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ARTE FRACTAL, UMA MESCLA DE GEOMETRIA, COMPUTAÇÃO E ARTE

Teixeira, B.F.C./NPADC/UFPA
beneilde@ufpa.br
Protázio, J.S./PPGME/NPADC/UFPA & ESMAC
protazio@gmail.com
Silva, F.H./NPADC/UFPA
fhermes@ufpa.br

RESUMO
Este artigo apresenta uma breve introdução ao estudo dos principais aspectos
geométricos, numéricos e computacionais que determinam a geração da Arte
Fractal. Ele contém três contribuições. Inicialmente, introduz os conceitos básicos
de fractal, de auto-similaridade e de dimensão fractal, descrevendo alguns dos
principais processos numéricos e geométricos de produção de imagens fractais.
Posteriormente, aborda procedimentos básicos do uso de cores e de texturas,
importantes atributos da computação gráfica, enfatizando-se o uso específico do
aplicativo Fractint. Finalmente, é apresentada uma breve discussão sobre a
necessidade de introdução da geometria fractal nos currículos escolares do Ensino
Fundamental ou Médio, ou mesmo do Ensino Superior.

Palavras-Chave: Geometria Fractal, Arte Fractal, Dimensão Fractal.

INTRODUÇÃO
Com o advento do computador e a consolidação do sistema mundial de
comunicação - a Internet - uma nova revolução vem se estabelecendo no
mundo das artes a partir do século XX. A utilização de atributos tipicamente
científicos e de novos recursos tecnológicos vem definindo novos paradigmas
no ambiente artístico mundial, gerando com isto renovadoras e revolucionárias
formas de se fazer arte.
As amplas possibilidades de integração das mais diversas
manifestações artísticas com a capacidade de armazenagem de informações,
de velocidade e de interatividade dos computadores, têm permitido mudanças
radicais na criação, na divulgação e na fruição da arte contemporânea. Em
meio a todas estas novidades, surge a arte fractal, que utiliza equações
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do SIPEMAT. Recife, Programa de Pós-Graduação em Educação-Centro de Educação – Universidade Federal
de Pernambuco, 2006, 10p.

matemáticas e programas de computador para a geração de imagens


artísticas.
Dada a imensa possibilidade de utilização da geometria fractal nas mais
diversas áreas de conhecimento, seja científica ou mesmo artística, uma outra
questão que se coloca, hoje, é da sua inclusão nos currículos escolares do
Ensino Fundamental ou Médio, ou mesmo do Ensino Superior. Em livro
recente, que trata do assunto, Barbosa (2002) defende esta inclusão, por
entender que ela vai permitir a conexão entre várias ciências –
interdisciplinaridade -, a modelagem de formas da natureza – inadequada com
o uso da geometria Euclidiana -, a difusão e o acesso aos computadores e às
tecnologias de informática – a pesquisa -, e o despertar e desenvolvimento do
senso artístico através da arte – a transversalidade.
Neste artigo, são apresentados aspectos gerais da geometria fractal,
realçando sinteticamente os seus formalismos geométrico e algorítmico, além
do uso dos recursos da computação gráfica para a produção de imagens
fractais, ponto de partida para a elaboração de trabalhos artísticos fractais.

A GEOMETRIA DOS FRACTAIS


Os fractais, apesar de terem sido denominados e exibidos apenas
recentemente por Mandelbrot, já eram conhecidos há bastante tempo. O
conhecido conjunto de Cantor, a função de Weierstrass e a curva de Peano
são exemplos clássicos de estruturas geométricas com características fractais.
Podem ser referenciados como fractais os trabalhos de Poincaré, escritos por
volta de 1890, de Fricke & Klein, em publicação de 1897 e de Fatou e Julia, por
volta de 1919.

O conceito formal de fractal ainda não foi muito bem estabelecido.

Fractais são formas geométricas rugosas e fragmentadas que


podem ser subdivididas em partes, cada uma das quais é uma cópia
reduzida do todo. Do ponto de vista matemático, fractais são [...] um
conjunto de pontos cuja dimensão fractal excede a sua dimensão
topológica. (MANDELBROT apud BOURKE, 2002).
É possível afirmar, numa primeira abordagem, que fractal é todo aquele
objeto geométrico que apresenta forma suficientemente intrincada, não
permitindo a sua representação através dos parâmetros geométricos clássicos.
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As Figuras 1 e 2 abaixo (LANIUS, 2003) ilustram exemplos de figuras


euclidianas e fractais, respectivamente.

Quadrado Triângulo Retângulo Círculo

Figura 1- Geometria euclidiana

Conjunto de Julia Conjunto de Mandelbrot Triângulo de Sierpinsky

Figura 2 – Geometria fractal.


