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E-mail: correiofilosofico@bol.com.br - Fundadores: Almir de Araújo Oliveira e Hermano Cavalcanti Leite - Ano: VI - Edição: Março - 2014 - Nº 66
No texto anterior, discorremos sobre as dificuldades para se definir o que é a Maçonaria, definimos
esoterismo, ocultismo e misticismo, apresentamos um paralelo sucinto entre a história e a hiero-história maçônica e
distinguimos o que são Mestres Secretos (Superiores Desconhecidos). Dando continuidade ao tema, tratemos agora
de esclarecer o que é egrégora.
As obras esotéricas em geral definem egrégora como a reunião vibratória de consciências terrenas e
supraterrenas, do passado e do presente, transcendente ao tempo e ao espaço, concentrado uma Ideia-Força
específica.
Quanto à etimologia da palavra, à guisa de início, pode-se mencionar o seguinte:
Égregora não é uma palavra que se possa simplesmente procurar num dicionário. Obscura como é
em seu emprego, é preciso pesquisar suas raízes. Uma definição literal de egrégora é “reunido ou
agrupado no mais elevado” e pode ser encontrada nas raízes do grego e do latim antigos. O vocábulo
grego ageiro significa “eu reúno” e uma agor é uma assembleia. Em latim, greg é uma companhia
de pessoas. O vocábulo latino aggregare significa “unir na mais alta massa ou soma”. As palavras
inglesas aggregate e gregarious (agregar e gregário, em português) derivam dessas raízes. Uma
outra palavra inglesa, egregious (egrégio, em português), aumenta a compreensão do caráter
singular do vocábulo egrégora. Derivado do latim, egrégio, em seu sentido arcaico, significa
“apartado do rebanho... distinto, excelente”. Essas palavras em suas raízes antigas em grego e latim
nos dão um discernimento mais profundo quanto ao significado místico do uso de egrégora.
(KNUTSON, 1995, p. 22)
Do ponto de vista maçônico, segundo Camino (apud NUNES, 2012, p. 42) “[...] a Egrégora é a
materialização da força do maçom quando em sessão litúrgica.”
Também quanto ao viés maçônico, retrocedendo no tempo, descobre-se que, segundo Boucher (2012, p.
18):
Egrégoros (do grego egrêgorein, vigiar): essa palavra designa, no Livro de Henoch, os anjos que
haviam jurado vigiar o monte Hermon e se traduz por os vigilantes. Chama-se de “egrégoro” uma
entidade, um ser coletivo saído de uma assembleia. Cada Loja tem seu egrégoro: cada Obediência
tem o seu e a reunião de todos esses egrégoros forma a grande Egrégora Maçônica. (Pensamos que o
costume de escrever egrégoro com dois g é errado e não tem nada a ver com a etimologia.)
O termo egrégoro é citado originalmente no “Livro de Enoque”. Dele há três versões, todas atribuídas
supostamente ao homônimo ancestral de Noé, contendo profecias e revelações; a obra é famosa pela versão em
etíope e pela tradução de trechos para o grego; oportuno lembrar que, desconhecido o paradeiro dessa obra em
grande parte do Ocidente, o maçom escocês (e não citamos aqui o Rito) James Bruce foi à Etiópia à sua procura e o
encontrou em 1774 quase três décadas depois de o ritual maçônico do Real Arco de Enoque vir a existir (KNIGHT et
LOMAS; 2005).
Um célebre difusor do termo foi Eliphas Levi, ainda que o tenha interpretado equivocadamente, enquanto
Guénon, embora não empregue o mesmo conceito que aqui se explicará, não deixa de mencionar o que chama de
“influências errantes”, vórtices de energia perniciosa que se apoderam maleficamente dos incautos (PSEUDO-
SEDIR, 2013).
Para muitos dos leitores que têm pouco contato com a literatura mística, apesar das explicações acima, o
conceito de egrégora pode ainda estar distante de uma clara compreensão. Com o texto a seguir, de origem católica,
onde se define a comunhão dos santos, espera-se trazer mais luz ao assunto:
A maioria dos místicos não acredita no Purgatório católico, porém o conceito de egrégora é muito parecido
com o exposto acima: uma união de personalidades-almas encarnadas e desencarnadas agindo, orando e meditando
em prol do bem comum.
