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As Escolas de Aprendizes Artífices - estrutura e evolução·

Manoel de Jesus A. Soares"

1. Criação e implantação; 2. O ensino de ofícios; 3. O curso de


letras e de desenho; 4. Cursos noturnos de aperfeiçoamento;
5. Corpo docente; 6. A direção das escolas; 7. A Escola Normal
de Artes e Ofícios Venceslau Brás.

As Escolas de Aprendizes Artífices se constituem, historicamente, no marco inicial


de uma pol ítica nacional do Governo federal no campo do ensino de ofícios.
Neste texto pretendemos traçar o perfil dessas escolas, no que diz respeito a sua
estrutura interna e sua evolução durante as três décadas de sua existência
(1909-1942), bem como apontar a significação e a importância que elas tiveram no
panorama geral do ensino no país, particularmente do ensino técnico - industrial
da época.

A análise do conjunto de leis, decretos, portarias e regulamentos, que oficialmente


dirigiram o funcionamento dessas escolas, nos permitiu dar conta de como elas
foram implantadas, bem como do conteúdo e das condições exigidas para o ensino
de ofícios, para o curso de letras e desenho, e para os cursos noturnos de aperfei-
çoamento, destinados estes a "melhorar o padrão de conhecimentos" do operário
já colocado. As medidas legais visando uma seleção cada vez mais rigorosa de
professores e mestres de oficina foram também objeto de nossas considerações,
bem como o cuidado que tiveram as autoridades, através de sucessivos decretos,
em corrigir as distorções administrativas das escolas, resultantes da improvisação
na escolha de seus primeiros diretores. A Escola Normal de Artes e Ofícios
Venceslau Brás surge, anos depois, como a providência que, de há muito, se fazia
necessária, ou seja, preparar convenientemente os docentes e os diretores para as
escolas.

Foram sobretudo os relatórios anuais dos diretores das escolas - condensados pelo
Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio e, a partir de 1930, pelo Ministé-
rio da Educação e Saúde - que, mesmo na precariedade de seus dados, nos forne-
ceram os elementos necessários para uma avaliação do funcionamento das Escolas
de Aprendizes Artífices durante seus 33 anos de existência.

• Este artigo dá continuidade ao publicado pelo mesmo autor em Forum Educacional, 5 (4):
69· 77, out./dez. 1981, sobre As Escolas de Aprendizes Artrfices e suas fontes inspiradoras .
•• Mestre em educação pelo IESAE/FGV; professor no IESAE/FGV.

Forum educ., Rio de Janeiro, 6(2): 58-92, jul./set. 1982


1. Criação e implantação

Pelo Decreto nç> 7.566, de 23 de setembro de 1909, Nilo Peçanha, Presidente da


República, criou, nas capitais dos estados da República, as Escolas de Aprendizes
Artífices, destinadas ao ensino profissional primário gratuito. O mesmo decreto
determinava que essas escolas seriam mantidas pelo Governo federal por intermé-
dio do Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio. 1

Na exposição de motivos do referido decreto considerava Nilo Peçanha "que o


aumento constante da população das cidades exige que se facilite às classes prole-
tárias os meios de vencer as dificuldades sempre crescentes da luta pela existência;
que para isso se torna necessário, não só habilitar os filhos dos desfavorecidos da
fortuna com o indispensável preparo técnico e intelectual, como fazê-Ios adquirir
hábitos de trabalho profícuo, que os afastará da ociosidade, escola do v ício e do
crime; que é um dos primeiros deveres do Governo da República formar cidadãos
úteis à Nação".

Já no in ício de 1910 punham-se em funcionamento, nas capitais dos estados, 19


Escolas de Aprendizes Artífices, cujas datas de inauguração vão de 19 de janeiro a
19 de outubro de 1910, como segue:

Escolas de Aprendizes Artífices Datas de inauguração


Do Piauí 1ç> de janeiro de 1910
De Goiás 1ç> de janeiro de 1910
De Mato Grosso 1~ de janeiro de 1910
Do Rio Grande do Norte 3 de janeiro de 1910
Da Paraíba 6 de janeiro de 1910
Do Maranhão 16 de janeiro de 1910
Do Paraná 16 de janeiro de 1910
De Alagoas 21 de janeiro de 1910
De Campos (RJ) 23 de janeiro de 1910
De Pernambuco 16 de fevereiro de 1910
Do Esp í rito Santo 24 de fevereiro de 1910
De São Paulo 24 de fevereiro de 1910
De Sergipe lI? de maio de 1910
Do Ceará 24 de maio de 1910
Da Bahia 2 de junho de 1910

1 Os assuntos relativos ao ensino profissional estavam entre as atribuições desse novo minis-
tério, criado pelo Presidente Afonso Pena, que, através do Decreto nC? 1.606, de 29 de dezem-
bro de 1906, sancionou resolução do Congresso Nacional nesse sentido.

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Do Pará 1C? de agosto de 1910
De Santa Catarina 1C? de setembro de 1910
De Minas Gerais 8 de setembro de 1910
Do Amazonas 1? de outubro de 1910 2

Nessa relação não consta o Rio Grande do Sul por já existir funcionando, na capi-
tal daquele estado, o Instituto Técnico Profissional da Escola de Engenharia de
Porto Alegre, mais tarde denominado Instituto Parobé. 3 Pelo Decreto n9 7.763 de
23 de dezembro de 1909 ficava entendido que "uma vez que em um estado da
República existia um estabelecimento do tipo dos de que trata o presente decreto
(Escolas de Aprendizes Artífices), custeado ou subvencionado pelo respectivo
estado, o Governo federal poderá deixar de instalar aí a Escola de Aprendizes
Artífices, auxiliando o estabelecimento estadual com uma subvenção igual à cota
destinada à instalação e custeio de cada escola".4

Esta relação mostra também que a Escola de Aprendizes Art ífices do Estado do
Rio de Janeiro não se localizou na Capital, mas em Campos, cidade natal de Nilo
Peçanha. Frente à recusa do Presidente do Estado do Rio de Janeiro, Oliveira
Botelho, em prestar o auxílio pedido para a instalação da escola, "a Câmara Muni·
cipal de Campos. , . pela Deliberação n<? 14, de 13 de outubro de 1909, resolvera
oferecer ao Governo federal o prédio necessário, que foi, afinal, aceito",S

Fonseca, Celso Sucko\lll da. História de ensino industrial no Brasil. Rio de Janeiro, Tip. da
Escola Técnica Nacional. 1961. v. 1, p. 169.

oInstituto Parobé era um dos seis institutos que, juntamente com outros estabelecimentos
de ensino, constituíam a Escola de Engenharia de Porto Alegre. Esse instituto tinha por finali·
dade "proporcionar, gratuitamente, aos meninos pobres e filhos de operários, uma educação
técnica e profissional capaz de habilitá·los a se tornarem operários e contramestres". O nome
Parobé dado ao instituto era uma homenagem ao professor João José Pereira Parobé, ex-dire·
tor da Escola de Engenharia de Porto Alegre e criador do ensino profissional técnico no Rio
Grande do Sul.

4 Decreto nC? 7.763, de 23 de dezembro de 1909, art. 17. Mais tarde, em 25 de outubro de
1911, o Decreto nC? 9.070 aplicava aquele dispositivo ao Instituto Parobé: "Fica mantido
como Escola de Aprendizes Artffices do Rio Grande do Sul o InStituto Técnico Profissional
da Escola de Engenharia de Porto Alegre, enquanto não for estabelecida a escola da União."
Esta escola nunca veio a existir.

Fonseca, Celso Sucko\lll da. op. cito p. 167. Em 1911, o Decreto nC? 9.070 prevê a criação
de uma escola de aprendizes artífices no Distrito Federal "logo que o Congresso habilite o
Governo com os meios necessários à sua instalação e manutenção". Em 1918 esse parágrafo
é transcrito para o novo Regulamento (Decreto nC? 13.064) - desta vez falando em escolas
(no plural) - e incorporado em 1926 pela Consolidação dos Dispositivos Concernentes às
Escolas de Aprendizes Art ífices. Na verdade nunca foram criadas Escolas de Aprendizes
Artífices no Distrito Federal.

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Foi certamente essa exceção feita ao Estado do Rio de Janeiro que deu origem ao
§ 21? do art. 1'? do Decreto n'? 7.763, de 23 de dezembro de 1909 (alteração do
Decreto nl? 7.566, de 23 de setembro de 1909), que diz: "Quando na capital não
houver edifício que apresente as condições do parágrafo anterior,6 poderá o
Governo criar a escola em outro município, uma vez que a respectiva municipali-
dade lhe ofereça prédio apropriado."

A finalidade dessas escolas era a formação de operários e contramestres, através


de ensino prático e conhecimentos técnicos necessários aos menores que preten-
dessem aprender um ofício, em "oficinas de trabalho manual ou mecánico que
forem mais convenientes e necessários ao Estado em que funcionar a escola, con-
sultadas, quanto possível, as especialidades das indústrias locais".7

Como parte integrante de cada Escola de Aprendizes Artífices foram criados dois
cursos noturnos 8 obrigatórios: um primário (para os analfabetos) e outro de
desenho ("para os alunos que carecem dessa disciplina para o exercício satisfatório
do ofício que aprenderem"). Mais tarde, a obrigatoriedade desses cursos se esten-
deu a todos os alunos: em 1911, o de desenho (pelo regulamento das escolas a que
se refere o Decreto nl? 9_070 de 25 de outubro de 1911) e, em 1918, o curso
primário (pelo regulamento aprovado pelo Decreto nl? 13.064 de 12 de junho de
1918), "obrigatório para todos os que não exibirem certificados de exame final
das escolas estaduais e municipais ... Quando o aluno já possuir alguns conheci-
mentos de qualquer dessas disciplinas, será admitido na classe correspondente ao
seu adiantamento" (art. 3'?).

A natureza e o número de ofícios a serem ministrados variariam, segundo a legis-


lação das escolas, de acordo com as exigências locais, ou seja, "conforme as con-
dições industriais do estado em que a escola funcionar".

Vários decretos-leis, portarias, instruções e regulamentos introduziram alterações


importantes no funcionamento e na regulamentação das Escolas de Aprendizes

6 Nesse parágrafo o decreto diz que "as escolas serão instaladas em edifícios pertencentes
à União existentes e disponrveis nos estados, ou em outros que pelos governos locais forem
cedidos permanentemente para o mesmo fim".
7 Decreto n9 7.763 de 23 de dezembro de 1909, art. 29.
8 Mais tarde, esses cursos passaram a funcionar durante o dia, reservando-se o turno da
noite para os cursos de aperfeiçoamento, criados pelo Decreto n9 13.064, de 12 de junho de
1918, e destinados aos operários que desejassem "completar seus conhecimentos". Ver item
4 deste texto.

