediação remunerada na reser-
tam sobreviver, reproduzir e desenvolver. va de acomodações;
Aeróbico – Relativo a um organismo que III - recepção transferência e assistência
necessita de oxigênio para sobreviver. especializadas ao turista ou viajante;
Agência de Ecoturismo – agência de turis- IV - representação de empresas trans-
mo especializada que respeita os princí- portadoras, empresas de hospedagem
pios do ecoturismo e comercializa pro- outras prestadoras de serviços turísticos;
dutos ecoturísticos. V - divulgação pelos meios adequados,
Agente emissivo – quem envia e agencia o inclusive propaganda e publicidade, dos
turista. serviços mencionados nos itens acima.
Agente receptivo – quem recebe e presta Agricultura de "corta e queima" – Prática de
serviço ao turista. fazer derrubada de árvores seguida do
Agência de Turismo – cabe à Agência de uso de fogo para preparar a terra para
Viagens e Turismo, e somente a ela, a lavoura; após alguns anos, a área é
operação de viagens e excursões, indi- abandonada ou transformada em pas-
viduais ou coletivas, compreendendo a tagem, exigindo a mudança das lavouras
organização, contratação e execução de para nova área de floresta ou capoeira.
programas, roteiros e itinerários Agroflorestal – sistema de cultivo combina-
(MICT/EMBRATUR, 1980). Conforme os do envolvendo árvores, frutíferas e
serviços que estejam habilitadas a madeireiras, nativas e espécies agrícolas
prestar, e os requisitos para seu registro e adaptadas aos vários estágios de cresci-
funcionamento, as Agências de Turismo mento das árvores.
classificam-se em duas categorias, a Agrotóxico – Pesticida utilizado na agricul-
Agência de Viagens e Turismo, conheci- tura.
da no mercado como agência operadora, Água subterrânea – É a água armazenada
pois desenvolve e vende roteiros e pro- nos aqüíferos e no solo abaixo do lençol
dutos de turismo e a Agência de Viagens, freático. As águas subterrâneas estão
que apenas comercializa para o público expostas a duas grandes ameaças. A
final. As Agências de Turismo são primeira é sua redução, como resultado
423
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

do consumo excessivo ou superex- ca em relação ao tema, ambiente, físico,


plotação (uso com proveito econômico). químico e biológico e suas inter-relações
A segunda é a poluição proveniente de (reais e potenciais) . Deverão ser levados
vazamentos dos aterros e de outras em conta os distintos aspectos referidos
fontes de substâncias tóxicas, principal- com elementos bióticos, abióticos,
mente dos produtos químicos utilizados mecanismos de integração, dinâmica
na agricultura. (real / potencial) de populações, elemen-
Airline – Companhia aérea. tos potenciais de permitir / inibir a
Airpass – Passe ou passagem aérea vendida existência de certos ecossistemas (natu-
pelas companhias para vôos regionais no rais / modificados / introduzidos), além
exterior. de outros fatores que se façam
Alfabeto aeroviário - Conjunto de palavras necessários de serem avaliados em
utilizadas para informar, sem erros, as função de algumas especificades de pro-
letras que compõem, por exemplo, um jetos a serem apresentados.
código de reserva. Anaeróbico – Organismo que não necessita
de oxigênio para sobreviver.
A - Alfa J - Julliet S - Sierra Análise custo-benefício – Método utilizado
B - Bravo K - Kilômetro T - Tango pelos economistas para determinar a via-
C - Charlie L - Lima U - Urbano bilidade de um projeto. Os benefícios
D - Delta M - Mick ou uniform financeiros de um projeto são divididos
E - Eco N - November V - Vitor pelo seu custo total durante toda a sua
F - Fox O - Oscar W - Whisky duração. Se o número obtido for superi-
G - Golf P - Papa X - Xadrez or à unidade, o projeto é considerado
H - Hotel Q - Quebec Y - Yank válido. Parece ser uma abordagem sim-
I - Índia R - Romeu Z - Zulu ples e direta, mas é difícil atribuir um
valor monetário a alguns benefícios e
ALI (Aditional Liability Protection) – Ou custos, como a preservação de uma
seguro para terceiros, no caso de espécie ou a qualidade do ar.
locação de veículos, dá proteção adi- Andaime – armação de madeira ou ferro
cional contra danos pessoais e materiais usado em construção civil como apoio
causados a terceiros. para os operários levantarem uma obra.
All inclusive – Termo normalmente associa- Animais taxidermizados – peles de animais
do à hotelaria. Determina o sistema no especialmente tratadas e montadas co-
qual todas as despesas (como refeições, mo se o animal ainda estivesse vivo. São
bebidas alcoólicas e até gorjetas) estão os animais empalhados.
incluídas no valor da diária paga pelo Antropogênica – relativo ao estudo das ori-
hóspede. gens e da evolução do homem.
All suites – Hotel que possui apenas suites – Aqüífero – Formação geológica que
apartamentos com uma sala anexa. armazena água no subsolo. Os aqüíferos
Ambiente – Todos aspectos condicionantes são objeto de acirrados debates em áreas
que possam de alguma forma ter influên- que dependem deles para o fornecimen-
cia sobre a atividade que se pretende to de água doce. O consumo da água
desenvolver , correspondendo às forças proveniente de um aqüífero por popu-
externas, condições e circunstâncias que lações urbanas, agricultores e indústrias
propiciam a existência desta, incluindo- com freqüência excede a taxa de
se as fontes de riscos. O ambiente deve reposição natural. Baixos níveis dos
incluir as tecnologias empregadas, os aqüíferos podem resultar na insuficiên-
clientes, o mercado, a política estratégi- cia de água, na sua contaminação – de-
424
GLOSSÁRIO

vido ao aumento da salinidade e do teor Aterro sanitário – Método de dispor resídu-


dos diversos minerais nela dissolvidos – os sólidos, que são compactos e enterra-
e na formação de "sink holes" (depres- dos. Em geral, são escavações forradas
sões no terreno causadas pela superex- com plástico ou argila, os quais possuem
ploração do aqüífero). um sistema de coleta de "chorume"
Área controle – em pesquisa, refere-se à (líquido que contém substâncias dis-
área ou amostra que não sofre qualquer solvidas, retiradas de sólidos permeáveis
tratamento ou interferência da pesquisa, com altos teores de tais substâncias. Por
ou seja é mantida em seu estado original exemplo, os aterros sanitários geram
para ser usada em comparação das chorume que, com freqüência, está con-
mudanças resultantes de interferências taminado por substâncias tóxicas e
em outras áreas. ameaça as águas subterrâneas).
Área de influência direta – É a área Ativo – em contabilidade, indica a parte do
necessária à implantação das obras ativi- balanço que mostra como os recursos da
dades, propriamente dita, bem como empresa estão aplicados. Por exemplo,
aquelas que envolvem a infra-estrutura dinheiro aplicado no banco, veículos,
de operacionalização de testes, plantios, terrenos, construções, etc.
armazenamento, transporte, distribuição Atrativo – é o recurso trabalhado que moti-
de produtos/insumos/água, além da área va o deslocamento temporário dos turis-
de administração, residência dos tas. Pode ser natural ou cultural.
envolvidos no projeto e entorno. São as Avaliação de riscos – a identificação,
áreas (laboratórios/campos) diretamente medição e priorização dos riscos .
abrangidas. Bacia – Área na qual um rio capta sua água.
Área de influência indireta – É o conjunto O termo também é utilizado para descre-
ou parte dos municípios envolvidos, ver as fontes de água de lagos e regiões.
tendo-se como base a bacia hidrográfica Bactérias – Organismos de uma única célu-
abrangida. Na análise socioeconômica, la, algumas espécies sendo parasitas de
esta área pode ultrapassar os limites animais ou vegetais.
municipais e inclusive os da bacia hidro- Ballroom – Salão de eventos, como festas,
gráfica. congressos e bailes.
Arrival – Desembarque. Bason – sanitário seco para compostagem.
Arte-ambiente – Programas educativos, artísti- Bed & Breakfast – Literalmente, cama e café
co ou culturais que se inspiram nos da manhã. Termo normalmente utilizado
processos da natureza, utilizam materiais para designar hospedagem econômica.
naturais de fontes renováveis ou con- Bell boy – Mensageiro; termo, associado
tribuem para a conscientização ecológica. principalmente aos hotéis
Arunk – Abreviatura do inglês "Arrival Biodegradável – Substância que pode ser
Unknown" que significa "chegada decomposta mediante a ação de seres
desconhecida"; é usado quando o pas- vivos (como bactérias ou microorganis-
sageiro tem uma data de saída de um mos), formando produtos inócuos,
destino, sem que no mesmo bilhete inofensivos.
aéreo conste a data em que chegou Biodiversidade – Abrangência de todas as
àquele mesmo destino. espécies de plantas, animais e microor-
Assoreamento – Obstrução de um rio ou ganismos, e dos ecossistemas e proces-
canal, por areia ou outro material, tor- sos ecológicos dos quais são parte.
nando os rios rasos e diminuindo as Biogeografia – Estudo multidisciplinar, centra-
condições de vida para determinadas do numa perspectiva ecológica, que anali-
espécies de peixes, animais etc. sa a distribuição espacial, atual e passada,
425
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

de plantas e animais, levando em consi- dimento econômico.


deração fatores histórico-causais. Business travel – Viagem de negócio.
Bioma – (do grego bios, vida + ome, massa) By night – Passeio noturno pela cidade.
Amplo conjunto de ecossistemas ter- Camada de ozônio – Camada de gás ozônio
restres, caracterizados por tipos situada na estratosfera, a qual filtra a
fisionômicos semelhantes de vegetação perigosa radiação ultravioleta-B (que
com diferentes tipos climáticos. está associada ao aumento na freqüência
Biomassa – Peso total de todos os seres vivos de câncer de pele, cataratas em mamífe-
em um determinado ambiente ou em ros e danos às lavouras). A camada de
uma amostra. O tempo também é uti- ozônio diminuiu nas últimas duas
lizado na descrição de materiais orgâni- décadas, em especial sobre o Hemisfério
cos que podem ser empregados como Sul. Muitos cientistas atribuem a redução
combustível – material vegetal seco, da camada de ozônio a um aumento no
lenha, resíduos orgânicos etc. teor de cloro na atmosfera, resultante da
Biosfera – Sistema integrado de organismos liberação de CFCs (Ver cloro-fluorcar-
vivos e seus suportes, compreendendo o bonos). Outros acreditam que a camada
envelope periférico do planeta Terra com de ozônio flutua de acordo com um
a atmosfera circundante, estendendo-se ciclo natural de longo prazo.
para cima e para baixo até onde exista Independentemente da causa, a camada
naturalmente qualquer forma de vida. de ozônio sobre a Antártida fica, peri-
Biossegurança – é o conjunto de ações odicamente, tão fina que os cientistas
voltadas para a prevenção, minimização criaram a expressão buraco de ozônio.
ou eliminação dos riscos inerentes às Canopy walkway – passarelas de copada,
atividades de pesquisa, produção, ensi- são estruturas que possibilitam a obser-
no, desenvolvimento tecnológico e vação da flora e de avistamento eventual
prestação de serviços, riscos que podem de fauna (aves, primatas) “por dentro” da
comprometer a saúde do homem, dos copa ou ramagem das árvores, ponto de
animais, das plantas, do meio ambiente. vista diferente do normal à dimensão
Biotecnologia – aplicação de processos humana (de baixo para cima). São cons-
biológicos à produção de materiais e truídas em estruturas pênseis, de um ou
substâncias para o uso industrial, medi- mais lances, apoiados em torres e/ou
cinal, farmacêutico, etc. São exemplos – plataformas suspensas. As torres de
a fermentação, a produção de antibióti- copada (do inglês canopy towers), são
cos como a penicilina, obtenção de construídas ao lado ou no entorno de
insulina e métodos de controle biológico. “árvores-tema”, que devem ser escolhi-
Biótico – Componente vivo do meio ambi- das dentre espécies que se destaquem
ente, como os animais, as plantas e os pela altura, forma ou dimensão do tron-
micro-organismos. co e permitir uma interpretação vertical.
Boarding-Pass – Cartão de embarque con- Torres de copada podem fazer parte de
tendo os principais dados da passagem passarelas de copada (início/inter-
(destino, nome do passageiro, poltrona e mediário/fim). As torres são complemen-
os números do vôo). tos e alternativas de menor investimento
Braztoa – Associação Brasileira das que passarelas.
Operadoras de Turismo. Canteiro – espaço externo no entorno de
Bridge – Ponte; no caso dos navios, Ponte de uma construção.
Comando. Carry on – Bagagem de mão que os pas-
Budget – Termo que, quando associado a sageiros podem levar consigo, sem a
um hotel, designa um tipo de empreen- necessidade de despachar
426
GLOSSÁRIO

