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Protagonismo do PMDB em pautas anti-indígenas no Congresso


preocupa os índios
CIRO BARROS

22 MAI 2016 - 12:18 BRT

Índios guarani-kaiowá protestam em frente ao Palácio do Planalto contra retrocessos nas políticas de
demarcação de terras no dia 17 de maio. /FABIO RODRIGUES POZZEBOM (AGÊNCIA BRASIL)

Na semana do afastamento da
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presidente Dilma Rousseff, ao Garimpos de ouro ilegais na floresta


amazônica
menos 20 lideranças indígenas
consultadas pela reportagem da
Pública em Brasília fizeram um diagnóstico comum durante o 13º
Acampamento Terra Livre (ATL), mobilização que ocorre anualmente na
capital federal: se com Dilma Rousseff a situação dos índios estava difícil,
com Michel Temer será pior.

Ainda que o governo afastado tenha sido o que menos homologou e declarou
terras indígenas desde a redemocratização do país, a preocupação dos
indígenas é que o governo interino reveja as decisões tomadas recentemente.

O receio não é sem motivo. Na sexta-feira, 13, um grupo de lideranças


indígenas se reuniu com o novo ministro da Justiça, Alexandre de Moraes. Ao
ser questionado a respeito da possível revisão das demarcações, a resposta
foi evasiva: “Qualquer coisa que for se fazer daqui para a frente, nós vamos
conversar. Não houve nenhuma palavra minha, assim como não houve
nenhuma palavra do presidente Michel Temer sobre revogação”.

No início desta semana, em entrevista à Folha de S.Paulo, Moraes voltou ao


tema. Ele afirmou que irá rever “demarcações de terras indígenas que foram
feitas, se não na correria, no apagar das luzes”. Ponderou, no entanto, que
“qualquer revisão será feita em total diálogo” com as populações afetadas.

Tal indefinição coloca em debate a possível inconstitucionalidade na revisão


dessas demarcações. As terras que mais preocupam os entrevistados pela
Pública são as que foram delimitadas, declaradas ou homologadas nos meses
finais da gestão petista. A mais recente delas, a do povo que mais sofre com
assassinatos em todo o Brasil: os Guarani Kaiowá, no Mato Grosso do Sul,
área situada no epicentro dos conflitos armados que deixaram 390 indígenas
mortos entre 2003 e 2014, segundo dados do Conselho Indigenista
Missionário (Cimi).

O advogado do Instituto Socioambiental (ISA), Maurício Guetta, protocolou


um ofício nesta semana no Ministério da Justiça, na Casa Civil e na

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Presidência da República em que argumenta que “os atos que reconhecem


direitos territoriais indígenas não podem ser simplesmente revogados pelo
Poder Executivo”. Ele cita a jurisprudência do STF, que já assentou que a
demarcação de terras indígenas é um ato declaratório, que se limita a
reconhecer direitos imemoriais que vieram a ser chancelados pela própria
Constituição. “Quando o processo administrativo reconhece um território
protegido pelo direito territorial indígena, o poder público é obrigado a
publicar esse ato. Então, se o poder público já reconheceu a existência dos
direitos territoriais indígenas nessas áreas, com base em processos regulares
que contaram com laudos científicos e o cumprimento de todas as etapas do
processo de demarcação, como o contraditório, não pode uma outra gestão
do poder público simplesmente dizer que aquele reconhecimento não é
válido. Isso é inconstitucional”, argumenta o advogado.

A sinalização de Temer aos ruralistas


No final de abril, Temer se reuniu com os membros da Frente Parlamentar da
Agropecuária (FPA). Os deputados da FPA entregaram ao então
vice-presidente o documento “Pauta Positiva – biênio 2016/2017”, no qual
solicitam a “revisão das recentes demarcações de áreas
indígenas/quilombolas”, além de pleitearem outras diversas questões de
interesse do agronegócio.

Segundo o jornal O Globo, Temer teria declarado de forma extraoficial que


reveria as medidas de desapropriação de terras para a reforma agrária e
demarcação de terras indígenas tomadas no crepúsculo do governo petista. O
jornal informou também que após a posse Temer teria pedido à Casa Civil que
revisse os atos do antigo governo a partir do primeiro dia de abril deste ano.

