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9 o Seminário Nacional de Desenvolvimento da Suinocultura

25 a 27 de abril de 2001 — Gramado, RS

PRODUÇÃO DE SUÍNOS E MEIO AMBIENTE


Carlos Cláudio Perdomo1 Gustavo J. M. M. de Lima2 Kátia Nones3

1 Eng. Agr., D.Sc., Pesquisador da Área de Engenharia Rural da Embrapa Suínos e Aves,
BR 153, KM 110, Cx. Postal 21, 89.700–000, Concórdia-SC, Brasil
e-mail:perdomo@cnpsa.embrapa.br
2 Eng. Agr., Ph.D., Pesquisador da Área de Nutrição da Embrapa Suínos e Aves.
3 Bolsista da Área de Nutrição Animal da Embrapa Suínos e Aves.

1 Introdução
Os criadores se preocupam mais com os fatores que atuam diretamente sobre
os animais do que com as variáveis que ditam os níveis necessários de controle do
bioclima local e que influenciam a operacionalidade, a economicidade, o desempenho
e a saúde dos animais e dos tratadores. Desconforto, aumento de doenças associadas
a perda da qualidade do ar, da água e do solo, redução do desempenho, maior
dependência energética e degradação ambiental, tem sido atribuído a ausência de
critérios mais rigorosos para o dimensionamento dos sistemas.
Seja qual for a forma de criação, a suinocultura é atividade de grande potencial
poluidor, face ao elevado número de contaminantes gerados pelos seus efluentes,
cuja ação individual ou combinada, pode representar importante fonte de degradação
do ar, dos recursos hídricos e do solo. A degradação biológica dos resíduos
produz gases tóxicos, cuja exposição constante a níveis elevados, pode reduzir o
desempenho zootécnico dos suínos e incapacitar precocemente os tratadores para
o trabalho, mas o lançamento dos dejetos na natureza sem tratamento prévio, pode
causar desequilíbrios ambientais, a exemplo da proliferação de moscas e borrachudos,
aumento das doenças vinculadas a água e ao solo.
Esta situação exige a fixação de parâmetros de emissão cada vez mais rigorosos.
Os grandes centros produtores de suínos, a exemplo da Europa, já enfrentam
dificuldades para manter os seus atuais rebanhos, como decorrência do excesso
de dejetos, da saturação das áreas para disposição agronômica, da contaminação
dos recursos naturais e dos altos investimentos para o tratamento dos efluentes.
Esta situação é excelente oportunidade de crescimento para os países do Mercosul,
especialmente o Brasil, que dispõe de clima tropical e extensas áreas para a utilização
como fertilizante agrícola.
O objetivo deste trabalho é o de discutir alguns aspectos da produção de suínos
e o seu impacto sobre o meio ambiente, pois a resolução da questão ambiental será
fundamental para a expansão da atividade suinícola brasileira, cuja produção de carne
em 1998 foi de 1.699 ton, considerada elevada quando comparada a do Mercosul
(1.896 ton), mas bem abaixo de outros centros produtores, a exemplo, do NAFTA
(10.755 ton), UE (16.850 ton), Leste Europeu (3.295 ton) e Ásia (48.358 ton).

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2 Características da produção
Os sistemas confinados constituem a base da expansão suinícola (Tabela 1) e
induzem a adoção do manejo de dejetos na forma líquida. O elevado nível de diluição
constitui um agravante para os problemas de captação, armazenagem, tratamento,
transporte e distribuição dos dejetos.

Tabela 1 — Estimativas da distribuição (%) dos sistemas de pro-


dução de suínos no Brasil.
Sistema/ano 1990 1995 2000
Confinado 40,0 48,0 61,0
Semi Confinado 27,0 26,0 21,0
Extensivo 32,8 25,5 17,0
Ar Livre 0,2 0,5 1,0
Fonte: Gomes et al. (1992).

Todos os sistemas resultam potencialmente poluidores, mas com níveis de impacto


ambiental diferenciados, por exemplo: o sistema confinado, de uma forma geral,
coleta e armazena os dejetos suínos para posterior tratamento e utilização enquanto
o SISCAL mantém uma relação mais estreita e direta com o meio ambiente, ou
seja, gera e distribui os efluentes no próprio local. A intensificação no sistema
SISCAL acarreta, por outro lado, num aumento da pressão sobre os recursos naturais,
especialmente da integridade do solo (dificuldade para manter a cobertura vegetal,
compactação, erosão) e na contaminação das águas superficiais e subterrâneas.