Casa de vegetação – refere-se a uma estru- (HNO3), óxidos de enxofre e ácido


tura com paredes, um teto e um piso, sulfúrico (H2SO4). A chuva ácida pode
projetada e usada, principalmente, para prejudicar a reprodução dos animais
o crescimento de plantas em ambiente aquáticos, causar danos às plantações,
controlado e protegido. As paredes e o construções e automóveis, entre tantos
teto são geralmente construídos de outros efeitos nocivos.
material transparente ou translúcido para Ciclo de nutriente – Rota do nutriente atra-
permitir passagem de luz solar. vés do ecossistema, desde sua assimi-
CDW (Collision Damage Waiver) – Termos lação pelos organismos até sua liberação
utilizado em locação de veículo, é o por decomposição ou evapotranspiração.
seguro do carro contra roubo, furto, coli- Ciclo hidrológico – Movimento da água
são ou incêndio, sem pagamento franquia. através do ecossistema. O ciclo depende
Cenários de risco – método para identificar da capacidade da água de estar presente
e classificar os riscos através da apli- nas formas líquidas e gasosa. O ciclo tem
cação criativa de eventos prováveis e quatro fases – evaporação, condensação,
suas consequencias. É usado tipicamente precipitação e deflúvio.
com técnicas de brainstorming ou outra, City tour – Passeio turístico pelos principais
que estimulem “o que pode acontecer”. pontos de uma cidade.
Charter – Vôo fretado, geralmente mais Clinômetro – instrumento usado para medir
barato que o regular, com saída única a declividade de terrenos.
(mesmo que dentro de uma série), e Clorofluorcarbonos/CFCs – Gases inertes
datas pré-determinadas. fabricados para uso em sistemas de ar
CHD – Abreviatura de children (criança). Há condicionado e refrigeração e como sol-
variações, mas normalmente é para pas- ventes industriais. Quando liberados, os
sageiros com idade de 2 a 11 anos. CFCs migram à atmosfera superior, onde
Check-In – Procedimento de embarque rea- destroem a camada de ozônio que pro-
lizado no aeroporto junto ao balcão da tege a Terra.
companhia aérea; ou procedimento de Code Share – Código compartilhado; acon-
entrada em hotel. tece principalmente quando duas com-
Check-Out – Procedimento de saída em panhias aéreas utilizam o mesmo avião
hotel. em determinada rota.
Chorume – líquido poluente resultante da Código de ética para o ecoturismo – con-
decomposição de resíduos sólidos dis- junto de diretrizes que orientam as ativi-
postos em aterros sanitários e lixões, que dades e serviços, de modo que os princí-
podem provocar a contaminação do pios do ecoturismo sejam respeitados.
lençol freático ou das águas superficiais Embora não haja obrigatoriedade de sua
de rios do entorno. adoção, selos verdes estão sendo criados
Chuva ácida – Precipitação (chuva) com PH para valorizar produtos ecoturísticos que
inferior ao normal. Precipitação ácida adotem estas diretrizes.
seria, de fato, o termo mais preciso pois Coffee Break – Lanche rápido oferecido no
a neve, o granizo e a mistura de chuva intervalo dos eventos.
com neve também podem ser ácidos. A Coliforme fecal – Tipo de bactéria normal-
precipitação normal é apenas ligeira- mente presente no intestino grosso dos
mente ácida. Já a ácida é causada por mamíferos. Quando presente na água,
emissões de enxofre e óxidos de no solo, ou nos alimentos, serve como
nitrogênio na queima de combustíveis indicador de contaminação fecal por
fósseis. Os óxidos de nitrogênio reagem animais ou seres humanos. Sua ingestão
na atmosfera, produzindo ácido nítrico pode causar doença e morte.
427
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

Collect call – Ligação telefônica a cobrar. namente” ( ARRUDA, 1997).


Coluna da água – pressão exercida sobre o Comunidade – Conjunto de populações co-
mergulhador, variável de acordo com a ocorrentes e que usualmente interagem
profundidade e características físico- de forma organizada em uma determina-
quimicas da água. da área (biótopo). O mesmo que bio-
Combustíveis fósseis – Principal fonte de cenose.
energia nas sociedades modernas, esses Conciergerie – Departamento responsável
combustíveis, que têm como base o car- pela assistência às pequenas necessi-
bono, são constituídos pelos restos dades dos hóspedes, que necessaria-
orgânicos de organismos fossilizados. O mente não são atendidas pelo hotel. Por
carvão de pedra e o petróleo são os dois exemplo: compra de ingressos para
principais combustíveis fósseis. O gás shows e envio de flores.
natural é uma subcategoria do petróleo, Condutor de Visitantes – chama-se condutor
já que é gerado durante a formação do de visitantes a pessoa residente na
petróleo. região, capacitada para acompanhar o
Complexo turístico – Conjunto de equipa- visitante dentro da mesma e no seu
mentos, serviços e atrativos turísticos entorno, e muitas vezes credenciada
concentrados em uma área, onde os visi- pelo órgão gestor da Unidade de
tantes têm condições de permanecer por Conservação.
vários dias. Embora disponha de uma Conexão – Termo associado principalmente
certa infra-estrutura turística de alimen- aos vôos; designa a necessidade de troca
tação, hospedagem, entretenimento, não de aeronave em um determinado aero-
se constitui em um centro urbano. porto para o prosseguimento da viagem
Compostagem – Processo de tratamento até o destino final. Exemplo: do Rio de
dos resíduos orgânicos capaz de pro- Janeiro para Manaus, com conexão em
duzir adubo orgânico. Brasília.
Comunidade local – pessoas residentes em Consangüinidade – Cruzamento entre pa-
uma região visitada. rentes de sangue. Essa prática favorece o
Comunidade tradicional – grupo de pessoas enfraquecimento das raças.
“...que apresentam um modelo de ocu- Conservação – Sistema flexível ou conjunto
pação do espaço e uso dos recursos na- de diretrizes planejadas para o manejo e
turais voltado principalmente para a sub- utilização sustentada dos recursos natu-
sistência, com fraca articulação com o rais, a um nível ótimo de rendimento e
mercado, baseado em uso intensivo de preservação da diversidade biológica.
mão de obra familiar, tecnologias de Manutenção de áreas naturais preser-
baixo impacto derivadas de conheci- vadas por meio de um conjunto de nor-
mentos patrimoniais e, via de regra, de mas e critérios científicos e legais. Pode
base sustentável. Estas populações – ser classificado também como manejo
caiçaras, ribeirinhos, seringueiros, dos recursos naturais de forma a con-
quilombolas e outras variantes em geral seguir alta qualidade de vida humana
ocupam a região há muito tempo, não sustentada.
têm registro legal de propriedade privada Contabilidade ambiental – Valoração dos
individual da terra, definindo apenas o recursos naturais, seus bens e serviços,
local de moradia como parcela indivi- geralmente inserida nos balanços sociais
dual, sendo o restante do território enca- das empresas, utilizado como referência
rado como área de uso comunitário, na tomada de decisões em novos e atu-
com seu uso regulamentado pelo cos- ais investimentos. O Balanço Social é
tume e por normas compartilhadas inter- um instrumento que demonstra mone-
428
GLOSSÁRIO

tariamente os investimentos e aplicações Civil, órgão federal responsável pela fis-


das empresas nas áreas social e ambien- calização e normatização da avião co-
tal, atualmente uma tendência crescente mercial e executiva do País.
no meio empresarial. Day use – Utilização durante o dia. Termo
Contaminante – Qualquer substância pre- utilizado principalmente para hotelaria,
sente num ambiente ao qual não referindo-se à utilização de um
pertença, que cause problemas estéticos quarto/apartamento apenas durante o dia
e de risco à saúde. Em geral, divide-se e não para passar a noite. É comum em
entre contaminantes físicos e químicos. escalas entre vôos cujo o intervalo é de
Controle biológico – introdução de organis- muitas horas. Também usado em sítios e
mos em uma região na qual estes nor- atrativos, quando não há hospedagem,
malmente não existiam, com o objetivo apenas atrações para usufruir em um dia.
de erradicar ou suprimir um determina- DBL – abreviação de Double ou Quarto
do grupo alvo de espécies. Duplo.
Convention bureau – Autarquias respon- Deck – Termos utilizado basicamente para
sáveis pelo fornecimento de informações navios, referindo-se aos andares. É
turísticas aos visitantes; também atuam comum também a utilização do termo
na captação de eventos que são organi- "ponte".
zados nas cidades. Declividade – inclinação de terrenos.
Conversão de dívida – Acordo financeiro Deflúvio – Escoamento superficial da água.
pelo qual uma determinada parte da Aproximadamente um sexto da precipi-
dívida externa de um país é perdoada se tação numa determinada área escoa
o país concordar em preservar suas áreas como deflúvio. O restante evapora ou
naturais. Em geral, essas conversões são penetra no solo. Os deflúvios agrícolas e
efetuadas em associação com um grupo das estradas podem ser uma importante
independente, como uma organização fonte de poluição de água.
ambientalista. Degradação ambiental – Destruição do
Corredor de fauna – Área que permite o ambiente natural ou artificial, causando
trânsito de animais silvestres entre blo- o desaparecimento das características
cos de florestas. originais de um determinado local.
Corte raso – Derrubada total da vegetação, Departure – Origem, embarque.
desmatamento. Desenvolvimento sustentável – Teoria segun-
CRS – Do inglês "Computerized Reserv - do a qual o bem estar da humanidade
ations System" (sistema computadoriza- depende da conservação dos recursos
do de reserva). Utilizado principalmente naturais. Em outras palavras, o desen-
pelas agências de viagens e sites de tur- volvimento sustentado permite o progres-
ismo, permite consultar e fazer reservas so para atender às necessidades do pre-
em companhias aéreas do mundo todo, sente, mas sem comprometer a capaci-
além de hotéis pertencentes a grandes dade das futuras gerações de atender às
redes e locadoras de veículos. Foram cri- suas próprias necessidades.
ados para automatizar o processo de Desertificação – Processo de tra n s f o r-
emissão manual de bilhetes aéreos. Os mação de terras não-desérticas em
maiores CRS do mundo são, em ordem deserto, como resultado, em geral, de
alfabética, Amadeus, Galileo, Sabre a pastagem excessiva, exaustão da
Worldspan. Veja também GDS. matéria orgânica, uso excessivo das
Cruise line – Companhia de cruzeiro maríti- águas subterrâneas, mudança nos
mo. padrões de precipitação etc.
DAC – Sigla de Departamento de Aviação Design – desenho.
429
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

