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Gestão e

Negócios

Economia
Solidária

1
Ficha Técnica

MINISTÉRIO DA ECONOMIA Realização Projeto Gráfico e Diagramação


Instituto de Artes (IDA-UnB), Nathalia Delgado Gomes
Ministro Instituto de Psicologia (IP-UnB), Sanny Caroline Saraiva Sousa
Paulo Guedes Instituto de Letras (LET-UnB), Patrícia Fernandes Faria
Departamento de Engenharia
Secretário Especial de Elétrica (ENE – UnB), Departamento Ilustradores
Produtividade, Emprego e de Geografia (GEA – UnB), Ana Maria Silva Sena Pereira
Competitividade Faculdade de Ciência da Informação Andresa Oliveira Augstroze Aguiar
Carlos Alexandre da Costa (FCI-UnB). Amanda Morais Silva
Camilla Santos Dantas
Secretário de Políticas Públicas de Apoio Eugênia Versiani Souza Carvalho
Emprego Secretaria de Educação Profissional Gabriel Victor Alves Meireles
Fernando de Holanda Barbosa Filho e Tecnológica (SETEC-MEC) João Victor Silva Araújo

Sub-secretário de Capital Humano Gestão de Negócios e Tecnologia Equipe de audiovisual


Rodrigo Zerbone Loureiro da Informação João Paulo Biage (Jornalista)
Loureine Rapôso Oliveira Garcez Ig Uractan (Produtor Audiovisual e
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA Wellington Lima de Jesus Filho Animador)
Maurício Neves (Produtor
Reitora Coordenação da Unidade de Audiovisual)
Márcia Abrahão Moura Pedagogia Bruno Lara (Jornalista)
Wilsa Maria Ramos Raíssa Ferreira (Animadora)
Vice-reitor Danielle Xabregas Pamplona Rodrigo Gomes (Fotógrafo e
Enrique Huelva Nogueira Videografista)
Lívia Veleda Sousa e Melo
Decana de Pesquisa e Inovação Desenvolvimento de Ambiente
Maria Emília Machado Telles Walter Coordenação do Núcleo de Virtual de Aprendizagem
Produção de Materiais Osvaldo Corrêa
Decana de Extensão Janaina Angelina Teixeira José Wilson
Olgamir Amancia Patrícia Fernandes Faria
Autor
Coordenação do Projeto Qualifica Carlos Denner dos Santos Júnior
Brasil
Thérèse Hofmann Gatti Rodrigues Design Instrucional
da Costa (Coordenadora Geral) Danielle Xabregas Pamplona
Wilsa Maria Ramos Nogueira
Valdir Adilson Steinke Livia Veleda Sousa e Melo
Rafael Timóteo de Sousa Jr Simone Lucas de Oliveira Aguiar
Maria da Conceição Lima Afonso
Instituto Brasileiro de Informação Janaina Angelina Teixeira
em Ciência e Tecnologia – IBICT Marina Vianna de Souza
Cecília Leite - Diretora Andreia Mello Lacé
Tiago Emmanuel Nunes Braga Rossana Mary Fujarra Beraldo

Este trabalho está licenciado com uma Licença Creative Commons -


Atribuição-NãoComercial-CompartilhaIgual 4.0 Internacional.

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Economia Solidária

Descrição

O curso “Economia Solidária” aborda uma nova visão do desenvolvimento econômico,


na qual a inclusão social, a distribuição de renda e a sustentabilidade ambiental ganham
relevância. Esses dois assuntos estão relacionados por oferecerem uma alternativa
social para o modelo tradicional de produção. Segundo essa nova perspectiva, o valor
social dos empreendimentos torna-se tão importante quanto o lucro.

No Brasil, em relação às iniciativas de economia solidária e associativismo, predominam


as comunidades de pequenos agricultores, mas há também destaque para cooperativas
de artesãos e cooperativas de crédito. Segundo dados do Ministério do Trabalho (2013),
1,4 milhão de brasileiros dedicam-se a negócios relacionados a economia solidária.

Desse modo, percebe-se a importância do tema para a realidade socioeconômica


brasileira, demonstrando a capacidade de promover o bem-estar de parcela
significativa da população brasileira, em especial, de grupos sociais que possuem
menos oportunidades em nosso sistema econômico.

O curso trará distintas perspectivas teóricas e empíricas que fundamentam a ação


social no desenvolvimento de negócios cooperativos. Esses conceitos complementares
possibilitam aos alunos a compreensão do panorama nacional e internacional sobre o
desenvolvimento de uma economia baseada na ação social.

Bons estudos!

Público-Alvo

Trabalhadores que atuam ou pretendem atuar na área de cooperativismo,


autogestão; interessados em geral no tema economia solidária.

Economia Solidária
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Economia Solidária

TEMA
01 Economia Solidária | 15 horas

TEMA
02 Cooperativismo e Formas de Economia Solidária | 15 horas

TEMA
03 Criação de Cooperativas | 10 horas

Carga Horária do Curso | 40 horas

Competências
• Compreender aspectos teóricos e práticos relacionados
à economia solidária, visando aplicações em diferentes
contextos sociais e econômicos.
• Apropriar-se dos conceitos, bases e tipos de
cooperativismos, assim como dos aspectos de uma
cooperativa, para desenvolver projetos e consolidar
diagnósticos sobre situações que relacionam o
cooperativismo.

Economia Solidária
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Tema 01
Introdução à Economia
Solidária

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Economia Solidária

Resultados do Aprendizado

O objetivo central do Tema 1 é introduzir a temática “Economia Solidária”,


com destaque para a evolução histórica do tema, a contextualização contemporânea
nacional e internacional, os princípios norteadores e estudos de caso relativos a
economia solidária. O primeiro Tema tem como característica ser introdutório,
apresentando conceitos-chave para que os alunos-cursistas possam seguir
adiante no curso.

1.1 Introdução à Economia Solidária


As últimas décadas do século XX foram marcadas por uma
reestruturação do mercado de trabalho e das empresas. Novas
tecnologias de automação substituíram parte da força de tra-
balho e as crises econômicas avançaram sobre países industria-
lizados e não industrializados. Além disso, a terceirização da
mão-de-obra também avançou, tornando instável a situação de
muitos trabalhadores.

A economia solidária surge como alternativa,


em momentos de crise e mudança como o que
vivemos atualmente. Trata-se de uma maneira
de produzir, vender, comprar e trocar o que é
necessário para viver.

