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Sumula Vinculante Karla Virginia PDF
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SISTEMA JURÍDICO
1
1 INTRODUÇÃO
1
NEVES, Zuenir de Oliveira. A sumarização do processo: o advento da súmula de efeito vinculante em face das garantias constitucionais
processuais. Jus Navigandi, Teresina, ano 10, nº 1084, 20 jun. 2006. Disponível em: <http://jus2.vol.com.br/doutrina/texto.asp?id=8552>.
Acesso em: 20 jul. 2007.
2
celeridade no julgamento das milhares de ações que tramitam no Poder Judiciário
atualmente, visto que decisões com argumentações praticamente idênticas poderiam ser
utilizadas nas soluções de casos similares. Os favoráveis à súmula, portanto, sustentam
suas razões nos Princípios da Celeridade e da Economia Processual, reafirmando a
conveniência da vinculação em razão da necessidade da agilização dos processos.
As discussões sobre o assunto, como se verá, são sempre válidas e salutares.
Porém, um estudo mais apurado acerca do tema, em consonância com as tradições
históricas do direito brasileiro, e frente a princípios já consagrados na Constituição
Federal, torna coerente a defesa da inviabilidade e da inconstitucionalidade da adoção da
súmula vinculante no direito pátrio.
3
2 CONCEITO DE SÚMULA
2
ANGHER, Anne Joyce (coord.). Dicionário Jurídico. 6.ed. São Paulo: Rideel, Coleção de Leis Rideel, 2002.
3
CHIARINI JÚNIOR, Enéas Castilho. A Inconstitucionalidade da Súmula de efeito vinculante no Direito Brasileiro. Jus Navigandi,
Teresina, ano 7, n. 91, out. 2003. Disponível em: <http://jus2.vol.com.br/doutrina/texto.asp?id=4248> Acesso em: 20 jul. 2007.
4
no qual se encontra o direito brasileiro; sistema da commow law; sistema dos direitos
socialistas e outras concepções da ordem social e do direito.4
Desta classificação, interessa a oposição entre os sistemas civil law e commow law,
dadas as peculiaridades de cada família de direitos e por serem estes os sistemas
adotados pela maioria dos Estados na atualidade.
A primeira acepção da commow law é de “direito comum”, aquele nascido das
sentenças judiciais dos Tribunais locais. Neste sistema jurídico, o juiz verdadeiramente
cria o direito. Assim, pode-se dizer que uma sentença na commow law decide o caso sub
judice e faz coisa julgada, criando direito para aquele caso específico. Ademais, tal
decisão tem efeito além das partes ou da questão resolvida, pois cria o precedente, com
força obrigatória para casos futuros, sendo, portanto, a jurisprudência a fonte primária
formal do direito.
Enquanto no direito de origem commow law a jurisprudência consolida as decisões
dos Tribunais, fazendo com que os juízes de primeira instância respeitem as decisões dos
Tribunais, no sistema de civil law, tal função é desempenhada pela legislação, incidindo
as leis sobre todos os cidadãos que a elas estão vinculados.
Observa-se que no sistema conhecido como civil law, a fonte primária de direito é a
lei, tendo cada magistrado a liberdade de interpretar os diversos dispositivos legais,
dando ao caso que lhe foi submetido a solução jurídica que entender mais adequada.
Segundo Ricardo Augusto de Araújo Teixeira:
Neste sistema, o histórico de decisões, o chamado repertório
jurisprudência, é útil na medida em que pode servir de auxílio à
interpretação e ainda contribui para a solidez da decisão do magistrado de
primeira instância, pois, uma vez que tenha compatibilizado sua
fundamentação com o pensamento dominante nos tribunais superiores
(caso entenda que assim deva fazer), sua sentença torna-se
consideravelmente mais difícil de ser reformada pelo tribunal a que ele
5
esteja vinculado, ou por um tribunal superior.
No sistema de civil law a jurisprudência tem função oposta, visto que não enrijece o
ordenamento. Pelo contrário, ela oferece a mobilidade necessária para reger as mais
diferentes situações sociais que lhe são apresentadas.
4
DAVID, René. Os grandes sistemas do direito contemporâneo: direito comparado. Trad. de Hermínio A. de Carvalho. 2. ed. Lisboa:
Meridiano, 1978. p. 40.