Desmatamento – Perda de florestas como incluem os fatores de equilíbrio biológi-


resultado de atividades madeireiras, co, geológico, meteorológico e atmos-
agropecuárias, de mineração, ou de cons- férico. Um lago é um bom exemplo de
trução de estradas. O desmatamento um ecossistema que compreende orga-
pode causar erosão do solo, processos nismos e componentes que interagem
de assoreamento e perda de biodiversi- dentro de uma unidade definida. As
dade e de habitats essenciais. funções do ecossistema compreendem
Destino ou Destinação turística – localiza- as transferências de energia, ciclagem de
ção de um grupo de atrações, instalações nutrientes e manutenção da estrutura
e serviços turísticos relacionados que um físico–biológica. Qualquer ecossistema,
turista ou grupo de turistas decide visitar seja ele degradado, parcialmente
ou que os fornecedores decidem pro- degradado ou intacto, mostra transferên-
mover. cia de energia e ciclagem de nutrientes,
Diária – Utilizado principalmente para desi- mas o "bom funcionamento" de um "sis-
gnar um período pelo qual está sendo tema intacto" implica que essas funções
feita a reserva ou pagamento. Há varia- estejam dentro das taxas normais.
ções: em muitos hotéis, por exemplo, as Ecotécnicas – técnicas que minimizam os
diárias começam e terminam ao meio impactos ambientais negativos, tanto no
dia; em outros às 14 horas. processo de elaboração/construção,
Diversidade genética (biodiversidade) – re- como durante sua operação.
lativo a área com grande número de es- Educação ambiental – dimensão dada ao
pécies diferentes. conteúdo e à prática da educação, ori-
Early check-in – Entrada no hotel antes do entada para a resolução dos problemas
horário normal ou programado. concretos do meio ambiente por meio de
enfoques interdisciplinares e de uma
Earthwatch – Organização que intermedia
participação ativa e responsável de cada
trabalho de voluntários para projetos de
indivíduo e da coletividade. Se caracte-
pesquisa. O projeto de pesquisa estrutu-
riza por incorporar as dimensões sócio-
ra um trabalho de campo que pode ser
econômica, política, cultural e histórica.
feito sem muito preparo e dá hospeda-
Deve permitir a compreensão da
gem e alimentação para o voluntário,
natureza complexa do meio ambiente e
enquanto o esse além de contribuir com
interpretar a interdependência entre os
trabalho e com recursos financeiros para
diversos elementos que conformam o
pesquisa, também paga seus custos de ambiente, com vistas a utilizar racional-
alimentação, hospedagem e transporte. É mente os recursos do meio na satisfação
uma forma de ecoturismo. material e espiritual da sociedade no
Ecolodge (Ecopousada) – alojamento cujo presente e no futuro.
desenho arquitetônico está integrado ao Efeito estufa – Processo pelo qual determi-
entorno natural e cultural; sua cons- nados gases, principalmente o dióxido
trução é idealizada e realizada levando- de carbono e o vapor d’água, retêm parte
se em consideração a minimização dos do calor do sol e refletem-no para a
impactos negativos ao meio. (PELLEGRI- Terra. Os gases deixam passar a energia
NI, 2000). do sol de onda curta, mas absorvem a
Ecologia – Ciência que estuda as relações energia de onda mais longa impedindo,
dos seres vivos entre si e com ambiente. portanto, que o calor do sol seja refletido
Ecossistema – conjunto dos relacionamen- para o espaço. Sem esse processo natu-
tos mútuos entre determinado meio ral, a Terra seria consideravelmente mais
ambiente e a flora, a fauna e os micror- fria do que é e não poderia sustentar a
ganismos que nele habitam, e que vida. Muitos cientistas estão preocupa-
430
GLOSSÁRIO

dos com o aumento, nos últimos anos, cultura, excesso de pastagem, atividade
das concentrações atmosféricas dos ga- madeireira e construção de estradas.
ses que provocam o efeito estufa, pois Escala – Termo utilizado principalmente em
receiam que as temperaturas médias da relação aos vôos; parada em um deter-
terra aumentem como resultado desse minado aeroporto, sem necessidade de
fenômeno. A maioria dos pesquisadores troca de avião, antes da chegada ao des-
concorda que está ocorrendo um aque- tino final. Exemplo: de São Paulo para
cimento global, embora haja incerteza Fortaleza, com escala em Salvador.
quanto à taxa de aquecimento e sua Esgoto – Resíduos líquidos, incluindo deje-
magnitude. Entre os “gases do efeito es- tos humanos e águas servidas.
tufa”, além do CO2, estão o metano, o Especiação – processo evolutivo pelo qual
óxido nitroso e os CFCs. surge uma nova espécie; mecanismo
Efluente – Qualquer resíduo despejado no pelo qual uma espécie da origem a
meio ambiente. Nem todos os efluentes outra.
causam poluição, mas toda poluição é Espécie – A unidade da classificação ta-
proveniente de efluentes. xonômica para as plantas e os animais;
Embratur – Instituto Brasileiro de Turismo, uma população de indivíduos similares
órgão federal vinculado ao Ministério do nas suas características estruturais e fun-
Turismo. cionais.
Endêmica – é a qualidade daquelas espécies Estuário – Foz de um rio ou baía, onde se
da flora e da fauna cuja origem e ocor- misturam a água doce do rio e a água
rência são restritas a determinada região. salgada do mar.
Um bom exemplo é o mico-leão-doura- Estudos ambientais – todos e quaisquer estu-
do, espécie endêmica da Mata Atlântica dos relativos aos aspectos ambientais,
de Baixada Costeira do Estado do Rio de relacionados à localização, instalação,
Janeiro. operação e ampliação de uma atividade
Equilíbrio ecológico – Equilíbrio de relações ou empreendimento apresentados como
entre seres vivos e o meio ambiente subsídio para a análise da licença (ambi-
(solos, rochas, corpos d'água e fatores ental) requerida
climáticos) de uma região. E-ticket – Abreviatura de "eletronic ticket".
Equipamentos e serviços de apoio – insta- Dispositivo que começa a ser utilizado
lações e serviços que existem para aten- pelas empresas aéreas em substituição à
der necessidades da comunidade, mas passagem aérea emitida em papel. O
que são de muita utilidade para o turis- viajante informa um código recebido
mo, tais como hospitais, clínicas, auto previamente, apresenta uma identifi-
mecânicas, agências bancárias, locais de cação e recebe o cartão de embarque.
entretenimento (Barreto, 1995). Eutrofização – Processo pelo qual um corpo
Equipamentos turísticos – incluem todos os de água adquire uma alta concentração
estabelecimentos administrados pelo de nutrientes, especialmente fosfatos e
setor público ou privado que se dedicam nitratos, que geralmente promovem o
a prestar serviços básicos para o turismo, crescimentos excessivos de algas. À
como meios de hospedagem, meios de medida que as algas morrem e se
transporte, restaurantes e similares, decompõem, altos níveis de matéria
locais de entretenimento, agências de orgânica e organismos em decom-
viagens etc. posição esgotam o oxigênio disponível
Erosão – Desgaste do solo devido ao vento, na água, provocando a morte de outros
às chuvas ou a outras forças da natureza. organismos, como os peixes. A eutrofiza-
A erosão pode ser acelerada pela agri- ção é um processo natural, de envelhe-
431
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

cimento lento, para o corpo de água, Ferry boat – Meio de transporte aquático,
mas a atividade humana acelera muito o para pessoas acompanhadas ou não por
processo. carros.
Evapotranspiração – Quantidade de água Fertilidade – Qualidade de fértil. Terra rica
liberada do solo e de corpos d’água em minerais e outras características
(evaporação) e também a proveniente de necessárias à boa produção.
organismos vivos (transpiração). Ou seja, FFair – Tarifa Fitness center - Termo normal-
todo o vapor d’água naturalmente libera- mente associado a hotéis; local onde
do num determinado local, por meio de ficam a sauna, sala ginástica, sala de
processos físicos e biológicos. massagem, piscina e embelezamento;
Excursionista – “(...) é toda a pessoa que se chamado também de Health Club.
desloca individualmente ou em grupo Flora – Conjunto de plantas de uma deter-
para local diferente de sua residência minada região.
permanente, por período inferior a 24 Floração das algas – Fenômeno em que o
horas, sem efetuar pernoite.” (Pellegrini, aumento do número de algas, num
2000, p.100). Por outro lado, o termo corpo d’água, interfere em outras formas
excursionista vem sendo considerado, de vida devido, principalmente, ao con-
historicamente no Brasil, como o visi- sumo do O2 dissolvido na água. Esse
tante de áreas naturais, independente do fenômeno pode ser causado pela
número de dias e pernoites. eutrofização. A floração das algas tam-
Exóticos – organismos cujas espécies, culti- bém pode ser denominada “boom de
vares, estirpes, linhagens ou raças, não algas”.
tenham ocorrência relatada no país. Folder – palavra da língua inglesa que se ref-
Explotação – Exploração com fins comerci- ere a um folheto, não periódico, utiliza-
ais, especialmente de recursos naturais. do para fins de divulgação. No caso do
Extração de madeira – Ato de colher seleti- turismo é muito empregado para divul-
vamente árvores. gação de produtos e atrativos turísticos.
Fact sheets – Apostilas com resumos dos Fortait – Roteiro de viagem feito sob medida
fatos básicos e interessantes sobre o Fossa séptica – tanque de sedimentação e di-
ecossistema, suas espécies e sua historia gestão, no qual se deposita o lodo cons-
cultural. São uma apoio para a interpre- tituído pelas matérias insolúveis do despe-
tação e não devem ter mais de 2 páginas. jo doméstico, sofrendo decomposição
Podem conter fotos. pela ação de bactérias anaeróbias.
Famtour – viagem ou visita na qual são con- Free lancer – colaborador independente.
vidadas pessoas do meio turístico e da Fretamento – Veja "charter".
mídia com objetivo de promoção de Full fare – Tarifa cheia, sem a aplicação de
novos produtos turísticos. descontos promocionais.
Fatores Abióticos – Aqueles que caracteri- Fungos – Organismos que se apresentam
zam as propriedades físicas e químicas sob várias formas, como mofo, orelha de
da biosfera. pau, algumas espécies sendo parasitas
Fatores Bióticos – Aqueles produzidos direta de plantas ou animais.
ou indiretamente por um ser vivo. Gate – Portão de embarque.
Fatores de risco – manifestações ou caracterís- GDS – Do inglês "Global Distribution
ticas mensuráveis e observáveis de um System" (sistema global de distribuição).
processo que indica a presença de risco. São uma evolução dos CRS e utilizados
Fauna – Conjunto de animais próprios de principalmente pelas agências de via-
uma região. gens e sites de turismo, permite consultar
432
GLOSSÁRIO

e fazer reservas em companhias aéreas de Turismo reconhecido pela


do mundo todo, além de hotéis perten- EMBRATUR, na classe para a qual estiver
centes a grandes redes e locadoras de solicitando o cadastramento
veículos. Os maiores GDS do mundo (MICT/EMBRATUR, 1993). Conforme a
são, em ordem alfabética, Amadeus, especialidade de sua formação profis-
Galileo, Sabre a Worldspan. sional e das atividades desempenhadas,
Gestão Ambiental – Aplicação de programas comprovadas perante a EMBRATUR, os
de utilização dos ecossistemas, baseada guias de turismo serão cadastrados em
em teorias ecológicas sólidas, de modo uma ou mais das seguintes classes:
que mantenha da melhor forma possível I - guia regional - quando suas atividades
as comunidades vegetais e/ou animais compreenderem a recepção, o traslado,
como fontes úteis de produtos biológicos o acompanhamento, a prestação de
para o homem e, também como fontes informações e assistência a turistas, em
de conhecimento científico e de lazer. A itinerários ou roteiros locais ou intermu-
orientação de tais programas deve garan- nicipais de uma determinada unidade da
tir que os valores intrínsecos das áreas federação, para visita a seus atrativos
naturais não sejam alterados, para o des- turísticos;
frute das gerações futuras. A II - guia de excursão nacional - quando
gestão/manejo correta(o) exige primeiro suas atividades compreenderem o acom-
o conhecimento profundo do ecossis- panhamento e a assistência a grupos de
tema para o qual ele é aplicado. turistas, durante todo o percurso da
Guarda-parque – “Profissional que atua na excursão de âmbito nacional ou realiza-
ponta de ligação entre a sociedade e as da na América do Sul, adotando, em
áreas naturais preservadas. Misto de nome da agência de turismo responsável
guia, autoridade policial, solucionador pelo roteiro, todas as atribuições de
de problemas, educador e colaborador natureza técnica e administrativa
para a gestão de áreas naturais, o guarda- necessárias à fiel execução do programa;
parque tem função de destacada III - guia de excursão internacional -
importância no processo de conciliação quando realizarem as atividades referi-
entre o turismo na natureza e a preser - das no item acima para os demais países
vação do meio ambiente” (SENAC, do mundo;
1995). IV - guia especializado em atrativo turís-
Guia de Turismo – É considerado Guia de tico - quando suas atividades compreen-
Turismo o profissional que, devidamente derem a prestação de informações técni-
cadastrado na EMBRATUR - Instituto co-especializadas, sobre determinado
Brasileiro de Turismo, nos termos da Lei tipo de atrativo natural ou cultural de
nº 8.623, de 28 de janeiro de 1993, interesse turístico, na unidade da federa-
exerça as atividades de acompanhamen- ção para o qual o mesmo se submeteu a
to, orientação e transmissão de infor- formação profissional específica.
mações a pessoas ou grupos, em visitas, Guia local – Monitor ou condutor de visitan-
excursões urbanas, municipais, estadu- tes não credenciado pela EMBRATUR.
ais, interestaduais, internacionais ou Habitat – Lugar onde um animal ou planta
especializadas. O cadastramento e a vive ou se desenvolve normalmente,
classificação do Guia de Turismo em geralmente diferenciado por característi-
uma ou mais das classes previstas acima cas físicas ou por plantas dominantes. São
estará condicionada à comprovação de habitats os desertos, os lagos e as florestas.
vários requisitos, entre eles ter concluído Health Club – Similar a fitness center, indi-
Curso de Formação Profissional de Guia ca uma área, normalmente em hotéis,
433
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