Fique Atento
Na economia tradicional há uma clara
separação entre os proprietários dos negócios
e os empregados. Já na economia solidária os
próprios trabalhadores são também donos
dos negócios, juntos tomando decisões sobre
como conduzir os negócios e compartilhar as
sobras.
Economia Solidária

Economia Solidária - Tema 1


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Economia Solidária

A economia solidária costuma ser definida como um modo Anotações


de produção que se caracteriza pela igualdade, sendo os meios
de produção normalmente de posse coletiva dos que trabalham
com eles. Além disso, em iniciativas de economia solidária existe
algo chamado autogestão, ou seja, são administrados pelos pró-
prios trabalhadores de maneira democrática, sendo concedido
um voto para cada sócio participante.
De maneira mais específica, a economia solidária pode ser
definida em três dimensões:

Atualmente, existem milhares de iniciativas econômicas, seja


no campo ou na cidade, organizadas em cooperativas e associa-
ções. São iniciativas de projetos produtivos coletivos, cooperati-
vas populares, dentre outras. Essas organizações criadas por tra-
balhadores impulsionam o desenvolvimento da economia local,
garantindo trabalho e renda às famílias envolvidas.
Cabe ressaltar que um dos aspectos relacionados ao desen-
volvimento da economia social é o consumo responsável e o
comércio justo. Iniciativas de economia social devem favorecer
uma ação crítica e proativa dos consumidores, em busca de uma
melhor qualidade de vida.

Economia Solidária - Tema 1


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Economia Solidária

Saiba Mais
O conceito de economia solidária não é complexo,
mas pode ser sempre melhor compreendido. Veja a
discussão sobre esse conceito promovia pela TVUFG,
tendo como convidados o professor Roberto Silva
(UFRN) e Fernando Bartholo (Incubadora Social/ UFG).

Conexões 2018 – Economia Para ver o vídeo, acesse o link:


Solidária https://www.youtube.com/
watch?v=MZE4r5zw-Xw

1.2 Economia Solidária – Breve Histórico


Observe cada um dos itens da sequência a seguir para conhe- Para explorar cada um dos
cer um breve histórico sobre Economia Solidária: itens, acesse as telas interativas
do curso.

Economia Solidária - Tema 1


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Economia Solidária

Saiba Mais
A economia solidária continua sendo uma forma eficaz
de combate à pobreza? Veja o vídeo a seguir:

Como parar a pobreza: inicie Para ver o vídeo, acesse o


uma cooperativa de propriedade dos
trabalhadores link: https://www.youtube.
com/watch?v=LFyl0zz2yqs

1.3 Panorama da Economia Solidária


no Brasil
A economia solidária é ainda um fenômeno recente no Brasil.
A cultura da economia solidária foi trazida pelos imigrantes euro-
peus no século XX, sendo criadas assim as cooperativas de con-
sumo em meio urbano e cooperativas agrícolas no meio rural.
Apesar da propagação das ideias de economia solidária ao longo
do século XX, apenas nos anos 1990 que a economia solidária se
consolidou.
Entende-se que uma das obras mais importantes para esse
avanço foi “Educação comunitária e economia”, dos autores
Moacir Gadotti e Francisco Gutiérrez. Nesse período, observa-
-se um crescimento acentuado no número de empreendimentos
solidários no Brasil.

Economia Solidária - Tema 1


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Economia Solidária

Gráfico 1 – Distribuição Dos Empreendimentos Sociais por Data de Fundação

Fonte: IPEA

Como interpretar o gráfico anterior?

É simples! Na linha (horizontal) estão descritos dados


sobre o tempo e na coluna (vertical) está representado
o percentual de negócios sociais abertos em relação ao
histórico no Brasil.
Com isso, pode-se observar que a maior parte dos
empreendimentos sociais foi aberta após os anos 2000.

Sobre a distribuição dos empreendimentos solidários no


Brasil, é notável a concentração de empreendimentos na região
nordeste (40,8%), a qual responde por quase metade dos negó-
cios dessa natureza no país. A região nordeste possui uma menor
participação nas indústrias e no produto interno bruto (PIB). Além

Economia Solidária - Tema 1


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Economia Solidária

disso, fatores como a seca, a fome e a desnutrição provavelmen- Anotações


te contribuíram para que os empreendimentos solidários se proli-
ferassem como complementos às políticas governamentais.

MA BA RN

PB
PI
PE
AL

SE

BA

A economia solidária tem contribuído para a inserção de famí-


lias nas redes e cadeias produtivas, fortalecendo a economia local
e a formação profissional.
Tabela 1 – Empreendimentos de Economia Solidária por
Região (2009-2013)

Número de Empreendimentos
Região de Economia Solidária (2009- Percentual
2013)
Centro-Oeste 2021 10,25%
Nordeste 8040 40,80%
Norte 3127 15,87%
Sudeste 3228 16,38%
Sul 3292 16,70%
Total (Brasil) 19708

Fonte: Observatório Nacional da Economia Solidária e do Cooperativismo (DIEESE)

Economia Solidária - Tema 1


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Economia Solidária

Anotações
Como interpretar a tabela anterior?

É fácil! Nas colunas (vertical) são apresentadas


as categorias dos dados (região, número de
empreendimentos solidários e percentual do total).
Cada linha (horizontal) mostra o desempenho de uma
região específica. O gráfico demonstra uma grande
concentração (40,80%) de empreendimentos sociais
no Nordeste.

A importância da renda gerada pelos trabalhos cooperativos


também é marcante. Quase metade dos trabalhadores envolvi-
dos com atividades de economia solidária contam unicamente
com a renda do trabalho cooperativo para se manter (45,8%). Isto
demonstra o impacto que a economia solidária possui para a vida
dos trabalhadores brasileiros. Além disso, os empreendimentos
solidários têm suprido efetivamente as necessidades de renda de
quase 90% das famílias envolvidas com esse tipo de atividade.

Tabela 2 – Importância da Renda Gerada Pelos Empreendimentos de Economia Solidária (2016)

Fonte: IPEA

Economia Solidária - Tema 1


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Economia Solidária

Anotações
Como interpretar a tabela anterior?

Da seguinte forma: nas colunas (vertical) são


apresentadas as categorias dos dados (resposta, total
de empreendimentos econômicos, percentual em
relação ao total). Cada linha (horizontal) mostra o
resultado de uma resposta. O gráfico demonstra que
grande parte dos empreendimentos sociais é fonte
principal da renda dos sócios (45,8%), destacando
assim a relevância econômica dos empreendimentos
de economia solidária.

Tabela 3 – Suficiência da Renda Gerada no Último Exercício (2016)

Fonte: IPEA

Como interpretar essa tabela?

Economia Solidária - Tema 1


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Economia Solidária

Veja bem: nas colunas (vertical) são apresentadas Anotações


as categorias dos dados (resposta, total de
empreendimento econômicos, percentual em
relação ao total). Cada linha (horizontal) mostra o
resultado de uma resposta. O gráfico demonstra
que a renda proveniente dos empreendimentos
de economia solidária foi suficiente para pagar as
despesas com sobra em muitos casos (43,2 %).

Sobre a busca de crédito, um percentual pequeno de coopera-


tivas buscou crédito no mercado (23,3%), sendo o banco público
a principal organização ofertante desse tipo de crédito (56,40%).

Figura 1 – Crédito para Empreendimentos de Economia Solidária

Fonte: IPEA

Economia Solidária - Tema 1


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Economia Solidária

Anotações
Como interpretar o gráfico anterior?

Esse é um gráfico de pizza e demonstra o tamanho da


“fatia” de cada organização ofertante de crédito nos
empreendimentos de economia solidária. Conforme
pode ser percebido, os bancos públicos são os maiores
ofertantes nesse mercado (56,4%), sendo assim
importantes veículos de promoção de empreendimentos
solidários.

