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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CIÊNCIAS SOCIAIS
LICENCIATURA - NOTURNO

DANIEL JUVENAL AMORIM RODRIGUES JUNIOR

Tarefa para consolidação de leituras relativas à aula sobre Lévi-Strauss

Questão formulada em sala de aula, durante


atividade presencial em grupo. Sobre o texto
Trabalho Assalariado – Karl Marx, para a
disciplina Teoria Sociologia Clássica, pelo
Curso de Ciências Sociais da Universidade
Federal da Paraíba – UFPB

Professor: Monica Lourdes Franch Gutierrez

JOÃO PESSOA
2019
Tarefa para consolidação de leituras relativas à aula sobre Lévi-Strauss

As questões abaixo são relativas aos seguintes textos, disponíveis no SIGAA e discutidos
na aula da quarta-feira passada (05/06/2019):

DESCOLA, Philippe. Claude Lévi-Strauss, uma apresentação. Estudos Avançados,


23(67), 2009, p.148-160.
LÉVI-STRAUSS, Claude. As estruturas elementares do parentesco. Petrópolis: Vozes,
1982. (Capítulos 1, 2 e 5).

1. De acordo com Descola, qual a influência da linguística na proposta de Lévi-Strauss


para a antropologia? Quais as características do modelo estrutural que o autor
estruturalista considera aplicáveis à análise antropológica?

A Fonologia é tida por Lévi-Strauss como uma área específica da Linguística fundamental
para as ciências sociais, pelo fato de ser capaz de elaborar modelos formais de descrição
linguística, demonstrando desta forma o que é universal na linguagem, que por sua vez,
estaria no inconsciente, baseado em Freud – mostrando o que é comum a um determinado
grupo. Assim sendo, a Fonologia pode ajudar a revelar e até mesmo prever a organização
estrutural dos componentes que perfazem os sistemas de parentesco.
 Abandona o nível dos fenômenos conscientes para privilegiar o estudo de sua
infraestrutura inconsciente;
 Dão-se por objeto de análise não os termos, mas as relações que os unem;
 Procura mostrar que essas relações formam sistema;
 Busca descobrir leis gerais.

2. O tema da proibição do incesto possui uma inegável importância nas teses


defendidas por Lévi-Strauss a respeito do parentesco e da própria possibilidade de
existência do domínio da cultura e da sociedade. Com base na leitura dos Capítulos
1 e 2 As estruturas elementares do parentesco, de que maneira o autor relaciona a
proibição do incesto com as discussões em torno da fronteira entre natureza e
cultura? Que outras explicações possíveis para essa regra Lévi-Strauss apresentam
e rebate?

Para o autor, a proibição do incesto é a fronteira delimitadora entre a natureza e a cultura,


pois esta constitui-se em uma regra, regra esta, segundo Strauss, única entre todas as
regras sociais, instituindo-se desta maneira como uma regra universal. Mesmo que alguns
possam argumentar que em determinadas sociedades ou povos é permitido o casamento
entre pessoas da mesma familia, impreterivelmente, sempre haverá algum tipo de
proibição. Assim sendo, a solução proposta por Lévi-Strauss à proibição do incesto não
dependeria necessariamente nem da cultura e muito menos da natureza e sim, de uma
espécie de vínculo entre elas.
No texto, o autor, explora ao menos 3 justificativas e prontamente as rebate, como se
segue:
 Segundo Durkheim: "consequência longínqua das regras de exogamia", ou seja,
atribuindo um caráter puramente social à proibição.
Na visão de Durkheim, as interdições femininas e suas respectivas segregações,
tal qual se expressa na regra de exogamia, seriam apenas ecos das crenças
religiosas que originalmente não faziam discriminação entre os sexos, mas que se
modificam sob a influência da aproximação que se determina, no espírito dos
homens, entre o sangue e o sexo feminino. Contudo, para Lévi-Strauss, a conexão
entre estes fenômenos é executada de maneira fortuita e aleátoria, sem que se
possa demonstrar alguma conexão lógica entre eles. Assim, esta intepretação se
mostra problemática, pois busca uma explicação de curso histórico para a referida
proibição, sendo que, a própria história nos demonstra que em cada instituição
“tais episódios” nos levam a resultados muitos distantes.
 Reflexo de um fenomeno natural, uma medida de proteção.
Para ela é exatamente o contrário, onde o autor cita o biólogo E. M. East, o qual
afirma que se a endogamia tivesse ocorrido desde a origem, os “relatados” perigos
da consanguinidade nunca teriam surgido, assim sendo, estes “efeitos nefastos”
oriundos desta relação são na verdade resultado de uma tradição de exogamia e
pangamia.
 Resultado de um desinteresse sexual em relação àqueles com quem se possui
convívio constante
Partindo para um caráter mais psico-fisiológico, ele evoca “o papel negativo dos
hábitos cotidianos sobre a excitabilidade erótica”, pois segundo ele, não haveria a
necessidade de proibição, pois o convívio entre parentes em si, já daria conta de
evitar relações consanguíneas, haja visto que, não há necessidade de proibição em
algo que não ocorre de forma natural.

3. Nas primeiras páginas do capítulo 5, Lévi-Strauss faz um resumo das teses de


Marcel Mauss sobre a importância da dádiva nas sociedades ditas primitivas,
trazendo igualmente exemplos da aplicação desse princípio nas sociedades
contemporâneas. Resuma esse argumento e mostre que você entendeu, com um
exemplo de seu cotidiano.