que oferece serviços como massagem, no Brasil, entidade que reúne as empre-
sauna, relaxamento, ginástica e condi- sas estrangeiras com operações ou
cionamento físico. escritórios no país.
Hipótese Gaia – Teoria de que a Terra e sua King size bed – Cama de casal maior que o
atmosfera funcionam como um organis- normal, normalmente com 2m x 2m.
mo auto-regulador. A hipótese utiliza o Late check-out – Saída do quarto/aparta-
nome da deusa grega da terra. Alguns mento após o horário normal ou progra-
acreditam que esta teoria aponta para a mado. Normalmente os hotéis dão uma
fragilidade essencial da Terra e os perigos tolerância de até duas horas.
dos distúrbios causados pelo homem no
LDW (Loss Damage Waiver) – Ou Seguro
meio ambiente. Outros proponentes da
Total sem Franquia, para o caso de
Hipótese Gaia enfatizam a interde-
locação de veículo.
pendência do homem com os solos, os
oceanos, as florestas, a biomassa etc. Leasing – Sistema comum principalmente
Um terceiro grupo argumenta que, por na França, pelo qual o passageiro torna-
ser a Terra um organismo auto-regulador, se dono de um carro zero quilômetro por
ela poderá adaptar-se às mudanças cau- períodos que podem variar de 17 dias a
sadas pelo homem. seis meses. Depois desse tempo o carro é
"recomprado" pela empresa, que não faz
Impacto Ambiental – Toda ação ou ativi-
mais o leasing do mesmo.
dade, natural ou antrópica, que produz
alterações bruscas em todo o meio ambi- Lei 6938/81 (na forma da lei) – 1) com-
ente ou apenas em alguns de seus com- petência de órgãos de licenciamento
ponentes. De acordo com o tipo de alte- ambiental ( do SISNAMA) de conceder
ração, pode ser ecológico, social e/ou Licença Ambiental e de exigir EIA/RIMA;
econômico. 2) competência do Conama de regula-
mentar o licenciamento ambiental e
INF – Abreviação de "infantil", normalmente
EIA/RIMA.
associada a criança de 0 a 1 ano.
Lençol freático (lençol de água subterrâneo)
Infra-estrutura básica – são os elementos
– Parte da água que cai no solo, decor-
essenciais à qualidade de vida das
rente das chuvas, infiltrando-se na terra
comunidades e que beneficiam comple-
até o ponto em que alcança a camada de
mentarmente os turistas ou os
rocha impermeável, formando assim os
empreendimentos turísticos. Elementos
lençóis d'água.
que, embora não sejam implantados
para beneficiar exclusivamente os turis- Life boat – Bote/barco salva-vidas.
tas, podem contribuir para a qualidade Lift – Termo normalmente associado às
do produto turístico (vias de acesso, estações de esqui, designa os "meios de
saneamento básico, rede de energia elevação" que levam os esquiadores até
elétrica, comunicações, iluminação os pontos de onde descem as pistas.
pública, etc.). Liquidez – em contabilidade, o termo indica
Inimigos naturais – Espécies que se alimen- a facilidade de uma empresa em pagar
tam de outras na natureza. suas obrigações.
Insetívoros – Animais que se alimentam de LIS (Liability Insurance Supplement) – Termo
insetos. utilizado em locação de veículos no
Jet lag – Mal-estar causada pela mudança de exterior, que significa Suplemento ao
fuso horário; acontece normalmente seguro de responsabilidade.
após vôos de longa duração. Lista de espera – Relação com nomes de
Jurcaib – Sigla de Junta de Representantes passageiros que desejam embarcar em
das Companhias Aéreas Internacionais um vôo que já está com todos os lugares
434
GLOSSÁRIO

reservados. Havendo alguma desistência altos nos peixes e crustáceos. A


ou não comparecimento, são convoca- exposição prolongada ao mercúrio, por
dos os nomes da lista. inalação ou por ingestão, pode preju-
Lixiviados– refere-se ao processo de dicar o sistema nervoso central.
lavagem dos solos em consequência do Metais pesados – Metais com números atômi-
escoamento superficial da água sobre o cos de médios a altos, como o cobre, o
mesmo. Solos lixiviados são aqueles que cádmio, a prata, o arsênico, o cromo e o
perderam seus nutrientes por meio do mercúrio, e que são tóxicos em concen-
processo de lixiviação. trações relativamente baixas. Persistem no
Localizador – Termo comum na aviação ambiente e podem se acumular em níveis
comercial, é um código que identifica que interrompem o crescimento das plan-
uma reserva. tas e interferem na vida animal. Os detri-
Lounge – Salão, sala de estar dos hotéis ou tos de atividades mineradoras e industriais
sala vip no caso de aeroportos. e o lodo de esgoto são fontes de concen-
tração de metais pesados potencialmente
Lucro contábil– o lucro apurado segundo a prejudiciais.
legislação vigente.
Microorganismos – São os conhecidos
Manejo florestal – Modo de exploração da micróbios. Animais e vegetais de tama-
floresta observando-se os critérios técni- nho microscópico que vivem em toda
cos e legais que visam assegurar a sus- natureza, no ar, na água, em outros seres
tentabilidade da atividade e a conser- vivos e no solo.
vação da diversidade biológica e dos
Milhagem – Também conhecido como
ecossistemas.
Plano de Milhagem, é uma premiação
Maquete – modelo construído em três que as companhias oferecem em troca
dimensões de prédios, áreas naturais, etc. da fidelidade dos passageiros. Exemplo:
Meia pensão – Sistema de hospedagem com ao comprar uma passagem São Paulo-
café da manhã e mais uma refeição Manaus o passageiro pode ganhar 10 mil
(almoço ou jantar). milhas. Ao juntar 20 mil pode trocá-las
Meio Ambiente – Conjunto de todas as por uma passagem aérea. A utilização
condições, leis e influências externas cir- das milhas, contudo, deve ser solicitada
cundantes, de ordem física, química e com antecedência, pois é sujeita à
biológica, que interagem com um orga- disponibilidade de lugar.
nismo, população ou uma comunidade. Missão – finalidade pela qual se cria deter-
Merchandising – a venda de produtos com minado projeto ou instituição.
logomarca. O objetivo é que o uso da MMAP – Sigla que indica "meia pensão" .
logomarca estimula a venda destes pro- Modificação genética – tecnologia usada
dutos e assim resultando em retorno para alterar material genético de células
financeiro para o proprietário da logo- vivas ou organismos, a fim de que o
marca. mesmo seja capaz de produzir novas
Mercúrio – Elemento metálico líquido, substâncias ou realizar novas funções.
venenoso, pesado. O mercúrio é um sol- Monitor ambiental – pessoa não credencia-
vente para a maioria dos metais, pro- da pela EMBRATUR responsável pela
duzindo amálgamas. É usado em ter- condução de um turista ou grupo de tu-
mômetros, barômetros, comutadores de ristas em ambientes naturais, geralmente
luz, tintas e baterias. Uma vez no ambi- capacitado para tal. Quando residente
ente, o mercúrio persiste e se concentra no local visitado, pode ser chamado de
na medida em que sobre na escala ali- monitor local, condutor de visitantes ou
mentar atingindo níveis especialmente popularmente de guia local.
435
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

Monocultura – Cultura de uma só espécie e roteiros de ecoturismo (ver Agência de


em larga escala, ocupando grandes áreas Viagens e Turismo).
de terra. Operator – termo em inglês para operadora.
NET price – ë o preço de um produto turís- Organismo – toda entidade biológica capaz
tico menos a comissão do operador e/ou de reproduzir e/ou transferir material
agência. genético, incluindo vírus, príons e outras
Nicho – Papel funcional de uma espécie (em classes que venham a ser conhecidas.
uma comunidade ou em um habitat) que Ornitólogo – especialista em aves, pássaros.
fornece as condições necessárias a um Outlet – Loja de fábrica ou conjunto de lojas
determinado organismo. que vendem diretamente do fabricante
Nidificar – fazer ninho. para o consumidor; podem ser chamadas
No Show – Não comparecimento de um também de outlet mall ou factory outlet.
passageiro ao embarque ou a não entra- Overbooking – Acontece quando a empresa
da do hóspede. aérea vende mais assentos que o número
Nobreak – Equipamento utilizado para estabi- total do avião; ou quando o hotel reserva
lizar a corrente elétrica e fornecer, por um um número maior de apartamentos do
curto período de tempo, energia (tem que o disponível.
baterias ou conexão para baterias exter- Overhead – custos indiretos.
nas). Muito utilizado como suporte para
Ozônio – Gás azulado, constituído por três
equipamentos de informática, evitando
átomos de oxigênio (O3). Na terra, o
danos aos equipamentos e perda de tra-
ozônio é formado pela reação do
balho por queda súbita da energia elétrica.
oxigênio com os poluentes do ar urbano,
Non Stop – Vôo sem escalas. quando expostos à luz solar. Na estratos-
Oferta turística – Conjunto de elementos fera, o ozônio é criado quando as
composto por atrativos turísticos, moléculas de oxigênio são divididas pela
serviços turísticos, serviços públicos e luz solar.
infra-estrutura. Pacote turístico – Roteiro de viagem prede-
OGM – organismos geneticamente modifi- terminado pela operadora de viagem,
cado. que inclui os meios de transporte,
On time – No horário. hospedagem, alimentação, passeios,
ONG – Abreviatura de organização não- traslados etc. Os pacotes podem ser
governamental. Organizações volun- coletivos (excursão) ou individuais (for -
tárias, sem fins lucrativos, não afiliadas a fait).” (Pellegrini, 2000, p.190).
nenhuma organização do governo. PAI (Personal Accident Insurance) – Ou
OP – Autorização para emissão de pas- Seguro Pessoal, cobre as despesas médi-
sagem em outro local, normalmente nos cas dos ocupantes do carro alugado em
aeroportos. É utilizado principalmente caso de acidente.
em viagens de última hora. Paisagem – aspecto visível e perceptível do
Open voucher – Documento que garante a espaço. É classificada como natural, cul-
prestação de um serviço que ainda não tural e urbana.
tem data definida. Passivo – em contabilidade, indica a parte
Operadora – Empresa responsável pela do balanço que mostra os recursos finan-
montagem dos pacotes turísticos (ver ceiros de uma empresa. Também pode
Agência de Viagens e Turismo). ser visto como as obrigações que a
Operadora de ecoturismo – Termo popular- empresa tem perante terceiros e
mente atribuído às agências de viagens e acionistas. Por exemplo: empréstimos, o
turismo responsáveis pela operação de capital dos acionistas.
436
GLOSSÁRIO

