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CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA ELÉTRICA

LABORATÓRIO DE MATERIAIS ELÉTRICOS

GUIA EXPERIMENTAL:
CARACTERIZAÇÃO DE VARISTORES

São Cristóvão, Sergipe


2019
ii

Adaptação e atualização realizada por:


Bruno Vinícius Silveira
Gustavo Aragão Rodrigues
Eng. Marcelino Pereira dos Santos
Prof. Tarso Vilela Ferreira
Prof. Luciano de Macedo Barros

Texto base original:


“Caracterização Elétrica de Varistores”

Autores: Francisco José do Nascimento Júnior


Marco Antonio Maschio
Prof. Edson Guedes da Costa

Departamento de Engenharia Elétrica


Universidade Federal de Campina Grande
iii

SUMÁRIO

1 Apresentação ...................................................................................................................................... 14
1.1 Objetivos do Experimento ........................................................................................................ 14
2 Material Disponibilizado .................................................................................................................... 14
3 Fundamentação Teórica...................................................................................................................... 14
3.1 Propriedades Elétricas Dos Varistores de ZnO ......................................................................... 18
3.1.1 Expoente de Não-Linearidade () ........................................................................................ 19
3.1.2 Tensão de ruptura, tensão de referência ou tensão não-linear .............................................. 20
3.1.3 Corrente de fuga ................................................................................................................... 21
3.1.4 Tensão Residual .................................................................................................................... 22
3.2 Ensaios e Classificação dos Varistores ..................................................................................... 23
4 Roteiros Experimentais ...................................................................................................................... 23
4.1 Escada de Jacob ........................................................................................................................ 23
4.1.1 Roteiro experimental ............................................................................................................ 24
4.2 Determinação da Curva Característica ...................................................................................... 24
5 Avaliação ............................................................................................................................................ 25
Anexo A ..................................................................................................................................................... 27
Anexo B...................................................................................................................................................... 29
Anexo C...................................................................................................................................................... 30
Bibliografia................................................................................................................................................. 31
Caracterização Elétrica de Varistores 1
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1 APRESENTAÇÃO

Este guia experimental tem a função de nortear os estudantes de


Engenharia Elétrica da Universidade Federal de Sergipe na execução de
experimentos para caracterização de varistores de óxido de zinco (ZnO). Mais que
isso, deve também orientá-los no sentido de extraírem conhecimento dos
resultados obtidos no experimento, e auxiliá-los na confecção do relatório.

1.1 OBJETIVOS DO EXPERIMENTO


Estudar o comportamento elétrico dos varistores de óxido de zinco (ZnO)
e suas aplicações, por meio da execução de experimentos práticos para
levantamento das suas características corrente versus tensão.

2 MATERIAL DISPONIBILIZADO

 Fonte regulável de alta tensão (30 kVCC/350 W);


 Varistores sortidos;
 Multímetros;
 Eletrodos para Escada de Jacó;
 Cabos para conexões;
 Osciloscópio analógico;
 Transformador elevador (120 V/13,8 kV);
 Autotransformador ajustável.

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Varistores são dispositivos semicondutores eletro-cerâmicos com


características corrente-tensão não-lineares. A palavra varistor é derivada do
termo “variable resistor”. No entanto, os varistores também são conhecidos como
resistores não-lineares, resistores variáveis, supressores de surto e limitadores de
tensão. Fotografias de varistores típicos podem ser vistos na Figura 1.
Até o final da década de 1960, os varistores utilizados eram constituídos
por carboneto de silício (SiC). Estes varistores apresentavam uma baixa não-
linearidade, necessitando do uso de centelhadores em série, que eram empregados
no auxílio ao isolamento mesmo em condições normais de operação. Além da

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necessidade de centelhadores série, os varistores de SiC apresentavam várias


deficiências, como a baixa não-linearidade, a existência da corrente subsequente,
baixo calor específico, etc.

Figura 1. Apresentações típicas de varistores de diversas aplicações.

