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FARIAS, Agnaldo. Arte brasileira hoje.

ARTE CONTEMPORÂNEA – NOTAS SOBRE UMA NOÇÃO

 MODERNO é o nome de um movimento com características particulares que nasceu na


Europa, com variados desdobramentos por quase todos os países do Ocidente, e que
entrou em crise a partir da década de 1950.
 É contemporânea toda e qualquer manifestação artística que ressoa em nós.
 Cada obra é em si mesma um sinal de descontentamento. Sintoma de insatisfação,
cada oba de arte traz embutida uma crítica à própria noção de arte e pode mesmo
modificar aquilo que entendemos por arte.
 O início da arte moderna situa-se em meados do séc. XIX, com o realismo de Gustave
Courbet e o impressionismo que o seguiu.
 A partir daí, a arte paulatinamente se afastou de seus cânones renascentistas, do
compromisso de uma representação fidedigna do mundo, com as pinturas e esculturas
se ocupando não em fabricar duplos da realidade, mas em afirmar suas próprias
realidades.
 A bidimensionalidade da pintura, a concretude de seus planos e cores seriam sua nova
razão de ser.
 A tridimensionalidade da escultura abandonou a ilustração de temas (herói, mítico...)
para encerrar-se numa discussão sobre sua materialidade, sobre o gesto que a
formalizou, as peculiaridades de sua volumetria, etc...
 O desembocar na abstração foi o corolário desse processo.
 As vanguardas persistem em manter a experiência estética como fim em si mesmo,
longe da clássica subserviência à religião ou ao Estado.
 A arte contemporânea nasce como resposta ao esgotamento desse ensimesmamento
da arte, com as modalidades canônicas, explorando-se, investigando suas naturezas até
o avesso.

ARTE CONTEMPORÂNEA NO BR

 A partir da passagem dos 50 para os 60, com as discussões em volta do expressionismo


abstrato e com o abstracionismo geométrico (concretismo e neo), obteve-se a
emancipação de nossa inteligência plástica e constituiu-se um solo, que se mostraria
grandemente fértil.
 Artistas contemporâneos como: Amilcar de Castro, tomie Ohtake, Franz Weismann,
Arcângelo Ianelli, Franz Krajberg..possuem uma consagração que não rima com
cristalização, porém possuem raiz moderna, com trajetórias partindo dos anos 50 e 60.
 O autor trata dos artistas que iniciaram suas trajetórias a partir dos anos 60, a maioria
na passagem para os 70.
 Nesse período (entre 60 e 70), produzir arte significava operar na expansão do objeto
artístico, seja pela apropriação de coisas e imagens extraídas do cotidiano, seja por
radicalizações cada vez maiores, traduzidas em obras mais complexas do ponto de vista
conceitual, mais interessadas no plano intelectual dos espectadores do que em suas
retinas.
 A arte estava duplamente preocupada em efetuar a crítica de um país que se
urbanizava avassaladoramente e em romper o amordaçamento coletivo da expressão
promovido pela ditadura militar.
 Sob o signo da arte contemporânea estão também os artistas surgidos nos anos 80,
que ficaram conhecidos pela retomada das formas tradicionais de expressão, com
destaque à pintura (que era o índice de um relacionamento com um inimigo da
modernidade: o passado)
 Finalmente estão os artistas dos anos 90, cujas obras em construção confirmam a
sensação de uma crise aguda ou mesmo do fim da arte moderna. Obras que se opõe
ao projeto da linguagem universal e da busca pela novidade. Mergulham em
referências históricas e pessoais, parodiam a própria arte, criticam a ideia de
autonomia da arte, preferindo abandonar os suportes tradicionais em favor de
manifestações híbridas. Descartam as heranças neoconcretas, buscando outras fontes,
do barroco mineiro à arte popular, do debate sobre o problema da imagem na vida
atual à especulação sobre o corpo e suas pulsões...etc...

A ARTE CONTEMPORÂNEA ENTENDIDA COMO ARQUIPÉLAGO

 Avança num número tal de direções e é constituída por obras tão singulares que
sugere um arquipélago.

ARTUR BARRIO

 Radical, obra potente, política e violenta.