5
TEIXEIRA, Ricardo Augusto de Araújo. Breves reflexões sobre o instituto da súmula vinculante e sua contextualização na jurisdição
constitucional brasileira. Jus Navigandi, Teresina, ano 11, n. 1356, 19 mar. 2007. Disponível em:
<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=9621>. Acesso em: 24 set. 2007.
6
KELSEN, Hans. Teoria Pura do Direito. Trad. de João Baptista Machado. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
7
SOARES, Guido Fernando Silva. Commow Law: introdução ao Direito dos EUA. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999. p. 39.
5
Situa-se aí a incoerência em se adotar no Brasil a súmula vinculante, uma vez que
elas, se utilizadas como no sistema de commow law, podem petrificar todo o direito
brasileiro, gerando a incompatibilidade do sistema.
Como bem sustentado por Zuenir de Oliveira Neves, “introjetar num sistema
jurídico de “civil law”, a súmula de efeito vinculante, por sua vez característica do
sistema de “commow law”, atropelando os princípios processuais e constitucionais do
Estado, é trair o ideal de justiça do Estado Democrático de Direito”.8
Observa-se, ainda, que o Brasil, ao instituir o precedente obrigatório, vai de
encontro à tendência mundial. Mesmo nos países que adotaram o sistema de commow
law, cresce a importância da legislação escrita, existindo até a possibilidade dos
magistrados deixarem de observar o precedente, quando o mesmo desatender a
disposição expressa de lei. Isso evidencia a tendência ao abandono da rígida aplicação do
instituto.
8
NEVES, Zuenir de Oliveira. Op. cit., p. 7.
6
lei regulamentadora. Esta limita-se a estabelecer o rol de legitimados para propositura da
súmula, o quorum qualificado de apreciação pelo plenário, a possibilidade de
manifestação de terceiros, a modulação de efeitos materiais e temporais do respectivo
enunciado, a possibilidade de reclamação em face da inobservância da súmula, além da
aplicação subsidiária do Regimento Interno do STF.
Impede delimitar, primeiramente, a natureza jurídica do procedimento, conforme
estabelecido na Lei nº 11.417/2006.
Depreende-se da análise dos dispositivos legais, que se trata de procedimento de
competência originária do Supremo Tribunal Federal, de natureza objetiva, uma vez que
versará, exclusivamente, sobre a validade, interpretação e eficácia de normas jurídicas
em face do texto constitucional.
Sobre o assunto, Leonardo Vizeu Figueiredo sustenta que:
Em que pese haver a possibilidade de manifestação de terceiros, não há
que se falar em discussão sobre interesses pessoais, uma vez que o
Pretório Excelso limitar-se-á, tão-somente, a objetivar a fundamentação
de seus julgados exercida em sede de controle difuso de
constitucionalidade ou no exercício de sua competência originária (quando
se tratar de matéria constitucional), nos termos estabelecidos no art. 102
da CRFB, a ser compendiada nos enunciados vinculantes que compõe sua
9
súmula.
9
FIGUEIREDO, Leonardo Vizeu. Súmula Vinculante e a Lei nº 11.417/2006: apontamentos para compreensão do tema. Jus navigandi,
Teresina, ano 11, n. 1295, 17 jan. 2007. Disponível em: <http://jus2uol.com.br/ doutrina/texto.asp?id=9400>. Acesso em: 20 jul. 2007.
7
IX – a Mesa de Assembléia Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito Federal;
X – O Governador de Estado ou do Distrito Federal;
XI – os Tribunais Superiores, os Tribunais de Justiça de Estados ou do Distrito Federal e
Territórios, os Tribunais Regionais Federais, os Tribunais Regionais do Trabalho, os
Tribunais Regionais Eleitorais e os Tribunais Militares.
Além desses legitimados, o município poderá propor, incidentalmente ao curso de
processo em que seja parte, a edição, a revisão ou o cancelamento de enunciado de
súmula vinculante, o que não autoriza a suspensão do processo. Na realidade, o
município não poderá fazer a proposta diretamente ao STF. Terá ele apenas legitimidade
para atuar no curso do processo em que seja parte, propondo, incidentalmente, a adoção
de uma dessas medidas por aquele Tribunal.
Verifica-se que nos processos de controle de constitucionalidade, a jurisprudência
do STF adotou o critério de demonstração de pertinência temática, como forma de se
restringir o número de demandas perante àquela Corte. A mesma exigência deve ser
feita na propositura de súmulas vinculantes.