3 O Problema dos dejetos


A estratégia da armazenagem e distribuição como controle da poluição não tem
sido totalmente correta, pois revela um distanciamento da realidade e interesse
dos produtores. Estudo realizado em Santa Catarina pela Epagri, revela que
apenas 15% das propriedades suinícolas possuíam alguma forma de tratamento
(esterqueiras e bioesterqueiras) no início da década de 90, mas em 1997 já eram
40% (6 324) dos produtores integrados a Agroindústria e 70% (9 012) em 1999
(Tramontini, 1999). Embora tenha havido significativo avanço na capacidade de
armazenagem e distribuição (os demais estados, também apresentam evoluções
significativas neste sentido), convém destacar que a poluição por dejetos suínos vem
se agravando nos principais centros produtores, pois armazenagem e distribuição não
significam tratamento. O grande desafio resulta em utilizar corretamente os dejetos e
tratar o excesso de acordo com os padrões de emissão da Legislação Ambiental em
vigor.
O maior problema para a adequação das propriedades existentes as exigências da
legislação, é que as ações para a melhoria da qualidade do ar e redução do poder
poluente dos dejetos suínos a níveis aceitáveis, requerem investimentos significativos,
normalmente acima da capacidade de pagamento do produtor e, muitas vezes, sem
garantias de atendimento das exigências da legislação ambiental. Por outro lado, a

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utilização dos dejetos suínos como nutriente para as plantas e instrumento de melhoria
das condições físicas, químicas e biológicas do solo, também exige conhecimentos
e planos de utilização específicos para cada situação e razoáveis investimentos em
captação, armazenagem, transporte e distribuição, nem sempre disponíveis para os
pequenos e médios produtores.
O conhecimento do volume e da composição química dos dejetos são fundamen-
tais para o estabelecimento de um programa de manejo, armazenagem, tratamento,
distribuição e utilização visando o controle da poluição e a valorização agronômica.

• Volume produzido
De uma forma geral, estima-se que um suíno (na faixa de 16 a 100 kg de
peso vivo) produz de 8,5 a 4,9% de seu peso corporal em urina + fezes
diariamente (Jelineck, 1997). O manejo, o tipo de bebedouro e o sistema
de higienização adotado (freqüência e volume de água utilizada), bem como,
o número e categoria de animais também influenciam o volume de dejetos
(Tabela 2). Estima-se a produção de efluentes das unidades de Ciclo completo,
em condições normais, em 100 L/matriz/dia, 60 L/matriz/dia para as unidades
de produção de leitões e 7,5 L/terminado/dia. Portanto, uma granja em Ciclo
completo com 80 matrizes e dejetos “pouco diluído”, gera 8 000 L/dia, cerca de
12 000 L/dia com “diluição média” e 16 000 L/dia no caso de “muito diluído”.

Tabela 2 — Produção média diária de esterco (kg), esterco + urina


(kg) e dejetos líquidos (L) por animal por Fase
Categoria de Suínos Esterco Esterco+ urina Dejetos líquidos
25–100 kg 2,30 4,90 7,00
Porcas em Gestação 3,60 11,00 16,00
Porcas em Lactação 6,40 18,00 27,00
Machos 3,00 6,00 9,00
Leitão desmamado 0,35 0,95 1,40
Média 2,35 5,80 8,60
Fonte: Oliveira (1993).

A Tabela 3 nos dá uma idéia da distribuição espacial do rebanho nacional e da


produção de dejetos suínos nas diferentes regiões do Brasil.

• Composição físico, química e biológica


As características dos dejetos (Tabela 4) está associada ao sistema de manejo
adotado e aos aspectos nutricionais, apresentando grandes variações na
concentração dos seus elementos entre produtores e dentro da própria granja.

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Tabela 3 — Rebanho (cabeças) e estimativa da produção de dejetos suínos (em m3 )


nas diferentes regiões brasileiras
Produção de dejetos2
Região Rebanho1 Diária Anual
Norte 4 569 170 24 952 9 107 480
Nordeste 8 069 180 52 046 18 996 790
Sudeste 6 095 021 47 700 17 410 500
Sul 12 005 395 103 246 37 684 935
Centro-Oeste 3 466 437 26 532 9 684 180
Total 34 205 203 294 164 92 883 885
1
ANUALPEC (1997).
2
Estimada com base no peso vivo médio e dados da Tabela 2.

Tabela 4 — Características de dejetos suínos (Fezes + Urina), expresso


por 1.000 kg de peso vivo.
Parâmetro Unidade Valor
Volume- urina kg 39
Fezes kg 45
Densidade kg/m3 990
Sólidos - totais kg 11
Voláteis kg 8,5
DBO5 kg 3,1
DQO kg 8,4
PH 7,5
Nitrogênio- total kg 0,52
Amoniacal kg 0,29
Fósforo total kg 0,18
Potássio total kg 0,29
Minerais - cálcio kg 0,33
Magnésio kg 0,070
Enxofre kg 0,076
Sódio kg 0,067
Cloro kg 0,26
Ferro Mg 16
Manganês Mg 1,9
Zinco Mg 5,0
Cobre Mg 1,2
Coliforme-total Colônia 45x1010
Fecal Colônia 18x1010
Fonte: ASAE (1993)

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3.1 Principais impactos ambientais