Com a evolução da ciência dos materiais, em 1968 a Matsushita Electric


descobriu as características não-lineares de um composto cerâmico à base de óxido
de zinco. Os varistores à base de óxido de zinco apresentam uma alta não-
linearidade e características elétricas e térmicas mais aperfeiçoadas.
Como os varistores à base de ZnO apresentam alta capacidade de absorção
de energia, pesquisas foram desenvolvidas para a sua utilização em sistemas de
potência. A partir de 1975, para-raios de ZnO são utilizados nos sistemas de
distribuição, subtransmissão e transmissão de energia elétrica contra sobretensão
e surtos atmosféricos e de chaveamentos.
Atualmente, os varistores de ZnO possuem uma vasta aplicação na
engenharia elétrica, sendo comumente utilizados para proteger equipamentos
eletrônicos, aparelhos de telecomunicações, equipamentos de informática,
industriais, de eletrônica de potência, em para-raios em linhas de distribuição e
transmissão de energia elétrica. Usualmente o dispositivo de proteção é conectado
entre a linha e a terra, com a finalidade de limitar a sobretensão a níveis
compatíveis com o isolamento dos outros equipamentos do sistema elétrico. É
bastante comum o uso de para-raios na proteção de outros equipamentos, como
transformadores, por exemplo. Imagens desta topologia são mostradas na
Figura 2, para um sistema de transmissão, e na Figura 3, para um sistema de
distribuição.
Como pode-se observar nas figuras apresentadas, a instalação do para-raios
é feita o mais próximo possível do equipamento que se deseja proteger, no caso, o
transformador. Ainda, observando-se a Figura 3, está indicado pelas setas em
laranja o caminho que uma eventual corrente de surto seguiria caso fosse
conduzida pela linha, após a ocorrência de uma descarga atmosférica, por exemplo
(o condutor de aterramento, conectado ao lado terra dos para-raios não está
completamente visível na fotografia). Caso os para-raios funcionem de maneira
satisfatória, a sobrecarga advinda do surto será encaminhada para o aterramento

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da estrutura, salvaguardando o transformador dos elevados esforços


eletromagnéticos.

Figura 2 - Para-raios instalado em um sistema de transmissão.

Figura 3 - Para-raios instalado em um sistema de distribuição.

Os para-raios de óxido de zinco são constituídos por varistores ou elementos


não- lineares. Os varistores são dispostos em coluna ou colunas e são envolvidos
por um invólucro de porcelana ou de material polimérico com formato cilíndrico
e com aletas. Na Figura 4 apresentam-se as características típicas IxV do para-
raios de ZnO e do para-raios de carboneto de silício (SiC), como também, os níveis

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de proteção para impulso atmosférico e de manobra além das tensões nominal e


de operação contínua.
Os para-raios de ZnO apresentam muitas vantagens sobre o seu antecessor,
os para-raios de SiC. Entre estas vantagens podem ser citadas:

 Alto expoente de não-linearidade entre a tensão e a corrente;


 Baixa tensão residual;
 Baixa corrente de fuga na tensão de operação;
 Eliminação dos centelhadores em série;
 Redução significativa do tamanho;
 Rápida resposta quando submetidos a surtos de tensão;
 Comportamento superior com relação à proteção;
 Suportabilidade superior para ciclos de operação múltiplos;
 Desempenho superior em ambientes poluídos;
 Possibilidade de conexão em paralelo de colunas varistoras ou
mesmo de para-raios;
 Capacidade de absorção de calor superior.

Figura 4 - Curva característica típica dos para-raios de ZnO e de SiC.

A origem do comportamento não-linear está relacionada com as


características microestruturais dos varistores, que são dependentes do tipo de
processamento empregado e da natureza dos dopantes. Os varistores de ZnO são
preparados pela sinterização de grãos de ZnO, um semicondutor tipo n, na
presença de pequenas quantidades de óxidos metálicos como bismuto, cobalto,
manganês, antimônio e outros (sinterização é o processo de densificação de
materiais através de prensagem e aquecimento).