Precedendo a São Paulo, o próprio Cristo, em Mateus 18, 20, diz que “Pois onde dois ou três estiverem
reunidos em meu nome, eu estou aí, no meio deles.”, pelo que se entende que a reunião de pessoas com um mesmo
pensamento positivo proporciona uma “energia” benéfica condizente.
Neste sentido, há 16 séculos, Santo Agostinho afirmou:
“Na realidade, podemos muito bem chamar cristos a todos os ungidos com sua crisma, porque o Cristo
único o formam o corpo e sua cabeça” (AGOSTINHO, 1961, p. 23)
E mais à frente:
É casa de Davi em razão de sua linhagem e casa de Deus por causa do templo de Deus, mas templo
feito de homens, não de pedras, em que eternamente mora o povo com seu Deus e em seu Deus e
Deus com seu povo e em seu povo. Deus encherá seu povo e o povo será cheio de Deus, quando
Deus for todo em todas as coisas. Deus, força no combate, será prêmio na paz. (op. cit., p. 42)
E sobre os materiais de construção desta casa espiritual (mais abrangente que o templo do corpo do homem
regenerado) afirma ainda que:
“Por sua vez, esta casa, pertencente ao Novo Testamento, é tanto mais gloriosa quanto melhores as pedras
que a compõem, pedras vivas pela renovação e pela fé.” (op. cit. p. 128)
Cada homem regenerado em Cristo seria então um templo particular e pedra viva na edificação de um
templo universal. Por oportuno, importante frisar que o Santo de Hipona é também autor da mais antiga menção por
nós já encontrada de Jesus tratado pelo título de Grande Arquiteto (que Lhe é dispensado pela maioria das ordens
martinistas, enquanto a Maçonaria destina-o a Deus). In litteris:
O grande Arquiteto, que disse: Muitos são os chamados e poucos os escolhidos, sabia muito bem
que o edifício desta casa, que não mais veria ruína, não o formariam os chamados, que mereceram
ser despedidos, mas apenas os escolhidos. (op. cit. p. 129)
Pelo exposto até o momento, pode-se pensar que a egrégora é exclusividade dos maçons e dos católicos,
porém é encontrada em outras religiões e ordens iniciáticas, como aqui veremos (lembrando que maçonaria não é
religião).
Para aqueles que possam permanecer céticos quanto à existência de tais forças metafísicas e da
possibilidade de se contatá-las, pertinente recordar as incômodas sensações físicas e mentais que certamente
acometeram a maioria dos que já visitaram um presídio, ou estiveram numa cena de crime, ou em local de acidente
com vítima fatal. Contrariamente, qual não é a paz interior que sentimos ao adentrar um templo religioso onde os
presentes estejam fortemente irmanados! Seria neste último caso, a atuação benéfica da parte metafísica da
egrégora sobre sua contraparte material, refletindo-se sobre a mente e o corpo de seus criadores/mantenedores. Nos
ambientes que visitamos, sejam eles insalubres ou agradáveis, conforme os exemplos acima, a detecção destas
sensações sutis (que vão além dos sentidos físicos) ocorre pela chamada percepção vibrotúrgica, que é a capacidade
de se harmonizar com a natureza vibratória dos objetos à nossa volta e recebermos impressões das entidades que
com eles estiveram anteriormente e que lhos impregnaram com suas próprias vibrações.
Dito isto, a conceituação a seguir é oriunda da abordagem mais técnica e de viés mágico que as egrégoras
passaram a receber no Ocidente a partir do século XIX, e que se popularizou através da Sociedade Teosófica, no
início do século XX (ABO, 2014).
Segundo algumas correntes místicas, por Ideias-Forças, ou Formas-Pensamentos, deve-se entender
espécie das criaturas de variadas procedências habitantes do plano astral (um dos níveis do mundo astral, que é a
dimensão mais próxima da física, que permeia o mundo como uma enorme rede mental), resultantes dos
pensamentos, desejos e emoções. As Ideias-Forças de início permanecem ligadas a seu emissor e podem levá-lo a
conflitos emocionais e até a carma negativo, porém, ao longo do tempo, desprendem-se e tornam-se autônomas e de
vida geralmente curta.
Em nível macro, quando um grupo de pessoas se reúne em torno de uma ideia ou doutrina, gera pequenos
seres astrais, que, em razão da afinidade, congregam-se em uma unidade coletiva ou um grande ser astral que
concentrará uma Tradição particular, dando nascimento às egrégoras intencionais; em contraste, a egrégora casual
surge sempre que as pessoas se reúnem para fazer algo e se extingue tão logo o grupo se dispersa.
