Você está na página 1de 6

OMISSÃO DE ARTIGOS EM SINTAGMAS NOMINAIS POR ALUNOS DA 12ª

CLASSE DA ESCOLA SECUNDÁRIA DE PEMBA, 2013.

Ruby Muinde1

Resumo
Esta pesquisa assenta-se nos fundamentos teóricos da Teoria X-Barra Chomsky (1970), considera por muitos
linguístas como a que melhor visualiza os elementos que constituem os sintagmas e as relações entre si dentro da
frase. Pretende-se com estudo analisar a estrutura dos sintagmas nominais do Português moçambicano à luz da teoria
acima referida, por se ter constatado, no âmbito das práticas pedagógicas, que os alunos omitem artigos em
contextos de uso obrigatório, segundo a norma padrão. Trata-se de uma pesquisa descritivo-explicativa, baseada na
abordagem qualitativa de fenômenos educacionais, descrevendo as circunstâncias da omissão dos artigos em
sintagmas nominais e estabelecendo relações entre variáveis. Redacções produzidas por alunos da 12ª classe da
Escola Secundária 15 de Pemba constitui o material empírico analisado. Portanto, os resultados mostram que a
omissão de artigos em sintagmas nominais pelos alunos resulta da interferência linguística dos aspectos morfo-
sintácticos da sua língua materna sobre o Português; os alunos põem em paralelo as regras da sua língua materna.
Contudo, era bom que surgissem outras pesquisas com alunos de outras Línguas bantu de Moçambique para testar
ocorrência deste fenómeno para que se possa criar uma teoria aceitável a respeito deste fenómeno.

Palavras-chave: Omissão de artigos, Sintagma nominal, Interferência linguistica, Línguas


Bantu.

1 Mestrando em Sociologia do Desenvolvimento, UEM, Edição 2019.


1. INTRODUÇÃO

O Português falado em Moçambique (PM) apresenta mudanças morfo-sintácticas em


virtude do contacto que mantém com as Línguas Bantu (LB). Este facto o distancia, de certo
modo, do Português europeu (PE), tido como a variante de referência/padrão. Pese embora haja
uma grande consciência e interesse, parte de alguns investigadores, docentes assim como
discentes, em estudá-las e reflectir sobre elas, no contexto moçambicano, são ínfimos os estudos
desencadeados sobre esta temática. Com efeito, é relevante para esta pesquisa o estudo
desenvolvido por Nicolau Atanásio (2008), que analisa a estrutura dos sintagmas nominais (SN)
no Português de Moçambique, tendo concluído que todas as línguas naturais possuem
determinantes, embora nem todas tenham artigos, ou seja, numas ocorrem através de morfemas
próprios, enquanto noutras se realizam de forma nula. Porém, essa abordagem apresenta algumas
nuances, por exemplo, não evidencia às relações estabelecidas entre os constituintes frásicos na
formação de frase.

Ressalte-se que muitos pensadores moçambicanos (Armindo Ngunga, Heldizina Dias,


Perpétua Gonçalves, Geraldo Macalane, entre outros) consideram que o PM é uma variante em
formação cujo qualquer estudo sobre ela é sempre importante. Portanto, expectativa-se que esta
análise venha a contribuir teoricamente para o conhecimento da natureza dos SN’s do PM,
trazendo ao de cima inputs que, certamente, serão úteis para a comunidade científica
moçambicana.

A presente pesquisa enquadra-se no contexto acima referido e subordina-se ao tema


omissão de artigos em sintagmas nominais pelos alunos da 12ª classe da Escola Secundária
Pemba, cujo objectivo é analisar a estrutura dos sintagmas nominais do Português Moçambicano
com base no esquema de representação de constituintes da Teoaria X-barra.

REVISÃO DA LITERATURA

A Teoria X-barra de Chomsky (1970)

Esta pesquisa assenta-se na Teoria X-Barra, uma das teorias vinculadas na Gramática
Generativa-Transformacional, proposta por Chomsky (1970). Esta teoria é a que permite
representar um constituinte e explicar a natureza dum constituinte, as relações que se
estabelecem dentro dele e a forma como os constituintes se subordinam para formar a frase;
“condiciona a forma das categorias e a maneira como as categorias se organizam em estrutura
profunda”. (BRITO, 1988, p.237)

Os Princípios fundamentais da Teoria X-barra

De acordo com Brito (1988, p. 519), os seus princípios fundamentais Teoria X-barra são
os seguintes:

(i) as categorias sintácticas obedecem a uma forma geral e homogénea. Cada categoria,
n 0
X , é a projecção de um núcleo, X ou simplesmente X; uma projecção máxima só pode dominar
uma categoria do mesmo tipo:

n
(ii) Além de uma posição de núcleo, cada categoria X contem uma posição de
especificador (ESP) e uma posição reservada ao (s) complemento (s) (COMPL) (em que ESP e
COMPL estão a ser usadas aqui como simples etiquetas e não como categorias).

Esquema da Teoria X-barra 1. Esquema 2. A sala da casa está bem ornamentada.


SX SN”

Espec X'
ESP(artigo) N´

N (COMPL)
Xº Z"
A sala da casa
Fonte: Campos e Xavier (1991)

A Estrutura do Sintagma Nominal na Língua Portuguesa

Muitas línguas do mundo possuem o sistema de determinação, quer dizer, numa


construção nominal, deve haver a ocorrência de certos elementos tanto `a esquerda quanto `a
direita do núcleo.
A proposito, Mateus et al (1989) e Campos & Xavier (1991) são unanimes em
considerar que, no PE, `a esquerda nominal é ocupada por especificadores (determinantes
[pronomes] e quantificadores), cujo papel é de estabalecer a referência desse nome, enquanto que
`a direita encontram-se, geralmente, as categorias designadas por complementos dos sintagmas
nominaiss.