Segundo Lévi-Strauss, o princípio da reciprocidade faz parte do conjunto de troca, sendo


que suas leis se estendem aos bens, mulheres e objetos, assim a troca é a comunicação.
Desta forma, o autor quer demonstrar que a troca faz parte inclusive das sociedades
contemporâneas e não só das sociedades primitivas, sendo que nesta última, a troca se faz
primordial.
Assim sendo, segundo o autor, existem duas formas de atuação do princípio da
reciprocidade:
 Constituição de classe que delimita o grupo dos cônjuges possíveis.
 Determinação de uma relação, ou conjunto de relações, as quais permitem dizer
em cada caso se o cônjuge considerado na troca é desejável ou excluído.
Através do sistema de troca, podemos trazer à tona novamente o problema do incesto,
problema este, tratado por Strauss como universal, haja vista que a proibição é necessária,
não só para a exogamia, mas também para as trocas matrimoniais. Para o autor, tanto as
regras da exogamia como da reciprocidade foram criadas para solucionar o problema das
mulheres que eram desejadas por todos. Concebe-se, portanto, a necessidade da troca,
pois as mulheres não podem ser de todos ao mesmo tempo, assim, eles trocam suas
mulheres por irmãs, filhas etc.

Qualquer que seja a forma de reciprocidade, esta vem acompanhada da regra soberana da
dádiva de Marcel Mauss. Segundo Mauss, o princípio da reciprocidade é um modelo
universal de relações, mesmo que seja concebido de maneiras diferentes cultura a cultura.
Para ele os dons recíprocos são na verdade fatos sociais, sejam eles: econômicos, morais,
sociais, religiosos entre outros.
Retornando ao autor principal do texto, Strauss, afirma que é primordial que a união do
casamento seja entre duas linhagens e famílias sem laços entre si, sendo a mulher
responsável por criar um laço social entres as respectivas famílias, para que o princípio
da exogamia se estabeleça. A mulher faz o papel de objeto de troca, tal qual, a moeda nas
relações econômicas. Convém afirmar que para o autor, a regra da exogamia não é uma
regra negativa que apenas proíbe o casamento entre primos ou irmãos, ao invés disso, é
uma regra positiva que afirma a existência social dos outros.
A troca é vista tanto por Mauss como por Strauss como a comunicação social. O conceito
de dádiva de Mauss, demonstra para nós um sistema de troca perfeito. Desta maneira, o
indivíduo recebe um objeto e sente a necessidade de retribuí-lo com algo do mesmo ou
maior valor. No exemplo do texto, para Lévi-Strauss, a mulher seria o objeto, como efeito
da troca, conduzindo não só para uma afinidade aos grupos sociais, mas também gera
uma reação de respeito e prestígio. Desta forma, as famílias acabam interagindo entre si,
criando não apenas uma ligação social, mas também carnal e espiritual. Por emergir um
sentido compensatório nestas trocas, estas vão estabelecendo um sistema justo, ou seja, o
princípio da reciprocidade, delineando assim, conexões de amizades e até mesmo de
rivalidades.

4. Ao descrever a contribuição de Lévi-Strauss para os estudos do parentesco, Philippe


Descola afirma que, para Lévi-Strauss, “a proibição do incesto deve ser vista como
o avesso universal e negativo de uma regra de reciprocidade positiva que exige a
troca das mulheres nos sistemas de aliança matrimonial.” (DESCOLA, 2009, p.150).
O que você entendeu dessa afirmação e como pode ser relacionada com as
contribuições de Marcel Mauss? Qual é a contribuição dela para os estudos do
parentesco, ainda de acordo com Descola?

Segundo meu entendimento, para Lévi-Strauss, a proibição do incesto não é uma regra
negativa que apenas exclui o casamento entre primos ou irmãos, ao invés disso, é uma
regra positiva que afirma a existência social dos outros. O conceito de troca propagado
por Mauss foi fator fundamental no estudo de parentesco de Strauss, pois fez com que o
autor rebatesse a teoria de abordagens dos fenômenos de parentesco, muito baseado no
funcionalismo e no evolucionismo, distanciando-se do ponto de vista dos modos de
filiação e de constituição dos grupos de descendência. Ou seja, substitui-se por uma teoria
geral da aliança de casamento, que elucida o funcionamento das unidades sociais em jogo
no parentesco. Institui-se, assim, a recorrência das regras e da generalidade que conduzem
aos sistemas de troca matrimonial sobre as estruturas do espírito, evidenciando a unidade
do homem na multiplicidade de suas produções culturais.

5. Qual a reflexão moral que a obra de Lévi-Strauss traz, ainda de acordo com
Descola?

Denuncia sem descanso o empobrecimento exíguo da multiplicidade das culturas e das


espécies naturais, pois para Lévi-Strauss a antropologia era um instrumento questionador
dos preconceitos, em especial dos raciais. Concomitantemente a isso também entendia a
antropologia como um meio de aplicar uma espécie de humanismo universal, não mais
limitado às sociedades ocidentais, tal qual no Renascimento, mas levando sempre em
conta as competências do conjunto das sociedades humanas passadas e presentes.

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