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ITAJAÍ/2019
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI
KAMILA LOUISE DERETTI
1. INTRODUÇÃO
Sabe-se que a comunicação é tão antiga quanto o mundo em que vivemos hoje.
Nascida com os homens das cavernas, os primeiros diálogos surgiram em forma
de desenhos e rabiscos que vinham como algo do cotidiano, uma narração de
como seria a caçada do próximo dia ou ainda, acreditavam que suas pinturas
nas paredes serviam de rituais “[...] se fizessem uma imagem da sua presa, os
animais verdadeiros também sucumbiriam ao seu poder.” (Gombrich, 1950). A
linha do tempo mostra que a comunicação partiu da era primitiva passando por
vários povos, inúmeras maneiras de comunicar que perpassavam de simples
grunhidos a conversas com pessoas do outro lado do mundo.
Este trabalho propõe uma discussão a respeito da maneira que a rede social
Instagram afeta a vida dos jovens no século XXI. Trazendo em seu bojo teórico
uma aproximação entre o uso da rede social e o episódio Nosedive – Queda
Livre em tradução literal – da série futurística Black Mirror, o presente artigo
procurou entender como toda essa carga de informação vinda e presente no
Instagram pode, de alguma maneira, influenciar a vida do jovem.
2. METODOLOGIA
3. DESENVOLVIMENTO
3
4 3.1 REDES SOCIAIS E O INSTAGRAM
Em 1969, nos Estados Unidos, nasceu uma descoberta que foi capaz de
revolucionar o mundo. A internet. Contudo, naquela época, a internet era
chamada de Arpernet e tinha a única função de conectar os laboratórios de
pesquisa da Califórnia. O mundo vivia o auge da Guerra Fria, então essa criação
pertencia ao Departamento de Defesa dos Estados Unidos, sendo usado para
comunicação entre os cientistas e os militares, eram pontos que funcionavam
mesmo que um deles apresentasse algum problema. Duas décadas depois, a
Arpernet passou a integrar o âmbito acadêmico, sendo utilizadas em países
como EUA, Holanda, Dinamarca e Suécia – a partir dessa integração entre os
países, a Arpernet virou a internet.
Na década de 1995, a mais nova internet recebe seu primeiro site de rede social,
o ClassMater, – colegas, em tradução literal – fez muito sucesso entre alunos de
escolas e universidades nos Estados Unidos e Canadá. Ele foi desenvolvido
basicamente para os usuários encontrarem seus colegas de creche, escola,
faculdade até do serviço militar. Mesmo após 17 anos a pioneira das redes
sociais agrega até hoje mais de 100 mil anuários escolares, aqueles típicos livros
onde se reuniam as fotos dos alunos ao final do ensino fundamental e médio,
muito famoso nos EUA. Além da ClassMater, outras redes sociais surgiram, foi
como um boom desde 1995 até 2015, foram 20 anos criando maneiras das
pessoas se comunicarem, se expressarem de todas as formas.
Cada rede social tem o seu boom, onde há milhões de usuários que usam sem
parar e fazem daquilo parte do seu dia-a-dia. “[...] os sites de rede social se
espalham à velocidade de uma infecção virulenta ao extremo [...]” (Bauman,
2007). Quando um novo site de socialização aparece se torna o queridinho do
momentos, todos criam uma conta, montam seu perfil, mostram sua
personalidade; até mesmo aqueles que não possuem uma conta acabam
cedendo para criar, ficam curiosas e acabam se sentindo influenciadas a “apenas
olhar e ver se gostam.” Além de criarem uma conta e montarem seu perfil,
acontece uma troca de informações pessoais entre os usuários, essa troca de
informações acaba deixando-os felizes, pois revelam detalhes íntimos de sua
vida e de alguma maneira, acabam sendo “vistos” e isso acaba sendo necessário
para você ser “reconhecido como alguém” nas redes sociais. É algo tão rotineiro
entrarmos em uma rede social, por exemplo o Instagram, e vermos fotos que as
pessoas postam de uma compra de roupa ou até mesmo quando estão no
hospital, tudo pela necessidade de atenção. “[...] vai-se compreender que
aqueles que zelam por sua invisibilidade tendem a ser rejeitados, colocados de
lado [...]” (Bauman, 2007), porque para uma boa parte dos usuários que seguem
está pessoa, consideram-na entediante ou antipática por querer preservar sua
intimidade.