Escolas de Aprendizes Artífices 61


Artífices. Em 1930, essas escolas saíram da jurisdição do Ministério da Agricultu·
ra, Industria e Comércio para a do Ministério da Educação e Saúde pública. 9

2. O ensino de ofícios

o decreto-lei que criou as Escolas de Aprendizes Artífices estabelecia que se insta-


lassem em cada uma delas até cinco oficinas de trabalho manual ou de mecânica,
"que forem mais convenientes e necessários no estado em que funcionar a escola,
consultadas, quanto possível, as especialidades das indústrias locais", As oficinas
se destinavam aos "menores que pretenderem aprender um ofício", ministrando-
lhes o "ensino prático e os conhecimentos técnicos" necessários à formação de
operários e contramestres, objetivo declarado das Escolas de Aprendizes
Artífices.' o

A instalação dessas oficinas (e de outras, "a juízo do Governo") ficava condiciona-


da à capacidade do prédio escolar e às "demais circunstâncias", O Regulamento
Pedro Toledo" (Ministro da Agricultura, Indústria e Comércio do Governo
Hermes da Fonseca), em 1911, acenava para a possibilidade de aumento do núme-
ro de oficinas, havendo pelo menos 20 candidatos a um novo ofício. Em 1918,
essa possibilidade é confirmada pelo Regulamento Pereira Lima' 2 (ministro da
Agricultura, Indústria e Comércio do Governo Venceslau Brás), observadas as con-
dições acima, desta vez cabendo ao diretor da escola o poder de criar as novas ofi-
cinas que se fizessem necessárias.' 3

Em 1926, estabeleceu-se um currículo padronizado para todas as oficinas, consti-


tuindo-se em um "denominador comum" para o ensino ministrado nas diferentes
escolas da União. Tratava-se da Consolidação dos Dispositivos Concernentes às
Escolas de Aprendizes Art ífices, promulgada por portaria do Ministro da Agricul-
tura, Miguel Calmon Ou Pin e Almeida, assinada em 13 de novembro de 1926. Ins-
pirada pelo Serviço de Remodelação do Ensino Profissional Técnico, cujo diretor
era o Engenheiro João Luderitz, a Consolidação regulava também o currículo dos
cursos primário e de desenho, obrigatórios, o primeiro para todos os que não
exibissem certificados de exame final das escolas estaduais ou municipais e o

9 Eram atribuições do novo ministério todos os assuntos relacionados à educação, até então
ligados ao Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio. Em 1937, aquele ministério passou
a chamar-se Ministério da Educação e Saúde e as Escolas de Aprendizes Artrfices, liceus
Industriais.
'o Decreto n9 7.566, de 23 de setembro de 1909, art. 29.
" Decreto n9 9.070, de 25 de outubro de 1911.
'2 Decreto-lei n9 13.064, de 12 de junho de 1918.

'3 Ibid. art. 99.

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segundo, para todos os alunos, excetuando-se aqueles que já possuíssem algum
conhecimento das disciplinas de que se compunham os dois cursos, os quais seriam
admitidos na classe correspondente ao seu adiantamento. 14

Já no seu art. 2?, a Consolidação estabelece um currículo para a aprendizagem nas


oficinas, prescrevendo, em primeiro lugar, para os dois primeiros anos, paralela-
mente aos cursos primários e de desenho, a aprendizagem de trabalhos manuais
como "estágio pré-vocacional da prática dos ofícios"; segundo, que "as seções de
oficios correlativos que compõem as diversas profissões, nove ao todo, criar-se-ão
à medida que se forem instalando os respectivos compartimentos". É a seguinte a
organização das seções determinada pela Consolidação (abrangendo as oficinas
ex istentes) :

a) Seção de trabalhos de madeira:

3? ano - trabalhos de vime, empalhação, carpintaria e marcenaria;


4? ano - beneficiamento mecânico da madeira e tornearia;
1? ano complementar - construções de madeira, em geral, de acordo com as
indústrias locais;
o
2. ano complementar - especialização.

b) Seção de trabalhos de metal:

3? ano - latoaria, forja e serralheria;


4? ano - fundição e mecânica geral e de precisão;
1? ano complementar - prática de condução de máquinas e motores e de eletro-
técnica;
2~ ano complementar - especialização.

c) Seções de artes decorativas:

3? ano - modelagem (inclusive entalhação) e pintura decorativa;


4? ano - estucagem, entalhação e formação de ornatos em gesso e cimento;

14 Cf. Consolidação dos Dispositivos Concernentes às Escolas de Aprendizes Artífices, art.


~. Já em 1923, o Serviço de Remodelação do Ensino Profissional Técnico havia apresentado
ao ministro um currfculo semelhante ao acima referido através do Projeto de Regulamento do
Ensino Profissional Técnico, que não conseguiu aprovação. Um outro item considerado impor·
tante do projeto era a defesa da tese, então polêmica, da "industrialização" das escolas, como
"necessária ao desenvolvimento da formação de aprendizes artífices, nos estabelecimentos
federais". Uma experiência já aplicada e aprovada pelos Liceus de Artes e Ofícios, destacando-
se ai o de São Paulo, assim como pela Prefeitura do Distrito Federal. Entretanto, somente
pela portaria acima referida introduziu-se a "industrialização" nas escolas federais e com ela o
funcionamento das oficinas fora das horas regulamentares, com os alunos e com pessoal
estranho. Sobre isto falaremos mais adiante. Cf. Luderitz, João. Relatório. Apresentado a
Miguel Calmon Du Pin e Almeida, Ministro da Agricultura, Indústria e Comércio. Rio de
Janeiro, Oficinas Gráficas da Lito - Tipografia Fluminense, 1925. p. 265.

Escolas de Aprendizes Art(fices 63


1? ano complementar - construção em alvenaria e cerâmica conforme as indús-
trias locais;
2? ano complementar - especialização.

d) Seção de artes gráficas:

3? ano - tipografia (composição manual e mecânica);


4? ano - impressão, encadernação e fotografia;
1? ano complementar - fototécnica ou litografia;
2? ano complementar - especialização.

e) Seção de artes têxteis:

3? ano - fiação;
4? ano - tecelagem;
1? ano complementar - padronagem e tinturaria;
2? ano complementar - especialização.

f) Seção de trabalhos de couro:

3? ano - obras de corrieiro;


4? ano - trabalhos de curtume e selaria;
1? ano complementar - obras artísticas e manufatura de couro;
2? ano complementar - especialização.

g) Seção de fabrico de calçados:

3? ano - sapataria comum;


4? ano - manipulação de máquinas;
1? ano complementar - fabrico mecânico de calçado;
2? ano complementar - especialização.

h) Seção de feitura do vestuário:

3? ano - costura à mão;


4? ano - feitura e acabamento;
1? ano complementar - moldes e cortes;
2? ano complementar - especialização.

i) Seção de atividades comerciais:

3? ano - dátilo - estonografia;


4<;> ano - arte do reclamo e prática de contabilidade;
1? ano complementar - escrituração mercantil e industrial;
2? ano complementar - especialização.

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Concluindo seu art. 2<;>, a consolidação determina que nenhuma oficina poderá
ser criada "sem que se adapte e obedeça" à seriação delineada na organização
acima transcrita. 15

A falta de um currículo uniforme para as Escolas de Aprendizes Artífices antes de


1926 foi duramente criticada pelo Serviço de Remodelação I 6 e considerada por
João Luderitz, no seu Relatório l 7, como um dos motivos do mal funcionamento
das escolas até então. Os dois regulamentos das Escolas de Aprendizes Artffices até
então promulgados,I8 na sua "excessiva liberdade", nada fixavam e nada diziam
sobre as matérias a serem ensinadas e sobre o modo de lecioná-Ias. Neste sentido,
nada mais fizeram que indicar "vagamente" que haveria em cada estabelecimento,
para realizar o objetivo intentado (formar operáriose contramestres). "as oficinas
de trabalho manual ou mecânico, que fossem mais convenientes aos estados,
consultadas as especialidades das indústrias locais" e que "haveria em cada Escola
de Aprendizes Artífices dois cursos, o de desenho obrigatório para todos os alunos
e o primário, obrigatório para todos os que não exibissem certificados de exame
final nas escolas estaduais ou municipais". Além disso, limitavam esses regulamen-
tos o número de oficinas a cinco para cada escola, facultando, porém, a criação de
outras, sob proposta do diretor. Previam que "o diretor, de acordo com os profes-
sores e mestres de oficinas, tendo em vista as condições climatéricas do lugar em
que funcionasse a escola, marcaria o ano letivo e organizaria o horário das aulas e

15 O currículo geral, de que essa seriação é apenas um item (referente exclusivamente à apren-
dizagem de ofícios), é apresentado no art. 5Ç> da Consolidação, o qual será transcrito mais
adiante, neste texto.
16 Trata-se do Serviço de Remodelação do Ensino Profissional Técnico, a que já nos referimos
anteriormente_, Criado em 1920, sob a forma de comissão, pelo Ministro IIdefonso Simões
Lopes, por sugestão do Diretor de Indústria e Comércio, Araujo Castro, esse serviço tinha por
finalidade "examinar o funcionamento das escolas e propor medidas que remodelassem o
ensino profissional, tornando-o mais eficiente", Além dos programas de ensino que, pela sua
diversificação, estavam comprometendo a unidade das escolas, à remodelação cabia a cons-
trução de prédios escolares "adequados aos fins que se tinham em vista", a substituição dos
mestres de of(cio que, "na maioria, não se mostravam à altura da missão", bem como um
melhor aparelhamento das oficinas, Diante da inexistência no país de livros técnicos em por-
tuguês, para uso nas escolas profissionais, esse serviço incluiu, mais tarde, em seu programa, a
tarefa de elaborar compêndios relativos à tecnologia de ofícios, Tendo à frente o Engenheiro
João Luderitz, o Serviço de Remodelação se constituiu, a partir de 1921, de administradores e
mestres (ex-alunos) do Instituto Parobé da Escola de Engenharia de Porto Alegre, Extinto em
1930 pelo Governo Provisório, como veremos adiante, a remodelação deu lugar à Inspetoria
de Ensino Profissional Técnico, dependência do então recém-criado Ministério da Educação e
Saúde Pública, Cf, Fonseca, Celso Suckow da. op. cito p. 187-91,207 e segS.; sobre a criação e
as realizações do Serviço de Remodelação, cf. Luderitz, João. Relatório op. cito p. 143 e segs.
17 Luderitz, João, op. cito p. 143-4.

18 O primeiro, pelo Decreto-lei nÇ> 9.070, de 25 de outubro de 1911 (Hermes da Fonseca e


Pedro Toledo); e o segundo, pelo Decreto-lei nÇ> 13.064, de 12 de junho de 1918 (Venceslau
Brás e Pereira Lima!.

Escolas de Aprendizes Artífices 65


oficinas, submetendo o seu ato à aprovação do diretor-geral de Indústria e Co-
mércio",

Para João Luderitz, esse programa educativo fixado pelo regulamento então em
vigor (refere-se ao de 1918) conferia excessiva liberdade aos diretores das escolas,
deixando ao seu livre arbítrio "mandar lecionar o que lhes parecesse conveniente e
dar as aprendizagens de oficinas que supusessem adaptadas ao fim intentado", E
explica :

"Se os diretores tivessem sido, todos, homens de longa prática em questões de en-
sino e administração de oficinas, se fossem eles mesmos professores e técnicos,
compreender-se-ia a liberdade que lhes confere o regulamento, Mas infelizmente as
coisas não se passaram deste modo_ Com raras e honrosíssimas exceções, esses
administradores não eram profissionais e não entendiam e não queriam entender
do movimento industrial de uma oficina e muito menos procuravam utilizar as
aprendizagens práticas dos oUcios, quanto ao seu valor educativo (o que aliás é o
problema mais complexo que pode ter a enfrentar um diretor de escola profis-
sional, pois requer prática pessoal de tecnologia, de desenho industrial e dos pro-
cessos de fabricação)",19

Para Luderitz, pois, a excessiva liberdade que o programa educativo das escolas
conferia a diretores e mestres despreparados 2 o foi responsável pelo mal funciona-
mento das escolas, tornando-se simples "escolas primárias, em que se fazia alguma
aprendizagem de trabalhos manuais e onde, havendo alunos dedicados e capricho-
sos, tinha-se podido conseguir, à force de faire e muito boa vontade, adestrar
alguns operários", 21

Foi, certamente, com base nesse diagnóstico, que o Serviço de Remodelação, diri-
gido por João Luderitz, havia apresentado, em 1923, ao ministro da Agricultura,
Indústria e Comércio, .0 Projeto de Regulamento do Ensino Profissional Técnico,
que tinha como um dos principais objetivos oficializar uma proposta curricular
baseada num "critério novo na maneira de fazer a aprendizagem dos ofícios",

19 Luderitz, João. op. cito p. 144 (grifos do autorl.


20 "As indicações dos oHcios a serem ensinados nas diversas escolas não obedeceram a
nenhum critério industrial, nem tampouco visavam adaptabilidade às indústrias locais. Os
cargos de mestre foram preenchidos pelo mesmo sistema, de modo que o que existe de mes-
trança, não só não corresponde às necessidades de uma produção de oficina como, feitas as
distinções individuais, constitui, em matéria de ensino das profissões, um completo desastre.
Até inválidos exerceram as funções de mestre de oficina" (id. ibid.l.
21 Id. ibid.