Patrimônio cultural – os bens de natureza ecoturísticos de uma mesma região,


material e imaterial, tombados indivi- planejados e divulgados de maneira
dualmente ou em conjunto, portadores integrada. Possui um núcleo receptor
de referência à identidade, à ação, à dotado de maior infra-estrutura turística
memória dos diferentes grupos da do que as regiões adjacentes.
sociedade nos quais se incluem: os con- Poluição – a degradação da qualidade
juntos urbanos e sítios de valor histórico, ambiental resultante de atividades que
paisagístico arqueológico, paleontológi- direta ou indiretamente: a) prejudiquem
co e científico. a saúde, a segurança e o bem estar da
Patrimônio natural – Considera-se patri- população, b) criem condições adversas
mônio natural o conjunto de monumen- às atividades sociais e econômicas, c)
tos naturais (formações físicas ou bioló- afetem desfavoravelmente a biota, d)
gicas), acidentes geológicos, hábitats de afetem as condições estéticas ou sani-
espécies ameaçadas de extinção, desde tárias do meio ambiente, e)lancem
que apresentem valor científico e/ou matérias ou energia em desacordo com
estético excepcional (Pellegrini, 2000). os padrões ambientais estabelecidos.
Pax – pessoa. No mundo do turismo, é uma Poluição de fonte não-pontual – Poluição de
abreviação de passageiro (turista). fontes difusas, como o deflúvio, a
Payback – prazo de retorno de um investi- deposição aérea ou a agricultura.
mento. Poluição de fonte pontual – Qualquer
Pensão completa – Sistema de hospedagem poluição derivada de uma fonte fixa,
que inclui todas as refeições. como um cano ou uma chaminé. Em
Perdas biológicas significativas – são aque- geral, refere-se à poluição da água.
las perdas que comprometem os proces- Poluição do ar – Introdução de contami-
sos ecológicos. nantes no ar. Os poluentes do ar divi-
Perenes – Culturas de ciclo longo que per- dem-se em quatro categorias principais –
manecem por vários anos em formação e aerossóis (gotículas de líquido suficiente-
ou produção. mente pequenas para estarem em sus-
pensão no ar), partículas (cinzas, poeira
Pesticida – Produto químico utilizado para e outros pequenos pedaços de matéria
matar pragas, especialmente insetos e sólida flutuando no ar), radiação e gases.
roedores. Esta categoria inclui insetici- Os quatro principais tipos de gases po-
das, herbicidas, fungicidas e raticidas. luentes são o monóxido de carbono
PH – Medida da condição ácida ou alcalina (CO), os óxidos de nitrogênio, os óxidos
de uma solução química. O PH varia de enxofre e os compostos orgânicos
numa escala de 0 a 14, sendo 0 a voláteis.
condição mais ácida e 14, a mais alcali- Poluição térmica – Aumento prejudicial na
na. Uma solução com PH de 7,0 é neu- temperatura da água decorrente, com
tra. O PH indica quantos átomos de freqüência, da liberação de água aqueci-
hidrogênio há num líquido. da utilizada no arrefecimento das usinas
Plasmo – o desenvolvimento da argamassa geradoras de eletricidade. A poluição
armada ou ferrocimento. térmica é danosa, em especial, para a
Plasto – argamassa armada com tela plástica vida aquática.
tipo rede. Ponto a Ponto – Tarifa promocional para o
PNR – Do inglês "Passanger Number exterior, em que as datas são previa-
Reservation"; trata-se do resumo de uma mente marcadas e o tempo de per-
reserva de passagem aérea. manência é limitado e estipulado
Pólo ecoturístico – conjunto de destinos População local – ver comunidade local.
437
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

População tradicional – ver comunidade uma empresa, tais como seus pro-
tradicional. prietários, empregados, fornecedores,
comunidade local, as instituições públi-
População – Conjunto de indivíduos de uma
cas responsáveis pela legislação (BEN-
espécie que ocupa uma determinada
NETT & FREIERMAN, 1994).
área.
Receptivo – Serviços prestados aos viajantes
Porosididade – Espaço entre partículas de no local de destino. Normalmente as
solo que permite a passagem de ar e empresas contratam os serviços de
água. receptivo onde não têm filiais.
Pousada – estabelecimento localizado em Reciclagem – Reutilização dos recursos,
pontos de atrativos turísticos que ofereça especialmente os não-renováveis, por
alojamento de conveniência para o hós- meio de recuperação de detritos, recon-
pede que se caracterize pela hospitali- centração e reprocessamento para uso
dade e ambientação simples, dos resíduos sólidos orgânicos e
aconchegante e integrada à região inorgânicos.
(EMBRATUR, 1998).
Recursos ambientais – a atmosfera, as águas
Pré-moldado – componentes pré-fabricados interiores, superficiais e subterrâneas, os
de concreto utilizados em construção. estuários, o mar territorial, o solo, o sub-
Preservação – Ações que garantem a solo, os elementos da biosfera, a fauna e
manutenção rigorosa das características a flora.
próprias de um ambiente e as interações Recursos culturais – formados por diferentes
entre os seus componentes. manifestações próprias de um modelo
Private fair – Tarifa privativa, normalmente cultural: formas de vida, tradições,
disponível apenas para grandes empresas. culinária, folclore, manifestações técni-
cas, artísticas e culturais contem-
Processos ecológicos – são processos de
porâneas, festas e celebrações, etc.
interação entre elementos do ecossistema,
(Machín citada por Pellegrini Filho, 2000)
fundamentais na manutenção da quali-
dade e do funcionamento desse ecossis- Recursos turísticos naturais – recursos dis-
tema, por exemplo, o ciclo de nutrientes, tribuídos no espaço geográfico e que
cadeia alimentar, polinização etc. constituem aquilo que se convencionou
chamar de paisagem, identificados ou
PTA – Pre Pay Ticket Advice, termo para de -
qualificados como de valor e/ou de inte-
signar que o pagamento do bilhete será
resse para uso turístico. (Pellegrini Filho,
realizado em um lugar e a emissão será
2000, p.231)
feita em outro, normalmente em um
aeroporto da mesma cidade ou mesmo Reflorestamento – Replantio de florestas
de outra. O passageiro deverá apresentar devastadas ou de áreas devolutas.
o RG ou passaporte para a retirada. Relações Interespecíficas – Relações entre
espécies que vivem numa comunidade;
Qualidade em serviços – geralmente a satis-
efeito que indivíduos de uma espécie
fação do cliente é apontada como aspec-
pode exercer sobre indivíduos de outra
to fundamental para afirmar-se que um
espécie.
serviço prestado tem qualidade. No caso
de qualidade ambiental, as teorias sobre Relações Intraespecíficas – Relações entre
TQEM - Total Quality Environmental indivíduos, populações ou subespécies
Management consideram não apenas a da mesma espécie.
satisfação do cliente (consumidor) mas Rent – Aluguel; no caso de veículos, rent-a-
também a satisfação de outros atores car/aluguel de carros.
envolvidos na prestação de serviços de Resíduo perigoso – Resíduo líquido ou sóli-
438
GLOSSÁRIO

do que ameaça a segurança ou a saúde Sedimentação – Acúmulo de solo e/ou


da população e/ou do meio ambiente. partículas minerais no leito de um corpo
Resíduos biológicos perigosos – Material d’água. Em geral, esse acúmulo é causa-
humano ou animal que pode transmitir do pela erosão de solos próximos ou
substâncias prejudiciais ao meio ambi- pelo movimento vagaroso de um corpo
ente. Incluem fezes, secreções, hemode- d’água como ocorre quando um rio é
rivados (vindos do sangue), ataduras e represado para formar um reservatório.
outros materiais. Os hospitais produzem Serviços turísticos – elementos fundamen-
grande quantidade de resíduos biológi- tais que possibilitam a permanência do
cos perigosos. turista na localidade visitada e o desfrute
Resort – meio de hospedagem “...localiza - dos atrativos turísticos. Esses serviços
do em área de conservação ou em equi - podem ser meios de hospedagem, ali-
líbrio ambiental, sua construção deve ser mentação, agenciamento turístico, trans-
antecedida de Estudo de Impacto portes turísticos, locação de veículos e
Ambiental (EIA) e de planejamento e uso embarcações, espaço para eventos etc.
do solo, sempre tendo em vista a conser - Sightseeing – Visita aos pontos turísticos da
vação ambiental. Deve ter condições de cidade.
se classificar nas categorias “luxo” e Silvicultura – Cultivo de certos tipos de
“luxo superior” e possuir, ainda, áreas árvores para fins comerciais, como lenha
não edificadas, infra-estrutura de ou fabricação de papel.
entretenimento e lazer significativa -
Sindetur – Sindicato das Empresas de
mente superiores às dos empreendimen -
Turismo, uma das entidades mais antigas
tos similares não classificados nessa ca -
do setor; tem diversos capítulos estaduais.
tegoria” (EMBRATUR 1998).
Single Supplement – suplemento adicional
Revolução Verde – Pacote tecnológico
ao preço para turista que não divide o
desenvolvido por cientistas americanos.
quarto.
Incluiu o uso de sementes melhoradas e
uso intensivo de insumos (adubos, Site – Do inglês, significando local. É muito
agrotóxicos etc). utilizada na Internet, significando o local
onde se localiza uma Home Page (pági-
Risco (risk) – é uma medida de incertezas.
na eletrônica) de uma determinada pes-
Nos processos comerciais , a incerteza
soa ou organização.
trata de obter objetivos organizacionais.
Pode consistir em consequencias positi- SLI (Supplemented Liability Insurance) –
vas ou negativas apesar de que na maior Veja Ali e LIS.
parte das vezes os riscos positivos de Slide – é o produto final de um processo
chamam oportunidades e os riscos nega- fotográfico de imagem positiva, projeta-
tivos são nada mais que riscos. da através de uma fonte de luz contra
Salinização – Degradação de terras férteis uma superfície lisa e branca. A diferença
causadas pelo sal. A salinização das ter- entre slide e foto comum é esta é um
ras agrícolas é comum em áreas que negativo impresso em papel.
dependem de irrigação – a evaporação Snea – Sigla de Sindicato Nacional de
superficial retira sais do solo e das pedras Empresas Aeroviárias, entidade que
no subsolo, sendo que a redução das reúne as empresas aéreas nacionais.
águas subterrâneas aumenta o percentual Snorkel – tubo respirador para mergulho
de minerais e sais na água armazenada. esportivo de superfície.
Scanner – equipamento eletrônico que digi- Software/Hardware – Na informática, as
taliza imagens, facilitando edição e repro- máquinas (computador, monitor etc.) são
dução destas imagens com computador. os Hardwares. Os programas utilizados
439
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