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3.1 PROPRIEDADES ELÉTRICAS DOS VARISTORES DE ZNO


A mais importante propriedade dos varistores de óxido de zinco é a sua
característica não-linear, IxV (JxE), mostrada na Figura 4. Funcionalmente, um
varistor ou um para-raios atua como um isolante (resistor com alta resistência)
antes de atingir a tensão conhecida como tensão de ruptura e atua como condutor
ao ultrapassá-la. As características não-lineares ou não ôhmicas no módulo
condutivo e a baixa corrente de fuga na tensão de operação em regime, no módulo
resistivo, adicionadas à alta capacidade de absorção térmica, fizeram o varistor
atrativo para as aplicações elétricas de potência. As características elétricas podem
ser ressaltadas nas três regiões da curva, mostrada na Figura 5.

Figura 5 - Curvas características densidade de corrente versus


campo elétrico para varistores de óxido de zinco em CC e CA.

R egião linear de baixa corrente: a característica JxE (IxV) é


aproximadamente ôhmica na região cuja densidade de corrente não ultrapassa a
10-4 A/cm2. A região é conhecida como região de pré-ruptura. Nesta região, a
corrente alternada pode ser 2 ordens de magnitude maior que a corrente excitada
por uma fonte cc. A corrente alternada é responsável pelos mecanismos de
polarização dos dielétricos, isto é, apresenta uma componente capacitiva (Ic) e
outra resistiva (Ir). Na Figura 6 observa-se a dependência da corrente com a
temperatura.
R egião não-linear: a região não-linear de corrente intermediária é a
essência do varistor de óxido de zinco, onde o dispositivo ou equipamento conduz
uma quantidade grande de corrente, mesmo para um pequeno aumento da tensão
aplicada. A região não-linear pode se estender sobre 6 a 7 ordens de magnitude
de corrente e apresenta uma variação absoluta de densidade de corrente entre
10-4 A/cm2 a 1000 A/cm2. O grau de não-linearidade é determinado no patamar

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da região não-linear, quanto menos inclinada for a curva JxE (IxV), melhor será
o dispositivo ou equipamento.
R egião de alta corrente: a região de alta corrente apresenta densidade
de corrente superior a 103A/cm2. Esta região apresenta-se com comportamento
linear, isto é, a tensão volta a crescer com o aumento da corrente e o mecanismo
de condução é controlado pela impedância dos grãos de ZnO.

Figura 6 - Curvas características densidade de corrente versus campo elétrico


para varistores de óxido de zinco em temperaturas diferentes.

Nas suas aplicações, os para-raios ou um único varistor utiliza todas as


regiões da sua curva característica indicadas na Figura 5. A região de baixa
corrente é importante porque define as perdas ativas, consequentemente a tensão
de operação, para aplicações em regime de uso contínuo. A região não-linear
determina a tensão residual na aplicação de um surto. A região de alta corrente
apresenta a condição limite para proteção contra surtos de alta corrente, tais
como aquelas encontradas nas correntes de impulso atmosféricos.
A caracterização elétrica de um elemento varistor de óxido metálico é
realizada na determinação da curva JxE (IxV). Devido a problemas de dissipação
de calor ou de altas correntes circulando por longos períodos, não é possível usar
as mesmas técnicas de medição para todas as regiões. Comumente, as medições
abaixo de 100 mA/cm2 são realizadas por medições em CA ou CC, entretanto,
para valores superiores, a caracterização é feita através de impulso de corrente
com a forma de onda de 8x20 µs e 4x10 µs.

3.1.1 EXPOENTE DE N ÃO-LINEARIDADE ()

O expoente de não-linearidade, , é o parâmetro elétrico mais importante


dos varistores. O expoente  é definido no patamar da curva característica JxE
(IxV) como apresentado em (1).

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Quanto maior for o valor de , melhor será o dispositivo. O valor do


expoente  cresce na região de pré-ruptura, encontra um valor máximo na região
de ruptura e então diminui na região de alta corrente. Desse modo, o cálculo do
valor do expoente  necessita da definição dos valores da corrente e da tensão.
Assim a Equação 1, torna-se a Equação 2:

𝑑(log 𝐽)
∝= (1)
𝑑(log 𝐸)