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Essa proposta - que já vinha sendo posta em prática desde 1920 pelo Serviço de
Remodelação, "à medida que as instalações das oficinas permitiam" - consistia
basicamente no seguinte:

o currículo passava a ser de seis anos, distribuídos em dois tipos de curso: O


"curso de adaptação" (três anos), preparatório para os três anos seguintes, o
"curso técnico profissional". Nos dois primeiros anos, enquanto eram alfabetiza-
dos, os alunos faziam trabalhos de couro e tecidos; no terceiro, dedicavam-se aos
trabalhos manuais de madeira, chapa de metal e massa plástica; nos três últimos
anos, exercitavam-se em latoaria, serralheria, forja, fundição, mecânica, trabalhos
em madeira e artes gráficas e decorativas. Assim, os três anos do curso de
adaptação estavam destinados à alfabetização e aos trabalhos manuais; enquanto o
curso técnico, tendo como objetivo ministrar aos alunos a educação técnico-profis-
sional, conferia-lhes as seguintes especializações, de acordo com a seção escolhida:
marceneiros, entalhadores ou carpinteiros aos que se tivessem destinado ao setor
de madeira; funileiros, serralheiros-forjadores, mecânicos ou fundidores àqueles do
grupo metal; impressores ou compositores aos das artes gráficas e modeladores ou
estucadores aos que tivessem preferido as artes decorativas. 22

A falta de um curdculo único até o advento da Consolidação não impediu que


houvesse um certo consenso quanto à natureza dos ofícios ensinados pelas várias
escolas distribu ídas pelos estados da União, entre 1912 e 1926. A tabela 1 mostra
esse consenso e se aproxima do currículo que se tornou lei pela Consolidação dos
Dispositivos Concernentes às Escolas de Aprendizes Artífices, de 13 de novembro
de 1926. Ou seja, o padrão da especialidade dos ofícios ensinados nas escolas se
manteve praticamente o mesmo até 1926, quando se instalou o currículo único.

22 Cf. Projeto de Regulamento do Ensino Profissional Tflcnico. TItulo 111, capo 1. In: Luderitz,
João. Relatório. op. cito t. 3, capo 1, p. 265-9. Esse projeto inclu ra ainda outras medidas de
grande alcance, tais como a "industrialização" das escolas (como motivação para a aprendi-
zagem), a criação nelas de seções de interesse feminino, novas bases para a formação de profes-
sores, mestres e contramestres, bem como a criação de uma Inspetoria do Ensino Técnico Pro-
fissional, "6rgão central destinado a dar estrutura uniforme a todas as escolas e mant&-Ias
fiscalizadas e articuladas". Esse 6rgfo s6 foi criado mais tarde, pelo Decreto n9 19.560, de 5
de janeiro de 1931, art. 96, ai rnea li, em substituição ao Serviço de Remodelação do Ensino
Profissional Técnico, extinto pelo Governo Provisbrio em 1930. Como dependência do Minis-
tério da Educação e Saúde Pública, foi essa inspetoria regulamentada no mesmo ano de sua
criação pelo Decreto n9 21.353. Sua atribuição principal era "a direção, orientação e fiscali-
zação de todos os serviços relativos ao ensino profissional técnico" (Escolas Aprendizes Artí·
fices e demais estabelecimentos ou instituições que recebessem subvenção, prêmio ou auxnio
do Gollerno federal por ministrarem ensino profissional I. A direção da Inspetoria foi entregue
ao Eng9 Francisco Montojos, que continuou no cargo mesmo após a transformação da inspe-
toria em Superintendência do Ensino Profissional, em 1934 (Decreto n9 24.558 de 3 de
julhol. Mais tarde, em 1937, com a extinção da superintendência, cujos encargos passaram
para a Divisfo do Ensino Industrial (Lei n9 378 de 13 de janeiro), Montojos passou a diretor
do Ensino Industrial.

Escolas de Aprendizes Artífices 67


Tabela 1

Número de oficinas nas Escolas de Aprendizes Art{fices, segundo especialidades - 1912, 1916, 1922, 1926

Pintu-
Mar- Car- Fu- Me- Sa- Enca- Ouri- Ele- Mo-
Fer- Serra- Fun- Sela- Alfaia- Torne- Escul- ra de-
Ano cena- pin- nila- câni- pata- derna- vesa- trici- dela- Metais
raria Iheria dição ria taria aria tura cora-
ria taria ria ca ria ção ria dade gem
tiva
~~

1912 16 6 8 6 4 3 16 3 14 4 3 2 2

1916 16 5 8 8 2 3 3 17 4 17 4 3 2

1922 17 7 10 7 2 3 3 15 4 17 5

1926 17 7 8 11 2 4 3 15 3 17 6

Fonte: Relat6rios do Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio (1912 - 19261.


Quanto ao regime escolar a Consolidação nos trouxe grandes inovações. Sem alte-
rar substancialmente dispositivos anteriores, o novo regulamento estabelecia que o
aprendizado das oficinas levaria quatro anos, podendo o aprendiz permanecer
ainda na escola por mais dois anos, caso n50 tivesse conclurdo o curso no tempo
previsto por este regulamento. 23 Estabelecendo o ano escolar em 10 meses, deter·
minava ainda a Consolidação que "os trabalhos de oficinas e manuais n50 poderão
exceder de quatro horas por dia para os alunos dos 1? e 2? anos e de seis horas
para os de 3? e 4?,,24 A elaboração do horário das oficinas e das aulas - a cargo
do diretor,2S de acordo com os professores e mestres de oficinas e tendo em vista
as condições climatéricas do lugar em que funcionasse a escola - deveria ser orga·
nizado de maneira que, nos três primeiros anos, as aulas do curso primário fossem
dadas pela manhã e as de desenho e trabalhos manuais à tarde.

,Sob proposta do diretor, permitia a Consolidação, que o número de cinco oficinas


previsto para cada escola poderia ser alterado para mais, desde que houvesse dispo-
nibilidade de espaço no respectivo ediHcio e pelo menos 20 candidatos à aprendi·
zagem de novo oHcio. A capacidade de cada oficina determinaria o número de
alunos a serem matriculados, sendo facultada a cada aluno a aprendizagem de
apenas um oHcio, "consultada a respectiva tendência e aptidão".2 6

Quanto aos programas para os cursos e oficinas, determinava a Consolidação que


fossem formulados pelos professores e mestres de oficinas, adotados provisoria·
mente pelo diretor e submetidos à aprovação do ministro. 2 7 Entretanto, é ao Ser-
viço de Inspeção do Ensino Profissional Técnico, através do seu encarregado
sediado na Capital Federal, que competirá "promover e elaborar a organização e 8
revisão dos programas, regimentos internos, horários, projetos de construção e

23 Esta última cláusula (permisslo para o aluno fazer o curso em até seis anos' s6 aparece em
1918 (regulamento a que se refere o Decreto n913.064 de 12 de junho de 1918', nada cons-
tando sobre o assunto nas Instruções de 1909 (Decreto n9 7.763', nem no Regulamento de
1911 (Decreton99.0701.
24 Cf. Consolidação, cito art. 49 e 59. Essa discriminação quanto ao número de horas para as
aulas nas oficinas já havia aparecido com igual formulação no Regulamento de 1911. As ins-
truções de 1909 determinavam que "o aprendizado das oficinas será de três horas por dia".
2S Ibid. art. 59. Essa prerrogativa concedida ao diretor da escola (marcar o ano letivo e orga-
nizar o horário das aulas e oficinas' já constava do Regulamento de 1911, porém sob a con-
dição de "submeter o seu ato à aprovaçfo do ministro". No de 1918, a aprovaçlo compete ao
diretor.geral de Indústria e Comércio. Nas Instruções de 1909, o art. 17 diz apenas o seguinte:
"O ano escolar abrangerá o espaço de 10 meses, marcados pelo diretor da escola, de acordo
com as condições climatéricas do Estado".
26 Estas normas já constavam dos regulamentos anteriores.
27 Consolidação. cito ano 23.

Escolas de Aprendizes Artífices 69


instalação e de execução de serviços de aprendizagem escolar, para as diversas
escolas acima citadas e submetê-los à aprovação superior".28

Destinadas aos menores, "preferidos os desfavorecidos da fortuna", 2 9 as escolas


exigiam dos seus candidatos, como condição para a matrfcula, os seguintes requi-
sitos:

1. idade de 10 anos no mínimo e 16 no máximo;30

2. não sofrerem de moléstia infecto-contagiosa;

3. não terem defeitos físicos que o inabilitem para o aprendizado do ofício_

Uma outra medida nova e de grande alcance trazida pela Consolidação dos Dispo-
sitivos Concernentes às Escolas de Aprendizes Artrfices foi a "industrialização"
das escolas. 3 1 Apresentada pela primeira vez 32 pelo Projeto de Regulamento do
Ensino Profissional Técnico (que a incluía entre os seus principais itens), a tese da
"industrialização" das escolas aparecia agora como uma vitória dos que a«jefen-
diam como motivação para a aprendizagem (aprender fazendo trabalhos de utili-
dade imediata) contra os que a combatiam alegando a difícil conciliação entre a
aprendizagem e a produção, pois esta acabaria por se impor àquela, o que detur-
paria a finalidade das escolas, e as indústrias sofreriam uma concorrência feita em
desigualdade de condições. Já para João Luderitz - que considerava a "industriali-

28 Ibid. art. 37.


29 Essa "preferência" dada aos "desfavorecidos da fortuna" está presente nos três regulamen-
tos anteriores à Consolidação. Antes de tudo, ela aparece na exposição de motivos do Decreto
Nilo Peçanha que criou as Escolas de Aprendizes Artífices, em 1909.
30 Este requisito variou ao longo dos anos, da seguinte maneira: Os Decretos n9s 7.566
(criação das escolas) e 7.763 de 1909 (Instruções alterando o decreto anterior) exigiam idade
de 10 anos no mínimo e 13 anos no máximo; o Decreto n9 9.070 de 1911 (regulamento):
idade de 12 anos no mínimo e 16 no máximo; o Decreto n9 13.064 de 1918 (regulamento):
idade de 10 anos no mínimo e 16 no máximo.
31 Cf. art. 21 - um dos artigos mais longos da Consolidação - que trata da constituição da
renda das escolas ("o produto dos artefatos que saírem das suas oficinas e o das obras e con-
sertos por ela realizados)", sua arrecadação e distribuição. Veremos mais adiante o significado
para as escolas dessa nova medida tomada pela Consolidação.
32 No âmbito estadual e municipal a "industrialização" no ensino profissional já era uma
experiência: nos Liceus de Artes e Ofícios, particularmente no de São Paulo, bem como em
escolas mantidas pela Prefeitura do Distrito Federal. Cf. Fonseca, Celso Suckow da. op. cito
p. 191. Segundo Luderitz, no Liceu de Artes e Oficios de São Paulo, cujos dirigentes há muito
"enveredaram decididamente para a produção industrial intensificada", as oficinas produziam
anualmente mais de 2.000 contos de móveis, mais de 500 de artefatos de bronze artístico e
outros tantos de cerâmica fina. op. cito p. 182.