Os gases, vapores e poeiras gerados pela suinocultura comprometem o conforto e
a saúde de homens e animais, corroem equipamentos e edificações, mas os elevados
níveis de matéria orgânica, nitrogênio, fósforo, sais e bactérias contidos nos dejetos
constituem em risco ao meio ambiente e a saúde da população. A capacidade
poluidora dos dejetos de suínos é superior ao de outras espécies, a exemplo da
humana, pois enquanto a DBO5 de um suíno com 85 kg de peso vivo varia de 189
a 208 g/dia, a humana é de 45 a 75 g/habitante/dia (ASAE, 1993).
A degradação de fibras vegetais e de proteínas provoca a formação de compostos
voláteis. Os ácidos aminados submetidos aos processos de desaminação, transa-
minação, descarbolixação oxidativa dão origem ao CO2, NH3 e ácidos graxos voláteis
(AGV). Segundo Pain e Bonazzi (1991) citado por Belli (1995), a concentração de
AGV varia de 4 a 27 g/L de dejetos. Sob condições aeróbias o CO2 é o principal
gás produzido mas em processos anaeróbios predomina o CH4 (60 a 70%) e o CO2
(30%). Dentre os mais de 40 compostos gasosos identificados como resultante da
degradação de dejetos animais, cabe destaque ainda para a família dos mercaptanos,
sulfides, esteres, carbonilas e aminas. A produção de CH4 é pequena na produção de
suínos, representando menos de 1% da energia consumida e, comparada a produção
de ruminantes resulta insignificante, sendo levemente superior a 1 kg de CH4 por
cabeça/ano (Tamminga e Verstegen, 1992).

• Qualidade do ar
A poluição do ar e a incidência de doenças relacionadas a perda da qualidade
do ar nas edificações tem aumentado nos últimos anos. Cerca de 50% dos
suínos criados em sistemas confinados, apresentam problemas de saúde e
muitos criadores tornam-se precocemente incapacitados para o trabalho, face
aos danos causados em seu sistema respiratório pela exposição constante a
ambientes com elevadas concentrações de poeiras e gases.
A concentração de bactérias (estafilococos, estreptococos e outras) no ar de
edifícios fechados, variam de 17.650 durante o verão e 353.000 no inverno por
m3 de volume de ar, mas em edifícios que possuem uma das laterais abertas, as
concentrações reduzem-se a 3.530 e 175.500 por m3 de volume de ar durante o
verão e inverno, respectivamente (Curtis 1978). Estas concentrações internas de
bactérias podem ser consideradas elevadas quando comparadas a externa que
é da ordem de 353 por m3 de volume do ar. Um bom sistema de ventilação,
possibilita manter a concentração de partículas suspensas no ar em níveis
adequados.
Os gases de maiores interesses para a suinocultura são a amônia, dióxido
de carbono e hidrogênio sulfídrico. Duas de suas dimensões apresentam
grande significância, qual seja: o nível da concentração incidente e o tempo
de permanência.

– Amônia (NH3 )
Facilmente detectado através do odor na concentração de 5 ppm ou mais, a
partir de 50 ppm passa a afetar o crescimento e a saúde dos animais. Sendo
mais leve que o ar, tende a concentrar-se junto ao forro. Sua concentração

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depende muito mais da higiene do que da ventilação e não é um bom


indicador da qualidade da ventilação. Drumond et al. (1980) encontram
reduções de 12,0; 30,0 e 29,9% do ganho de peso de suínos (8,5 kg de
peso vivo) quando expostos a concentrações de 50; 100 e 150 ppm de NH3
durante quatro semanas.
Para o maior conforto e segurança dos criadores e animais, recomenda-se
que os níveis de NH3 não ultrapassem os 10 ppm.
– Dióxido de carbono:
O CO2 é mais pesado do que o ar, inodoro e asfixiante. A concentração
máxima admissível na edificação é de 3.500 ppm sendo que valores
superiores a 20.000 ppm provocam aumento dos batimentos cardíacos,
sonolência e dor de cabeça. Permanece nas camadas mais baixas das
edificações e das estruturas de armazenagem, deslocando gradualmente
os gases mais leves. Perdomo (1995) encontrou concentrações de 0,030%
em edifícios climatizados naturalmente e de 0,038% naqueles climatizados
artificialmente, muito abaixo daqueles referidos como tóxicos. Um suíno de
50 kg pode produzir cerca de 450 kg/ano de CO2 , o qual contribui para o
efeito estufa (Tamminga & Verstegen, 1992).
– Hidrogênio sulfídrico (H2 S):
É detectado na concentração de 0,01 ppm ou mais, e entre 50–200 ppm
pode acarretar sintomas, tais como: perda de apetite, fotofobia, vômitos e
diarréias nos animais. Recomenda-se que os níveis de H2 S nas edificações
não ultrapassem os 20 ppm.

• Qualidade da água e do solo


O problema da adição de dejetos aos recursos hídricos, resulta do rápido
aumento populacional das bactérias e na extração do oxigênio dissolvido na
água para o seu crescimento. As bactérias são as principais responsáveis
pela decomposição da matéria orgânica. Se o corpo d’água contem oxigênio
dissolvido (OD), os organismos envolvidos na decomposição da matéria
orgânica são as bactérias aeróbias ou facultativas, sendo o CO2 e a H2 0 os
subprodutos finais da digestão aeróbia.
Quando se adiciona uma grande quantidade de dejetos num corpo d’água,
teoricamente, a população de bactérias pode dobrar a cada divisão simultânea,
ou seja, uma bactéria com tempo de multiplicação de 30 minutos pode gerar uma
população de 16 777 216 novas bactérias em apenas 12 horas de vida (Krueger
et al.,1995).