Essa necessidade de visibilidade chamou tanto atenção ao redor do mundo que
séries como Black Mirror – objeto de estudo do presente artigo – gravou um
episódio mostrando como é a vida de uma jovem plugada em sua rede social e
a sua frustração ao perder “estrelas”. Isso não decorre somente na série, como
foi citado, estudos feitos mostram que jovens entre 14 e 24 anos são mais
vulneráveis a esse tipo de “frustração”, por não conseguir o número de curtidas
nas suas fotos ou seguidores, isso os faz pensar que não são populares e acaba
desencadeando sérios problemas com a autoestima. Bauman conta em seu
livro, Vida para consumo – A transformação das pessoas em mercadoria (2007),
que as pessoas ao se exporem dessa maneira nas redes sociais e buscarem a
fama, estão tentando vender a si mesmo em busca de atenção e aprovação dos
outros. Outro ponto que se encontra no cerne das discussões sobre redes sociais
é a necessidade de aceitação, aprovação da sua imagem para terceiros. É
assustador pensar que jovens de 14 a 24 anos passam uma imagem irreal de
sua vida para conseguir curtidas de pessoas que ele considera “famosas”. Muitas
das vezes compram curtidas ou enchem sua foto de hastags para conseguir mais
engajamento, para que nos olhos dos outros, ele também seja considerado
famoso ou conhecido.
O mesmo estudo que mostrou a idade dos jovens e a sua frustração com as
redes sociais, conta também que o compartilhamento de fotos pelo Instagram
impacta negativamente o sono, a autoimagem e a aumenta o FOMO – fear of
missing out - medo dos jovens de ficar por fora dos acontecimentos e tendências.
A “vida perfeita” compartilhada nas redes sociais faz com que os jovens
desenvolvam expectativas irreais sobre suas próprias vivências. Não à toa, que
esse perfeccionismo atrelado à baixa autoestima pode desencadear sérios
problemas de ansiedade. Os pesquisadores advertem: os usuários que passam
mais que duas horas diárias conectados em mídias sociais são mais propensos
a desenvolverem distúrbios de saúde mental, como estresse psicossocial.
Não somente esses pontos como outros que se identifica ao longo da série faz com o
que telespectador faça uma reflexão da atual situação e da sua situação. A exposição
e o julgamento da vida nas redes sociais no episódio são bastante próximos do
que já se vê hoje. O mundo do episódio se dá pela reputação, não muito distantes
dos aplicativos Uber e Airbnb, O ponto é que nós já vivemos em um mundo onde
a reputação abre portas, gera privilégios e até dinheiro. Um dos amigos de Lacie
perde o emprego porque não consegue passar pela porta que faz a contagem
das estrelas; a personagem não consegue reservar um assento no voo da classe
econômica porque está dois pontos abaixo do que é requisitado pela companhia
aérea. Vale lembrar ainda que se torna cada vez mais perto da realidade o fato
de que as pessoas com poucas estrelas são rejeitadas ou vistas como inferiores.
No Instagram, muitos usuários se sentem excluídos dos demais por não
passarem de 300 seguidores e não terem mais de 50 curtidas nas fotos e com
isso, gera toda a vontade de ser visto e de querer ter atenção e é aonde
desencadeia tantos problemas, principalmente a depressão e as crises de
ansiedade.
O roteirista da série, Charlie Brooker, conta que esse episódio é uma sátira sobre
a afirmação da identidade na era das redes sociais. Ou, sendo mais direto e
menos pedante, uma ilustração sobre o pesadelo que pode se tornar a maneira
como nos apresentamos no mundo digital.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
SILVERSTONE, Roger. Por que estudar Mídia? 4. ed. São Paulo: Loyola,
2014. 302 p.
GOMBRICH, E.H.. A história da Arte. 16. ed. Rio de Janeiro: LTC, 1999.
SILVA, Leonardo Werner. Internet foi criada em 1969 com o nome de "Arpanet" nos
EUA. 2001. Disponível em:
<https://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u34809.shtml>. Acesso em: 20 jun.
2019.
JESUS, Aline. História das redes sociais: do tímido ClassMates até o boom
do Facebook. 2014. Disponível em:
<www.techtudo.com.br/artigos/noticia/2012/07/historia-das-redes-sociais.html>.
Acesso em: 21 jun. 2019.
CIRIACO, Douglas. A internet é usada por 4,1 milhões de pessoas no
mundo. 2018. Disponível em: <https://www.tecmundo.com.br/internet/135281-
internet-usada-4-bilhoes-pessoas-mundo-aponta-estudo.htm>. Acesso em: 23
jun. 2019.
BBC. Instagram é considerada a pior rede social para saúde mental dos
jovens, segundo pesquisa. 2017. Disponível em:
<https://www.bbc.com/portuguese/geral-40092022>. Acesso em: 19 jun. 2019.