70 Forum 3/82
zação" das aprendizagens escolares como um dos três pontos básicos na reforma
33
do ensino profissional técnico - eram duas as razões pelas quais se justificava

que a produção das oficinas das Escolas de Aprendizes Artífices devesse ser vendá-
vel, "como produto de comércio, bem acabado e barato", Assim se expressa ele
em 1924:

", _ , a primeira (razão) é de natureza técnica, visto não ser possível que um aluno
art{fice, nem tampouco artista, aprenda a arte ou o ofício, sem nele praticar, tal
qual como dele se va i exigir na concorrência da vida real, isto é, fazendo obra
perfeita, no mínimo tempo possível; sem tal adestramento sairia da escola um
simples curioso e nunca um aspirante a profissional; a segunda, é de ordem econô-
mica, por não se poder exigir nas atuais condições de dificuldade de vida, que tem
de enfrentar o pobre e mesmo o remediado, não se poder, dizia-se, exigir que os
pais consintam aos filhos permanecerem na escola além dos 12 anos; com esta
idade não se tendo a felicidade de fazer do filho um doutor, mandando-o para os
cursos secundários, de humanidades, exige-se dele que comece a ganhar a vida,
empregando-se, alguns mesmo em misteres subalternos" _34

Para o encarregado do Serviço de Remodelação, o ensino industrial requeria a per-


manência do aluno na escola, "pelo menos por mais dois ou três anos, além do
período de desanalfabetização, isto é, até os 15, aproximadamente", E, "se se
quiser ter alunos nas Escolas de Aprendizes Artífices, será preciso que possam
ganhar alguma coisa, salários ou pagamentos por tarefa, isto é, porém, de acordo
com as suas capacidades produtivas e nunca por diárias, as quais outro efeito não
teriam senão viciar o aluno na vida de funcionários, com vencimentos certos", 35

33 Os outros dois pontos eram "o regulamento adequado" e recursos orçamentários para
melhorar as instalações.
34 Luderitz, João. Relatório. op. cito p. 174.
35 Id., ibid., Luderitz tenta mostrar aqui as vantagens da "industrialização" das escolas
sobre o regime das "Associações Cooperativas e de mutualidade, entre os alunos das Escolas
de Aprendizes Artffices", criadas pela Portaria de 7 de agosto de 1912, organizadas de acordo
com o art. 27 do Regulampnto Pedro Toledo aprovado pelo Decreto nÇ> 9.070, de 25 de outu-
bro de 1911. Organizadas pelos diretores das escolas, as associações cooperativas e de mutuali-
dade tinham como finalidade "promover e auxiliar todas as medidas tendentes a facilitar a
produção das oficinas e aumentar-lhes a renda, sem prejuízo do ensino", bem como melhorar
os trabalhos executados, socorrer os sócios nos casos de acidentes e moléstias, até seis meses
em cada ano; desenvolver o sentimento de solidariedade entre os alunos e prover as despesas
de enterro de sócios; no final do curso, entregar aos sócios um pecúlio em dinheiro, não exce-
dente de 50% das contribuições feitas, além das ferramentas indispensáveis ao desempenho do
ofício. Os fundos da associação eram constituídos, dentre outras contribuições, pelas diárias
dos alunos do 1Ç> e 2Çl anos (os alunos de 3Ç> e 4Ç> anos, que percebiam diárias maiores, não
eram obrigados a contribuir para a caixa de mutualidade), pela percentagem de 5% sobre a
renda I íquida das oficinas e por aux (lios governamentais. Cf. Instruções, aprovada pela Porta-
ria de 7 de agosto de 1912. Mais tarde, o Congresso suspendeu as dotações previstas pelo regu-
lamento das caixas de mutualidade, alegando falta de verbas, o que é interpretado por
Luderitz como coibição ao "abuso havido com as diárias aos alunos ... " (id" ibid.l.

Escolas de Aprendizes Artifices 71


A "industrialização", enfim introduzida nas escolas pela Consolidação, consistia
fundamentalmente em autorizar os diretores a aceitar encomendas das repartições
públicas, ou dos particulares, se quem as fizesse fornecesse a matéria-prima e
pagasse à própria escola a mão-de-obra e as despesas acessórias. Em certos casos,
entretanto, "a juízo do diretor, a escola, se dispuser da matéria-prima, poderá
realizar empreitada, assim de lavor como de fornecimento de matérial".3 6 Pagar-
se-iam as horas de trabalho dos alunos, e aos mestres e contramestres uma porcen-
tagem, como remuneração do trabalho fora das horas regulamentares. Da renda
provável da encomenda seria deduzida a quota de 8% para distribuição, a juízo do
diretor, com o pessoal administrativo, empregado na escrituração especial e demais
trabalhos extraordinários conseqüentes do serviço industrial da escola. O lucro da
escola seria calculado em "20% no máximo ... sobre os preços de custo da
obra".37

Assegurada a preferência aos alunos e ex-alunos das escolas de.ensino profissional


técnico do ministério "nas empreitadas ou tarefas para que tenham aptidão
especial", a Consolidação autorizava as escolas a admitir diaristas ou tarefeiros
estranhos à escola, 3 8 quando o vulto ou a urgência da encomenda o exigisse. Tal
admissão era da responsabilidade do diretor e do mestre da respectiva oficina,
correndo o pagamento pelas quotas de mão-de-obra constante do orçamento. 3 9

Oficializada assim a "industrialização" nas Escolas de Aprendizes Artífices, ficava


admitido, por lei, o funcionamento das oficinas fora das horas regulamentares,
com os alunos e com pessoal estranho.

Essa medida da Consolidação - a oficializa:-ão da "industrialização" das oficinas


- foi considerada, mais tarde, por Francisco Montojos, então diretor da Inspetoria
do Ensino ;-écnico Profissiànal, como a solução, ao lado da instituição da merenda
escolar (portaria de 26 de setembro de 1922), do grande problema da evasão de
aprendizes, da pressa com que os alunos abandonavam o ensino, "mal soubessem

36 Consolidação ... cit art. 21, § 29, inciso I.


37 Ibid., inciso 11. "Independente de encomendas. o diretor poderá mandar que se executem
dentro das horas do trabalho ordinário obras industriais à conta dos créditos orçamentários da
escola" libid., inciso V).
38 Esta autorização já constava da Lei n9 4.632 de 6 de janeiro de 1923, que fixava a despesa
geral da República para o exerc(cio de 1923: "A Escola Normal Wenceslau Brás e as Escolas
de Aprendizes Art(fices poderão admitir operáriOS para o preparo de encomendas, percebendo
estes o salário que for convencionado, a ser pago por conta dos 70% da renda aplicáveis por
parte de cada escola na compra de matéria-prima para as suas oficinas, não sendo concedidas
outras vantagens aos aludidos operários tarefeiros ... " (art. 83).
39 Ibid. inciso VIII.

72 Forum 3/82
fazer alguma coisa no ofício, cuja aprendizagem apenas esboçaram", provindo isso
da "conhecida falta de meios da maioria dos rapazes que procuram esses educan-
dários, cujos pais precisam deles para o sustento do lar". E acrescenta Montojos:
n. _ • é óbvio que estes últimos (os aprendizes) não irão procurar, fora, ganho que

melhormente conseguirão na própria escola. A industrialização tem assim um trí-


plice fim pedagógico, utilitário e social, pois prolonga a aprendizagem do aluno,
aumenta neste o amor ao trabalho, pelo lucro imediato e o põe em contato com a
indústria, o comércio e o público em geral, com as honras de operário eficiente.
Impossível maior fonte de emulação".40

3. O Curso de Letras e de Desenho

Ao lado das oficinas, o ensino de letras e desenho era parte essencial da estrutura
das Escolas de Aprendizes Artífices, "destinadas ao ensino profissional primário e
gratuito". As instruções a que se refere o Decreto n?7.763, de 23 de dezembro de
1909 estabeleciam que o ensino dessas escolas, que seria de quatro anos, compre-
enderia: o aprendizado de oficinas, o curso primário e o de desenho. 41

Ao contrário do que aconteceu com relação ao ensino nas oficinas,4 2 já constava


no primeiro regulamento das escolas um roteiro curricular para os cursos primários
e de desenho: 1) o curso primário, que funcionaria das cinco horas da tarde às oito
da noite, teria por fim o ensino de leitura e de escrita, o de aritmética até regra de
três, noções de geografia do Brasil e o de gramática elementar da língua nacional;
2) o curso de desenho, que também funcionaria das 17 horas às 20 horas,
compreenderia o ensino de desenho de memória, do natural, de composição deco-
rativa, de formas geométricas e de máquinas e peças de construção, obedecendo

40 Montojos, Francisco. A inspetoria do ensino profissional técnico. Boletim do Ministério da


Educação e Saúde Pública, 1 (1/21: 22-3, jan./jun. 1931.
41 Os cursos primário e de desenho passaram por algumas alterações ao longo do tempo, de
acordo com os sucessivos decretos e regulamentos: primeiro, quanto ao turno: concebidos, de
inicio, como cursos noturnos (cf. os dois decretos de 1909 e as instruções de 19101, passaram
pouco tempo depois para o turno da tarde (cf. regulamentos de 1911, 1918 e Consolidação,
19261; segundo, quanto a sua obrigatoriedade: de inicio, obrigat6rio para os alunos que não
soubessem ler, escrever e contar, o curso primário continuou obrigat6rio para todos os que
não exibissem certificados de exame final das escolas estaduais e municipais; o de desenho
continuou obrigat6rio para todos os alunos. Acrescente-se, entretanto, a seguinte ressalva do
regulamento de 1918: "quando o aluno já possuir alguns conhecimentos de qualquer dessas
disciplinas, será admitido na classe correspondente ao seu adiantamento" (art. 391.
42 Sobre o que se deveria ensinar nas oficinas as instruções de 1909 diziam apenas: "O apren-
dizado de oficinas ... versará sobre as diversas artes manuais e mecânica, de acordo com as
condiç~es locais, a juizo do diretor da escola e mediante aprovação do ministro" (art. 39,
§ 191.

Escolas de Aprendizes Artífices 73


aos métodos mais aperfeiçoados. 43 E, como apêndice ao currículo do curso pri·
mário, acrescentavam as instruções "noções de educação cívica":

a) uma vez por mês, explicações sobre a constituição política do Brasil, tornando-a
bem conhecida dos alunos, assim como os mais salientes propagandistas da Repú-
blica, e aqueles que mais contribuíram para a sua proclamação; b) nos dias de festa
nacional, preleções sobre os acontecimentos neles comemorados; c) sempre que
houvesse oportunidade, notícias biográficas dos grandes homens do Brasil, sobre-
tudo dos que se celebrizaram na agricultura, indústria e no comércio. 44

o roteiro acima, apresentado pelas instruções de 15 de janeiro de 1910, serviria de


base para a organização dos programas, inicialmente a cargo do diretor da escola,
"de acordo com os professores dos cursos primários e de desenho e os mestres das
oficinas", sujeitos à aprovação do ministro. 4 S Já nos regulamentos de 1911 e
1918, a "formulação" dos programas para os cursos e oficinas vai ser confiada aos
professores e mestres de oficinas, devendo ser adotadas provisoriamente pelo
46
diretor e submetidas à aprovação do ministro.

Em 1926, entretanto, a legislação, através da Consolidação, voltou a confiar ao


diretor da escola, de acordo com os professores e mestres de oficinas e tendo em
vista as condições climatéricas do lugar em que funcionar a escola, a marcação do
ano letivo e a organização do horário das aulas e oficinas, desta vez submetendo o
seu ato à aprovação do diretor geral de. Indústria e Comércio. 47 Além disso, o
novo regulamento estabelecia que a organização do horário deveria ser feita de
maneira que, nos três primeiros anos, as aulas do curso primário fossem dadas pela
manhã e as de desenho e trabalhos manuais à tarde. Estatura ainda que o ensino
fosse ministrado em aulas teóricas e práticas de duração nunca inferior a 50 minu-
tos, de acordo com a seguinte discriminação: 4 8

1f? ano A ulas por semana

Leitura e escrita 8
Caligrafia 2

43 Instruções ... cito art. 39 §§ 2C? e 39.


44 Ibid., art. 59.
4S Cf. os dois decretos de 1909 e as instruções de 1910 (citadosl.
46 Cf. Decretos n9s 9.070, de 25 de outubrode1911,e 13.064, de 12 de junho de 1918.
Nesses dois decretos já não aparece o roteiro curricular acima referido, contido nas instruções.
47 Consolidação ... cito art. 59, parágrafo único.
48 Ibid. incisos 11 e 111.