 Em 1969, Barrio lançou um manifesto defendendo o uso de materiais efêmeros e
precários, a favor de sua situação de terceiro-mundista.
 Realizadas em papel higiênico, lixo, urina, estopa, suas obras ou eram registradas em
filmes e fotos ou guardadas na memória.
 Não se tratava de objetos comercializáveis, eram abjetos, coisas e ações que
provocavam entre repulsa e estranhamento.
 Sua obra filia-se às experiências de Flávio de Carvalho (pai da performance no BR)
 Livro de carne, Trouxas ensanguentadas, sacos de sangue e coisas...

MARCOS BENJAMIN

 Em cada obra percebe-se o murmúrio do tempo e a lenta respiração da matéria.


 O artista mantém sempre intacta a natureza do metal e da madeira. Não os submete
nunca a uma química aniquiladora.
 O artista aprecia o confronto da seiva, ferrugem, bolor, limo, resina...também nos
objetos singelos – ralador, pá, pião...
 Porém, o artista impõe novas aparências à madeira e ao metal, como se eles tivessem
sofrido um pequeno desvio em seu processo de desenvolvimento natural.
 A força poética dos objetos de Marcos Benjamin oscila entre escultura e pintura.

WALTERCIO CALDAS

 Suas esculturas provocam um estado de suspensão, deslocam o espectador para uma


posição desconfortável, em que a percepção visual não se dá rotineiramente.
 Limpidez das formas, elegância, incompletude ou virtualidade.
 Esculturas como corpos delicados, quase imateriais.
 Seriam “instantes escultóricos”.
LEDA CATUNDA

 Geração 80, junto com Daniel Senise e Leonislson.


 Aluna de Nelson Leirner, herda o interesse pela apropriação de objetos, os quais utiliza
como suporte para pintura.
 Pinturas podem ser tanto figurativas, quanto abstratas e são realizadas por meio de
tintas e pincéis, combinadas com práticas tradicionalmente femininas, como a costura
e o bordado.
 Ao menos no início de sua carreira, priorizava objetos com os quais havia tido uma
história em comum, ou que lhe eram familiares.
 Pinturas não atendiam ao formato quadrilátero convencional, mas sim ao formato
irregular que as peças já possuíam.

ANTONIO DIAS

 Obra seminal, carregada de signos densos e enigmáticos.


 Vermelhos e pretos são as cores dominantes, imagens incisivas de corpos retalhados,
ossos, detritos, explosões, signos de uma sexualidade brutalizada, índices de violência
e interdição.
 Materiais industrializados despojados de qualquer traço de afetividade ou sedução.
Borrachas e plásticos, cordas e sacos...

CARLOS FAJARDO

 Esculturas sâo armadilhas de captura do olhar. A tendência do olhar é escorrer


contínuo pelo espaço.
 Na poética desse artista confluem três lógicas: a da ocupação do espaço, a da
superfície e a do gesto formalizador.
 As obras contam ao olhar que nelas não há mágica, que são não o produto da fusão de
materiais distintos, mas o encontro, a junção ou o travamento entre eles, obtido por
meio de uma ação construtiva simples.

NELSON FELIX

 Busca e apresentação do oculto, do que não pode ser visto.


 Sua chegada à escultura foi prenunciada por seus desenhos.
 Monolitos negros eram confeccionados de grafite, traziam em seu interior pequenos
diamantes (invisíveis).
 Volumes esculpidos em mármore que à primeira vista pareciam abstratos eram versões
ampliadas de glândulas ou vazios encontrados no sistema nervoso...

CARMELA GROSS

 Em vez de apresentar a repressão e a miséria engendradas por um regime


discricionário, desmontava suas estruturas de pensamento e expressão.
 Criou uma série de carimbos: cada um deles trazia estampada uma “pincelada
dramática”, uma “linha vibrátil”, uma mancha sugestiva
 Sua obra vale como uma profunda reflexão sobre o perpétuo desejo do homem de
capturar o mundo na forma de representação.
KARIN LAMBRECHT

 Planos de tecidos irregulares, que podem vir pintados, rasgados e queimados e são
precariamente montados em estruturas de madeira.
 Ela tanto desce à esfera política quanto invade espaços como religião e a necessidade
da religião.
 Pigmentos naturais, grãos de terra, sangue de animais...