Segunda a linha adotada pelo Pretório Excelso, para determinados legitimados,
deverá ser exigida, além da prévia demonstração de que a controvérsia pode ocasionar
grave insegurança jurídica e relevante multiplicação de processos sobre idêntica questão,
a demonstração de interesse objetivo na fixação da interpretação normativa por parte do
STF com as atividades exercidas pelo respectivo legitimado.
Por fim, a lei regulamentadora, no seu art. 3º, § 2º, permite que no procedimento
de edição, revisão ou cancelamento de enunciado da súmula vinculante, o relator admita,
por decisão irrecorrível, manifestação de terceiros na questão, nos termos do Regimento
Interno do Supremo Tribunal Federal.
Quanto a esta manifestação, impende destacar que não se trata da intervenção de
terceiros, prevista no Código de Processo Civil. Como o procedimento do Supremo é
objetivo, a manifestação de terceiros deve aqui se limitar à exposição de tese de direito
sobre a validade, a interpretação e eficácia de normas jurídicas confrontadas com o texto
constitucional, cuja admissão dependerá de juízo do relator.
A Constituição Federal exige a observância de três requisitos, para a edição de
súmula vinculante pelo Supremo Tribunal Federal, quais sejam, tratar-se de matéria
constitucional; existir controvérsia atual entre órgãos judiciários ou entre esses e a
Administração Pública; e haver reiteradas decisões do STF sobre a respectiva matéria
constitucional.
Pelo primeiro requisito, verifica-se a impossibilidade de edição de súmula vinculante
sobre matéria infraconstitucional. Já a exigência seguinte condiciona a edição de súmula
vinculante à existência de controvérsia atual entre órgãos judiciários ou entre esses e a
Administração Pública que acarrete grave insegurança jurídica e relevante multiplicação
de processos sobre questão idêntica. Nas palavras de Vicente Paulo:
De fato, não faria sentido a aprovação de súmula vinculante pelo Supremo
Tribunal Federal sobre matéria em relação à qual não houvesse nenhuma
controvérsia atual, pois, afinal, o objetivo principal da súmula vinculante
é, precisamente, afastar situação geradora de insegurança jurídica e de
10
multiplicação de processos sobre questão idêntica.
O último requisito constitucional exige que o STF somente edite súmula vinculante
após reiteradas decisões do Tribunal sobre a respectiva matéria constitucional. O objetivo
desse requisito é evitar a aprovação precipitada de súmula vinculante, isto é, sobre
matéria ainda não consolidada na jurisprudência daquele Tribunal.
Atribuiu-se eficácia vinculante à edição, revisão ou cancelamento de enunciado de
súmula do STF a partir de sua data de publicação na imprensa oficial, a qual irá operar
10
PAULO, Vicente. Aulas de Direito Constitucional. 9. ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2007. p. 462.
8
efeitos para os demais órgãos do Poder Judiciário, bem como para a Administração
Pública, direta e indireta, dos demais entes federativos.
Determina o art. 2º, § 4º, da Lei nº 11.417/2006 que “no prazo de 10 (dez) dias
após a sessão em que editar, rever ou cancelar enunciado de súmula com efeito
vinculante, o Supremo Tribunal Federa fará publicar, em seção especial do Diário da
Justiça e do Diário Oficial da União, o enunciado respectivo”.
Verifica-se que a publicação de enunciado de súmula produz efeitos em caráter ex
nunc, a partir da data da publicação no Diário Oficial, não havendo como lhe atribuir
efeitos retroativos a partir da data da formulação da proposição.
Já o art. 4º da Lei nº 11.417/2006 prevê que “a súmula com efeito vinculante tem
eficácia imediata, mas o Supremo Tribunal Federal, por decisão de 2/3 (dois terços) dos
seus membros, poderá restringir os efeitos vinculantes ou decidir que só tenha eficácia a
partir de outro momento, tendo em vista razões de segurança jurídica ou de excepcional
interesse público”.
Segundo Leonardo Figueiredo:
Ressalta-se que o art. 4º da Lei nº 11.417, de 2006, faculta ao Pretório
Excelso a modulação dos efeitos temporais da súmula para outro
momento futuro, possibilitando, ainda, a restrição material da eficácia
vinculante da mesma, no sentido de delimitar o alcance subjetivo do
enunciado, tão-somente, à observância obrigatória de determinados
órgãos ou entes da administração pública federal, estadual, distrital ou
municipal, casuisticamente. Isto porque, o juízo sobre a
inconstitucionalidade da cobrança de determinado tributo pode e deve
ficar restrito, tão-somente, à esfera subjetiva dos entes federativos que
possuem a respectiva competência e capacidade tributária, sendo
desnecessário estender-lhe os efeitos de vinculação obrigatória aos
11
demais.