𝑑(log 𝐽2 /𝐽1 )
∝= , (2)
𝑑(log 𝐸2 /𝐸1 )

em que J2 é a densidade de corrente em 250 A/cm2, J1, a densidade de corrente


em 0,5 mA/cm2 e E2 e E1 são os respectivos campos elétricos, para a curva
característica JxE.
A curva característica na região não-linear pode ser representada pela
equação empírica bastante usada (3):

𝐼 = 𝑘1 𝑉 ∝ 𝑜𝑢 𝐽 = 𝑘2 𝐸 ∝ , (3)

em que k1 e k2 são constantes do material. Percebe-se da Equação 3 que, com


valores de  altos, qualquer aumento na tensão proporciona um significativo
aumento na corrente. Isto é a base de proteção associada às peculiaridades dos
equipamentos a serem protegidos.
A importância dos elementos não-lineares de óxido de zinco reside no fato
de que o valor do seu expoente  ultrapassa o dos outros elementos. É importante
notar que a variação de corrente deve ser claramente especificada, pois o valor de
, em alguns casos, é o fator de seleção do dispositivo.

3.1.2 TENSÃO DE RUPTURA , TENSÃO DE REFERÊNCIA OU TENSÃO NÃO- LINEAR

O elemento não-linear é também caracterizado por uma tensão que faz a


transição do módulo linear para o não-linear. A tensão de entrada da não-
linearidade, justamente acima do "joelho" da curva JxE (IxV), Figura 4, é definida
como a tensão de ruptura e, a partir do seu valor é possível determinar a tensão
nominal do dispositivo ou do elemento não-linear. Por falta de um ponto definido
na curva JxE (IxV), a exata localização desta tensão é difícil na maioria dos
elementos não-lineares à base de óxido metálico.
A tensão de ruptura dos elementos varistores até hoje não se encontra
normalizada. Em literaturas mais antigas encontravam-se valores de V1mA ou
V10mA, que correspondem a uma tensão que proporciona uma corrente no
elemento varistor de 1 mA ou 10 mA, respectivamente. Como pode ser visto, os

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valores indicados não consideram a geometria do elemento varistor, portanto,


torna-se muito difícil fazer comparações e análises.
O problema pode ser minimizado pelo uso de valores normalizados da
tensão e da corrente. Mesmo assim, atualmente ainda existem valores diferentes
para determinar a tensão de ruptura ou a tensão de referência, entretanto, os
valores mais usados são: E0,5mA/cm2 e E1mA/cm2. A tensão de referência
associada a E0,5mA/cm2, por ser mais utilizada, será adotada também neste
experimento. A tensão (campo) de referência é definida como o valor de pico da
tensão (campo) que provoca uma densidade de corrente (valor de pico) de
0,5 mA/cm2.
Para a maioria das aplicações em sistema monofásicos, o valor da tensão
de operação em regime permanente é colocado entre 0,7 e 0,8 da tensão de
referência dividido por raiz de 2.

3.1.3 C ORRENTE DE FUGA

Como um elemento ativo ligado entre a fase e a terra, o dispositivo não-


linear à base de óxido de zinco, sem centelhadores, conduz continuamente uma
corrente de fuga. O entendimento da corrente de fuga desses elementos é
importante por duas razões. Primeiro, porque estando energizado com a tensão
de operação em regime permanente, a corrente determina a quantidade das perdas
ativas que o elemento irá produzir, (P=It²R), logo a intensidade da corrente de
fuga determina o valor da tensão de operação em regime permanente que o
dispositivo pode suportar sem gerar um excessivo calor. Segundo, porque se a
intensidade de corrente for reduzida bastante para minimizar as perdas poderia
acarretar desequilíbrio ou dificuldade de ajuste na coordenação da proteção. Outro
problema relacionado com a primeira razão, é que se a corrente tiver magnitude
alta, após a excursão da corrente provocada por um surto, com consequente
aumento de temperatura, haveria dificuldades de dissipação de calor, podendo
ocasionar o desencadeamento térmico ou avalanche térmica.
Os elementos de óxido metálico, na região de pré-ruptura podem ser
considerados como capacitores. Desse modo, os elementos apresentam uma
corrente total, It, que pode ser decomposta em duas componentes, a corrente
capacitiva (Ic) e a corrente resistiva (Ir). A corrente capacitiva é oriunda da
polarização elétrica existente na camada Inter granular, a qual funciona como um
meio dielétrico; e os grãos funcionam como os eletrodos de um capacitor. A
componente resistiva é dependente da temperatura. A alta não-linearidade da
corrente de fuga com a tensão, associada à sua dependência com a temperatura
são fatores importantes na análise do comportamento térmico, da degradação e
na capacidade de absorção de calor. Algumas análises da degradação dos para-
raios são feitas através da observação da corrente resistiva ou de seus harmônicos.