pelos computadores, como os editores Transectos – Trilhas delimitadas para pes-


de texto, são os Softwares. quisa em ambientes naturais.
Spots – mensagens curtas e rápidas transmi- Transfer – Transporte, normalmente do aero-
tidas pela imprensa falada para a divul- porto para o hotel; o mesmo que trasla-
gação de eventos, idéias, etc.. do; comum também na formação "trans -
Stand by – Quando o passageiro/viajante fer in" ou "transfer out", respectivamente
está em situação sujeita a disponibili- transporte de chegada e saída.
dade de lugar. Traslado – O mesmo que "transfer".
Standard (STD) – Categoria de apartamento Traveller's Check – Cheque de viagem que
padrão na hotelaria. pode ser comprado em qualquer casa de
Superávit – sobra. No caso de ONGs sem câmbio do país mediante apresentação
fins lucrativos o lucro geralmente é de passaporte e passagem aérea; tam-
chamado de superávit. bém podem ser comprados em algumas
Surface – Termo associado ao bilhete aéreo. agências bancárias.
É um trecho implícito que é feito por Trip – Viagem.
terra. Exemplo - Vôo São Paulo-Miami, Turismo de massa – caracteriza-se pelo
surface, Orlando-São Paulo. Ou seja, deslocamento de grande número de pes-
não há o trecho aéreo entre Miami e soas para os mesmos lugares nas mesmas
Orlando. épocas do ano, levando consequente-
Terceira idade – segmento de mercado de mente ao superdimensionamento dos
pessoas com mais de 55 anos. equipamentos receptivos para atender
Geralmente já estão aposentados e os fi- aos turistas (RUSCHMANN, 1997).
lhos já são adultos. Uma perna – Apenas um trecho de uma
Tonelagem – Termo utilizado principal- viagem e não uma ida e volta. Exemplo:
mente em relação aos cruzeiros maríti- São Paulo–Rio de Janeiro.
mos. Não significa, contudo, o peso, Unidade de conservação – Espaço ambien-
sendo mais uma medida de espaço. Para tal e seus recursos ambientais incluindo
saber se um navio tem bom espaço inter- as águas jurisdicionais. Possui caracterís-
no, por exemplo, é comum dividir a ticas naturais relevantes e é legalmente
tonelagem pelo número de passageiros. instituído pelo Poder Público com obje-
Se o resultado for superior a 23 o navio é tivos de conservação. Possui limites
considerado como tendo um com definidos e existe sob o regime especial
espaço médio. de administração, ao qual se aplicam
Tour – Muitas vezes utilizado como sinôni- garantias adequadas de proteção.
mo de passeio / roteiro. Upgrade – Transferência de uma classe para
Tour comment – breve questionário de outra superior sem pagamento de taxa
avaliação do roteiro respondido pelo adicional.
ecoturista. Valet Parking – Estacionamento com
Tour conductor – Guia de turismo. manobrista.
Tour guide – Guia turístico (de informações Vip – Do inglês Very Important Person (pes-
turísticas). soa muito importante).
Tour operator – Operadora de Turismo. Visto de entrada – Autorização, concedida
Toxicidade – Capacidade de uma substância ou não, para que um estrangeiro possa
de causar envenenamento ou morte. visitar outro país. Antes de viajar ou de
Trade de ecoturismo – Conjunto de empre- comprar a viagem é fundamental saber
sas ligadas à atividade ecoturística. se o país de destino exige ou não o visto
de brasileiros. Em caso positivo, informe-
440
GLOSSÁRIO

se sobre a documentação necessária e os CNPQ. Glossário de Ecologia. São Paulo:


prazos para a entrega do requerimento. ACIESP, 1987.
Vôo regular – Que faz parte dos serviços CEBALLOS-LASCURÁIN, H. Tourism, eco -
rotineiros de uma empresa aérea, com tourism and protected areas: The state of
partida e chegada independente do nature-based tourism around the world
número de passageiros . and guidelines for its development. IV
Voucher – Ordem de serviço turístico emiti- World Congress on National parks and
do pela agência, operadora ou sua repre- Protected Areas. IUCN, Gland
sentante legal. Normalmente os viajantes Switzerland, and Cambridge, UK. 1996.
levam consigo e devem fazer a contra- EMBRATUR/IBAMA. Diretrizes para uma
apresentação para a prestação do Política Nacional de Ecourismo. Brasília:
serviço. EMBRATUR, 1994.
Workshop – reunião de trabalho EMBRATUR/INMETRO. Regulamento e
Matriz de Classificação dos Meios de
FONTE Hospedagem e Turismo. 1998.
MICT/EMBRATUR. Legislação Brasileira de
Além das fontes abaixo citadas, este
Turismo. Decreto n° 84.934/80.1980.
glossário foi obtido por diferentes consultas
ao mercado de turismo, como a ABIH, ao MICT/EMBRATUR. Legislação Brasileira de
glossário disponível no site do WWF-Brasil, Turismo. Lei n° 8.623/93.1993.
e à técnicos e especialistas em turismo e MILANO, S. M. Unidades de Conservação –
meio ambiente. Parte dele foi desenvolvido Conceitos Básicos e Princípios Gerais de
pelo GEECO – Grupo de Estudos em Planejamento, Manejo e Administração.
Ecoturismo. As fontes principais foram: In: Manejo de Áreas Naturais
Protegidas. Paraná,
ARRUDA, R., “Populações Tradicionais e a UNILIVRE/FBPN/FUNBIO, 1997.
Proteção dos Recursos Naturais em PELLEGRINI, A. Dicionário Enciclopédico
Unidades de Conservação”. In: de Ecologia & Turismo. São Paulo:
Congresso Brasileiro de Unidades de Editora Manole, 2000.
Conservação, Anais vol. 1. Curitiba: IAP, RUSCHMANN, D. M. Turismo e
UNILIVRE, Rede Nacional Pró Unidade Planejamento Sustentável – A Proteção
de Conservação, 1997. do Meio Ambiente. Campinas-SP:
BARRETTO, M. Manual de Iniciação ao Papirus, 1997.
Estudo do Turismo. Campinas, SP, SENAC/CET. Informativo sobre Curso
Papirus, 1995. Técnico de Administração de Unidades
BENNET, S.J., FREIERMAN, R., GEORGE, S. de Conservação e Auxiliar Técnico
Corporate Realities & Environmental Gurada-Parque. 1995.
Truths - Strategies for Leading your TAKAHASHI, L. Y. Limite Aceitável de
Business in the Environmental Era, USA: Câmbio (LAC) – Manejando e
John Wiley & Sons, Inc.,1994. Monitorando Visitantes. In: Anais do
BOO, E. Ecotourism: the Potentials and Congresso Brasileiro de Unidades de
Pitfalls. World Wildlife Fund, 1990. 2v. Conservação. Vol. I – Conferências,
BRASIL. Lei da Política Nacional do Meio Palestras, Resumos, Relatórios,
Ambiente (Lei nº 6.938/81). Brasília: Workshops e Moções Aprovadas.
DOU, 1981 Curitiba, IAP/UNILIVRE, 1997.
BRASIL. Resolução nº 237 - Conselho VASCONCELLOS, J. Trilhas Interpretativas:
Nacional do Meio Ambiente. Brasília: Aliando Educação e Recreação. In: Anais
DOU, 1997 do Congresso Brasileiro de Unidades de
441
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

Conservação. Vol. I – Conferências, Workshops e Moções Aprovadas.


Palestras, Resumos, Relatórios, Curitiba, IAP/UNILIVRE, 1997.

442
Projetos parceiros,
participantes e consultores
LISTA DE CONTATOS

lista das instituições parceiras do projeto deste Manual, dos técnicos do WWF-Brasil

A participantes e dos consultores está apresentada abaixo. Por uma questão de pratici-
dade, os nomes de todos os técnicos que participaram deste projeto, em todos ou
alguns de seus eventos, estão listados por projeto que representaram.
Os participantes indicados com (*) não pertencem mais às suas instituições de origem e,
assim, sugere-se que se busque na sua entidade de origem o contato atualmente disponível.
Os participantes do WWF-Brasil podem ser encontrados pelo e-mail panda@wwf.org.br.

Projetos parceiros, instituições e respectivos técnicos:

1) Projeto TAMAR
Instituição: IBAMA e FUNDAÇÃO PRÓ-TAMAR – Fernando de Noronha
Endereço: Projeto TAMAR/IBAMA – Caixo Postal 50 - CEP.: 53.900-000 - Fernando de
Noronha, PE • Tel/Fax: (81) 3619-1171 e 3619-1367
Internet: www.tamar.org.br
e-mail: pur@tamar.com.br
Técnico: Cláudio Bellini - oficina de elaboração e planejamento do PEC, oficinas 1, 3 e 4
2) Projeto Mamirauá
Instituição: INSTITUTO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DE MAMIRAUÁ
Endereço: Av. Brasil, 197 – Tefé – AM – CEP: 69.470-000 • Tel/Fax: (92) 743-2736
Internet: www.mamiraua.org.br
e-mail : ecoturismo@mamiraua.org.br
Técnicos: Ricardo Borges Ferrão - oficinas 3 e 4 • Aline Azevedo - oficinas 1 a 4 (*)
3) Projeto Mico-Leão-Dourado
Instituição: ASSOCIAÇÃO MICO-LEÃO-DOURADO (AMLD)
Endereço: Rod. BR 101, km 214 – Cx. Postal 109.968 – CEP: 28.860-970 – Casimiro de
Abreu - RJ • Tel/Fax: (24) 2778-2025
e-mail: rambaldi@micoleao.org.br
Técnicos: Denise Rambaldi - oficina de elaboração e planejamento do PEC, oficinas 1 a 4
• Alexandre J. F. Vieira - oficina 2
4) Projeto Veadeiros
Instituição: ASSOCIAÇÃO DE CONDUTORES DE VISITANTES DA CHAPADA DOS VEADEIROS (ACV-CV)
Endereço: Av. Ary R. V. Filho, quadra 47, APM 9 – Cx. Postal 10 – CEP 73.770-000 – Alto
Paraíso - GO • Tel/Fax: (62) 446-1690 e 446-1159
Técnicos: Elias Martins - oficina de elaboração e planejamento do PEC; oficina 1 •
Ion David Z. da Silva - oficinas 1 a 4 • Fernando Santana - oficinas 2 a 4 – (*)
443
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

5) Projeto Rondônia
Instituição: ORGANIZAÇÃO DOS SERINGUEIROS DE RONDÔNIA (OSR)
Endereço: Rua Joaquim Nabuco, 1215 – Bairro Areal – CEP: 78.916-420 – Porto Velho -
RO • Tel/Fax: (69) 224-1368
e-mail: osr@enter-net.com.br
Instituição: AÇÃO ECOLÓGICA GUAPORÉ (ECOPORÉ)
Endereço: Rua Rafael Vaz e Silva, 3335 – CEP: 78.900-000 – Porto Velho - RO
Tel/Fax: (69) 224-7870
e-mail: undiscovered.amazon@bol.com.br
Técnico: Carolina Dória – oficinas 1 a 4 •
Instituição: ASSOCIAÇÃO DOS SERINGUEIROS DO VALE DO GUAPORÉ (AGUAPÉ)
Endereço: Av. Santa Cruz, 963 – Centro – Costa Marques - RO • Tel/Fax: (69) 651-2676
Internet: www.pousadasnegras.com
e-mail: undiscovered.amazon@bol.com.br
Técnicos: Manoel Teófilo da Silva - oficina 1 • Elias Silva L. Vale - oficinas 3 e 4

6) Projeto Silves
Instituição: ASSOCIAÇÃO DE SILVES PELA PRESERVAÇÃO AMBIENTAL E CULTURAL (ASPAC)
Endereço: Ponta do Macário, s/n – CEP 69.119-000 – Silves - AM •
Tel/Fax: (92) 528-2124
Internet: www.aldeiadoslagos.com.br
e-mail: aldeiadoslagos@terra.com.br
Técnicos: Vicente Neves - oficinas 1 a 4 • Tibério Allogio - oficinas 1 a 3 - (*)

7) Projeto Pantanal
Instituição: SECRETARIA ESTADUAL DE MEIO AMBIENTE, CULTURA E TURISMO / MS
Endereço: Rua Projetada, s/n, Setor 3, Quadra 3, Parque dos Poderes – 79.031-920 –
Campo Grande - MS • Tel/Fax: (67) 318-5600
Internet: www.ms.gov.br
Técnica: Sylvia Torrecilha - oficinas 1 a 4
Instituição: SECRETARIA MUNICIPAL DE MEIO AMBIENTE E TURISMO – CORUMBÁ/MS
Endereço: Rua Manoel Cavassa, 275 – CEP: 79.300-900 – Corumbá – MS •
Tel/Fax: (67) 231-7336
Técnica: Silvia Gervásio - oficinas 1 a 3 - (*)

8) Projeto Superagüi
Instituição: SOCIEDADE DE PESQUISA EM VIDA SELVAGEM E EDUCAÇÃO AMBIENTAL (SPVS)
Endereço: Rua Gutemberg, 296- Batel - CEP: 80420-030 - Curitiba -PR •
Tel/Fax: (41) 242-0280
Internet: www.spvs.org.br
e-mail: info@spvs.org.br
Técnicas: Ivelise Vicenzi - oficinas 1 a 4 - • Vitória Yamada Muller - oficinas 1 a 3 – (*)
• Verônica “Kusum” Toledo - oficina de participação e parcerias, oficina 4 - (*)

WWF-Brasil (em ordem alfabética)


Bernadete Lange – oficinas 3 e 4 e oficina de participação e parcerias • Eduardo Mongeli –
444
PROJETOS PARCEIROS, PARTICIPANTES E CONSULTORES

oficina 4 • Walter Suiter – oficina 4.