11
FIGUEIREDO, Leonardo Vizeu. Op. cit., p. 6.
12
MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 21. ed. São Paulo: Atlas, 2007. p. 551.
9
processo é então distribuído a um relator que deverá requisitar informações em dez dias
ao órgão competente e ouvir o Ministério Público, caso a reclamação não tenha sido por
ele proposta.
Nos termos do art. 161 do regimento interno do STF, poderão resultar do
julgamento da reclamação a avocação do processo em que a sua competência foi
usurpada, a ordem de remessa dos autos do recurso para ele interposto, a cassação da
decisão exorbitante ou a determinação de medidas aptas a garantir a observância de sua
jurisdição.
Ainda de acordo com o regimento interno daquele Tribunal, nos casos em que a
reclamação se fundar em jurisprudência consolidada do Pretório Excelso, faculta-se ao
relator julgar monocraticamente a reclamação.
Observa-se, por fim, que a reclamação é mais uma forma de impugnação ao
Supremo Tribunal Federal, que pode prejudicar sobremaneira a intenção de reduzir o
acúmulo de processos naquele Tribunal, como sustentado por José Afonso da Silva:
Como se viu, as súmulas vinculam não só os órgãos do Poder Judiciário,
mas também os órgãos da Administração Pública direta e indireta, nas
esferas, estadual e municipal, e, assim, tolhem uma correta apreciação
das alegações de lesão ou ameaça de direito que está na base do direito
de acesso à Justiça, sem que se veja como elas podem reduzir o acúmulo
de feitos perante o Supremo Tribunal Federal, pois só nesse âmbito têm
aplicação. Não parecem reduzir os recursos, pois está previsto que se o
ato administrativo ou a decisão judicial contrariar a súmula aplicável,
caberá reclamação para o Supremo Tribunal Federal que, julgando-a
procedente, anulará o ato administrativo ou cassará a decisão reclamada,
e determinará que outra seja proferida com ou sem aplicação da súmula,
conforme impugnação: reclamação em vez de recurso ordinário ou
extraordinário. Parece-nos que têm pouca utilidade relativamente ao
âmbito da interpretação constitucional, para a qual está previsto o efeito
13
vinculante (infra).
13
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 28. ed. São Paulo: Malheiros, 2007. p. 566.
14
FREITAS, Márcio Vieira. Considerações sobre a intitulada “súmula vinculante”. Jus Navigandi, Teresina, ano 9, n. 503, 22 nov. 2004.
Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=5969>. Acesso em: 26 set. 2007.
10
Sustenta-se, outrossim, que o Estado Democrático de Direito deve tratamento
igualitário a todos os cidadãos, motivo pelo qual não se deve admitir a duplicidade de
soluções a situações idênticas.
Segundo Marcelo Dias Aguiar:
A principal tese dos defensores da súmula vinculante, e com muita
robustez, é a da lentidão devido ao congestionamento do poder judiciário.
Como se sabe, diariamente a justiça fica mais abarrotada de processos,
tendo essa quantidade aumentada, a cada dia que passa,
consideravelmente. Como denota-se, essa lentidão é um infortúnio na
vida do cidadão que busca sua paz social através do judiciário. Muitas
vezes, devido ao excesso de recursos nos nossos ordenamentos
processuais, muitas vezes um processo dura uma eternidade, exemplo
claro disso é um recente julgamento de uma ação popular contra o ex-
prefeito Paulo Maluf, ação esta proposta ainda no início da década de 70,
sendo que só transitou em julgado 36 (trinta e seis) anos depois, ou seja,
em 03 de abril de 2006.15
O renomado doutrinador Alexandre de Moraes também sustenta sua posição
favorável à adoção das súmulas nos seguintes termos:
As súmulas vinculantes surgem a partir da necessidade de reforço à idéia
de uma única interpretação jurídica para o mesmo texto constitucional ou
legal, de maneira a assegurar-se a segurança jurídica e o princípio da
igualdade, pois os órgãos do Poder Judiciário não devem aplicar as leis e
atos normativos aos casos concretos de forma a criar ou aumentar
desigualdades arbitrárias, devendo, pois, utilizar-se de todos os
mecanismos constitucionais no sentido de conceder às normas jurídicas
uma interpretação única e igualitária.16
Frente a todos estes argumentos, não se duvida a boa intenção dos juristas em
implantar a súmula como precedente obrigatório, visando, entre outros objetivos,
acelerar o trâmite dos processos no Judiciário, contribuindo para uma maior efetividade
na prestação da tutela jurisdicional.