Atualmente, existem várias entidades


que representam o movimento da
economia solidária no Brasil, veja
algumas delas no Quadro 1.

Observe os menus abaixo para conhecer as Entidades promo- Para explorar cada um
toras da Economia Solidária no Brasil: dos menus, acesse as telas
interativas do curso.

Fórum Brasileiro de Economia Solidária

Agência de Desenvolvimento Solidário (ADS):

Associação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de


Autogestão e Participação Acionária (ANTEAG):
Central de Cooperativas e Empreendimentos
Solidários (Unisol):
União Nacional das Cooperativas de Agricultura
Familiar e Economia Solidária (Unicafes):
Confederação das Cooperativas de Reforma
Agrária do Brasil (Concrab):

Cáritas:

Economia Solidária - Tema 1


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Economia Solidária

Economia Solidária - Tema 1


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Economia Solidária

Saiba Mais
Para saber mais sobre a importância dos
empreendimentos para o Brasil e entender um pouco
mais sobre o Plano Nacional de Economia Solidária, veja
os vídeos a seguir.

Empreendimentos da economia solidária Para ver o vídeo, acesse o link:


geram 8% do PIB brasileiro
https://www.youtube.com/
watch?v=KO2FaWvdtcA

1.4 Bases da Economia Solidária


1.4.1 Autogestão
A primeira grande diferença dos empreendimentos solidários
em relação às empresas tradicionais é o modo como são adminis-
trados. A empresa solidária é gerenciada democraticamente, ou
seja, pela autogestão. As decisões mais relevantes são tomadas
em assembleias, sendo esta a maior autoridade no empreendi-
mento social.
Por sua vez, as empresas tradicionais aplicam a heterogestão,
ou seja, a administração por níveis hierárquicos sucessivos e con-
centração do poder de decisão. As ordens e instruções seguem
um fluxo de cima para baixo na organização, sendo a maior auto-
ridade exercida pelo presidente da empresa.
A autogestão exige que os sócios se informem sobre o que
está acontecendo no negócio, pois podem ser convocados para
assembleias nas quais as alternativas e soluções para os proble-
mas sejam debatidas. Portanto, trata-se de um esforço adicional

Economia Solidária - Tema 1


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Economia Solidária

dos trabalhadores, que além de suas atribuições no processo pro- Anotações


dutivo, devem se envolver nos problemas gerais do empreendi-
mento. Isso nos leva ao maior desafio da autogestão, que é a falta
de interesse dos sócios em se envolver nesse esforço adicional
que a prática de uma gestão democrática exige.
Além disso, conflui para esse panorama a lei do menor esfor-
ço. A falta de atenção às decisões tomadas pelos gestores das
cooperativas pode levar a um cenário no qual as decisões e infor-
mações relevantes se concentrem no círculo dos gestores, cujas
escolhas tendem a ser aprovadas em assembleia por inércia.
Assim, os empreendimentos solidários passam a adotar a
heterogestão pela lei do menor esforço. Este é um risco incorrido
principalmente pelos empreendimentos sociais bem-sucedidos,
nos quais parece ser racional terceirizar o poder de decisão para o
grupo responsável pela gestão.
Portanto, a adoção de um modelo de autogestão exige uma
predisposição democrática dos sócios. O participante de um
empreendimento social deve desenvolver sua capacidade de
entender o negócio como um todo para tornar-se mais autocon-
fiante e seguro em suas decisões coletivas.

Saiba Mais
Assista, no vídeo a seguir, como a autogestão pode ser
verificada na prática.

Prática de Autogestão da
Para ver o vídeo, acesse o link:
Economia Solidária https://www.youtube.com/
watch?v=90uQa3UOCWg

Economia Solidária - Tema 1


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Economia Solidária

1.4.2 Repartição de Ganhos Anotações


Nos empreendimentos solidários, os sócios recebem reti-
radas que variam conforme a receita obtida naquele exercício
fiscal. Normalmente é adotado um regime de igualdade na dis-
tribuição das retiradas. Todavia, existem empreendimentos que
optam pelas retiradas diferenciadas pelas atividades exercidas
pelo membro na organização, mas não há uma diferença muito
grande entre as retiradas dos sócios.
A decisão sobre a destinação das sobras e as retiradas dos
sócios ocorre em assembleia. Em geral, uma parte da sobra pode
ser destinada a fundos de educação (dos próprios sócios) ou
fundos de investimento (divisíveis ou não divisíveis). Após essas
alocações, o capital que restar é distribuído em dinheiro aos
sócios.
O fundo divisível é utilizado para capitalização do patrimônio
da cooperativa, sendo contabilizado por sócio. Sobre o fundo
divisível, a cooperativa contabiliza juros e o sócio quando se retira
da cooperativa tem direito de receber sua parte do fundo divisível
com acréscimo de juros. Já o fundo indivisível pertence à coope-
rativa como um todo.

1.4.3 Repartição de Ganhos


Para construir uma sociedade mais igualitária é preciso fazer
ajustes na economia para torná-la mais solidária do que compe-
titiva. Isto significa que os participantes das atividades econô-
micas deveriam em determinadas situações cooperar em vez de
competir. Uma das formas de chegar a esse cenário desejável é
organizar igualitariamente sistemas de produção pelos trabalha-
dores que se associam para produzir, comercializar, consumir ou
poupar.
Um dos pontos centrais nessa proposta é a associação entre
iguais em vez de contratos entre desiguais. Assim, cooperativas
são exemplos de empreendimentos solidários, em que todos os
sócios têm voto e participação no capital.
Há um entendimento comum de que ninguém manda em
ninguém, os cargos nas cooperativas são eleitos pelos sócios e
os diretores eleitos são responsáveis perante a assembleia de

Economia Solidária - Tema 1


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Economia Solidária

sócios. Em uma cooperativa também não há competição entre Anotações


os sócios, sendo comum o esforço para que a cooperativa possa
crescer e acumular capital.
Portanto, na economia solidária a produção é organizada
baseando-se na propriedade coletiva e o respeito à liberda-
de individual. Esses conceitos produzem uma sociedade eco-
nômica de possuidores de capital, que repartem seus ganhos
igualitariamente.
O resultado disso é a solidariedade e a igualdade, sendo
sempre necessária a intervenção de mecanismos estatais para
redistribuição da renda, para corrigir eventuais aumentos extra-
ordinários de renda.
Leia o quadrinho que trata das bases da economia solidária:

Para ter acesso às Questões


para Praticar, veja as telas
interativas do curso.

Economia Solidária - Tema 1


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Economia Solidária

Saiba Mais Anotações

Assista ao filme “Um Novo Capitalismo” para


conhecer mais sobre os empreendimentos sociais ao
redor do mundo.

Um Novo Capitalismo

Economia Solidária - Tema 1


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Economia Solidária

Para relembrar Anotações


Neste Tema de estudos vimos os conceitos básicos sobre eco-
nomia solidária e a importância dos empreendimentos solidários
para a economia global e nacional.
Além disso, vimos o processo histórico de desenvolvimento
da economia solidária, com as suas principais influências sobre a
economia solidária contemporânea.
Por fim, estudamos os principais elementos que dão base à
economia solidária.