Nutrida pelas orações e rituais de seu grupo formador, as egrégoras são a origem dos “deuses protetores”
de várias culturas e são a causa de curas milagrosas e do poder de se encontrá-las em determinados santuários
(quanto às curas pela fé, Cristo afirmou: “Em verdade, em verdade vos digo que aquele que crê em mim fará
também as obras que eu faço e outras maiores fará [...]” Jo 14,12).
De acordo com os objetivos e intenções dos membros do grupo formador, uma egrégora pode ser
classificada como: morna, espiritualizada, negativa, ou maléfica.
Nas escolas iniciáticas da Grande Loja Branca (“[...] Sagrada Assembleia de Illuminados em que todos são
Um, mas cada um é cada um.”, “[...] cujos membros raramente se dão a conhecer.”; PIZZINGA, 2014), as egrégoras
reúnem uma força sagrada e santificada, que auxilia os membros a se desenvolverem em todos os planos, para o que
conta ainda com a vitalização e orientação de um gênio (ser superior, ou hierofante). O agrupamento destes
hierofantes, ápice da parte imaterial da egrégora, possui denominações várias, assim como várias são as culturas
onde surgem seus nomes, a exemplo de:
· Mestres Cósmicos, na AMORC;
· Mahatmas, na Teosofia;
· Mestres Secretos, na Golden Dawn;
· Gotos, na Fraternitas Saturnis;
· Guias, no Espiritismo;
· Eguns, na Umbanda; e
· Orixás, no Candomblé (ABO, 2014).
Caso não haja sintonia interna do membro para com o propósito da escola, não haverá conexão com a
egégora, nem proveito algum. Isso ocorre porque, apesar de sua ação benfazeja, a egrégora exige sistema e ordem
para sua manutenção, vez que se “nutre” das emoções e pensamentos de quem a criou e a mantém.
Místicos afirmam ainda que a egrégora entrará em decadência por falta de “alimento”, caso o grupo
criador se disperse, seus líderes comecem a agir contra o objetivo original, ou os oficiais permaneçam no mesmo
cargo por muito tempo, criando certa dependência da egrégora (embora haja quem afirme que a alternância de poder
pelos moldes democráticos por eleição é a causa da ruína de escolas iniciáticas autênticas, como vimos no texto
anterior, a exemplo de Mebes (2014)). A egrégora poderá então, em escala ascendente:
a) tentar influenciar os membros para retornarem ao trabalho;
b) influenciar seus líderes mais intensamente para a permanência na senda;
c) excluir do grupo os membros (inclusive líderes) que não correspondem ao “chamado” (ao assumir uma
função em uma escola autêntica, não se deve negligenciá-la);
d) definhar até se dissolver (ou ser dissolvida); ou
e) tornar-se “obsessiva” e passar a atuar como um demônio ou vampiro, em busca de matéria astral de
origem física para sua continuidade (daí a necessidade de sacrifícios de sangue em favor de “entidades”
ou “seres” em certas seitas e religiões).
Deve-se observar ainda que uma Egrégora chega à morte quando:
a) ocorre a dissolução do grupo, devido à fraca atuação de suas práticas;
b) após atingir o objetivo para o qual foi criada;
c) é absorvida por outra mais forte e consistente;
d) ocorre uma “guerra” de egrégoras e uma destrói a outra; e
e) é dissolvida intencionalmente pelos Mestres Cósmicos (PSEUDO-SEDIR, 2013).
Todos os Mestres Cósmicos são membros da Grande Loja Branca e para cumprirem seu mister, recebem o
auxilio da Grande Fraternidade Branca, composta por todos os iniciados que, independentemente de religiões e
tradições, foram missionados por eles para operarem em um dos doze caminhos da Tradição Primordial. A Grande
Fraternidade não possui local visível para reuniões e seus membros jamais se reúnem fisicamente, de maneira que
se alguma organização física afirmar ser (ou representar) a Grande Fraternidade Branca é falsa e seus fins são
escusos.