Contudo, sabe-se que o Brasil, como estado Democrático de Direito que é, prioriza,
ou pelo menos deveria fazê-lo, o cumprimento das garantias processuais e
constitucionais. Para a sobrevivência do Processo, como legitimador do exercício da
jurisdição, necessário se faz o respeito às garantias, as quais não se prestam ao
resguardo somente do interesse das partes, mas também da segurança jurídica da
sociedade17.
15
AGUIAR, Marcelo Dias. A adoção da súmula vinculante no Brasil. Disponível em:
<http://secure.jurid.com.br/new/jengine.exe/cpag?p=jornaldetalhedoutrina&ID=38985>. Acesso em: 25 set. 2007.
16
MORAES, Alexandre de. Op. cit., p. 544.
17
NEVES, Zuenir de Oliveira. Op. cit., p. 9.
11
diante da inconstitucionalidade, da inserção da súmula com efeito vinculante no Direito
Brasileiro.
18
NEVES, Zuenir de Oliveira. Op. cit., p. 4.
12
Com efeito, segundo o art. 131 do Código de Processo Civil, “o juiz apreciará
livremente a prova, atendendo aos fatos e circunstâncias constantes dos autos, ainda
que não alegados pelas partes; mas deverá indicar, na sentença, os motivos que lhe
formaram o convencimento”.
O juiz deve obediência somente à lei, sendo livre na formação do seu
convencimento e na observância dos ditames de sua consciência. Vê-se que este
princípio faz valer a independência dos magistrados em relação aos Tribunais Superiores,
motivo pelo qual está ele ligado à garantia de independência dos juízes, que tem assento
constitucional.
Apesar de não ter expressa previsão Constitucional, o princípio do livre
convencimento tem ligações fortes com os princípios do devido processo legal e da
obrigatoriedade de motivação das decisões judiciais (art. 93, inciso IX, da CF).
Sob esse aspecto, é fácil concluir que a adoção do efeito vinculante das súmulas vai
de encontro ao princípio do livre convencimento do juiz. Como sustenta a doutrina:
Notória a insubordinação da Súmula de efeito vinculante a tal Princípio,
haja vista a possibilidade de se chegar a uma decisão sem análise
adequada das provas, vez que cabível a simples indicação de Súmula de
determinado Tribunal no sentido da decisão recorrida, ou um mero
despacho indeferindo a inicial. Essa possibilidade de escassa
fundamentação, ao violar o Princípio em comento, fere, em verdade,
norma constitucional originária, pois entra em conflito com a garantia do
19
Devido Processo Legal.
E ainda:
Nota-se, facilmente, que a garantia ao livre convencimento do juiz é
impraticável em face ao efeito vinculante, uma vez que, caso seja adotado
este efeito vinculativo das súmulas dos tribunais, o juiz mesmo que
convencido do contrário, deverá decidir a lide da forma que foi
previamente estabelecido pelos Tribunais Superiores, estando vinculado à
decisão sumulada.20
Observa-se, outrossim, que a adoção neste momento do efeito vinculante das
súmulas prejudica a evolução do direito pátrio, já que a metodologia jurídica atual, após
muito progresso, está voltada para o caso concreto. Inexiste uma solução apriorística
para dada situação, sendo a aplicação do Direito do novo século realizada caso a caso e
não de forma generalizada e com uso dos silogismos.
Não se pode negar que um dos principais problemas causados pela súmula
vinculante será o engessamento do arbítrio do magistrado. Este certamente perderá seu
poder de convicção, uma vez que seu julgamento estará vinculado aos precedentes já
fixados pelo STF. E, como se sabe, o juiz monocrático é o que tem melhores condições
de julgamento, já que é ele que está em contado com as partes e que pode considerar
todos os fatos necessários a um julgamento correto, interpretando a lei no caso concreto.
O instrumento da súmula com o efeito que se quer a ela atribuir, na verdade, ao invés de
fortalecer o sistema jurídico, tolhe a liberdade dos juízes singulares, impedindo o
desenvolvimento de suas inspirações e convicções.