Economia Solidária - Tema 1


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Tema 02
Cooperativismo e Formas
de Economia Solidária

1
Economia Solidária

Objetivos do Tema Anotações


Espera-se que ao final do tema você possa:
• Compreender como o conceito de economia solidária de
fato se concretiza, tornando tangível a ação social;
• Conhecer um pouco mais da histórica do cooperativismo;
• Analisar características dos empreendedores cooperativistas;
• Detalhar vários formatos que a ação cooperativa pode
assumir.

2.1 Definições de Cooperativa

A primeira pergunta que


normalmente nos fazemos é o
que é uma cooperativa?

Uma cooperativa é uma sociedade civil com natureza jurídica


sem fins lucrativos, criada para prestar serviços a seus associa-
dos. Como sociedade de pessoas, deve ter no mínimo 20 (vinte)
sócios, que se unem em torno de valores e princípios do associa-
tivismo, visando atingir objetivos em comum.
Uma cooperativa atende às necessidades dos sócios em rela-
ção a aspectos sociais, econômicos e culturais. Portanto, perce-
be-se que a ideia de cooperativa vai muito além da busca do lucro
como objetivo, apesar de ter o objetivo de melhorar as condições
socioeconômicas dos associados.
Em vários aspectos as cooperativas se assemelham a empre-
sas. Por exemplo, está sujeita a encargos e obrigações fiscais, tri-
butárias, previdenciárias e trabalhistas. Todavia, as cooperativas
também possuem algumas características que as distinguem. Símbolo internacional do cooperativismo.

Economia Solidária - Tema 2


2
Economia Solidária

Veja a seguir algumas características gerais das cooperativas: Anotações


Ausência de fins lucrativos: a cooperativa surge
para solucionar
Ausência de finsproblemas
lucrativos:sociais, deve buscar
a cooperativa surgea
Ausência
realização de
defins lucrativos:
direitos sociais a cooperativa
(moradia, surge
trabalho,
para solucionar problemas sociais, deve buscar a
para solucionar
educação).
realização problemas
A cooperativa
de direitos sociais,
busca
sociais devetrabalho,
buscar a
vantagens
(moradia,
econômicas
realização depara os
direitosassociados.
sociais (moradia,
educação). A cooperativa busca vantagens trabalho,
educação).
econômicasAparacooperativa busca vantagens
os associados.
econômicas para os associados.

Dupla qualidade do associado: o associado é


sócio
Duplaequalidade
usuário dado cooperativa,
associado:ao cooperativa
associado é
Dupla
existe qualidade do
primordialmente associado: ao cooperativa
associado
para prestar
sócio e usuário da cooperativa, serviçosé
sócio
aos e
seususuário
sócios. da cooperativa, a cooperativa
existe primordialmente para prestar serviços
existe
aos primordialmente
seus sócios. para prestar serviços
aos seus sócios.

Influência do capital social e voto:


diferentemente das sociedades
Influência do capital empresarias em
social e voto:
Influência
que do capital
os sócios
diferentemente têmdas social
maior e voto:
poder,
sociedades caso tenha maior
empresarias em
diferentemente
participação
que os sóciosno têmdas sociedades
capital
maior social,
poder, empresarias
nas cooperativas
caso emos
tenha maior
associados
que os possuem
sócios têm apenas
maior um
poder, voto,
caso tenha
participação no capital social, nas cooperativas os maior
independentemente
participação no capital
associados possuem dasocial,
sua participação
apenas nasvoto,
um no
cooperativas os
associados
capital possuem
social. Todos apenas
os um
associados
independentemente da sua participação novoto,
possuem o
independentemente
mesmo poder Todos
capital social. daassociados
de decisão.
os sua participação no o
possuem
capital social. Todos
mesmo poder de decisão. os associados possuem o
mesmo poder de decisão.
Distribuição das sobras: os resultados positivos
das cooperativas são considerados sobras e não
Distribuição
lucro. dassão
As sobras sobras: os resultados
distribuídas positivos
aos sócios das
Distribuição
das das sobras:
cooperativas os resultados
são considerados positivos
sobras e não
cooperativas.
das cooperativas
lucro. As sobras são sãodistribuídas
consideradosaossobras
sóciosedas
não
lucro. As sobras
cooperativas. são distribuídas aos sócios das
cooperativas.

Adesão voluntária: ninguém pode ingressar ou ser


retirado de uma cooperativa contra a sua vontade.
Adesão
Qualquervoluntária: ninguém
um que tenha pode
o perfil ingressarda
associativo ou ser
Adesão
retiradovoluntária:
de uma ninguém contra
cooperativa pode ingressar
a sua ou ser
vontade.
cooperativa pode livremente fazer parte dela.
retirado
Qualquerdeumuma
quecooperativa contra
tenha o perfil a sua vontade.
associativo da
Qualquer um que tenha o perfil associativo
cooperativa pode livremente fazer parte dela. da
cooperativa pode livremente fazer parte dela.

Número ilimitado de sócios: não há limites para


quantidade de sócios aceitos nas cooperativas.
Número ilimitado de sócios: não há limites para
Número ilimitado
quantidade de aceitos
de sócios sócios: não
nas há limites para
cooperativas.
quantidade de sócios aceitos nas cooperativas.

Economia Solidária - Tema 2


3
Economia Solidária

Anotações
Capital social variável: a qualquer momento novos
sócios podem entrar na cooperativa ou sócios podem
se retirar da sociedade sem que seja necessária a
produção de novo contrato social.

Neutralidade política: não pode haver


discriminação de seus sócios em razão de opções
ideológicas-políticas.

2.2 Os Princípios Fundamentais do


Cooperativismo
Como visto anteriormente no Tema 1, o cooperativismo tem
por base uma série de princípios que decorrem dos valores estu-
dados. Esses princípios foram estabelecidos na formação dos pio-
neiros de Rochdale no ano de 1844, na Inglaterra.
Eles adotaram uma série de princípios que seriam depois
imortalizados como os princípios universais do cooperativismo
ao serem incorporados pela Aliança Cooperativa Internacional
(ACI):
1- Associação Voluntária e Aberta: cooperativas são organi-
zações voluntárias, disponibilizando os seus serviços aos mem-
bros que aceitarem os compromissos e responsabilidades da
cooperativa. Também não deve haver qualquer discriminação de
gênero, social, racial, política ou religiosa.
2- Controle Democrático Pelos Membros: as cooperativas
são organizações democráticas controladas por seus membros,
assim eles devem participar ativamente da formulação de políti-
cas e processos de decisão. Todos possuem o mesmo direito de
voto, ou seja, um membro, um voto.
3- Participação Econômica do Membro: os membros con-
tribuem igualitariamente para a formação do capital social da
cooperativa. Parte desse capital é geralmente de propriedade

Economia Solidária - Tema 2


4
Economia Solidária

comum da cooperativa e parte desse capital é individual do sócio Anotações


da cooperativa.
4- Autonomia e Independência: as cooperativas são organi-
zações autônomas, mantidas e controladas por seus membros.
Mesmo ao firmar acordos com outras organizações, como o
governo, elas o fazem de forma a manter essas características
para possibilitar o controle democrático dos seus membros.
5- Educação, Treinamento e Informação: as cooperativas
fornecem educação e treinamento para seus membros, repre-
sentantes eleitos, gerentes e funcionários, para que possam
contribuir efetivamente para o desenvolvimento de suas coope-
rativas. Além disso, podem manter um programa de educação
para o público em geral, sobre os benefícios e características do
cooperativismo.
6- Cooperação Entre Cooperativas: o trabalho conjunto de
cooperativas locais, nacionais, regionais e internacional fortale-
cem o movimento cooperativo no mundo e propiciam aos mem-
bros das cooperativas envolvidas um serviço mais eficaz.
7- Cuidados com a Comunidade e o Meio-Ambiente: as coo-
perativas trabalham para o desenvolvimento sustentável de suas
comunidades por meio das políticas aprovadas por seus mem-
bros em assembleia.