Técnicos que não mais pertencem ao quadro do WWF-Brasil:
Mário Menezes – oficina de participação e parcerias • Irineu Tamaio – oficina
de participação e parcerias • Leandro Ferreira – oficina 3 • Nira Fialho – oficina
de elaboração e planejamento do PEC; oficinas 1 a 4; oficina de participação e parcerias •
Robert Buschbacher – oficina de elaboração e planejamento do PEC; oficina 1 • Sylvia
Mitraud – oficina de elaboração e planejamento do PEC; oficinas 1 a 4; oficina de partici -
pação e parcerias •Ulisses Lacava – oficina 4.

Consultores (em ordem alfabética)

1) Ariane Janér
Oficinas: Elaboração e planejamento do PEC; oficinas 1 a 4.
Especialidade: Elaboração de Produtos; Marketing e Administração Financeira.
Endereço: Rua Av. Pres Antonio Carlos 51/sala 601, Castelo, Rio de Janeiro •
Telefone: (21) 2422 6228 • Fax: (21) 2262 1103
e-mail: janerba@ism.com.br

2) Gilberto Fidelis
Oficinas: oficina 3.
Especialidade: Contabilidade para ONGs.
Endereço: Av. Presidente Wilson, 164 - 5º andar – Sala 506 - Centro - CEP: 20030-
020 - Rio de Janeiro - RJ • Tel/Fax: (21) 2533-1950 / 2262-6535
e-mail: w4consultoria@uol.com.br

3) Jane Vasconcellos
Oficinas: Elaboração e planejamento do PEC; oficinas 1 a 4.
Especialidade: Interpretação Ambiental
Endereço: Rua Cel. Fernando Machado, 813 / 1303 - CEP - 90.010-321 - Porto
Alegre - RS • Tel/Fax: (21) 212-3215
e-mail: janev@zaz.com.br

4) Johan van Lengen


Oficinas: oficina 3.
Especialidade: Infra-estrutura de Baixo Impacto Ecológico
Endereço: Rua Roquete Pinto, 20 A - Urca - CEP: 22.291-210 - Rio de Janeiro / RJ
• Tel/Fax: (21) 2244-5930
e-mail: tiba@tiba.org.br • Internet: www.tiba.org.br

5) Marcos Martins Borges


Oficinas: Elaboração e planejamento do PEC; oficinas 1 a 4.
Especialidade: Inventário Participativo; Diagnóstico e Planejamento Regional.
e-mail: mborges@rpts.tamu.edu
6) Roberto Mourão
Oficinas: Elaboração e planejamento do PEC; oficinas 1 a 4.
Especialidade: Elaboração de Produtos de Ecoturismo
445
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

Endereço: Rua Visconde do Pirajá, 605 - Apto. 608 - Ipanema - CEP: 22410-003 -
Rio de Janeiro - RJ • Tel/Fax: (21) 2512-4187
e-mail: roberto@ecobrasil.org.br • Internet: www.ecobrasil.org.br

7) Waldir Joel de Andrade


Oficinas: Elaboração e planejamento do PEC; oficinas 1 a 4;
oficina de participação e parcerias.
Especialidade: Manejo de Trilhas
e-mail: wjoel@uol.com.br

446
Distribuido pelo Instituto EcoBrasil

Declaração de Ecoturismo
de Quebec
Documento revisto e aprovado pelo
Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas
e pela Organização Mundial do Turismo - 10/06/2002

Documento traduzido pelo


Programa de Turismo e Meio Ambiente do WWF-Brasil

omo parte do Ano Internacional do Ecoturismo, declarado pelas Nações Unidas, e sob

C a égide do Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas e da Organização


Mundial do Turismo (WTO), mais de mil integrantes dos setores público e privado e
de organizações não-governamentais provenientes de mais de 132 países participaram da
Cúpula de Especialistas em Ecoturismo em Quebec, no Canadá. O evento aconteceu de 19
a 22 de maio de 2002 e teve como organizadores a Tourisme Quebéc e a Comissão
Canadense de Turismo.
A série de 18 reuniões preparatórias realizadas em 2001 e 2002, que culminou com este
encontro em Quebec, teve a participação de 3 mil representantes de governos nacionais e
locais (incluindo técnicos de turismo e de meio ambiente), de agências de turismo, de orga-
nizações não-governamentais, de empresas de consultoria, de universidades e de comu-
nidades locais e indígenas.
Este documento considera o processo preparatório, assim como as discussões realizadas
durante a Cúpula. Embora seja o resultado de uma discussão de múltiplas partes interessadas,
este não é um relatório oficial. A sua principal utilidade é registrar uma agenda preliminar e
estabelecer uma série de recomendações para o crescimento das atividades de ecoturismo
implementadas sob o contexto do desenvolvimento sustentável.
Durante o encontro, definiu-se a Conferência de Desenvolvimento Sustentável Rio+10,
que acontece em Joanesburgo, África do Sul, em agosto/setembro de 2002, como o espaço
de discussão e de estabelecimento de políticas internacionais para o setor para os próximos
10 anos. Enfatizou-se que o turismo deve ser mundialmente visto como prioridade por sua
potencial contribuição para a erradicação da pobreza e conservação dos ecossistemas
ameaçados. Assim, os integrantes da Cúpula solicitam que as Nações Unidas, suas organiza-
ções e os representantes dos governos que estiveram em Quebec disseminem esta
Declaração e os demais resultados deste evento durante a Rio+10.
Os participantes, cientes da limitação deste processo consultivo para incorporar sugestões
e contribuições de uma grande variedade de interessados, particularmente de organizações
não-governamentais e de comunidades indígenas e locais,
❐ reconhecem que o ecoturismo compreende em si os princípios do turismo sustentável
considerando seus impactos econômico, social e ambiental. Ele também traz consigo os
seguintes pontos:
443
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

• contribui para a conservação das heranças naturais e culturais


• em seu planejamento, desenvolvimento e operações, inclui as comunidades locais e
indígenas e contribui para seu bem-estar
• interpreta as heranças naturais e culturais para seus visitantes
• funciona de forma ideal para indivíduos e pequenos grupos organizados
❐ reconhecem que o turismo tem significantes e complexas implicações sociais, econômi-
cas e ambientais que podem trazer benefícios e custos para o meio ambiente e para as
comunidades,
❐ levam em consideração o crescente interesse das pessoas em visitar áreas naturais,
❐ reconhecem que o ecoturismo tem tido papel primordial na introdução de práticas sus-
tentáveis ao setor do turismo,
❐ enfatizam que o ecoturismo deve contribuir para que a indústria do turismo seja mais sus-
tentável elevando os benefícios econômicos para as comunidades anfitriãs, contribuindo ati-
vamente para a conservação dos recursos naturais e integridade cultural das comunidades e
conscientizando os turistas a respeito da importância das heranças naturais e humanas,
❐ reconhecem a diversidade cultural associada às áreas naturais, especialmente por causa
da presença histórica das comunidades locais responsável pela manutenção dos conhe-
cimentos tradicionais, usos e práticas sustentáveis trazidas ao longo dos séculos,
❐ reiteram que os fundos mundiais para a conservação e manutenção de áreas ricas cul-
turalmente e em biodiversidade têm sido inadequados,
❐ reconhecem que o turismo sustentável pode ser uma importante fonte de receita para as
áreas protegidas,
❐ enfatizam que muitas destas áreas são habitadas por populações rurais pobres que, com
freqüência, carecem de sistemas de saúde, educação, comunicação e de outras infra-
estruturas necessárias para um desenvolvimento adequado,
❐ afirmam que diferentes formas de turismo, especialmente o ecoturismo, são valiosas opor-
tunidades econômicas para as populações locais e, se realizadas de forma sustentável,
podem contribuir de forma intensa para a conservação,
❐ reforçam que, quando mal planejada e desenvolvida, a atividade do turismo em áreas
naturais e rurais contribui para o aumento da pobreza, deterioração das paisagens, erosão
das culturas tradicionais, redução da qualidade e quantidade de água e constitui uma
ameaça para a vida selvagem e biodiversidade,
❐ lembram que o ecoturismo deve reconhecer e respeitar os direitos à terra dos indígenas e
das comunidades locais, incluindo suas áreas protegidas e sagradas,
❐ afirmam que, para a obtenção de reais benefícios sociais, econômicos e ambientais e para
a prevenção de impactos negativos, é necessário que o ecoturismo e demais atividades
turísticas tenham mecanismos participativos de planejamento permitindo que as popu-
lações locais e indígenas definam o uso de suas áreas e optem, se julgarem necessário,
pela não adoção da prática,
❐ reconhecem a necessidade de se combater preconceitos de raça, sexo ou outras circuns-
tâncias pessoais entre as pessoas com respeito ao seu envolvimento com o turismo como
consumidoras ou fornecedoras/prestadoras de serviços,
❐ atribuem aos visitantes a responsabilidade de promover a sustentabilidade do destino e do
meio ambiente em geral por meio da sua escolha de seus passeios e atividades e por meio
de seus comportamentos.
Com base nestas informações, os participantes da Cúpula de Quebec produziram uma
série de recomendações para governos, setor privado, organizações não-governamentais,
444
DECLARAÇÃO DE ECOTURISMO DE QUEBEC

associações de base comunitária, instituições de ensino e pesquisa, agências financiadoras e


de auxílio ao desenvolvimento e comunidades indígenas e locais, presentes abaixo.

A. Aos governos nacionais, regionais e locais


1. formular políticas e estratégias de desenvolvimento nacional, regional e local que
sejam compatíveis com os objetivos do desenvolvimento sustentável. É importante que
isto seja conduzido por meio de um amplo processo de consulta àqueles que se
envolverão ou que serão afetados pelas atividades de ecoturismo. Se possível, deve-se
ampliar os princípios do ecoturismo às demais atividades do setor de turismo;
2. em conjunto com as comunidades locais, setor privado, ONGs e todas as partes inte-
ressadas, garantir a proteção da natureza, das culturas locais e especialmente do co-
nhecimento tradicional, dos recursos genéticos, direito à terra e à água;
3. garantir o envolvimento e a participação apropriada de cada instituição pública em
nível local, regional e nacional, incluindo o estabelecimento de grupos de trabalho
inter-ministeriais, quando necessário. Além disso, são necessários orçamentos adequa-
dos e legislações apropriadas que permitam a implementação dos objetivos e metas
estabelecidos pelas partes interessadas;
4. incluir, em níveis nacional, local e regional, em seu plano de ação mecanismos regu-
latórios e de monitoramento, além de indicadores de sustentabilidade aceitos pelas
partes interessadas e estudos de impacto ambiental para prevenir ou minimizar a ocor-
rência de impactos negativos nas comunidades ou no meio ambiente. Os resultados
dos monitoramentos devem estar à disposição do público, já que estas informações
permitirão que os turistas escolham operadores que adotam princípios do ecoturismo;
5. desenvolver mecanismos de avaliação dos custos ambientais em todos os aspectos do
produto de turismo, incluindo o transporte internacional;
6. desenvolver a capacidade de implementação de mecanismos de gestão do crescimen-
to, como zoneamento, e de uso participativo do solo tanto em áreas protegidas como
em seus entornos e em outras zonas de desenvolvimento do ecoturismo;
7. utilizar manuais de utilidade e eficiência consagradas para servir de base para proces-
sos de certificação, adoção de selos verdes e outras iniciativas voluntárias promovidas
em nome da sustentabilidade do ecoturismo. É necessário encorajar os operadores a
se unir a tais iniciativas e promover o seu reconhecimento por parte dos consumidores.
Os sistemas de certificação da atividade, no entanto, devem sempre seguir critérios
regionais, promover capacitações e fornecer apoio financeiro de forma a se tornar
acessíveis também aos pequenos e médios operadores. Uma série de critérios e méto-
dos é necessária para que estes esquemas atinjam seu objetivo;
8. garantir o acesso ao desenvolvimento dos recursos técnicos, financeiros e humanos
para micro, pequenas e médias operadoras, que são a base do ecoturismo, de forma a
lhes garantir o estabelecimento, crescimento e desenvolvimento de uma maneira sus-
tentável;
9. definir políticas apropriadas, planos de manejo e programas interpretativos para visi-
tantes. Estabelecer mecanismos de identificação de fundos adequados para a gestão de
áreas protegidas com acelerado crescimento de visitantes e proteção de ecossistemas
vulneráveis. Estes planos devem incluir normas claras, estratégias de manejo direto e
indireto e regras para uso de recursos de forma a garantir o monitoramento dos impactos
445
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

sociais e ambientais para todos os empreendimentos de ecoturismo na área;