A Estrutura do Sintagma Nominal nas Línguas Bantu

Nicolau (op.cit.), após ter analisado a tabela de morfemas de classe de Bleek – Meinhof
acima concluiu o seguinte:

“As várias línguas do grupo Bantu podem utilizar tanto os prefixos do Proto-bantu como
podem escolher outros prefixos que as particularizam. Todas as línguas de origem Bantu
têm os seus nomes agrupados em geral entre 15 a 18 prefixos (…). Contrariamente ao
que acontece com as línguas românicas e/ou com as línguas germânicas, em que o
número morfológico é marcado geralmente por um sufixo, (…)”.

Ainda o mesmo autor,

[diferentemente] dos sintagmas nominais referenciais do Português Europeu, que exibem


uma estrutura com três elementos básicos: os determinantes, núcleos de natureza nominal
e os complementos. (…). Basicamente, os sintagmas nominais Bantu têm núcleos
representados pelos radicais dos nomes e são especificados pelos prefixos

Observe-se a representação dos sintagmas nominais das Línguas Bantu:

Esquema 3. (i) (classe 1) (ii) SN

m- α Espec=mc N= α
C1 -tu Mu- tthú
(pessoa) a/uma pessoa

A partir dos esquemas acima representados, pode perceber-se que o prefixo mu-, junto ao
radical -tthú gera as interpretações equivalentes à do sintagma nominai "a/uma pessoa". Portanto,
os prefixos de classe atribuem, por um lado, a informação de número morfológico
singular/plural ao nome e, por outro, em termos estruturais, posicionam-se como os verdadeiros
artigos do nome, definindo-o e desencadeando a concordância com as outras unidades lexicais.

ASPECTOS METOLÓGICOS

A metododologia aqui empregue fundamenta-se na abordagem qualitativa de fenômenos


educacionais, com referência ao discurso escrito por alunos da 12ª classe duma escola pública.
Assim, os dados que constituem o material de análise serão recolhidos por meio da técnica de
inquérito sob a forma de questionário, constituído por duas partes em que, na primeira,
apresentar-se-á um inquérito sociolinguístico e, na segunda, propôr-se-ia aos informantes três
temas para a redacção com vista a que eles produzam textos de forma consciente para se poder
captar a sua proficiência linguística.

Ressalte-se que os critérios para a inclusão dos sujeitos informantes serão: estar a
frequentar a 12ª classe na Escola Secundária de Pemba e ser falante de, pelo menos, uma das
línguas nativas de Cabo Delgado, nomeadamente, Emakhuwa, Shimakonde, Kimwani.

Portanto, trata-se de uma pesquisa descritivo-explicativa, na medida em que, para além de


se pretender descrever as circunstâncias da omissão dos artigos e se estabelecer relações entre
variáveis hipoticamente aventadas, procurar-se-ia aprofundar mais sobre este facto, fazendo-se
uma explicação linguística do porquê dessa omissão de artigos em sintagmas nominais.

Muitas são as pesquisas com esta denominação e a utilização de técnicas padronizadas de


coleta de dados, tais como questionário e a observação sistemática. Nesse caso, o
pesquisador registra, analisa e interpreta os dados. É amplamente utilizada nas Ciências
Humanas e Sociais, com a utilização do método observacional; solicitada por instituições
educacionais, empresas comerciais, partidos políticos e outros. (RAMALHO &
MARQUES, 2009, pp. 6-7)

De modo a garantir o anonimato, privacidade e bom nome do informante, no final de


cada frase do material analisado terá um código, no qual se fará a indicação, entre parêntese
curvos. Esse código será constituído pela seguinte informação: i) A (aluno); ii) ESP (Escola
Secundária de Pemba) e; iii) 01,02, 04 …(número do aluno). Por exemplo, o código (AESP02),
lê-se: o aluno da Escola Secundaria de Pemba, número dois.
6. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
ATANÁSIO, Nicolau. (2002). Ausência do Artigo no Português de Moçambique:
análise de um corpus constituído por textos de alunos do Ensino Básico em
Nampula. Dissertação apresentada à Universidade do Porto para a obtenção
do grau de Mestre em Linguística Portuguesa, Porto, Faculdade de Letras.

BRITO, A. M. A sintaxe das Orações Relativas em Português. Porto:INC/Centro de

Linguística da Universidade do Porto.

CAMPOS, H. C. & XAVIER, F. Sintaxe e Semântica do Português. Lisboa,


Universidade Aberta,1991.
CUNHA & CINTRA. Breve Gramática do Português Contemporâneo. 12ed. Lisboa,
Edições de Sá da Costa, 2001.

GIL, A. Carlos. Como Elaborar Projetos de Pesquisa. 4. ed. São Paulo, Atlas, 2002.

MATEUS, Maria Helena Mira at all. Gramática da Língua Portuguesa. 7° ed.,

Lisboa, Caminho, 2003.

RAMALHO,Ângela, M.C. & MARQUES, Francisca L.M. Classificação da Pesquisa


Científica. Brasil, UNIDIS, 2009.

RAPOSO, Eduardo Paiva. Teoria da Gramática: A Faculdade da Linguagem. 2° ed.

Lisboa, Caminho SA. 1992.

Você também pode gostar