2.3 Cooperativismo de Consumo


O cooperativismo de consumo, historicamente desempe-
nhou o papel de difusor do cooperativismo pela Europa a partir
do século XIX, com a cooperativa de Rochdale.
A ideia principal por trás do cooperativismo de consumo era
a reunião de pequenos compradores para realizar compras em
grande quantidade a um preço significativamente menor.
O cooperativismo de consumo possibilitou a obtenção de
descontos por serem feitas compras em grandes quantidades e
um custo menor em serviços, como transporte.
O cooperativismo de consumo estimulou o fortalecimento
das compras em grande quantidade, em atacado, em substitui-
ção ao modelo baseado no varejo que até então predominava na
Europa.

Economia Solidária - Tema 2


5
Economia Solidária

Sem dúvida, uma das principais causas para o declínio do coo- Anotações
perativismo de consumo foi a expansão do modelo norte-ameri-
cano de varejo que mecanizou e automatizou muitas operações,
o que reduziu drasticamente o custo de intermediação.
Isso ocorreu principalmente após o fim da Segunda Guerra
Mundial, quando o automóvel, bens de consumo de massa,
supermercados e lojas de departamento chegaram à Europa.
Essas inovações favoreceram a proliferação de shopping cen-
ters e grandes lojas nas periferias das cidades, que possuíam custos
menores do que os das cooperativas. Em meio a essa competição
com os novos centros comerciais, as cooperativas focaram em dimi-
nuir preços, sacrificando a margem referentes às sobras dos mem-
bros, o que diminuiu ainda mais a atratividade das cooperativas.
De tal, a tentativa de concorrer com o sistema varejista de massa
criou uma crise sobre a perda de valores próprios do cooperativismo.
Desde então, o cooperativismo de consumo tem estado em
constante transformação, assimilando as inovações de outros
modelos comerciais e reavivando o interesse por questões mais
amplas sobre o consumo consciente. A redução dos impactos
ambientais, o consumo de alimentos saudáveis e produtos eco-
lógicos tem sido a maneira como essas cooperativas se adaptam
ao contexto atual.

Saiba Mais
Veja essa experiência de cooperativas de consumo
consciente em Maringá (PR).

Jornalismo | Cooperativa de Para ver o vídeo, acesse o link:


Consumo Consciente
https://www.youtube.com/
watch?v=Szw3RHwf_t0

Economia Solidária - Tema 2


6
Economia Solidária

Você já ouviu falar de agricultura urbana?

Essa pode ser uma boa oportunidade para iniciar


uma cooperativa, além de ser bastante atual por
estar relacionado ao consumo consciente.
Ouça a experiência de Claudia Visoni para se
inspirar um pouco mais.

De uma Horta em Casa Para a Para ver o vídeo,


Agricultura Urbana acesse o link: https://
www.youtube.com/
watch?v=glOG6rMMMSI

2.4 Cooperativismo de Crédito


O cooperativismo de crédito surgiu logo após o corporati-
vismo de consumo. Naquela época, as pessoas mais pobres não
tinham condições de criar reservas para enfrentar as mudanças e
adversidades econômicas. Ocorrências como intempéries mete-
orológicas, perdas de colheitas e epidemias deixavam as situa-
ções dos menos afortunados mais precária e incerta.
Normalmente, esse público não possuía acesso a crédito em
bancos, submetendo-se a negócios menos favoráveis com agio-
tas, que criavam um laço de dependência e exploração mediante
dívidas com difícil recuperação.
As cooperativas de crédito surgiram na Alemanha para
resolver esses problemas. Hermann Schulze-Delitzsch, no meio
urbano, e Friedrich Wilhelm Raiffeisen, no meio rural, decidiram
superar a tragédia da safra de cereais de 1846, a qual foi toda per-
dida. A fome atingiu em cheio a população alemã mais pobre.

Economia Solidária - Tema 2


7
Economia Solidária

A cooperativa de crédito é uma associação de pequenos pou- Anotações


padores que se unem para ganhar força para ter acesso a crédito
mediante financiamento mútuo.
Ao reunir os pequenos montantes e disponibilizá-los aos
membros, as cooperativas de crédito podem atender às necessi-
dades emergenciais, desde que a maioria esteja em condição de
poupar nem que seja um pouco, e a minoria dos membros neces-
site recorrer ao fundo amealhado.

Fique Atento
Uma das bases do cooperativismo de crédito é a
confiança existente entre os membros da cooperativa,
que normalmente se conhecem e trabalham no
mesmo ramo, diminuindo assim as exigências técnicas
e burocráticas para concessão do crédito.

Normalmente, as cooperativas de crédito se federam   para


constituir bancos cooperativos, sendo estes bancos depositá-
rios e redistribuidores dos excedentes financeiros, criando assim
um sistema mais robusto e menos arriscado. Além do mais, um
banco cooperativo tem maior capacidade de levantar fundos no
mercado financeiro a um custo menor do que uma cooperativa
individualmente.

Saiba Mais
O programa Bom Negócio do canal Futura em parceria
com o Sebrae apresenta nesse programa a experiência
de duas cooperativas de crédito. Aproveite para
conhecer um pouco mais sobre como funciona uma
cooperativa de crédito.

Economia Solidária - Tema 2


8
Economia Solidária

2.5 Cooperativas de Compra e Venda Anotações


As cooperativas de compras e vendas são formadas por
pequenos e médios produtores de uma categoria específica,
podendo ser agricultores, taxistas, caminhoneiros, comercian-
tes, profissionais liberais etc. Normalmente, o investimento fixo
para iniciar essas atividades é alto e seria inacessível para uma
grande parte dos produtores.

Exemplo
Máquinas agrícolas como ceifadeiras e tratores podem
ser muito caras para um pequeno produtor agrícola.
Mas esses vários pequenos produtores podem se
juntar em uma cooperativa para adquirir em conjunto
essas máquinas e equipamentos, os quais ficam à
disposição dos membros da cooperativa para usar
quando necessário.

Esse foi um exemplo de como a compra pode atender os pro-


dutores, mas a cooperativa também auxilia na venda.