– Nutrientes
O nitrogênio (N) e o fósforo (P) são considerados como os principais
problemas de poluição dos recursos hídricos. Dietas ricas em proteína,
e consequentemente nitrogênio, exigem maior consumo de água, uma vez
que o metabolismo das proteínas gera menor produção de água metabólica,
quando comparada ao de carboidratos e lipídeos. A excreta na urina é
tanto maior quanto mais elevado for o nível de N da dieta. A importância
deste detalhe pode ser facilmente percebida, pois ao se aumentar a

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digestibilidade da matéria seca de 85 para 90% pode-se causar redução


de 30% da matéria seca nas fezes (Tabela 5). Este raciocínio pode ser
aplicado aos outros componentes da ração.

Tabela 5 — Redução da matéria seca (MS, em kg) nas fezes, de acordo com
a digestibilidade
Parâmetro Peso vivo (kg)
10 a 30 25 a 105
Ingerida 30 200
Excretada nas fezes
85% digestibilidade 4,5 30
90% digestibilidade 3,0 20
Diferença
Em (kg) -1,5 -10
Em % 33 -33
Fonte: Inborg (1992).

O N é o nutriente que exige maiores cuidados, pois além de limitar o desenvolvi-


mento da maioria das culturas, é o mais sujeito a transformações biológicas e perdas,
seja na armazenagem ou no solo. A Tabela 6 apresenta as perdas de N em função do
sistema de estocagem e utilização.

Tabela 6 — Perdas de Nitrogênio (%) em função do sistema de estoca-


gem, tratamento e utilização
Sistema Perda de N
Lagoa anaeróbia 70 a 85
Esterqueira 20 a 40
Aspersão 15 a 40
Distribuição
Liquida 10 a 25
Sólida 15 a 30
Injeção ou incorporação imediata 1a5
Fonte: USDA (1994)

Os teores de nitratos detectados no lençol freático de solos tratados com altas


quantidades de dejetos líquidos (160 m3 /ha) são 10 vezes maiores que os de solos não
tratados. Estudos realizados em Oklahoma, nos Estados Unidos, com observações a
longo prazo (9 a 15 anos) em três tipos de solo, revelaram um aumento de 27 kg/ha
do fósforo disponível para cada 100 kg/ha de fósforo contido no esterco adicionado.
Seganfredo (1998a) ao estudar o efeito acumulativo da aplicação de dejetos suínos
no solo (três anos), concluiu que doses para suprir até 150 kg/ha de N na cultura do
milho, aumentou os teores de N total, N-NH4 e N-NO3 na camada de 0 a 20 cm do
solo e de N-NO3 na de 40 a 60 cm. A concentração de N-NO3 na profundidade de
40 a 60cm foi 172% superior a testemunha (adubação mineral) e os teores de NO3

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excederam de 50 a 121% o limite estabelecido pela legislação ambiental (10 mg/L).


Outro estudo do autor (b) com dosagens de 100 a 150 kg/ha de N, revelou que a
aplicação de dejetos de suínos diminui a microporosidade e a densidade do solo, mas
aumentaram a macroporosidade e a porosidade total do solo.
Além dos macronutrientes essenciais, os dejetos de suínos, devido a suplemen-
tação mineral oferecida aos animais, contém micronutrientes como o Zn, Mn, Cu e Fe
que, em doses elevadas, também, podem ser tóxicos às plantas. A indústria de ração
costuma usar doses elevadas de Zn (3 000 ppm) e de Cu (250 ppm) na ração de leitões
para a prevenção de diarréias e como estimulante do crescimento, respectivamente.

• Ação dos animais:

No caso do SISCAL, o problema resulta da ação dos animais sobre o solo e do


tempo de ocupação da área que depende, basicamente, da qualidade do solo e da
precipitação pluviométrica (freqüência e intensidade).
Solos do tipo sedimentar com baixa declividade são ideais para o SISCAL, mas
os argilosos (impermeáveis) e arenosos (permeáveis) exigem cuidados especiais.
Observações de campo relatam danos ao meio ambiente em muitas unidades
em SISCAL, a exemplo de erosão, compactação, infeção bacteriana do solo e
contaminação de lagos e rios, como conseqüência da alta densidade, da falta
de cuidado no manejo dos animais e, especialmente, do demasiado tempo de
permanência na mesma área (muito acima dos 2 anos recomendados). Esta situação
favorece o carreamento dos poluentes (pela ação da chuva) para os rios e lagos,
acumulando poluentes e provocando rápido aumento populacional das bactérias e na
extração do oxigênio dissolvido na água para o seu crescimento.
O problema para manter uma boa cobertura vegetal, especialmente no inverno,
decorre da dificuldade de encontrar espécies vegetais com bom sistema radicular,
capacidade de crescimento e de adaptação para o pisoteio e para o ato de fuçar
característico da espécie suína. Os produtores obrigam-se a usar dispositivos de
controle (destrompe) ou alocar áreas cada vez maiores para o sistema, nem sempre
disponíveis nas regiões produtoras do Sul e Sudeste, caracterizadas por um relevo
fortemente ondulado e estrutura minifundiária.
Se considerarmos que a área recomendada é de 1.000m2 /matriz alojada e 2 anos
de permanência do sistema SISCAL, isto significaria, por exemplo, que uma carga
de 92 kg de nitrogênio total, 47 kg de fósforo e 460 kg de DBO5 seria distribuída em
10 ha, perfeitamente administravel do ponto de vista ambiental, se a erosão do solo
pudesse ser reduzida, se a capacidade de retenção de água do solo fosse aumentada
e se a matéria orgânica pudesse ser adequadamente incorporada durante o tempo de
ocupação da área.