Do início do mês passado ao momento do afastamento de Dilma, o Executivo


acelerou o processo de demarcação de terras indígenas: foram nove áreas
delimitadas pela Funai, doze terras declaradas pelo Ministério da Justiça e
quatro terras homologadas pela Presidência da República.

O presidente da Funai, João Pedro Gonçalves da Costa, confirmou em


entrevista exclusiva à Pública que a proximidade do impeachment ajudou a

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desengavetar delimitações e homologações de terras indígenas. “Com a


iminência do final do governo, nós demos uma acelerada nesses atos”,
reconheceu.

No dia seguinte à entrevista de Moraes à Folha, Costa publicou uma nota no


site da Funai afirmando que “qualquer ato que vise desestruturar os direitos
indígenas e os direitos aos seus territórios de ocupação tradicional ou que vise
revisar os atos administrativos realizados é frontalmente inconstitucional”.
Para ele, “qualquer revisão nos procedimentos realizados durante esta gestão
e as anteriores só pode ser realizada diante da comprovação de algum tipo de
vício de legalidade”.

O governo petista não foi poupado de críticas durante o Acampamento Terra


Livre. “Nós, povos indígenas, conversamos assim. Se já com a Dilma, está
desse jeito, avalie sem a Dilma. Todo esse tempo na briga com as violações
dos nossos direitos crescendo, vai ser uma calamidade. Essa situação não vai
ser fácil”, afirmou Antonio Pereira, do povo Munduruku Cara Preta, do Pará.

Durante a mobilização, entre os dias 10 e 13 deste mês, muito se falou sobre


as intenções do PMDB, partido que encabeça no Congresso Nacional pautas
anti-indígenas. Além da PEC 215, que transfere a competência da União na
demarcação das terras indígenas para o Congresso Nacional, e da CPI da
Funai e do Incra, tramitam outras pautas anti-indígenas nas duas casas.

Exemplo é a proposta do atual ministro da Planejamento, Romero Jucá, que


propôs projeto de lei que regulamenta a mineração em terras indígenas. “A
pauta indígena sempre foi uma pauta difícil no Brasil porque ela fere muitos
interesses econômicos. Não acho que no governo Dilma tivemos uma
plenitude de garantia dos direitos indígenas, mas a situação agora é muito
pior porque aqueles que estão ocupando o Executivo são aqueles que já
vinham pautando retrocessos na questão indígena e outras, como a questão
quilombola e ambiental”, critica Márcio Meira, o mais longevo presidente da
Funai (2007-2012).

Para Gustavo Vieira, membro do Movimento de Apoio aos Povos Indígenas

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(Mapi), o PMDB de Temer está “todo dentro” da CPI da Funai e


protagonizando a PEC 215. “A gente está agora num processo de demarcação
de áreas que têm muitos conflitos, áreas antropizadas há muito tempo. O
governo Lula e Dilma, no final das contas, deu uma possibilidade de
enfrentamento desse tipo de apropriação das pautas indígenas”, afirmou.

Para a coordenadora da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib),


Sonia Guajajara, “o programa de governo do PMDB traz uma carga de
anúncios de retrocessos”. A preocupação vai além das lideranças da Apib.
“Recentemente ouvimos muito estas duas palavras: golpe e democracia. Será
que o governo está sofrendo golpe? Eu não sei. O que eu sei é que os índios
sofrem um golpe constante sobre seus direitos. PEC 215 é golpe!”, afirmou a
liderança Sarapó Pankararu, de Pernambuco.

Ao fim do acampamento, já com o impeachment consolidado, um manifesto


indígena subiu o tom ao dizer que o novo governo é “ilegítimo” e que “em
nome da ordem e do progresso, pretende aprovar medidas administrativas,
jurídicas e legislativas para invadir mais uma vez os territórios com grandes
empreendimentos: mineração, agronegócio, hidrelétricas, fracking, portos,
rodovias e ferrovias, entre outros”.