Exemplo
Uma companhia cooperativa de táxi pode manter uma
central única para direcionar os chamados para os
membros da cooperativa, auxiliando a comercialização
do serviço. Isso acontece também com os produtores
agrícolas, que podem se juntar para vender em um
volume maior, conseguindo condições e preços mais
favoráveis.

A junção de produtores cooperados os auxilia a superar assi-


metrias de mercado, pois na relação com grandes industriais,
varejistas e atacadistas, os pequenos produtores têm menor
poder de barganha e negociação.

Economia Solidária - Tema 2


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Economia Solidária

Entende-se que a reunião em cooperativa é uma forma Anotações


eficaz de fazer frente à superioridade econômica, muitas vezes
igualando os pequenos produtores aos grandes varejistas.
Outro caso emblemático são as cooperativas de catadores
de lixo, que possuem uma atividade econômica com grande
impacto social. Geralmente, os cidadãos que procuram essa ati-
vidade a escolhem por ser uma alternativa digna, diante da exclu-
são social de outras atividades econômicas e a rejeição por uma
vida criminosa e de mendicância.

Cabe destacar, no entanto, que para não se


sujeitarem à exploração de terceiros, que detém
parte do lucro da atividade de recolher materiais
recicláveis, os catadores têm buscado juntar-se em
cooperativas que possibilitam vendas em comum a
preços mais atrativos.

Portanto, a atividade dos catadores de lixo cooperativados


possui uma tripla importância social:
a) o oferecimento de trabalho e renda para membros da
população em situação de mendicância;
b) a complementação da atividade de limpeza e manutenção
urbana;
c) a contribuição para sustentabilidade do meio ambiente por
meio do reaproveitamento de materiais.

2.6 Cooperativas de Produção


As cooperativas de produção são associações de produto-
res de categorias diversas que visam produzir um determinado
tipo de bem ou serviço, sendo considerada por vários autores
como o protótipo de empresa solidária. Isto se dá porque não
associa clientes, como as cooperativas de consumo e de crédito.
Além disso, possuem uma estrutura própria na qual a produção
se dá, diferenciando-se das cooperativas de compras e vendas.
As cooperativas de produção ou cooperativas operárias pro-
vavelmente tiveram origem na França, conforme mencionado
periódico L’Artisan.

Economia Solidária - Tema 2


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Economia Solidária

Anotações
Cabe destacar que o Estado exerce um papel
importante para o fomento das cooperativas
de produção, por dois motivos:

(a) Normalmente, os trabalhadores não dispõem de capi-


tal nem de propriedades que pudessem oferecer garantia para
levantar capital no mercado financeiro;
(b) Para poder concorrer em igualdade com outras grandes
empresas, que recebem benefícios do Estado, como isenções fis-
cais e acesso a linhas de crédito diferenciadas.
Particularmente em países que tiveram industrialização
tardia, o apoio do estado foi essencial como parte do esforço para
a superação do atraso tecnológico, sendo notórios os exemplos
da França, Alemanha, Itália e Japão no século XIX. Neste mesmo
século, a intervenção estatal promoveu a indústria de países da
América Latina e, principalmente, da Ásia com os avanços da
China e da Coréia do Sul em vários setores industriais.
Atualmente, verifica-se o crescimento acentuado de coopera-
tivas de produção como parte de um movimento de contracultu-
ra. Essas cooperativas estão focadas, por exemplo, na produção
de alimentos orgânicos, livrarias alternativas, editoras comunitá-
rias e promotoras de tecnologias alternativas.

Vale ressaltar que as cooperativas de


produção estão espalhadas hoje por
praticamente todos os países do mundo,
mas não são tão numerosas quanto os
outros tipos de cooperativas. Todavia,
em momentos em que a economia
entra em crise, normalmente há um
ressurgimento das cooperativas de
produção como forma de reagir à
recessão econômica.

Economia Solidária - Tema 2


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Economia Solidária

Saiba Mais
O programa rural contemporâneo apresentou a
experiência dos floricultores da Cooperativa Multiflor
do Núcleo Rural Rio Preto (Planaltina-DF), que
encontraram na cooperativa de produção de flores um
meio de alcançar bem-estar econômico.
Para ver o vídeo, acesse o link:
https://www.youtube.com/
watch?v=EDaUoyv8krc
Agricultores Rurais Formam Cooperativas
em Busca de uma Vida Melhor

2.7 Clubes de Troca

Para finalizar esse rol exemplificativo de tipos comuns


de cooperativas, falaremos um pouco sobre os clubes
de troca, uma das mais recentes inovações da economia
solidária.

Eles foram inventados mais ou menos ao mesmo tempo no


Canadá e na Argentina, na década de 1980. Os clubes de trocas
reúnem pessoas que estão sem emprego, mas aptas a fornecer
bens ou serviços à venda e estão precisando adquirir outros bens
e serviços para sobreviver.
Os clubes de trocas são uma resposta criativa ao desemprego
e à recessão da atividade econômica. Uma das principais soluções
criadas pelos clubes de trocas foi a instituição de uma moeda pró-
pria, que serve para realizar as trocas entre os membros do grupo. Símbolo internacional do cooperativismo.

Economia Solidária - Tema 2


12
Economia Solidária

O clube determina democraticamente a taxa de câmbio da Anotações


moeda criada (real solidário, hora de trabalho, etc.) e com esta
moeda local os membros do clube começam a transacionar
entre si bens e serviços disponíveis.

Para promover as interações entre os membros dos grupos


existem reuniões e feiras periódicas, que servem para que os
membros apresentem bens e serviços que podem oferecer ao
grupo, além de corrigir eventuais desequilíbrios na oferta de
bens e serviços (por exemplo, revisão de bens e serviços que
quase não são consumidos).

Todas as transações do clube de troca são registradas pela


direção do clube e divulgadas periodicamente aos membros,
dando transparência ao clube. Além disso, normalmente as
trocas são divulgadas em jornais impressos, eletrônicas e, atu-
almente, em redes sociais.

De fato, o clube de troca cria um mercado que antes existia


apenas em potencial, pois havia uma demanda reprimida por
bens e serviços daqueles que estavam sem ocupação.

Fique Atento
Outras características dos
clubes de trocas envolvem
aspectos sociais e culturais. Por
exemplo, os clubes de trocas
favorecem a criação de novos
contatos e amizades, o que
pode ser essencial para pessoas
desempregadas, as quais
normalmente tendem a se isolar
socialmente.

Economia Solidária - Tema 2


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Economia Solidária

Saiba Mais
• Você já conhecia o conceito de Clube de Trocas?
Assista um trecho do curta metragem “Clube de
trocas: rompendo o silêncio, construindo outra
história”
Para ver o vídeo, acesse o link:
https://www.youtube.com/
Clube de Trocas: Rompendo o Silêncio, watch?v=EUkJIvvAgBA
Construindo Outra História

• Para saber mais sobre os procedimentos para se


criar uma cooperativa, obtenha mais informações
sobre “Estatuto e capital social”, “Documentação”, Para ver o guia do SEBRAE
“Procedimentos” e “Taxas, sobras e fundos” neste acesse as telas interativas do
curso.
guia oferecido pelo SEBRAE.

• Assista ao filme “Os Pioneiros de Rochdale” para


conhecer mais sobre o surgimento da cooperativa
de Rochdale.