3.2 Estratégia de controle da poluição


A estratégia para o controle da poluição começa pela redução do volume e da
concentração, seguido pelo destino adequado das emissões, visando a preservação
da saúde e da qualidade do solo, da água e do ar.

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• Redução dos desperdícios de água


Os desperdícios podem ter várias implicações, a exemplo do umedecimento do
piso e estímulo ao comportamento excretório dos animais em áreas impróprias
da baia, diluição e aumento do volume de água para a higienização e elevando
os custos de coleta, armazenagem, tratamento e distribuição.

Tabela 7 — Exigências de água (L/animal/dia) de acordo


com a fase do ciclo de produção e vazão do
bebedouro
Exigências* Fluxo mínimo**
Fase Mínima Máxima (L/min.)
Leitões
Lactentes 0,1 0,5 0,2
Desmamados 1,0 5,0 0,2 – 0,5
Suínos
25 – 50 kg 4,0 7,0 0,7
50 – 100 kg 5,0 10,0 1,0
Porcas
Lactação 20,0 35,0 2,0
Gestação 15,0 23,0 1,0 – 2,0
Cachaços 10,0 15,0 1,0 – 2,0
* Adaptado de BODMAN (1994).
** Limite de pressão de 1,4 kg/cm2 até a creche e 2,1 kg/cm2 para as
demais fases.

O modelo e a operacionalidade dos bebedouros influenciam as perdas de água,


um bom bebedouro, em termos de concepção e instalação, proporciona economia
de água por animal produzido. Os resultados de um estudo com dois tipos de
bebedouros (concha e chupeta) fabricados por tradicionais Indústrias de Santa
Catarina, mostraram excelentes resultados (Tabela 8) e comprovam o alto nível
alcançado pela indústria nacional.

Tabela 8 — Consumo de água (CA, em L/cabeça) e ração consumo


de água/consumo de ração (RAR, em L/kg) de suínos em
crescimento-terminação em 84 dias de teste, de acordo com o tipo
de bebedouro(1).
FASE CA RAR
Concha 577,0 3,6
Chupeta 510,3 3,2
Fonte: Perdomo e Dalla Costa (2000)

Os resultados acima foram considerados bons em relação ao desempenho


considerado padrão para suínos em crescimento-terminação (480 L/cabeça), sendo
o consumo de água da chupeta 8% inferior ao do concha e relação “consumo de
água/consumo de ração) ficou dentro do intervalo esperado (2 a 5 L de água/kg de

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ração consumida), respectivamente. A Tabela 9 apresenta o consumo de comparativo


de água entre bebedouros com diferente qualidade.

Tabela 9 — Consumo de água (L) de suínos em diferentes fases de


desenvolvimento, de acordo com a qualidade de bebedouro.
Tipo bebedouro
Peso corporal, kg Bom Ruim Desperdício
Consumo diário de água, L
5–10 0.91 1.59 0.69
11–100 4.98 8.32 3.34
Consumo total de água, L
5–10 11.11 25.39 14.28
11–100 542.82 906.88 364.06
ECONOMIA – — 378,34
Fonte: Adaptação de Brooks (1994) por Penz e Viola (1995).

Em situações livres de estresse, a ingestão diária corresponde a 5 ou 6% do peso


corporal. Geralmente o consumo situa-se entre 2 a 2,5 kg de água por kg de matéria
seca do alimento. Os animais jovens possuem um “turnover” de água muito maior
que os adultos, face a sua maior perda pelos pulmões, superfície corporal e da menor
capacidade em concentrar a urina.