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No projeto de um supressor de surtos, como um para-raios, a componente


importante é a resistiva, pois ela é responsável pelo aquecimento joule dentro dos
elementos. A componente capacitiva da corrente de fuga participa das tensões de
graduação tal como tensão não-linear ou tensão de referência; logo não
contribuindo para o aquecimento dos elementos não-lineares. O valor da corrente
resistiva é influenciado: pela formulação química, pelo processo de fabricação dos
elementos, pela tensão aplicada, pela temperatura ambiente e pela duração da
aplicação do esforço elétrico.
O efeito da tensão aplicada é mais pronunciado na componente resistiva
da corrente de fuga do que na componente capacitiva e, logicamente na corrente
total. Para a maioria dos elementos não-lineares disponíveis no mercado, a sua
corrente praticamente dobra com a simples variação da tensão de
aproximadamente 0,7E0,5mA/cm² para 0,8E0,5mA/cm². O efeito da temperatura
também é mais pronunciado na componente resistiva da corrente de fuga.
Como os elementos não-lineares são projetados para utilização por período
muito longo, como exemplo, os para-raios, que devem ter uma vida média de
aproximadamente trinta anos, portanto o efeito do tempo na corrente é
extraordinariamente importante. Na Figura 7 observa o comportamento das
correntes It, Ir e Ic no tempo, quando o elemento está submetido a um esforço
elétrico e a uma temperatura definidos. A maior variação ocorre na corrente
resistiva. A variação no tempo é acelerada pelo aumento do campo elétrico e da
temperatura, nessas condições, o resultado pode ser o desencadeamento térmico.
A dependência de Ir com o tempo é então, o mais significante parâmetro na
determinação da vida dos dispositivos à base de óxido de zinco.

Figura 7 - Dependência das componentes da corrente com o tempo.

3.1.4 TENSÃO RESIDUAL

A tensão residual para um dispositivo não-linear é a tensão que se


estabelece nos seus terminais quando da passagem de um surto. A tensão residual
é importante na determinação dos níveis de coordenação de isolamento, pois os

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equipamentos a serem protegidos devem apresentar um nível básico de isolamento


superior ao valor da tensão residual.
Os varistores ou os para-raios apresentam altos valores do expoente de não
linearidade, consequentemente apresentam baixos valores para os níveis
protetivos (razão entre a tensão residual e a tensão de referência). O baixo valor
da tensão residual provém das mudanças no mecanismo de condução do varistor,
transformando-o em um componente altamente condutivo, com resistividade
variando de 1 a 10 cm. O valor da tensão residual depende da formulação
química e do processo de fabricação do elemento varistor.

3.2 ENSAIOS E CLASSIFICAÇÃO DOS VARISTORES


Após o processo de fabricação, os varistores de ZnO são submetidos a testes
e ensaios elétricos normalizados para caracterização das suas propriedades
elétricas, térmicas e mecânicas. Assim, os varistores são classificados e aqueles que
não apresentarem características adequadas são eliminados pelo controle de
qualidade.

4 ROTEIROS EXPERIMENTAIS

Através deste experimento pode-se determinar o coeficiente de não


linearidade, a corrente de fuga e a tensão de ruptura, características importantes
para se estabelecer o uso de um varistor. Contudo, como se trata de testes que
envolvem alta tensão, será realizado um experimento inicial para familiarização
com os procedimentos de segurança1 e com a fonte de alta tensão contínua
empregada nos ensaios.