10. incluir as micro, pequenas e médias operadoras de ecoturismo, assim como aquelas de
base comunitária, na estratégia promocional e programas desenvolvidos pelas empresas
nacionais de turismo, tanto no mercado nacional como internacional;
11. desenvolver redes regionais para a promoção e marketing de produtos de ecoturismo em
nível nacional e internacional;
12. criar incentivos para que os operadores de turismo tornem suas atividades mais ambi-
ental, social e culturalmente responsáveis;
13. garantir que alguns princípios ambientais e sanitários básicos sejam definidos e adota-
dos para todos os empreendimentos de ecoturismo, mesmo para aqueles conduzidos
em parques nacionais e áreas rurais. Isto deve incluir aspectos como a escolha de locais,
planejamento, tratamento de lixo, proteção de córregos e riachos, entre outras coisas.
Deve-se garantir ainda que as estratégias de desenvolvimento do ecoturismo sejam con-
duzidas sob uma forma que preveja investimentos em infra-estrutura sustentável e em
capacitação das comunidades para que elas monitorem estes aspectos;
14. investir ou dar apoio a instituições que investem em programas de pesquisa em ecotu-
rismo e turismo sustentável. Instituir estudos e pesquisas que levantem dados sobre
fauna e flora, com atenção especial para espécies ameaçadas, como parte de um pro-
grama de levantamento de impactos para as atividades de ecoturismo;
15. apoiar o desenvolvimento de princípios internacionais, manuais e códigos de ética para
o turismo sustentável fortalecendo as políticas nacionais e internacionais que utilizam o
conceito de desenvolvimento sustentável na atividade;
16. considerar como uma opção o remanejamento de áreas públicas de produção intensiva
para a atividade do turismo combinada à conservação, quando esta mudança puder
trazer benefícios sociais, econômicos e ambientais para as comunidades em questão;
17. promover e desenvolver programas educacionais para crianças e adolescentes para
aumentar a consciência a respeito da importância da conservação da natureza e do uso
sustentável, das culturas locais e indígenas e da sua relação com o ecoturismo;
18. promover a colaboração entre operadores de turismo, demais prestadores de serviços e
ONGs para permitir a educação de turistas e influenciar seu comportamento nos desti-
nos, especialmente em países em desenvolvimento;
19. incorporar os princípios de transporte sustentável no planejamento e implementação do
turismo e promover locomoções de baixo impacto sempre que possível.

B. Ao Setor Privado
20. planejar, desenvolver e conduzir seus empreendimentos minimizando impactos e con-
tribuindo para a conservação de ecossistemas sensíveis, do meio ambiente em geral e
levando benefícios às comunidades indígenas e locais;
21. ter em mente que, para ser sustentável, um empreendimento de ecoturismo precisa ser
rentável às partes envolvidas, incluindo proprietários, investidores, gerentes e emprega-
dos, assim como às comunidades e às organizações de conservação presentes na área
onde a atividade é desenvolvida;
22. garantir que a utilização de materiais, planejamento e operações incorporem os princí-
446
DECLARAÇÃO DE ECOTURISMO DE QUEBEC

pios da sustentabilidade, como conservação da água, energia e materiais;


23. adotar formas confiáveis de regulação voluntária, como selos verdes, de forma a
demonstrar aos seus potenciais clientes o seu real compromisso com os princípios da
sustentabilidade;
24. cooperar com organizações governamentais e não-governamentais que trabalham com
conservação de áreas protegidas e de biodiversidade assegurando que suas práticas de
ecoturismo sejam realizadas de acordo com planos de gestão e outras regulações para
estas regiões. Desta forma, fica evidente que se preocupam em minimizar quaisquer
impactos negativos garantindo a qualidade das experiências de turismo e contribuindo
financeiramente para a conservação dos recursos naturais;
25. aumentar o uso de materiais, produtos, logística e recursos humanos locais em suas
operações de forma a manter a autenticidade da atividade de ecoturismo e ampliar os
benefícios financeiros ao destino. Para que isso seja possível, é necessário também que
se invista no treinamento e na capacitação da mão-de-obra local;
26. trabalhar ativamente com lideranças indígenas para garantir que suas comunidades e
culturas sejam tratadas com respeito e que seu quadro de funcionários e clientes seja
bem informado a respeito das áreas indígenas, de seus costumes e história;
27. garantir que a cadeia de produtos e serviços que compõem a operação de ecoturismo
seja sustentável e compatível com o nível de sustentabilidade exigido ou esperado pelo
consumidor;
28. trabalhar ativamente com lideranças indígenas e com comunidades locais para garan-
tir que elas sejam tratadas com respeito e que os turistas tenham informações a
respeito delas;
29. promover entre seus clientes, os turistas, uma forma consciente de comportamento dando-
lhes a oportunidade de participar de experiências de educação ambiental e de conviver
com pessoas de outras culturas. Além disso, contribuições voluntárias às comunidades
locais e às atividades de conservação realizadas na região devem ser encorajadas;
30. gerar um nível de consciência entre funcionários por meio de aulas de educação am-
biental e dar suporte ao trabalho que eles e suas famílias realizam em nome da conser-
vação, de desenvolvimento econômico da comunidade e na redução da pobreza;
31. diversificar suas ofertas desenvolvendo um leque de atividades turísticas e estendendo
suas visitas a locais diversos de forma a disseminar o potencial de ecoturismo destas
regiões e evitar que um determinado local seja superexplorado e sua sustentabilidade
colocada em perigo. Para tanto, as operadoras devem respeitar e contribuir para o esta-
belecimento de limites de visitas de cada local;
32. criar e desenvolver mecanismos de arrecadação de fundos para a manutenção de asso-
ciações e cooperativas que podem fornecer treinamento e divulgação e desenvolver
produtos e pesquisas;
33. formular e implementar políticas para sustentabilidade com uma visão para aplicá-las
em cada parte da operação do turismo.

447
MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

C. Às organizações não-governamentais, associações de base comunitária


e instituições de ensino e pesquisa
34. fornecer apoio técnico, financeiro, educacional, capacitação e demais suportes aos
destinos de ecoturismo, às suas organizações comunitárias, pequenos negócios e
autoridades locais de forma a garantir a aplicação de políticas apropriadas, o desen-
volvimento de planos de gestão e os mecanismos de monitoramento compatíveis com
a sustentabilidade;
35. monitorar e conduzir estudos do impacto das atividades de ecoturismo nos ecossis-
temas, na biodiversidade e nas culturas indígenas locais;
36. cooperar com as organizações públicas e privadas garantindo que os dados e infor-
mações gerados com os estudos sejam utilizados na tomada de decisões durante o
processo de desenvolvimento e gestão do ecoturismo;
37. cooperar com as instituições de pesquisa de forma a se encontrar as soluções mais práti-
cas e adequadas para as questões relacionadas ao desenvolvimento do ecoturismo.

D. Às instituições internacionais de financiamento e agências


de assistência ao desenvolvimento
38. planejar e acompanhar a implementação de políticas nacionais e locais de desenvolvi-
mento do ecoturismo e a avaliação de sua relação com a conservação, desenvolvimen-
to socioeconômico, direitos humanos, redução da pobreza e outras questões ligadas ao
desenvolvimento sustentável, além de intensificar a transferência destes conhecimentos
para outros países. Uma atenção especial deve ser dada aos países em desenvolvimen-
to e às ilhas e aos países montanhosos, já que 2002 foi estabelecido como o “Ano
Internacional das Montanhas” pelas Nações Unidas;
39. promover capacitações em organizações locais, regionais e nacionais para a formulação
e aplicação de políticas e planos de ecoturismo baseados em padrões internacionais
consagrados;
40. desenvolver padrões mundiais e mecanismos para sistemas de certificação do ecotu-
rismo que considerem empreendimentos de pequeno e médio portes e a eles facilite o
seu acesso;
41. incorporar o diálogo entre as diversas partes interessadas nas políticas, manuais e pro-
jetos em níveis global, regional e nacional para a troca de experiências entre os países
e setores envolvidos no ecoturismo;
42. fortalecer seus esforços em identificar os fatores que determinam o sucesso e fracasso
das atividades de ecoturismo ao redor do mundo de forma a transferir estas experiências
e melhores práticas para outras nações por meio de publicações, missões de campo,
seminários e projetos de assistência técnica. O Programa de Meio Ambiente das Nações
Unidas (UNEP) e a Organização Mundial do Turismo (WTO) devem continuar este diá-
logo promovendo, por exemplo, avaliações periódicas do ecoturismo em encontros
internacionais e regionais;
43. adaptar, sempre que necessário, suas formas de financiamento e empréstimo às micro,
pequenas e médias operadoras de ecoturismo, que são a base da atividade, de forma a
garantir sua sustentabilidade econômica a longo prazo;

448
DECLARAÇÃO DE ECOTURISMO DE QUEBEC

44. desenvolver a capacidade dos recursos humanos internos para lidar com o turismo sus-
tentável e com o ecoturismo como uma atividade de desenvolvimento em si só e garan-
tir que o conhecimento interno, a pesquisa e a documentação permitam que o ecotu-
rismo seja visto como uma ferramenta de desenvolvimento sustentável;
45. desenvolver mecanismos financeiros para o treinamento e capacitação das comu-
nidades indígenas e locais, permitindo que elas participem do desenvolvimento do eco-
turismo.

E. Às comunidades locais e indígenas


Além das referências à comunidades locais e indígenas feitas nos parágrafos anteriores
desta Declaração (principalmente as recomendações A 2 e 17; B 21 e 27; C 35; D 45) os par-
ticipantes fizeram estas recomendações a estes grupos:
46. como parte de uma visão de desenvolvimento para a comunidade, definir e implemen-
tar estratégias para um aumento de benefícios para a localidade, incluindo o acesso à
informação, o desenvolvimento humano, físico, financeiro e social, que venham com o
crescimento da prática do ecoturismo;
47. fortalecer, estimular e encorajar a habilidade da comunidade em manter e utilizar co-
nhecimentos tradicionais que sejam relevantes para a atividade do ecoturismo, como o
artesanato, a agricultura, o folclore, a culinária e demais atividades que utilizam os
recursos locais de forma sustentável.

F. À Conferência de Desenvolvimento Sustentável Rio+10


48. reconhecer a necessidade de se aplicar os princípios de desenvolvimento sustentável ao
turismo e o importante papel do ecoturismo na geração de benefícios econômicos, so-
ciais e ambientais;
49. integrar o turismo, incluindo o ecoturismo, nos resultados do evento.

Quebec, 22 de maio de 2002.

449

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