• Formulação da dieta
Produtores e nutricionistas atualmente têm como objetivo a maximização
individual da performance dos suínos, mas formulando-se para esse objetivo
tem-se a suplementação de excesso de nutrientes nas dietas, resultando em
excessivas quantidades de N, P, K e outros nutrientes nas fezes e urina dos
suínos.
Clanton (1993), citado por Stilborn (1998), observa a chave para o sucesso
no manejo de dejetos é um bom planejamento nutricional, considerando-se
os ingredientes da dieta dos animais, a excreção e perda de nutrientes nos
dejetos, sua armazenagem, transporte e aplicação no solo, e ainda o uso desses
nutrientes pela planta. A média de eficiência de utilização do N da dieta de suínos
é de 29%, do P é de 28% e do K é de 6%. Nesse mesmo contexto, é sugerido
pelo NRC (1998) que 45 a 60% do N, 50 a 80% do Ca e P e 70 a 95% do K, Na,
Mg, Cu, Zn, Mn e Fe consumidos são excretados pelos animais.
Um excesso de proteína dietética ou deficiência de energia poderá causar uma
maior utilização da proteína como fonte de energia. Dessa forma, o excesso de
proteína será desanimado e as cadeias carbônicas resultantes dos aminoácidos
serão utilizadas como fonte de energia e o nitrogênio será excretado na forma
de uréia nos mamíferos e ácido úrico nas aves.
Em suínos com alto potencial para deposição de carne magra, a proteína
da dieta pode ser reduzida para 14,5% no crescimento e menos que 13%
na terminação sem afetar o desempenho, com uma redução da excreção de
nitrogênio e potássio de mais de 20% (Eurolysine no 24). Dourmad et al. (1991),

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citados por Henry e Dourmad (1992), reduziram o nível de proteína bruta da dieta
de 17 para 14%, corrigindo a relação entre os aminoácidos, houve uma redução
na excreção de nitrogênio na urina em 18%. O limite superior para excreção de
nitrogênio no crescimento-terminação de suínos deveria ser em torno de 40% do
N consumido, ao invés disso atualmente 60% do N é excretado nos dejetos.

• Sistemas de tratamentos
A combinação de sistemas de separação de fases com processos biológicos
de tratamento, pode valorizar o uso dos dejetos, facilitar o manejo e reduzir os
custos de armazenagem, tratamento e transporte.
Um pré tratamento, com uso de separadores de fase (decantadores ou peneiras),
além de valorizar os dejetos do ponto de vista de adubação orgânica (aumenta
a concentração de nutrientes por volume), reduz os custos de tratamento,
armazenamento e distribuição. Dentre os processos biológicos de tratamento,
cabe destaque para a utilização de lagoas naturais pela sua eficiência, facilidade
de operação e baixos custos, embora apresente como desvantagem a exigência
de grandes áreas.
A combinação de diferentes processos ligados em série, a exemplo do
desenvolvido pela EMBRAPA/UFSC, apresenta excelente eficiência de remoção
de poluentes, além de valorizar o uso agronômico dos mesmos a custos
razoáveis (Tabela 10).

Tabela 10 — Eficiência (%) de remoção de um sistema de tratamento com-


posto por decantador de palhetas (DECAP), lagoas anaeróbias
(LANAE-1 e 2), facultativa (LFACU) e de aguapé (LAGUA).
Unidade PH ST SF SV DBO5 NT PT CF
Afluente1 7 16 668 6 489 10 179 10 417 2 164 610 75,7x109
DECAP 40 38 41 25 16 38 33
LANAE-1 52 36 62 79 23 67 99
LANAE-2 23 12 35 57 21 40 99
LFACU 41 39 43 47 59 35 93
LAGUA 41 45 33 51 50 46 79
Efluente1 7,8 1 332 734 598 209 180 26 2,7x103
99,9
Final (%) 92 87 94 98 92 96
Onde: ST-sólidos totais, SF-fixos e SV-voláteis; DBO-demanda bioquímica de oxigênio,
NT-nitrogênio e PT-fósforo total, todos expressos em mg/L. CF - taxa de coliformes fecais,
em NMP/100 ml.
Costa et al (1997)
1
Características físico química do afluente e do efluente.

• Decantação:
O decantador é a peça chave do sistema, sua função é separar as fases sólidas
e líquidas. O decantador de palhetas é um dos mais eficientes e adequados para
os pequenos e médios criadores, face ao baixo custo e facilidade de construção