4.1 ESCADA DE JACOB


A Escada de Jacob é um dispositivo constituído por dois eletrodos em
forma de arco ou retos, formando um “v”. A alta tensão elétrica aplicada nesses
eletrodos faz com que o ar se ionize e plasma se forme nas suas bases. O plasma
tende a subir, e à medida que o comprimento do arco elétrico aumenta, também
aumenta a potência necessária para mantê-lo, o que, na topologia da Escada de
Jacob, propositalmente causa seu colapso. O arco extingue-se e o ciclo repete-se
com a formação de um novo arco na base inferior dos eletrodos.

1 Serão repassados presencialmente, antes da realização do experimento, pelo professor.

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O ar, por natureza, é um isolante. Para se tornar um condutor, tem que


sofrer uma ruptura dielétrica. Isto acontece quando uma tensão de
aproximadamente 26 kV/cm2 é aplicada no ar, ocorrendo a sua ionização.

Figura 8. Escada de Jacob (estrutura básica).

4.1.1 ROTEIRO EXPERIMENTAL

i. Certifique-se de que a fonte está desligada e o botão de ajuste de


tensão em sua posição de mínimo (consulte o manual no Anexo A);
ii. Monte o circuito ilustrado na Figura 9;
iii. Ligue a fonte de alta tensão;
iv. Gire o botão de regulação da tensão de saída da fonte no sentido
horário, lentamente, até que se forme uma descarga entre os
eletrodos da Escada;
v. Observe o processo de formação e extinção das descargas e tome
nota dos aspectos que julgar pertinentes3.
vi. Regrida o botão de ajuste de tensão até zero;
vii. Desligue a fonte de alta tensão.

Figura 9. Arranjo experimental para execução do experimento “Escada de Jacob”.

4.2 DETERMINAÇÃO DA CURVA CARACTERÍSTICA


Neste experimento deverão ser coletados os valores de tensão e corrente
correspondentes aos pontos no plano I versus V para que se plote, posteriormente,

2 Em condições padronizadas de temperatura e pressão e na presença de um campo elétrico uniforme.


3 Caso disponha de uma câmera, registrar o fenômeno em vídeo pode ser uma boa alternativa .

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a curva característica dos varistores ensaiados. Através deste experimento pode-


se determinar o coeficiente de não linearidade, a corrente de fuga e a tensão de
ruptura, características importantes para se estabelecer o uso de um varistor.

i. Certifique-se de que a fonte está desligada e o botão de ajuste de


tensão em sua posição de mínimo (consulte o manual no Anexo A);
ii. Monte o circuito da Figura 10;
iii. Anote as referências dos varistores;
iv. Varie a tensão conforme sugerido no Anexo B;
v. Anote as tensões e as correntes na Tabela do Anexo B;
vi. Substitua o varistor e repita os procedimentos anteriores;
vii. Regrida o botão de ajuste de tensão até zero;
viii. Desligue a fonte de alta tensão;
ix. Meça e anote as dimensões físicas dos varistores conforme o Anexo
C.

Figura 10 - Arranjo experimental para determinação


da característica tensão-corrente.

5 AVALIAÇÃO

Com base nos dados coletados no experimento, execute as tarefas descritas


abaixo e apresente seus resultados na forma de um relatório4.

i. Com base nos valores anotados na Tabela I e nas dimensões dos


varistores, confeccione uma tabela mostrando a densidade de
corrente e o campo elétrico aplicados aos varistores. Construa as
curvas características E versus J para os varistores utilizados no
experimento, use escalas logarítmicas. Lembre-se que gráficos são
feitos para expressar um conjunto de dados de forma simplificada e
sem a necessidade de realizar de operações matemáticas, isto é, use
escalas adequadas.
ii. Com base nas curvas características determine:
a. Os expoentes de não-linearidade para os varistores;
b. Os campos de ruptura 𝑬𝟎,𝟓 𝐦𝐀/𝐜𝐦𝟐 para os varistores;

4
O relatório deverá conter: Título; Resumo da experiência (descrição sucinta dos experimentos);
Apresentação, análise e discussão dos resultados: gráficos, comentários, tabelas, etc.; Conclusão; Referências
bibliográficas.