Fonte: Lanius (2003)

A natureza extremamente intrincada de figuras fractais determina


algumas características típicas destes objetos. Uma delas é a auto-
similaridade, que reflete a invariância por escalas das figuras fractais. As
formas geométricas ortodoxas não apresentam esta propriedade uma vez que
perdem sua estrutura original se ampliadas ou diminuídas. A Figura 3 abaixo
representa uma típica imagem fractal, destacando a propriedade de auto-
similaridade (WALZ, 2003).

Figura.3 – Exemplo ilustrativo da auto-similaridade


Fonte: Walz ( 2003).
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Outra característica importante dos fractais é a sua dimensão


fracionária. A observação de um objeto fractal plano leva à percepção de que
os contornos ocupam um lugar no plano que não preenchem completamente a
região, mas se desdobram além do comportamento de uma curva
convencional, cuja dimensão obedece a uma relação do tipo S = LD, sendo L a
escala utilizada, S o atributo medido e D a dimensão do objeto. Para figuras
Euclidianas, D = 1, no caso de objetos unidimensionais, D = 2, para objetos
planares e D = 3, para objetos espaciais. No caso de figuras fractais estas
dimensões são fracionárias.

Uma das figuras fractais mais conhecidas é o triângulo de Sierpinsky.


Ela é obtida a partir do seguinte esquema iterativo (LANIUS, 2003):

Passo 1 – é desenhado um triângulo eqüilátero e construído, no seu


interior, o triângulo cujos vértices são os pontos médios dos lados do triângulo
dado:

Passo 2 – retira-se o triângulo central assim obtido, restando três novos


triângulos:

Passo 3 – repete-se o processo descrito nos passos 1 e 2 nos três


triângulos restantes:

Passo 4 – aplica-se os passos anteriores nos triângulos restantes:


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Os passos acima são repetidos sucessivamente, obtendo-se o chamado


triângulo de Sierspinsky. A aplicação da fórmula citada mostra que a dimensão
deste triângulo é D = 1.585.

Finalmente, outra característica dos fractais é o caráter algorítmico de


sua geração. Os fractais, em geral, são gerados a partir de iterações numéricas
ou geométricas.

A geração a partir de algoritmos numéricos utiliza seqüências numéricas


iterativas no plano real ou no plano complexo. A idéia é muito simples: a partir
de um ponto inicial, é gerada uma seqüência ou órbita que podem escapar
para o infinito (trajetória azul, na Figura 4), podem ser periódicas (trajetória
verde na Figura 4) ou podem convergir (trajetória lilás na Figura 4).
Descartando os pontos iniciais em que acontece o primeiro caso e registrando,
no plano, aqueles em que ocorrem o segundo e o terceiro casos, obtêm-se
figuras planas que são chamadas de fractais.

Figura 4 – Trajetórias dos vários tipos de órbitas

de um ponto no plano complexo.

A Figura 5 abaixo ilustra uma imagem usando a iteração:

 n+1 = sen(axn ) − cos(byn )


x

yn+1 = sen(cxn ) − cos( dyn ),
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sendo a = -2.24, b = -0.65, c = 0.43, d = -2.43, segundo JONG (apud BOURKE,


2002):

Figura 5 – Imagem fractal.


Fonte: Bourke (2002).

A Figura 6 abaixo ilustra um belíssimo conjunto de Mandelbrout.

Figura 6 – Conjunto de Mandelbrot


Fonte: Walz (2003)

A geração a partir de iterações de figuras geométricas dá origem a


conhecidos fractais. A idéia é análoga à do caso numérico. Só que o ponto de
partida da iteração é uma figura geométrica elementar. A Figura 6 abaixo ilustra
uma figura fractal (b) obtida iterativamente a partir de uma estrutura geométrica
inicial (a).

(a) (b)
Figura 6 – Fractal (b) gerado a partir de iterações da figura inicial (a)
Fonte: Bourke (2002)
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A COMPUTAÇÃO DOS FRACTAIS


Apesar da sua origem numérica ou geométrica, os fractais só se
tornariam populares com o advento dos modernos computadores. Na
computação gráfica os padrões de cores são determinados pela sua variação
nos diversos pontos da tela. Inicialmente são definidas as três cores primárias
(vermelho, verde e azul) como bases do sistema RGB, determinadas pela
Comissão internacional de Iluminação (CIE), em 1931. Combinando-se duas
ou mais cores, obtêm-se outros padrões de cores, que por sua vez podem ser
combinadas produzindo outros padrões, e assim por diante. Os resultados
obtidos por estas variadas combinações são chamados de tons. As Figuras 7
(a) e (b) abaixo ilustram um procedimento aditivo de obtenção de novos
padrões de cores e de tons, respectivamente.