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e operação. A sua presença aumenta a vida útil das lagoas e esterqueiras, reduz
a presença de maus odores.
De uma forma geral, a área necessária de decantação é calculada pela
expressão de Merkel (1981) e Green e Kramer (1979):
A (m2 )= Q (m3 /h)/Vs (m/h)
Onde:
A = área necessária do decantador, em m2
Q = vazão horária de efluentes da granja, em m3/ h
Vs = Velocidade de sedimentação dos dejetos, em m/h3 m/h)
A velocidade de sedimentação é uma questão muito delicada em termos de
projeto, nossa experiência nos sugere trabalhar com o nível de 0,1 m/h e fazer
as devidas correções para as granjas que não possuem um controle rigoroso da
vazão hora. Neste tipo de decantador, a produção de lodo representa 10 a 15%
do volume total de efluentes (remoção a cada 2 dias) e exige esterqueiras para
sua armazenagem, visando a estabilização (em torno de 120 dias de retenção)
antes da sua utilização como adubo. O conteúdo de NPK do lodo é de cerca de
30% mais elevado que os dejetos brutos.
• Peneiras:
A capacidade de remoção dos sólidos por peneiras (3 a 10% para as estáticas
e 40% nas vibratórias) é menos eficiente do que a remoção obtida em
decantadores. A eficiência da centrifugação é de 1 a 2% de sólidos totais na
fase líquida e de 20 a 25% na fase sólida, com 75 a 80% de eficiência (Belli e
Castilhos, 1990).
• Lagoas naturais:
o tratamento do efluente líquido pode ser eficientemente tratado com a utilização
de lagoas anaeróbias, facultativas e de aguapé ligadas em séries.
As Lagoas anaeróbias são lagoas profundas (>2,5 m) e tem como objetivo
principal, a remoção da carga orgânica (carbonácea) e coliformes fecais, mas também
apresentam boa eficiência de remoção de fósforo. Seu dimensionamento deve ser
feito em função da carga orgânica (DBO) e do tempo de retenção hidráulico pode ser
feito de acordo com a equação abaixo:
Vla (m3 ) = (COA kg de DBO5 /d)/TAV (kg de DBO5 /m3 /d)
Onde:
Vla = volume necessário da lagoa anaeróbica, em m3 .
COA = carga orgânica a aplicar na lagoa, em kg de DBO5 /dia.
TAV = taxa de aplicação volumétrica aceitável para o bom funcionamento da lagoa,
em kg de DBO5 por m3 .dia nas condições climáticas locais (0,3 kg de DBO5 /m3 /dia).
O valor de COA é obtido pela expressão COA = So x Q onde So representa a
carga de DBO5 do efluente em kg de DBO5 /m3 e Q = a vazão do efluente em m3 /dia,
expresso em kg de DBO5 /dia.
De uma forma aproximada, também podemos obter o volume necessário da lagoa
anaeróbia multiplicando a vazão diária da granja pelo tempo de retenção necessário
para o tratamento (35 a 40 dias).

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As lagoas facultativas tem como objetivo a remoção de nutrientes (especialmente


nitrogênio e fósforo) e auxilio ao processo de remoção da carga orgânica e coliformes
fecais. São lagoas rasas (1 m) e, semelhantemente as facultativas, são dimensionadas
de acordo com a carga orgânica e tempo de retenção hidráulica, qual seja:
Vlf (m3 ) = (COA kg de DBO5 /d)/TSA (kg de DBO5 /10 000m2 /d)
Onde:
Vlf = volume necessário da lagoa facultativa, em m3 .
COA = carga orgânica a aplicar na lagoa, em kg de DBO5 /dia.
TSA = taxa de aplicação superficial aceitável para o bom funcionamento da lagoa,
em kg de DBO5 por ha.dia nas condições climáticas locais (mínimo de 152 kg de
DBO5 /ha.dia, considerando que a temperatura média do mês mais frio é superior a
15o C).
As lagoas de aguapé também podem ser uma boa opção para a remoção de
nutriente (nitrogênio e fósforo). Elas podem ser dimensionadas a semelhança das
facultativas. Sua eficiência é boa no verão, mas decai no inverno em função da
desaceleração do crescimento vegetativo das plantas.
A eficiência de cada processo e do sistema total pode ser visualizado pela
Tabela 10, mas podemos utilizar a expressão baixo:
E (%) = So (mg/L)/(1 + k.TRH)
Onde:
E = eficiência de remoção, em %.
So = onde So representa a carga de DBO5 do efluente em mg/L
k = um fator de degradação, variável de seqüência que a lagoa ocupa no processo.
Sugere-se 0,14 para a primeira lagoa, 0,12 para a segunda, 0,10 para a terceira e 0,08
para a quarta lagoa da série.
TRH = tempo de retenção hidráulico em dias, obtido pela divisão entre o volume
da lagoa e a vazão dia.

• Compostagem
A decomposição pode ocorrer por processos aeróbio e anaeróbios. Da
fermentação aeróbia (com desprendimento de calor) resultam como produtos
finais a água e CO2 e, da anaeróbia, resultam CO2 , CH4, H2SO4 e outros.
Da putrefação anaeróbia pelo genêro Clostridium resulta a não liberação
completa de Nitrogênio aminado como NH3, formação de aminas incompletas
malcheirosas. O produto resultante possui cerca de 1 a 2% de N, 0,5 a 1% de P
e de K. A relação carbono/nitrogênio (C/N) dos resíduos a serem compostados
deve ser 30. Valores abaixo de 20 ou 25 provocam uma amonificação
com perdas de N, mas acima de 50 provocam retardamento do processo de
compostagem que resultam num produto final menos estável e de qualidade
inferior.