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c. A tensão de trabalho (70% a 80% de 𝑬𝟎,𝟓 𝐦𝐀/𝐜𝐦𝟐 ) para cada


varistor.
iii. De posse das características do varistor que na sua opinião apresenta
os melhores resultados no experimento, projete um novo varistor
para ser aplicado na proteção de um televisor com tensão nominal
de 220 V. O varistor deve apresentar uma potência quatro vezes
maior que o original. Sugestão: se for preciso varie as dimensões
mantendo a capacidade de absorção de calor por volume.

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ANEXO A

Regras de utilização:

i. A fonte deve ser operada por no máximo duas pessoas;


ii. Os operadores da fonte devem estar vestidos com calça e sapato
fechado;
iii. A fonte não deve ficar ligada por mais de 10 minutos;
iv. A fonte não pode ser balançada ou virada mais de 15 graus em
qualquer direção;
v. Uso do potenciômetro:
1. Gira-lo no sentido horário aumenta a tensão na saída de alta
tensão, por consequência, gira-lo no sentido anti-horário
reduz a tensão;
2. O aumento da tensão deve ser feito sempre de forma
gradativa;
3. O potenciômetro deve estar sempre no mínimo quando a
fonte não estiver em operação;
4. O potenciômetro nunca deve ser posto no máximo, além
disso, quanto maior for a tensão utilizada, menos tempo a
fonte pode permanecer em operação;
vi. Durante o experimento o usuário não deve encostar em nenhuma
estrutural metálica, inclusive a carcaça da fonte;
vii. A função de cada um dos bornes está descrita na fonte;
viii. O passo-a-passo para a realização de um experimento com a fonte
está descrito a seguir.

Guia de uso:

i. Conferir se a fonte está desconectada da rede, se não estiver,


desconecte-a;
ii. Abrir a tampa;
iii. Conferir se o botão liga-desliga está em off, se não estiver, coloque-
o em off;
iv. Conferir se o potenciômetro está no mínimo, se não estiver, gire-o
no sentido anti-horário até o fim;
v. Localizar com atenção os bornes e compreender a função de cada
um;
vi. Montar o circuito do experimento a ser realizado;
vii. Energizar a fonte na rede elétrica local;
viii. Colocar o botão liga-desliga em on;

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ix. Variar o potenciômetro como explicado nas regras de utilização até


chegar no ponto de operação do experimento;
x. Ao terminar o experimento, retorne o potenciômetro ao mínimo,
girando no sentido anti-horário até o fim;
xi. Colocar o botão liga-desliga na posição off;
xii. Desconecte o circuito da rede;
xiii. Desmonte o circuito do experimento;
xiv. Feche a tampa.

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ANEXO B

Passo 1: Para valores de corrente inferiores a 1µA, varia-se a tensão em 20V.


Passo 2: Para valores de corrente entre 1µA e 10 µA, varia-se a tensão em 10V.
Passo 3: Para valores de corrente superiores a 10 µA, varia-se a tensão em 5V.
Passo 4: Pare a coleta de pontos quando a corrente ultrapassar 200 µA.

Tabela 1.

Varistor 1 Varistor 2 Varistor 3


(V) (µA) (V) (µA) (V) (µA)

S14K-385-0616 S10k-250-1815 S10k-385-1046

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0

ANEXO C

Tabela 2.

Varistor 1 Varistor 2 Varistor 3


Espessura
Diâmetro

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Caracterização Elétrica de Varistores 3
1

BIBLIOGRAFIA

COSTA, E. G., C aracterização Elétrica de V aristores , Guia Experimental


da Disciplina “Laboratório de Materiais Elétricos”, Departamento de
Engenharia Elétrica, Universidade Federal de Campina Grande, 2019.

FRANCO, J. L., Estudo das Propriedades Elétricas dos V aristores de


ZnO na R egião de B aixas Tensões A plicadas, Dissertação de Mestrado,
Universidade Federal da Paraíba, 1993.

GUPTA, T. K., A pplication of Zinc Oxide V aristors , J. Am. Ceram. Soc.,


vol. 73, n. 7, p. 1817-1840, 1990.

COSTA, E. G., A nálise do D esem penho de Para-raios de Óxido de


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Laboratório de Materiais Elétricos – DEL – CCET - UFS

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