Destarte, impõe-se o reconhecimento de que a sentença do magistrado, resultante
da sua atividade criativa, ao apreciar um fato concreto levado ao seu conhecimento,
ficaria mitigada, face à sua vinculação obrigatória a uma apreciação anterior similar,
então sumulada. Resta indubitável o prejuízo ao livre convencimento do juiz na
apreciação das demandas e à própria atuação judicial.
19
NEVES, Zuenir de Oliveira. Op. cit., p. 6.
20
CHIARINI JÚNIOR, Enéas Castilho. Op. cit., p. 6.
13
7.3 Do Princípio da Legalidade
21
MORAES, Alexandre de. Op. cit., p. 36.
22
SULZBACH, Maria Helena Mallmann. Efeito Vinculante: prós e contras. Revista Consulex, São Paulo, n. 3, mar. 1997.
14
direito aplicável aos juízes e às partes processuais, sem que tal direito esteja previsto em
lei, regularmente editada pelo Poder Legislativo competente.
23
SGARBOSSA, Luís Fernando; JENSEN, Geziela. A Emenda Constitucional nº 45/04, a súmula vinculante e o livre convencimento
motivado do magistrado. Um breve ensaio sobre hipóteses de inaplicabilidade. Jus Navigandi, Teresina, ano 9, n. 708, 13 jun. 2005.
Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=6884>. Acesso em: 7 nov. 2007.
15
convencido de que estão ausentes um ou mais pressupostos fáticos ou jurídicos
essenciais à aplicação de determinada súmula.
É fato que a EC nº 45/04 não retirou dos órgãos judicantes o controle difuso de
constitucionalidade, tampouco revogou o Princípio do Livre Convencimento. Estando
vigente o princípio de que o juiz é livre para decidir a causa de acordo o seu
convencimento, depreende-se que é indispensável a existência de identidade fático-
jurídica entre os precedentes que originaram a edição da súmula e o caso sub judice,
cabendo ao magistrado analisar tal exigência.
Destarte, verificando discordância entre os fatos ou o direito aplicável à situação
que originou o litígio e os fatos ou o direito regente das situações ensejadoras da súmula,
é de se declará-la inaplicável.
Torna-se evidente que em tal situação, possui o órgão do Judiciário o direito ou
mesmo o dever de, fundamentadamente, afastar a aplicação da súmula no caso
concreto, julgando o caso de acordo com o seu livre convencimento e utilizando as regras
usuais da hermenêutica.
Esta é uma saída que se entende viável para se atribuir ao instituto da súmula
vinculante o mínimo de coerência e para adequá-lo, ainda que se forma forçada, ao
sistema jurídico local.
9 CONSIDERAÇÕES FINAIS
16
Deve-se garantir aos órgãos do Poder Judiciário a prerrogativa de afastar a
aplicação da súmula no caso concreto, declarando inconstitucional o instituto em si
considerado ou o seu conteúdo. Dessa forma, as instâncias inferiores do Judiciário irão
conservar o mínimo de seus poderes e atribuições, mantendo o seu livre convencimento,
na medida do necessário.
10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AGUIAR, Marcelo Dias. A adoção da súmula vinculante no Brasil. Disponível em:
<http://secure.jurid.com.br/new/jengine.exe/cpag?p=jornaldetalhedoutrina &ID=38985>. Acesso
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2002.
CHIARINI JÚNIOR, Enéas Castilho. A Inconstitucionalidade da Súmula de efeito vinculante no
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DAVID, René. Os grandes sistemas do direito contemporâneo: direito comparado. Tradução
de Hermínio A. de Carvalho. 2. ed. Lisboa: Meridiano, 1978.
FIGUEIREDO, Leonardo Vizeu. Súmula Vinculante e a Lei nº 11.417/2006: apontamentos para
compreensão do tema. Jus navigandi, Teresina, ano 11, n. 1295, 17 jan. 2007. Disponível em:
http://jus2uol.com.br/ doutrina/texto.asp?id=9400. Acesso em: 20 jul. 2007.
FREITAS, Márcio Vieira. Considerações sobre a intitulada “súmula vinculante”. Jus Navigandi,
Teresina, ano 9, n. 503, 22 nov. 2004. Disponível em:
<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=5969>. Acesso em: 26 set. 2007.
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PAULO, Vicente. Aulas de Direito Constitucional. 9ª ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2007.
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vinculante e o livre convencimento motivado do magistrado. Um breve ensaio sobre hipóteses de
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TEIXEIRA, Ricardo Augusto de Araúlo. Breves reflexões sobre o instituto da súmula vinculante e
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Acesso em: 24 set. 2007.
17