JAC LEIRNER

 É uma legítima herdeira de Duchamp.


 O princípio de toda coleção de objetos é o estancamento do circuito. Passou a
interceptar notas de 100 cruzeiros que passavam por sua mão.

NELSON LEIRNER

 Apresenta o entrechoque entre diversas e requintadas tradições expressivas, a cultura


simbólica produzida pelas incontáveis etnias, adensadas por seus imprevistos
cruzamentos.
 Opera subversões e deslocamentos no âmbito da linguagem visual e de seus suportes.
 Hibridismo...
 Questionamento do que é arte...porco empalhado.

IVENS MACHADO

 Esculturas tem algo de orgânico, vivo.


 Nem figurativas, nem abstratas, mas sempre sugerem fragmentos de corpos,
esqueletos...
 Usa concreto armado, vergalhões, porcelana, madeira e vidro.
 O resultado varia do humor à agressão.

CILDO MEIRELES

 Pode ser pensado como um elo entre as pesquisas sensoriais de Oiticica e Lygia Clark.
 Estava interessado em diminuir o intervalo que separa a arte e a vida.
 Trabalhos que se constroem a partir de notas de dinheiro, garrafas, caixas de fósforos...

NVIK MUNIZ

 Humor, ideia e ilusão


 Obra fotográfica? Sim e não.
 O que existe é apenas o registro fotográfico das obras...

EMANUEL NASSAR

 Obras abertas ao contato, problematizam a fronteira que separa as obras reconhecidas


como artísticas daquelas que não o são.
 Interessam-lhe as pinturas toscas, os artefatos e a arquitetura pertencentes ao extrato
mais pobre de Belém.
 Delicadeza e interesse ao voltar-se para o banal e o humilde.

ARTHUR OMAR

 Conhecido como diretor de cinema é um artista multifacetado.


 Artista híbrido, reconhecido pelas videoinstalações e fotografia.
 Não registra o flagrante, o fabrica.
 Rostos desfocados, trilha luminosa deixada pelo deslocamento do alvo móvel.

LYGIA PAPE

 Evidente relação com o Concretismo e Neoconcretismo.


 Meados dos anos 50, Gravuras...contrárias à frieza, marca do gesto...
 Por volta de 1963, migrou para o cinema.
 Caixa de baratas, 1967.

NUNO RAMOS

 Foi da pintura à escultura.


 Acrescentava outros materiais às tintas, vaselina, parafina, tecido...
 Grandes superfícies.
 Pinturas pareciam organismos vivos, abarcavam o corpo do espectador.

ROSÂNGELA RENNÓ

 Fotografia.
 Apropria-se de fotos de autoria anônima, banais: rostos em 3x4; cenas de casamento;
casais em poses antigas; fotos científicas, como as de registro psiquiátrico.
 Instalações... Hipocampo, 1995
 Textos-imagens.
JOSÉ RESENDE
 Esculturas, algumas opacas, outras transparentes, até translúcidas.
 Versatilidade dos gestos. Cada material demanda de nós ações específicas e nos faz
inventar estratégias de abordagem compatíveis.

MIGUEL RIO BRANCO

 O artista frequenta os prostíbulos, as academias de boxe, os botequins, as favelas,


enfim, as ruínas urbanas, os ambientes, as vielas, fora do tempo e espaço.
 Fotografia.

DUDI MAIA ROSA

 Busca de uma nova definição de pintura.


 Abandonou a figuração e dois dos elementos fundamentais da pintura: a tela e o
pincel.
 Fibra de vidro e resinas industriais.
DANIEL SENISE

 Nutria-se do passado.
 Telas em grandes dimensões não hesitavam em recuar até os afrescos descascados.
 Impressão da pintura contra o chão do atelier para depois voltar a trabalha-la.

REGINA SILVEIRA

 Fascínio pelas sombras.


 A artista escolhe como objetos para reter as sombras, coisas banais, imagens retiradas
de anúncios publicitários, ou objetos mais “nobres” retirados da história da arte
(nesses casos, transforma a referência original em outra referência)

ANA MARIA TAVARES

 Catracas, guarda-corpos, alças e barras de ônibus.

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