74 Forum 3/82
Contas 6
Lição de coisas 2
Desenho e trabalhos manuais 15
Ginástica e canto 3
Total 36

;zt? ano Aulas por semana


Leitura e escrita 6
Contas 4
Elementos de geometria 2
Geografia e história pátria 2
Caligrafia 2
Instrução moral e cívica
Lição de coisas 2
Desenho e trabalhos manuais 16
Ginástica e canto 3
Total 38

:P ano Aulas por semana

Português 3
Aritmética 3
Geometria 3
Geografia e história pátria 2
Lição de coisas 2
Caligrafia 2
Instrução moral e cívica 1
Desenho ornamental e de escala 8
Aprendizagem nas oficinas 18
Total 42

4t? ano Aulas por semana

Português 3
Aritmética 3
Geometria 3
Rendimentos de física 2
Instrução moral e cívica 1
Desenho ornamental e de escala 6
Desenho industrial e tecnologia 6
Aprendizagem nas oficinas 24
Total 48

Escolas de Aprendizes Artífices 75


19 ano complementar Aulas por semana

Escrituração de oficinas e correspondência 4


Geometria aplicada e noções de álgebra e de
trigonometria 4
Física experimental e noções de química 4
Noções de história natural 3
Desenho industrial e tecnologia 9
Aprendizagem nas oficinas 24
Total 48
P. ano complementar A ulas por semana

Correspondência e escrituração de oficinas 3


Álgebra e trigonometria elementar 2
Noções de física e química aplicada 3
Noções de mecânica 2
História natural elementar 2
Desenho Industrial e tecnologia 9
Aprendizagem 27
Total 48

o item "Desenho e trabalhos manuais", constante no currículo acima, dos progra-


mas dos dois primeiros anos, a ser ministrado paralelamente ao curso primário, se
constituía, segundo a Consolidação, em estágio pré-vocacional da prática dos
ofícios. 49 Enquanto que o item Aprend izagem nas oficinas, nos programas do
39 e 49 anos e no 19 ano complementar, significava propriamente a aprendizagem
de ofícios, conforme discriminação da própria Consolidação em Sessões de ofícios
correlatos (nove ao todo) compondo as diversas profissões. 5o Por sua vez, o item
"Aprendizagem" (27 aulas por semana), constante do 29 ano complementar, indi-
cava esta última série do curso como o momento da especialização na aprendiza-
gem dos ofícios. 51

Como uma novidade de grande relevância introduzida na legislação das Escolas de


Aprendizes ArHfices, o currículo único, universal e obrigatório, vinha responder à
necessidade de "normas exatas do que se devia ensinar nesses educandários", em
substituição ao "livre arbítrio dos diretores" que mandavam lecionar o que lhes
parecia conveniente. 5 2

49 Consolidação ... cito art. 29, inciso I.


50 Ibid. Ver o curdculo das oficinas, neste texto, à pâg. 63.
51 Ibid.

52 Luderitz, João. op. cit. p. 143.

76 Forum 3/82
4. Cursos noturnos de aperfeiçoamento

Uma das novidades trazidas para as Escolas de Aprendizes Artífices pelo regula-
mento de 1918 53 foi a criação dos cursos noturnos de aperfeiçoamento, "permi-
tindo assim que os operários completem seus conhecimentos, de maneira a pode-
rem auferir maiores resultados do seu trabalho. Releva, aliás, salientar que a matrí-
cula na'o ficou restrita aos operários. Antes, tendo sempre em vista a vantagem do
alargamento da campanha contra o analfabetismo, faculta ainda o ingresso a todos
aqueles que o desejarem, uma vez por estes atingida a idade de 16 anos. Dessa
maneira, quem por excesso de idade encontrar fechadas as portas dos cursos
diurnos nem por isso ficará privado dos meios de aperfeiçoar suas aptidões artísti-
cas deparando-se-Ihe, para tanto, os cursos noturnos, organizados a bem dizer,
como útil complemento dos primeiros",5 4

Criados pelo novo regulamento, no seu art. 43, os dois cursos noturnos de aperfei-
çoamento (primário e de desenho) eram "destinados principalmente a ministrar
aos operários conhecimentos que concorram para torná-los mais aptos nos seus
of(cios". S S

Para esses dois cursos de apenas duas horas diárias, nem o regulamento nem a
Consolidaça'o apresentavam um currículo escolar especial. Remetia sobre o assun-
to, a seu art. 23 que autorizava os professores e mestres de oficina a elaborar os
programas a serem adotados provisoriamente pelo diretor e que deveriam ser
submetidos à aprovação do ministro. A cargo do diretor, a organização do horário
dependeria, para seu funcionamento, da aprovação da Diretoria-Geral de Indústria
e Comércio.

53 Decreto n9 13.064, de 12 de junhO de 1918. Este regulamento surgiu como conseqüência


da Lei n9 3.454, de 6 de janeiro de 1918, a qual no seu art. 97, alínea 111, autorizava o Gover-
no a "rever os regulamentos das Escolas de Aprendizes Artífices para, sem exceder as verbas
orçamentárias, melhorar-lhes o funcionamento e harmonizá-los com a criação dos cursos
noturnos" (cf. Lima, J. G. Pereira. Exposição de motivos, de 12 de junho de 19181.
54 Lima, J. G. Pereira. op. cito Já em 1915, o Deputado Mário Hermes apresentava à Câmara
Federal um projeto de criação de cursos noturnos de aperfeiçoamento.
SS Criados para funcionar anexos às Escolas de Aprendizes Artffices, e considerados como
"assistência ao operário já colocado ... destinados a melhorar o padrão dos seus conhecimen-
tos", os cursos noturnos de aperfeiçoamento ofereceriam àqueles vantagens inestimáveis,
corno opina, entre outros, Francisco Montojos: " ... basta assinalar o desenvolvimento inte-
lectual. com o qual pode capacitar-se do seu real valor, e os conhecimentos de desenho, indi!r
pensáveis a todas as profissões técnicas. O horário noturno lhe facilita o estudo. Servem ainda
esses cursos para atrair o operário a um centro de atividades úteis a ele pr6prio e à coletivi-
dade, extremando-o de ambiente muitas vezes nocivo ao seu espfrito mal formado" (Montojos,
Francisco. Ensino industrial. Rio de Janeiro, MES, Comissâ"o Brasileira Americana do Ensine
Industrial, série B, 1949. V. 5, p.37-8)'

Escolas de Aprendizes Artífices 77


Cabendo aos professores primários e de desenho das respectivas escolas ministrar
os cursos de aperfeiçoamento, o regulamento autorizava o diretor a dar, sempre
que possível, aos respectivos alunos um curso prático de tecnologia.

Além dessas disposições mais espedficas, os cursos de aperfeiçoamento seriam


regidos por todas aquelas cláusulas do regulamento que lhes fossem aplicáveis.

5. Corpo docente

Constitu ído por professores e mestres de oficina, o corpo docente das Escolas de
Aprendizes Artífices foi alvo de insistentes e rigorosas críticas por parte do Servi-
ço de Remodelação do Ensino Profissional Técnico (1920-19301. Segundo
Suckow da Fonseca, os professores vindos dos quadros do ensino primário não
traziam a mínima idéia do que necessitariam lecionar no ensino profissional. E "os
mestres viriam das fábricas ou oficinas e seriam homens sem a necessária base
teórica, com capacidade apenas de transmitir a seus discípulos os conhecimentos
empíricos que traziam".s 6 A gravidade da situação do professorado e da mes-
trança levou o regulamento de 1911 a exigir para os cursos primários e de desenho
professores de "comprovada competência", assim como permitir o contrato, no
país ou no estrangeiro, de "profissionais de reconhecida competência para dirigi-
rem as oficinas".s 7 Em 1918, o Regulamento Pereira Lima ratifica essas exigên-
cias e acrescenta que o provimento dos cargos de professores e adjuntos de profes-
sores e de mestres e contramestres seja feito mediante concurso de provas práticas,
presididas pelo diretor da escola e de acordo com as instruções que para tal fim
forem expedidas:'S 8

Apesar das providências acima, tomadas pelos referidos decretos, o Serviço de


Remodelação ainda encontrava, em 1920, motivos para sua veemente crítica ao
corpo docente das escolas e a conseqüente qualidade de seu ensino. Segundo o
Relatório Luderitz, os cargos de mestre foram preenchidos sem nenhum critério,
"de modo que o que existe de mestrança, não só não corresponde às necessidades
de uma produção de oficina como, feitas as distinções individuais, constitui, em
matéria de ensino das profissões, um completo desastre. Até inválidos exerceram
as funções de mestres de oficina. s 9 Por outro lado, ao reconhecer que, por

56 Fonseca, Celso Suckow da. op. cito p. 168.


57 Decreto n9 9.070, de 25 de outubro de 1911, arts. 18 e 19.
58 Decreto n9 13.064, de 12 de junho de 1918, arts. 19 e 20. As instruções para o provimen-
to dos cargos do corpo docente, de que trata a citação, foram expedidas mais tarde e incorpo-
radas pela Consolidação dos Dispositivos Concernentes às Escolas de Aprendizes Artífices,
no seu art. 19.
59 Luderitz, João. op. cito p. 144.

78 Forum 3182
exceção, em algumas escolas o ensino dado no curso primário e no de desenho era
de boa qualidade, lamenta a má orientação dos professores, "devido a excessiva
liberdade do regulamento, que nada fixa e nada diz sobre matérias e modo de
lecioná-Ias" _6o

Não menos rigorosa é a cdtica de Francisco Montojos, chefe da Inspetoria do


Ensino Profissional Técnico :61 "Os mestres (... 1 escolhidos, na maior parte entre
operários atrasados, quase analfabetos muitos, iam ronceiramente, quando o
faziam, 'ensinando' a meia-dúzia de crianças aquilo que aprenderam de outros
iguais a eles, por processos coloniais, isto é, sem nenhuma técnica, sem nenhuma
pedagogia e não raro por processos truculentos".6 2 E, embora reconheça que
"quanto ao ensino de letras (... 1 foram mais f~lizes as escolas, pois, na maioria
delas, se encontram corpos docentes à altura do seu mister (... 1 em se tratando do
desenho, embora sempre tenha havido professores bem regulares e até bons, o
ensino ministrado não se compadecia com a finalidade toda técnica de tais educan-
dários de oHcios e artes aplicadas".6 3

Para João Luderitz tal diagnóstico sobre o corpo docente das Escolas de Aprendi-
zes Art(fices pedia providências urgentes ao recém-criado Serviço de Remode-
lação.64 Daí que, a partir de 1920, foram contratados anualmente turmas de
mestres e contramestres formados em estabelecimentos nacionais de educação
técnica, para reforçar a mestrança das escolas, além de profissionais brasileiros
que, tendo feito especialização no estrangeiro por conta do Ministério, passaram a
dedicar "seus melhores esforços na reforma deste importante departamento de
ensino do Governo federal".6s

Considerando "delicada" a questão do pessoal docente das escolas, Luderitz afir-


mava: "Quem vai ensinar o segredo das artes e dos ofícios tem que ter (... 1 as

60 Id., ibid.
61 Órgão que substituiu, em 1931 (Decreto n9 19.560, de 5 de janeiro de 1931, art. 96,
al(nea 11), o Serviço de Remodelação do Ensino Profissional Técnico.
62 Montojos, Francisco. op. cito p. 21.
63 Id., ibid.
64 Francisco Montojos parece insinuar que a incompetência técnica do corpo docente das
escolas foi, entre outros, um dos prinCipais motivos que levou o ministro da Agricultura,
Indústria e Comércio, Simões Lopes, ao "feliz empreendimento", a criação do Serviço de
Remodelação, com o objetivo de corrigir os males existentes e "dar vida efetiva às escolas":
"Estudada a situação, uma das primeiras medidas tomadas foi a de contratar engenheiros para
inspecionarem e mesmo dirigirem, quando necessário, algumas escolas, além de mestres para as
oficinas respectivas - técnicos em trabalhos de madeira ou de metal, de artes decorativas, grã-
ficas etc. O que deu, logo, os melhores resultados" (op. cit.1.
6S Luderitz, João. op. cito p. 228.