Já do ponto de vista histórico, deduz-se da obra de Churton (2009), que se deve a Jean-Baptiste Willermoz
(1730-1824) a aparição e desenvolvimento inicial do conceito de hierarquias esotéricas nas ordens iniciáticas
ocidentais. Ele o teria feito ao adaptar os conceitos místicos da recém-dissolvida Estrita Observância Templária do
Barão Karl von Hund (1722-1776) para o recém criado Rito Escocês Retificado, bebendo ainda da fonte de
Martinez de Pasqually (1727?-1774); a Estrita Observância se dizia continuadora da tradição templária, através de
uma corrente ininterrupta que remontaria a cavaleiros sobreviventes às perseguições do século XIV. E o
pesquisador, cético, indica como o conceito de egrégora teria sido empregado para cooptar os crédulos para as
nascentes ordens, consequentemente desprovidas de tradição.
A verdadeira ordem espiritual do Templo do Universo poderia continuar, pois não dependia dos
acidentes da história ou de vastas propriedades pelo continente (ou da aprovação do papa ou o que
seja).
Desse modo, qualquer coisa de natureza secreta e mística associada com os Templários era
simplesmente uma manifestação do contato entre membros dessa ordem (nem todos precisavam
saber isso) e que, depois, seria chamada “a Grande Fraternidade Branca” (em que “branca” refere-
se a “magia branca”, suprarrealidades sagradas, santas, divinas, perfeitamente espirituais e
orientadas para a luz).(op. cit., p. 369)
Desenvolvia-se assim o conceito de uma ordem trans-histórica, cujos mestres seriam invisíveis à maioria
dos membros e guardiões de segredos acessíveis apenas aos que recebessem a autêntica iniciação.
Portanto, qualquer ordem iniciática aprovada podia ser declarada apenas uma manifestação
terrestre da ordem divina acima do espaço e do tempo. Assim que se admite essa concepção,
estebelece-se o fundamento lógico por meio do qual uma ordem pode afirmar estar em sucessão
espiritual com a Ordem Rosa-cruz, a Ordem do Templo, Jesus Cristo, os essênios, João Batista,
Pitágoras, os antigos egípcios, os cátaros, os gnósticos, Apolônio de Tiana, Simão, o Mago, os
maniqueístas e por aí vai: aí está a boa-fé alojada sobre um nível inacessível (racionalmente
inegável). (id., p. 370)
Desde o século XVIII até os dias atuais, surgem ordens iniciáticas alegando que seus “Superiores
Incógnitos” (“Guardiões Invisíveis”, ou “Chefes Secretos”, como queiram) habitam no espaço exterior ou são
habitantes angélicos da “Casa Invisível”, do “Sagrado Santuário”, cuja missão nos soa incompreensível por conta
do seu grau de complexidade e abrangência ante nosso limitado entendimento.
Com a chegada da ordem trans-histórica (vinculada a várias outras linhagens gnósticas, herméticas,
bíblicas e cabalísticas), surgiu o Ser Adepto trans-histórico, às vezes dignificado com o termo
avatar, que parece um pouco mais impressionante e menos sentimental do que “anjos”, aos ouvidos
ocidentais. (ibd., p. 371)
Na visão de Churton, tais ordens e até alguns ritos maçônicos, em sua origem logo se arvoram na condição
de tradicionais e respeitáveis porque, segundo seus líderes, estão ligados espiritualmente com a Tradição
Primordial, manifestada pelos hierofantes. E os hierofantes, através das lideranças, transmitem aos adeptos
mensagens que estes pouco compreendem (por estarem caídos na matéria e na ignorância), mas que devem seguir
em busca da realização espiritual. Mais semelhante aos dogmas das religiões tradicionais, impossível!
O que veremos no último texto da série é que estes conceitos místicos foram paulatinamente migrando
para outras ordens iniciáticas, criadas por maçons e/ou por eles frequentadas, sendo hoje quase totalmente
desconhecidos da maioria dos Irmãos. Neste sentido, o mesmo Willermoz que em 1778 distribuiu aos Grandes
Professos (à época, último grau do RER), o depósito doutrinal do Rito Maçônico dos Ellus Cohen, 40 anos depois,
viu a nova geração de líderes do Rito eliminar dos rituais tudo que dissesse respeito a Martinez de Pasqually
(AMADOU, 1999 apud VIVENZA, 2014).
No nosso próximo encontro, veremos as mais modernas teorias que poderão servir de base à comprovação
científica da existência de egrégoras. Até lá!
REFERÊNCIAS
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