Até a publicação, a assessoria do Ministério da Justiça não retornou os


pedidos de esclarecimento sobre as possíveis revogações em terras
indígenas. Também o presidente da CPI Funai e Incra, Alceu Moreira
(PMDB-RS), não respondeu ao contato da Pública.

O ÚLTIMO ATO DA FUNAI NO GOVERNO DILMA


C. B.

Com cara de sono, meio amassado


e abatido, o presidente da Funai,
João Pedro Gonçalves da Costa, se
preparava na manhã seguinte ao
afastamento da presidenta Dilma
para seu último ato relevante à
frente do órgão indigenista: a

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delimitação da terra indígena


O último despacho da Funai na gestão petista
delimitou a terra indígena Dourados-Amambaí
Dourados-Amambaí Peguá I, no sul
Peguá. /CIRO BARROS (AGÊNCIA PÚBLICA)
do Mato Grosso do Sul. A terra está
fincada em uma das regiões que
mais concentram casos de assassinato de índios em todo o Brasil.

Na hora de assinar o relatório de identificação da área, Costa convocou as


poucas lentes e gravadores que estavam na sede da Funai, um prédio
espelhado no Setor Bancário Sul de Brasília, para presenciar o momento
histórico. Naquela mesma manhã, Dilma Rousseff fazia seu primeiro discurso
no Palácio do Planalto como presidente afastada após a abertura do processo
de impeachment pelo Senado.

“Estamos assinando o relatório e publicando essa terra no dia de hoje. Será a


última da minha gestão. Esse ato representa o compromisso da Funai e uma
resposta à pressão anti-indígena daqueles que são contra o reconhecimento
da tradicionalidade das terras do povo Guarani Kaiowá. Minha assinatura é a
da Funai”, discursou o presidente.

Apesar das comemorações, ele pediu cautela aos indígenas, alertou-os para
que se preparassem para o contraditório e demonstrou preocupação com a
ascensão do governo Temer em um contexto de “ruptura e violência contra a
democracia”. “Em nome do meu povo Guarani Kaiowá, eu queria dizer que
enquanto a gente viver a gente vai lutar. Hoje é uma parte da nossa vitória, mas
a gente continua lutando, e nossa luta não vai parar por aqui. A gente vai
enfrentar quem quer destruir a vida dos povos indígenas nesse país. O povo
Guarani Kaiowá vive e vai continuar resistindo”, comemorou Elson Guarani
Kaiowá, uma das lideranças presentes.

‘Saio da presidência, mas não saio da causa’

Após a solenidade de assinatura, com direito a uma dancinha desajeitada do


presidente da Funai com os Guarani Kaiowá, Costa rumou para o elevador. Do
13º andar, foi direto ao térreo, acompanhado dos índios, onde servidores da
Funai o aguardavam para seu último pronunciamento. “Quero dizer que não
devo ficar um ano aqui na casa e, com isso, vamos deixar de concluir muitos
trabalhos, muitas conversas. Eu venho do serviço público e eu sei que,
principalmente nos cargos de confiança, você entra para passar um tempo.
Quando eu cheguei aqui em junho de 2015, sabia que viria para passar um
tempo. Mas não este tempo, que foi cortado por decisões políticas com várias
consequências e desdobramentos grandes”, discursou o presidente. “Vamos
resistir, porque o que vem por aí não é uma agenda fácil. Se o governo da
presidenta Dilma não fez o que estava na expectativa dos povos indígenas por
conta das injunções políticas… mas esse governo tem DNA, tem identidade,
compromisso com os povos indígenas, quilombolas, sem-terra e sem-teto.
Deixamos de fazer muito, mas fizemos. Mas o que vem aí vem da Fiesp
[Federação das Indústrias do Estado de São Paulo], vem do seu Paulo Skaf, o
governo que vem aí vem da avenida Paulista, vem do Congresso que impôs e

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votou a PEC 215 e articulou a CPI”, exclamou.

Os servidores do órgão que falaram com a Pública após o pronunciamento de


Costa não quiseram ser identificados. Suas alegações vão na mesma linha dos
índios mobilizados: se com o governo Dilma Rousseff seria mais viável disputar
internamente o órgão em favor das pautas indígenas, com Temer, o cenário é
mais complicado.

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