Escolas de Aprendizes Artífices 79


duas qualidades reunidas, a do professor, e a do mestre de oficina visto que não se
podem separar os conhecimentos humanísticos de redação e de contabilidade, ma-
temáticas elementares e aplicadas, rendimentos de ciências natural, física e quími-
ca elementar, etc., da imediata aplicação que tais princípios de ensino têm na orga-
nização de projetos e orçamento dos artefatos do desenho industrial, geométrico e
ornamental e da tecnologia de cada arte ou ofício, sob pena de se cair ou no
simples ensino complementar ou então avançar pelos cursos técnicos acadêmicos a
dentro, fazendo o aluno perder tempo em coisas que não lhe podem ser de utili-
dade na vida prática". 6 6

A crescente preocupação com uma melhor qualificação do corpo docente das


escolas resultou em alterações substanciais, nos sucessivos regulamentos (sobre-
tudo a partir do Regulamento de 1918). no que diz respeito ao provimento dos
cargos de professores e adjuntos de professores e de mestres e contramestres de
oficinas das Escolas de Aprendizes Artífices. Da nomeação por portaria do minis-
tro (a dos professores) ou por contrato feito pelo diretor e submetido à aprovação
do ministro (a dos mestres de oficinas),6 7 o provimento dos cargos do corpo
docente das escolas passou a ser feito "mediante concurso de provas práticas, sem
preju ílO das demonstrações orais e escritas indispensáveis para o cabal julgamento
da aptidão dos candidatos",68 De rígidas exigências e numerosas normas burocrá-
ticas são os dispositivos contidos na Consolidação para o preenchimento de vagas
do corpo docente das escolas, contrastando com o que dispunham sobre o assunto
os primeiros regulamentos.

Segundo a Consolidação, o exame de habilitação - que se realizaria perante uma


comissão nomeada pelo diretor-geral de Indústria e Comércio e composta do dire-
tor da escola, como presidente, e de dois examinadores, de preferência estranhos à
escola - versaria (quando para professor ou adjunto de professor do curso primá-
rio e do de desenho) sobre as seguintes matérias:

português;
aritmética prática;

66 Trecho de um discurso pronunciado por Luderitz em 1922, em Aracaju, como encarregado


do Serviço de Remodelação e representando o Ministro da Agricultura, Indústria e Comércio,
na inauguração do Instituto Coelho de Campos, mantido pelo governo do estado de Sergipe.
(cf. Luderitz, João. op. cito p. 228), As preocupações modernizantes do chefe do Serviço de
Remodelação iam mais além quando, no mesmo discurso, ele acrescentava: "o ensino profis-
sional técnico é especializado no que respeita ao preparo literário do futuro artrfice, acei-
tando o princípio de que há pressa na formação do operariado nacional e de que sem cercear-
lhe as justas aspirações de aperfeiçoamento na sua profissão, não se deve de modo algum incu-
tir no espfrito de um proletário a veleidade de Querer ser um doutor" (id. ibid.l.
67 Instruções ... cito art. 25.
68 Consolidação ... cito art. 19.

80 Forum 3/82
geografia (especialmente do Brasil);
noções de história do Brasil;
instrução moral e c(vica;
caligrafia (para os candidatos do curso primário);
geometria prática (para os candidatos do curso de desenho).69

Para o provimento dos cargos de mestre ou contramestre de oficina, o exame de


habilitação obedeceria ao mesmo processo do dos professores e adjuntos, com as
seguintes modificações:
A) O concurso, que versaria sobre a matéria do programa oficial aprovado, nele
feitos os acréscimos que a comissão examinadora entendesse convenientes, seria
precedido de um exame sobre:
leitura corrente;
• geometria prática;
• noções de geografia;
fatos principais de história pátria;
aritmética prática;
escrita;
rudimentos de escrituração mercantil;
desenhos aplicados à arte da respectiva oficina.

B) O exame de que trata o item acima começaria pela parte oral (as quatro pri-
meiras disciplinas). seguindo-se a escrita (ditado e resolução de três questões de
aritmética prática que se relacionassem com os trabalhos da oficina e se prestassem
para o levantamento de uma conta, balancete etc.) e, por fim, a prova gráfica (de
desenho).

C) Os candidatos julgados habilitados passariam, no dia imediato, à prova prático-


técnica de oficina, que deveria durar, para cada candidato, o tempo julgado sufi-
ciente pela comissão examinadora.

Além de uma ata (lavrada em duas vias e assinada por todos os membros da
comissão) que registraria o julgamento (secreto) do concurso, o diretor da escola
enviaria à Diretoria-Geral de Indústria e Comércio as petições dos concorrentes,
com os competentes documentos. _. as provas escritas prático-gráficas e ul'Tlil
informação reservada sobre o merecimento e moralidade de cada concorrente. 7 o

69 Ibid. No mesmo artigo. a Consolidação estabelece, com minúcias, o procedimento da reali-


zação do exame: provas escritas e orais e provas práticas, conforme a natureza das disciplinas e
o curso a que se destina o professor (primário ou de desenho!.
70 Ibid. Ao diretor de Indústria e Comércio caberia também anular o concurso caso viessem a
ocorrer irregularidades na realização do mesmo ou preterição de algumas das formalidades
exigidas.,

Escolas de Aprendizes Artífices 81


Por fim, nos casos de dúvida no julgamento para a admissão dos candidatos (a pro-
fessor e mestre), "serão preferidos os candidatos que aliarem à competência profis-
sional maior capacidade moral e os que forem brasileiros natos",

6. A direção das escolas

Um dos principais pontos de estrangulamento das Escolas de Aprendizes Artífices


apontados por João Luderitz e Francisco Montojos estava na composição do seu
corpo administrativo, particularmente no que dizia respeito à direção das
mesmas. 71 Aí também estaria um dos principais motivos que levaram o ministro
da Agricultura, Indústria e Comércio, Ildefonso Simões Lopes, a criar, em 1920,
por recomendação do diretor de Indústria e Comércio, o Serviço de Remodela-
ção do Ensino Profissional Técnico, que teve por finalidade "orientar a educação
ministrada ao proletariado nas Escolas de Aprendizes Artífices ... ", através da
fiscalização, supervisão e reforma dessas mesmas escolas no que dizia respeito
particularmente à eficácia de sua administração.

Na exposição de motivos que acompanhou o Projeto do Regulamento do Ensino


Profissional Técnico,72 dizia Luderitz: "Doze anos de experiência indicavam a
urgência de uma remodelação, indispensável para tornar esses estabelecimentos
mais eficientes, uma vez que os resultados, se bem interessantes e benéficos, não
eram proporcionais ao dispêndio feito e ao grande empenho em facilitar a aqui-
sição de um ofício a cada cidadão". 7 3

Por sua vez, Francisco Montojos, em 1931, ao descrever sumariamente a evolução


das Escolas de Aprendizes Artífices e o papel exercido sobre elas pelo Serviço de
Remodelação, a partir de 1920, assim se expressava: " .. , esses educandários, a
despeito do grande ideal de que se originou a sua criação, não puderam, de logo,
produzir os efeitos desejados. Razões de várias ordens concorriam para entravar
qualquer incremento tentado, sendo a maior delas a dos interesses políticos que,
infelizmente, sempre se mostraram le,stos em intrometer-se na pública adminis-
tração, até mesmo nas instituições, em que se demanda competência sobretudo
técnica".74 E acrescenta, esclarecendo: "Os diretores, na quase-totalidade,
nomeados para o cargo por contingências, eram personagens que a artes e oHcios

71 O corpo administrativo das Escolas de Aprendizes Artífices teve sempre a mesma compo-
sição: um diretor, um escriturário e um porteiro-almoxarife.
72 Luderitz, João. op. cito p. 235-8. Esse projeto, como vimos anteriormente, não chegou a
ser aprovado.
73 Id., ibid.

74 Montojos, Francisco. op. cito p. 21.

82 Farum 3/82
nunca se haviam dedicado, carência que não poderia suprir a boa vontade de
alguns",75

De nomeação por decreto,76 o cargo de diretor das escolas passou a ser preenchi-
do, a partir de 1918, através de "concurso de documentos de idoneidade moral e
técnica" ,77 promovido pela Diretoria-Geral de Indústria e Comércio, Trinta dias
depois de verificada a vaga, o diretor-geral daquele órgão deveria apresentar ao
ministro a lista contendo os nomes dos três candidatos que lhe parecessem mais
aptos, a fim de ser feita a escolha, n E o regulamento que tomava a medida acima
autorizava, ao mesmo tempo, o Governo, "quando for conveniente ao serviço", a
contratar profissionais estrangeiros para dirigir as oficinas,

A Consolidação dos Dispositivos Concernentes às Escolas de Aprendizes Artífices,


ao incorporar, em 1926, as diretrizes acima, conferia, ao mesmo tempo, aos dire-
tores das escolas deveres novos, ou seja, não-constantes dos regulamentos anterio-
res, particularmente no que dizia respeito à "industrialização" das escolas (intro-
duzida pela Consolidação) e à manutenção da disciplina "indispensável ao ensfno"
e da "boa ordem da administração", como segue: o Regulamento de 1918, ao lado
da inspeção das aulas e da tomada de "providências necessárias à regularidade e
eficácia do ensino", confere aos diretores o dever de "admoestar ou repreender os
alunos, conforme a gravidade da falta cometida e até mesmo exclur-Ios da escola,
se assim for necessário à disciplina, dando imediatamente, neste caso, conhecimen-
to à Diretoria-Geral de Indústria e Comércio", 7 9 Depois de estabelecer que
compete aos diretores, além dos itens constantes do regulamento, "promover o
desenvolvimento dos serviços de oficinas nas escolas, aceitando encomendas das
repartições públicas ou dos particulares, , ," acrescenta a Consolidação: (compete
ao diretor) permanecer no estabelecimento, durante as horas de trabalho diurno e
noturno, a fim de melhor zelar pelo cumprimento de suas ordens, e manter a disci-
plina indispensável ao ensino e à boa ordem da administração",80

7 5 Id, ibid. Diagnóstico semelhante sobre os diretores das escolas já havia feito João Luderitz
alguns anos antes - como vimos anteriormente - pouco depois de assumir a chefia do Serviço
de Remodelação.
76 Ver os Regulamentos de 1909 e 1911.
77 Segundo Celso Suckow da Fonseca, era a primeira vez que a legislação federal consignava
uma exigência nesse sentido. Para o ministro Pereira Lima, a nomeação por concurso de
professores e diretores dos nossos estabelecimentos de ensino profissional, era a forma pela
qual seriam apuradas as "idoneidades legItimas", conferindo-se ao desempenho desses cargos a
"importância que nãO podem deixar de ter, em vista de seu fim educativo" (Exposição de
motivos do Decreto n9 13.064, de 12 de junho de 19181.
78 Decreto n9 13.064, de 12 de junho de 1918, art. 18.
79 Ibid. arts. 1 e 2.
80 Consolidação ... cito art. 12, §§ 9 e 10.