• Uso como fertilizante


Os dejetos de suínos podem ser usados na fertilização das lavouras, trazendo
ganhos econômicos ao produtor rural, sem comprometer a qualidade do solo e
do meio ambiente. Para isso, é fundamental a elaboração de um plano técnico
de manejo e adubação, considerando a composição química dos dejetos, a

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área a ser utilizada, a fertilidade e tipo de solo e as exigências da cultura a


ser implantada.
Através da determinação da densidade dos dejetos, é possível estimar a sua
composição em nutrientes e calcular a dose adequada a ser aplicada para uma
determinada cultura. Com o valor da densidade, através da Tabela de Conversão
(Tabela 11), obtêm-se as características químicas dos dejetos analisados.
Por exemplo, se a leitura registrada no densímetro apresentou um valor de
1014, consultando-se a tabela, observa-se os seguintes valores: 2,54% de
matéria seca (MS); 2,52 kg/m3 de nitrogênio (N); 2,06 kg/m3 de fósforo (P2 O5 ) e
1,38kg/m3 de potássio (K2 O). Quanto mais alto for o teor de matéria seca, menor
será a quantidade de água presente nos dejetos e melhor será a qualidade
fertilizante dos mesmos.
A quantidade de dejetos a ser aplicada depende do valor fertilizante, do resultado
da análise do solo e das exigências da cultura a ser implantada. Na Tabela
de Conversão, a título de ilustração, tendo por base o teor de nitrogênio,
apresenta-se as quantidades de dejetos para fertilização da cultura de milho
para duas faixas de produtividade: de 50 até 100 sacos e mais de 100 sacos por
hectare, e para dois teores de matéria orgânica do solo: de 2,6 a 3,5 e de 3,6 a
4,5%.
Utilizando-se o valor da densidade do exemplo anterior (1014), e considerando-
se que o produtor pretenda adubar uma lavoura de milho, com potencial de
produtividade de até 100 sacos por hectare, e que a análise de solo apresente
um teor de matéria orgânica de 3,0%, verifica-se que a quantidade de esterco a
ser aplicada é de 44 metros cúbicos por hectare.
Para a aplicação dos dejetos deve-se utilizar equipamentos que permitam a
distribuição da quantidade recomendada. Os sistemas mais usados são:

– a) conjunto de aspersão com canhão;


– b) Conjunto trator e tanque distribuidor.

Quando se utiliza o trator e tanque distribuidor, é necessário fazer a calibração do


conjunto, através do seguinte procedimento:

1. Carrega-se o distribuidor com um volume determinado, por exemplo 1.000 L;.

2. Percorre-se uma determinada distância com velocidade normal (4–7 Km/h), até
completo esvaziamento do tanque;

3. Determina-se a área onde os dejetos foram aplicados (largura × distância


percorrida) e calcula-se a taxa de aplicação por hectare.

Exemplificando, aplicando-se uma regra de três para um volume aplicado de


1.000 L numa área de 400 m2 (8 m de largura × distância percorrida de 50 metros),
obtêm-se uma taxa de aplicação de = 25m3 /ha.
Considerando-se a recomendação do exemplo anterior para a cultura do milho,
a taxa de aplicação obtida de 25 m3 /ha foi inferior à recomendada (44 m3 /ha),
tornando-se necessário uma nova regulagem no conjunto trator-distribuidor. Para

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ajustar a taxa de aplicação deve-se diminuir a largura da faixa de aplicação e reduzir


a velocidade de marcha ou fazer duas aplicações na mesma área e para evitar perdas
de nutrientes dos dejetos após a aplicação, por escorrimento da água da chuva ou
por volatilização, a distribuição deve ser feita nos horários de menor insolação, com
imediata incorporação no solo e, de preferência, o mais próximo possível do plantio
da cultura.
Aplicações de 40 m3 /ha de dejetos líquidos é a dose mais recomendada para a
cultura do milho em solos com teores médios de matéria orgânica (Scherer al., 1994)
e 45 m3 /ha para solos de cerrado.

Tabela 11 — Coeficientes de conversão para dejetos suínos


Densi
MS N P2O5 K2O Volume a aplicar (m3 /ha) para o milho, de acordo
dade
(Kg/m3 ) (%) (Kg/m3 ) (Kg/m3 ) (Kg/m3 ) com a produção (sc/ha) e teor de MO (%)
50 a 100 sc/ha > 100 sc/ha
2,6–3,5% 3,6–4,5% 2,6–3,5% 3,6-4,5%
1002 – 0.68 0.22 0.63 162 132 206 176
1004 0.27 0.98 0.52 0.75 112 92 143 122
1006 0.72 1.29 0.83 0.88 85 70 109 93
1008 1.17 1.60 1.14 1.00 69 56 88 75
1010 1.63 1.91 1.45 1.13 58 47 73 63
1012 2.09 2.12 1.75 1.25 52 42 66 57
1014 2.54 2.52 2.06 1.38 44 36 56 48
1016 3.00 2.83 2.37 1.50 39 32 49 42
1018 3.46 3.13 2.68 1.63 35 29 45 38
1020 3.91 3.44 2.99 1.75 32 26 41 35
1022 4.37 3.75 3.29 1.88 29 24 37 32
1024 4.82 4.06 3.60 2.00 27 22 34 30
1026 5.28 4.36 3.91 2.13 25 21 32 28
1028 5.74 4.67 4.22 2.25 24 19 30 26
1030 6.19 4.98 4.53 2.38 22 18 28 24
1032 6.65 5.28 4.84 2.50 21 17 27 23
1034 7.10 5.59 5.14 2.63 20 16 25 21
1036 7.56 5.90 5.45 2.75 19 15 24 20
1038 8.02 6.21 5.76 2.88 18 14 23 19

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