Para fazer as Questões para


Praticar acesse as telas
interativas do curso.

Economia Solidária - Tema 2


14
Economia Solidária

Para relembrar Anotações

Neste Tema vimos as principais características das cooperati-


vas do ponto de vista legal. Também revisamos os princípios do
cooperativismo, que foram influenciados pela cooperativa pio-
neira de Rochdale.
Passamos por alguns dos tipos mais comuns de cooperativa,
como a cooperativa de consumo, cooperativa de crédito e a coo-
perativa de produção.

Economia Solidária - Tema 2


15
Tema 03
Criação de Cooperativas

1
Economia Solidária

Objetivos do Tema Anotações


O objetivo central deste tema é apresentar uma visão geral
sobre o processo de criação de uma cooperativa. Dessa forma,
espera-se que ao final do tema você possa:
• Conhecer aspectos essenciais para a constituição de uma
cooperativa, como a assembleia geral e a elaboração do
Estatuto Social;
• Criar um projeto de cooperativa com o intuito de treinar
os conceitos apresentados nesse tema.

3.1 Etapas para Criação de uma


Cooperativa

Agora que conhecemos vários tipos


de sociedades cooperativas, que tal
conhecer um pouco mais sobre como
dar início a uma cooperativa?

Observe a sequência de passos abaixo e conheça as etapas de


criação de uma cooperativa:

1° Passo

3.1.1 Reunião inicial


O primeiro passo é marcar uma reunião com o grupo de pes-
soas interessadas em criar a cooperativa. Nessa reunião inicial
devem-se determinar quais serão os objetivos da cooperativa e
escolher uma comissão para coordenar os trabalhos de fundação.
Também podem ser tratados temas como o tipo de cooperati-
va, uma análise preliminar da viabilidade financeira, a discussão
sobre novos possíveis interessados em compor a cooperativa.
Normalmente, as decisões dessas reuniões iniciais são lavradas
em atas para o registro das decisões tomadas pelo grupo.

Economia Solidária - Tema 3


2
Economia Solidária

2° Passo
Anotações

3.1.2 Reuniões da Comissão de Organização


Após o estabelecimento da comissão de organização da coo-
perativa, esta deverá se reunir para discutir as providências neces-
sárias para constituir a cooperativa. Nessa etapa há um estudo
inicial de viabilidade da cooperativa, assim como o levantamen-
to da documentação necessária para o registro da cooperativa.
Dentro os temas discutidos estão a decisão sobre a contratação
de pessoal, organização e aprofundamento da análise financeira.
Um dos materiais que pode ser utilizado como subsídio por essa
comissão é o Manual de Governança Cooperativa, disponibiliza-
do pela OCB.

3° Passo

3.1.3 Reunião de discussão do Estatuto Social


Essa reunião tem por objetivo preparar o esboço do estatu-
to social da cooperativa. O estatuto social é o documento mais
importante da cooperativa e deve ser fundamentado nos prin-
cípios do cooperativismo. Além disso, devem ser analisadas
as orientações disponíveis na Lei 5.764/71, que dispõe sobre o
regime jurídico das cooperativas. Veremos adiante mais informa-
ções sobre a elaboração do estatuto social.

4° Passo

3.1.4 Convocação para Assembleia Geral de Constituição


Esse último passo é a fundação com a comissão convocan-
do todas as pessoas interessadas para a Assembleia Geral de
Constituição da cooperativa, em hora e local determinado com
antecedência. A convocação para a assembleia deve ser feita
obedecendo atendendo as disposições da Lei 5.764/71, artigo 38.
A comissão deve convocar todas as pessoas interessadas para

Economia Solidária - Tema 3


3
Economia Solidária

a Assembleia Geral de Constituição (fundação) da cooperativa. Anotações


Nessa assembleia o Estatuto social deverá ser aprovado e a pri-
meira diretoria ser eleita pelos membros presentes.

3.2 Estatuto Social


De acordo com o art. 21 da Lei 5.764/71, o Estatuto Social
deverá indicar no mínimo:
I. a denominação, sede, prazo de duração, área de ação,
objeto da sociedade, fixação do exercício social e da data do
levantamento do balanço geral;
II. os direitos e deveres dos associados, natureza de suas res-
ponsabilidades e as condições de admissão, demissão, elimina-
ção e exclusão e as normas para sua representação nas assem-
bleias gerais;
III. o capital mínimo, o valor da quota-parte, o mínimo de quo-
tas-partes a ser subscrito pelo associado, o modo de integraliza-
ção das quotas-partes, bem como as condições de sua retirada
nos casos de demissão, eliminação ou de exclusão do associado;
IV. a forma de devolução das sobras registradas aos associa-
dos, ou do rateio das perdas apuradas por insuficiência de contri-
buição para cobertura das despesas da sociedade;
V. o modo de administração e fiscalização, estabelecendo os
respectivos órgãos, com definição de suas atribuições, poderes e
funcionamento, a representação ativa e passiva da sociedade em
juízo ou fora dele, o prazo do mandato, bem como o processo de
substituição dos administradores e conselheiros fiscais;
VI. as formalidades de convocação das assembleias gerais e a
maioria requerida para a sua instalação e validade de suas delibe-
rações, vedado o direito de voto aos que nelas tiverem interesse
particular sem privá-los da participação nos debates;
VII. os casos de dissolução voluntária da sociedade;
VIII. o modo e o processo de alienação ou oneração de bens
imóveis da sociedade;
IX. o modo de reformar o estatuto; e
X. o número mínimo de associados.

Economia Solidária - Tema 3


4
Economia Solidária

O Estatuto Social deverá ser aprovado em Assembleia Anotações


Geral e, em seguida, ser encaminhado para a Organização das
Cooperativas do Estado em que será instituída a cooperativa,
para que seja avaliada a adequação da cooperativa ao ordena-
mento jurídico brasileiro e aos princípios e valores do coopera-
tivismo. Além disso, a Organização das Cooperativas do Estado
avalia se há na região cooperativas com a mesma razão social.

Saiba Mais
Assista o tutorial do Instituto Federal de Porto Velho
sobre como elaborar um estatuto social de cooperativa.
O vídeo ajuda a desmitificar o processo, tornando-o
mais simples e compreensível.

Para ver o vídeo, acesse o link:


https://www.youtube.com/
Tutorial – Estatuto das Cooperativas
watch?v=seB2euFXWvw

3.3 Assembleia Geral

As decisões das cooperativas são tomadas


de forma democrática, sendo facultada a
participação de membros nas assembleias
gerais, que deliberam sobre aspectos
administrativos.

Economia Solidária - Tema 3


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Economia Solidária

Fique Atento Anotações


A assembleia geral é o órgão mais importante
de qualquer cooperativa, pois representa a
vontade coletiva dos cooperados. Cada sócio
tem direito a um voto, independentemente
de seu capital.