Escolas de Aprendizes Artífices 83


Um dos pontos que chamam a atenção com relação à administração das Escolas de
Aprendizes Artífices diz respeito à frágil autonomia da mesma. A descentralização
administrativa (com a criação de órgãos intermediários) que acompanhou a evo-
lução das escolas até a sua transformação em Liceus Industriais,sl em nada
a alterou a relação de dependência dessas unidades escolares para com o aparelho
do Estado. O Serviço de Remodelação do Ensino Profissional Técnico - de grande
relevância na vida das escolas - reforçou essa dependência, com a criação do currí-
culo escolar único e do estabelecimento de normas rígidas, condensadas na Conso-
lidação dos Dispositivos Concernentes às Escolas de Aprendizes Artífices. Como
vimos, o provimento do corpo docente e do quadro administrativo das escolas
sempre foi, em última instância, uma atribuição do ministro de Estado, a cuja
pasta as mesmas se achavam vinculadas. 82

De início a cargo da Inspetoria Agrícola,83 a fiscalização das escolas passou, em


1918, para a alçada da Diretoria-Geral de Indústria e Comércio, que passou a ter,
entre os seus encargos, a "direção superior" das mesmas. 54 Incorporando e
ampliando esse item do decreto anterior, a Consolidação criou, em 1926, o Servi-
ço de Inspeção do Ensino Profissional Técnico, com atribuições várias diretamen-
te ligadas às Escolas de Aprendizes ArHfices: além de "orientar a educação minis-
trada" nas escolas, passou a ser da competência desse serviço: velar pelo caráter
educativo do funcionamento industrial das escolas e pela "execução de todos os
serviços previstos pelos regulamentos em vigor; propor a transferência de diretores,
mestres, contramestres e demais pessoal técnico e administrativo; promover e ela-
borar a organização e a revisão dos programas, regimentos, horários, projetos de
construção e instalação e de execução de serviços de aprendizagem escolar e
submetê-los à aprovação superior; "promover as promoções e as substituições do
pessoal técnico e administrativo, tanto contratado como efetivos das escolas, bem
como organizar instruções para as comissões de concursos necessários ao provi-
mento dos cargos previstos pelos regulamentos; propor os contratos de professo-
res, mestres e contramestres, e ... apresentar ao ministro, em época conveniente,
o relatório anual dos respectivos trabalhos. 8 S

81 Lei n9 378, de 13 de janeiro de 1937. Esta lei no seu art. 37 transforma a Escola Normal
de Artes e OHcios Venceslau Brás e as Escolas de Aprendizes Artffices em liceus, destinados
ao ensino profissional, de todos os ramos e graus.
82 A contratação do escriturário (com funções próprias e eventual substituto do diretor) e do
porteiro-almoxarife sempre foram feitas uma por decreto e a outra por nomeação do diretor
e confirmação do Ministro.
S 3 Cf. Instruções ... cito art. 24.
84 Decreto n9 13.064, de 12 de junho de 1918, art. 40.
8S Consolidação ... cito art. 38.

84 Forum 3/82
Esse serviço de intermediação parece ter inspirado a criação, em 1931, da Inspeto-
ria do Ensino Profissional Técnico,86 como dependência do Ministério da Edu-
cação e Saúde Pública, então recém-criado, do qual passaram a fazer parte inte-
grante as Escolas de Aprendizes Artl'fices, até então sob a jurisdição do Ministério
da Agricultura, Indústria e Comércio.

Ocupando o lugar do Serviço de Remodelação, extinto pelo Governo Provisório


em 1930, a Inspetoria do Ensino Profissional Técnico teve as mesmas atribuições
do Serviço de Inspeção (direção, orientação e fiscalização) e criou em seu regula-
mento as funções de inspetor-geral e de inspetores, em número de quatro, encarre-
gados estes de manter sob constante fiscalização as várias escolas espalhadas pelo
país. Em 1934, essa inspetoria foi transformada em Superintendência do Ensino
Profissional,1I7 subordinada diretamente ao ministro da Educação e Saúde Pública.

Em 1937, com a nova estrutura dada ao Ministério da Educação e Saúde Pública


(suprimiu-se-Ihe, então, a palavra "Pública"),8 8 foi extinta a Superintendência do
Ensino Profissional, transferindo-se os seus encargos para a Divisão do Ensino
Industrial, desde então órgão do Departamento Nacional de Educação. 8 9

Essa organização voltou a ser alterada em 1942, com a promulgação da lei Orgâ-
nica do Ensino Industrial.

7_ A Escola Normal de Artes e Ofícios Venceslau Brás

Criada, em 1917, pela Prefeitura Municipal do Distrito Federal, 9 o a Escola


Normal de Artes e Otrcios Venceslau Brás teve como finalidade preparar profes-
sores, mestres e contramestres para os estabelecimentos de ensino profissional,
assim como professores de trabalhos manuais para escolas primárias,91 destinados

86 Decreto n!' 19.560, de 5de janeiro de 1931, art. 96, alínea 11.
87 Decreto n!' 24.558, de 3 de julho de 1934. Este decreto, entre outras coisas, previa: a) uma
expansão gradativa do ensino industrial, com anexação às escolas existentes de seções de espe-
cialização, de acordo com as indústrias regionais; b) a criação de novas escolas industriais
federais; c) o reconhecimento oficial das instituições congêneres estaduais, municipai~ e parti-
culares, desde que adotassem a organização didática e o regime das escolas federais e se subme-
tessem à fiscalização da superintendência.
88 Lei nÇ> 378, de 13 de janeiro de 1937.
89 Francisco Montojos passa, então, de superintendente a diretor do ensino industrial.
90 Decreto nÇ> 1.800, de 11 de agosto de 1917. Inaugurada apenas em 1918 (9 de novembro)
teve a escola o seu primeiro regulamento dois dias antes, 7 de novembro de 1918. O inicio do
seu funcionamento, entretanto, só se deu a 11 de agosto de 1919, "assim mesmo sem as ofici-
nas, postas a trabalhar no ano seguinte" (cf. Fonseca, Celso Suckow da. op. cito p. 5251.
91 Regulamento da Escola Venceslau Brás. Decreto n!' 1.283 (municipal) de 7 de novembro
de 1918, art. 1Ç>.

Escolas de Aprendizes Artífices 85


à municipalidade. Segundo Luderitz, o fim da nova instituição era preparar a mes-
trança para as escolas profissionais do sexo masculino, além de que se pretendia
simultaneamente formar professores de trabalhos manuais para as escolas primá-
rias da prefeitura. 9 2

Pouco tempo depois de sua inauguração, entretanto, por um acordo firmado entre
a União e a Prefeitura do Distrito Federal,93 a Escola passou para a jurisdição do
Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio, com o caráter que tinha e com o
objetivo de servir para tal fim, na formação de mestrança das escolas de educação
94
industrial técnica do mesmo ministério.

Sem dúvida, a transferência da Escola Venceslau Brás da dependência da prefei-


tura para a jurisdição federal devia-se às grandes dificuldades com que lutava o
governo da União para suprir de pessoal competente as Escolas de Aprendizes
Artrfices. Ao mesmo tempo, generalizou-se, nos meios governamentais, a preocu-
pação com a formação da "mestrança nacional", por razões como estas, apontadas
pelo Relatório do Serviço de Remodelação: a não existência ainda no Brasil de
"elites de profissionais técnicos, que possam constituir o professorado especial,
para o ensino das artes e dos ofícios, nas escolas industriais de aprendizes artífices,
aprendizados e patronatos agrfcolas, cursos de mecânica prática, liceus de artes e
otrcios etc"; bem como o fato de existirem, em âmbito federal, somente as Esco-
las de Aprendizes Artífices, "cuja esfera de ação, por ser local, não deve passar de
certos limites, os quais devem abranger o preparo de operários e, no máximo, o de
candidatos a contramestre", não se satisfazendo inteiramente, com isto, "o fim
intentado, da formação do operariado nacional".95

A idéia da criação de uma escola normal de artes e ofícios, em âmbito federal, que
tivesse por finalidade a formação de professores para o ensino industrial, vinha
sendo alimentada, desde datas anteriores, por muitos daqueles que se preocupa-
vam com a formação do operariado nacional, sobretudo a partir das dificuldades
encontradas para compor o corpo docente das Escolas de Aprendizes Artífices.
Em seu Manifesto de 1914, teria dito Venceslau Brás, ao falar sobre as escolas
profissionais: "Funde a União pelo menos um instituto que se constitua um vi-
veiro de professores para as novas escolas a que me referi",

92 Luderitz, João. op. cito p. 207.


93 Decretos nÇls 13.721 (federal) de 14 de agosto de 1919 e 2.133 (municipal) de 6 de
setembro do mesmo ano.
94 Luderitz, João. op. cito p. 208. Luderitz esteve na direção da escola normal durante alguns
meses e "procurou, neste curto lapso de administração direta e mesmo antes e depois, indire-
tamente, influir sobre uma movimentação mais intensa e adequada das aprendizagens esco-
lares, para ambos os sexos ... " (id. ibid.l.
95 Luderitz, João. op. cito p. 207.

86 Forum 3182
A Escola Venceslau Brás teve, até seu fechamento em 11 de junho de 1937,96 um
regulamento e dois regimentos internos. 9 7 O primeiro regimento interno, cuja
elaboração foi da iniciativa do Engenheiro C.A. Barbosa de Oliveira (então diretor
interino). teve por finalidade esclarecer as dúvidas suscitadas pelo regulamento em
vigor e "estabelecer as normas adequadas de um bom funcionamento, em condi-
ções de se poder de fato ministrar a educação industrial, adaptadas, porém, às
exigências do antigo estatuto escolar, ainda não-revogado".98

Abolindo a formação de contramestres e de professores de trabalhos manuais, a


Escola Venceslau Brás, por seu regimento interno, cuidava unicamente do preparo
de professores e mestres para estabelecimentos de ensino profissional da União. 9 9
"Continuou mista/ oo e sob regime de externato, tendo então, os seguintes
cursos:

a) de trabalhos de madeira;
b) de trabalhos de metal e
c) de mecânica e eletricidade para o sexo masculino;
d) de economia doméstica;
e) de costuras e
f) de chapéus para o sexo feminino;
g) de artes decorativas e
h) de atividades comerciais para ambos os sexos.' o,

Os cursos que, segundo o regulamento, eram de quatro anos passaram, com o


regimento interno, a ser de seis, para ambos os sexos, com as seguintes disciplinas:

96 Quando começou a ser demolida para, no local, ser construída a Escola Técnica Nacional,
atual Centro Federal de Educação Técnica.
97 O regulamento municipal (já citado) foi baixado pelo Decreto n9 1.283, de 7 de novembro
de 1918; o primeiro regimento interno (federal!, aprovado, em 19 de julho de 1924, pelo
Ministro da Agricultura, Indústria e Comércio, Miguel Calmon du Pin e Almeida; e o segundo
regimento interno, de 30 de agosto de 1926, aprovado pelo mesmo ministro.
98 Luderitz, Joa"o. op. cito p. 208. Apesar de ter alterado substancialmente o regulamento
existente, o regimento interno não tornou este sem efeito. A esperança de Luderitz e de sua
equipe era a de que a remodelação completa da regulamentação da Escola Venceslau Brás,
considerada inadequada, fosse inclulda na reforma do ensino profiSSional técnico, ao Minis-
tério da Agricultura, Indústria e Comércio, cujo projeto, apresentado em 1923, não conse-
guiu, entretanto, aprovação.
99 Regimento Interno da Escola Normal de Artes e Oficios Venceslau Brás, 1924, art. 19.
100 Exclusivamente masculina até 1921, a escola se tornou mista pelo Aviso n9 163 de 28 de
outubro de 1921, do ministro da Agricultura que autorizava o diretor a criar uma seção de
prendas e economia doméstica, destinada a alunos do sexo feminino. No mês seguinte, come-
çavam a funcionar as oficinas de bordadGs, costura e flores artificiais.
101 Regimento Interno da Escola Normal de Artes e Ofícios Venceslau Brás, art. 29.

