História do
português
Carlos Alberto
alberto Faraco
FaraCo
Sumário
Primeiras palavras........................................................................................................................7
Apresentação.....................................................................................................................................9
Introdução........................................................................................................................................... 13
5
História do português • Carlos Alberto Faraco
6
3.3 Línguas indígenas e línguas gerais ........................................................................... 130
3.4 Línguas africanas.............................................................................................................. 144
3.5 Bases do português popular brasileiro................................................................... 147
3.6 O português brasileiro culto......................................................................................... 149
3.7 Caminhos modernos........................................................................................................ 152
3.8 O Brasil multilíngue e multicultural......................................................................... 154
3.9 O nome da língua no Brasil........................................................................................... 161
3.10 Uma ou duas línguas?...................................................................................................... 171
Anexos................................................................................................................................................. 181
Primeiras palavras
7
Introdução
1.1 Sociedade
Entendemos sociedade como uma totalidade complexa no interior
da qual transcorre a vida humana em todos os seus aspectos (eco-
nômicos, políticos, culturais e psicológicos); nela se dão as práticas
coletivas dos grupos e das classes sociais. Ela é, por isso (e aqui
estamos pensando, principalmente, nas sociedades industriais e
pós-industriais contemporâneas), uma totalidade heterogênea,
contraditória, simultaneamente integrada e fragmentada e em
constante devir:
ü heterogênea porque é constituída por diferentes grupos envol-
vidos nas mais diversas atividades e manifestando os mais dis-
tintos padrões de comportamento e concepções ideológicas;
ü contraditória porque os distintos grupos e classes sociais —
sendo ocupantes de diferentes posições nas hierarquias socio-
econômicas e nas consequentes redes de poder e dominação
— têm interesses e valores distintos que conflitam entre si;
ü simultaneamente integrada (porque há fatores que agregam,
como a ordem jurídica e o imaginário compartilhado) e frag-
mentada (porque há fatores que diferenciam e dividem, como
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História do português • Carlos Alberto Faraco
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as desigualdades econômicas, os desequilíbrios nos mecanis-
mos de poder e as diferenças de concepções ideológicas);
ü em constante devir porque as dinâmicas heterogêneas e con-
traditórias das incontáveis atividades que ocorrem em seu in-
terior lhe dão movimento no eixo do tempo, provocando mu-
danças em suas configurações.
Em outras palavras, as sociedades têm história. É no interior des-
sasjátotalidades
Você ouviu falarque
queas línguastem
a língua existem. ElasEla
história. são, por
não consequência,
é uma realidade
também heterogêneas, contraditórias, simultaneamente integradas,
estática; está sempre em movimento no eixo do tempo, passando por
fragmentadas e em constante devir.
sucessivas mudanças estruturais e lexicais. E certamente você também
Da mesma forma, é no interior dessas totalidades que se realizam
já ouviu falar que a língua é a expressão da cultura de seus falantes.
as práticas culturais. Por isso, as culturas são também heterogêneas,
Supõe-se um vínculo estreito entre língua e cultura, entre língua e as
contraditórias, simultaneamente integradas e fragmentadas e em
práticas culturais
constante da(s)
devir. sociedade(s)
Vamos, que aexpandir
mais adiante, fala(m). essa discussão sobre
línguaessas
É sobre e cultura.
grandes questões que vamos conversar neste livro. Seu
núcleo será a apresentação de aspectos da história da língua portugue-
sa e1.2
das Eculturas com ela correlacionadas. Apresentamos aqui uma his-
stado-nação
tória sociopolítica e cultural da língua portuguesa. Para cumprir esse
Desde que os modernos estados-nação se consolidaram a partir do
objetivo, combinamos quadros conceituais oriundos da linguística, da
século XVIII, há uma tendência, nos estudos de natureza sociológica,
sociolinguística, da antropologia,
a associar sociedade da sociologia
e estado-nação. Ou seja,edelimitam-se
da história. O estudo
totalida-
da história
des sociaisdaspelas
línguas e das respectivas
fronteiras culturas tem
dos estados-nação. Sãonecessariamente
estes entes que,
umem princípio,
caráter inter- dão à sociedade seu ordenamento político-jurídico.
e multidisciplinar.
Podemos, então, conceituar o estado-nação como o conjunto de ins-
tituições através das quais se exerce o poder político em nome do
povo (da nação) sobre determinado território e sobre a formação
social que ocupa esse território.
Na contemporaneidade, vivemos num estado-nação (é dele que re-
cebemos a nacionalidade e a cidadania) em meio a outros muitos
estados-nação. O mapa político do mundo é, hoje, um mosaico colo-
rido de estados-nação.
Esse ente político, moldado na Europa ocidental em substituição ao
estado dinástico e absolutista, se disseminou de tal forma pelo mun-
do que acabou se tornando não só o principal modelo de ordem polí-