Nesse sentido, cabe destacar a igualdade de condições dos


sócios para discutir os caminhos que serão trilhados pela coope-
rativa, sendo possível decidir sobre os membros da diretoria e
dos conselhos, analisar sua situação financeira-contábil, modifi-
car a sua atuação no mercado, decidir sobre o destino das sobras
ou perdas do exercício, dentre outras coisas.
Não obstante o poder da assembleia geral de uma coope-
rativa, ela não pode deliberar no sentido contrário à legislação
vigente, em especial, a Lei 5.764/71. De acordo com essa norma,
as assembleias de uma cooperativa podem ser ordinárias ou
extraordinárias (art. 44 a 46).
Veja a seguir os tipos de assembleia de uma cooperativa:

Assembleia Geral Ordinária


A Assembleia Geral Ordinária, que se realizará anualmente
nos 3 (três) primeiros meses após o término do exercício social,
deliberará sobre os seguintes assuntos que deverão constar da
ordem do dia:
• prestação de contas dos órgãos de administração acom-
panhada de parecer do Conselho Fiscal;
• destinação das sobras apuradas ou rateio das perdas
decorrentes da insuficiência das contribuições para cober-
tura das despesas da sociedade, deduzindo-se, no primei-
ro caso as parcelas para os Fundos Obrigatórios;
• eleição dos componentes dos órgãos de administração,
do Conselho Fiscal e de outros, quando for o caso;
• quando previsto, a fixação do valor dos honorários, gratifi-

Economia Solidária - Tema 3


6
Economia Solidária

cações e cédula de presença dos membros do Conselho de Anotações


Administração ou da Diretoria e do Conselho Fiscal;
• quaisquer assuntos de interesse social.
 

Assembleia Geral Extraordinária


A Assembleia Geral Extraordinária realizar-se-á sempre que
necessário e poderá deliberar sobre qualquer assunto de interes-
se da sociedade, desde que mencionado no edital de convocação.
São de competência exclusiva da Assembleia Geral Extraordinária
a deliberação sobre os seguintes assuntos:
• reforma do estatuto;
• fusão, incorporação ou desmembramento;
• mudança do objeto da sociedade;
• dissolução voluntária da sociedade e nomeação de
liquidantes;
• contas do liquidante.

3.4 Órgãos de Administração e


Fiscalização

Você sabia que a Lei 5.764/71 dispõe


sobre dois órgãos necessários para o
funcionamento das cooperativas: a Diretoria
ou Conselho de Administração e o Conselho
Fiscal?

Sabia sim! O primeiro órgão tem natureza


administrativa, sendo responsável pela condução e
funcionamento da cooperativa. O segundo possui
natureza fiscalizatória, sendo responsável por controlar
as atividades da Diretoria ou Conselho de Administração,
evitando assim que ocorram desvios de finalidade nas
decisões tomadas pelo órgão administrativo.

Economia Solidária - Tema 3


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Economia Solidária

Diretoria ou Conselho de Administração Anotações


A cooperativa será administrada por uma Diretoria ou
Conselho de Administração. Esse órgão deverá ser composto
exclusivamente de associados eleitos pela Assembleia Geral, com
mandato nunca superior a 4 anos, sendo obrigatória a renovação
de, no mínimo, 1/3 do Conselho de Administração.
O Estatuto poderá estabelecer a criação de outros órgãos
necessário à administração. Além disso, é facultado à Diretoria
ou Conselho de Administração contratar gerentes técnicos ou
comerciais, que não pertençam ao quadro de associados, fixan-
do-lhes as atribuições e salários.

Conselho Fiscal
A Diretoria ou Conselho de Administração serão fiscalizados,
por um Conselho Fiscal, composto por 3 membros efetivos e 3
suplentes, os quais serão eleitos anualmente pela Assembleia
Geral, sendo permitida apenas a reeleição de 1/3 dos seus com-
ponentes. Para evitar o conflito de interesses, os membros do
Conselho Fiscal não podem ser parentes dos diretores até o
segundo grau, em linha reta ou colateral. Pelo mesmo motivo
o associado não poderá exercer cumulativamente cargos nos
órgãos de administração e de fiscalização.

Saiba Mais
Assista ao vídeo produzido pelo Serviço Nacional de
Aprendizagem do Cooperativismo sobre as funções
desenvolvidas pelo Conselho Fiscal.

Treinamento para Conselheiros Para ver o vídeo, acesse o link:


Fiscais de Cooperativas
https://www.youtube.com/
watch?v=cCsaMd9609A

Economia Solidária - Tema 3


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Economia Solidária

3.5 Registros e Documentação Anotações

Para que as atividades da cooperativa


se deem no domínio da legalidade, a
cooperativa deverá ser registrada em todos
os órgãos competentes, em especial:

• Registro na Junta Comercial;


• Registro na Receita Federal para a obtenção do CNPJ;
• Inscrição na Secretaria Estadual;
• Registro na OCE.

Além disso, dependendo da natureza das atividades


a serem exercidas pelas cooperativas, outros órgãos
devem ser consultados para legalizar seu funcionamento,
como por exemplo, as licenças e autorizações concedidas
pela Defesa Sanitária, Corpo de Bombeiros e
Prefeitura Municipal.

Sobre a documentação, a Lei 5.764/71 determina


que seja mantida a documentação comprobatória
dos atos e decisões das cooperativas. Dentre essas,
destacam-se:

• Livro de Matrícula;
• Livro de Atas das Assembleias Gerais;
• Livro de Atas dos Órgãos de Administração;
• Livro de Atas do Conselho Fiscal;
• Livro de presença dos Associados nas Assembleias
Gerais;
• Livro de fiscais e contábeis, obrigatórios.

Livro de Matrícula
No Livro de Matrícula deverão constar as informações dos
associados inscritos por cronológica de admissão na cooperativa,
constando o nome, idade, estado civil, nacionalidade, profissão,

Economia Solidária - Tema 3


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Economia Solidária

residência do associado, a data de sua admissão e a conta corren-


te das respectivas quotas-partes do capital social. Anotações

3.6 Projeto de Cooperativa


Estamos chegando ao final da nossa jornada pelo mundo da
economia solidária e das cooperativas. Antes de encerrar é preci-
so que você saiba que, antes de colocar em prática a sua coopera-
tiva, é necessário elaborar um projeto.
Veja quais são os elementos que devem integrar o Projeto de
Cooperativa na cena abaixo:

Animação
Economia Solidária Para ver o vídeo, acesse o link:
https://player.vimeo.com/
video/333764862

Meses mais tarde no ateliê de costura de Teresa...

Economia Solidária - Tema 3


10
Economia Solidária

Meses mais tarde na pequena fábrica de queijos do seu


Pedro...

Para ter acesso às Questões


para Praticar, Objeto e
Avaliação de Aprendizagem,
veja as telas interativas do
curso.

Economia Solidária - Tema 3


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Economia Solidária

Para relembrar Anotações


Neste tema, vimos as principais etapas para a constituição de
uma cooperativa. Dentre os aspectos vistos no módulo estão as
assembleias gerais, o estatuto social, os órgãos de administra-
ção e fiscalização das cooperativas, e os documentos e registros
necessários para seu funcionamento.
Passamos também por aspectos essenciais do projeto de cria-
ção de uma cooperativa, com o detalhamento sobre cronograma
e viabilidade econômica das cooperativas.

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