(a) (b)
Figura 7 - Mistura de cores aditivas

Além dos padrões de cores, um outro recurso importante utilizado pela


computação gráfica é o de textura, termo que pode ser associado a
determinadas propriedades visuais ou estruturais da superfície de um objeto.
Segundo Gonzalez (2000, p.361) “[...] textura é um descritor que fornece
medidas de propriedades como suavidade, rugosidade e regularidade”. As
Figuras 8 (a), (b) e (c) abaixo ilustram esta concepção de Gonzalez.

(a) FOLHAS (b) TECIDO (c) MINERAL


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Figura 8 – Exemplos de padrões de texturas


Fonte: Bourke. (2003)

As estruturas acima são imagens fractais, o que mostra a


adequabilidade do uso dos recursos computacionais na obtenção de fractais e
sua utilização na Arte Fractal.
Imagens fractais podem ser obtidas de duas formas: (a) através da
criação de programas utilizando aplicativos como o MATLAB, o MAPLE ou o
MATHEMATICA; (b) através de programas de uso específico como o
FRACTINT e ULTRAFRACTAL. O programa FRACTINT é muito popular por
uma série de razões. Dentre elas: (a) está gratuitamente disponível na Internet;
(b) é de fácil instalação; e (c) permite variadas formas de intervenções do
usuário. As intervenções mais comuns são as alterações nos padrões de cores,
textura e formas de fractais previamente apresentados. As Figuras 9 (a), (b) e
(c) ilustram procedimentos de intervenções em uma imagem fractal gerada no
FRACTINT.

(a) (b)

(c)

Figura 9 (a) Imagem original; (b) intervenção no padrão de cores; (c) intervenção na forma.

OS FRACTAIS EM SALA DE AULA


Os fractais, por sua multiplicidade de aplicações, constituem um tema
que abre excelentes perspectivas de interdisciplinaridade. A sua relação direta
com a matemática e com a computação, por exemplo, não deixa nenhuma
sombra de dúvidas sobre a necessidade de sua inclusão em estruturas
curriculares mais atualizadas. Esta preocupação tem levado muitos educadores
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a refletir sobre o tema e propor o ensino dos fractais como uma das novas
tendências em educação matemática.
E foi com esta visão que o professor Ruy Madsen Barbosa lançou
recentemente um pequeno livro intitulado “Descobrindo a geometria fractal para
a sala de aula”, onde discute a importância do ensino dos fractais na escola
básica e apresenta variados exemplos de geração heurística de figuras fractais
que podem ser concretamente produzidas por seus estudantes. Segundo
Barbosa (2002), existe inúmeras razões para a introdução do ensino dos
fractais nos atuais currículos escolares:
• Possui grande poder de interdisciplinaridade;
• Permite valiosa relação com a geometria tradicional, podendo servir
como agente altamente motivador para um estudo mais dinâmico dessa
geometria;
• Facilita o acesso aos computadores e às novas tecnologias da
informática nos seus vários níveis de escolarização;
• Vivencia a fruição do belo através do seu uso na construção de imagens
artísticas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
É reconhecido, nos meios artísticos e acadêmicos, que os avanços da
tecnologia sempre determinaram outras formas de arte, sendo a fotografia e o
cinema dois belos exemplos desta interação. E a arte fractal, como fica nesta
discussão toda? Cientistas e religiosos apontam relações entre os fractais e a
natureza, inclusive a humana, mostrando haver alguma ordem no que parece
caótico. O uso de equações matemáticas e de programas de computador
coloca em questão a arte fractal como uma nova fonte de produção artística.
Por outro lado, matemática e informática constituem dois dos mais
importantes paradigmas da ciência moderna e permitem a produção desta
nova área da geometria, que são os fractais. Daí, o grande questionamento:
por que não incluir o ensino dos fractais já no ensino básico? A sorte está
lançada.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARBOSA, Ruy Madsen.Descobrindo a Geometria Fractal: para a sala de aula.


Belo Horizonte: Autentica, 2002,142p.
BOURKE, Paul. An introduction to fractals. Disponível em:
<http://www.ipm.sci-nnov.ru/~DEMIDOV/Mset/contents.htm>. Acesso em: 18
jun. 2002.

LANIUS, Cynthia. Disponível em <www.math.rice.edu/~lanius/frac>. Acesso


em: 19 nov. 2003.

WALZ, A.F. Maple V introfractals. Disponível em:


<www.mat.utsa.ebu/mirrors/maple/mfrtn.htm>.. Acesso em: 21 nov.2003.

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