Escolas de Aprendizes Artífices 87


• português e educação dvica;
• matemática aplicada às indústrias;
• geografia industrial e história das indústrias;
• desenho à mão livre e geométrico;
• francês;
• f(sica e eletricidade;
• qurmica industrial;
• história natural;
• higiene;
• pedagogia;
• contabilidade industrial;
• estenografia e datilografia;
• modelagem e trabalhos manuais.

Conforme o curso escolhido, os alunos tinham ainda aulas de tecnologia (cursos a,


b, c e g), mecânica industrial e eletrotécnica (curso c).

Os alunos do sexo masculino freqüentavam as oficinas de madeira e metal, nos


dois primeiros anos, especializando-se no curso escolhido nos anos seguintes. E as
alunas, nos dois primeiros anos, freqüentavam as oficinas de economia doméstica
e costura, especializando-se no curso escolhido nos anos seguintes. 1 02

O corpo docente da escola, considerado por Luderitz "excelente e contando em


seu veio com vultos de destaque na engenharia e no professorado nacional", era
composto de professores e adjuntos, mestres e contramestres.

Constiturda dos professores adjuntos (sem a participação dos mestres das ofici-
nasl. e presidida pelo diretor, a Congregação da Escola tinha como atribuição:
estudar, discutir e aprovar os programas de ensino das cadeiras e oficinas; determi-
nar a orientação e a metodologia no ensino; eleger as comissões examinadoras dos
concursos; votar a classificação dos candidatos ao professorado na escola; eleger as
comissões de exame e de redação da revista escolar.

Responsável pela administraçã'o da Escola e, para isto, auxiliado por um grande


número de funcionários (secretário, escriturários, almoxarife, inspetores de alunos,
guardiãs de alunas, contrnuos, serventes etc.1. o diretor tinha como funções, entre
outras: "superintender e fiscalizar os trabalhos, mantendo a ordem e a disciplina,
observando e fazendo observar as leis, os regulamentos e as determinações do

102 Ibid., arts. 49, 59 e 69.

88 Forum 3/82
ministro, ... admitir e dispensar livremente o pessoal subalterno; aplicar ao pessoal
docente, administrativo e discente as penalidades que forem de sua alçada".! 03

Provadas a idade m(nima de 12 anos e a ausência de moléstia infecto-conta-


giosa.! 04 os candidatos à Escola Venceslau Brás eram admitidos mediante exames,
que constavam de duas provas escritas, uma gráfica e uma oral. Aos alunos das
Escolas de Aprendizes Artífices que fossem aprovados no 49, 59 e 69 anos das
referidas escolas, era concedido o direito de matricular-se nos 19, 29 e 39 anos da
escola, respectivamente, independente do exame.

Terminados os cursos, a escola conferia diploma de mestre (segundo a especiali-


zação escolhida) ao aluno ou aluna que terminasse o quinto ano de cada um dos
respectivos cursos; e de professor, ao aluno que, diplomado mestre, terminasse o
sexto ano. Entretanto, para a obtenção de qualquer diploma, ficava o aluno .ou
aluna obrigado a uma prova de didática.

Os diplomas conferidos davam aos seus portadores preferência para a nomeação


de professores e mestres dos estabelecimentos de ensino profissional da União,
bem como para o "aperfeiçoamento no estrangeiro em especialidades que se rela-
cionem com a sua capacidade técnica".! 05

Constituída, por decreto presidencial,!06 como local de estágio obrigatório


(cursos de aperfeiçoamento) para os alunos das Escolas de Aprendizes Artífices de
todo o território nacional, a Escola Venceslau Brás era vista como insuficiente
pelo Serviço de Remodelação, bastando considerar "quão difícil se torna, a alunos
do extremo norte ou do remoto sul, virem fazer estágio prolongado de dois ou três
anos na escola normal desta capital, depois de já terem curS<Jdo as escolas regionais

! 03 Ibid. arts. 17 e 18.


! 04 Ao lado dessas duas exigências para a inscrição do candidato à admissfo pela escola, a
existência em algum dos inscritos de defeito Hsico que fossem "incompatrvel com os cargos
de mestre ou professor", continuaria obstãculo à diplomação do aluno. Neste caso, "ser-Ihe-á
permitida a matdcula, sem que esta, todavia, lhe assegure direito a qualquer dos diplomas
expedidos pela escola Em tal hipótese, será exigida declaração escrita do candidato, assistido
por seu representante legal, se for menor" (ibid. art. 43, § 191.
! 05 Ibid. arts. 51 e 52. Deixaremos de fazer qualquer alusãO ao novo regimento da Escola
Venceslau Brãs, de 1926 (referido anteriormente) por n50 trazer esse documento nenhuma
mudança substancial que alterasse significativamente o regimento interno de 1924, que acaba-
mos de apresentar.
! 06 Decreto n9 15.774, de 6 de novembro de 1922. Segundo este decreto, os alunos das
Escolas de Aprendizes Artrfices "só poderio fazer estágio no estrangeiro, quando não o pude-
rem realizar, a jurzo do ministro, na Escola Normal de Artes e Ofrcios Venceslau Brás"
(art. 991.

Escolas de Aprendizes Artífices 89


de artrfices... ,,10 7 impunha-se, então, a criação de "pelo menos mais duas escolas
normais, uma para a zona norte e outra para a zona sul do território nacional,
visto já existir a que serve à zona central". 10 li E as sugestões apontadas por esse
serviço recaíram sobre os intitutos Lauro Sodré, de Belém do Pará, e Parobé, da
Escola de Engenharia de Porto Alegre. Além das excelentes condições de adaptabi-
lidade que ofereciam esses institutos, eram considerados de grande relevância os
serviços por qualquer um deles prestados "à causa da educação profissional técnica
nacional".

Para Suckow da Fonseca, a preponderância do elemento feminino entre os alunos


matriculados na Venceslau Brás pode ter, de certa forma, prejudicado o principal
fim da Escola, que era a formação de mestres para o ensino profissional. As moças
que aí se matriculavam procuravam formar-se em professoras de datilografia, este-
nografia, modas e economia doméstica, quando era muito mais necessário às várias
escolas onde se aprendiam ofícios o preparo de pessoal capaz de ensinar trabalhos
de madeira, em metal, ou eletricidade .•.

Na tabela 2, mostra Suckow da Fonseca o movimento de matrículas, separadas


por sexo, e de diplomados, ano a ano, desde a inauguração até o fechamento da
Escola.

107 Luderitz. João. op. cito p. 209.


108 Id., ibid.

90 Farum 3182
Tabela 2

Matdculas e diplomados na Escola Normal de Artes e Ofícios


Venceslau Brás 1919 - 1937

Matdculas Diplomados

Anos
Sexo Sexo Sexo Sexo
Total Total
Masculino Feminino Masculino Feminino

1919 60 62 122
1920 69 106 175
1921 67 154 221
1922 60 200 260
1923 24 196 220 7 10 17
1924 26 204 230 15 15
1925 23 166 189 2 22 24
1926 42 215 257
1027 49 256 305 2 3 5
1928 72 276 348 16 16
1929 105 343 448 2 23 25
1930 148 311 459 1 27 28
1931 119 257 376 4 19 23
1932 116 267 383 13 59 72
1933 120 228 348 7 15 22
1934 94 213 307 9 46 55
1935 76 164 240 12 49 61
1936 81 123 204 13 5 18
1937 59 140 199

1919-1937 1.410 3.881 5.291 72 309 381

Fonte: Fonseca, C. Suckow. História do ensino industrial no Brasil. Rio de Janeiro, Tipogra-
fia da Escola Técnica Nacional, 1961. v. 1, p. 600.
r_.3
Distribuição anual das matrículas nas Escolas de Aprendizes Artífices, segundo unKJades da Federação
1910 a 1942

:s:
Anos

1910
1911
AM

33
70
PA

20
95
MA

74
104
PI

51
83
eE

105
82
RN

100
83
P8

117
134
PE

120
125
AL

70
151
SE

120
120
8A

45
68
ES

133
RJ

191
166 273
SP

135
PR

190
120 293
se

51
130
MG

32
60
GO

33
68
MT Total

87 1.707
84 2.225
1912 43 107 103 85 81 83 134 125 150 120 70 166 282 113 293 130 60 83 87 2.215
1913 57 87 161 123 248 120 191 127 194 130 106 127 230 180 302 160 78 90 108 2.819
1914 44 97 240 133 195 120 201 108 221 202 102 128 311 151 304 139 76 63 98 2.933
1915 39 91 316 140 328 136 185 193 203 175 103 103 245 201 315 145 62 64 60 3.104
1916 45 168 301 163 260 148 200 153 243 164 96 105 224 225 309 129 86 61 98 3.231
1917 45 226 240 136 218 123 175 140 316 145 87 104 232 214 306 109 141 51 106 3.114
1918
1919 104 68 193 302 182 175 110 113 124 220 103 145 239 400 223 222 168 79 78 3.248
1920 170 53 246 217 151 164 126 390 213 87 110 330 132 151 47 106 3.193
1921
1922 82 197 270 233 145 176 232 154 362 186 85 101 246 239 225 104 104 93 70 3.306
1923 274 299 156 144 169 165 314 132 195 230 105 145 305 230 185 209 131 108 90 3.586
1924 142 234 273 104 151 185 370 150 374 288 110 135 310 180 154 208 303 107 92 3.870
1925 165 299 152 166 189 203 336 200 328 249 157 106 156 145 167 175 238 140 95 3666
1926 183 340 195 89 257 308 329 167 309 183 350 118 234 120 128 148 138 79 102 3.777
1927 167 242 146 82 338 351 333 337 320 245 360 104 269 129 186 134 230 82 108 4.163
1928 207 404 190 86 52 195 513 304 353 236 484 110 259 150 191 173 114 108 94 4.223
1929 200 368 225 100 450 130 397 300 282 218 450 135 147 196 140 188 236 131 95 4.388
1930
1931
1932 308 510 200 465 513 262 186 250 242 163 99 3.198
1933 362 372 200 416 200 549 347 450 190 342 273 255 105 4.061
1934 295 237 188 400 300 594 411 450 245 235 218 133 3.706
1935 241 253 211 179 460 300 400 424 419 400 450 200 303 332 300 241 298 189 136 5.736
1936 350 246 248 200 250 220 353 497 300 350 450 180 313 300 300 250 288 151 137 5.383
1937 350 250 290 200 319 220 400 495 350 332 400 169 258 365 300 201 255 147 97 5.398
1938 350 325 207 470 250 300 240 144 3.286
1939 373 316 200 400 251 400 51 372 226 150
1940 237 310 170 329 220 408 440 219 350 265 140 3.088
1941 240 253 200 315 237 400 154 300 286 125 2.500
1942 194 150 331 200 61 151 201 104 196 249 68 1.905

Fontes. Relatórios do Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio - 1910 a 1929; SInopse estat/stlCil dos estados. IBGE. 1935,

1936 e 1937. O enSinO no Brasil. IBGE, 1932 a 1934 e 1938 a 1942; Relatório da Escola'de Aprendizes Artífices do Estado da
Paraíba (1910·1940). João Pessoa, Tipografia do E.A.A. na Par8lba. 1940 - dados de 1937.

,. Não estão incluídas as matrículas dos cursoS noturnos, a não ser quando indicado.

2. Os dados dos estados do Amazonas, Sergipe, Bahia e Minas Gerais, em 1910, foram obtidos no livro de Celso Suckowda Fon-
seca, H,stória do enSinO mdustrial no Brasil. op. cito p. 169

3. Em 1919 no estado de São Paulo e em 1920 nos estados do Amazonas e de São Paulo foi considerada a soma dos matriculados

no curso diurno e no curso noturno.


4. No ano de 1932 a matrícula total - segundo informação do Relat6rio do Ministério da Educação e Saúde - atinge o número de
5.584 aprendizes. M.E.S., 1932. Rio de Janeiro, Imprensa Nacional, 1934. p. 71.

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